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A CIÊNCIA

DOS
METEORITOS

Ricardo G. Neto
A CIÊNCIA
DOS
METEORITOS
Ricardo G. Neto

2021
Este livro eletrônico tem como objetivo a divulgação científica sobre Meteorítica, esta
obra é gratuita.
Dedicado a minha família.
Sobre o Autor
Ricardo Gazillo Neto, bacharel em Geologia pela Universidade Federal do
Ceará e mestre (MSc) em Geologia pela Universidade Federal do Ceará, é
especializado na área de estudo dos meteoritos conhecida como Meteorítica.
Sua pesquisa está ligada à análise de química mineral de fases
ferromagnesianas nos meteoritos condríticos, com ênfase em petrologia dos
condritos e de acondritos derivados do metamorfismo e fusão parcial dos
condritos. Seu coorientador de Mestrado foi o ilustre professor Dr. Klaus Keil,
uma das maiores autoridades em meteorítica no planeta.

O AUTOR (À DIREITA) AO LADO DO DR. KLAUS KEIL EM SETEMBRO DE 2015 NA


INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO DE METEORITOS DO MUSEU NACIONAL DO RIO DE
JANEIRO.
Prefácio
Este livro é uma tentativa de elucidar da maneira mais comunicativa possível
o significado da ciência que estuda os meteoritos, a chamada meteorítica. O
estudo dessas rochas extraterrestres tornou tangível a anterior tênue relação
entre as ciências geológicas e a astronomia, mostrando-se o ramo da
meteorítica ser uma interface entre estas duas grandes ciências no que
produziu uma cascata de novos ramos do conhecimento tais como a Geologia
Planetária e a Cosmoquímica, numa vasta gama de possibilidades chamadas
em conjunto de Ciências Planetárias.

Graças ao interesse pelo estudo dos meteoritos, pôde-se observar com maior
clareza as relações entre a história geológica de nosso planeta, a formação dos
planetas como um conjunto, a origem do Sistema Solar e finalmente
culminando com a inescapável Cosmologia que trata da origem e estrutura do
Universo. Entrementes, desde a Cosmologia até a Geologia, a reação em
cadeia de eventos sucessivos leva às pedras de toque que conectam o Cosmos
com a Terra, que são, nada mais, nada menos, que os meteoritos.

A classificação e estudo da evolução geoquímica e cosmoquímica dos


meteoritos trouxe importantes descobertas sobre as muitas nuances que
envolveram a formação e evolução do Sistema Solar e com a possibilidade
mais do que lógica de estender estas descobertas para a formação e evolução
de outros sistemas estelares e seus exoplanetas.

Uma das principais feições geomorfológicas reconhecidas nos corpos


planetários obviamente dotados de uma superfície sólida foram intrigantes
crateras que, em muitos mundos rochosos como a Lua e Marte, enchem as
paisagens. Estas fantásticas depressões circulares com formatos de pratos e
tigelas representam as cicatrizes de impactos de asteroides e cometas contra a
superfície de planetas e seus respectivos satélites naturais. Os processos
geológicos induzidos por impactos de grandes proporções tiveram um papel
central na evolução da crosta dos planetas rochosos incluindo a Terra. Esta
fantástica interconexão de mistura de disciplinas da ciência e descobertas
geológicas e espaciais estão simplesmente, mas não de maneira menos
complexa e sim mais comedida, resumidas nos meteoritos e nas crateras de
impacto que enfeitam os mundos planetários.

Ricardo G. Neto, setembro de 2015.


Introdução
A humanidade sempre foi fascinada pelas misteriosas bolas de fogo que
transladam no céu. A origem desses estranhos objetos e qual o propósito
destes se tornou tema até de mitologias antigas sobre imagens de deuses que
caíam dos céus. Depois de milhares de anos de observações, o homem
adquiriu uma mente plenamente científica e daí surgiram explicações sobre a
verdadeira natureza dos meteoros.

Os meteoros são fenômenos atmosféricos gerados pela entrada de objetos


espaciais na atmosfera da Terra. A maioria desses são rochas espaciais que, ao
atingirem o solo, são chamados meteoritos. Diferentemente do que muitos
pensam, os meteoritos não são todos iguais. Eles trazem consigo assinaturas
química, mineralógica e isotópica que remontam os primeiros milhões de anos
de formação do Sistema Solar. Outros meteoritos são pedaços de mundos
geologicamente modificados como a crosta de planetas tais como Marte e de
satélites naturais como a Lua, estes meteoritos revelaram muitos enigmas
geológicos sobre esses corpos do Sistema Solar.

Muitos meteoritos não caem gentilmente na Terra como simples bolas de fogo.
Às vezes eles chegam até a superfície de corpos planetários de modo mais
violento. Esses ameaçadores de planetas são os gigantescos asteroides e
cometas que vagam pelo espaço interplanetário e ao impactarem na crosta de
planetas como a Terra ou Marte escavam enormes depressões circulares em
suas crostas, denominadas astroblemas ou crateras de impacto.

Muitos eventos geológicos na Terra obliteraram a maioria de suas antigas


crateras de impacto, mas planetas geologicamente inativos como Marte e
Mercúrio preservam sua superfície altamente craterizada. Nossa companheira
mais próxima, a Lua, também guardou esse registro de um grande evento de
impacto de asteroides e cometas em sua superfície repleta de crateras. Os
meteoritos e as crateras de impacto tornaram-se um dos principais objetos de
estudo da Geologia Planetária. Essa ciência reúne conhecimentos geológicos e
astrofísicos num escopo extenso e complexo.

A relação estreita entre meteoritos e crateras de impacto revela muito sobre a


gênese e evolução do sistema solar e de cada planeta. A Terra e todos os outros
planetas se formaram a partir do material que vemos hoje nos meteoritos.
Nosso planeta até hoje é atormentado por essas rochas viajantes
interplanetárias, sua história geológica é marcada em grande parte por
gigantescos impactos de meteoritos, e esses causaram profundas modificações
na crosta terrestre.
Sumário

1. Meteoritos: Uma Visão Geral .................................................................


2. A Origem do Universo e a Formação Planetária ...................................
3. Identificando os Meteoritos ...................................................................
4. Asteroides: Remanescentes da Formação Planetária ............................
5. Cometas: Matéria Protoplanetária .........................................................
6. A Petrografia dos Meteoritos ..................................................................
7. Os Côndrulos e os Condritos ..................................................................
8. Os Acondritos Asteroidais ......................................................................
9. Acondritos H.E.D.: O Grupo dos Meteoritos do Asteroide 4-Vesta .....
10. A Diferenciação Planetária ..................................................................
11. Os Vários Estágios na História dos Meteoritos ....................................
12.A Matéria Orgânica Extraterrestre .......................................................
13.Os Meteoritos Lunares: A Geologia da Lua Trazida à Terra ................
14.Os Meteoritos Marcianos ......................................................................
15.Os Meteoritos Rocho-Metálicos ............................................................
16.Os Meteoritos Metálicos: Antigos Núcleos de Protoplanetas ..............
17. Identificando Meteoritos em Campo ....................................................
18.Meteoritos da Antártica ........................................................................
19.As Crateras de Impacto .........................................................................
20. Impactitos: Registros Geológicos de Impactos Meteoríticos .............
1. Meteoritos: Uma Visão Geral

TÍPICA APARÊNCIA DE UM METEORITO ROCHOSO, CONTENDO CROSTA DE


FUSÃO E SEU INTERIOR NORMALMENTE REVELA UM CONDRITO.

Meteorito é uma rocha oriunda do espaço interplanetário que é trazida à Terra


através de processos naturais. Os meteoritos são amostras de asteroides,
crostas da Lua e de Marte e provavelmente também de cometas. O corpo
sólido de onde o meteorito veio é denominado de corpo parental, em inglês,
parent body. A maioria dos meteoritos são oriundos dos asteroides, que são os
remanescentes da formação do Sistema Solar. Quando a rocha vaga no espaço
após se desprender de seu corpo corpo parental e está próxima da Terra ela é
chamada de meteoroide.

Quando o meteoroide é interceptado pelo planeta Terra e atraído pelo campo


gravitacional da mesma ele entra na atmosfera com velocidades que variam de
15 km/s a 75 km/s comprimindo uma coluna de ar à sua frente causando
fricção com as moléculas de ar produzindo calor. Este calor da friccção e
turbulência começa a fundir a porção mais superficial do meteoroide que
atinge temperaturas da ordem de 2000 ºC se tornando incandescente com
uma cabeça brilhante e uma cauda de material que começa a se desprender do
mesmo. Esse fenômeno é chamado de meteoro, popularmente chamado de
“estrela cadente”.

Durante a passagem atmosférica o meteoroide perde de 95% até 99% de sua


massa original e uma pequena parte de sua massa pode sobreviver chegando à
superfície se o meteoroide original era grande o suficiente. Quando o meteoro
está próximo à superfície ele pode produzir barulhos da onda de choque
produzida deixando um rastro de material fino na atmosfera. Neste estágio ele
é chamado de bólido ou bola de fogo. O bólido pode explodir antes de chegar à
superfície devido à diferença de temperatura entre seus primeiros milímetros
aquecidos a milhares de graus e seu interior frio oriundo do espaço. A camada
milimétrica de material fundido deixa uma capa em volta dos fragmentos, essa
camada é chamada de crosta de fusão e quando os fragmentos chegam à
superfície recebem o nome de meteorito.

A maioria dos meteoritos não foi submetida a praticamente nenhuma


modificação ao longo do tempo, tais como fusão e diferenciação magmática
profundas como aconteceu com as rochas terrestres e, portanto, conservam a
matéria original formada nos primórdios do Sistema Solar. Isso permite
estudar as condições iniciais e a composição original do sistema planetário
onde vivemos. Alguns meteoritos podem sofrer processos de recristalização
com modificação de seus componentes no interior de outros planetas ou
satélites naturais. As principais modificações são metamorfismo termal,
alteração aquosa e metamorfismo de impacto. Meteoritos que representam
fragmentos da crosta lunar e marciana são rochas ígneas resultantes de
cristalização de magmas basálticos a anortosíticos em composição geral e
foram modificados por impactos com outros corpos rochosos.

A comunidade científica demorou algumas décadas para aceitar que rochas


poderiam cair do céu. Quando Sir Isaac Newton publicou seu livro
Philosophiae Naturalis Principia Mathematica em 1687 a teoria da força
gravitacional permitiu aos físicos e matemáticos dos seguintes séculos calcular
os movimentos planetários, o comportamento das órbitas de cometas e as
excentricidades de suas respectivas trajetórias em volta do Sol. A gravidade
teria varrido completamente todos os possíveis resíduos da formação do
Sistema Solar deixando o espaço interplanetário limpo. Sendo assim, o
conceito de que existiriam resíduos da formação planetária vagando no espaço
parecia absurdo. Os povos antigos sabiam que rochas caíam do céu e algumas
delas eram feitas de puro ferro metálico.

Descobertas arqueológicas demonstram que os antigos egípcios forjavam


alguns de seus objetos de ferro meteorítico como é o caso da famosa adaga do
faraó Tutancâmon e contas de ferro puro que datam do Egito Pré-Dinástico na
época em que não existia ainda artefatos de ferro fundido. Além disso, povos
aborígenes da região da Austrália em Henbury coletavam fragmentos de
meteorito metálico das crateras de impacto para também forjar seus artefatos,
também os índios da América do Norte consideravam sagrados os fragmentos
de meteorito hoje chamados de Canyon Diablo onde alguns deles foram
encontrados enterrados como se fossem pessoas em situações cerimoniais e os
nativos até mesmo trocavam entre si peças do meteorito.

A forja de ferro celestial a partir de meteoritos coletados em campo deu nome


à siderurgia, uma palavra que contém o prefixo “sider” do grego que significa
celestial. O filósofo grego Diógenes de Apolônia no século IV a.C. teorizava
que as estrelas cadentes eram pedras que caíam do céu. Então entre os anos
de 1768 a 1774 ocorreu a expedição à Rússia Central nos Urais e adjacências
liderada pelo pesquisador Peter Simon Pallas bancado pela czarina Catarina II
da Rússia. O objetivo da expedição era a coleta de artefatos e recursos naturais
para a academia de história natural. Em 1772 Pallas se deparou com curiosas
massas de metal contendo cristais de olivina amarela que ele interpretou
como vidros incrustados em ferro metálico. A massa principal tinha 700 kg e
os povos nativos da região de Krasnoyarsk diziam não tocar ou se aproximar
daquelas rochas que Pallas sabia que eram totalmente diferentes das rochas
da geologia local. A aparência singular do “ferro de Pallas” despertou a
curiosidade de um renomado físico especialista em acústica chamado Ernst
Friedrich Chladni. Ele passou a se interessar pelas estranhas rochas que
supostamente caíam do céu, e pesquisou vários relatos de meteoritos
coletados e possivelmente vistos caindo do céu e publicou suas conclusões em
1794 em seu famoso livro-texto entitulado Über den Ursprung der von Pallas
gefundenen und anderer ihr ähnlicher Eisenmassen und über einige damit in
Verbindung stehende Naturerscheinungen (Sobre a origem das massas de
ferro encontradas por Pallas e outros similares a este e sobre alguns
fenômenos naturais associados).

A obra de Chladni levantou debates acirrados entre pesquisadores que


acreditavam serem os meteoritos serem bombas de ejeção de erupções
vulcânicas, condensação de gelo e partículas minerais na alta atmosfera ou
mesmo rochas da crosta terrestre lançadas por violentos terremotos. No
entanto, pelo menos dois eventos contemporâneos aos debates puderam dar
um fim nesta discussão. Em 13 de dezembro de 1795 uma queda de meteorito
foi testemunhada na cidade de Wold Cottage na Inglaterra. O bólido foi
avistado por várias pessoas e o meteorito foi recuperado em uma cratera
aberta com 0,9 metros no calcário da região. As massas de meteorito
revelaram ser o que chamamos de condrito ordinário, estavam cobertas por
uma crosta de fusão e seu interior era branco acinzentado com pequenos
flocos de ferro metálico. A queda de Wold Cottage aconteceu em plena luz do
dia sem nuvens, longe de qualquer vulcão e não houve nenhum terremoto.

O outro evento importante aconteceu em 26 de abril de 1803 quando uma


queda de meteorito fez chover cerca de 3000 fragmentos próximo à cidade de
L’Aigle na França. Novamente estava de dia, sem nuvens e longe de eventos
vulcânicos e/ou tectônicos. Os meteoritos também eram condritos ordinários
com a mesmas características dos meteoritos de Wold Cottage. Os fragmentos
foram analisados por Jean-Baptiste Biot da Academia de Ciências da França.
A queda do meteorito Weston em 14 de dezembro de 1807 em Connecticut,
Estados Unidos, fez o próprio Thomas Jefferson, 3º Presidente dos Estados
Unidos, a mencionar sobre a possibilidade de tal fenômeno ocorrer na
natureza. Ele escreveu em uma carta a Daniel Salmon em 15 de fevereiro de
1808 dizendo:

Certamente não devemos negar tudo o que não podemos explicar. Milhares
de fenômenos se apresentam diariamente que não podemos explicar, mas
onde os fatos são sugeridos, sem nenhuma analogia com as leis da natureza
que ainda conhecemos, sua veracidade precisa de provas proporcionais à
sua dificuldade. Uma mente cautelosa pesará bem a oposição do fenômeno a
tudo até agora observado, a força do testemunho pelo qual ele é apoiado e os
erros e equívocos aos quais até mesmo nossos sentidos estão sujeitos. Pode
ser muito difícil explicar como a pedra que você possui chegou à posição em
que foi encontrada. Mas é mais fácil explicar como entrou nas nuvens de
onde supostamente caiu? O fato real, entretanto, é o que deve ser
estabelecido, e isso espero que seja feito por aqueles cujas situações e
qualificações os habilitem a fazê-lo. Eu os saúdo com respeito.

Vários pesquisadores na Europa se movimentaram para estudar vários


meteoritos que estavam sendo catalogados, com o incentivo do colecionador
de minerais e plantas e presidente da Royal Society, Sir Joseph Banks, o
químico Edward Charles Howard e colaboradores passaram a analisar a
química destas peculiares rochas. O que descobriram foi que o ferro metálico
presente nos meteoritos continha consideráveis teores de níquel, algo que não
ocorria em nenhum material metálico de origem terrestre. Abriu-se uma nova
empolgante possibilidade de estudo na área da geologia e da mineralogia, o
estudo dos meteoritos. Howard e o mineralogista francês Jacques-Louis
Compte de Bournon analisaram os meteoritos Benares, Siena, Wold Cottage,
Tabor, Senegal (Siratik), Otumpa (Campo del Cielo), Bohemia e Krasnoyarsk.
As análises revelaram a surpreendente similaridade mineralógica e química
entre os metais encontrados nos meteoritos rochosos e nos meteoritos
metálicos. Para Howard e seus colegas estava claro que os meteoritos rochosos
e metálicos tinham a mesma origem extraterrestre como defendida na
publicação de Chladni.

