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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE FÍSICA

LICENCIATURA EM FÍSICA APLICADA

IV ANO

FÍSICA TEÓRICA COMPLEMENTAR I

V GRUPO

Propriedades Magnéticas dos Sólidos

DISCENTES:

Maculuve, Gervásio Guedes de Castro

Sawanguane, Hernandes José

DOCENTES:

Prof. Dr. Joaquim Nhanala

Maputo, Abril de 2022


Índice
1. Introdução……………………………………………………………………………..3
2. Objectivos……………………………………………………………………………...4
2.1 Objectivo Geral………………………………………………………………………...4
2.2 Objectivo Específico…………………………………………………………………...4
3. Propriedades Magnéticas dos Sólidos…………………………………………..5
3.1 Momentos de dipolo magnéticos……………………………………………….5
3.2 Densidade de Magnetização e Susceptibilidade………………………………..6
3.3 Magnetismo atómico……..…………………………………………………......9
3.4 Diamagnetismo………………………………………………………………..10
3.5 Paramagnetismo ……………………………………………………………...12
3.5.1 Estado fundamental não Degenerado……………………………………..13
3.5.2 Estado Fundamental Degenerado……………………………………..…..14
3.6 Teoria do Campo Médio……………………………………………………...16
3.6.1 Ferromagnetismo………………………………………………………….17
3.6.2 Antiferromagnetismo……………………………………………………...20
4. Conclusão……………………………………………………………………...24
5. Referências Bibliográficas…………………………………………………….25

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1. Introdução

Todo material apresenta algum tipo de comportamento sobe influência de um campo


magnético, a intensidade desse comportamento vária de material para material. Os
materiais cujo efeito magnético é mais forte são chamados de ferromagnéticos, entre
eles citamos o Ferro (Fe), Níquel (Ni) e outros tipos de ligas. Embora muitas vezes
menor que o Ferromagnetismo, outros materiais apresentam comportamento magnético
conhecidos como Diamagnetismo e Paramagnetismo.

Os fenómenos magnéticos são originados dos elétrons presente nos átomos, tais elétrons
possuem um momento magnético. Logo a resposta magnética de um átomo isolado
pode ser resultado do momento de spin intrínseco do elétron ou do núcleo, ao momento
angular orbital dos elétrons ou a variação do momento angular orbital causada por um
campo magnético externo (KITTEL & MCEUEN, 1976). Para entender como esses
efeitos se manifestam nos materiais precisamos apresentar brevemente o conceito de
momento magnético.

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2. Objectivos
2.1 Objectivo Geral
 Estudar as propriedades magnéticas dos sólidos.

2.2 Objectivo Específico


 Discutir as propriedades magnéticas para elétrons independentes
(diamagnetismo e paramagnetismo);
 Estudar a origem da ordem magnética (ferromagnetismo e
antiferromagnetismo).

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3. Propriedades Magnéticas dos Sólidos
3.1 Momentos de dipolo magnéticos

Um sistema com duas cargas de sinais opostos a uma pequena distância, uma da outra
(mas não encostadas uma na outra) é conhecido como Dipolo eléctrico, figura 1, dipolos
são muito comuns e aparecem de várias formas na física, como em antena tipo dipolo,
dipolo atómicos, moléculas como a água, entre outros (FEYNMAN, LEIGHTON, &
SANDS, 2008).

Figura 1: Configuração de dipolo eléctrico, onde um par de cargas eléctricas com sinais
opostos é posicionado há uma distância pequena uma da outra. Imagem extraída de
(FEYNMAN, LEIGHTON, & SANDS, 2008).

O potencial eléctrico das duas cargas é dado por:

( ) ( )

A quantidade (qd ) é definida como momento de dipolo eléctrico (p) das duas cargas.
Podemos escrever a equação (1) na forma vectorial, uma vez que / = cos(𝜃),
definimos p como um vector cuja magnitude é p e a direcção está alongo do eixo do
dipolo (eixo z), apontando da carga negativa para a positiva. Assim:

⃗⃗
( ) ( )

em que ⃗ é um vetor radial unitário.

