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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

F 328 - Física Geral III

Projeto do Grupo Novo 2

Cinturão de Van Allen

Projeto e FAQ’s da disciplina F


328 - Física Geral III

Grupo:

Nome: Nicolas Kauffmann Selke RA: 186141


Nome: Guilherme Caetano Mingoranci Bassin RA: 198265

Campinas
Maio 2023
ÍNDICE
1. Introdução
2. Objetivos
3. Fundamentação Teórica
4. Discussão Analítica
5. Conclusão
1. Introdução
O Cinturão de Van Allen foi descoberto pelo cientista norte-americano James
Van Allen, em 1958, durante a missão Explorer 1 da NASA e é uma das descobertas
mais importantes no campo da ciência espacial. Trata-se de uma região de intenso
campo magnético localizada em torno de um planeta, e no caso da Terra, composta
por dois cinturões principais, de formato quase toroidal, o Cinturão de Radiação
Interno e o Externo.

Os cinturões são formados por partículas carregadas em movimento, como


prótons e elétrons, que são capturadas pelo campo magnético terrestre e ficam
aprisionadas em órbitas ao redor da Terra. A concentração ocorre como consequência
de um fenômeno chamado Espelho Magnético, que será discutido no decorrer do
projeto.

A radiação intensa produzida pelo Cinturão pode causar danos aos sistemas
eletrônicos, assim como afetar a saúde humana, aumentando o risco de câncer, por
exemplo. Tais fatos representam um risco para astronautas, espaçonaves e satélites que
passam pela região.

Buscando mitigar tais riscos, cientistas desenvolveram escudos de proteção


para espaçonaves e satélites que reduzem a exposição à radiação. O próprio Van Allen
havia calculado que certas rotas que passam por regiões de baixa radiação permitem a
exploração do espaço além da órbita baixa da Terra. Além disso, no caso de missões
espaciais tripuladas, geralmente evitam trajetórias que passam diretamente pelos
cinturões de radiação.

Tendo em vista a importância da ciência espacial para o desenvolvimento da


humanidade, o estudo do Cinturão de Van Allen continua sendo um ponto importante
de pesquisa científica, uma vez que auxilia na compreensão da relação entre a Terra e
a radiação espacial, além de ser fundamental para a compreensão dos processos físicos
que ocorrem ao redor do planeta.

2. Objetivos
O presente trabalho tem como objetivo discutir e compreender o fenômeno do
Cinturão de Van Allen, partindo dos conceitos apresentados e discutidos na disciplina
de Física III, F 328.

3. Fundamentação Teórica
O Cinturão de Van Allen é gerado a partir da concentração de partículas
carregadas, a maioria delas originárias do vento solar e raios cósmicos, e tal
concentração por sua vez está relacionada com o fenômeno conhecido como
Espelho Magnético, que aprisiona as partículas no cinturão. Quando
aprisionadas, as partículas desenvolvem uma trajetória de ida e volta em alta
velocidade (podendo chegar a velocidades muito próximas da luz), entre um
pólo e outro do planeta. Tal movimentação é consequência da variação de
intensidade magnética existente no decorrer do cinturão:

Latitudes menores ⇨ Intensidade menor;

Latitudes maiores ⇨ Intensidade maior.

O aprisionamento das partículas segue um princípio teórico similar ao


funcionamento de um acelerador de partículas. As partículas que passam com
uma velocidade e orientação favoráveis são aprisionadas no campo magnético
terrestre, se configurando em dois anéis diferentes, que são formados em
grande causa pela variedade de partículas ejetadas em direção à Terra. O espaço
existente entre os dois anéis é decorrente da geometria do planeta, que favorece
nessa região uma aceleração maior, a ponto de que mais partículas são ejetadas
a altas velocidades, diminuindo a concentração nessa área. Apesar de formarem
uma espécie de escudo em volta do planeta, não se trata de uma proteção
perfeita; partículas aceleradas conseguem vazar para dentro periodicamente e
colidir com moléculas na atmosfera, ocasionando o fenômeno de auroras no
céu.

Esses cinturões de radiação estão presentes também em outros planetas e


satélites cujos campos magnéticos são fortes o suficiente para sustentá-los,
porém até hoje a maioria não possui um mapeamento preciso. O programa
Voyager, nos EUA, confirmou a existência de regiões similares apenas em
Urano e Júpiter até o momento.
Conceitualização dos Cinturões, com parte seccionada para mostrar o formato internamente.
Fonte:NASA Goddard Space Flight Center/Scientific Visualization Studio

Cinturão Interno
O Cinturão Interno se encontra a uma distância inicial de 1.000 km da
superfície terrestre, e se estende até 12.000 km da Terra. Sua região de maior
intensidade se encontra na distância de aproximadamente 3.000 km. Por mais
que seja menos volátil do que sua contraparte externa, o cinturão interno ainda
apresenta flutuações ao longo do tempo, e se encontra mais próximo da Terra a
depender da atividade solar e da região geográfica (i.e Anomalia do Atlântico
Sul), chegando até a englobar a Estação Espacial Internacional quando se
expande.

