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Problema 17: “Dimmer de Luz Quântico”

Alberto Lederman Grinspun, Arley Kahuê Valeriano da Silva, Eduardo Barbosa de

Santana Neto, Letícia Ramos de Oliveira e Victor Mendes de Holanda Lins

Nome da equipe: Boltzmann’s Brains

Recife, 2023

Resumo: Neste relatório analisaremos o Problema 17: Dimmer de Luz Quântico, da

37º IYPT. Esse problema tem como objetivo a análise do clareamento da sombra

que uma chama com sal causa frente à uma lâmpada de vapor de sódio de baixa

pressão (LVSBP) após essa chama ser exposta a um campo magnético forte. Esse

experimento destaca-se por ser uma visualização do Efeito Zeeman com

equipamentos mais simples do que os utilizados comumente (principalmente por

não necessitar de um interferômetro de Fabry-Pérot). A proposta do presente

relatório é de identificar como a intensidade luminosa na sombra varia com o campo

magnético, e comparar os resultados experimentais com o modelo teórico do Efeito

Zeeman, além de fazer adaptações ao modelo teórico presente na literatura, já que

este é centrado em uma medição direta da variação da frequência da luz, e não

numa variação da intensidade luminosa absorvida por uma chama.


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I. INTRODUÇÃO

O Efeito Zeeman é um dos fenômenos quânticos mais relevantes na física,

tendo inúmeras aplicações essenciais na atualidade, como a ressonância magnética

e até a análise do campo magnético de corpos celestes. Ele foi observado pela

primeira vez no final do século XIX por Pieter Zeeman e consiste na separação das

linhas de emissão e absorção de átomos expostos a um campo magnético devido à

interação do momento magnético dos elétrons (e, em menor grau, do núcleo) com o

campo. Inicialmente, havia uma explicação desse fenômeno proposta por Alfred

Lorentz baseada na eletrodinâmica clássica, o Efeito Zeeman Normal, contudo

havia efeitos específicos que só puderam ser explicados após a descoberta da

mecânica quântica e do spin dos elétrons, o chamado Efeito Zeeman Anômalo.

Em contra partida, a maior parte dos estudos experimentais publicados sobre

tal efeito se concentram nos átomos de rubídio e césio, dada a maior facilidade de

se produzir feixes na frequência de ressonância desses elementos [4], logo um dos

desafios encontrados durante a elaboração do artigo foi achar modelos e pesquisas

parecidas. Foi possível encontrar duas montagens experimentais similares à que

queríamos fazer, mas ambas apenas mostravam o efeito qualitativamente sem

apresentar dados de dependência da intensidade da sombra com a chama.

Ademais, fica evidente que, se de um lado o Efeito de Zeeman controla o que

acontece na absorção da luz pelos íons de sódio presentes na chama, outro

parâmetro relevante é a lâmpada que emite essa luz. Evidentemente, o motivo pelo

qual a sombra não desaparece completamente para campos baixos é porque as

linhas de emissão da lâmpada não são perfeitamente discretas, ou seja, o espectro

de emissão dela sofre pequenas variações e assim cada linha de emissão tem uma

certa largura ωnat (ou em inglês, line breadth) devido principalmente ao princípio da
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incerteza e ao Efeito Doppler do movimento dos átomos dentro da lâmpada, por

conta da pressão e temperatura, além de impurezas.

Dessa forma, o presente relatório tem como objetivo analisar o Efeito

Zeeman no espectro de absorção do sódio, usando um método experimental distinto

do comumente utilizado na literatura, e, ao final, será possível calcular a largura de

linha da emissão da lâmpada de sódio utilizada e compará-la à estimativa teórica.

Ele é importante por ser uma forma mais barata e simples de se observar o efeito

Zeeman.

Na Seção II, faremos uma descrição teórica mais detalhada sobre o Efeito

Zeeman na absorção da chama e dos efeitos de largura de linha da emissão da

lâmpada. Na Seção III, apresentaremos o desenvolvimento experimental e as

dificuldades encontradas no caminho para observar o efeito, fazendo a análise dos

dados durante a Seção IV e por fim comparando-os com a teoria e discutindo

possíveis divergências na Seção V.

Figura 1 e 2. Fotos da sombra com a bobina desligada vs 10V. Houve uma

alteração perceptível na sombra feita pela chama na parede.