Qualquer circuito pequeno fechado, por pequeno me refiro à um circuito em que o


campo é medido a uma grande distância, é um Dipolo Magnético. Isto é, ele produz um
campo magnético semelhante ao campo eléctrico de um dipolo eléctrico. Para encontrar

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esse campo magnético utilizamos o potencial vector magnético, onde manipulando as
equações obtemos:

( )

Estamos interessados na quantidade ( ), que é a corrente vezes a área do circuito,


este produto é chamado de momento de dipolo magnético ou simplesmente momento
magnético (𝜇), definimos uma direcção para o momento de magnético como sendo
normal ao plano com o sentido dado pela regra da mão direita.

𝜇 ( )

3.2 Densidade de Magnetização e Susceptibilidade

Uma característica importante dos momentos de spin dos elétrons é que eles procuram
sempre se organizar aos pares dentro dos orbitais emparelhados de forma antiparalela
(Princípio da Exclusão), de modo que o momento magnético de um par de elétrons se
anula. Em electromagnetismo clássico vemos que a magnetização (momento magnético
total por volume) de um material qualquer sobre a presença de um campo magnético
externo é definida como (MACHADO, 2007):

⃗⃗⃗ ⃗⃗ ( )

Vamos inicialmente definir as grandezas envolvidas:

⃗⃗

⃗⃗

⃗⃗⃗ ( )

O sólido possui um conjunto de momentos de dipolos magnéticos, ⃗⃗⃗, e a magnetização


é definida como a densidade de momentos de dipolos magnéticos:

⃗⃗⃗ ⃗⃗⃗ ( )

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Vamos inicialmente analisar o que acontece com as equações de Maxwell nesse
contexto. Os momentos magnéticos produzem uma corrente que pode ser escrita na
forma,

⃗ ⃗⃗ ⃗⃗⃗ ( )

Definido,

⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗⃗ ( )

E separando a corrente devido aos momentos magnéticos das outras correntes, temos,

⃗ ⃗ ⃗⃗ ⃗ ⃗⃗
⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗⃗ ( )

⃗ ⃗⃗
⃗⃗ ⃗⃗ ( )

Para um meio magnético linear, a relação entre a indução magnética ⃗⃗ e o campo


magnético ⃗⃗ é,

⃗⃗ 𝜇 ⃗⃗ ( )

Onde 𝜇 é a permeabilidade magnética. O material será chamado de paramagnético se


𝜇 e diamagnético se 𝜇 . Definimos a susceptibilidade magnética como sendo,

⃗⃗⃗
⃗ ⃗⃗
( )

Onde ⃗ é um tensor. Aqui, para todos os efeitos práticos, vamos considerar o caso de
redes cúbicas, quando ⃗ comporta-se como um escalar. Quando a resposta magnética é
linear, 𝜇 , os materiais paramagnéticos têm e os diamagnéticos .

Ou seja, no primeiro caso, a magnetização ocorre no mesmo sentido do campo externo


aplicado enquanto os diamagnéticos “reagem” contra o campo.

Examinemos agora os momentos magnéticos ⃗⃗⃗ sob o ponto de vista de correntes


fechadas. Nessa descrição, o momento de dipolo magnético escreve-se,

⃗⃗⃗ ∫ ⃗ ⃗ ⃗( ⃗) ( )

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A força de Lorentz actuando em qualquer distribuição de corrente é,

⃗ ∫ ⃗ ⃗( ⃗) ⃗⃗ ( ⃗) ( )

Vamos assumir que a distribuição de corrente ⃗ forma um circuito fechado e anula-se


excepto na vizinhança de algum ponto, por exemplo, a origem Nesse caso, podemos
expandir a indução magnética em série de Taylor em torno desse ponto,

⃗ ∫ ⃗ ⃗( ⃗) [ ⃗⃗ ( ) ( ⃗ ⃗⃗) ⃗⃗ ( ) ] ⃗⃗( ⃗⃗⃗ ⃗⃗ )

⃗⃗⃗ ⃗⃗ ( )

Onde U é a energia potencial do dipolo na presença de um campo magnético.