Ele é composto majoritariamente por elétrons “menos” energizados (no


espectro de centenas de keV) e prótons de carga alta (acima de 100 MeV)
presos pelos campos magnéticos de intensidade mais alta (relativa ao cinturão
externo).

Cinturão Externo
O Cinturão Externo é mais extenso, distando de 13.000 km em sua borda
interna, até mais de 60.000 km da superfície terrestre em sua parte mais
externa. Sua região de maior intensidade se encontra no raio de 25.000-30.000
km.
Essa camada é composta em grande parte por elétrons altamente energizados
(cargas no alcance de 1-10 MeV), mas é mais variada do que a camada interna,
possuindo diversidade de íons em sua concentração. É uma camada volátil,
pois por ser mais externa, é mais facilmente influenciada pela atividade solar.

Em 2014, foi descoberto que a camada interna do Cinturão Externo age como
uma camada de transição acentuada, fazendo a função de uma espécie de
barreira. Ainda não foi encontrada uma explicação para esse fenômeno, mas se
observa que elétrons de carga alta (acima de 5 MeV) não conseguem penetrar
essa parede, por isso são retidos na parte externa.

4. Discussão analítica

Analisando o movimento de uma partícula em uma região magnética de menor


→ → →
intensidade. A partir da fórmula de força magnética 𝐹 = 𝑞 · 𝑣 × 𝐵 , é possível
concluir que como o produto vetorial entre o campo B e a velocidade vetorial v é zero,
a força magnética também será nula, não havendo assim aceleração.

Analisando o caso no qual a partícula adentra uma região com uma velocidade
não paralela ao campo. A velocidade é decomposta em duas, sendo uma velocidade
paralela e outra a perpendicular, calcula-se a força magnética para estas situações:

𝐹⃗ = 𝑞. 𝑣 ⊥ × 𝐵 ≠ 0, e com direção perpendicular a 𝑣 ⊥ e 𝐵, pela regra da mão direita.


𝐹⃗ = 𝑞. 𝑣 ∥ × 𝐵 = 0, utilizando o mesmo raciocínio descrito no caso em que o vetor
velocidade é paralelo às linhas de campo.

Neste caso, a força magnética existente é responsável pela criação de uma


aceleração centrípeta, acarretando em uma trajetória espiral com sentido variável
influenciada pela carga e o sentido da partícula.

Tendo em vista o movimento esperado de uma partícula quando submetida à


campos eletromagnéticos, quando analisamos o caso do Cinturão de Van Allen, existe
uma variação na direção das linhas de campo, sendo o gradiente ∇B é paralelo a B.
Porém, ao se aproximar dos pólos, o campo se intensifica, gerando uma variação
maior.

Adotando um sistema de coordenadas cilíndricas representado pela figura X, o


eixo Z paralelo às linhas de campo, θ é o ângulo de revolução ao redor de Z e r é a
distância entre a partícula e o eixo. A partir disso podemos definir:
𝐵 = 𝐵𝜃 + 𝐵𝑟 + 𝐵𝑧
𝑣 = 𝑉𝜃 + 𝑉𝑟 + 𝑉𝑧
𝐹 = 𝐹𝜃 + 𝐹𝑟 + 𝐹𝑧

Sendo B o campo magnético, F a força magnética e v a velocidade da partícula.

Descrevendo matematicamente o fenômeno em cada componente, busca-se


compreender a reação das partículas quando submetida à intensificação do campo
magnético no decorrer do eixo Z.

Para 𝐵𝜃 = 0 têm-se: divergente de 𝐵 vale zero (𝐷𝑖𝑣(𝐵) = 0), utilizando a Lei de


Gauss para o magnetismo.

𝐵 = 𝐵𝑟 + 𝐵𝑧

1 𝜕(𝑟(𝐵𝑟)) 𝜕(𝐵𝑧)
𝐷𝑖𝑣(𝐵) = 𝛻 ∙ 𝐵 = 𝑟 𝜕𝑟
+ 𝜕𝑧
= 0
𝜕(𝐵𝑧)
Sendo assim, obtém-se Br em função de 𝜕𝑧

1 𝜕(𝑟(𝐵𝑟)) 𝜕(𝐵𝑧)
𝑟 𝜕𝑟
= − 𝜕𝑧
𝑟
𝜕(𝐵𝑧)
𝑟(𝐵𝑟) = − ∫𝑟 𝜕𝑧
𝑑𝑟
0
𝑟 𝜕(𝐵𝑧)
𝐵𝑟 = − 2 𝜕𝑧
Utilizando a fórmula da Força Magnética, é possível determinar as componentes de
força:
𝐹 = 𝑞. 𝑣 × 𝐵

𝐹=𝑞.

