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FACULDADE DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE FÍSICA
IV ANO
V GRUPO
DISCENTES:
DOCENTES:
2
1. Introdução
Os fenómenos magnéticos são originados dos elétrons presente nos átomos, tais elétrons
possuem um momento magnético. Logo a resposta magnética de um átomo isolado
pode ser resultado do momento de spin intrínseco do elétron ou do núcleo, ao momento
angular orbital dos elétrons ou a variação do momento angular orbital causada por um
campo magnético externo (KITTEL & MCEUEN, 1976). Para entender como esses
efeitos se manifestam nos materiais precisamos apresentar brevemente o conceito de
momento magnético.
3
2. Objectivos
2.1 Objectivo Geral
Estudar as propriedades magnéticas dos sólidos.
4
3. Propriedades Magnéticas dos Sólidos
3.1 Momentos de dipolo magnéticos
Um sistema com duas cargas de sinais opostos a uma pequena distância, uma da outra
(mas não encostadas uma na outra) é conhecido como Dipolo eléctrico, figura 1, dipolos
são muito comuns e aparecem de várias formas na física, como em antena tipo dipolo,
dipolo atómicos, moléculas como a água, entre outros (FEYNMAN, LEIGHTON, &
SANDS, 2008).
Figura 1: Configuração de dipolo eléctrico, onde um par de cargas eléctricas com sinais
opostos é posicionado há uma distância pequena uma da outra. Imagem extraída de
(FEYNMAN, LEIGHTON, & SANDS, 2008).
( ) ( )
A quantidade (qd ) é definida como momento de dipolo eléctrico (p) das duas cargas.
Podemos escrever a equação (1) na forma vectorial, uma vez que / = cos(𝜃),
definimos p como um vector cuja magnitude é p e a direcção está alongo do eixo do
dipolo (eixo z), apontando da carga negativa para a positiva. Assim:
⃗⃗
( ) ( )
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esse campo magnético utilizamos o potencial vector magnético, onde manipulando as
equações obtemos:
( )
𝜇 ( )
Uma característica importante dos momentos de spin dos elétrons é que eles procuram
sempre se organizar aos pares dentro dos orbitais emparelhados de forma antiparalela
(Princípio da Exclusão), de modo que o momento magnético de um par de elétrons se
anula. Em electromagnetismo clássico vemos que a magnetização (momento magnético
total por volume) de um material qualquer sobre a presença de um campo magnético
externo é definida como (MACHADO, 2007):
⃗⃗⃗ ⃗⃗ ( )
⃗⃗
⃗⃗
⃗⃗⃗ ( )
⃗⃗⃗ ⃗⃗⃗ ( )
6
Vamos inicialmente analisar o que acontece com as equações de Maxwell nesse
contexto. Os momentos magnéticos produzem uma corrente que pode ser escrita na
forma,
⃗ ⃗⃗ ⃗⃗⃗ ( )
Definido,
⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗⃗ ( )
E separando a corrente devido aos momentos magnéticos das outras correntes, temos,
⃗ ⃗ ⃗⃗ ⃗ ⃗⃗
⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗⃗ ( )
⃗ ⃗⃗
⃗⃗ ⃗⃗ ( )
⃗⃗ 𝜇 ⃗⃗ ( )
⃗⃗⃗
⃗ ⃗⃗
( )
Onde ⃗ é um tensor. Aqui, para todos os efeitos práticos, vamos considerar o caso de
redes cúbicas, quando ⃗ comporta-se como um escalar. Quando a resposta magnética é
linear, 𝜇 , os materiais paramagnéticos têm e os diamagnéticos .
⃗⃗⃗ ∫ ⃗ ⃗ ⃗( ⃗) ( )
7
A força de Lorentz actuando em qualquer distribuição de corrente é,
⃗ ∫ ⃗ ⃗( ⃗) ⃗⃗ ( ⃗) ( )
⃗⃗⃗ ⃗⃗ ( )
O resultado indica que os dipolos magnéticos tendem a se alinhar com o campo para
minimizar a energia, o que sugere que todos os sólidos seriam paramagnéticos. A
situação real é mais complexa, uma vez que foi desprezado aqui a energia necessária
para manter constante a corrente passando pelo dipolo enquanto esse orienta-se no
campo externo.
Veremos que uma descrição clássica é impossível, necessitando que efeitos quânticos
fixem os circuitos das correntes internas. Com isso, os momentos magnéticos
permanentes alinham-se com o campo, criando um efeito paramagnético com 𝜇 ,
enquanto a contribuição devido às órbitas circulares induzem um efeito diamagnético,
com 𝜇 .