II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


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A. O Efeito Zeeman

Inicialmente, é essencial se aprofundar no modelo teórico do Efeito Zeeman,

isto é, do desdobramento das linhas espectrais dos átomos (no caso do presente

experimento, com atenção especial para as linhas de absorção do sódio) pela ação

de um campo magnético externo. Esse estudo é de extrema importância, pois o

motivo pelo qual a sombra da chama se clareia ao aplicar um campo magnético

forte se deve ao desvio das linhas de absorção do sódio da frequência de

ressonância com as linhas de emissão da lâmpada, que não está em um campo

magnético, como demonstrado em [1].

Por motivos históricos, o estudo desse fenômeno costuma ser dividido em

Efeito Zeeman Normal, quando o spin total dos elétrons é nulo, e Efeito Zeeman

Anômalo, quando o spin total dos estados envolvidos na transição é diferente de

zero. Como no átomo de sódio o spin não é nulo, o modelo escolhido se baseia no

Efeito Zeeman Anômalo:

Para calcular as transições desse efeito, usamos o fato de que a diferença de

energia em um nível de energia após se aplicar um campo magnético pode ser

escrita como (considerando um campo magnético na direção z):

∆𝐸 = − µ𝑧 × 𝐵 (1)

Dessa forma, resta calcular o momento magnético na direção z. Podemos

aproximar a razão giromagnética orbital (gl) para 1 e a razão giromagnética de spin

(gs) para 2, então, o momento magnético total do átomo será:

µ𝐵
µ ·µ= − ħ
[𝐿 · 𝑙 + 2𝑆 · 𝑠] (2)
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Porém, por conta de interações spin-órbita, os momentos angulares S e L

não são conservados individualmente, apenas o momento angular total J = S+L (a

notação em negrito é vetorial)

A componente de µ na direção J pode ser representada como:

µ𝐵
µ𝐽 = − ħ𝐽
(3𝐽² + 𝑆² − 𝐿²) (3)

Porém, o valor de µ que vai interagir com o campo magnético (cuja direção é

assumida como o eixo z) é a componente na paralela ao campo. Como µ não está

na mesma direção que µj (por conta do fator gs ser diferente de gl), mas o seu vetor

precessiona ao redor de J, já que apenas J é conservado, podemos assumir que

𝐽𝑍
µ𝑍 = (µ𝑗 · 𝑧) = [µ𝑗 · ( 𝐽
)] (4)

Assim:

µ𝐵
µ𝑧 · 𝐽² = − ħ
[𝐽𝑍 (3𝐽² + 𝑆² − 𝐿²)] (5)

Usando 𝐽² = 𝑗(𝑗 + 1); 𝑆² = 𝑠(𝑠 + 1) e 𝐿² = 𝑙(𝑙 + 1), obtemos:

𝐽𝑍
µ𝑍 = − 𝑔µ𝑍 × ħ
(6)

Onde

𝑗(𝑗+1)+𝑠(𝑠+1)−𝑙(𝑙+1)
𝑔=1 + 2𝑗(𝑗+1)
(7)

Finalmente, usando 𝐽𝑍 = ħ × 𝑚𝑗:

∆𝐸 = 𝑔µ𝐵𝐵𝑚𝑗 (8)

Logo:

µ𝐵
∆ω = ℎ
· 𝑔𝑚𝑗 · 𝐵 (9)
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Em que B é o campo magnético aplicado, e 𝑚𝑗 = − 𝐽, − 𝐽 + 1, ..., + 𝐽.

Assim, pode-se concluir que a presença do campo magnético B levanta a

degenerência no nível, desdobrando-o em 2J + 1 componentes, uma para cada

valor de mj, algo de altíssima relevância para o desenvolvimento deste experimento.

A grandeza g, que, nesse caso, denomina o fator g de Landé, é um coeficiente

adimensional característico do nível atômico considerado.

Até agora, nós apresentamos apenas o caso geral de um átomo com número

atômico n. Restringindo o caso para o sódio que possui 11 elétrons, sendo, entre

eles, apenas um elétron de valência (também chamado de elétron ótico), temos que

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o estado P (Na⁺) está separado em um dubleto J = 2
e J = 2
, por conta de sua

estrutura fina. Essa separação é uma manifestação do acoplamento spin-órbita

originando as famosas linhas D, características do desdobramento das linhas

espectrais do sódio. Quando a luz emitida pela lâmpada de Na é colocada sobre a

influência de um campo magnético, cada um dos três níveis (²S, ²P1/2, e ²P3/2) é

desdobrado em subníveis com diferentes números quânticos mj.