𝐹𝑟 = 𝑞. (𝑉𝜃. 𝐵𝑧 − 𝑉𝑧. 𝐵𝜃), 𝐵𝜃 = 0 (I)


∴ 𝐹𝜃 = 𝑞. (𝑉𝑧. 𝐵𝑟 − 𝑉𝑟. 𝐵𝑧)
∴ 𝐹𝑟 = 𝑞. (𝑉𝜃. 𝐵𝑧)
𝐹𝑧 = 𝑞. (𝑉𝑟. 𝐵𝜃 − 𝑉𝜃. 𝐵𝑟), 𝐵𝜃 = 0 (I)
∴ 𝐹𝑧 = −𝑞. 𝑉𝜃. 𝐵𝑟 (III)

Sabendo o valor de Br obtido em (II), substitui-se em Fz (III):


𝑟 𝜕(𝐵𝑧)
𝐹𝑧 = − 𝑞. 𝑉𝜃. (− 2 𝜕𝑧
)

𝑞𝑟 𝜕(𝐵𝑧)
𝐹𝑧 = 2
𝑉𝜃 𝜕𝑧

Para melhor interpretação 𝑉𝜃 será chamado de ± 𝑣 ⊥, sendo positivo o sentido


horário quando observado de frente e o negativo para anti-horário. Assim, têm-se:

𝑞𝑟 𝜕(𝐵𝑧)
𝐹𝑧 = ± 2
𝑣⊥ 𝜕𝑧
(IV)

Sabendo que a velocidade angular 𝜔 é igual à velocidade escalar dividida pelo raio da
circunferência, pode representar o raio em função de 𝜔 e 𝑣 ⊥:
𝑣⊥
𝑟 = 𝜔
(V)
Substituindo (V) em (IV):
𝑞𝑣⊥ 𝜕(𝐵𝑧)
𝐹𝑧 = ± 2𝜔
𝑣⊥ 𝜕𝑧
(VI)
Ademais, pode-se utilizar a velocidade angular obtida por:
𝑞.𝐵
𝜔 = ± 𝑚
(VII)

Temos assim:
𝑚𝑣 2⊥ 𝜕(𝐵𝑧)
𝐹𝑧 = − 2𝐵 𝜕𝑧

1 2
Já o momento magnético será 𝜇 = 2𝐵
𝑚𝑣 ⊥ (VIII)

𝜕(𝐵𝑧)
𝐹𝑧 = −𝜇 𝜕𝑧
(IX)

2 𝑞
Por definição, 𝜇 = 𝐴𝑖 (X), 𝐴 = 𝜋 𝑟 (XI) para um loop circular de raio r e 𝑖 = 𝑇
(XII), sendo 𝑞 a carga da partícula e 𝑇 o tempo para completar o loop. Assim, (XI) e
(XII) serão substituídas em (X):
2 𝑞
𝜇 = 𝜋𝑟 𝑇
(XIII)

Tendo 𝑇 = 𝜔
(XIV), substituindo em XIII:
2
𝑟 𝑞𝜔
𝜇 = 2
(XV)
𝑣⊥
Sabendo que 𝑟 = 𝜔
(V), então substituindo em (XV):
2
1 𝑣⊥ 𝑞
𝜇 = 2
. 𝜔
(XVI)
𝑞.𝐵
Sabendo também que 𝜔 = 𝑚
(VII), então com mais uma substituição em (XVI),
temos:
2
1 𝑚𝑣⊥
𝜇 = 2
. 𝜔
(VIII)

Pela segunda Lei de Newton:


