A relação terapêutica: transferência, contratransferência e aliança terapêutica
• Autores:
1) Cláudio Laks Eizirik
Psiquiatra, Presidente da Associação Psicanalítica Internacional 2) Zelig Libermann Psiquiatra; Psicanalista 3) Flávia Costa Psiquiatra; Psicanalista Significado Transferência
O que é?
• O fenômeno de transferir para pessoas e
situações do presente aspectos da vida psíquica ligados a pessoas e situações do passado é comum na vida dos indivíduos. Caso Dora
• Porém, desde que Freud relatou-o, em 1905, Fragmento da Análise de um
Caso de Histeria (mais conhecido como o caso Dora), o termo “transferência” passou a indicar a presença desse fato na relação terapêutica. Transferência na Relação Terapêutica
• Projeção, na relação terapeutica,
de um relacionamento objetal do passado, em geral com pessoas significativas dos primeiros anos de vida. Definição de Sigmund Freud (1905)
• Reedições, reduções das reações e fantasias
que, Nessedurante o avanço sentido, da análise, na a transferência costumam cena despertar-se analítica é o equetornar-se conectaconscientes, o paciente mas ao com a mas analista, característica é também o deque substituir vai conectaruma o pessoa pacienteanterior com suapelaprópria pessoa falta, do médico. com seu sintoma. Conecta o paciente com a produção que se dá no trabalho analítico. • Série de experiências A transferência psíquicas é o que permite prévias o movimento revividas, e faz com o não que acomo algo análise do passado, mas ande. como um vínculo atual com a pessoa do médico (psicanalista). A transferência é da ordem do enlace; da articulação, pois, durante o processo terapêutico, conecta elementos diferentes (analisando e analista).
Dobradiça: conecta a porta com a base.
transferência é o que permite a conexão entre elementos que estão separados, elementos díspares.
A porta e a base da porta não são uma coisa
só, daí a dobradiça que permite o movimento, o vai e vem, a transferência. TRANFERENCIA - ARTICULAÇÃO - PRODUÇÃO
• Enquanto essa dobradiça
Por isso Freud vai dizer vai que se movimentando, a transferência enquanto impulsiona a a transferência vai se na análise, ela funciona desdobrando, análise produções vão sendo feitas. Ela não só articula. Ela como um motor. articula e produz. E uma análise vai se desenvolvendo nessa direção. É a condição “SINE QUA NON” ou seja, sem a qual não. Sem • Interessante a qual que observar nada essa feito.“dobradiça”, Se não houver essa transferência, funciona essa articulação, esse também nos de movimento intervalos entre dobradiça as sessões. entre Nãoe analisando analista funciona somente na análise. não existe presença do analista. TRANSFERÊNCIA: CAMPO DE INVESTIMENTO
• A medida que o paciente vai falando de diferentes formas de si próprio ao
terapeuta, ele acaba localizando no terapeuta um lugar de investimento.
• O terapeuta surge como destinatário do discurso do paciente. Então é para o
terapeuta que, de certa forma (não inteiramente), o analisando está falando.
• A transferência significa que quanto mais o paciente fala ao terapeuta,
mais vai colocando ele nesse ponto de investimento. Deslocamentos vão ocorrendo, situações vão sendo tiradas do lugar. TRANSFERÊNCIA: CAMPO DE INVESTIMENTO
• Enquanto o paciente fala sobre ele próprio (Ex: sua
relação com seu mal estar, com o sintoma) há também um deslocamento. As fantasias são nomeadas e as coisas começam a ocupar um outro lugar na vida daquela pessoa.
• Transferência tem a ver com isso também, não
é somente o vínculo do paciente com o analista, mas por esse vínculo que algumas coisas na vida do paciente vão se deslocando. Origens da Transferência
• Ao longo do desenvolvimento, uma parte da libido é detida pela
censura da personalidade e da realidade, ficando presa no inconsciente. Psicoterapia - Transferência
• Repetição de situações cujas origens se
encontram no passado. Desloca-se para um objeto da atualidade impulsos, defesas, atitudes, sentimentos e respostas experimentados • Reações nas relações com ossão transferenciais, primeirossempre objetos de amor de sua vida. inconscientes.
• Repetições de um relacionamento objetal do
passado, em geral com pessoas significativas dos primeiros anos de vida de uma criança. Psicoterapia - Transferência
• O indivíduo não é capaz de trazer à
Ex. repetição: um homem que consciência os impulsos insatisfeitos, vive- osrepetidamente perde Aempregos Caráter repetitivo: repetidamente. busca da por conflitos com nunca satisfação seus chefes: essa pessoa é completa, transfere pois a para transferencial satisfação todos os seus “O analisando nada recorda do esquecido ou superiores, ao longo da vida, é reprimido, uma quesubstituta senão o vive de novo.daNão o sentimentos reproduz como originados em recordação, suacomo senão relação ato; verdadeira. com osem repete pai na infância. saber, naturalmente, que o repete” (Freud 1914) Transferência em Klein (1943):
• Fonte de comunicação do inconsciente, na
relação terapêutica, o paciente revive sentimentos, conflitos e defesas que experimentou na situação original.
• As figuras que o terapeuta representa na
mente do paciente se ligam a situações específicas que devem ser analisadas para a compreensão dos sentimentos transferidos. Transferência x Resistência
• Transferência é também resistência à
recordação.