O resultado indica que os dipolos magnéticos tendem a se alinhar com o campo para
minimizar a energia, o que sugere que todos os sólidos seriam paramagnéticos. A
situação real é mais complexa, uma vez que foi desprezado aqui a energia necessária
para manter constante a corrente passando pelo dipolo enquanto esse orienta-se no
campo externo.

Veremos que uma descrição clássica é impossível, necessitando que efeitos quânticos
fixem os circuitos das correntes internas. Com isso, os momentos magnéticos
permanentes alinham-se com o campo, criando um efeito paramagnético com 𝜇 ,
enquanto a contribuição devido às órbitas circulares induzem um efeito diamagnético,
com 𝜇 .

Antes de avançarmos nesses efeitos, vamos discutir a origem dos momentos de dipolos
magnéticos permanentes. Esses podem ter origem no momento angular orbital e no spin
dos elétrons. Para o primeiro caso, temos,

⃗⃗⃗ ∑⃗ ⃗ 𝜇 ⃗⃗ ( )

Onde a somatória é feita sobre todos os elétrons do átomo, ⃗⃗ ∑ ⃗ ⃗ é o momento

angular e 𝜇 ( ) é o magnetão de Bohr, cujo valor é 𝜇 .

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Além de sua carga eléctrica, os elétrons possuem um momento de dipolo magnético
bem determinado, chamado de spin (GRIFFITHS & SCHROETER, 2018). O valor
desse momento magnético é chamado de Magnéton de Bohr e vale:

O sinal negativo tem origem na carga negativa do elétron ( ), ou seja, a corrente


eléctrica tem o sentido oposto da corrente da partícula. Além desse momento de dipolo,
temos também o momento de dipolo magnético devido ao spin,

⃗⃗⃗ 𝜇 ∑⃗ 𝜇 ⃗ ( )

é o factor g electrónico ( ) e ⃗ é o spin do elétron.

3.3 Magnetismo atómico

Partindo do hamiltoniano,

∑⃗ 𝜇 ( ⃗⃗ ⃗) ⃗⃗ ∑( ) ( )

Onde ⃗⃗ ⃗ são o momento magnético orbital total e o momento de spin total do átomo.
Não incluímos explicitamente no hamiltoniano o potencial cristalino mas está
subentendido que ele está presente, modificando as funções de onda do elétron quando
for pertinente.

Os estados referem-se aos estados na ausência do campo magnético. Vamos calcular a


contribuição dos termos magnéticos até segunda ordem em teoria de perturbação,

E escrevendo,

𝜇 ( ⃗⃗ ⃗) ⃗⃗ ∑( ) ( )

e guardando termos até segunda ordem em B, temos,

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|⟨ |𝜇 ( ⃗⃗ ⃗) ⃗⃗ | ⟩|
𝜇 ⃗⃗ ⟨ |( ⃗⃗ ⃗)| ⟩ ∑

⟨ | ∑( )| ⟩ ( )

 O primeiro termo é linear em ⃗⃗, e, a menos que ele anule-se, deve


dominar sobre os outros termos. Ele existe para camadas atómicas
abertas e é responsável pelo paramagnetismo ( ). A ordem de
grandeza dessa contribuição é,

𝜇 ⃗⃗ ⟨ |( ⃗⃗ ⃗)| ⟩ ( )

 O segundo termo é responsável pelo diamagnetismo ( ). É ele que,


classicamente, é responsável pelas órbitas clássicas e que pode,
erroneamente como já discutimos, aparentar um efeito diamagnético
clássico. Podemos estimar seu valor quanticamente, calculando,

⟨ | ∑( )| ⟩ ( ) ( ) ( )

onde é o raio de Bohr e ⁄ .

3.4 Diamagnetismo

Materiais conhecidos como diamagnéticos não possuem momento magnético


permanente, ou seja, os pequenos magnetos se contrabalançam somando a zero. Além
disso, os momentos angulares orbital e de spin cancelam-se totalmente , dessa forma o
átomo tem momento magnético total igual a zero. Nestes átomos, ao ligar um campo
magnético externo pequenas correntes são formadas dentro do átomo por indução. De
acordo com a Lei de Lenz, estas correntes criam um campo magnético oposto ao campo
externo e este é o diamagnetismo visto sem a mecânica quântica, figura 2.