𝑑𝑣||
𝐹𝑧 = 𝑚 𝑑𝑡
𝑑𝑣|| 𝜕(𝐵𝑧)
𝑚 𝑑𝑡
= −𝜇 𝜕𝑧
𝑑𝑧
Sendo 𝑣|| = 𝑑𝑡
e multiplicando ambos os lados da equação por 𝑣||:
𝑑𝑣|| 𝑑𝑧 𝜕(𝐵𝑧)
𝑚𝑣 𝑑𝑡
= −𝜇 𝑑𝑡 𝜕𝑧
1 2
𝑑( .𝑚𝑣 ∥) 𝜕(𝐵𝑧)
2
𝑑𝑡
= −𝜇 𝜕𝑡
(XVII)
1 2
Note que 𝐸𝑐 ∥ = 2
𝑚𝑣 ∥ (XVIII) é a energia cinética na componente paralela do
movimento.
Considerando o princípio de conservação de energia, têm-se: 𝐸𝑐 ∥ + 𝐸𝑐 ⊥= 𝐶, sendo
𝐸𝑐 ∥ a energia cinética do movimento paralelo ao campo, 𝐸𝑐 ⊥ a energia cinética do
movimento perpendicular ao campo e 𝐶 uma constante, é possível observar:
1 2 1 2
2
𝑚𝑣 ∥ + 2
𝑚𝑣 ⊥ = 𝐶 (XIX)
Derivando em relação ao tempo:
𝑑 1 2 𝑑 1 2
𝑑𝑡
( 2
𝑚𝑣 ∥) + 𝑑𝑡
( 2
𝑚𝑣 ⊥) = 0 (𝑋𝑋)
Lembrando que:
1 2
𝑑( .𝑚𝑣 ∥) 𝜕(𝐵𝑧)
2
𝑑𝑡
= −𝜇 𝜕𝑡
(XVII)
e
2
1 𝑚𝑣 ⊥ 1 2
𝜇 = 2 𝐵𝑧
(28) ⇒ 2
𝑚𝑣 ⊥ = 𝜇(𝐵𝑧) (XXI)
Substituindo em (XVIII):
𝜕(𝐵𝑧) 𝜕
−𝜇 𝜕𝑡
+ 𝜕𝑡
(𝜇(𝐵𝑧)) = 0
Pela regra do produto:
𝜕(𝐵𝑧) 𝜕 𝜕(𝐵𝑧)
−𝜇 𝜕𝑡
+ 𝜕𝑡
(𝜇(𝐵𝑧)) +− 𝜇 𝜕𝑡
= 0

𝜕𝜇
𝜕𝑡
. (𝐵𝑧) = 0
𝜕𝜇
∴ 𝜕𝑡
= 0 → logo, 𝜇 é uma constante.
Com isso, 𝜇 (VIII):
2
1 𝑚𝑣⊥
𝜇 =𝜇 = 2
. 𝐵
= 𝐾, 𝐾 sendo constante.
1 2 1 2
2
. 𝑚𝑣⊥ = 𝐾𝐵, como 𝐸𝑐 ⊥ = 2
𝑚𝑣 ⊥ :
𝐸𝑐 ⊥= 𝐾𝐵

Sendo assim, 𝐸𝑐 é diretamente proporcional a 𝐵.


∴ 𝐸𝑐 ⊥ 𝛼 𝐵

A partir da conservação de energia, 𝐸𝑐∥ + 𝐸𝑐 ⊥ = 𝐶(XIX), e considerando


a proporcionalidade entre 𝐸𝑐 ⊥ e 𝐵, é possível concluir que 𝐸𝑐∥ é inversamente
proporcional ao campo. Sendo assim, as velocidades 𝑣∥ e 𝑣⊥ variam mantendo C
diante da variação do campo.
Para variações expressivas, como no caso de campo próximo aos polos, implica
no aumento do valor de 𝑣⊥ e 𝑣∥ tende a zero, mantendo assim a constância de C.
Tendo em vista que as velocidades variam, é possível concluir que há uma força
paralela ao eixo z que gera uma aceleração e reflete as partículas.
Sabendo que os campos são mais intensos nos pólos, Norte e Sul, é possível
concluir que isso gera o efeito de espelho magnético. Sendo assim, implica no
aprisionamento de partículas nestas regiões, gerando o Cinturão de Van Allen.

5. Conclusão
Após os estudos, é possível concluir que o estudo do Cinturão de Van Allen foi e
continua sendo de grande importância para a ciência espacial, devido à enorme
influência que ele tem tanto em eventos terrestres quanto no processo de exploração
do espaço, além de ser um componente crucial no estudo e compreensão do espectro
maior, a magnetosfera da Terra. Seja enviando máquinas ou pessoas, o Cinturão
exerce efeito e contrapõe as viagens espaciais, portanto é necessário continuamente
compreendê-lo melhor a fim de mitigar os efeitos exercidos, além de entender sua
influência em fenômenos globais.

6. Referências Bibliográficas
Introduction to Plasma Physics and Controlled Fusion, Francis F.Chen

https://www3.unicentro.br/petfisica/2019/06/13/os-cinturoes-de-van-allen/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Cintur%C3%A3o_de_Van_Allen

http://conter.gov.br/site/noticia/misterios-do-espaco

https://spacecenter.org/what-are-the-van-allen-radiation-belts/

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