• Resistência = se opõe ao trabalho
terapêutico de trazer à consciência material inconsciente.
• Se a transferência se torna uma
resistência, ela é o maior obstáculo ao progresso do tratamento. Transferência x Resistência
• Quanto + intensa a resistência, + o paciente se
utilizará da ação da repetição em vez da recordação. • No lugar de lembrar fatos passados, o indivíduo revive-os, inconscientemente, na relação com o terapeuta.
• A medida que o paciente revive esses fatos,
mostra ao terapeuta aquilo a que resiste. • Importante elemento p/ a compreensão do indivíduo Transferência x Resistência
• Quando a resistência se manifesta na análise, a
transferência falha. O “motor” propulsor engasga e freia.
• Não é um motor que funciona bem o tempo todo. O
analista tem que saber conduzir, manobrar, manejar a transferência.
• A transferência é o motor da análise, mas esse motor
por vezes tem o efeito de freio, a análise engasga. (Freud) O Manejo da Transferência
• A compreensão dessas reações de transferência é um importante instrumento
terapêutico, utilizado de maneira diferente em diversas formas de terapia.
• A estruturação do setting terapêutico (contrato de sigilo, divã, frequência, associação
livre, neutralidade profissional, etc.) promove a regressão do paciente e a repetição de elementos contidos nas suas relações de objeto primitivas.
• Transferência : fenômeno universal.
• Fenômeno base para o campo analítico. O Manejo da Transferência
• Forma-se uma nova edição da neurose, na qual
os sintomas perdem a significação primitiva, adquirindo um sentido dependente da transferência.
• O analista encontra-se no centro dessa neurose.
• Neurose da transferência = tratar uma situação
atual e imediata, com paciente e analista, em vez de lidar com conflitos de um passado distante. O Manejo da Transferência
“Se nesse conflito transferencial reavivado
induzimos o paciente a buscar uma nova solução, Psicanálise lida com a neurose de [...] na qual o primitivo método de repressão é transferência por meio da substituído por uma conduta mais em contato com INTERPRETAÇÃO sistemática, que a realidade, o doente não recairá em sua antiga restabelece neurose o analista [...]. A solução como do conflito figura transferencial real, simultaneamente implica diferente dos objetos primitivos na do conflito infantil, introjetados visto pelomais que aquele nada paciente. é do que uma reedição deste” (STRACHEY, 1934). Contratransferência
• Freud, 1910, em analogia ao conceito de transferência.
• Sentimentos (conscientes e inconscientes) que o terapeuta experimenta na
relação terapêutica.
• Preocupações de Freud em relação aos sentimentos contratransferenciais =
instituição da análise didática, base e centro da formação psicanalítica (Racker, 1953).
• Terapeuta deve utilizar suas reações contratransferenciais para obter
informações valiosas sobre o emocional do paciente. Contratransferência
• Respostas psicológicas do terapeuta ao paciente.
• Contratransferência: parte legítima da relação
terapêutica.
• Como na transferência, as manifestações são
múltiplas e variadas.
“[...] Em nível profundo, vem sob forma de sentimentos
que o analista percebe em resposta ao seu paciente, na contratransferência”. Manifestações e usos da contratransferência
• Como toda interação humana, a relação paciente-
terapeuta propicia aos seus participantes muitos pensamentos, fantasias e sentimentos.
•O conjunto de respostas emocionais
específicas, despertadas no terapeuta pelas qualidades específicas de seu paciente. Aliança terapêutica
Diante do trabalho interpretativo do terapeuta, o ego do
paciente se divide, e uma parte se alia ao terapeuta na luta contra uma outra parte que contém as forças do instinto e “Capacidade da repressão e doque,paciente portanto,estabelecer relação de se opõe ao progresso do trabalho com o terapeuta, em oposição às reações tratamento. transferenciais regressivas e à resistência.” Essa divisão do ego tem como base uma identificação com o (Freud) terapeuta que, diante dos conflitos do paciente, reage com uma atitude de observação e reflexão.
Identificado com essa atitude, o paciente adquire a
capacidade de observar e criticar seu próprio funcionamento. Aliança terapêutica
• Terapeuta contribui para a Aliança Terapêutica
com seu empenho em entender o paciente (interesse, empatia e auxílio).
• Início da AT: na motivação do paciente p/
superar sua doença e o desamparo.
• Ter uma elasticidade do ego que interrompa a
regressão e restitua a aliança Aliança terapêutica
• Origem na psicanálise, mas está presente em todas as formas de
psicoterapia.
• Como também é parte de qualquer relação médico-paciente, visto que
o paciente sempre tem expectativas racionais e irracionais .
• Adesão ao tratamento à medida que estabelece vínculo com o
terapeuta A Relação Real
• Anna Freud, 1954: “analista e paciente: duas
pessoas reais de status adulto igual, envolvidos em uma relação pessoal um com o outro”.
• As percepções realísticas que o paciente possa ter
em relação ao terapeuta não impedem suas respostas transferenciais.
• Paciente e terapeuta: reações transferenciais,
contratransferenciais, aliança de trabalho, relacionamento real recíproco. Concluindo
• Independentemente do tipo de psicoterapia
empregado, os elementos estudados desempenharão um papel decisivo para o curso e o resultado do método adotado, bem como para a manutenção ou não das modificações psíquicas e comportamentais dele resultantes. Email: gabrielapsicoarte@gmail.com