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Figura 2: Lei de Lenz para um elétron girando em torno de um átomo no ponto de vista
clássico, o elétron produz um momento de dipolo orbital. Imagem extraída de
(MACHADO, 2007).

Agora, no ponto de vista da mecânica quântica utilizaremos a equação para a


susceptibilidade de um íon com todos os subníveis electrónicos preenchidos. Como já
mencionado esse íon tem spin zero e momento angular orbital no seu estado
fundamental, tal estado é simetricamente esférico, logo:

⃗| ⟩ ⃗⃗ | ⟩ ⃗ ⟩ ( )

Assim, analisando a equação para a correcção da energia, apenas o primeiro termo


contribui para a troca induzida por um campo magnético, para um estado fundamental
simetricamente esférico o termo pode ser escrito como:

⟨ ∑( ⃗⃗ ⃗) ⟩ ⟨ ∑( ⃗ ) ⟩ ( )

Como existe uma probabilidade desprezível do íon estar em qualquer estado que não
seja o seu estado fundamental no equilíbrio térmico, excepto em temperaturas
excessivamente altas, a susceptibilidade de um sólido composto por N desses íons é
dado por:

⟨ ∑( ⃗ ) ⟩ ( )

A equação 32 é conhecida como susceptibilidade diamagnética de Larmor ou


susceptibilidade de Langevin. O termo diamagnetismo é aplicado a casos de
susceptibilidade negativa, no caso que o momento magnético induzido é oposto ao
campo aplicado, como mostrado na representação clássica da figura 2.

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Podemos representar as susceptibilidades como susceptibilidades molares, com base na
magnetização por mol. Onde 𝑙 é dado simplesmente pela multiplicação de pelo

volume de um mol, ( ), onde é o número de Avogadro. Essa susceptibilidade é

usada para descrever cristais iónicos simples, como os haletos alcalinos.

3.5 Paramagnetismo

Materiais conhecidos como paramagnéticos os momentos de spins e momentos


angulares descrevem uma corrente circulante resultante diferente de zero, tendo assim
um momento magnético permanente. Logo, o íon além de ter os efeitos diamagnéticos
que estão sempre presentes, há também o alinhamento dos momentos magnéticos
atómicos individuais.

Para entendermos a resposta magnética nos sólidos que apresentam íons com camadas
não-preenchidas é necessário primeiro compreendermos como se processa o
preenchimento dos níveis de energia nos átomos. Na ausência de interacção elétron-
elétron, os níveis são degenerados, e apena o número quântico principal determina a
energia do nível. Com a interacção entre os elétrons e o acoplamento spin-órbita, a
degenerescência é quebrada parcialmente.

Com excepção de íons muito pesados (no qual o acoplamento spin-órbita é muito forte),
os níveis mais baixos podem ser descritos por um conjunto de regras que reflecte nas
propriedades magnéticas dos sólidos, sejam elas (GRIFFITHS; SCHROETER, 2018):

 Acoplamento de Russel-Saunders

O Hamiltoniano do íon pode ser comutado com os momentos electrónicos totais


⃗⃗ ⃗ ⃗ ⃗⃗ ⃗. Assim, os estados do íon podem ser descritos pelos números quânticos

, indicando que eles são auto estados dos operadores ⃗⃗ ⃗⃗ ⃗ ⃗


⃗ ⃗.

 Primeira Regra de Hund

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De acordo com o Princípio da Exclusão de Pauli, o estado com o spin total mais alto
( ⃗) terá a menor energia, ou seja, o princípio de exclusão de Pauli impede elétrons com
spins paralelos de ocuparem a mesma região do espaço (ou o mesmo nível orbital).

 Segunda Regra de Hund

Para um spin dado, o estado com o momento angular orbital total ( ⃗⃗) mais alto,
compatível com a anti-simetrização geral, terá a menor energia, isto é, deve-se
maximizar ( ⃗⃗). Novamente, isso permite reduzir a energia. Elétrons “girando” no
mesmo sentido conseguem evitar-se mais eficientemente e com isso diminuir a
interacção coulombiana.