Antes de avançarmos nesses efeitos, vamos discutir a origem dos momentos de dipolos
magnéticos permanentes. Esses podem ter origem no momento angular orbital e no spin
dos elétrons. Para o primeiro caso, temos,
⃗⃗⃗ ∑⃗ ⃗ 𝜇 ⃗⃗ ( )
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Além de sua carga eléctrica, os elétrons possuem um momento de dipolo magnético
bem determinado, chamado de spin (GRIFFITHS & SCHROETER, 2018). O valor
desse momento magnético é chamado de Magnéton de Bohr e vale:
⃗⃗⃗ 𝜇 ∑⃗ 𝜇 ⃗ ( )
Partindo do hamiltoniano,
∑⃗ 𝜇 ( ⃗⃗ ⃗) ⃗⃗ ∑( ) ( )
Onde ⃗⃗ ⃗ são o momento magnético orbital total e o momento de spin total do átomo.
Não incluímos explicitamente no hamiltoniano o potencial cristalino mas está
subentendido que ele está presente, modificando as funções de onda do elétron quando
for pertinente.
E escrevendo,
𝜇 ( ⃗⃗ ⃗) ⃗⃗ ∑( ) ( )
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|⟨ |𝜇 ( ⃗⃗ ⃗) ⃗⃗ | ⟩|
𝜇 ⃗⃗ ⟨ |( ⃗⃗ ⃗)| ⟩ ∑
⟨ | ∑( )| ⟩ ( )
𝜇 ⃗⃗ ⟨ |( ⃗⃗ ⃗)| ⟩ ( )
⟨ | ∑( )| ⟩ ( ) ( ) ( )
⁄
3.4 Diamagnetismo
10
Figura 2: Lei de Lenz para um elétron girando em torno de um átomo no ponto de vista
clássico, o elétron produz um momento de dipolo orbital. Imagem extraída de
(MACHADO, 2007).
⃗| ⟩ ⃗⃗ | ⟩ ⃗ ⟩ ( )
⟨ ∑( ⃗⃗ ⃗) ⟩ ⟨ ∑( ⃗ ) ⟩ ( )
Como existe uma probabilidade desprezível do íon estar em qualquer estado que não
seja o seu estado fundamental no equilíbrio térmico, excepto em temperaturas
excessivamente altas, a susceptibilidade de um sólido composto por N desses íons é
dado por:
⟨ ∑( ⃗ ) ⟩ ( )
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Podemos representar as susceptibilidades como susceptibilidades molares, com base na
magnetização por mol. Onde 𝑙 é dado simplesmente pela multiplicação de pelo
3.5 Paramagnetismo
Para entendermos a resposta magnética nos sólidos que apresentam íons com camadas
não-preenchidas é necessário primeiro compreendermos como se processa o
preenchimento dos níveis de energia nos átomos. Na ausência de interacção elétron-
elétron, os níveis são degenerados, e apena o número quântico principal determina a
energia do nível. Com a interacção entre os elétrons e o acoplamento spin-órbita, a
degenerescência é quebrada parcialmente.
Com excepção de íons muito pesados (no qual o acoplamento spin-órbita é muito forte),
os níveis mais baixos podem ser descritos por um conjunto de regras que reflecte nas
propriedades magnéticas dos sólidos, sejam elas (GRIFFITHS; SCHROETER, 2018):
Acoplamento de Russel-Saunders
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De acordo com o Princípio da Exclusão de Pauli, o estado com o spin total mais alto
( ⃗) terá a menor energia, ou seja, o princípio de exclusão de Pauli impede elétrons com
spins paralelos de ocuparem a mesma região do espaço (ou o mesmo nível orbital).
Para um spin dado, o estado com o momento angular orbital total ( ⃗⃗) mais alto,
compatível com a anti-simetrização geral, terá a menor energia, isto é, deve-se
maximizar ( ⃗⃗). Novamente, isso permite reduzir a energia. Elétrons “girando” no
mesmo sentido conseguem evitar-se mais eficientemente e com isso diminuir a
interacção coulombiana.
⃗ ⟩
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⟨ |⃗⃗| ⟩
Isto pode ser visto por considerações de paridade de e ⃗⃗ sob o operador de reversão
temporal. Assim, a susceptibilidade magnética pode ser escrita como:
𝜇 |⟨ |( ⃗⃗ ⃗ )| ⟩|
⟨ |∑( ⃗ ) | ⟩ ∑ ( )
O sinal positivo no último termo se deve ao fato das energias de estado excitado são
necessariamente maior que a do estado fundamental, logo os termos no denominador
são invertidos. A equação 33 é conhecida como Paramagnetismo de Van Vleck, assim
como o diamagnetismo comum o efeito de Van Vleck é praticamente independente da
temperatura.
Neste caso, o estado fundamental tem dobra ( ) em campo zero, logo temos que
tratar a raiz quadrada com dimensão( ):
⟨ |( ⃗⃗ ⃗ )| ⟩ ( )
⟨ |( ⃗⃗ ⃗ )| ⟩ ( )⟨ | ⃗| ⟩ ( )
( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( )
( )
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Lei de Curie
∑ ( )
( )
[( ) ( )( ) ( )( )] ( )
( ) ( )
( 𝜇 ) ( )
( )
( 𝜇 ) ( )
( )
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Para íons de terras raras, a equação 42 pode ser reescrita como:
𝜇
( )
Em que:
[ ( )] ⁄ ( )
𝜇 𝜇 √( ) ( )
Agora, para o caso em que a energia térmica é muito menor que a energia magnética
( 𝜇 ), a magnetização atinge seu valor máximo onde os momentos
magnéticos estão perfeitamente alinhados com o campo magnético (essa magnetização é
conhecida como magnetização de saturação).
