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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

ADRIANO SANT’ANNA HERCULANO DA SILVA

SUBJETIVIDADES E POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO (PNH) – UM


PERCURSO HISTÓRICO ATÉ O ACOLHIMENTO EM SAÚDE

RIO DE JANEIRO

2020
ADRIANO SANT’ANNA HERCULANO DA SILVA

SUBJETIVIDADES E POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO (PNH) – UM


PERCURSO HISTÓRICO ATÉ O ACOLHIMENTO EM SAÚDE

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como requisito parcial à
obtenção do grau de Bacharel em
Psicologia pela Universidade Estácio
de Sá

Orientador: Dra. Natália de Andrade


Rocha

Rio de Janeiro

2020

2
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha


avó Iara da Cruz Martinez
Nunes [in memoriam], que me
ensinou, na prática, o valor de
um acolhimento.

3
AGRADECIMENTOS

Ao meu pai, por todo suporte que deu e tem me dado durante o processo de
formação e na vida em geral.

Aos demais familiares que sempre me apoiaram e incentivaram para a


realização deste sonho.

Aos meus amigos da universidade, em especial à Arara Monique Martins, que


foi a maior referência de afeto e compreensão durante minha formação.

Ao meu amigo Rafael, pela resiliência comigo em momentos difíceis e por


estar sempre do meu lado, não importa o que houver.

À Vânia Monteiro, como grande referência profissional de acolhimento no


campo da saúde.

Aos amigos que fiz durante as experiências de estágio, em especial à Isabelle


Neles.

À professora Natália Ribeiro, pela enorme complacência durante a construção


deste trabalho.

Ao presidente Lula da Silva, ao ex-ministro Fernando Haddad, e a todos que


lutaram pelo Programa Universidade para Todos (Prouni), que me proporcionaram
chegar até aqui.

Aos queridos mestres Marisa Braga, Selma Souza, Nilton Junior, Richard
Couto, Ana Cristina Dantas Araújo, Alexander Ramalho, e a todos os professores
que contribuíram para minha formação direta ou indiretamente, minha eterna
gratidão.

4
EPÍGRAFE

“Somos muitos Severinos


iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte Severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia”

João Cabral de Melo Neto –


Morte e Vida Severivna

“Para mim, como poderia haver


qualquer coisa fora de mim? Não há
exterior! Todos os sons, porém,
fazem-nos esquecer isso. Como é
agradável poder esquecer!”

Friedrich Nietzsche – Assim


Falava Zaratustra

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................8

MODELOS HISTÓRICOS DE ORGANIZAÇÃO DA SAÚDE.....................................10

SAÚDE PÚBLICA, SUS E SUBJETIVIDADES..........................................................16

O ACOLHIMENTO E A PSICOLOGIA.......................................................................19

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................25

REFERÊNCIAS..........................................................................................................28

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RESUMO

Este trabalho busca explorar a concepção da humanização como política


pública do Sistema Único de Saúde e a prática do acolhimento como instrumento de
produção de autonomia dos sujeitos. Aborda o percurso histórico da saúde,
conceitos e contextos, desde Idade Média, a Europa do século XVIII, a saúde
brasileira na colônia, a formulação do SUS, a humanização como proposta de
política pública nacional no Brasil e o papel do profissional de psicologia nos
processo de subjetivação dos usuários nas unidades de saúde. O trabalho busca
resgatar, através da revisão bibliográfica de autores ligados aos respectivos temas, a
proposta de uma produção da subjetividade como eixo central das relações de
trabalho em saúde, considerando o acolhimento, primeira diretriz da Política
Nacional de Humanização, como tarefa imprescindível e comum à todas as
especializações dos profissionais de saúde. A humanização surge, então, como
diretriz ética e o acolhimento como tecnologia leve que instrumentalizam a
resistência dos sujeitos ao projeto neoliberal em vigor nos tempos atuais.

Palavras-chave: Humanização; Acolhimento; Subjetividade.

ABSTRACT

This work seeks to explore the concept of humanization as a public policy of the
Unified Health System and the practice of welcoming as an instrument for the
production of subjects' autonomy. It addresses the historical path of health, concepts
and contexts, since the Middle Ages, Europe in the 18th century, Brazilian health in
the colony, the formulation of SUS, humanization as a proposal for national public
policy in Brazil and the role of the psychology professional in subjectification process
of users in health units. The work seeks to rescue, through the bibliographic review of
authors linked to the respective themes, the proposal for a production of subjectivity
as the central axis of health work relations, considering welcoming, the first guideline
of the National Humanization Policy, as an essential and common task to all the
specializations of health professionals. Humanization appears, then, as an ethical
guideline and reception as a light technology that instrumentalizes the resistance of
the subjects to the neoliberal project in force in the present times.
Key words: Humanization; Host; Subjectivity;

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SUBJETIVIDADES E POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO (PNH) – UM
PERCURSO HISTÓRICO ATÉ O ACOLHIMENTO EM SAÚDE

Adriano Sant’Anna Herculano da Silva

INTRODUÇÃO

A concepção de saúde vem sendo modificada conforme a humanidade se


depara com a necessidade de adaptá-la em função das demandas contemporâneas.
A Europa dos séculos XVI a XIX atravessou questões políticas, sociais e
econômicas que influenciaram todo o planeta até hoje. O renascimento, as
revoluções burguesas, o iluminismo. As condições sanitárias, as formas de exercício
de poder, seja pelo Estado, seja entre indivíduos. Várias questões implicaram a
produção de saúde da população. O Estado Português do século XVIII em busca do
modernismo europeu e sua relação colonial com o território brasileiro provocou
mudanças bastante significativas em várias áreas e, principalmente nas práticas da
medicina.

Após os eventos da modernidade europeia, a saúde passa a ser objeto


central de poder do Estado sobre os indivíuos. Corpo saudável é sinônimo de
sociedade saudável. Os cuidados com a saúde passam a ser responsabilidade
direta do Estado como garantia do bom funcionamento das engrenagens sociais e
econômicas. Já no século XX, após o fim da segunda guerra, a Constituição da
Organização Mundial de Saúde de 1946 (OMS, 1946) define saúde como completo
bem estar físico, mental e social, reformando os métodos de produção de saúde
mais uma vez. O mundo pós-guerra demandava reformas estruturais e que
valorizassem as subjetividades.