 Terceira Regra de Hund

O valor de ⃗ deve ser encontrado usando ⃗ | ⃗⃗ ⃗| se a camada estiver preenchida

além da metade e ⃗ | ⃗⃗ ⃗| se a camada estiver preenchido além da metade. Essa

regra busca minimizar a energia que origina-se do acoplamento spin-órbita. A


importância dessa regra depende da intensidade do acoplamento spin-órbita. Para metais
de transição, esse acoplamento não é tão forte e a terceira regra de Hund não é
necessariamente seguida. Já para terras-raras, a terceira regra de Hund funciona bem.

3.5.1 Estado fundamental não Degenerado

Considere um íon ou molécula com subnível parcialmente preenchido, aqui faz


necessário analisar os dois casos de degenerescência do estado fundamental. Para o caso
não degenerado no qual falta apenas um elétron para que haja preenchimento pela
metade ⃗ , os elétrons com spin up e spin down são acoplados no estado
fundamental, temos que é uma autofunção do spin electrónico total com autovalor
nulo, assim:

⃗ ⟩

Como o subnível está parcialmente preenchido não é autofunção do momento


angular total ( ⃗⃗ ⟩ ), porém nós ainda podemos escrever o valor esperado do

operador ⃗⃗ na função de onda não degenerada a relação:

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⟨ |⃗⃗| ⟩

Isto pode ser visto por considerações de paridade de e ⃗⃗ sob o operador de reversão
temporal. Assim, a susceptibilidade magnética pode ser escrita como:

𝜇 |⟨ |( ⃗⃗ ⃗ )| ⟩|
⟨ |∑( ⃗ ) | ⟩ ∑ ( )

O sinal positivo no último termo se deve ao fato das energias de estado excitado são
necessariamente maior que a do estado fundamental, logo os termos no denominador
são invertidos. A equação 33 é conhecida como Paramagnetismo de Van Vleck, assim
como o diamagnetismo comum o efeito de Van Vleck é praticamente independente da
temperatura.

3.5.2 Estado Fundamental Degenerado

Considere agora o caso em que o estado fundamental é degenerado ou seja todos


os casos excepto os de subníveis fechados e os quais falta um elétron para o
preenchimento pela metade.

Neste caso, o estado fundamental tem dobra ( ) em campo zero, logo temos que
tratar a raiz quadrada com dimensão( ):

⟨ |( ⃗⃗ ⃗ )| ⟩ ( )

O teorema de Wigner-Eckart (Winston, 1976), afirma que os elementos matriciais de


qualquer operador de vector no espaço de dimensão ( ):de auto estados ⃗ ⃗⃗
com dado valor de , são proporcionais aos elementos da matriciais do próprio J:

⟨ |( ⃗⃗ ⃗ )| ⟩ ( )⟨ | ⃗| ⟩ ( )

Onde ( ) é conhecido como factor g de Landé, e é calculado por:

( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( )
( )

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 Lei de Curie

Quando apenas os estados mais baixos de ( ) são termicamente excitados com


probabilidade significativa, a energia livre será dada por:

∑ ( )

em que ( )𝜇 e . Para encontrar a susceptibilidade utilizamos a


representação da magnetização pela fórmula termodinâmica:

( )

Expandindo a equação 37 em série geométrica e derivando, obtemos:

[( ) ( )( ) ( )( )] ( )

A equação entre parênteses é chamada de função de Brillouin ( ( ) ).


Para altas temperaturas onde , expandimos a função de Brillouin em série de
Taylor até a primeira ordem, obtendo assim:

( ) ( )

Com essa aproximação obtemos para a susceptibilidade:

( 𝜇 ) ( )
( )

Ou, termos da susceptibilidade molar:

( 𝜇 ) ( )
( )

A equação 42 é conhecida como Lei de Curie, ela caracteriza sistemas paramagnéticos


com momentos magnéticos permanentes, onde o alimento dos momentos magnéticos se
dá no mesmo sentido que o campo externo e sua resposta são mais forte em baixas
temperaturas. Apesar da condição 𝜇 , esta equação se aplica para uma
grande variação de campos e temperaturas.