Para este caso, a aproximação por série de Taylor é feita para valores muito grandes de
y. Portanto, a magnetização se reduz a:
𝜇 ( )
Nota-se que a Lei de Curie 42 é avaliada para o caso limite do campo magnético fraco,
sendo descrita em termos do momento efectivo (𝜇 ). Porém em altos campos, a
magnetização de saturação é equivalente a um momento efectivo por íon. Esses valores
são correspondentes apenas para o limite clássico em que → ∞ (HOLANDA et al.
2020).
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O modelo de Weiss é considerado ultrapassado pois fornece apenas a correcção
principal da Lei de Curie em altas temperaturas, mas falha na previsão de ondas de spin
em baixas temperaturas e também o quadro da região crítica fornecido é inadequado,
isso se deve ao fato de Weiss não ter descoberto o motivo da existência de um campo
interno proporcional a magnetização. O modelo de Weiss é importante por ser
considerado como o ponto de partida para cálculos mais sofisticados envolvendo o
ferromagnetismo.
3.6.1 Ferromagnetismo
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Figura 3: A figura representa dois tipos de arranjos de spins, indicando possíveis
ordenamentos magnéticos, em (a) ferromagnéticos e (b) antiferromagnético. Imagem
extraída de (FEYNMAN, LEIGHTON, & SANDS, 2008)
Apesar das limitações do modelo de Weiss, nos convém utiliza-lo pois nossa análise
quantitativa será feita utilizando a correcção para a Lei de Curie em altas temperaturas e
com o auxílio da mecânica quântica, sabemos que Heisenberg provou que o campo
proporcional a magnetização tinha origem na interacção de troca entre spins atómicos.
Assim, para um ferro magneto em um campo magnético ⃗⃗, o hamiltoniano é dado por:
⃗⃗ ∑ ⃗ ⃗ 𝜇 ∑ ⃗ ⃗⃗ ( )
onde a constante de troca para vizinhos próximos, , será positiva para garantir o
alinhamento ferromagnético. O primeiro termo a direita da equação 47 se refere a
energia de Troca de Heisenberg ou Hamiltoniano de Spin, e o segundo termo é a energia
de Zeeman, para resolver essa equação definimos o campo molecular efectivo no i-
ésimo ( ) sítio, como:
⃗⃗ ∑ ⃗ ( )
𝜇
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⃗⃗ ∑ ⃗ ⃗ ( )
∑ ⃗ ⃗ ⃗ ( ∑ ⃗) 𝜇 ⃗ ⃗⃗ ( )
⃗⃗ 𝜇 ⃗ ⃗⃗ 𝜇 ∑ ⃗ ⃗⃗ ( )
⃗⃗ 𝜇 ∑ ⃗ ( ⃗⃗ ⃗⃗ ) ( )
Esta afirmação se sustenta pois todos os íons experimenta o mesmo campo molecular,
porém essa abordagem é questionável para temperaturas próximas a uma transição
magnética. Em um ferromagneto, o campo molecular actuará alinhando os momentos
magnéticos vizinhos, logo podemos assumir que:
⃗⃗ ⃗⃗⃗ ( )
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( ) 𝜇 ( )
𝜇 ( )
( )
( )
𝜇
𝜇 ( )
( )
( )
3.6.2 Antiferromagnetismo
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magnéticos. O antiferromagnetismo, frequentemente, ocorre em sistemas que podem ser
considerados como duas sub-redes interpretantes, figura 3, onde em cada rede têm-se
uma orientação Up e Down.
( )
( )
onde é negativo. Supondo que não há campo magnético, a equação 54 pode ser escrita
como:
( ) ( )
onde,
𝜇
( )
( )
e consequentemente:
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𝜇
( )
𝜇 ( )
( )
( )
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Na prática, para materiais antiferromagnéticos, a temperatura de Curie-Weiss ( ,) é
diferente da temperatura de Néel ( ,) em módulo, contrariando o esperado quando
comparamos a Lei de Curie-Weiss de um material antiferromagnético com a Lei para
um ferromagnético. Isso se deve à interacções entre os vizinhos mais próximos, como
mencionado na introdução sistemas antiferromagnéticos podem ser frustrados
geometricamente em baixas temperaturas (MACHADO, 2007).
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4. Conclusão
Uma forma de estudar qual o comportamento magnético de uma certa amostra é através
das curvas de magnetização, de modo que à magnetização é analisada em função do
campo externo aplicado e da temperatura. As curvas de magnetização em função do
campo externo medem a magnetização do sistema a partir de uma varredura do campo
externo aplicado. Cada tipo de comportamento magnético já discutido nas seções acima
apresenta um certo tipo de curva de magnetização.
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5. Referências Bibliográficas
KITTEL, C., & MCEUEN, P. (1976). Introduction to solid state physics. Wiley New
York: v.8.
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