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A relação terapêutica:

Prof.ª Gabriela Neves


Psicoterapias: abordagens atuais

• Autor: Aristides Volpato Cordioli

• Capítulo:

A relação terapêutica: transferência, contratransferência e aliança terapêutica

• Autores:

1) Cláudio Laks Eizirik


Psiquiatra, Presidente da Associação Psicanalítica Internacional
2) Zelig Libermann
Psiquiatra; Psicanalista
3) Flávia Costa
Psiquiatra; Psicanalista
Significado
Transferência

O que é?

• O fenômeno de transferir para pessoas e


situações do presente aspectos da vida
psíquica ligados a pessoas e situações do
passado é comum na vida dos indivíduos.
Caso Dora

• Porém, desde que Freud relatou-o, em 1905, Fragmento da Análise de um


Caso de Histeria (mais conhecido como o caso Dora), o termo
“transferência” passou a indicar a presença desse fato na relação
terapêutica.
Transferência na Relação Terapêutica

• Projeção, na relação terapeutica,


de um relacionamento objetal do
passado, em geral com pessoas
significativas dos primeiros anos de
vida.
Definição de Sigmund Freud (1905)

• Reedições, reduções das reações e fantasias


que,
Nessedurante o avanço
sentido, da análise, na
a transferência costumam
cena
despertar-se
analítica é o equetornar-se
conectaconscientes,
o paciente mas
ao
com a mas
analista, característica
é também o deque substituir
vai conectaruma
o
pessoa
pacienteanterior
com suapelaprópria
pessoa falta,
do médico.
com seu
sintoma. Conecta o paciente com a produção
que se dá no trabalho analítico.
• Série de experiências
A transferência psíquicas
é o que permite prévias
o movimento
revividas,
e faz com o não
que acomo algo
análise do passado, mas
ande.
como um vínculo atual com a pessoa do
médico (psicanalista).
A transferência é da ordem do enlace; da articulação, pois,
durante o processo terapêutico, conecta elementos
diferentes (analisando e analista).

Dobradiça: conecta a porta com a base.


transferência é o que permite a conexão entre
elementos que estão separados, elementos
díspares.

A porta e a base da porta não são uma coisa


só, daí a dobradiça que permite o
movimento, o vai e vem, a transferência.
TRANFERENCIA - ARTICULAÇÃO - PRODUÇÃO

• Enquanto essa dobradiça


Por isso Freud vai dizer vai
que se movimentando,
a transferência
enquanto
impulsiona a a transferência vai se na
análise, ela funciona desdobrando,
análise
produções vão sendo feitas. Ela não só articula. Ela
como um motor.
articula e produz. E uma análise vai se
desenvolvendo nessa direção.
É a condição “SINE QUA NON” ou seja, sem a
qual não. Sem
• Interessante a qual que
observar nada essa
feito.“dobradiça”,
Se não houver essa
transferência, funciona
essa articulação, esse também nos de
movimento intervalos entre
dobradiça
as sessões.
entre Nãoe analisando
analista funciona somente na análise.
não existe presença do
analista.
TRANSFERÊNCIA: CAMPO DE INVESTIMENTO

• A medida que o paciente vai falando de diferentes formas de si próprio ao


terapeuta, ele acaba localizando no terapeuta um lugar de investimento.

• O terapeuta surge como destinatário do discurso do paciente. Então é para o


terapeuta que, de certa forma (não inteiramente), o analisando está falando.

• A transferência significa que quanto mais o paciente fala ao terapeuta,


mais vai colocando ele nesse ponto de investimento. Deslocamentos vão
ocorrendo, situações vão sendo tiradas do lugar.
TRANSFERÊNCIA: CAMPO DE INVESTIMENTO

• Enquanto o paciente fala sobre ele próprio (Ex: sua


relação com seu mal estar, com o sintoma) há
também um deslocamento. As fantasias são nomeadas
e as coisas começam a ocupar um outro lugar na vida
daquela pessoa.

• Transferência tem a ver com isso também, não


é
somente o vínculo do paciente com o analista, mas
por esse vínculo que algumas coisas na
vida do paciente vão se deslocando.
Origens da Transferência

• Ao longo do desenvolvimento, uma parte da libido é detida pela


censura da personalidade e da realidade, ficando presa no
inconsciente.
Psicoterapia - Transferência

• Repetição de situações cujas origens se


encontram no passado.
Desloca-se para um objeto da atualidade impulsos,
defesas, atitudes, sentimentos e respostas
experimentados
• Reações nas relações com ossão
transferenciais, primeirossempre
objetos de amor de sua vida.
inconscientes.

• Repetições de um relacionamento objetal do


passado, em geral com pessoas significativas dos
primeiros anos de vida de uma criança.
Psicoterapia - Transferência

• O indivíduo não é capaz de trazer à


Ex. repetição: um homem que
consciência os impulsos insatisfeitos, vive-
osrepetidamente perde Aempregos
Caráter repetitivo:
repetidamente. busca da por
conflitos com nunca
satisfação seus chefes: essa pessoa
é completa,
transfere
pois a para transferencial
satisfação todos os seus
“O analisando nada recorda do esquecido ou
superiores, ao longo da vida,
é
reprimido, uma quesubstituta
senão o vive de novo.daNão o
sentimentos
reproduz como originados em
recordação, suacomo
senão relação
ato;
verdadeira.
com osem
repete pai na infância.
saber, naturalmente, que o
repete” (Freud 1914)
Transferência em Klein (1943):

• Fonte de comunicação do inconsciente, na


relação terapêutica, o paciente revive
sentimentos, conflitos e defesas que
experimentou na situação original.