Figura 3. Níveis de energia de uma estado P e S e transições permitidas para o

átomo de sódio. Nesta figura podemos ver claramente o desdobramento das linhas
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espectrais. Também está sendo representado (juntamente com as estruturas de

linhas) as intensidades relativas. Figura tirada de [2].

O espectro de emissão do efeito Zeeman anômalo consiste então de 10

linhas, 4 das quais oriundas das transições onde ∆mj = 0 (componentes π) e 6

originadas das transições onde ∆mj = ± 1 (componentes σ). Fazendo os cálculos

das separações de frequência em função do campo, obtemos:


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➔ 3𝑠² → 2𝑝 2 (λ = 589. 00 𝑛𝑚):

1 𝐵
∆π = 3
µ𝐵 · ℎ
= 4. 6 𝐺𝐻𝑧/𝑇 (10)

𝐵
∆σ1± = µ𝐵 · ℎ
= 14 𝐺𝐻𝑧/𝑇 (11)

5 𝐵
∆σ2± = 3
µ𝐵 · ℎ
= 23. 3 𝐺𝐻𝑧/𝑇 (12)

➔ 3𝑠² → 2𝑝 2 (λ = 589. 60 𝑛𝑚)

2 µ𝐵
∆π = 3
𝐵· ℎ
= 9. 3 𝐺𝐻𝑧/𝑇 (13)

4 µ𝐵
∆σ1± = 3
𝐵 · ℎ
= 18. 6 𝐺𝐻𝑧/𝑇 (14)

E as intensidades relativas de cada transição são dadas por:

Figura 4. Tabela de transições do espectro de emissão do átomo de sódio. Obtida

de [2].
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O desenvolvimento em etapas das equações acima podem ser encontrados

em [3].

Por fim, vale ressaltar que, conforme [1], a observação do Efeito Zeeman

utilizando o método de medição da diferença da intensidade luminosa só pode ser

feita a partir de um valor de campo mínimo, Bcrítico, pois, para campos menores, a

largura (breadth) das linhas de emissão é maior que a separação das linhas de

absorção.

III. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

A. Equipamentos Utilizados e Procedimento

Para a execução final do experimento, foi utilizada uma bobina (1) fornecida

pelo laboratório MesoMag, do Prof. Eduardo Padrón da Universidade Federal de

Pernambuco. Ela contém 2 núcleos de ferro, cuja distância pode ser ajustada, e para

a condução de todas as medidas aqui apresentadas, foi utilizada uma distância entre

os núcleos de (8,00 ±0,05)mm, medida com um paquímetro. Essa distância foi

escolhida por ser a menor possível para a qual a chama ainda passava

completamente, sem ser muito desviada para os lados, garantindo uma boa

interação com a intensidade máxima de campo.


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Figura 5. Montagem do aparato experimental com seus respectivos

números-indicadores.

A bobina suporta, com segurança, uma voltagem máxima de 10V gerando

uma corrente de 40A, que pode ser ajustada na fonte. Para medir o campo

magnético entre os núcleos, foi utilizado um teslômetro da marca Phywe (8). A

voltagem foi variada de 0V a 10V e, para cada valor de voltagem, foi medida a

intensidade de campo magnético. Dessa forma, foi possível saber o valor do campo

quando o experimento foi conduzido, registrando apenas a voltagem na bobina

quando a chama estava ligada. A escolha de ajustar a voltagem e não a corrente na

bobina se deu por motivos técnicos, já que o ajuste de voltagem tinha uma escala

maior, o que possibilitou ao grupo fazer ajustes finos durante o experimento com o

objetivo de obter mais pontos.

Para fazer uma chama estável, foi utilizado um bico de bunsen (3),

alimentado por um botijão de gás de 2kg (2). A medida da intensidade luminosa foi

feita utilizando o monitor de potência óptica PM100D, da ThorLabs (6) (fornecido

pelo Prof. Márcio Heráclito, da UFPE). A lâmpada de vapor de sódio de baixa

pressão, juntamente com a sua fonte de tensão e reator/ignitor (4) foi fornecida pelo

Prof. Alysson J. A. Carvalho, do Laboratório de Física Moderna da UFPE.