Outras descobertas de Howard foram do mineral troilita e a existência de


intemperismo químico pelo elemento cloro nas fases metálicas dos meteoritos.
Bournon foi o primeiro a reportar a existência dos côndrulos e o primeiro a
descrever corretamente os “vidros” no Krasnoyarsk como cristais de olivina
amarelada. Os resultados de Howard foram publicados no Philosophical
Transactions do ano de 1802. Outros químicos como Vauquelin e Klaproth
também analisaram meteoritos e chegaram às mesmas conclusões. Algumas
hipóteses da origem dos meteoritos foram formuladas por Jean-Baptiste Biot
e Pierre Simon de Laplace. Eles diziam que os meteoritos eram rochas
ejetadas por vulcões presentes na Lua. Esta teoria tinha o apoio do astrônomo
William Herschel que dizia ter observado vulcões ativos na Lua. Muito ainda
seria formulado através do profundo estudo dos meteoritos com os anos
seguintes e o avanço da tecnologia. Hoje sabemos que os meteoritos têm
origens diversas e que os meteoritos lunares não são ejetados por vulcanismo,
mas sim por impactos de asteroides/cometas na superfície da Lua.

Os meteoritos são subdivididos em quedas (falls) e achados (finds). As quedas


representam os meteoritos cuja queda é testemunhada, o fenômeno do
meteoro está associado ao meteorito coletado horas, dias ou semanas após o
evento. Os achados são os mais comuns, onde os meteoritos são encontrados
em campo e muitos destes podem ter caído há milhares de anos. Os
meteoritos achados passaram por processos de alteração terrestre onde seus
minerais originais são oxidados e modificados pela água e microorganismos
no solo, no entanto, existem os graus de intemperismo. Quanto mais tempo o
meteorito permanece no solo, maiores são as chances dele ser completamente
intemperizado. Os meteoritos são mais bem preservados nos campos de gelo
da Antártica e nos desertos quentes do Saara, Omã e Atacama onde vários
deles já foram achados e muitos destes são raros acondritos e fragmentos de
Marte e da Lua. Quando os meteoritos associados a um mesmo bólido chegam
à superfície eles caem em um padrão estabelecido pela direção do bólido e
inclinação em relação à horizontal. Eles se espalham em uma área com
distribuição estatisticamente delimitada por uma elípse. Essa área elíptica tem
o eixo maior paralelo à direção do bólido. Os fragmentos de maior massa caem
à frente e os de menor massa caem antes formando um padrão em que numa
ponta se concentram as massas menores e na outra as massas maiores dando
o sentido de deslocamento original do bólido. A região onde os meteoritos
caíram é chamada de campo de espalhamento ou campo de dispersão que em
inglês é chamado de strewn field.

A sistemática da classificação dos meteoritos foi iniciada pelos artigos de


Gustav Rose e Nevil Maskelyne em 1860 onde eles separaram os meteoritos
em condritos e não-condritos. Maskelyne os separou em aerólitos, siderólitos
e sideritos. Esta nomenclatura é utilizada até hoje para se ter uma visão geral
dos meteoritos. Os aerólitos são todos aqueles rochosos, isto é, que contêm
minerais silicáticos em maior proporção em relação à fase de ferro-níquel, os
siderólitos são os rocho-metálicos, aqueles que contém aproximadamente
50% de minerais silicáticos e 50% de ferro-níquel metálico e os sideritos são
os meteoritos inteiramente formados da liga de ferro-níquel.

CLASSIFICAÇÃO MODERNA DOS METEORITOS.

Então temos o estudo de Gustav Tschermack de 1883 em que ele detalha três
grupos rochosos e dois grupos metálicos. Depois temos a classificação
mineralógica e química de Oliver Farrington de 1907. Depois temos o sistema
de George Prior de 1920 em que ele mostra a relação entre o teor de ferro nos
minerais silicáticos dos meteoritos mostrando que quando os minerais
ferromagnesianos possuem alto teor em FeO, a fase metálica é mais rica em
níquel, mas quando os minerais silicáticos possuem maior teor em MgO a fase
metálica é mais rica em ferro. Em 1967 temos as atualizações de Brian Mason,
Klaus Keil e Kurt Fredriksson onde eles utilizam a microssonda eletrônica
para realizar precisas análises dos teores elementares nas fases minerais dos
meteoritos. Em 1997 temos a sistemática de classificação mineralógica,
química e isotópica com desenvolvimento de uma petrologia por Alan Rubin.
Por último temos a compilação e atualização desta sistemática por Alexander
Krot e Weisberg em 2005/2006 e recentemente o artigo de 2014 por A. Krot,
K. Keil, Edward R. D. Scott, C. A. Goodrich e M. K. Weisberg que separa os
meteoritos em dois grandes grupos, os condritos e os não condritos, dentro do
contexto de uma petrologia complexa e detalhada baseada em química
mineral, geoquímica isotópica e petrografia.

ORIGEM DOS METEORITOS:

Os meteoritos têm origem, na sua maioria, em asteroides e cometas. A


abundância de metal, sendo que há predominantemente ferro e níquel na
composição metálica dos meteoritos, pode ser explicada pelo fato de que os
asteroides não têm gravidade suficiente para reter em seu interior, no núcleo,
os elementos pesados e deixar os de mais baixa densidade em camadas
superficiais, distribuindo, assim, o material metálico, quase que
uniformemente em seu conteúdo. Essa observação também pode ser aplicada
ao caso dos cometas, sendo que estes muitas vezes não podem ser ditos como
semelhantes ou mesmo iguais aos asteroides. Muitas vezes, os cometas são
rochas de gelo e material de poeira interplanetária.

Os asteroides são corpos relativamente pequenos (o maior asteroide estudado


é Ceres que tem um diâmetro médio de 900Km, mas foi promovido para
planeta anão) que representam a matéria residual da formação do Sistema
Solar. Os asteroides se organizam em dois grandes cinturões. O primeiro está
entre a órbita de Marte e Júpiter separando o Sistema Solar interior do
exterior. O segundo circunda o sistema solar além da órbita de Plutão e é
denominado Cinturão de Kuiper.

Os cometas têm origem na nuvem de Oort, um aglomerado de corpos


semelhantes aos asteroides, localizado a 30.000 UA do Sol. Estes se deslocam
devido a colisões com outros desses corpos e são atraídos pela gravidade do
Sol e ao aproximarem-se deste formam uma cauda que pode se dividir em
uma componente de gás ionizado e outra de poeira e partículas que são
"sopradas" pelo vento solar.
ASTEROIDE IDA, FOTOGRAFADO PELA SONDA GALILEU DA NASA.

ESTRUTURA BÁSICA DE UM COMETA

OS TIPOS DE METEORITOS: FORMAÇÃO, COMPOSIÇÃO E


ORIGEM:

-ACONDRITOS:

-Formação: Os acondritos são rochas geologicamente modificadas. Sendo


assim, eles se formaram primeiramente como corpos pequenos (asteroides)
que se aglomeraram em planetesimais para depois formar os planetas e
satélites naturais, ou são provenientes de asteroides
recristalizados-basálticos-como o asteroide 4-Vesta. Nos planetas, como
Marte, as rochas originais que deram origem ao planeta, são modificadas por
ações de erosão dos ventos, da pressão de radiação, atividades vulcânicas,
oxidação, metamorfismo, etc. O regolito de planetas como Marte e de satélites
como a Lua, são muito desgastados pela ação da radiação do vento solar e os
raios cósmicos e pelos impactos de meteoróides que formam muitas crateras e
lançam pedaços da porção superficial da crosta destes corpos planetários para
o espaço. Esses pedaços podem vir a cair na Terra, e quando são recolhidos e
analisados, constata-se tratar-se, por exemplo, de um fragmento acondrítico
de Marte, isto é, um meteorito marciano.

-Composição: A composição química dos acondritos é muito semelhante a


das rochas terrestres, por esta razão, estes são os meteoritos mais difíceis de
se diferenciar das demais rochas comuns. E diferentemente da maioria dos
meteoritos, os acondritos geralmente não têm ferro-níquel, portanto, não são
atraídos por imã. Os acondritos podem ser rochas vulcânicas como o basalto
(se o fragmento vier do asteroide de basalto 4-Vesta, por exemplo). Eles
geralmente tem mineralogia composta de olivinas, piroxênios e plagioclásios.

-Origem: Em resumo, os acondritos são quaisquer meteoritos rochosos que


não possuem côndrulos. Veremos mais adiante o que são os côndrulos. Os
acondritos têm origem em asteroides compostos de basalto e sedimentos
vulcânicos litificados (Vesta), em planetas como Marte e na Lua. Ainda não se
tem conhecimento de meteoritos vindos de outros lugares como dos anéis de
Saturno ou das luas de Júpiter. Os acondritos são subdivididos em primitivos,
diferenciados e planetários. Os acondritos primitivos são aqueles que ainda
preservam uma textura condrítica e representam condritos altamente
metamorfizados, recristalizados. Estes são os Lodranitos, Acapulcoítos e
Winonaítos. Os acondritos diferenciados são aqueles que não preservam mais
nenhuma textura condrítica e passaram por diversos processos geológicos em
seus asteroides de origem, são estes os Aubritos, Ureilitos, Brachinitos e
Angritos. Um grupo de acodritos diferenciados são oriundos do asteroide
4-Vesta, que fazem parte do grupo H.E.D. (Howarditos, Eucritos e Diogenitos).
Os acondritos planetários são aqueles originados de corpos planetários,
gerados por eventos geológicos mais complexos, estes são oriundos de Marte e
da Lua. Os acondritos marcianos são agrupados nos S.N.C. (Shergotitos,
Nakhlitos e Chassignitos), e o Ortopiroxenito ALH 84001. Os acondritos
lunares, também chamados de lunaítos, são geralmente brechas anortosíticas
de impacto, brechas de regolito, brechas basálticas, basaltos e gabros lunares.

O METEORITO ALH84001, ENCONTRADO NA ANTÁRTICA, É UM ACONDRITO


PLANETÁRIO MARCIANO, ORTOPIROXENITO
FRAGMENTO DO RARO ACONDRITO TATAHOUINE, DIOGENITO, COLETADO NO
DESERTO DA TUNÍSIA.

-CONDRITOS:

-Formação: os condritos são rochas criadas no processo de resfriamento e


condensação de partículas rochosas e metálicas em uma massa que se
organizou em planetesimais e asteroides. Os condritos são os mais comuns
dos meteoritos, representam cerca de 87,7% dos meteoritos encontrados.
Estes contém estruturas em todo o seu conteúdo, estas estruturas são os
côndrulos. Os côndrulos são esférulas de material ígneo silicático e metálico
que se formaram no início do Sistema Solar. Alguns, assim como muitos
acondritos, podem se apresentar como brechas (rochas compostas de pedaços
angulares de rochas untadas por um cimento, originária de impactos no
regolito do asteroide).

-Composição: A mineralogia dos condritos consiste basicamente de olivina,


piroxênios, plagioclásio, troilita, fosfatos e ferro-níquel metálico. A textura
peculiar dos condritos é o que os diferencia dos acondritos e das rochas
terrestres. Os condritos são rochas sedimentares compostas de côndrulos
sustentados por uma matriz de granulação mais fina. A mineralogia dos
côndrulos e da matriz é basicamente a mesma. Os côndrulos são pequenas
esférulas milimétricas de minerais ferromagnesianos, ferro-níquel e troilita.
Todos os condritos têm a mesma distribuição dos elementos químicos
medidas na fotosfera solar. Isto significa que se pegarmos uma amostra do Sol
e retirarmos todo o hidrogênio e o hélio, o material que sobra, de natureza
sólida à temperatura ambiente, teria a mesma composição dos condritos. Os
condritos ordinários apresentam teores maiores de elementos químicos
refratários em relação à composição solar. Os carbonáceos têm composição
praticamente solar apenas contendo uma razão Al/Si maior do que os
condritos ordinários e os carbonáceos geralmente contêm teores variados de
água estrutural, contida na estrutura dos minerais hidratados, e carbono na
forma inorgânica amorfa/cristalina e na forma de moléculas orgânicas. Os
condritos enstatitos apresentam minerais altamente reduzidos estando o
praticamente todo o ferro na fase metálica, fazendo com que as olivinas e
piroxênios sejam totalmente magnesianos. Os condritos rumurutitos são
brechas de regolito que contêm pouco ferro metálico, com teores inferiores a
dos condritos ordinários LL e os condritos kakangari são semelhantes aos
condritos ordinários, mas apresentam características isotópicas e uma matriz
semelhante a dos condritos carbonáceos. Os condritos ordinários são
subdivididos em:

CONDRITOS L (Anfoteritos): Contêm de 5% a 12% de Fe-Ni metálico.

CONDRITOS LL (Hiperestênitos): Contêm até 5% de Fe-Ni metálico.

CONDRITOS H (Bronzitos): Contêm a partir de 12% de Fe-Ni metálico.

-Origem: os condritos são oriundos dos asteroides (de classe espectral S, D,


P, ou C).

CONDRITOS ORDINÁRIOS: São os condritos comuns ou de composição


simples, com a mineralogia composta de ortopiroxênio magnesiano, olivina
magnesiana com ou sem plagioclásio sódico e clinopiroxênio magnesiano,
podendo se encaixar nas classificações L,LL e H. Os condritos L, LL e H
representam três diferentes tipos de asteroides parentais.

CONDRITOS CARBONÁCEOS: São relativamente raros, pois se


fragmentam muito fácil na entrada da atmosfera. Os condritos carbonáceos
são mais ricos em cálcio e alumínio em relação à composição dos condritos
comuns. A maioria dos condritos carbonáceos possuem teores de carbono que
podem chegar até 5% da massa do meteorito, na forma de fases como grafita,
nanodiamantes, carbetos de silício e titânio e na forma de moléculas orgânicas,
sim, alguns deles contêm matéria orgânica como hidrocarbonetos complexos,
carboidratos, bases nitrogenadas e aminoácidos. Os carbonáceos são uma
espécie de objeto de incessante estudo dos astrobiólogos por supostamente
mostrarem serem a pedra de roseta para a origem da vida em nosso planeta e
em outras regiões do Universo.

CONDRITOS ENSTATITOS: Também chamados de enstatita condritos.


São altamente reduzidos contendo o ferro todo praticamente na fase metálica
apresentando as composições extremas em MgO das olivinas e dos piroxênios,
isto é, a forsterita e a enstatita, respectivamente. Os enstatitos são acreditados
serem produto da acreção planetesimal em regiões de baixa fugacidade de
oxigênio na nebulosa solar. Durante a formação do disco protoplanetário os
condritos enstatitos estavam próximos do Sol e nesta região onde os minerais
foram reduzidos e todo o ferro foi para a fase metálica. Minerais raros
ocorrem neles tais como oldhamita e niningerita.

CONDRITOS KAKANGARI: Representam uma rara classe de condritos,


um pequeno grupo, que se assemelham em textura aos condritos carbonáceos,
mas têm assinatura isotópica de oxigênio semelhante aos condritos
ordinários.

CONDRITOS RUMURUTITOS: São raros condritos, um pequeno grupo,


que são pobres em ferro, com teor de ferro total inferior aos condritos LL e são
brechas de regolito asteroidal.

CONDRITOS BRECHA: As brechas condríticas são resultado da mistura


de clastos condríticos de grupos diferentes resultando de colisões entre
diferentes asteroides ou são compostos de clastos justapostos oriundos de
retrabalhamento do regolito do asteroide e cimentado por ondas de choque
causadas por impactos de meteoroides no regolito.

CONDRITO CARBONÁCEO AXTELL, COM AS CARACTERÍSTICAS RODELAS


MINERAIS DE TAMANHOS MILIMÉTRICOS, OS CÔNDRULOS. AS MANCHAS
BRANCAS SÃO INCLUSÕES MAIS ANTIGAS QUE OS OS CÔNDRULOS, CHAMADAS
CAIs, OU INCLUSÕES RICAS EM CÁLCIO-ALUMÍNIO

CONDRITO CARBONÁCEO ALLENDE, CAÍDO NO MÉXICO EM 1969.


FRAGMENTO DO ENSTATITA CONDRITO SAHARA 97096.

CONDRITO BRECHADO, OBSERVAR CONTATO ENTRE CLASTOS COM


DIFERENTES TEXTURAS CONDRÍTICAS, ESTE METEORITO É UMA BRECHA DE
IMPACTO.

-SIDERITOS:
-Formação: formaram-se a partir da condensação dos metais em
pequenos corpos na fase pré-planetária do Sistema Solar. São possivelmente
restos de núcleos de antigos protoplanetas.
-Composição: são compostos basicamente por uma liga metálica que
existe na Terra apenas compondo o núcleo do planeta. Essa liga consiste em
uma mistura metálica rica em ferro e níquel, uma solução sólida, podendo
conter fosfetos, sulfetos e carbetos em quantidades menores, sendo que em
quantidades muito pequenas pode se encontrar os elementos traço siderófilos
gálio, germânio, irídio e platina. Os meteoritos metálicos ou sideritos, contém
em seu interior uma complexa matriz metálica, uma estrutura de exsolução
resultante de lento resfriamento da liga, chamada de estrutura de
Widmanstätten. O meteorito é cortado transversalmente e a parte interior é
tratada com ácido nítrico e polida para exibir a estrutura de Widmansttäten.
Assim como os condritos, os sideritos podem ser classificados em:

HEXAEDRITOS: Não apresentam estruturas de Widmanstätten e o teor de


Ni varia de 4% a 7%. Os hexaedritos podem conter estruturas lineares
paralelas de cisalhamento da liga metálica, chamadas de linhas de Neumann.