• As figuras que o terapeuta representa na


mente do paciente se ligam a situações
específicas que devem ser analisadas para a
compreensão dos sentimentos transferidos.
Transferência x Resistência

• Transferência é também resistência à


recordação.

• Resistência = se opõe ao trabalho


terapêutico de trazer à consciência
material inconsciente.

• Se a transferência se torna uma


resistência, ela é o maior obstáculo
ao progresso do tratamento.
Transferência x Resistência

• Quanto + intensa a resistência, + o paciente se


utilizará da ação da repetição em vez da
recordação.
• No lugar de lembrar fatos passados, o indivíduo
revive-os, inconscientemente, na relação com o
terapeuta.

• A medida que o paciente revive esses fatos,


mostra ao terapeuta aquilo a que resiste.
• Importante elemento p/ a compreensão do
indivíduo
Transferência x Resistência

• Quando a resistência se manifesta na análise, a


transferência falha. O “motor” propulsor engasga e
freia.

• Não é um motor que funciona bem o tempo todo. O


analista tem que saber conduzir, manobrar, manejar a
transferência.

• A transferência é o motor da análise, mas esse motor


por vezes tem o efeito de freio, a análise engasga.
(Freud)
O Manejo da Transferência

• A compreensão dessas reações de transferência é um importante instrumento


terapêutico, utilizado de maneira diferente em diversas formas de terapia.

• A estruturação do setting terapêutico (contrato de sigilo, divã, frequência, associação


livre, neutralidade profissional, etc.) promove a regressão do paciente e a repetição de
elementos contidos nas suas relações de objeto primitivas.

• Transferência : fenômeno universal.


• Fenômeno base para o campo analítico.
O Manejo da Transferência

• Forma-se uma nova edição da neurose, na qual


os sintomas perdem a significação primitiva,
adquirindo um sentido dependente da
transferência.

• O analista encontra-se no centro dessa neurose.

• Neurose da transferência = tratar uma situação


atual e imediata, com paciente e analista, em
vez de lidar com conflitos de um passado
distante.
O Manejo da Transferência

“Se nesse conflito transferencial reavivado


induzimos o paciente a buscar uma nova solução,
Psicanálise lida com a neurose de
[...] na qual o primitivo método de repressão é
transferência por meio da
substituído por uma conduta mais em contato com
INTERPRETAÇÃO sistemática, que
a realidade, o doente não recairá em sua antiga
restabelece
neurose o analista
[...]. A solução como
do conflito figura
transferencial
real, simultaneamente
implica diferente dos objetos primitivos
na do conflito infantil,
introjetados
visto pelomais
que aquele nada paciente.
é do que uma reedição
deste” (STRACHEY, 1934).
Contratransferência

• Freud, 1910, em analogia ao conceito de transferência.

• Sentimentos (conscientes e inconscientes) que o terapeuta experimenta na


relação terapêutica.

• Preocupações de Freud em relação aos sentimentos contratransferenciais =


instituição da análise didática, base e centro da formação psicanalítica (Racker,
1953).

• Terapeuta deve utilizar suas reações contratransferenciais para obter


informações valiosas sobre o emocional do paciente.
Contratransferência

• Respostas psicológicas do terapeuta ao paciente.

• Contratransferência: parte legítima da relação


terapêutica.

• Como na transferência, as manifestações são


múltiplas e variadas.

“[...] Em nível profundo, vem sob forma de sentimentos


que o analista percebe em resposta ao seu paciente, na
contratransferência”.
Manifestações e usos
da contratransferência

• Como toda interação humana, a relação paciente-


terapeuta propicia aos seus participantes muitos
pensamentos, fantasias e sentimentos.

•O conjunto de respostas emocionais


específicas, despertadas no terapeuta pelas
qualidades específicas de seu paciente.
Aliança terapêutica

Diante do trabalho interpretativo do terapeuta, o ego do


paciente se divide, e uma parte se alia ao terapeuta na luta
contra uma outra parte que contém as forças do instinto e
“Capacidade
da repressão e doque,paciente
portanto,estabelecer relação de
se opõe ao progresso do
trabalho com o terapeuta, em oposição às reações
tratamento.
transferenciais regressivas e à resistência.”
Essa divisão do ego tem como base uma identificação com o
(Freud)
terapeuta que, diante dos conflitos do paciente, reage com
uma atitude de observação e reflexão.

Identificado com essa atitude, o paciente adquire a


capacidade de observar e criticar seu próprio
funcionamento.
Aliança terapêutica

• Terapeuta contribui para a Aliança Terapêutica


com seu empenho em entender o paciente
(interesse, empatia e auxílio).

• Início da AT: na motivação do paciente p/


superar sua doença e o desamparo.

• Ter uma elasticidade do ego que interrompa a


regressão e restitua a aliança
Aliança terapêutica

• Origem na psicanálise, mas está presente em todas as formas de


psicoterapia.

• Como também é parte de qualquer relação médico-paciente, visto que


o paciente sempre tem expectativas racionais e irracionais .

• Adesão ao tratamento à medida que estabelece vínculo com o


terapeuta
A Relação Real

• Anna Freud, 1954: “analista e paciente: duas


pessoas reais de status adulto igual, envolvidos em
uma relação pessoal um com o outro”.

• As percepções realísticas que o paciente possa ter


em relação ao terapeuta não impedem suas
respostas transferenciais.

• Paciente e terapeuta: reações transferenciais,


contratransferenciais, aliança de trabalho,
relacionamento real recíproco.
Concluindo

• Independentemente do tipo de psicoterapia


empregado, os elementos estudados
desempenharão um papel decisivo para o
curso e o resultado do método adotado,
bem como para a manutenção ou não das
modificações psíquicas e comportamentais
dele resultantes.
Email: gabrielapsicoarte@gmail.com

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