Para os experimentos envolvendo polarização da luz, um filtro polarizador

linear foi colocado em um suporte (7) na frente da saída de luz da lâmpada, e por

fim também foi utilizado um fio de níquel-cromo (5) para segurar o sal de cozinha (9)

em frente à chama.

B. Montagem Experimental e Obtenção de Dados


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Para fazer a obtenção dos dados, ligamos a lâmpada de sódio e esperamos

que ela esquentasse por pelo menos 10 minutos (visando obter a máxima

intensidade luminosa emitida possível), deixando-a colinear com a bobina e o

sensor. Posicionamos o bico de bunsen um pouco abaixo do vão entre os núcleos

da bobina, de forma que a sua chama passasse completamente por eles. O fio de

níquel-cromo era molhado em uma solução de ácido clorídrico (concentrado a 1%) e

depois passado no sal para então ser colocado em um suporte que mantinha-o um

pouco acima do bico, mas ainda abaixo do espaço entre os núcleos, de forma que

toda a chama que passava pelos núcleos estava no espectro do sódio, e esse

processo era repetido toda vez que um novo “set” de medidas era feito (ou seja, a

cada 11 medições de intensidade por campo), para garantir que a chama estaria

sempre no espectro correto.

O sensor do monitor de potência óptica foi colado em um anteparo e fixado. A

distância entre a lâmpada de sódio e a bobina foi de 57 cm, e a distância entre a

bobina e o anteparo era de 53 cm. Por mais que fosse interessante aproximar mais

a lâmpada para obter um maior valor de potência/menor incerteza, uma

aproximação muito maior do que a utilizada prejudicava o foco da sombra, dada a

natureza difusa da lâmpada, e não poderia ser feita sem o uso de lentes. Era

importante manter uma distância considerável entre o sensor e a chama, para que a

sua luminosidade não interferisse no experimento (o objetivo é medir apenas a

sombra projetada pela chama no sensor). Finalmente, as luzes do laboratório foram

desligadas, permanecendo apenas a luz emitida pela lâmpada de sódio.

Para obter os dados da intensidade para cada valor de campo com o sensor

da Thorlabs, utilizamos uma função estatística que faz 2000 medições durante

aproximadamente 10 segundos e fornece um valor médio de intensidade e o seu


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devido desvio padrão e, por fim, exportava esses dados para o notebook com o

software da ThorLabs conectado ao monitor óptico. Após salvar a medida, o valor

da voltagem na bobina era alterado e mais uma medição era tomada. Foram feitas

11 medidas em cada set, variando a voltagem de 0V a 10V.

Para a análise final, tomamos 4 sets de medidas, sendo 1 com o polarizador

na polarização pi, um com o polarizador na direção sigma, um com a luz não

polarizada e por fim um set de controle, variando o campo com a chama na frente

da lâmpada e com o bico de bunsen/núcleos da bobina completamente limpos e

sem sal. Por conta de uma breve queda de tensão na lâmpada, alguns dados

ficaram faltando na medição da polarização pi.

Figura 6 e 7. Posicionamento da lâmpada, bobina e anteparo e exemplo de

medição estatística utilizando o software da ThorLabs.

Apesar de termos utilizado equipamentos bastante sofisticados na

configuração final do experimento, muitas outras tentativas foram feitas

anteriormente, e elas não obtiveram sucesso. Alguns dos principais desafios

encontrados pela equipe durante essa jornada foram:


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1. A lâmpada de sódio utilizada precisa ser uma lâmpada de sódio de baixa

pressão, pois o espectro de emissão das lâmpadas de sódio de alta pressão

(que são o modelo mais comum de se encontrar no Brasil) é muito mais

amplo, de forma que não faz uma boa sombra quando colocada na frente da

chama com sódio. Os nossos primeiros testes deram errado justamente

porque não tínhamos a lâmpada certa.

2. O campo magnético necessário para observar com boa precisão uma

redução na intensidade luminosa é muito alto, ou seja, as primeiras bobinas

utilizadas não eram poderosas o suficiente para coletar dados. Além disso, se

o núcleo da bobina for muito pequeno, pequenos desvios da chama podem

fazer com que o fogo saia da região do campo magnético, fazendo com que

não se conseguisse observar o efeito.