OCTAEDRITOS: As estruturas de Widmanstätten formam um octaedro e a


quantidade de Ni varia de 7% a 12%

ATAXITOS: Não há estruturas de Widmanstätten, apresenta matriz


metálica niquelosa e espelhada e a quantidade de Ni é maior ou igual a 12%.

-Origem: os sideritos têm origem exclusiva nos asteroides metálicos de


classes espectral M ou S. Esses asteroides são provavelmente restos de núcleos
de antigos protoplanetas e planetas menores que foram quebrantados por
impactos cósmicos com outros corpos menores do Sistema Solar.
São exemplos de meteoritos sideritos: Campo Del Cielo, Canyon Diablo,
Mundrabilla, Gibeon, Muonionalusta, Henbury e Sikhote-Alin.

Os sideritos são difíceis de encontrar. Representam 5,7% dos meteoritos


catalogados, no entanto, devido a sua densidade extremamente alta em
relação aos demais tipos de meteoritos, por sobreviverem melhor à entrada
atmosférica e serem mais facilmente reconhecíveis como "rochas alienígenas",
representam 90% da massa total dos encontrados.
A seguir, temos 3 exemplos de meteoritos metálicos:

CAMPO DEL CIELO


CANYON DIABLO

SIKHOTE-ALIN

-SIDERÓLITOS:

-Formação: Os siderólitos se formaram da mesma forma que os sideritos,


porém o material rochoso se cristalizou junto ao material metálico formando
asteroides rocho-metálicos. Nos siderólitos há uma quantidade grande e
visível de ferro e níquel (OBS.: Não existe meteorito que contenha metal sem o
níquel), e também uma quantidade significativa de materiais silicáticos, estes
formam uma mistura heterogênea de rocha e metal. A maioria dos siderólitos
pode ser resultante de impactos cósmicos entre asteroides de composição
basáltica e asteroides de composição metálica.
-Composição: os siderólitos contém uma porção rochosa e uma porção
metálica:
Porção rochosa: mesma composição química dos condritos e dos
acondritos, predominando cristais de olivina(nos pallasitos) e feldspatos e
piroxênios (nos mesossideritos), onde nos mesossideritos, a parte rochosa é
predominantemente basáltica.
Porção metálica: a matriz de Fe-Ni pode ser predominante em relação aos
materiais minerais silicáticos (pallasitos) ou podem se apresentar como veios
e nódulos na matriz rochosa predominante (mesossideritos), em uma textura
de brecha.
-Origem: os siderólitos podem vir de asteroides de classe espectral S (os
asteroides de classe espectral S podem ser metálicos como podem ser
rocho-metálicos.
Existem dois tipos de siderólitos, são estes:

MESOSSIDERITOS: A porção rochosa predomina sobre a porção


metálica. Os mesossideritos são resultantes de impactos cósmicos, são brechas
de impacto cuja matriz é metálica e os clastos são de composição basáltica,
semelhante aos eucritos e howarditos e às vezes são ortopiroxenitos
semelhantes aos diogenitos.

PALLASITOS: A porção metálica predomina sobre a porção rochosa. Os


pallasitos são interfaces entre o núcleo e o manto de um asteroide gigante
diferenciado ou de protoplanetas estilhaçados em impactos cósmicos.
Também são provavelmente produto de impactos cósmicos entre asteroides.
Os pallasitos são meteoritos compostos de olivina amarela contendo traços do
elemento fósforo em sua composição sustentadas por uma matriz metálica de
ferro-níquel. Os pallasitos podem conter também piroxênios magnesianos. A
transição entre eles e os sideritos são sideritos silicatados, os que contêm
clastos ou "clusters" de silicatos em meio à matriz metálica predominante.

MESOSSIDERITO VACA MUERTA


PALLASITO IMILAC

Sabemos que meteorito é uma rocha espacial que é atraída pela gravidade da
Terra e acaba entrando na atmosfera, queimando e derretendo com o atrito
mecânico até perder seu material totalmente ou parcialmente e, muito
raramente, chegando à superfície.

ANÁLISE DOS METEOROS:

Na Astronomia, o meteoro é exclusivamente a queda de um meteoroide ou a


passagem deste rasante na atmosfera.

Existem dois tipos de meteoros:

ESPORÁDICOS: São aqueles que aparecem em um ponto qualquer do céu e


em seguida, dificilmente, aparece outro.

CHUVAS DE METEOROS (CHUVEIROS): É a ocorrência de meteoros


em um intervalo de minutos ou horas. As chuvas de meteoros ocorrem quando
a Terra está numa região de poeira interplanetária ou quando está próxima do
rastro poeirento deixado pela passagem de um cometa. Estes fragmentos
representam ameaça para os satélites e outros equipamentos orbitais, mas não
representam ameaça para quem está na superfície, pois as partículas
vaporizam-se muito antes de chegar à troposfera. Do ponto de vista de um
observador situado na superfície da Terra, no chuveiro, os meteoros parecem
sair de um ponto em comum no céu, esse ponto é chamado de radiante e ele
nomeia os chuveiros por se situar, aparentemente, em constelações específicas.
Cada tipo de chuveiro pode ocorrer em um período do ano. Assim, as chuvas
de meteoros recebem nomes especiais de acordo com a constelação onde fica o
radiante. É dada abaixo a tabela com as chuvas de meteoros e suas respectivas
constelações e períodos de ocorrência:
Nome Período Taxa Constelação
Quadrantídeas 03 jan 120 Bootes
Lirídeas 22 abr 15 Lyra
Eta-Aquarídeas 05 mai 50 Aquarius
Delta-Aquarídeas 29 jul 15 Aquarius
Persêidas 12 ago 80 Perseus
Orionídeas 21 out 20 Órion
Taurídeas 12 nov 10 Taurus
Leonídeas 17 nov 100 Leo
Gemini
Geminídeas 14 dez 80

Na tabela, o período apresentado é o de ocorrência máxima de chuvas, a taxa é


dada em meteoros/hora, quando falamos em 80 meteoros/hora, significa
dizer que se você tiver paciência de ficar olhando o céu por uma hora
conseguirá ver uma média de 80 meteoros. A constelação é onde fica o
radiante da chuva, daí o nome dos chuveiros serem análogos ao das
constelações consideradas.

O meteoro é luminoso porque quando este se aquece, devido ao atrito com as


camadas de ar atmosférico, até uma temperatura média que pode chegar a
3000 ºC, passa a emitir radiação de comprimentos de onda cada vez menores
e, consequentemente, de maior frequência, portanto, de maior energia que
ultrapassa o infravermelho e chega à luz visível ou espectro luminoso visível. A
luz emitida pelo material meteórico incandescente pode ser branca, azulada,
amarela, avermelhada ou verde. A cor vai depender da composição química do
material meteorítico, visto que a luz emitida depende do elemento químico
considerado, por que na física quântica sabemos que a radiação
eletromagnética é emitida e absorvida pelos elétrons nas camadas eletrônicas
dos átomos. A frequência determina a energia da radiação e
consequentemente depende da posição em que o elétron se encontra no átomo,
isto é, se ele estiver próximo do núcleo ele tem baixa energia e emitirá ou
absorverá radiações de baixa frequência, ou se ele estiver longe do núcleo,
emitirá ou absorverá radiações de alta frequência, por este ter alta energia.

Na meteorítica utiliza-se a palavra ablação atmosférica. Ablação é o desgaste


do meteoroide devido ao atrito com a atmosfera terrestre. Este desgaste é
produzido pelo calor ocorrendo perda de massa que se vaporiza ou se
fragmenta no ar antes de chegar ao solo. O meteorito pode apresentar um
formato como que se tivesse sido rasgado pelo ar, estes são chamados de
meteoritos orientados, ocorre muito com sideritos.
METEORO ESPORÁDICO

ASTROFOTOGRAFIA DE UMA CHUVA DE METEOROS

O fenômeno ocorrido em 1908 em Tunguska, na Sibéria, até hoje é objeto de


constante estudo, pois foi algo muito misterioso. Em 1908, um estranho
acontecimento abalou uma região florestal em Tunguska. Um clarão seguido
de um estrondo rasgou o céu e varreu uma vasta região de árvores sem deixar
nenhuma cratera de impacto. Atualmente, a explicação dada para Tunguska é
que um asteroide ou cometa rochoso explodiu violentamente no ar antes de
impactar a superfície provocando uma onda de choque e de calor que destruiu
as árvores e queimou tudo em volta.

O que não aconteceu em Tunguska é exatamente o que costuma ocorrer


quando um meteoro de dimensões muito grandes (com diâmetros médios
iguais ou superiores a centenas de metros) cai - Produzir uma cratera de
impacto ou astroblema. Astroblemas ou crateras de impacto são depressões
escavadas na superfície de um corpo rochoso, um planeta ou um corpo
qualquer do Sistema Solar, pelo impacto de alta velocidade e alta energia
cinética de um gigantesco meteoro. Existem duas crateras de impacto muito
conhecidas na Terra. Uma é a METEOR CRATER, a primeira a ser estudada
como possível cratera ocasionada por impacto de meteorito de grandes
proporções. O principal explorador da cratera foi o geólogo Daniel Barringer
que estudou esta cratera no deserto do Arizona e descobriu associados a ela
inúmeros fragmentos de meteoritos hoje denominados de Canyon Diablo. A
cratera foi datada em 50 mil anos. Os meteoritos metálicos Canyon Diablo são
fragmentos do meteoro original que formou a Meteor Crater, também
chamada de Cratera de Barringer. A outra astroblema famosa é a de
Chic-Xulub no México, localizada abaixo de sedimentos mesozoicos na
Península de Yukatán, datada de 65 milhões de anos, onde acredita-se ter
ocorrido o cataclisma que deu fim a era dos dinossauros e amonoides.

CRATERA DE BARRINGER, LOCALIZADA NO ARIZONA

PROPRIEDADES FÍSICAS DOS METEORITOS VERDADEIROS:

-MAGNETISMO:
Se você acha que encontrou um meteorito, a primeira coisa que deve fazer é
aproximar da rocha um imã (de preferência um superimã, porque se o
meteorito for um acondrito ou um condrito LL, a atração magnética será fraca
devido à pouca quantidade de Fe-Ni) para ver se esta contém metais.

Mas nem toda rocha que atrái imã é um meteorito. Os minérios de ferro como
a magnetita e a hematita e rochas vulcânicas como o basalto, além de
conterem metais (na forma oxidada) e atraírem imãs, possuem uma
semelhança muito grande com os meteoritos. No entanto, a densidade destes
minérios sempre será diferente da densidade de qualquer meteorito. Portanto,
deve-se testar a segunda propriedade física. É muito comum também
encontrar ligas metálicas artificiais e restos de escória e erroneamente
identifcá-los como meteoritos.

-DENSIDADE:
Os meteoritos podem ser diferenciados das rochas terrestres por se fazer um
cálculo da sua densidade. Os meteoritos são geralmente mais densos que as
rochas terrestres. Por exemplo, a maioria das rochas terrestres, granitos e
basaltos, têm densidades que variam de 2,7 g/cm³ a 3,0 g/cm³. Os meteoritos
metálicos são mais densos que a magnetita e a hematita que têm densidades
em torno de 5 g/cm³. São dadas abaixo tabelas com as densidades médias dos
meteoritos em gramas por centímetro cúbico:

Condritos Ordinários:
LL 3.21 (± 0.22)
L 3.35 (± 0.16)
H 3.40 (± 0.18)
Condritos Enstatitos:
EL 3.55 (± 0.1)
EH 3.72 (± 0.02)
Condritos Carbonáceos:
CI 2.11
CM 2.12 (± 0.26)
CR 3.1
CO 2.95 (± 0.11)
CV 2.95 (± 0.26)
CK 3.47 (± 0.02)
Acondritos:
Aubritos 3.12 (± 0.15)
Diogenitos 3.26 (± 0.17)
Eucritos 2.86 (± 0.07)
Howarditos 3.02 (± 0.19)
Ureilitos 3.05 (± 0.22)
Shergottitos 3.10 (± 0.04)
Chassignitos 3.32
Nakhlitos 3.15 (± 0.07)
Siderólitos:
Mesosideritos4.25 (± 0.02)
Pallasitos 4.76 (± 0.10)

Sideritos:
Meteoritos metálicos têm uma composição de Ferro-Níquel de densidade
aproximada igual a 7g/cm3 - 8g/cm3.

OBS.: As espécies de condritos carbonáceos não precisam ser relevantes em


nosso contexto. Podemos sintetizar uma "densidade absoluta" para um
condrito carbonáceo como sendo de 3 g/cm³.

Agora que sabemos as duas principais propriedades físicas dos meteoritos,


vamos saber o que não acontece em um meteorito.

-EMISSÃO DE CALOR:

Um meteorito, brevemente após a sua queda, não continua emitindo calor


como se fosse uma fonte de raios infravermelhos, ele entra em processo de
resfriamento como qualquer outro material comum, isto é, quando na
superfície seu conteúdo não está completamente fundido, apenas uma
pequena porção superficial da rocha se fundiu e fica fria rapidamente, a crosta
de fusão. Ele de forma alguma continuará indefinidamente quente. Na
verdade, muitos meteoritos coletados logo após a queda foram descritos como
gelados e alguns formaram cristais de gelo em sua superfície devido a seu
interior ainda preservar o frio do espaço.

-RADIOATIVIDADE:

Por mais interessante que possa ser discutir se existe um meteorito radioativo,
isso não ocorre na realidade, os elementos radioativos não são abundantes e,
no caso dos asteroides, estes não possuem gravidade suficiente para manter
estes elementos pesados em seu interior, estes passaram por desintegração
nuclear e decaíram para isótopos estáveis. Assim, não existe meteorito que
contenha urânio ou tório, entre outros, em quantidades suficientes para serem
considerados rochas radioativas. As concentrações de tório, urânio e
potássio-40 nos meteoritos são similares às concentrações medidas em todas
as rochas terrestres, na faixa de partes por milhão. Portanto, os meteoritos
não são ameaça para os seres humanos quando são manuseados.

Agora, se você quiser se tornar um caçador de meteoritos, primeiro analise


como estes se apresentam:

-CROSTA DE FUSÃO: Um verdadeiro meteorito, quase sempre, terá uma


"casca" escura de aspecto fosco ou vítreo de cor preta, marrom ou verde
escuro em sua volta, onde o aspecto verdadeiro do meteorito normalmente é
branco, amarelado ou cinza claro. Esta crosta se forma quando o meteoro está
se fundindo no calor da ablação atmosférica, fazendo com que se forme um
material residual fundido envolvendo a rocha. Lembre-se de que a crosta de
fusão é muito fina. Os meteoritos metálicos apresentam também uma crosta
de fusão, com composição magnetítica, ainda mais fina do que a crosta de
fusão dos meteoritos rochosos. As crostas podem conter feições superficiais
aerodinâmicas preservadas como linhas de fluxo, regmaglytos e microfraturas
de contração térmica. A espessura média de uma crosta de fusão de meteorito
é 0,25 milímetros.
METEORITO CONDRITO APRESENTANDO SUA CROSTA DE FUSÃO PRETA E SEU
INTERIOR ACINZENTADO.

-REGMAGLYTOS: Os regmaglytos ocorrem apenas em meteoritos


metálicos, mas também podem ocorrer raramente em meteoritos rochosos,
estes são estruturas que são moldadas na ablação e lembram marcas de dedo
afundado em uma massa de barro.
FRAGMENTOS INDIVIDUAIS DO METEORITO METÁLICO SIKHOTE-ALIN
APRESENTANDO OS TÍPICOS REGMAGLYTOS EM SUA SUPERFÍCIE

-CÔNDRULOS: Se o meteorito for rochoso, provavelmente será um condrito.


Como saber se é um condrito? Se ele estiver com a crosta de fusão intacta, é
preciso cortá-lo e poli-lo para ter acesso ao seu interior. No interior da rocha,
haverá os côndrulos, pequenos padrões circulares de minerais. Se estes
realmente aparecerem, está confirmado que sua rocha é um meteorito
condrito. Análise mais aprofundada é feita para saber sua mineralogia e
textura em detalhes fazendo uma lâmina petrográfica da rocha e analisando-a
num microcópio petrográfico à luz polarizada para determinar com precisão a
mineralogia e textura do meteorito.

FATIA CHEIA DO CONDRITO LL3 NWA 1933 EVIDENCIANDO OS CÔNDRULOS,


ESTRUTURAS ARREDONDADAS DE MINERAIS MÁFICOS
-EXISTÊNCIA DE FERRO-NÍQUEL E ESTRUTURAS DE
WIDMANSTÄTTEN:

As estruturas de Widmanstätten só existem em meteoritos. A presença da liga


ferro-níquel só existe em meteoritos. Os meteoritos não possuem quantidades
apreciáveis de outros tipos de metais. A organização interna, a textura e
estrutura da rocha, de um mesossiderito e de um pallasito é exclusiva de
meteoritos. O ferro na forma metálica é extremamente raro na Terra, nas
rochas terrestres o ferro apresenta-se oxidado nos silicatos, principalmente na
forma de piroxênios, anfibólios, olivinas e biotita, ou na forma de óxidos e
hidróxidos tais como magnetita, hematita e goetita. Os metais meteoríticos
contêm teores de níquel iguais ou superiores a 5%, além de quantidades traço,
na escala de partes por milhão, de metais nobres raros tais como os
platinoides (platina, ródio, irídio, ósmio e paládio), ouro e metais raros
siderófilos como gálio e germânio.