O período militar que se iniciou em 1964 carregava características peculiares


em políticas de saúde, uma vez que o Estado já exercia a função de gerenciar as
questões deste campo. A Ditadura tentou reproduzir os modelos positivistas
científicos e políticos, mas encontrou resistência nos movimentos sociais,
8
sanitaristas, ativistas da reforma psiquiátrica, dentre outros. A Psicologia foi
regulamentada como profissão, curiosamente, dois anos antes do golpe, em 1962
(BRASIL, 1962). Os institutos de saúde da época não davam conta de suprir a
demanda da população, e por muito tempo certos serviços de saúde eram
oferecidos por estes institutos apenas a quem fosse reconhecido como trabalhador
formal, ou seja, que possuísse sua Carteira de Trabalho assinada. Os demais
brasileiros eram atendidos em instituições privadas e filantópicas. Cada vez mais a
democratização ficava atrelada à políticas de saúde (BERTOLOZZI e GRECO, 1996)

Com a redemocratização e a promulgação da Constituição Federal do Brasil


de 1988, que inaugura o Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 1988), como
também a Lei 8.080/90, a Lei Orgânica da Saúde, o conceito de saúde passa a ser
definido como direito de todos e dever do Estado. A Universalidade, princípio do
SUS que garantiu o acesso universal, ou seja, que permitiu que todas as pessoas,
em território brasileiro, tenham acesso ao sistema de saúde, possibilitou maior
elaboração de políticas sanitárias.

Contudo, a herança higienista de caráter positivista na cultura brasileira


manteve características exclusivamente generalistas em serviços de saúde
(MANSANERA e SILVA, 2000), que desconsideram as questões subjetivas,
provocando a elaboração de novas políticas públicas que busquem o alcance de
cada usuário do SUS em suas singularidades. A sociedade organizada provoca a
elaboração dessas políticas públicas para assegurar os direitos garantidos pela
Constituição Federal de 1988. O entusiasmo da retomada à democracia contagiou
também a organização do SUS, que se fundamenta com a participação popular e o
controle social, a partir de Conferências e Conselhos regionais.

A saúde pública brasileira demanda políticas específicas para o atendimento


efetivo das necessidades em saúde da população. A Humanização surge como
proposta de valorização das dimensões subjetivas e sociais da população.
Humanizar os serviços de saúde é, dentre outros aspectos, considerar a dimensão
subjetiva da saúde. A Política Nacional de Humanização (PNH), também conhecida
como HumanizaSUS, é uma das políticas implantadas pelo Sistema Único de Saúde
desde 2003, que visa efetivar seus princípios no cotidiano das práticas de gestão e
atenção, através da valorização dos usuários, trabalhadores e gestores no processo
9
de produção de saúde. O acolhimento é a primeira diretriz que norteia a prática de
humanização, construída de forma coletiva a partir das relações humanas entre
usuários e profissionais/equipes. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). A prática da
humanização nos serviços de saúde considera as subjetividades, sendo este um dos
principais objetos de estudo da psicologia. O que provoca a discussão sobre o papel
do profissional de psicologia na prática do acolhimento.

Neste cenário, revela-se fundamental a necessidade de explorar o tema do


acolhimento como prática produtora de subjetividades, visto que, inclusive entre
profissionais de saúde, como percebido em nossa vivência na área em diferentes
unidades, apresentam-se confundidos os conceitos de triagem e acolhimento,
produzindo maiores obstáculos na garantia do acesso aos serviços de saúde no
território nacional em todos os níveis de assistência. Este trabalho tem como objetivo
analisar a proposta da Política Nacional de Humanização e sua relação com a
produção de subjetividades, através da revisão bibliográfica de autores da área .

10
PERCURSO HISTÓRICO DE PRODUÇÃO DA SAÚDE

Os modelos de organização da sociedade e da saúde se modificam conforme


a história. O surgimento das universidades medievais, durante o século XII,
possibilitou algumas elaborações no campo da saúde. O físico Pedro Hispano,
português do século XIII, influenciado por autores da Antiguidade e pensadores
árabes, seguia os preceitos de Galeno e Aristóteles sobre a composição do corpo
humano por quatro humores (sangue, bílis amarela, bílis negra e fleuma, cada um se
relacionando com um elemento da natureza) que viviam em constante equilíbrio e
desequilíbrio, e a perspectiva das coisas que eram naturais e as que não eram
naturais. Destarte, Hispano produzira o Liber de Conservanda Sanitate [Livro sobre
a Conservação da Saúde], tratado de saúde que trazia recomendações sanitárias
baseadas nos princípios supracitados, que incluiam sangrias, banhos e alimentação
saudável. (FAGUNDES, 2006, 2011)

Os princípios dietéticos não só de Hispano, como também de Arnaldo


Vilanova, físico espanhol contemporâneo de Hispano e também autor de textos
sobre a conservação da saúde, como o “Regimen Sanitatis ad Regen
Aragonum” [Guia de saúde ao ilustre senhor rei de Aragão] orientaram lideranças da
época. Hispano e Vilanova atuaram diretamente com os reis e a Igreja na Europa,
tendo Hispano inclusive ocupado o grau de Papa durante oito meses, com o nome
de João XXI. A dietética supunha que a moderação era a melhor maneira de se
manter saudável, e não estava estrito apenas a alimentos e bebidas. O ar, as
emoções, o sono e a vigília, o exercício físico, dentre outros aspectos, eram
determinantes para reequilibrar os humores e prevenir doenças. Deste modo, o
discurso dietético não se opunha diretamente aos dogmas católicos. As práticas
higiênicas e sanitárias, até então de caráter privado, voltadas para a prevenção
individual, ganham novos rumos com estes escritos. (FAGUNDES, 2006, 2011)

Em solo brasileiro, o início do século XVI marca a chegada da Coroa no que


viria a se tornar a colônia de Portugal. Durante grande parte do período colonial, a
saúde dos colonos não foi preocupação da Coroa, ficando então sob
responsabilidade de pajés, curandeiros, jesuítas boticários, e as Santas Casas.
(VIOTTI, 2012) Junto com a invasão portuguesa, desembarcavam os primeiros
negros escravizados. Assim, o território brasileiro era palco da disseminação coletiva
11
de doenças de diferentes continentes: os portugueses da Europa, os diversos povos
africanos traficados e os indígenas nativos. A saúde do território brasileiro seguiria
ocorrendo desta forma até a chegada da Família Real, no século XIX
(ALENCASTRO, 2000) (LIMA, 2011).

Nos séculos que sucederam, a revolução científica passou a ocorrer em todos


os cantos da Europa. Começam a surgir pensadores em defesa de métodos
científicos para produção de saberes, dentre outros, do corpo humano e da saúde. .
Era o Renascimento. Com as crises do cristianismo, desponta o humanismo.
Movimento intelectual e cultural que criticava a perspectiva tradicional teocentrista e
propunha o antropocentrismo, ou seja, que o ser humano fosse a figura central da
produção dos saberes (SEVCENKO, 1986). Na passagem do século XV ao XVI, a
verdade da fé produzida pela religião perde cada vez mais espaço entre os
intelectuais. A transição ocorrida dos séculos XVI ao XVIII foi marcada pela
expansão de técnicas de observação de classificação de doenças e a formação de
contornos ideológicos sobre a questão da saúde, como a ideia dos microorganismos
e novas teorias sobre a saúde. (RIBEIRO, 2004).