3. Este na verdade foi o problema mais persistente durante todas as

nossas medidas: Para conseguir observar o efeito, é necessário ter uma fonte

de chama muito estável, pois qualquer variação na combustão pode deslocar

muito a intensidade luminosa, além de tornar impossível de distinguir o que

seria efeito do campo magnético e o que seria efeito da natureza caótica da

fogo. Dessa forma, só foi possível observar qualquer efeito quando nós

adquirimos um bico de bunsen a gás, que provia uma fonte de chama

bastante estável.

IV. DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS DADOS

A. Medida do campo magnético para cada valor de voltagem na bobina


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Dada a impossibilidade de manter o teslômetro medindo a intensidade de

campo magnético enquanto se conduzia o experimento (já que ele não podia ser

exposto a um calor extremo), foi necessário tomar medidas anteriores de campo

magnético para cada voltagem aplicada na bobina (cujo campo remanescente vale

aproximadamente 85 mT). Assim, construímos a seguinte tabela de conversão:

Figura 8 e 9. Gráfico de 𝐵(𝑉) e tabela correspondente aos pontos inseridos.

B. Medida da potência luminosa detectada pelo sensor em função do

campo magnético externo aplicado

Conforme discutido na Seção II, o fato de existir uma largura de linha

considerável na emissão da lâmpada de sódio faz com que não seja possível

observar com clareza a dependência da potência luminosa com o campo para

intensidades mais baixas, pois nesse regime a separação das linhas de absorção

devido ao Efeito Zeeman ainda é menor do que a largura de cada linha de emissão.

Porém, a partir de um valor crítico de campo, a dependência da potência com o

campo torna-se linear e bastante visível. Por isso, foi escolhido uma função de fitting

“piecewise”, de forma que os coeficientes calculados pelo gráfico são o Bcrítico e o


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coeficiente angular após atingido o valor crítico de campo (k2), além do coeficiente

linear que simplesmente é o valor da potência sem chama. Nesta parte,

analisaremos os gráficos do aumento da intensidade luminosa (causada pela

diminuição da sombra) devido ao Efeito Zeeman, ou seja, a parte do gráfico a ser

analisada é para um campo B > Bcrítico para determinar o valor médio da separação

das linhas de absorção em função do campo. Já na Parte C, o próprio valor de Bcrítico

será analisado para fazer uma estimativa da largura de linha média do espectro de

emissão da lâmpada.

Figura 10. Gráfico 1: Potência luminosa no sensor em função do campo para a luz

não-polarizada (vermelho) e para o teste de controle (sem sal na chama) em preto.

Potência sobe à medida que a sombra vai ficando mais fraca.


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Figura 11. Gráfico 2: Potência luminosa no sensor em função do campo para a luz

com filtro polarizador.

Como nessa seção queremos analisar apenas o efeito Zeeman, o coeficiente

que nos interessa nesse caso é o “k2”, que descreve a inclinação do gráfico. Neste

domínio (B > Bcrítico), a quantidade de luz absorvida pela chama diminui com o

campo segundo a fórmula:

𝑃𝑎𝑏𝑠 = 𝑃𝑎𝑏𝑠−0 − 𝑘2 × (𝐵 − 𝐵𝑐𝑟í𝑡𝑖𝑐𝑜) (15)

Qualitativamente, os valores desse coeficiente angular na polarização π vs.

na σ mostram a mesma tendência do modelo teórico (Tabela 1: ∆𝑓 em função do

campo para cada transição), de que em média as emissões com polarização na

direção σ se desdobram muito mais rapidamente com o campo do que as emissões

com polarização π. Os dados com a luz não-polarizada não tiveram um R² tão alto

quanto os polarizados, o que faz sentido considerando que ele age como se

tivessem dois Bcríticos, um para a componente σ e outro para a π.


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Já os dados retirados sem a presença de sal na chama são essenciais para

mostrar que o efeito observado é devido de fato à interação do sódio com o campo

magnético, e não uma variação da chama provocada pelo campo, já que eles não

são estatisticamente distintos de uma função constante.

C. Estimativa da largura de linha de emissão da lâmpada

Por fim, é relevante notar que o valor do campo mínimo (Bcrítico) para observar

uma diminuição na absorção da luz pelo sódio pode ser combinado com o modelo

teórico de Efeito Zeeman para estimar a largura de linha de emissão da lâmpada.