Existe um simples teste químico para identificar níquel em um meteorito


metálico. A presença de níquel confirma a origem extraterrestre da amostra.
Basicamente se utiliza um ácido forte como o ácido clorídrico. Utilizando um
cotonete molha-se sua ponta com ácido clorídrico e esfrega-se o mesmo na
superfície do meteorito durante pelo menos 1 minuto. O ácido dissolve os
metais na superfície, em seguida coloca-se algumas gotas de uma solução
contendo amônio (soluções de hidróxido de amônio, persulfato de amônio ou
outros sais de amônio podem ser usadas). Feito isto se acrescenta na ponta do
cotonete algumas gotas de solução 1% de dimetilglioxima (DMG). Se houver
níquel dissolvido no cotonete ele reagirá com a DMG produzindo uma
coloração rosa.

SEÇÃO POLIDA E TRATADA QUIMICAMENTE DO METEORITO METÁLICO GIBEON


EVIDENCIANDO O PADRÃO DE WIDMANSTÄTTEN
CORTE DE SEÇÃO POLIDA DO MESOSSIDERITO NWA 2680 EVIDENCIANDO A
MATRIZ METÁLICA DE FERRO-NÍQUEL E OS CLASTOS DE COMPOSIÇÃO
SILICÁTICA

CAÇADORES DE METEORITOS

Os caçadores de meteoritos são aqueles que procuram encontrar esses


tesouros do espaço. Um caçador de meteoritos deve escolher bem o local onde
irá prospectar. Os melhores locais para se procurar meteoritos são nos
desertos (ex.: Saara, Atacama, Omã e Kalahari) e nas geleiras da Antártica,
Groenlândia, etc.

Os desertos são bons porque não erodem rapidamente os meteoritos. Em vez


disso, eles são conservados no solo desértico porque existe uma quantidade
muito pequena de água que poderia causar o intemperismo químico mais
rápido no meteorito. Além disso, a areia desértica é amarelada ou alaranjada e
as pedras são claras, isso permite um destaque para os meteoritos que
geralmente são bem escuros, por causa da crosta de fusão.

As geleiras são excelentes porque os meteoritos caem e ficam conservados no


gelo por idades que excedem 65 mil anos. O gelo se movimenta nas geleiras e
concentra os meteoritos em depósitos de morenas. Daí é só procurá-los que
eles se destacarão na neve. A Antártida é campo de intensa procura há muito
tempo, sim, há muitos meteoritos para encontrar na Antártica.

No Brasil, existem poucos meteoritos catalogados. Alguns destes são: O maior,


que é o meteorito metálico de Bendegó, descoberto em 1763 na Bahia. Outro
meteorito é o Ibitira, este é um acondrito eucrito anômalo, isto porque por
dentro ele é cheio de furos, como um queijo, representando vesículas de
escape de gases de derrame vulcânico na superfície do asteroide basáltico
4-Vesta, o maior asteroide do Sistema Solar.
FRAGMENTO CORTADO DO ACONDRITO IBITIRA, EUCRITO ANÔMALO, UM DOS
POUCOS EXEMPLOS DE METEORITOS CONTENDO VESÍCULAS.

No mundo, apenas cerca de 61.511 meteoritos distintos foram devidamente


coletados e catalogados de acordo com o Meteoritical Bulletin no ano de 2019!
Isso acontece porque poucas pessoas têm conhecimento sobre os meteoritos e
seu alto valor científico e instrutivo. Os meteoritos são a única
evidência concreta da matéria original que formou o Sistema Solar.

"OS METEORITOS SÃO A ÚNICA EVIDÊNCIA CONCRETA DA MATÉRIA


ORIGINAL QUE FORMOU O SISTEMA SOLAR".
2. A Origem do Universo e a Formação Planetária

IMAGEM DO TELESCÓPIO ESPACIAL HUBBLE DA GALÁXIA NGC 4594 OU MESSIER


104, A "GALÁXIA DO SOMBRERO" LOCALIZADA A 31 MILHÕES DE ANOS-LUZ DA
TERRA. AS BORDAS DESSA GALÁXIA SÃO FORMADAS DE NUVENS MOLECULARES
GIGANTES, ABUNDANTES EM POEIRA CÓSMICA.

A ciência que estuda a origem e evolução do Universo a partir da perspectiva


deste em larga escala é a Cosmologia. Os fundamentos dessa ciência se
originam das leis da física, isto é, um conjunto de leis matemáticas que
refletem o funcionamento dos sistemas do Universo e além da qual não
existem interações e eventos senão as que são permitidas por esse conjunto de
leis. Tais leis que fundamentam a Cosmologia Moderna são fundamentadas na
Teoria da Relatividade Geral de Einstein e em detalhes sobre o
comportamento subatômico do Universo, isto é, sobre os primeiros momentos
de sua existência, onde está o domínio da Mecânica Quântica que ainda
precisa se correlacionar à Relatividade Geral para produzir um conjunto de
leis consistentes tanto com o Macrocosmos quanto com o Microcosmos e esse
conjunto de leis físicas é chamado de Gravitação Quântica. De modo simples,
a Teoria da Relatividade Geral (TRG) descreve que o espaço e o tempo são
uma única entidade física denominada espaço-tempo. Este serve como um
substrato para os eventos que ocorrem no Universo.

Essa descrição, no entanto, não depende de um sistema de coordenadas ou de


um substrato ou background para existir porque esta depende apenas da
relação entre eventos ocorrendo no espaço-tempo e tal propriedade é
denominada na física de difeomorfismo. Na presença de matéria e energia, as
propriedades geométricas do espaço-tempo são acomodadas de tal modo que
objetos se movendo em suas trajetórias seguem as menores trajetórias
possíveis próximas a massas grandes como estrelas e planetas e estas
trajetórias no espaço-tempo curvo são denominadas de geodésicas. A este
fenômeno dá-se o nome de gravitação na visão moderna publicada por
Einstein e Hilbert em 1916. Uma vez que massa e energia deformam o
espaço-tempo curvando-o e fazendo partículas descreverem essa curvatura,
toda a matéria e energia existentes produzem uma geometria para o Universo.
Este é um dos conceitos fundamentais da Cosmologia. Através da estimativa
do percentual de massa e sua distribuição no Cosmos, isto é, sua densidade,
pode-se determinar a geometria global do espaço-tempo. De acordo com a
teoria mais aceita atualmente, do Big Bang, o Universo teve um início, um
começo onde o próprio espaço-tempo e tudo nele contido surgiram em um
ponto, ou singularidade gravitacional, de infinita densidade e temperatura,
onde o próprio espaço e o tempo se confundiam e eram dissolvidos em
flutuações quânticas incessantes curvando-se infinitamente sobre si mesmos,
o que na visão quântica significa flutuações do vácuo quântico ou espuma
quântica.

A singularidade gravitacional do Big Bang inflacionou, isto é, expandiu a uma


taxa acelerada exponencial onde a velocidade em que houve a expansão
superou a velocidade da luz durante um curtíssimo intervalo de tempo e então
cessou dando lugar a uma expansão suave e regular que persiste até hoje. O
evento que criou o Universo é conhecido como Big Bang. Durante o Big Bang
ocorreu a síntese dos primeiros átomos a existirem, os elementos químicos
hidrogênio, seu isótopo leve deutério, o hélio, lítio e traços de berílio foram os
únicos elementos sintetizados durante a fase energética e altamente quente do
Big Bang. Essa síntese desses elementos é chamada de nucleossíntese do Big
Bang ou nucleogênese. A nucleogênese produziu abundante hidrogênio e
secundariamente hélio. Apenas traços de lítio e berílio foram sintetizados a
partir da sopa quente de partículas subatômicas que quando esfriaram
formaram seus núcleos atômicos. Após a nucleogênese, a matéria quente
ainda não havia esfriado o suficiente para quebrar o seu equilíbrio térmico
com os fótons que colidiam e eram absorvidos pelos elétrons livres do plasma
de matéria. Cerca de 300 mil anos após o Big Bang o Universo esfriou o
suficiente para os fótons se desacoplarem da matéria tornando o Universo
transparente.

Esses fótons libertados formam uma radiação eletromagnética que preenche


todo o Cosmos, essa radiação são os resquícios da fase continuada quente do
Big Bang, essa radiação tinha alta energia na época em que foi emitida, mas
devido à expansão do espaço-tempo seu comprimento de onda foi alargado até
a faixa das microondas. Hoje, essa radiação é denominada de Radiação
Cósmica de Fundo em Microondas ou RCFM. Essa é considerada a principal
evidência de um Big Bang quente. Essa radiação apresenta uma distribuição
espectral perfeitamente compatível com um espectro teórico de radiação de
corpo negro com uma temperatura de 2,7 K. Uma radiação de corpo negro é
um conjunto de comprimentos de onda do espectro eletromagnético cuja
intensidade é proporcional à temperatura de um corpo aquecido, indicando
que o Universo no passado distante, isto é, cerca de 13,8 bilhões de anos atrás,
se comportava como um corpo quente homogêneo e isotrópico, portanto, a
radiação emitida é uma assinatura do Universo quando era jovem, com
altíssima temperatura.
IMAGEM DO CÉU INTEIRO DA RADIAÇÃO CÓSMICA DE FUNDO EM MICROONDAS
TIRADA PELO SATÉLITE PLANCK. OS PONTOS MAIS VERMELHOS SÃO
MILÉSIMOS DE GRAUS KELVIN MAIS QUENTES QUE OS PONTOS MAIS AZUIS. A
RCFM CONTÉM LIGEIRAS ANISOTROPIAS INTERPRETADAS PELO MODELO
COSMOLÓGICO DO BIG BANG QUENTE COMO IRREGULARIDADES QUÂNTICAS
DO UNIVERSO PRIMORDIAL. ESTAS IRREGULARIDADES PERMITIRAM A
FORMAÇÃO DE ESTRUTURAS DE MATÉRIA DIFERENCIADAS, AS GALÁXIAS,
SEPARADAS POR VAZIOS CÓSMICOS. A TEMPERATURA MÉDIA DESSA RADIAÇÃO
É DE 2,7 KELVINS.

A RCFM também mostra a temperatura atual do Universo, com o valor


medido de 2,7 K, isto é, pouco menos de 3 pontos acima do zero absoluto de
temperatura. Dados codificados na RCFM medidos pelas sondas espaciais
COBE, WMAP e PLANCK mostram que existem pequenas irregularidades na
distribuição de sua temperatura, isto é, mostra que existem pontos no céu que
apresentam maiores ou menores temperaturas com amplitudes muito sutis
percebidas apenas por equipamentos sofisticados como o satélite WMAP e o
PLANCK que registraram com precisão a distribuição da RCFM. Essas
pequenas irregularidades têm um significado profundo na evolução da
estrutura do Universo e na consequente coalescência de matéria para formar
galáxias, estrelas, planetas e vida. Todas essas irregularidades na RCFM
representam flutuações quânticas que existiram quando o Universo tinha
apenas 10 elevado a -43 segundos de vida (Era de Planck), onde as leis da
gravitação quântica dominavam profundamente na singularidade do Big
Bang.

Essas irregularidades foram como que aumentadas ou ampliadas até vastas


escalas cósmicas devido a um rápido evento de expansão acelerada que durou
de 10 elevado a -36 até 10 elevado a -32 segundos após o Big Bang. Essa
expansão exponencial do tecido do espaço-tempo primordial é denominada de
inflação cósmica e permitiu suavizar a geometria do espaço-tempo e ampliar
essas pequenas “imperfeições” quânticas para que estas no futuro gerassem
“sementes” de aglomeração gravitacional capazes de gerar estruturas
diferenciadas, onde pudessem existir regiões mais densas de matéria que a
gravidade aglomerou e regiões menos densas que constituíram praticamente
vazios cósmicos. Essas “imperfeições” do Universo primordial permitiram que
as galáxias se formassem no futuro. Isto permitiu que a gravidade moldasse
estruturas individualizadas tais como aglomerados de gás espiral típico como
as galáxias espirais e dentro das galáxias a produção de estrelas, estas estrelas
fabricariam em seus interiores, governadas pelas forças nucleares fraca e forte,
os demais elementos químicos mais pesados que o hélio e entre estes
elementos o carbono teve um papel chave na geração da vida em planetas que
existiriam num futuro distante como a Terra em nosso Sistema Solar. O
evento gerador de elementos químicos através da fusão nuclear no interior de
estrelas massivas é conhecido como nucleossíntese estelar ou simplesmente
nucleossíntese.

Apesar do sucesso das predições da teoria do Big Bang e a resolução de alguns


problemas apresentados pela teoria através da hipótese da inflação
cosmológica, a teoria está fundamentada pelas observações astronômicas
feitas pelo astrônomo Edwin Hubble que, assim como Humanson
anteriormente, mediu os desvios dos comprimentos de onda de emissão da luz
de diversas galáxias em várias porções do céu e descobriu que a esmagadora
maioria delas tinha seus espectros de comprimento de onda desviados para
comprimentos de onda longos, ou seja, desviados para o vermelho. Essa
característica assinatura espectral das galáxias é chamada de redshift, o
deslocamento para o vermelho. Hubble calculou as distâncias entre nossa
posição na Terra e muitas galáxias usando como padrão de calibração a
luminosidade conhecida de estrelas variáveis cefeidas.

Sabendo a distância entre a Terra e estrelas cefeidas próximas, calculada


através de ângulos de paralaxe, é possível utilizar o padrão de variação de
luminosidade destas estrelas e encontrar cefeidas em outras galáxias para
inferir a distância média delas. Após isto Hubble interpretou que os redshifts
das galáxias ocorriam por causa de um desvio Doppler da luz, ou seja, quando
um objeto emissor de luz se afasta de um observador o seu comprimento de
onda é estirado na direção do observador que recebe o sinal luminoso com
comprimento de onda deslocado em direção ao vermelho no espectro
eletromagnético. A interpretação do desvio Doppler relativístico do espectro
de luz das galáxias permitiu a Hubble calcular as velocidades com que estas
galáxias se afastavam de nós e mutuamente umas das outras. O resultado foi
uma correlação quase linear entre redshifts e distâncias medidas. Hubble
concluiu que quanto mais distante a galáxia mais rápido ela se afastava de nós.
E este fenômeno está ocorrendo em todas a direções no Universo. Então se
concluiu que o Universo estava se expandindo, que o espaço-tempo em escala
intergaláctica estava como que se estirando. Esta relação entre redshift e
distância ficou conhecida como Lei de Hubble-Humanson.
GRÁFICO RESULTANTE DAS OBSERVAÇÕES DO ASTRÔNOMO EDWIN HUBBLE
RELACIONANDO AS DISTÂNCIAS MEDIDAS DAS GALÁXIAS EM RELAÇÃO À TERRA
E SEUS REDSHIFTS MEDIDOS (INTERPRETADOS COMO VELOCIDADES DE
RECESSÃO DAS GALÁXIAS GERANDO EFEITO DOPPLER RELATIVÍSTICO DA LUZ)
MOSTRANDO UMA CORRELAÇÃO ESTATISTICAMENTE LINEAR. A INCLINAÇÃO
DA RETA GERADA É PROPORCIONAL À CONSTANTE DE HUBBLE. A
INTERPRETAÇÃO DADA PARA ESTA RELAÇÃO, CHAMADA DE LEI DE HUBBLE, É
DE QUE O UNIVERSO ESTÁ SE EXPANDINDO, A DISTÂNCIA ENTRE AS GALÁXIAS
AUMENTA COM O TEMPO. O GRÁFICO FOI GERADO AQUI UTILIZANDO
SUPERNOVAS TIPO IA COMO PADRÕES DE LUMINOSIDADE. HUBBLE USOU
ORIGINALMENTE ESTRELAS CEFEIDAS.

Visto que o espaço-tempo se expande, os físicos começaram a trabalhar em


modelos matemáticos para descrever o comportamento do Universo em larga
escala utilizando as equações de Einstein. Se as galáxias se afastam umas das
outras mutuamente, se regressarmos a seta do tempo cosmológico
observaremos as galáxias se aproximando umas das outras até chegar num
ponto de infinita densidade, a singularidade cosmológica. Então houve um
início no tempo e depois uma violenta expansão que perdura até hoje. O
modelo de espaço-tempo cosmológico em expansão utilizado ficou conhecido
como métrica de Fredman-Robertson-Walker-Lemaitrê. O astrônomo Fred
Hoyle, defensor da teoria contrária a esta, formulou o termo pejorativo "big
bang" para esta "explosão" que ocorreu no início do Universo. O nome pegou.
Um clérigo e pesquisador na área de física, Georges Lemaitrê, formulou a
hipótese do que ele chamou de "átomo primordial" explicando que o Universo
teve um início em um ponto, a singularidade do Big Bang, e a partir deste
ponto ocorreu a expansão cosmológica que gerou espaço-tempo, matéria e
radiação.