A Europa do século XVIII apresentava um sistema sanitário que se mostrava


cada vez mais ineficaz frente às novas realidades políticas, sociais e urbanas que se
impunham. Foucault (1963; 1979) em seu método arqueológico aponta para o inicio
da idade moderna a mudança da gestão da saúde pelo Estado na Europa e, dentre
outros aspectos, a necessidade de reformulação das práticas da medicina, e o
nascimento da medicina social. Para Foucault a prática médica na Europa durante o
século XVIII passa de individualizada para coletivizada, e não o contrario. O Estado
Moderno, diferente do que se costuma pensar, socializava os corpos a priori para a
criação da Medicina Social, que ocorrera em países como a Alemanha e sua
medicina de Estado, que passou a normalizar a formação dos médicos, controlar
detalhadamente os nascimentos e mortes, centralização administrativa das práticas
médicas e delegação de controle de populações por médicos indicados pelo Estado.
Já na França se densevolve o que Foucault chama de Medicina Urbana. As cidades
demandavam maior organização e a burguesia buscava se proteger dos
trabalhadores. A urbanização da medicina constitiu em um aprimoramento de um
sistema de quarentena, em que se mapeia e controla cada indivíduo, medicalizando

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a cidade, o que proporcionou o surgimento da salubridade. E a medicalização dos
pobres e trabalhadores, ocorrida na Inglaterra. Que finalmente coloca as populações
pobres como problemas da medicina social. A medicina da força de trabalho inglesa
visava tornar os corpos aptos ao trabalho e menos perigosos aos mais ricos.
Destarte, esses países foram desenvolvendo suas políticas de saúde .

A “saúde dos povos” passa a ser questão central aos Estados. Concomitante
ao cenários destes países, durante o Século das Luzes, Portugal passava por uma
tentativa de alcançar o progresso do modernismo do resto da Europa. O iluminismo,
movimento intelctual francês de ideiais liberais, ganhava cada vez mais adeptos no
continente. As ciências portuguesas estavam aquém dos países vizinhos, e ainda
muito influenciadas pela tradição escolástica, e a forma de pensar e produção de
saber moldadas pela igreja católica. Porém, a sociedade demandava também novas
políticas e práticas sanitárias coletivas. No Estado português, durante o século
XVIII, passaram a ser redigidos manuais de saúde para a população com vistas à
preservação sanitária e à prevenção de doenças. (ABREU, 2011). Como o Tratado
de Conservação da Saúde dos Povos (1757), de Antônio Ribeiro Sanches, médico e
intelectual português que propunha o idealismo moderno nas organizações
sanitárias. Entre outros textos como Matéria médica physico histórico mechanica, de
Jacob de Castro Sarmento (1758).

Estes trabalhos foram cruciais para a transformação da prática da medicina


no Estado português. Os médicos “estrangeirados”, influenciados pelas mudanças
práticas de países vizinhos, provocaram a reforma e a renovação na prática médica
lusitana. O movimento desses autores colocou a medicina portuguesa em um
processo de mudança entre os princípios hipocráticos, ou seja, os fundamentos
tradicionais da medicina, e o método experimental. Eles se opunham aos métodos
tradicionais e defendiam que os fundamentos fossem desenvolvidos a partir de
observação e testagem controlada. Logo a agitação europeia alcançou as américas.
A saúde dos colonos luso-brasileiros passa a ser vista com mais cautela pela coroa.
(ABREU, 2011).

Alguns tratados médicos passam a ser redigidos para a realidade do solo


brasileiro, como é o caso do Erário Mineral, editado pela primeira vez em Lisboa, em
1735. Nele, Luis Gomes Ferreira descreve doenças relacionadas ao tráfico negreiro
13
e à escravidão no século XVIII. Ferreira registra experiências médicas na capitania
de Minas Gerais, lista medicamentos utilizados na época, muitos de origem e
conhecimento dos nativos. Já no início século XIX, após a chegada da Família Real
na colônia, o médico e filósofo mineiro Francisco de Mello Franco, autor de vários
tratados e textos, publica em 1813, no Brasil, Elementos de hygiene ou ditames
teoréticos e práticos para preservar a saúde e prolongar a vida. Esta obra propõe
uma reformulação monista dos princípios hipocráticos, entendendo a relação mente-
corpo de uma forma diferente, sendo o bem estar físico consequência da condições
físicas determinantes, então já conhecidas e, logo, observáveis e calculáveis, e o
bem estar ”moral” como consequência do bem estar físico. Suas obras foram
diretamente influenciadas pelo médico-filósofo iluminista Pierre Jean Georges
Cabanis e sua teoria. (MASSIMI, MARINA;, 2005)

Contudo, os ideais iluministas de liberdade a partir do século XVII eram


sustentados pela ideia da subjetividade privada que, para Figueiredo e Santi (2008)
é experimentada pelo sujeito como um campo íntimo, pessoal, impossível de
compartilhar, uma singularidade. Para Bock, Furtado e Teixeira (1999) a
subjetividade é “a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo
conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e
cultural” (1999, p. 28) considerando o olhar ao mundo a partir do sujeito singular.
Esta subjetividade, sustentada pelo liberalismo e pelo romantismo como dado
inquestionável, passa por uma crise a partir do século XIX, quando os homens
experienciam que não são tão livres quanto propunham os ideais iluministas, e
passam a desconfiar da liberdade e da singularidade propostos. Este período
prepara o campo para o surgimento da Psicologia científica como disciplina
independente, para servir à perspectiva positivista de ciência (FIGUEIREDO e
SANTI, 2008).

Toda a revolução do pensar ocorrida a partir do século XIX influenciou um


novo olhar sobre o mundo, o ser humano, a subjetividade e também a saúde. O
filósofo alemão Friedritch Nietzsche foi um dos maiores críticos ao idealismo
moderno deste período. Ao longo de suas obras, Nietzsche criticou a massificação
cultural em detrimento do “eu”, os ideais de progresso, a moral cristã, a relação entre
estes e o idealismo moderno, e os responsabilizou pelo declínio das forças criativas
dos homens. Para Nietzsche, a morte de Deus representava o fim do idealismo
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metafísico, a constatação do vazio existencial e, a partir disto, a oportunidade da
retomada da própria existência, atravessando a moralidade que afasta o ser humano
daquilo ele é. (NIETZSCHE, 2015, 2017a, 2017b, 2019) A crítica niilista de Nietzsche
ao modernismo influenciou as posteriores gerações de intelectuais a repensar as
relações do sujeito com o Estado e com a vida.