Combinando as intensidades relativas (Tabela 1) com os valores de

separação com o campo (equações 10, 11, 12, 13 e 14), obtemos um valor médio

de separação das linhas com o campo de aproximadamente 11.6GHz/T. Assim,

como Bcrítico para as emissões da lâmpada não-polarizada [Bcrítico = (800 ± 80)T],

temos uma separação média de (9.3 ± 0.9) GHz para conseguir observar o Efeito

Zeeman. Isso significa que a largura das linhas de emissão da lâmpada está nessa

ordem de grandeza. Esse valor é compatível com outras medições feitas por

autores como Hon. R. J.; Strutt [1], que mediu um valor de separação entre 0.02nm

e 0.03nm, ou (convertendo para uma diferença de frequência) entre 17.28GHz e

26GHz. Logo, a estimativa tomada configura uma boa estimativa, já que o valor

exato obtido depende da fonte de luz usada, impurezas, entre outros, além de que

não foi possível obter o aparato experimental para separar as linhas D1 e D2 do

sódio, que em geral têm larguras diferentes.

V. CONCLUSÃO
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No decorrer desse relatório, foi possível construir um experimento que

demonstra o Efeito Zeeman com materiais relativamente simples. Foi possível

observar a dependência da intensidade luminosa com o campo magnético, que é

linear a partir de um valor crítico de campo magnético, assim como o esperado pelo

modelo teórico, já que a separação das linhas de absorção é linear com o campo

magnético, além de que, conforme o esperado pelo modelo teórico, o coeficiente

angular dessa dependência é significativamente maior nas emissões com

polarização sigma do que nas de polarização pi, o que é coerente com o modelo

teórico, onde as emissões pi têm uma separação mais fraca com o campo. Também

foi possível utilizar o valor de Bcrítico para estimar a largura das linhas de emissão da

lâmpada de sódio utilizada no experimento, obtendo um valor que concorda em

ordem de grandeza com outros experimentos.

Por outro lado, não foi possível encontrar uma forma direta de relacionar a

mudança de intensidade da luz absorvida pela chama (quantidade medida pelo

experimento) ao aplicar um campo com a mudança da frequência de ressonância de

absorção (quantidade usada no modelo teórico), ou seja, por mais que tenha sido

possível observar o Efeito Zeeman qualitativamente, não foi possível obter de forma

analítica uma medida das separações das linhas em frequência, para que fosse

possível compará-la com o modelo teórico, e nem foi possível obter um modelo

teórico que descreve quantitativamente a mudança de intensidade da luz absorvida

em função do campo.

Além disso, os altos valores de incerteza causados pela natureza instável da

chama e pela baixa intensidade da lâmpada utilizada em relação ao ruído de fundo

e do instrumento prejudicaram uma análise mais aprofundada do experimento.

Assim, além de tomar dados com lâmpadas de intensidade mais alta ou utilizar
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lentes para melhorar a intensidade que atinge a chama, também seria interessante

utilizar filtros que separassem as linhas D1 e D2 do sódio, permitindo uma precisão

ainda mais alta para medir a dependência de cada transição específica com o

campo.

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] STRUTT, Robert John. Observations on the fluorescence and resonance


radiation of sodium vapour.-I. Proceedings of the Royal Society of London.
Series A, Containing Papers of a Mathematical and Physical Character, v. 91, n.
630, p. 388-395, 1915. Disponível em:
https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&as_sdt=0%2C5&q=Observations+o
n+the+fluorescence+and+resonance+radiation+of+sodium+vapour.-I&btnG= Acesso
em: novembro de 2023.
[2] Efeito Zeeman. Universidade de São Paulo.Instituto de Física de São Carlos.
Laboratório Avançado de Física. Disponível em: Efeito Zeeman. Acesso em:
Novembro de 2023.

[3] WHITE, Harvey Elliott. Introduction to atomic spectra. International Series in


Pure and Applied Physics, 1934. Disponível em:
https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&as_sdt=0%2C5&q=Introduction+to+
atomic+spectra+H+E+white&oq=Introduction+to+atomic+spectra+H+E+Whit.
Acesso em: novembro de 2023.

[4] MOMIER, Rodolphe; PAPOYAN, Aram V.; LEROY, Claude. Sub-Doppler spectra
of sodium D lines in a wide range of magnetic field: theoretical study. Journal of
Quantitative Spectroscopy and Radiative Transfer, v. 272, p. 107780, 2021.
Disponível em: https://arxiv.org/pdf/2104.14896. Acesso em: novembro de 2023.

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