Problemas começaram a surgir porque não haviam evidências desse big bang
e o modelo de Hubble-Humanson considerava que a idade do Universo, já que
ele aparentemente é finito no tempo, era de cerca de 15 bilhões de anos.
Refinamentos posteriores da chamada Constante de Hubble calculam a idade
atual do Universo como 13,8 bilhões de anos. Esse tempo não é suficiente para
que estruturas complexas de superaglomerados de galáxias se formassem.
Cálculos realizados por diversos astrônomos mostram que estas
superestruturas se formam sob ação da gravidade em um tempo mínimo de
150 bilhões de anos, mais do que a idade do Universo. Com a descoberta da
rotação anômala dos discos galácticos e nos aglomerados galácticos pelos
pesquisadores, parecia que havia mais matéria do que era visível nos
telescópios. Os corpos em escala galáctica e intergaláctica exerciam uma
atração gravitacional maior do que o esperado nos cálculos da gravitação tanto
de Newton quanto de Einstein. Os cientistas chamaram essa "matéria
invisível" de matéria escura. A matéria escura foi a invocada para resolver o
problema das estruturas em larga escala diminuindo o tempo necessário para
a formação destas.

IMAGEM FAMOSA DO "HUBBLE ULTRA DEEP FIELD" MOSTRANDO UMA ÁREA DO


CÉU EQUIVALENTE AO TAMANHO DA CABEÇA DE UMA AGULHA VARRIDA PELO
TELESCÓPIO ESPACIAL HUBBLE VÁRIAS VEZES PARA MAIOR EXPOSIÇÃO
REVELANDO UM CAMPO COM CERCA DE 10 MIL GALÁXIAS. ESTA É A IMAGEM
REAL MAIS DISTANTE DO UNIVERSO EM DETALHES FEITA POR UM TELESCÓPIO.
ESTAS GALÁXIAS POSSUEM ELEVADOS REDSHIFTS, INTEPRETADOS COMO
VELOCIDADES INCRÍVEIS DE AFASTAMENTO DAS GALÁXIAS, UMAS DAS OUTRAS.
IMAGEM DE SIMULAÇÃO DE COMPUTADOR DAS ESTRUTURAS EM LARGA
ESCALA DO UNIVERSO, NA FORMA DE FILAMENTOS E VAZIOS. CADA PONTO DE
LUZ SÃO AGLOMERADOS INTEIROS DE GALÁXIAS. O TEMPO PARA FORMAÇÃO
DESTAS ESTRUTURAS FOI CALCULADO POR ASTRÔNOMOS COMO SENDO DE 150
BILHÕES DE ANOS. MAS NO MODELO DO BIG BANG QUENTE INCORPORANDO A
MATÉRIA ESCURA, ESTAS ESTRUTURAS SE FORMAM DENTRO DO TEMPO DE 13,8
BILHÕES DE ANOS CALCULADO PELA CONSTANTE DE HUBBLE COMO SENDO A
IDADE DO UNIVERSO. ESTA ESTRUTURA DE LARGA ESCALA É SIMULADA POR
QUE ESTÁ ALÉM DO UNIVERSO OBSERVÁVEL.

Outra anomalia observada na expansão do Universo foi constatada em 1998


quando astrônomos observaram uma queda sistemática anômala de
luminosidade de supernovas tipo Ia. Em sistemas estelares binários onde uma
estrela companheira é uma gigante ou supergigante da sequência principal
(uma estrela da sequência principal é aquela que realiza a fusão normal do
hidrogênio convertendo-o em hélio) e a outra é uma estrela colapsada, uma
anão branca, o forte campo gravitacional da densa anã branca acreciona para
si gás da estrela companheira. Uma anã branca é um núcleo de uma estrela
que se extinguiu após exaurir suas reservas de hidrogênio e inchar se
transformando em uma gigante vermelha. Durante a fase de gigante vermelha
a estrela realiza a fusão nuclear cada vez menos eficiente de hélio para
carbono e assim sucessivamente sintetizando os elementos químicos da tabela
periódica até o ferro. Quando o ferro é produzido a estrela não realiza mais
fusão devido à esta ser endotérmica para o núcleo do elemento ferro. Como
resultado a estrela colapsa pela própria gravidade esmagando elétrons contra
núcleos formando uma matéria densa chamada matéria degenerada. As
camadas externas de gás da estrela são ejetadas suavemente ou de forma
intermitente formando uma nebulosa planetária. O núcleo de matéria
degenerada é uma anã branca, um objeto com o diâmetro equivalente ao
diâmetro da Terra, mas contendo praticamente uma massa solar sendo um
dos objetos mais densos do Universo. Estrelas com massas de até 5 vezes a
massa do Sol têm esse destino final. Estrelas massivas com até 100 vezes a
massa do Sol podem se tornar objetos colapsados ainda mais densos, as
estrelas de nêutrons. Massas superiores produzem colapso em um buraco
negro de massa estelar.

Quando o núcleo da estrela colapsa em uma estrela de nêutrons ou num


buraco negro, as camadas de gás externas da estrela são violentamente
expandidas para o espaço em uma explosão de alta energia, uma supernova
tipo II. Durante este evento energético os elementos químicos mais pesados
que o ferro são sintetizados. Quando o gás acrecionado da estrela
companheira é aquecido e compressionado na superfície da anã branca
atinge-se um limite de compressão onde os núcleos atômicos se fundem
gerando uma explosão termonuclear na anã branca. O resultado é uma
supernova tipo Ia cuja luminosidade é superior em magnitude a de uma
galáxia inteira durando horas ou dias. As supernovas tipo Ia possuem uma
curva de luminosidade característica. Analisando eventos de supernovas Ia em
galáxias distantes, de alto redshift, observou-se um desvio das curvas de
luminosidade que só poderiam ser explicados, dentro do modelo da métrica
de um espaço-tempo em expansão cosmológica, como sendo ocasionado pela
aceleração da expansão cosmológica. Para acelerar a expansão deve haver um
componente antigravitacional no espaço-tempo, uma componente que se
mantivesse constante e afastasse cada vez mais rápido as galáxias umas das
outras. Essa componente foi chamada de energia escura. A misteriosa energia
escura é considerada no modelo cosmológico do big bang quente associado à
matéria escura como sendo a constante cosmológica, uma componente
antigravitacional das equações de campo de Einstein, sugerida pelo próprio
cientista numa tentativa de formular um modelo de Universo estático, porque
Einstein não estava confortável com a ideia de uma expansão cosmológica.
Não se sabe ao certo o que é a energia escura, do que ela é feita.

MODELO TEÓRICO DE UMA SUPERNOVA TIPO IA. CONSISTE DE UM SISTEMA


BINÁRIO COMPOSTO DE UMA ESTRELA GIGANTE ORBITANDO UMA ESTRELA
ANÃ BRANCA, UM NÚCLEO COLAPSADO DENSO DE UMA ESTRELA HÁ MUITO
CONSUMIDA, A ANÃ BRANCA ACRECIONA MATERIAL DA ESTRELA
COMPANHEIRA FORMANDO UM DISCO DE ACREÇÃO ATÉ UM LIMITE DE
COMPRESSÃO DO PLASMA ONDE OCORRE UMA EXPLOSÃO TERMONUCLEAR
COM IMENSA LIBERAÇÃO DE ENERGIA, ESSA EXPLOSÃO É A SUPERNOVA TIPO IA
QUE POSSUI UMA CURVA DE LUMINOSIDADE CARACTERÍSTICA QUE PERMITE
CALIBRAR DISTÂNCIAS COSMOLÓGICAS, SENDO ESTES EVENTOS "VELAS
PADRÃO".
Os astrônomos Fred Hoyle e Jayant Narlikar eram os defensores da teoria
cosmológica do Estado Estacionário que se baseia no princípio cosmológico
perfeito ditando o Universo como homogêneo e isotrópico não apenas no
espaço, mas também no tempo. Com isso o Universo não tem começo e não
terá fim, ele mantém a mesma aparência eternamente e para resolver o
problema da expansão observada por Hubble, Hoyle e Narlikar invocaram as
equações de campo de Einstein para estabelecer um campo escalar que
permitia a constante criação de matéria a partir do vácuo. De acordo com eles
é possível ocorrerem mini-bangs em qualquer ponto do Universo gerando
mais matéria e preenchendo o vazio entre as galáxias que se afastam umas das
outras. No entanto a interpretação do redshift como velocidade de
afastamento foi também questionada pelo astrofísico Fritz Zwicky, que
formulou sua teoria da "luz cansada". De acordo com Zwicky os fótons das
galáxias viajam através de campos gravitacionais intergalácticos
enfraquecendo, ou seja, perdendo energia, de forma proporcional a distância
percorrida. O resultado seria o redshift maior para galáxias mais distantes.
Também houve a proposição do astrônomo Halton Arp de que os redshifts são
resultado do aumento de massa das partículas subatômicas criadas em
eventos de criação espontânea de matéria nos centros de galáxias ativas. De
acordo com a hipótese do astrônomo Ambarzumian, as galáxias mais antigas
ejetam protogaláxias que ganham massa à medida que interagem com o
campo do vácuo do espaço em um modelo de Universo governado pelo
princípio da inércia de Mach. Segundo Halton Arp os redshifts são
quantizados, as partículas subatômicas são criadas sem massa e interagem
fracamente entre si emitindo radiação de comprimentos de onda longos.

À medida que as partículas "sentem" o campo de vácuo do Cosmos, elas


ganham massa e estabilizam emitindo radiação de menor redshift. De fato o
bóson de Higgs é um campo de vácuo que dá massa às partículas. A hipótese
de Arp é fundamentada em observações de galáxias que ele chamou de
peculiares. Muitas galáxias de baixo redshift apresentam-se conectadas por
filamentos de gás hidrogênio quente ou através de jatos de ejeção de matéria
com galáxias e quasares com redshifts elevados. Como poderia uma galáxia de
baixo redshift, com velocidade de recessão menor e distância menor, está
fisicamente conectada com objetos de alto redshift que deveriam estar muitos
milhões ou até bilhões de anos-luz mais distantes? A hipótese de Halton Arp
foi até mesmo considerada pelo astrônomo Carl Sagan em seu livro Cosmos,
onde ele deixou em aberto a questão de aceitar o modelo do Big Bang como
verdade absoluta e ignorar outras evidências que não corroboram com a teoria.
Muitas outras proposições alternativas ao Big Bang existem, inclusive
explicações alternativas para a existência de uma radiação cósmica de fundo.
De acordo com Narlikar, a radiação cósmica de fundo tem um espectro de
corpo negro porque representa radiação que foi completamente termalizada,
ou seja, os fótons perderam a informação de suas origens, podendo
representar também o background de um Cosmos extremamente velho.
Modelos cosmológicos baseados na teoria de gravitação de Einstein
modificada ou modelo de gravidade newtoniana modificada desconsidera a
matéria escura e a energia escura e tratam o Universo com uma curvatura
positiva e estático. Este modelo não é instável se as galáxias tiverem
velocidades relativas tangenciais aos eixos da dimensão maior do Universo, ou
seja, a quinta dimensão espacial invocada neste modelo e a idade calculada
para esse universo seria de mais de 1 trilhão de anos.

UMA DAS FAMOSAS GALÁXIAS PECULIARES OBSERVADAS PELO ASTRÔNOMO


HALTON ARP. AQUI A GALÁXIA NGC 7603, COM BAIXO REDSHIFT, APARECE NA
IMAGEM EM RAIOS X CONECTADA POR FILAMENTO GASOSO A TRÊS QUASARES
COM ELEVADOS REDSHIFTS. ESTA OBSERVAÇÃO FOI TEMA DE MUITO DEBATE
ENTRE PESQUISADORES E DESAFIA A INTERPRETAÇÃO DOS REDSHIFTS COMO
OCASIONADOS POR VELOCIDADES DE RECESSÃO COSMOLÓGICA. AQUI HALTON
ARP INTERPRETA QUE OBJETOS DE REDSHIFTS CONTRASTANTES ESTÃO
CONECTADOS POR GÁS QUENTE PORQUE REDSHIFTS SÃO INTRÍNSECOS E NÃO
REPRESENTAM INDÍCIO CONCRETO DE QUE O UNIVERSO ESTÁ SE EXPANDINDO.
O FILAMENTO DE GÁS SUPERAQUECIDO NÃO PODERIA SE EXTENDER POR
MILHÕES DE ANOS-LUZ REFORÇANDO A CONEXÃO FÍSICA REAL ENTRE ESTA
GALÁXIA E TRÊS QUASARES.

Não vou me aprofundar muito aqui nas muitas nuances das teorias sobre a
origem do Universo. Apenas devemos considerar que na ciência precisamos
ter a mente aberta para novas descobertas e evidências. Não adotar modelos
científicos como dogmas inquebráveis e sim estar aberto a novas fascinantes
possibilidades de explicar algo tão vasto quanto o Cosmos ainda cheio de
mistérios a revelar. Vou discutir aqui a formação planetária e sobre a origem
das galáxias vou considerar o modelo tradicional de formação de acordo com a
teoria do big bang, mas existem teorias alternativas para a formação de
galáxias. As estruturas cosmicamente importantes no contexto de evolução
planetária são primeiramente as galáxias. Estas foram formadas pela acreção
gravitacional de grandes nuvens de gás que se aglutinaram e formaram
nuvens maiores rotacionando e adquirindo estabilidade devido à fricção do
próprio gás assumindo formas de discos em rotação. A maioria das galáxias
atuais tem esse padrão de discos espirais.

Partes do gás interno das galáxias se desestabilizaram gravitacionalmente


colapsando em estruturas individuais, bolsões compressionados a tão grandes
pressões e adquirindo como consequência uma temperatura central tão
elevada que deu ignição à fusão nuclear do hidrogênio convertendo esses
bolsões de gás em bolas de plasma incandescente emitindo radiação
eletromagnética, luz visível para a maioria destes objetos. Estes objetos
cósmicos são as estrelas. Estas passaram a iluminar o Universo, uma
verdadeira explosão de formação estelar generalizada em todas as
protogaláxias da época. Gerações de estrelas nasceram, fabricaram grandes
quantidades de elementos químicos e terminaram suas vidas em gigantescas
explosões de supernovas que permitiram liberar para o espaço interestelar os
elementos da nucleossíntese. Esses elementos, os “metais”, isto é, os
elementos químicos mais pesados que o hélio, foram acumulados durante
bilhões de anos de história cósmica em nuvens de gás que ficaram cada vez
mais enriquecidas em “metais” forjados nas estrelas. A próxima geração de
estrelas que se formaram a partir desse gás enriquecido em metais acumularia
para si matéria sólida e essa matéria sólida podia agora se aglutinar em corpos
menores orbitando suas estrelas companheiras, os planetas.

O Sol é uma estrela de geração recente, formado cerca de 8,7 bilhões de anos
após o início do universo no modelo do big bang. Ele se formou a partir do
colapso gravitacional de uma nuvem molecular, uma nebulosa de gás e poeira
muito fria e densa rica em matéria não na forma atômica ou ionizada, mas na
forma molecular e contendo partículas sólidas de minerais produzidos em
atmosferas de estrelas supergigantes denominadas estrelas AGB (Assimptotic
Giant Branch) e em supernovas. Quase toda a matéria colapsada foi ejetada
pela rotação do disco protoestelar, o restante formou o Sol e uma pequena
parcela de material acrecionado era composta de gás e poeira interestelar. O
gás e a poeira se acumularam em volta do protossol em um disco
protoplanetário. No disco a matéria coalesceu em corpos maiores, os
planetesimais, e muitos destes se aglutinaram por colisões aleatórias e por
gravidade produzindo corpos de dimensões com mais de centenas de
quilômetros, os protoplanetas. Esses embriões planetários varreram suas
órbitas acrescionando gravitacionalmente toda poeira e gás disponíveis e
aumentando suas massas até atingirem dimensões de planetas. A região mais
próxima do Sol não preservou os elementos voláteis como os gases
abundantes hidrogênio e hélio que foram varridos pelos ventos solares
intensos. Nesta região interna do disco protoplanetário os planetas rochosos
foram consolidados. Apenas nas regiões distantes mais frias do disco, os
planetas acumularam o gás e tornaram-se gigantes gasosos. Modelos de
simulação por computador, as simulações numéricas, do disco
protoplanetário mostram que em apenas 4 milhões de anos de evolução o
disco contém milhares de protoplanetas ou embriões planetários com
diâmetros variando do tamanho da Lua até o tamanho de Marte.
IMAGEM DO HST DA NEBULOSA NGC 1491, LOCALIZADA NA CONSTELAÇÃO DE
PERSEUS. ESTA NEBULOSA CONTÉM GIGANTESCAS NUVENS MOLECULARES, AS
PORÇÕES ESCURAS NA IMAGEM. ESTAS NUVENS DENSAS RICAS EM POEIRA
CÓSMICA SÃO REGIÕES DE INTENSA FORMAÇÃO ESTELAR. O SOL SE FORMOU
JUNTO DE OUTRAS ESTRELAS EM UMA NEBULOSA COMO ESTA.