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Para íons de terras raras, a equação 42 pode ser reescrita como:

𝜇
( )

Em que:

[ ( )] ⁄ ( )

é conhecido como número de magneton efectivo de Bohr, esses valores calculados


teoricamente já foram também mensurados, conforme mostrados na tabela
(ASHCROFT; MERMIN, 2010) da literatura. Podemos também definir um campo
efectivo dado por:

𝜇 𝜇 √( ) ( )

Agora, para o caso em que a energia térmica é muito menor que a energia magnética
( 𝜇 ), a magnetização atinge seu valor máximo onde os momentos
magnéticos estão perfeitamente alinhados com o campo magnético (essa magnetização é
conhecida como magnetização de saturação).

Para este caso, a aproximação por série de Taylor é feita para valores muito grandes de
y. Portanto, a magnetização se reduz a:

𝜇 ( )

Nota-se que a Lei de Curie 42 é avaliada para o caso limite do campo magnético fraco,
sendo descrita em termos do momento efectivo (𝜇 ). Porém em altos campos, a
magnetização de saturação é equivalente a um momento efectivo por íon. Esses valores
são correspondentes apenas para o limite clássico em que → ∞ (HOLANDA et al.
2020).

3.6 Teoria do Campo Médio

Uma vez apresentado teoricamente o ferromagnetismo é preciso apresentar o modelo


formal, baseado na mecânica quântica. A teoria do campo médio ou modelo de Weiss
foi a primeira análise quantitativa da transição ferromagnética, feito por Pierre Weiss.

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O modelo de Weiss é considerado ultrapassado pois fornece apenas a correcção
principal da Lei de Curie em altas temperaturas, mas falha na previsão de ondas de spin
em baixas temperaturas e também o quadro da região crítica fornecido é inadequado,
isso se deve ao fato de Weiss não ter descoberto o motivo da existência de um campo
interno proporcional a magnetização. O modelo de Weiss é importante por ser
considerado como o ponto de partida para cálculos mais sofisticados envolvendo o
ferromagnetismo.

3.6.1 Ferromagnetismo

Materiais conhecidos como ferromagnéticos possuem uma interessante propriedade:


acima de uma determinada temperatura (temperatura de Curie ) o material não é
fortemente magnético, porém abaixo ele possui uma magnetização espontânea, ou seja
um momento magnético que existe mesmo sem a presença de um campo aplicado, no
qual é dito estar ordenado ferromagneticamente. Um outro fenómeno comum é o caso
em que os momentos magnéticos alinham-se resultando em um momento total zero,
sem magnetização espontânea para revelar ordenamento magnético, este estado é
chamado de antiferromagnético, figura 3.

A magnetização espontânea pode ser entendida facilmente ao se observar o exemplo


citado por Feynman (FEYNMAN, LEIGHTON, & SANDS, 2008), onde um pedaço de
fio de níquel é aquecido acima de sua temperatura de Curie e posto próximo a um
magneto, o mesmo não é atraído até que comece a esfriar e desça abaixo da temperatura
critica.

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Figura 3: A figura representa dois tipos de arranjos de spins, indicando possíveis
ordenamentos magnéticos, em (a) ferromagnéticos e (b) antiferromagnético. Imagem
extraída de (FEYNMAN, LEIGHTON, & SANDS, 2008)

A teoria do ferromagnetismo apresentada no presente trabalho, supõe que o spin do


elétron é o responsável pela magnetização. Podemos pensar no ferromagnetismo da
seguinte forma: Nas convenções usuais o momento do elétron é oposto ao do spin,
elétron possui uma carga negativa e seu spin carrega um momento magnético 𝜇
(Magneton de Bohr), no estado Up o elétron possui um momento negativo e no estado
down um momento positivo.