O modelo moderno de poder político, em substituição aos modelos anteriores,


estabelecia um contrato coercivo com os sujeitos, em troca da gerência de serviços
regulados pelo Estado, que se apresentavam imprescindíveis às pessoas. O
idealismo do Estado moderno exaltava “O Homem” em detrimento de um homem
qualquer, ou seja, cerceava as subjetividades em função de um modo de vida
padronizado. (PASSOS E BENEVIDES, 2005). As subjetividades eram
secundarizadas pelo Estado para a manutenção das relações de poder. Michel
Foucault, abalizado intelectual nietzscheano, em sua Microfísica do poder (1986), ao
problematizar as relações de poder do cotidiano, geralmente imperceptíveis,
questiona a posição do médico e das instituições nas produções de verdade sobre
as doenças e sobre as subjetividades. Foucault aponta que, diferente do que se
imaginava, o movimento liberal não individualizou a medicina, mas o coletivizou, em
busca do domínio do indivíduo a partir do corpo, sua força de trabalho (FOUCAULT,
1986).

Nunes (2000) aponta para a criação da Sociedade de Medicina e Cirurgia do


Rio de Janeiro, em 1823, como marco da implantação da medicina social no Brasil.
Com o intuito de urbanizar a colônia, o governo inicia a criação de hospitais e
unidades de saúde. Entretanto, o idealismo moderno inaugura o século XX se
estendendo aos modelos políticos de Estado que concorrem o domínio do poder. Os
trabalhadores organizados reivindicam seus direitos, enquanto os Estados
promovem reformas estruturais para permanecerm absolutos. (BRAVO, 2007). Em
contrapartida, despontam movimentos de resistência às instituições. No Brasil das
primeiras décadas do século XX, na República recém proclamada, emerge uma
crise sanitária. O movimento sanitarista brasileiro, liderado por Oswado Cruz, em
busca de soluções para questões sanitárias coletivas, promoveu em 1904 uma
campanha de vacinação, de caráter unilateral, contra a varíola. A reação popular às
medidas autoritárias do Estado ganharam as ruas no que ficou conhecido como
« Revolta da vacina ». (RIO DE JANEIRO, 2006).
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Na década de 20, A Lei Eloy Chaves regulariza as Caixas de Aposentadorias
e Pensões (CAPS), garantindo legalmente as iniciativas de alguns trabalhadores
organizados que já possuíam estes fundos. É o início do sistema previdenciário
brasileiro. Este serviço garantia assistência em caso de acidente ou doença, e o
recebimento da contribuição na aposentadoria.. Na década de 30, o Presidente da
República Getúlio Vargas transforma as CAPs em IAPs (Institutos de Aposentadorias
e Pensões), e amplia o alcance para outras categorias profissionais. Também funda
o Ministério da Educação e Saúde Pública. Neste contexto, a participação popular
vai ganhando mais destaque nas decisões políticas dos governos acerca da saúde,
apesar da forte repressão aos trabalhadores organizados. (RAMOS e NETTO, 2017)

Um ano após o fim da Segunda Guerra Mundial, num cenário em que se fez
necessário o resgate dos valores humanos (REIS, MARAZINA e GALLO, 2004), a
Constituição da Organização Mundial de Saúde de 1946 define o conceito de Saúde
como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste
apenas na ausência de doença ou de enfermidade” (OMS, 1946). o que possibilitou
formas inovadoras e ajustes nos modos de produzir saúde, permitindo uma visão
mais complexa deste conceito. Entretanto, para Segre e Ferraz (1997) esta
conceituação da Organização Mundial de Saúde, apesar de progressista e visioária
para a época, já está superada nos dias de hoje, tendo em vista a tendência
idealista e a distinção entre corpo e mente presentes na definição.

Nos anos de chumbo, como ficou popularmente conhecido o período da da


Ditadura Militar, do golpe de 1964 até meados nos anos 80, a gestão da saúde
pública era de caráter privatista, estando o Estado brasileiro responsável somente
por medidas de caráter preventivo e atividades epidemiológicas. Só tinham acesso
aos serviços de saúde os trabalhadores devidamente comprovados como tal, ou
seja, que possuíssem carteira de trabalho assinada. Estes teriam acesso aos
serviços de saúde privados que eram financiados pela contribuição dos
trabalhadores ao então INAMPS, O Instituto Nacional de Assistência Médica da
Previdência Social, unificação dos institutos de previdência anteriores. (RAMOS e
NETTO, 2017)(POLIGNANO, 2001).

16
SAÚDE PÚBLICA, SUS E SUBJETIVIDADES

A Reforma Psiquiátrica, movimento que criticava o modelo asilar e o saber


psiquiátrico tradicional, já discutida no brasil e em outros países anteriormente,
ganha destaque, entre as décadas de 70 e 80, com o Movimento dos Trabalhadores
em Saúde Mental (MTSM), que reivindicava direitos trabalhistas e denunciava a
prática violenta dos tratamentos asilares pelo país. O MTSM criticava também a
política privatista da assistência, e a democratização das decisões e direções da
saúde pública. Logo, a luta dos trabalhadores era atravessada pela Reforma
Sanitária e pela luta em busca da redemocratização. O movimento, que viria a ser
conhecido como Luta antimanicomial, defendia os direitos cidadãos do dito ‘‘louco’’ ,
ou seja o reconhecimento da cidadania dos usuários dos serviços de saúde mental.
(AMARANTE, 1995)

Nas demais áreas da saúde, os profissionais e a população instatisfeitos com


as gestões públicas também passam a se mobilizar por melhorias e reformulações,
suscitando a Reforma Sanitária. O período também marca a formulação do conceito
de Saúde Coletiva como campo estruturado e estruturante de práticas e
conhecimentos, tanto teóricos como políticos, como consequência do projeto
preventivista e da medicina social, seus precedentes. (NUNES, 2009) O conceito
passa a ser disseminado a partir de 1979, quando é fundada a ABRASCO
(Associação Brasileira de Saúde Coletiva). Em março 1986, ocorre a 8º Conferência
Nacional da Saúde, composta por médicos, enfermeiros, demais profissionais da
área, e também diversos setores da sociedade. (SOPHIA, 2012) Esta conferência é
marcada pela definição de universalização da saúde como proposta principal da
Reforma, ou seja, que todos os brasileiros deveriam ter acesso aos serviços de
saúde.

Após décadas de ditadura, o regime democrático é reestabelecido no Brasil


com a Constiuição Federal do Brasil em 1988, a Constituição Cidadã, que incorpora
em seu artigo 196 o Sistema Único de Saúde (SUS). Finalmente regulamentado em
1990 com a Lei 8.080 (BRASIL, 1990), possuía entre seus princípios a
universalidade, que garantiu o acesso universal aos serviços de saúde no território
nacional sem privilégios e em todos os níveis de assistência (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2004), a integralidade do acesso em todos os níveis de atenção, e a

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equidade, que consiste na “igualdade na assistência à saúde com ações e serviços
priorizados em função de situações de risco, das condições de vida e da saúde de
determinados indivíduos e grupos de população” (2004, p. 48), marcando um avanço
do alcance da saúde à população. A Constituição Federal de 1988 e o Sistema
Único de Saúde foram marcos históricos da conquista por direitos básicos de
movimentos sociais e grupos populares mobilizados. Assim, a saúde pública
brasileira dá mais um passo em busca de um modo de produção de saúde que
considere as singularidades.