CONCEPÇÃO ARTÍSTICA DE UM DISCO PROTOPLANETÁRIO, COM A


PROTESTRELA NO CENTRO E O MATERIAL SÓLIDO SE AGLUTINANDO EM
PLANETESIMAIS NO DISCO DE GÁS E POEIRA. EM POUCOS MILHÕES DE ANOS A
POEIRA NO DISCO EVOLUI PARA EMBRIÕES PLANETÁRIOS COM TAMANHOS
VARIANDO EM DIÂMETROS DA LUA ATÉ MARTE. OS EMBRIÕES PLANETÁRIOS SE
AGLUTINAM POR COLISÕES FORMANDO OS PRECURSORES DOS PLANETAS
ROCHOSOS.
IMAGEM DE UM DISCO PROTOPLANETÁRIO REAL FEITA PELO
RADIOTELESCÓPIO ALMA (ATACAMA LARGE MILIMETER ARRAY), ESTE
REPRESENTA UMA PROTOESTRELA EM ESTÁGIO "T-TAURI" A 450 ANOS-LUZ DA
TERRA. ESTE DISCO PROTOPLANETÁRIO FOI CHAMADO DE OBJETO HL TAURI.

Os protoplanetas colidiram entre si e se estilhaçavam constantemente. Outros


se fundiam em massas maiores gerando os futuros planetas rochosos do
Sistema Solar. Acredita-se que Marte seja um protoplaneta remanescente.
Análises isotópicas e de elementos terras raras dos meteoritos marcianos
mostram que Marte teve uma história de extração magmática primordial
diretamente relacionada à composição dos condritos. A Terra já possui uma
história mais complicada, podendo ser resultado da fusão de vários
protoplanetas em eventos colisionais violentos, gerando uma história
primordial de extração magmática para a crosta muito mais complexa do que
Marte. Diz-se que o processo de formação de planetas é estocástico, ou seja, é
resultante de acumulação de processos aleatórios desencadeados por colisões
e coalescências. Quando cessou a fase de acreção planetária, os planetas
rochosos tinham uma crosta ainda fundida e incandescente, desprovidos de
uma atmosfera espessa. Os planetas praticamente formados passaram pelo
processo de diferenciação planetária onde o material interno deles fundiu as
rochas convertendo os planetas em bolas de magma. Na fase líquida ou
semifluida os elementos químicos se fracionaram separando os planetas em
camadas internas, crosta, manto e núcleo. Esses planetas teriam de esfriar
suas crostas e produzir as primeiras massas de rocha em sua superfície. A
degaseificação do manto protoplanetário por vulcões liberou grande parte de
voláteis como CO2, SO2, H2O, N2 e CH4 que passaram a compor a atmosfera
planetária primordial.
A prototerra passou por esse processo, sua primeira fase de evolução foi a
diferenciação planetária, onde o ferro e o níquel junto de metais raros e
densos como platina, paládio, irídio, ouro e ósmio afundaram em meio a
massa rochosa fundida da prototerra indo compor o núcleo, os elementos de
densidade e afinidade química intermediária como o cálcio e magnésio se
concentraram mais nas porções intermediárias formando o manto e
elementos leves e incompatíveis geoquimicamente com o magnésio e o ferro,
tais como sódio, potássio, alumínio e o abundante silício, foram compor a
crosta. Após a diferenciação a prototerra agora com um núcleo de ferro-níquel
formado, passou a gerar seu próprio campo magnético, e as convecções
térmicas de massa em seu manto passaram a trazer constantemente magma
juvenil para a crosta ocasionando o vulcanismo generalizado e a geração da
atmosfera primitiva devido à expulsão dos gases presos no manto.

ILUSTRAÇÃO SIMPLIFICADA DO PROCESSO DE DIFERENCIAÇÃO PLANETÁRIA,


ONDE OS MATERIAIS SÃO FRACIONADOS POR DENSIDADE E POR AFINIDADE
GEOQUÍMICA QUANDO O PROTOPLANETA ESTÁ NA FASE DE BOLA DE MAGMA.

Num estágio inicial da prototerra, ocorreu uma colisão tangencial entre a


prototerra e outro protoplaneta, esse outro corpo tinha o diâmetro
aproximado do planeta Marte e este recebeu o nome de Theia. Quando houve
a colisão, a prototerra não foi destruída, mas parte de seu material foi
violentamente ejetado para o espaço junto dos fragmentos de Theia. A matéria
ejetada formou um disco de acreção em torno da prototerra. Esse disco
protolunar passou a coalescer gravitacionalmente formando um único corpo,
a protolua. Após à formação da protolua, a prototerra desenvolveu junto de
sua nova companheira importantes marés gravitacionais que iriam governar
os ciclos do futuro oceano que a prototerra teria. Geoquímicos teorizam sobre
a origem de minérios de ouro e platinoides extraídos hoje na crosta terrestre
ser posterior à formação do núcleo da Terra. A teoria chamada de "verniz
cósmico tardio" afirma que a Terra pode ter sido bombardeada, durante a
época do bombardeamento pesado tardio, entre 4,1 e 3,9 bilhões de anos atrás,
por bilhões de asteroides que incorporaram material extra na crosta terrestre,
trazendo consigo ouro e platinoides que não desceram para o núcleo, mas
foram incorporados no manto superior terrestre e depois reciclados em
processos tectônicos posteriores que geraram os depósitos minerais mais
antigos da Terra como os dos crátons do Congo, Kalahari, Kaapvaal e
Barberton na África, Pilbara e Yilgarn na Austrália que contêm as maiores
reservas de ouro e platinoides do planeta com idades máximas de 3,9 bilhões
de anos e mínimas de 2,7 bilhões de anos.

SIMULAÇÃO DA FORMAÇÃO DA LUA PELO MODELO COLISIONAL ENTRE A


PROTOTERRA E O PROTOPLANETA HIPOTÉTICO THEIA. A COLISÃO TEVE DE SER
TANGENCIAL SENÃO OCORRERIA A DESTRUIÇÃO DA PROTOTERRA.

A formação de estrelas no Universo é um processo espontâneo, assim como a


formação de planetas também é espontânea. De fato, não se admira que hajam
milhares de planetas extrasolares ou também chamados de exoplanetas que já
foram detectados por técnicas de observação astronômica avançada. Devido às
limitações das técnicas de detecção de outros sistemas estelares e seus
planetas, muitos dos exoplanetas descobertos são gigantes gasosos e alguns
estão incrivelmente próximos de suas estrelas sendo chamados de Júpiteres
Quentes. A maioria dos sistemas estelares são binários em nossa Galáxia
devido à maior probabilidade de estrelas se ligarem gravitacionalmente
formando pares devido ao fato de as estrelas serem formadas em grupos em
uma mesma nuvem molecular. Muitos exoplanetas com até cinco vezes a
massa da Terra já foram detectados e são chamados de Superterras. A
descoberta de um exoplaneta semelhante à Terra é mera questão de tempo,
maior refinamento da tecnologia observacional e paciência. Muitos desses
exoplanetas semelhantes à Terra também podem conter formas de vida.
Analisando as nuvens moleculares, observa-se a enorme variedade de
moléculas orgânicas sintetizadas no meio interestelar por diversos processos
astrofísicos. Quando a poeira interestelar, contendo compostos orgânicos, é
aglutinada em discos protoplanetários, a matéria de carbono é também,
naturalmente, incorporada no conteúdo dos planetesimais. Muitos desses
planetesimais que não participam da acreção planetária vagam como
asteroides ricos em água e compostos de carbono.

Em nosso sistema solar existem exemplos de amostras de asteroides desse


tipo, os meteoritos mais raros já catalogados são amostras desses asteroides,
ou mesmo de cometas e estes são os condritos carbonáceos tipo CI e CM. Os
mais famosos são os condritos Orgueil e Murchison, ambos representando
quedas testemunhadas no século XIX e na década de 60 respectivamente.
Recentemente tivemos a queda do condrito carbonáceo CM Aguas Zarcas na
Costa Rica. Esses meteoritos possuem alto teor de matéria orgânica e água.
Para se perceber a diversidade de compostos de carbono encontrados na
matriz desses meteoritos, foram encontrados aldeídos, carboidratos,
hidrocarbonetos alifáticos, hidrocarbonetos aromáticos mononucleares e
policíclicos, bases nitrogenadas, vários tipos de aminoácidos levógiros, aminas,
amidas, ácidos carboxílicos, entre outros. Notemos que os aminoácidos
levógiros são os componentes fundamentais para a construção das proteínas
essenciais a todas as formas de vida na Terra. Todas as formas de vida na
Terra são compostas de apenas 20 aminoácidos diferentes, sendo todos eles
levógiros, isto é, têm simetria esquerda do carbono quiral. Além disso, as
bases nitrogenadas purinas e pirimidinas são os componentes moleculares
fundamentais da macromolécula de DNA.
ASTEROIDE 101955 BENNU FOTOGRAFADO PELA SONDA NÃO TRIPULADA
OSIRIS-REX DA NASA EM 2 DE DEZEMBRO DE 2018. ESSE É UM PEQUENO
ASTEROIDE PRÓXIMO DA TERRA COM COMPOSIÇÃO CARBONÁCEA. ESSES
ASTEROIDES CONTÊM QUANTIDADES APRECIÁVEIS DE ÁGUA E COMPOSTOS DE
CARBONO. OS METEORITOS CONDRITOS CARBONÁCEOS CI E CM SÃO AMOSTRAS
DESSE TIPO DE ASTEROIDE.
COMETA 67P-CHURYUMOV-GERASIMENKO FOTOGRAFADO PELA SONDA NÃO
TRIPULADA ROSETTA DA ESA EM 2015. A INVESTIGAÇÃO DESSE COMETA
REVELOU QUE ESTES SÃO OBJETOS COM BAIXO ALBEDO, RICOS EM UMA
MATRIZ SILICÁTICA DE GRANULAÇÃO FINA, SENDO POROSOS E CONTENDO
QUANTIDADES ELEVADAS DE MATERIAL CARBONÁCEO ORGÂNICO E
INORGÂNICO.
UM DOS FRAGMENTOS INDIVIDUAIS DO METEORITO ORGUEIL, UM CONDRITO
CARBONÁCEO TIPO CI. ESSE METEORITO CONTÉM 22% EM MASSA DE ÁGUA NA
FORMA DE MINERAIS HIDRATADOS EM SUA MATRIZ E 5% DE CARBONO NA
FORMA DE COMPOSTOS ORGÂNICOS EXTRATERRESTRES E INORGÂNICOS
CARBONÁCEOS.

Todas as moléculas essenciais à vida foram encontradas nesses meteoritos e


dados astronômicos de sensoriamento remoto de asteroides e cometas
oriundos de regiões longínquas do sistema solar mostram que esses planetas
menores ricos em água e matéria orgânica são abundantes nestas regiões
distantes do Sistema Solar. Indo além disso, verifica-se a universalidade dos
compostos de carbono que foram identificados em nebulosas moleculares
gigantes que constituem berçários estelares contendo até centenas de milhares
de estrelas jovens recém-formadas a partir do colapso gravitacional de partes
da nuvem molecular. Dois exemplos clássicos de nuvens moleculares com
intensa atividade de formação de estrelas são as nebulosas de Órion e da
Águia, enfatizando as estruturas peculiares dos Pilares da Criação. Matéria
carbonáca na forma de poeira cósmica também foi detectada em nuvens
moleculares gigantes em outras galáxias tais como Centaurus A e a Galáxia
Sombrero.
Nessas regiões densas, frias e opacas dessas nebulosas foram identificadas
assinaturas espectrais de diversas moléculas orgânicas e compostos
inorgânicos de carbono como CO2 além de água na forma de pequenos cristais
de gelo. Dentro desses cristais de gelo podem existir também moléculas
orgânicas complexas protegidas da intensa radiação ionizante das estrelas
mais quentes que iluminam a nebulosa. Todos os compostos encontrados
nessas nebulosas gigantes são similares aos compostos de carbono
encontrados nos meteoritos de nosso Sistema Solar. Todas essas evidências
mostram que a química da vida como conhecemos, baseada essencialmente
em átomos de carbono ligados aos elementos organógenos (CHONPS) e água,
é universal e abundante no Cosmos. O carbono é o único elemento químico
que produz ligações químicas com ele mesmo sobre diversas condições e
outros átomos de tal forma a gerar cadeias complexas de moléculas. Moléculas
diversas, complexas e gigantes são necessárias para a geração de vida, que
necessita de processos físico-químicos complexos para funcionar. As
constantes tais como a massa do próton, a carga elétrica do elétron, a
intensidade da força nuclear forte e nuclear fraca, a constante universal da
gravidade, a constante de Planck que governa os processos quânticos e a
constante cosmológica que governa a taxa de aceleração da expansão do
Universo todas estas estão “finamente ajustadas” para produzir um Universo
rico em complexidade e estruturação cosmológica tal que permite a formação
de estrelas capazes de sintetizar por fusão nuclear abundantes quantidades de
carbono – elemento fundamental para a origem da vida. De forma alternativa
a esta visão de constantes "finamente ajustadas", os astrônomos Fred Hoyle e
Chandra Wickramasinghe postularam que num Universo eterno no modelo do
Estado Estacionário, sem big bang, a vida na Terra teria sido semeada por
cometas e asteroides carbonáceos.

Esta hipótese é chamada de Panspermia Cósmica que afirma ser o Universo,


principalmente nas densas regiões de nuvens moleculares, recheado de
esporos de bactérias inertes, muitos destes "fossilizados" de eras infinitas de
geração cosmológica. As bactérias em suas formas inertes seriam acrecionadas
junto da poeira cósmica nos planetesimais. Os cometas e asteroides encerram
bactérias em seus interiores e semaram a Terra no passado durante a era do
bombardeamento cósmico tardio com vida. Uma vez num ambiente rico em
água e gás carbônico as bactérias se regeneraram de suas formas de esporos
inertes e começaram o processo de evolução biológica. A hipótese de
Hoyle-Wickramasinghe recebeu muitas críticas negativas, mas evidências de
que microorganismos podem sobreviver à radiação cósmica e ultravioleta do
espaço interestelar existem em artigos científicos de astrobiologia. Há
controvérsias sobre a Panspermia, no entanto, alguns pesquisadores como
Richard B. Hoover, afirmam ter descoberto autênticas estruturas bacterianas
extraterrestres na matriz de condritos CI e CM. Com a universalidade da
formação estelar e planetária contendo todos os elementos essenciais para a
origem da vida e diante da imensidão do Cosmos, é muito difícil imaginar que
apenas o planeta Terra abrigue vida. Todas as evidências apontam que não
estamos sozinhos no Universo, a questão agora é confirmar a existência de
vida em alguns dos planetas extrassolares já catalogados ou outros
promissores que ainda serão descobertos, pelo menos vida microbiana
alienígena.
3. Identificando os Meteoritos

MASSA INDIVIDUAL DO METEORITO METÁLICO HENBURY COM A SUPERFÍCIE


MARCADA POR REGMAGLYTOS, FEIÇÕES TÍPICAS DE ABLAÇÃO ATMOSFÉRICA.

Antes de mais nada devemos entender a estatística por trás dos meteoritos.
Eles são rochas extremamente raras de se encontrar em campo. De fato, o alto
valor comercial dos meteoritos se deve a sua raridade e também ao fato
inescapável de que são visitantes do espaço interplanetário, o que é sem
dúvida fascinante. Como diz o pesquisador Dr. Randy Korotev, especialista em
rochas lunares, se você acha que encontrou um meteorito eu já lhe digo que
com 99% de certeza a sua rocha é terrestre. A probabilidade de encontrar um
meteorito é extremamente baixa e sua rocha que tem um "jeitão" diferente
com (quase) plena certeza não é um meteorito.

A crosta terrestre é composta de uma variedade incrível de rochas. Em


geologia as rochas são separadas em três grandes grupos, as rochas ígneas,
sedimentares e metamórficas. As rochas ígneas mais comuns são os granitos e
basaltos. Usando a nomenclatura mais específica da geologia as rochas ígneas
são representadas pelos granitoides e pelas rochas vulcânicas cujo basalto é a
rocha mais comum dentre elas compondo a crosta oceânica e derrames de
lava nos continentes. Os granitoides são compostos basicamente dos minerais
quartzo, feldspatos, micas e anfibólios. Os basaltos são rochas escuras
vulcânicas compostos de minerais microscópicos, esses minerais são
clinopiroxênio augita/pigeonita e plagioclásio cálcico, podendo conter
também quartzo, olivina, tridimita, anfibólios, etc. As rochas sedimentares são
normalmente subdivididas em clásticas e químicas. As rochas clásticas são
compostas de pedaços de outras rochas que foram intemperizadas e erodidas,
esses "pedaços" são chamados de clastos e são os sedimentos que podem
variar em granulometria desde blocos de rocha, matacões, passando pelas
areias e siltes e finalmente argilas, os sedimentos mais finos. As principais
rochas sedimentares são folhelhos, calcários, arenitos e conglomerados. Os
folhelhos são rochas contendo laminação sedimentar e compostos por silte e
argila. Calcários são rochas sedimentares químicas de origem biológica ou
abiótica de precipitação evaporítica de carbonatos de cálcio e magnésio,
principalmente o carbonato de cálcio que é o mineral chamado calcita.