Apesar das limitações do modelo de Weiss, nos convém utiliza-lo pois nossa análise
quantitativa será feita utilizando a correcção para a Lei de Curie em altas temperaturas e
com o auxílio da mecânica quântica, sabemos que Heisenberg provou que o campo
proporcional a magnetização tinha origem na interacção de troca entre spins atómicos.
Assim, para um ferro magneto em um campo magnético ⃗⃗, o hamiltoniano é dado por:

⃗⃗ ∑ ⃗ ⃗ 𝜇 ∑ ⃗ ⃗⃗ ( )

onde a constante de troca para vizinhos próximos, , será positiva para garantir o
alinhamento ferromagnético. O primeiro termo a direita da equação 47 se refere a
energia de Troca de Heisenberg ou Hamiltoniano de Spin, e o segundo termo é a energia
de Zeeman, para resolver essa equação definimos o campo molecular efectivo no i-
ésimo ( ) sítio, como:

⃗⃗ ∑ ⃗ ( )
𝜇

No spin, parte da energia é devido ao efeito Zeeman e a outra parte a interacção de


troca. A interacção de troca total entre o spin e seus vizinhos próximos é dado pelo
Hamiltoniano de Spin:

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⃗⃗ ∑ ⃗ ⃗ ( )

Manipulando a hamiltoniana de spin, é possível colocá-la em função do campo


molecular efectivo:

∑ ⃗ ⃗ ⃗ ( ∑ ⃗) 𝜇 ⃗ ⃗⃗ ( )

Com a equação 50 podemos escrever o Hamiltoniano efectivo em função de um campo


molecular efectivo ⃗⃗ produzido pelos spins vizinhos, substituindo a interacção de
troca, logo:

⃗⃗ 𝜇 ⃗ ⃗⃗ 𝜇 ∑ ⃗ ⃗⃗ ( )

Ou, escrevemos como um hamiltoniano de um paramagneto em um campo ⃗⃗ ⃗⃗ :

⃗⃗ 𝜇 ∑ ⃗ ( ⃗⃗ ⃗⃗ ) ( )

Esta afirmação se sustenta pois todos os íons experimenta o mesmo campo molecular,
porém essa abordagem é questionável para temperaturas próximas a uma transição
magnética. Em um ferromagneto, o campo molecular actuará alinhando os momentos
magnéticos vizinhos, logo podemos assumir que:

⃗⃗ ⃗⃗⃗ ( )

onde é uma constante que parametriza a força do campo molecular em função da


magnetização, para um ferromagneto devido a energia de Coulomb envolvida na
interacção de troca. Este sistema simples nos diz que em baixas temperaturas os
momentos se alinham com o campo molecular interno e conforme a temperatura
aumenta as flutuações térmicas começam a destruir progressivamente a magnetização
até chegar em uma certa temperatura crítica, no qual acima disso passa a se comportar
como um paramagneto.

Estamos interessados em encontrar a correcção para a Lei de Curie, para isso


precisamos resolver a equação 44, que pode ser reescrita como:

19
( ) 𝜇 ( )

Simultaneamente temos que resolver a equação para y (argumento da função de


Brillouin):

𝜇 ( )
( )

Note que, sem o campo molecular estamos resolvendo o paramagnetismo, estas


equações podem ser resolvidas graficamente. Considere o caso que :

( )
𝜇

A temperatura crítica ou temperatura de Curie:

𝜇 ( )
( )

Podemos encontrar a susceptibilidade considerando um campo ⃗⃗ pequeno com a


temperatura abaixo da temperatura de Curie-Weiss, y << 1, é feito uma manipulação
envolvendo as equações 54, 55 e teremos equação 57 que é a temperatura de Curie-
Weiss. Assim, para um campo pequeno a susceptibilidade é dada por ,
aplicando o limite de B indo a zero, temos que:

( )

A equação acima, conhecida como Lei de Curie-Weiss, determina o ponto em que os


momentos magnéticos perdem sua magnetização espontânea. Ou seja, ela separa a fase
com ordenamento ferromagnético ( ) da fase paramagnética ( ), sendo
assim conhecida como temperatura de transição ferromagnética.

3.6.2 Antiferromagnetismo

Materiais antiferromagnéticos possuem susceptibilidade magnética positiva e pequena,


nesse caso temos a constante de troca para vizinhos próximos ( ) negativo. O campo
molecular é orientado de forma a favorecer o ordenamento antiparalelo dos momentos

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magnéticos. O antiferromagnetismo, frequentemente, ocorre em sistemas que podem ser
considerados como duas sub-redes interpretantes, figura 3, onde em cada rede têm-se
uma orientação Up e Down.