O processo de redemocratização e a constituição do Sistema Único de Saúde


trouxeram novos ares para o campo da saúde pública. Entretanto, estas conquistas
ocorreram no auge da ascenção do neoliberalismo ao redor do planeta.
Paradoxalmente à elaboração do SUS, no Brasil não foi diferente. Prevaleceu
durante as decisões da construção do modelo do SUS a ser aprovado pelo
Congresso Nacional, um modelo híbrido da gestão, onde o setor privado não só
manteve a oferta de seus serviços subsidiados pelo Estado, como pôde ampliá-los.
A gestão do SUS passa então a ser bifacetada: de caráter hegemônico, da ideologia
neoliberal, do chamado Estado Mínimo e autoregulação do mercado; e do caráter
contra-hegemônico, dando seguimento aos movimentos populares da Reforma
Sanitária pela Saúde Coletiva. (NETO e ARAÚJO, 2014) (GOUVEIA e PALMA, 1999)

Em consonância com a Organização Mundial de saúde, a Lei 8.080/90 adotou


a concepção ampliada em saúde reconhecendo como determinantes e
condicionantes, entre outros, “a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o
meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o
lazer, e o acesso aos bens e serviços essenciais” (BRASIL, 1990), reconhecendo o
caráter social das condições de saúde. O artigo 196 da Constituição Federal de
1988, que dispõe sobre a saúde, estabelece que a mesma será garantida mediante
“políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e outros
agravos” (BRASIL, 1988). Os princípios e diretrizes do SUS, como outras políticas
de Estado, norteiam as práticas que, para serem efetivadas, demandam a
elaboração de novas políticas públicas complementares.

Um dos desafios que se colocam nos primeiros anos da existência do SUS é


a superação da cultura biomédica hospitalocêntrica, que persiste nas práticas de

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produção de saúde. A medicalização da vida, conceito trabalhado, entre outros
autores, por Ivan llich (1975) e Michel Foucault (1979), consiste em uma progressiva
ocupação da medicina a diversas áreas da vida, como uma prática discursiva que
instrumentaliza o biopoder, o domínio dos corpos. Durante as últimas décadas do
século XX já despontam movimentos de resistência à esse modelo de assistência,
como a luta pela gestação, parto e puerpério humanizados, que apontava para a
violência institucional obstétrica que os hospitais praticam nos corpos das gestantes
e puérperas, numa relação medicalizante, e que o parto, evento outrora marcante e
central no seio familiar, fora expropriado pela medicina para um evento em cadeia de
produção nos hospitais e maternidades. (PASCHE, VILELA e MARTINS, 2010)

Outras iniciativas de retomada das relações humanizadas nas práticas de


produção de saúde emergem durante as primeiras décadas do SUS. No campo da
saúde mental, a luta antimanicomial se junta ao movimento feminista pela
humanização da gestação, parto e puerpério no rol dos coletivos que militam por
uma produção de saúde que considere as subjetividades. Surgem,
espontaneamente, inspirados nas discussões sobre saúde e subjetividade,
iniciativas locais e isoladas de ajustes e reformulações nos processos de trabalho
em unidades de saúde por parte de trabalhadores e gestores. É a partir destes
movimentos que, em 2000, o Ministério da Saúde, com o objetivo de unificar e
corporificar este discurso da humanização, lança o Programa Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) (RIOS, 2009). A demanda por um
projeto mais abrangente que contemplasse a rede de saúde, como ambulatórios e
demais unidades de saúde, mobilizou profissionais e gestores que, três anos depois,
em 2003, através do Ministério da Saúde, reformulam o PNHAH e o relançam como
política pública do SUS, a Política Nacional de Humanização (PNH), também
conhecida como HumanizaSUS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).

O termo “humanizar” é indubitavelmente polissêmico, sendo a sua indefinição


um questão posta para a instrumentalização das práticas de produção de saúde
ditas humanizadas. Para Betts (2003) humanização é uma direção ética que se dá
através da linguagem, pois é esta que caracteriza os seres humanos. Já para
Waldow e Borges (2011) a humanização está estritamente ligada ao cuidado. Ao
analisar o discurso oficial da humanização do Ministério da Saúde, Deslandes (2004)
identifica quatro núcleos de sentido que caracterizam o conceito de humanização,
19
sendo: oposição à violência; articulação entre tecnologia e bom relacionamento;
melhoria das condições de trabalho do cuidador; e ampliação do processo
comunicacional. De acordo com Rios (2009), pode-se compreender como
Humanização, por vários olhares, os princípios humanistas e éticos, as políticas de
combate à violência institucional na saúde, e os métodos, políticas e tecnologias de
gestão. Humanização significa “admitir todas as dimensões humanas – históricas,
sociais, artísticas, subjetivas, sagradas ou nefastas – e possibilitar escolhas
conscientes e responsáveis” (RIOS, 2009, p. 11)

No campo da Pedagogia, Paulo Freire (1987) contribui para tema trazendo a


perspectiva dos homens como seres inacabados, e que se entendem inacabados.
Sendo assim, o processo de humanização é também constante e sempre
inacabado, e relacionado aos outros. Para Freire (1987, p. 17) “os homens não se
humanizam, senão humanizando o mundo”. E segue: “os homens humanizam-se,
trabalhando juntos para fazer do mundo, sempre mais, a mediação de consciências
que se coexistenciam em liberdade”. Casate (2005) aponta várias perspectivas na
literatura quanto a concepção de humanização, como intervenção em situações
“desumanizantes”, reconhecimento das cidadanias dos pacientes, investimento nos
trabalhadores e como perspectiva caritativa. A autora demonstra que esta última
perspectiva resiste da história de origem caritativa no campo da enfermagem, tendo
esta visão a tendência de colocar o doente sempre em posição de alguém que
precisa da caridade e benevolência daquele que o cuida. A perspectiva de um
paciente que é sujeito/cidadão de direitos seria mais recente, sendo percebida com
maior frequência a partir da década de noventa.

O Ministério da Saúde define que humanizar a atenção à saúde é

“valorizar a dimensão subjetiva e social, em todas as


práticas de atenção e de gestão no SUS, fortalecendo o
compromisso com os direitos do cidadão, destacando-se o
respeito às questões de gênero, etnia, raça, orientação sexual
e o respeito às populações específicas (índios, quilombolas,
ribeirinhos, assentados etc.), [...] garantir o acesso dos
usuários às informações sobre saúde, inclusive sobre os
profissionais que cuidam de sua saúde, respeitando o direito a
acompanhamento de pessoas de sua rede social (de livre
escolha), [...] estabelecer vínculos solidários e de participação
coletiva, por meio da gestão participativa, com os trabalhadores
e os usuários, garantindo educação permanente aos
trabalhadores do SUS de seu município” (BRASIL, 2009).