Os arenitos são rochas compostas de sedimentos arenosos que são geralmente


grãos de quartzo e feldspatos em menor quantidade. Conglomerados são
rochas compostas de seixos de rochas quartzo-feldspáticas sustentados por
uma matriz mais fina de natureza arenosa, siltosa, argilosa ou silicosa. As
rochas metamórficas são complexos grupos de rochas que reúnem
basicamente na classificação tradicional, em sequência de grau metamórfico,
as ardósias, filitos, xistos, gnaisses e migmatitos. As ardósias e filitos são
rochas com clivagens metamórficas compostas basicamente dos minerais do
grupo das cloritas e quartzo. Os xistos são rochas foliadas ricas em micas
podendo conter granada, estaurolita, cloritoide, silimanita, cianita, andaluzita,
feldspatos e quartzo. Os gnaisses são rochas metamórficas abundantes em
porções antigas dos continentes, chamadas de regiões cratônicas quando
muito velhas com idades superiores a 2,7 bilhões de anos, ou de cinturões
metamórficos, também chamados de faixas móveis, com idades entre 1,7 até
2,7 bilhões de anos. Os gnaisses são rochas bandadas, contendo "faixas de
minerais" intercalando regiões quartzo-feldspáticas claras ou félsicas e regiões
de biotita-anfibólios, escuras ou máficas. Os gnaisses podem conter minerais
acessórios tais como granada e silimanita. Migmatitos são rochas resultantes
de alto grau metamórfico com fusão parcial gerando bolsões de líquido
magmático intercalados com material metamórfico não fundido,
principalmente xistos. Os migmatitos possuem diversos padrões texturais que
basicamente lembram bandamentos gnáissicos "bagunçados" pela fusão
parcial ocorrida na crosta continental inferior. Migmatitos contêm porções
ricas em biotita e anfibólios (melanossoma/mesossoma) e porções ricas em
quartzo e feldspato (leucossoma). Fragmentos da rocha original que foi
fundida podem estar presentes em meio ao migmatito em um terreno
metamórfico, as porções que preservam as rochas originais fundidas,
geralmente xistos e anfibolitos, são chamadas paleossomas.

AMOSTRA DE BASALTO, UMA ROCHA ÍGNEA VULCÂNICA RESULTANTE DO


RÁPIDO RESFRIAMENTO DE LAVA, MAGMA QUE EXTRAVASOU NA SUPERFÍCIE
GERANDO UMA TEXTURA AFANÍTICA ONDE OS MINERAIS SÃO MICROSCÓPICOS.
BASALTO DE TEXTURA PORFIRÍTICA, AQUI O MAGMA PASSOU POR DUAS ETAPAS
DE CRISTALIZAÇÃO, UMA SUBSUPERFICIAL GERANDO FENOCRISTAIS DE
PLAGIOCLÁSIO E OUTRA SUPERFICIAL GERANDO A MATRIZ ESCURA AFANÍTICA.

AMOSTRA DE GABRO, UMA ROCHA ÍGNEA PLUTÔNICA EQUIVALENTE


FANERÍTICA DO BASALTO. OS CRISTAIS PODEM SER VISTOS À OLHO NU. OS
MINERAIS BRANCOS SÃO PLAGIOCLÁSIOS CÁLCICOS E AS MASSAS ESCURAS SÃO
CRISTAIS GRANDES DE CLINOPIROXÊNIO AUGITA. BASALTOS E GABROS SÃO
MAGNÉTICOS PORQUE NORMALMENTE CONTÊM MAGNETITA COMO MINERAL
ACESSÓRIO.
FATIA DE UM GRANITO STRICTU SENSU, UMA ROCHA PLUTÔNICA RICA EM
SÍLICA E ÁLCALIS. OS CRISTAIS COR DE SALMÃO SÃO FELDSPATO POTÁSSICO, OS
CRISTAIS BRANCOS SÃO PLAGIOCLÁSIO SÓDICO, OS CRISTAIS ESCUROS SÃO
BIOTITA E ANFIBÓLIO HORNBLENDA E OS GRÃOS MAIS ACINZENTADOS DE
BRILHO VÍTREO SÃO CRISTAIS DE QUARTZO.

AMOSTRA DE ARENITO COM BANDAS COMPOSICIONAIS, AS LINHAS ESCURAS


SÃO LAMINAÇÕES SEDIMENTARES MAIS RICAS EM ÓXIDO DE FERRO. OS
ARENITOS SÃO ROCHAS SEDIMENTARES CLÁSTICAS COMPOSTAS DE 90% OU
MAIS DE FRAÇÃO AREIA NORMALMENTE DE COMPOSIÇÃO RICA EM GRÃOS DE
QUARTZO.
AMOSTRA DE FOLHELHO, UMA ROCHA SEDIMENTAR CLÁSTICA LAMINADA
COMPOSTA EM SUA MAIORIA DE ARGILOMINERAIS, RESULTANTE DA
DEPOSIÇÃO GRAVITACIONAL EM MEIO SUBAQUOSO DE SEDIMENTOS
ARGILOSOS FORMANDO CAMADAS DE LAMA QUE FORAM LITIFICADAS E
TRANSFORMADAS EM ROCHAS SEDIMENTARES LAMOSAS, OS FOLHELHOS.

AMOSTRA DE CALCÁRIO, UMA ROCHA SEDIMENTAR QUÍMICA OU BIOCLÁSTICA


COMPOSTA EM SUA MAIORIA DE CARBONATO DE CÁLCIO CUJO MINERAL É A
CALCITA. O CALCÁRIO COMPOSTO DE CARBONATO DE CÁLCIO E MAGNÉSIO, O
MINERAL DOLOMITA, É CHAMADO DE DOLOMITO.
SEÇÃO POLIDA DE UM CONGLOMERADO, UMA ROCHA SEDIMENTAR CLÁSTICA
COMPOSTA DE SEIXOS ARREDONDADOS DE OUTRAS ROCHAS SUSTENTADOS
POR UMA MATRIZ ARENOSA, ARGILÁCEA, CALCÁRIA OU SILICOSA. QUANDO OS
SEIXOS OU CLASTOS SÃO ANGULOSOS A ROCHA É CHAMADA DE BRECHA
SEDIMENTAR.

AMOSTRA DE XISTO, UMA ROCHA METAMÓRFICA DE GRAU INTERMEDIÁRIO


RESULTANTE DO METAMORFISMO DE FOLHELHOS E ARGILITOS. OS CRISTAIS
BRILHANTES SÃO MUSCOVITA, UMA MICA BRANCA E OS CRISTAIS
ARREDONDADOS VERMELHOS SÃO GRANADA ALMANDINA. AS ROCHAS
XISTOSAS SÃO FOLIADAS CONTENDO ESTRUTURAS CHAMADAS XISTOSIDADE
RESULTANTE DA ORIENTAÇÃO DOS CRISTAIS PLACOSOS DE MICAS.
AMOSTRA DE GNAISSE, UMA ROCHA METAMÓRFICA DE ALTO GRAU
RESULTANTE DO METAMORFISMO E DEFORMAÇÃO TECTÔNICA DE ROCHAS
SEDIMENTARES E ÍGNEAS. OBSERVE O BANDAMENTO COMPOSICIONAL, AS
BANDAS BRANCAS SÃO QUARTZO-FELDSPÁTICAS E AS BANDAS ESCURAS SÃO
BIOTITA-ANFIBÓLIOS.

AMOSTRA DE MIGMATITO, UMA ROCHA METAMÓRFICA RESULTANTE DE FUSÃO


PARCIAL DE XISTOS E ANFIBOLITOS. OS MIGMATITOS CONTÊM BANDAMENTOS
CAÓTICOS E PORÇÕES FÉLSICAS E MÁFICAS. AS PORÇÕES CLARAS SÃO O
LEUCOSSOMA COMPOSTO DE QUARTZO E FELDSPATOS E AS PORÇÕES ESCURAS
SÃO MELANOSSOMA E MESOSSOMA, COMPOSTOS DE BIOTITA E ANFIBÓLIOS.
Essa pequena introdução básica nos permite ver o quão complexas e
diversificadas são as rochas terrestres. No entanto, existem inúmeros tipos de
rochas e algumas delas são minérios metálicos contendo óxidos de ferro,
minerais de cromo, etc. Se você tem uma rocha escura ou meio metálica ela
pode ser um minério de sulfetos de ferro e cobre contendo associações de
minerais tais como pirita, pirrotita, calcopirita, covelita, bornita, etc. Esses
minérios podem ser facilmente confundidos com meteoritos por pessoas sem
conhecimento geológico. Evidentemente muitos minérios são magnéticos tais
como rochas contendo magnetita. Um mineral de minério comum de ferro é a
hematita que pode asssumir várias formas ou hábitos inusitados que aos olhos
podem lembrar "rochas extraterrestres". Observamos que um mineral comum
nas rochas terrestres é o quartzo. Meteoritos não contêm quartzo. Algumas
raras rochas lunares e marcianas podem conter polimorfos do quartzo,
minerais de sílica em geral como a tridimita, mas ocorrem em quantidades
ínfimas sendo praticamente minerais acessórios nestas raras rochas
extraterrestres. Se sua rocha contém quartzo ela não é um meteorito.

Se sua rocha não é um minério de ferro, mas é magnética, se for escura com
quase certeza você tem um basalto terrestre ou um gabro, a versão plutônica
do basalto. Se sua rocha contém óxidos e hidróxidos de ferro, alumínio
associada a sílica ela não é um meteorito, é uma laterita ou minério de
alumínio chamado bauxita. Rochas que contêm em abundância minerais tais
como o quartzo, feldspatos, micas, anfibólios, óxidos e hidróxidos metálicos
não são meteoritos, são rochas terrestres. Os minerais formadores de rocha
podem ser identificados de forma grosseira como? Numa rocha em que os
minerais podem ser distinguidos a olho nu se você observa grãos
esbranquiçados, rosados ou acinzentados com "pequenas linhas" em seu
interior e eles são às vezes alongados, esses grãos são feldspatos. Se você
observa porções escuras na rocha, grãos pretos distintos eles podem ser
biotita ou anfibólios. Micas em geral, a biotita e a muscovita, são plaquinhas
que se destacam da rocha. Com um canivete você pode extrair plaquinhas
desses minerais que se soltam e parecem purpurina na mão. Se você observa
na rocha grãos translúcidos, às vezes de cor branca leitosa, às vezes
acinzentados sem um formato específico, esses grãos são o quartzo. Uma
rocha desse tipo com cristais visíveis é um granito, não é meteorito.

Então quais são as principais características dos meteoritos que os distinguem


das rochas terrestres? Vamos observar aqui seis características que quando
observadas em uma visão geral confirmarão ou não a natureza de sua rocha.
Tais características são:

1. MAGNETISMO
2. CROSTA DE FUSÃO
3. REGMAGLYTOS
4. CÔNDRULOS
5. DENSIDADE
6. PADRÃO DE WIDMANSTÄTTEN

1. MAGNETISMO: A maioria dos meteoritos, os condritos e os metálicos,


possuem ferro-níquel metálico em sua matriz rochosa. É importante ter como
ferramenta de identificação um imã forte como os de neodímio tradicionais
que vêm em pastilhas. Quando você aproxima um imã de neodímio de um
meteorito ele será fortemente ou moderadamente (mais raramente) atraído
pelo imã. Se não acontecer nenhuma atração magnética a sua rocha não é um
meteorito ou você tem em sua mão um raríssimo meteorito acondrito seja do
grupo H.E.D., lunar ou marciano. Mas como a probabilidade de você ter um
raro acondrito é praticamente nula, a sua rocha precisa atender a outros
requisitos além do magnetismo para ser confirmada como meteorito. Se sua
rocha é magnética isso não é o fim, como mencionei anteriormente vários
tipos de minérios e rochas ígneas são magnéticas. Se sua rocha é magnética
ela precisa também de outros requisitos.

A MAIORIA DOS METEORITOS É MAGNÉTICA PORQUE ELES CONTÊM


FERRO-NÍQUEL METÁLICO. AQUI UM EXEMPLO DE METEORITO METÁLICO COM
CORTE E POLIMENTO, OBSERVAR A COR METÁLICA ESPELHADA NO INTERIOR
DO METEORITO EM SUAS FACES CORTADAS E POLIDAS.

2. CROSTA DE FUSÃO: Uma característica fundamental de todos os


meteoritos rochosos é a crosta de fusão. Os meteoritos rochosos possuem uma
casca fina escura envolvendo-os e ela se forma quando a rocha é aquecida até
mais de 2000 graus centígrados ao entrar na atmosfera terrestre. Na entrada
atmosférica o meteoroide se funde e cria uma fina película de material fundido
em volta da rocha original, essa fina película geralmente de cor preta ou
marrom é a crosta de fusão. Quando você corta a rocha consegue visualizar a
diferença entre sua superfície e seu interior. A superfície está coberta com a
crosta de fusão. A crosta de fusão tem texturas de aerodinâmica tais como
linhas de fluxo, padrões orientados, pode um possuir um brilho vítreo,
pequenas fraturas de contração térmica e regmaglytos. Veremos a seguir o que
é um regmaglyto. Raros meteoritos acondritos podem ter uma crosta de fusão
esverdeada, meteoritos lunares podem ter uma crosta de fusão bege às vezes
com bolhas na superfície devido ao escape de gases presos na rocha lunar, se
for uma brecha de regolito lunar. Esses gases são geralmente hélio e argônio
implantados por ventos solares na superfície lunar, sendo incorporados no
regolito lunar. Se sua rocha não possui crosta de fusão ela não é um meteorito.
Em raríssimas situações o meteorito, se estiver muito intemperizado, pode ter
perdido sua crosta de fusão. Se sua rocha é um meteorito cuja crosta de fusão
foi eliminada por qualquer motivo que seja, ela precisa atender outros
requisitos além do magnetismo e da crosta de fusão.

METEORITO ROCHOSO QUASE COMPLETAMENTE COBERTO PELA CROSTA DE


FUSÃO, UMA CASCA ESCURA E COM TEXTURAS DE FLUXO AERODINÂMICO.
OBSERVAR O TOPO DA ROCHA SEM A CROSTA DE FUSÃO REVELANDO SEU
INTERIOR MAIS CLARO EM RELAÇÃO À CROSTA CINZA ESCURA.

CROSTA DE FUSÃO COM FRATURAS DE CONTRAÇÃO TÉRMICA OU CONTRACTION


CRACKS EM INGLÊS. OBSERVAR COMO A CROSTA DE FUSÃO É UMA CASCA QUE
ENVOLVE O METEORITO.
CROSTA DE FUSÃO DE UM ACONDRITO APRESENTANDO LINHAS DE FLUXO.

METEORITO COM CROSTA DE FUSÃO AINDA VISÍVEL COM SUA SUPERFÍCIE


APRESENTANDO ESTÁGIO MODERADAMENTE AVANÇADO DE ALTERAÇÃO
TERRESTRE. O INTEMPERISMO DA CROSTA DE FUSÃO EM DESERTOS DEIXA A
SUPERFÍCIE DO METEORITO COM ASPECTO ENVERNIZADO, ESSE BRILHO É
RESULTANTE DO ACÚMULO DE ARGILOMINERAIS RICOS EM ÓXIDOS DE FERRO
E MANGANÊS FORMANDO UM DESERT VARNISH OU VERNIZ DO DESERTO NO
METEORITO.
3. REGMAGLYTOS: Essa palavra vem do grego, regma significa desgaste,
escavação e glyptos significa encravar, escrever; ou seja, são marcas de
desgaste atmosférico impressas na superfície do meteorito. Os regmaglytos
são mais reconhecíveis em meteoritos metálicos. Essas estruturas se formam
devido à ablação atmosférica do meteoroide quando de sua queda, a massa de
ferro-níquel apresenta comportamento plástico em alta temperatura no
meteoroide se moldando ao sabor da turbulência do ar superaquecido que
envolve a rocha gerando estruturas aerodinâmicas na superfície do meteorito.
Os regmaglytos lembram depressões geradas no barro mole quando o
pressionamos com o dedo. Por isso os regmaglytos às vezes são chamados em
inglês de thumbprints, ou seja, impressões de dedo. Se você acha que sua
rocha é um meteorito, supondo que seja um meteorito, provavelmente seu
meteorito é um condrito. Os condritos representam mais de 80% dos
meteoritos coletados, ou seja, seu meteorito é rochoso. Como tal normalmente
os meteoritos rochosos não apresentam regmaglytos, se apresentam estes não
são tão expressivos quanto num meteorito metálico e muitos meteoritos
metálicos não apresentam obrigatoriamente regmaglytos evidentes.

METEORITO METÁLICO APRESENTANDO INÚMEROS SULCOS EM SUA


SUPERFÍCIE, ESSES SULCOS SÃO OS REGMAGLYTOS, ESTRUTURAS GERADAS POR
TURBULÊNCIA DE AR QUENTE PELA ABLAÇÃO ATMOSFÉRICA DO METEOROIDE
DURANTE SUA QUEDA. O COMPORTAMENTO PLÁSTICO DO FERRO-NÍQUEL
PERMITE MOLDAR OS REGMAGLYTOS DE FORMA BEM EVIDENTE.
UM DOS INDIVIDUAIS DO METEORITO METÁLICO SIKHOTE-ALIN COM TÍPICOS
REGMAGLYTOS.