Figura 4: Sistema de duas sub-redes ordenadas ferromagneticamente e opostas entre si,


de forma que juntando as duas temos uma rede antiferromagnético. Imagem extraída de
(MACHADO, 2007)

Para aplicar a teoria do campo médio ao modelo antiferromagnético, considere


inicialmente que o campo molecular de uma sub-rede é proporcional à magnetização na
outra, assim:

( )

( )

onde é negativo. Supondo que não há campo magnético, a equação 54 pode ser escrita
como:

( ) ( )

onde,

𝜇
( )

As sub-redes são equivalentes em tudo, excepto na orientação dos momentos, de forma


que:

( )

e consequentemente:

21
𝜇
( )

Esta equação é exactamente a mesma do ferromagnetismo, seguindo o mesmo


comportamento próximo a temperatura de Curie-Weiss que pode ser definida como:

𝜇 ( )
( )

Logo, nos resta encontrar a susceptibilidade magnética. Para pequenas temperaturas,


abaixo de o efeito de um campo magnético pequeno pode ser calculado de forma
análoga ao feito para o ferromagnetismo, onde utilizamos uma aproximação para y
pequeno, assim:

( )

Figura 5: Susceptibilidade magnética em função da temperatura para materiais


ferromagnéticos ( ) e antiferromagnéticos ( ). O gráfico também exibe a inversa
da suscetibilidade ( −1) mostrando a relação com a temperatura de Curie-Weiss ( ).
Imagem extraída de (HOLANDA et al., 2020).

Através da figura 4 podemos ver a curva de susceptibilidade magnética e sua inversa


para um material antiferromagnético e ferromagnético, a temperatura de Néel
(temperatura que ocorre a transição entre o paramagnetismo e o antiferromagnetismo) é
definida pelo ponto em que a curva tem uma inflexão (ou pico). Neste ponto, a
susceptibilidade é finita e ao prolongar a curva é possível observar que ela teria um
comportamento divergente em , similar a curva ferromagnética que diverge
directamente em , figura4.

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Na prática, para materiais antiferromagnéticos, a temperatura de Curie-Weiss ( ,) é
diferente da temperatura de Néel ( ,) em módulo, contrariando o esperado quando
comparamos a Lei de Curie-Weiss de um material antiferromagnético com a Lei para
um ferromagnético. Isso se deve à interacções entre os vizinhos mais próximos, como
mencionado na introdução sistemas antiferromagnéticos podem ser frustrados
geometricamente em baixas temperaturas (MACHADO, 2007).

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4. Conclusão

Uma forma de estudar qual o comportamento magnético de uma certa amostra é através
das curvas de magnetização, de modo que à magnetização é analisada em função do
campo externo aplicado e da temperatura. As curvas de magnetização em função do
campo externo medem a magnetização do sistema a partir de uma varredura do campo
externo aplicado. Cada tipo de comportamento magnético já discutido nas seções acima
apresenta um certo tipo de curva de magnetização.

O material ferromagnético próximo da temperatura de Curie-Weiss 𝑤 possui os


momentos magnéticos todos orientados em paralelo, na curva de magnetização em
função do campo aplicado isto acontece na magnetização de saturação Ms.

Em sistemas nanométricos o tamanho dos domínios magnéticos são reduzidos, a partir


de um certo tamanho crítico começa a surgir monodomínios magnéticos.

As curvas de magnetização em função da temperatura são amplamente utilizadas para


análises em nanomateriais superparamagnéticos, mas também podem ser utilizadas para
identificar comportamentos diamagnéticos, paramagnéticos e comportamentos com
forte resposta magnética (ferromagnéticos, antiferromagnéticos).

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5. Referências Bibliográficas

FEYNMAN, R. P., LEIGHTON, R. B., & SANDS, M. (2008). Lições de física de


Feynman. Bookman: edição definitiva.

GRIFFITHS, D. J., & SCHROETER, D. F. (2018). Introduction to quantum mechanics


(Segunda Edição ed.). Brazil: Cambridge University Press.

KITTEL, C., & MCEUEN, P. (1976). Introduction to solid state physics. Wiley New
York: v.8.

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