20
A Política de Humanização se depara com o desafio de, ao mesmo tempo,
não carregar uma definição ortopédica, mas também não produzir um discurso tão
genérico que esteja redundante com os princípios do SUS. Logo, o que prevalece
como diferencial na Humanização enquanto política pública é a de produzir
“processos de subjetivação transformadores, isto é, envolvendo sujeitos coletivos
que nas práticas concretas e cotidianas transformam o modo de produzir cuidados
de saúde, transformando-se a si também.“ (DESLANDES, 2005 p.402). Assim, a
PNH é um instrumento discursivo que possibilita a superação do modelo moderno
de produção de saúde. A humanização dos serviços de saúde seria então um
processo ético e prático das relações humanas. A Humanização na atenção à saúde
basicamente considera as subjetividades implicadas no processo e na relação da
produção de saúde. (FORTES, 2004)

O HumanizaSUS é composto pelos princípios da Transversalidade, que


preconiza que a humanização deve estar inserida em todas as políticas e programas
do SUS; a Indissociabilidade entre gestão e atenção, que se define como a
corresponsabilização da gestão da saúde entre gestores, profissionais e a
população; e o Protagonismo, corresponsabilidade e a autonomia dos sujeitos
coletivos, que empodera usuários e profissionais e valoriza a autonomia de cada um
destes atores. As diretrizes e dispositivos que compõem o SUS são o acolhimento, a
gestão participativa e cogestão, a ambiência, a clínica ampliada e compartilhada, a
valorização do trabalhador, a defesa dos direitos dos usuários, e a formação e
intervenção. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). Nesta perspectiva, o acolhimento
surge como o primeiro contato entre o usuário e o serviço de saúde.

21
O ACOLHIMENTO E A PSICOLOGIA

A história da psicologia é marcada pela contradição entre suas pretensões de


ser uma ciência paralela às ciências naturais e a busca para a construção de uma
ciência de caráter objetivo. Para Foucault (2002) a herança iluminista da perspectiva
do Homem idealizado como centro do universo impõe uma impossibilidade
epistêmica, na ausência fundamental desta referência absoluta. O autor aponta que
o saber psicológico foi fundado, a priori, sobre o que é entendido como patológico,
anormal, conflituoso, afim de o reorganizar, curar, normalizar. Ou seja, a história da
psicologia como ciência tem caráter positivista, normatizador. Rose apud Ferreira
( (FERREIRA, SANTOS, et al., 2019) aponta para a área dos testes mentais como
um exemplo, semelhante à Psiquiatria do século XIX, de "fornecer dispositivos de
inscrição que venham a individualizar tais sujeitos problemáticos, tornando a alma
humana inteligível na forma de traços calculáveis". (ROSE apud FERREIRA, 2019,
p.71) Para estes autores, os testes e exames psicológicos combinam poder, verdade
e subjetivação. Ferreira, Santos, et al. (2019) discutem o lugar das especialidades,
em específico, no campo das subjetividades, nas democracias liberais
contemporâneas como reivindicação de certa cientificidade e produção de verdade
sobre estas subjetividades.

A governamentalidade liberal (FOUCAULT, 2008) ou em outras palavras, as


tecnologias de governo surgidas a partir do século XVIII, de perspectiva liberal,
além de possibilitar a instrumentalização da psicologia como "ciência do indivíduo",
marcou no discurso científico o corte entre o público e o privado, estabelecendo a
liberdade do sujeito não como condição de oposição de seu governo, mas como
ferramenta que o possibilite. É através desta "liberdade" que se instrumentaliza a
governamentalidade liberal, que se governam os sujeitos sem que se responsabilize
o Estado por isso, um governo descentralizado, camuflado. A esta individuação se
justifica a desresponsabilização de qualquer forma de Estado e a atribuição desta
responsabilidade exclusiva ao indivíduo.

Da perspectiva sócio-histórica, baseada no materialismo histórico dialético de


Marx(1818-1883) e Engels (1820-1895) , e na Psicologia Histórico Cultural de Lev
Vigotsky (1896-1934), Ana Bock (2004) revela a tendência liberal da compreensão
dos fenômenos psicológicos em grande parte dos psicólogos pesquisados (BOCK,

22
1999), atribuindo-os à conceitos naturalistas e inatos e, por vezes, negligenciando os
aspectos sociais. Para a autora, essas perspectivas que ocultam os aspectos
sociais dos ditos fenômenos psicológicos e atribuem à perspectivas naturalistas
produzem uma ideologia, ou seja, um sistema de ideias ilusório, alienante, que leva
ao engano. Assim, a psicologia tem contribuído discursivamente, por anos, para a
responsabilização exclusiva dos sujeitos por seus sucessos e fracassos, à serviço
das elites e da burguesia.

As críticas de Bock e Foucault à psicologia liberal como saber quer seja


alienante, quer seja como discurso de poder sobre as condutas, propõem uma
reflexão acerca de uma prática psicológica que rompa com estas estruturas que
despolitizam os sujeitos em suas abordagens. Parte disto é atribuído à uma carência
no processo de formação do psicólogo no que se refere à questões macrossociais
(SPINK, 2010). Benevides (2005) propõe três princípios éticos fundamentais que
rompem o circuito fechado que não cessa em repetir a norma da produção de
saúde, desestabilizando-a e provocando desvios que permitem o surgimento de
novas construções de realidade possíveis, sendo: A inseparabilidade da clínica e da
política na prática psicológica; a autonomia e corresponsabilidade dos atores; e a
transversalidade dos campos de saber/poder. Para a autora “

“Pensar-fazer políticas de saúde exige, então, criação de


dispositivos, exige criação de espaços de contratualização entre os
diversos atores que compõem as redes de saúde, exige um estar com
o outro: usuário, trabalhador, gestor. Aqui certamente a Psicologia
pode estar, aqui ela pode fazer intercessão. Insistimos, não basta à
distância formular, regular, controlar políticas, é preciso criar modos,
criar dispositivos (Benevides, R, 1997), que dêem suporte à
experimentação das políticas no jogo de conflitos de interesses,
desejos e necessidades de todos estes atores. “ (BENEVIDES, 2005,
p. 24)
É neste contexto que o Acolhimento surge como diretriz ética/prática da PNH.
Para Beck e Minuzi (2008) o acolhimento é uma proposta elaborada em
contraposição ao modelo biomédico, hospitalocêntrico, hegemônico de saúde no
Brasil, e visa propor a construção de uma “ética da diversidade, da tolerância com os
diferentes, da inclusão social, com escuta clínica solidária, comprometendo-se com
a cidadania” (2008, p. 38). Reorganiza o processo de trabalho, identifica e replaneja
as demandas dos usuários. Como diretriz da PNH, o acolhimento é uma prática que
não tem hora nem lugar de acontecer, implica na escuta do usuário em suas

23
queixas, reconhecendo o protagonismo do mesmo no processo de saúde e
adoecimento, o reconhecimento de seus direitos e a responsabilização pelas
resoluções (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013)

A psicanálise contribui para o conceito da escuta qualificada na direção da


conduta da escuta do psicanalista como contraposição à associação livre do
analisando, a regra de ouro da psicanálise. Ou seja, se ao paciente é pedido que
fale tudo que lhe vem à mente, ao psicanalista é demandado que se ouça tudo que
lhe é dito, o que Freud chamou de atenção flutuante (FREUD, [1912] 2018). Em um
cenário de acolhimento em saúde, o usuário poderá relatar fatos significativos de
sua vida, que podem não ter relação direta com o diagnóstico ou tratamento em
questão, mas que, ao passo que o sujeito traz em seu discurso seu sofrimento
subjetivo, é necessário que o profissional escute suas queixas de maneira integrada,
sem a distinção entre o "corpo doente" e o sujeito, que o profissional que o escuta, o
faça em todo seu discurso. Para Dunker (2011) a escuta na psicanálise rompe
constitutivamente com a clínica do olhar, para o estabelecimento do projeto de uma
clínica da escuta. Esta escuta, para além da queixa objetiva do usuário, permite uma
maior elaboração de seu sofrimento com a sua vida, promovendo uma atitude mais
ativa em seu cuidado. (MACHADO, HADDAD e ZOBOLI, 2010)

O autor Emerson Merhy (2002) (1997) apresenta em sua micropolítica dos


processos de trabalho vivo em ato que o acolhimento é uma modalidade de
tecnologia leve, ou seja, uma forma de produção de saúde que, necessariamente,
precisa do encontro de dois sujeitos para ocorrer, em que prevalece o trabalho vivo
sobre o trabalho morto, a capacidade criativa e espontânea dos sujeitos de realizar
uma produção. Em contrapartida das tecnologias leves estão as tecnologias leve-
duras, como os conhecimentos estruturados e os saberes técnicos; e as tecnologias
duras, como as máquinas, os aparelhos, e as estruturas organizacionais. Para o
autor, a hegemonia do perfil de tecnologias duras em detrimento das demais se
justifica por estas estarem em favor da macropolítica neoliberal, privatista, que trata
a saúde como bem de mercado, e não como direito das pessoas. Também aponta o
processo de reestruturação produtiva como um processo de incorporação de novas
tecnologias à produção do cuidado, sem que necessariamente haja uma inversão
tecnológica, onde as tecnologias leves seriam hegemônicas e a produção de saúde

24
centrada nestas/no usuário. Esta inversão, que o autor nomeia Transição
Tecnológica na saúde, seria um novo padrão de produção de cuidado, que não se
limitaria a apenas uma reforma organizacional, mas a alteração fatídica do núcleo
desta produção de saúde, a partir da micropolítica do trabalho, ou seja, da conduta
de trabalho de cada profissional, em cada encontro, voltada para o usuário e sua
autonomização.
Merhy descreve sua análise sobre o acolhimento:

“Qualquer abordagem assistencial de um trabalhador de Saúde junto


a um usuário-paciente produz-se através de um trabalho vivo em ato,
em um processo de relações, isto é, há um encontro entre duas
pessoas que atuam uma sobre a outra e no qual se opera um jogo
de expectativas e produções, criando-se intersubjetivamente alguns
momentos interessantes, como os seguintes: momentos de falas,
escutas e interpretações, nos quais há a produção de uma acolhida
ou não das intenções que essas pessoas colocam nesses encontros;
momentos de cumplicidade, nos quais há a produção de uma
responsabilização em torno do problema que vai ser enfrentado;
momentos de confiabilidade e esperança, nos quais se produzem
relações de vínculo e aceitação. (MEHRY, 2004, p. 3)”
Assim, o acolhimento, mais que uma mera escuta das queixas, é a relação
dialética e dialógica entre o usuário e o serviço/trabalhador de saúde, que constroem
juntos as diretrizes de cuidado. A prática do acolhimento atua sobre os ruídos
produzidos nos encontros e desencontros do processo de produção de saúde,
permitindo-os serem escutados e, assim, possibilitando novas formas de produção
de saúde centradas no usuário e sua subjetividade (FRANCO, BUENO e MEHRY ,
1999). O acolhimento é o processo que primeiro estabelece esta relação, atuando
como estratégia de organização da produção de saúde. Seu sentido, no entanto, por
vezes difere entre os usuários dos serviços e os trabalhadores. (FALK, FALK, et al.,
2020)

Se a prática do acolhimento perpassa por uma escuta qualificada, por outro


lado é importante ressaltar que esta conduta não é estrita ao psicólogo, no sentido
de escuta das subjetividades, ou ao enfermeiro, numa escuta técnica para triagem
(VELASCO, RIVAS e GUAZINA, 2013). Merhy (2004) entende que todos os
profissionais de saúde fazem clínica (em seu conceito ampliado) e, por isso, o
acolhimento é diretriz de todos os profissionais envolvidos no processo, desde a
assistência, até a gestão. Neste sentido, como profissional do campo do saber das
subjetividades, ao psicólogo é demandado na rede de saúde, não só a prática do

25
acolhimento, como também a disseminação da cultura de uma assistência mais
humanizada, que preze pela autonomização dos sujeitos envolvidos nos processos
de produção de saúde, pela cidadania e co-participação destes sujeitos. Deve—se
considerar que
“uma política de humanização consistente não é nada
mais – e nada menos — que uma rede de amparo e contenção
para os pacientes e para os profissionais que nela se acham
implicados e, nesta exata medida, surge como uma instância
de libertação real de seus sujeitos.” (REIS, MARAZINA e
GALLO, 2004)

Operando como tecnologia leve, o acolhimento proporciona o espaço de


escuta e intersubjetivação há tempos cerceado pelas tecnologias de governo nos
processos de produção de saúde, pois estabelece o lugar de fala dos sujeitos sobre
seu próprio cuidado. A partir do acolhimento, o sujeito pode construir conjuntamente
com o serviço o sentido de sua condição de saúde, se apropriando dos meios de
cuidado, sujeitando-se neles. O usuário poderá se responsabilizar junto do
profissional de saúde com a condução de seu caso. A partir deste encontro a que
chamamos de acolhimento, os atores envolvidos e a relação estabelecida entre eles
compõem o movimento de construção permanente da saúde integral preconizada
pela Constituição Federal e pelo SUS.

26
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo debater o tema da humanização no contexto


do Sistema Único de Saúde e o acolhimento na prática de profissionais que atuam
no SUS. O tema, caro aos profissionais de saúde, gera controvérsias, e possui
conceitos que, por vezes, são confundidos ou pouco compreendidos pelas pessoas.
A motivação da pesquisa pelo autor se deu pela experiência como estagiário em
unidades de saúde, onde percebeu que as propostas da Política Nacional de
Humanização como política pública brasileira, que visa uma reelaboração dos
processos de trabalho, aparecem frequentemente como mera referência moral no
discurso de profissionais e usuários. O projeto de pesquisa inicial sofreu alterações
devido a circunstância da pandemia da Covid-19. Para pensar a humanização nos
serviços de saúde na realidade brasileira, foram revisitadas referências históricas
nos modos de produção de saúde. Apesar das intercorrências que aconteceram no
cenário da quarentena imposta pela Organização Mundial de Saúde (REVISTA
VEJA, 2020) durante esta pesquisa, o objetivo geral de discutir os temas da
humanização e do acolhimento no contexto da saúde pública foi alcançado,
utilizando-se de autores de referência dos temas supracitados, como Michel
Foucault, Emerson Mehry, Eduardo Passos, Regina Benevides e Suely Deslandes. A
humanização aparece como conceito fundamental para um movimento de
reestabelecimento de vínculos nas relações entre os usuários, os serviços de saúde,
e os trabalhadores.

O contexto histórico da saúde dos povos, os tratados de saúde de físicos e


médicos desde a Idade Média, os problemas sanitários, sociais e políticos, que
fizeram com o que a Medicina Social fosse estabelecida nos países da Europa,
inclusive Portugal por volta do século XVIII, e os efeitos destes movimentos
alcançaram as organizações da saúde brasileira. O projeto civilizatório que os
iluministas almejavam implantar através dos princípios liberais burgueses e o
fracasso do idealismo moderno na tentativa de capturar as subjetividades. O resgate
arqueológico das referências e o entrecruzamento dos temas tiveram por objetivo
contextualizar a realidade contemporânea.

Foram expostos os contextos pelos quais a elaboração da Constituição


Federal de 1988 e do Sistema Único de saúde foram submetidos para serem
27
constituídos. O SUS emerge como um projeto pós-moderno de organização de
saúde, com ideais de progresso e valores pós-iluministas. Fortemente influenciado
por movimentos sociais de resistência às instituições, como a Reforma Psiquiátrica,
movimentos feministas, mobilizações pelo fim da Ditadura Militar e retomada da
democracia, dos trabalhadores em geral, além da luta por garantias trabalhistas dos
brasileiros no século XX. Também é levantado o fato de que a redemocratização e o
SUS ocorreram no cotexto do crescente neoliberalismo no mundo. A humanização
aparece aqui como resgate das relações entre sujeitos implicados no processo de
produção de saúde. A PNH surge como documento norteador de práticas mais
humanizadas nas unidades de saúde de todo o território brasileiro.

Finalmente a relação entre psicologia como ciência, os princípios positivistas


e a subjetividade privada são expostos pelos autores utilizados, que denunciam o
uso do saber psicológico como ferramenta de dominação, seja pelas elites e pela
burguesia numa perspectiva socio-histórica (BOCK, 2004), seja nas micro-relações
de poder (FOUCAULT, 1979). O achado é que os sujeitos não são a-históricos,
portanto, é necessário que sempre se leve em consideração o contexto que o torna
como tal. E, para além disso, que se considere que há sempre uma singularidade,
que não poderá ser capturada pelas técnicas ditas científicas. Isto posto, o
acolhimento aparece como primeira diretriz da PNH, como tecnologia leve (MEHRY,
2002) para promover o resgate do encontro entre os sujeitos que participam da
produção de saúde, o usuário, o trabalhador e o gestor. Esta ferramenta possibilita,
então, a superação da Medicina Social, possibilitando a resistência ao poder sobre
os corpos (FOUCAULT, 1979), através de uma cultura humanizante que promova a
autonomia dos usuários. Cabendo assim ao profissional de saúde em geral, e
particularmente aos psicólogos, uma escuta qualificada, politizada dos usuários de
saúde, levando sempre em consideração suas subjetividades. O acolhimento visa a
superação do modelo hospitalocêntrico no processo de produzir saúde.

Desta forma, estabelece-se a importância da utilização da prática do


acolhimento nos serviços de saúde como modo de efetivação dos princípios do
SUS, como a integralidade, que considera o usuário como sujeito complexto e
multifacetado; a universalidade, que garante a todos os usuários em território
brasileiro os serviços de saúde, e a equidade, que visa garantir acesso igualitário

28
aos usuários dentro de suas diferentes necessidades. O acolhimento seria, então,
uma conduta individual de cada trabalhador em busca da construção permanente
destes princípios.

Durante o processo de finalização deste trabalho, a população brasileira foi


surpreendida com o decreto nº 10.530 de 2020 (BRASIL, 2020) do Presidente da
República Jair Bolsonaro, que propunha fomentar estudos de alternativas de
parcerias com a inicativa privada para as Unidades Básicas de Saúde (UBS). Tão
rapidamente o assunto passou a ser comentado por veículos de informação e nas
redes sociais, a mobilização ganhou grandes proporções no sentido de repúdio ao
que foi entendido como movimentações para a privatização do SUS. O decreto foi
criticado também por especialistas, como o presidente do Conselho Nacional de
Saúde Fernando Pigatto, e os autores Tulio Franco e Emerson Mehry (CONSELHO
NACIONAL DE SAÚDE, 2020). Após forte pressão nas redes sociais de
trabalhadores e usuários do SUS, o presidente Jair Bolsonaro, apesar de alegar não
se tratar necessariamente de uma privatização, recuou da decisão
(G1.GLOBO.COM, 2020). A governamentalidade neoliberal (FOUCAULT, 2008)
avança sobre as conquistas da população no campo da saúde, exigindo que os
sujeitos implicados nestas relações resistam.

Como possibilidade de futuros trabalhos de pesquisa, sugere-se o método da


análise do discurso aplicado em profissionais do SUS em relação aos temas aqui
tratados e a posição destes sobre o papel do acolhimento e da humanização em
geral nos processos de autonomização dos sujeitos usuários. E a análise dos
cenários e as possibilidades da efetivação da Transição Tecnológica (MEHRY, 2002)
em diferentes unidades de saúde, de diferentes níveis de complexidade (Unidades
Básicas de Saúde, Hospitais Gerais e de Especialização, Caps, etc). Também
sugere-se a aprofundação do tema do papel do psicólogo no contexto da saúde
nestes processos de subjetivação/sujeição a partir dos contextos aqui levantados.

29
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