4. CÔNDRULOS: Como dito anteriormente, supondo que sua rocha seja um


meteorito ela provavelmente é um condrito. Os condritos são os meteoritos
mais comuns de se encontrar. Então sua rocha tem de ter obrigatoriamente
côndrulos. Quando você corta a sua rocha é visível os flocos de ferro-níquel
contra a luz e você deve reconhecer pequenas estruturas arredondadas
geralmente com diâmetros de 1 mm. Essas bolinhas de minerais
ferromagnesianos são os côndrulos. O passo fundamental para confirmar a
textura de uma rocha, sendo ela um meteorito ou não, chama-se petrografia. A
petrografia é o estudo fundamental das rochas que consiste de analisar uma
fina lâmina de rocha em um microscópio petrográfico. Essa análise se faz
utilizando luz polarizada e se faz o reconhecimento dos minerais presentes na
rocha através de suas propriedades ópticas. É necessário um profissional na
área de geologia e mineralogia para se obter um laudo técnico sobre a rocha
em análise petrográfica. Somente a petrografia pode confirmar a presença dos
côndrulos. Uma pessoa experiente de olho treinado já sabe o que é um
meteorito e quando é um condrito. Consegue visualizar os flocos de
ferro-níquel na rocha e os côndrulos com uma lupa de mão. Se sua rocha não
possui côndrulos e ferro-níquel ela não é um meteorito. Se for um meteorito
será um raro acondrito, mas este deve ter os requisitos listados acima e não
pode conter os minerais mencionados anteriormente que são abundantes nas
rochas terrestres e estão ausentes nos meteoritos.
EXEMPLO DE UM CONDRITO CORTADO COM SUA FACE POLIDA, O INTERIOR DE
UM CONDRITO REVELA RODELAS DE MINERAIS FERROMAGNESIANOS, ESTAS
PEQUENAS, MILIMÉTRICAS, ESFÉRULAS MINERAIS SÃO OS CÔNDRULOS.

NESTA FATIA DE CONDRITO OS CÔNDRULOS ESTÃO BEM EVIDENTES.


CÔNDRULOS EVIDENTES EM UMA FATIA DE CONDRITO CARBONÁCEO.

5.DENSIDADE: Uma propriedade física não muito utilizada, mas


extremamente importante para complementar o estudo das rochas é a
densidade. A densidade é a massa da rocha dividida pelo volume que ela
ocupa no espaço. Desconsiderando espaços vazios na rocha, que não é muito
comum um meteorito ser poroso, temos a massa específica da rocha. A massa
específica é a quantidade de matéria que a rocha tem em gramas dividida pelo
volume ocupado pela matéria da rocha. A diferença entre densidade e massa
específica é sutil. Por exemplo, considere um cubo de alumínio com 1 cm de
aresta. O volume desse cubo é 1 centímetro cúbico. Agora considere que esse
cubo de alumínio é oco, apenas formado por uma casca de alumínio. A
densidade do cubo é a sua massa, caracterizada apenas pela região onde existe
alumínio, dividida pelo seu volume total, que inclui o espaço vazio do cubo, o
espaço que não está preenchido por alumínio. Agora considere este mesmo
cubo totalmente feito de alumínio.

Sua densidade será maior do que a de um cubo oco. Essa densidade é igual à
massa específica do alumínio que representa a massa de alumínio dividida
pelo volume ocupado pela massa de alumínio, sem espaços vazios. Quando
tratamos de rocha estamos geralmente falando de densidade em vez de massa
específica porque uma rocha pode conter vazios em seu interior. A quantidade
de vazios em uma rocha é medida pela sua porosidade. A porosidade é o
percentual de espaços vazios na rocha em relação a seu volume total.
Geralmente os meteoritos possuem porosidade praticamente nula. Raros
meteoritos contém vazios, e quando contêm a sua porosidade é inferior, por
exemplo, a de uma rocha sedimentar terrestre. Um meteorito rochoso possui
densidade semelhante às rochas do manto terrestre, variando normalmente
de 3,0 até 3,4 gramas por centímetro cúbico. Em comparação, as rochas
terrestres mais comuns, os granitos, possuem densidade média de 2,8 gramas
por centímetro cúbico. A densidade do quartzo (sua massa específica) é igual a
2,65 gramas por centímetro cúbico. Se sua rocha tem densidade entre 3,0 e
3,4 g/cm³, ela provavelmente será uma rocha terrestre máfica-ultramáfica
representadas geralmente por gabros e peridotitos. Se você sabe que sua rocha
não é terrestre, então ela é um meteorito se estiver dentro dessa faixa de
densidade. A diferença de densidade é ainda maior se considerarmos uma
massa de hematita e uma de uma meteorito metálico. A densidade da
hematita varia de 4,7 a 5 g/cm³ enquanto a densidade dos meteoritos
metálicos varia de 7,8 a 8 g/cm³. Abrindo um parênteses aqui, uma hematita e
uma magnetita possuem uma característica cor de traço. O que é uma cor de
traço? Pegue uma placa de porcelana porosa e sua rocha que você acha que é
um meteorito metálico. Esfregue a rocha na placa. O risco deixado na placa
tem uma cor característica do mineral que forma a rocha. Se você tiver em sua
mão uma amostra de hematita ela deixará um risco marrom na porcelana. Se
sua rocha for uma amostra de magnetita ela deixará um risco preto na
porcelana.

Se sua rocha for um meteorito metálico ela deixará um traço incolor na


porcelana. A densidade da magnetita está em torno de 5,15 g/cm³.
Dificilmente um minério terrestre terá densidade que se aproxime de um
meteorito metálico. Se você tem uma rocha em sua mão que ultrapassa essa
densidade de 8 g/cm³ ela não será um meteorito, mas sim um raro minério
terrestre metálico, pode ser uma pepita de platina ou ouro. Mas aí o ouro tem
suas características próprias totalmente distintas de um meteorito. O minério
terrestre que se aproxima da densidade de um meteorito metálico é o de
chumbo representado pelo mineral galena, o sulfeto de chumbo, com uma
massa específica de 7,4 g/cm³, mesmo assim ainda inferior. Outra
possibilidade é o próprio metal ferro de origem artificial ou ligas metálicas
artificiais. Provavelmente você tem em suas mãos uma escória de fundição de
siderúrgicas ou um pedaço de chumbo. Mas o chumbo tem uma densidade de
11,37 g/cm³, muito além de um meteorito metálico. Enfim, se sua rocha está
na faixa de densidade entre 7,8 a 8 g/cm³ ela será um meteorito metálico ou
um material metálico artificial. Como saber se é ou não um material metálico
artificial?

6. PADRÃO DE WIDMANSTÄTTEN: Se você acredita que sua rocha é um


meteorito metálico, para diferenciá-la de um material terrestre artificial
metálico é necessário realizar a metalografia da rocha. Primeiramente corta-se
a rocha e a face cortada é polida e preparada para o ataque químico. O ataque
químico da face cortada da rocha é necessário para revelar padrões de
cristalização do metal. Este é realizado aplicando nital na superfície da face
cortada. O nital é uma solução de ácido nítrico e álcool etílico. Esse
tratamento químico revela em um meteorito metálico os padrões de
Widmanstätten que são lamelas de exsolução da fase kamacita na fase taenita
formando padrões de simetria tridimensional octaédrica entrecruzados. Os
meteoritos metálicos são geralmente octaedritos e estes apresentam esse
padrão. Se o meteorito for um hexaedrito ou ataxito ele normalmente não terá
esse padrão de estrutura cristalina. No entanto no corte tratado quimicamente
podem se revelar estruturas distintas em forma de "bolsões" e nódulos de
troilita e schreibersita características de meteoritos metálicos. Além disso o
teor de níquel também pode confirmar a origem extraterrestre do metal.
Normalmente os materiais metálicos artificiais tais como escórias de fundição
e ligas como ferro-silício não contêm quantidades significativas de níquel. O
teor de níquel em um meteorito metálico é superior a 5% em massa. Essa
quantidade de níquel não existe em fases metálicas em rochas terrestres.
Existe um simples teste químico que pode ser realizado para confirmar a
presença de níquel em sua amostra.

Os reagentes necessários são: Uma solução de dimetilglioxima, solução de


amônia (por exemplo: hidróxido de amônio, sulfato de amônio, cloreto de
amônio, etc) e ácido clorídrico. Pegue um cotonete limpo e mergulhe no ácido
clorídrico, em seguida esfregue o cotonete molhado com ácido clorídrico por
cerca de 1 minuto e meio na rocha a ser analisada. Separe o cotonete do ácido
e pegue outro cotonete limpo e mergulhe na solução de dimetilglioxima, em
seguida mergulhe o mesmo cotonete com dimetilglioxima na solução de
amônia. Em seguida encoste o cotonete com ácido com o cotonete contendo
dimetilglioxima e solução de amônia. Se os cotonetes ficarem rosas significa
que existe níquel na sua amostra.

FACE DE CORTE DE UM METEORITO METÁLICO QUE FOI POLIDA E TRATADA


COM NITAL PARA REVELAR AS ESTRUTURAS DE WIDMANSTÄTTEN
CARACTERÍSTICAS DE UM METEORITO METÁLICO OCTAEDRITO. OBSERVAR OS
PADRÕES GEOMÉTRICOS QUE REPRESENTAM LAMELAS DE CRISTAIS DE
KAMACITA E TAENITA.
PADRÃO DE WIDMANSTÄTTEN COM LAMELAS MAIS GROSSAS.

Vimos um pouco sobre as características básicas que permitem distinguir um


meteorito de uma rocha terrestre. Agora como supracitado vamos verificar
quais características excluem a possibilidade de sua rocha ser um meteorito.
Em inglês usa-se um trocadilho para as rochas que parecem meteoritos, mas
não são, são os METEORWRONGS, que traduzindo livremente seria
"meteorerrados". Muitas rochas são muito parecidas visualmente com
meteoritos, os meteorwrongs são diversos e muitos representam rochas
terrestres com uma mineralogia muito complexa. Uma vasta gama de rochas
terrestres podem ser meteorwrongs muito convincentes. As características que
podem ser destacadas que não se aplicam aos meteoritos são:

1. PRESENÇA DE BOLHAS E VESÍCULAS: Bolhas e vesículas não


ocorrem em meteoritos, essas estruturas são características do escape de gases
dissolvidos em magma sob alta pressão resultando em rochas vulcânicas
terrestres que apresentam estas estruturas. Muitas vezes as vesículas podem
estar preenchidas com minerais de baixa temperatura resultantes da
precipitação a partir de fluidos terminais do magma basáltico formando
"minigeodos" chamados de amígdalas. Em raríssimas situações rochas lunares
podem conter vesículas de escape, de fato algumas amostras de basaltos
lunares trazidos pelas missões Apollo da NASA são rochas vesiculares.
Quando uma rocha contém muitas vesículas por unidade de volume elas são
classificadas como tendo uma textura escoriácea. Nenhum meteorito lunar até
hoje coletado apresentou-se como basalto vesicular.

Outro meteorito anômalo e único no planeta até agora é o eucrito Ibitira que
contém vesículas de escape de gases vulcânicos. Os eucritos são basaltos
asteroidais oriundos do asteroide 4 Vesta, como tais podem representar
amostras de derrames basálticos na superfície do asteroide e alguns deles
podem eventualmente apresentar vesículas de degaseificação do magma.
Outro raro exemplo é do acondrito angrito D'Orbgny que apresenta vesículas
de degaseificação vulcânica porque os angritos também são basaltos
asteroidais. Salvo estas raríssimas excessões os meteoritos não possuem
vesículas e nem amígdalas. Além disso, muitos resíduos industriais de ferro e
alumínio apresentam um formato irregular que lembra muito meteoritos
metálicos, mas lembre-se de que são menos densos e apresentam
normalmente em seu interior vesículas. A hematita também é muito
confundida com meteorito, mas quando ela é cortada seu interior é escuro ou
marrom e pode conter vazios de dissolução de minerais que coexistiam com a
hematita em um minério. Existe uma infinidade de materiais artificiais que
possuem bolhas de ar. Vidros e escórias são os exemplos mais comuns.

AMOSTRA DE ESCÓRIA, TÍPICO "METEORWRONG". OBSERVAR O PADRÃO


VESICULAR E BRILHO VÍTREO DA AMOSTRA. AS ESCÓRIAS OU SLAGS EM INGLÊS
SÃO TAMBÉM MUITO MENOS DENSAS QUE UM METEORITO VERDADEIRO E
CONTÊM SÍLICA.
AMOSTRA DE ESCÓRIA VESICULAR SILICOSA.

AMOSTRA DE ESCÓRIA MENOS POROSA E MAGNÉTICA.


AMOSTRA DE BASALTO VESICULAR. ROCHAS COM UM GRANDE NÚMERO DE
VESÍCULAS POSSUEM TEXTURA ESCORIÁCEA.

2. QUARTZO E MINERAIS SECUNDÁRIOS: Como dito várias vezes


aqui se a sua rocha contém quartzo ela não é um meteorito. Além disso,
meteoritos não possuem minerais que são produto de alteração aquosa como
hidróxidos e oxi-hidróxidos de alumínio e ferro, não possuem óxidos e
hidróxidos de manganês, entre outros. Por exemplo, comuns minerais de
minério e associados a minérios metálicos são hematita, goetita, gibsita,
hematita, crisocola, psilomelano, pirolusita, etc. Rochas com crostas de óxidos
de ferro tais como lateritas em geral também são muito confundidas com
meteoritos. No entanto, as lateritas são porosas, contendo vazios de
dissolução mineral e lixiviação, possuem teores variáveis de sílica e isso já
exclui a remota possibilidade de uma laterita ser um meteorito. Em resumo,
rochas contendo em sua maioria quartzo não são meteoritos. Rochas contendo
em sua maioria quartzo, feldspatos, micas e anfibólios não são meteoritos,
podem ser granitoides, xistos e gnaisses.

Rochas escuras não significam meteoritos, podem significar muitas coisas,


entre elas: Que possui minerais escuros, que possui uma capa de alteração por
oxidação, são rochas vulcânicas afaníticas, não são rochas e sim produtos
aritificiais tais como asfaltos e concretos, etc. Observo muitos exemplos na
internet de "meteoritos" qua na verdade são blocos de quartzito (uma rocha
metamórfica derivada do arenito), os quartzitos têm variadas cores e texturas,
seixos de quartzito podem estar arredondados por ação da água de rios
durante milhares de anos lembrando formas "aerodinâmicas". Outras rochas
são cortadas claramente por veios de quartzo-feldspato sendo provavelmente
quartzitos, granitoides ou gnaisses. Vejo também muitas amostras de gnaisse
com o característico bandamento composicional. Esses exemplos, além de
mostrarem claramente serem rochas quartzosas, apresentam nenhuma
característica de meteorito, principalmente a ausência de uma visível crosta de
fusão. Enfim, rochas ricas em quartzo e feldspato não são meteoritos!
AMOSTRA DE HEMATITA COM HÁBITO BOTRIOIDAL (FORMA DE "BOLOTAS"). A
HEMATITA É UM MINERAL DE MINÉRIO DE FERRO COMUM E NORMALMENTE
RESULTANTE DE ALTERAÇÃO INTEMPÉRICA DE MINÉRIOS DE FERRO DE
ORIGEM MAGMÁTICA OU HIDROTERMAL.

AMOSTRA DE HEMATITA BOTRIOIDAL.


MINÉRIO DE FERRO MAGNETÍTICO, COMPOSTO POR UMA MASSA DE
MAGNETITA.

BLOCO DE ROCHA MÁFICA CORTADA POR VEIOS DE QUARTZO.

3. TEXTURAS OOLÍTICAS E PISOLÍTICAS: Muitas vezes é possível


encontrar rochas que são confundidas com os condritos. Primeiramente, se
sua rocha que você acha que é um condrito não tem crosta de fusão, não é um
meteorito. Mas existe a possibilidade do meteorito ter perdido sua crosta de
fusão seja por intemperismo ou por ação antrópica seja qual for o motivo. Se
for esse o caso a pessoa pode ter uma amostra de rocha com textura de
bolinhas que lembram côndrulos. No entanto existem rochas sedimentares
que apresentam textura de bolinhas e estas são chamadas texturas oolíticas
quando as esférulas são milimétricas e pisolíticas quando as esférulas são
centimétricas. Minérios de alumínio como bauxita podem ter textura pisolítica
assim como alguns tipos de minérios de ferro e lateritas. Uma rocha com esses
tipos de texturas não são magnéticas e têm uma densidade inferior a 3 g/cm³,
portanto, não é um condrito, é uma rocha terrestre de natureza sedimentar ou
minérios de ferro e alumínio. Rochas sedimentares com textura oolítica são
calcários oolíticos. Ao microscópio observa-se estas estruturas arredondadas
que são sedimentos compostos de calcita que são retrabalhados em regiões de
maré em águas rasas em bacias sedimentares marinhas.

O resultado são os oóides que são pequenas esférulas carbonáticas que são
cimentados juntos numa matriz calcária ou silicosa sendo chamados de oólitos.
Além da baixa densidade, é possível saber se sua rocha é carbonática pingando
algumas gotas de ácido clorídrico na sua amostra. A região gotejada vai
efervescer pela liberação de dióxido de carbono quando carbonato de cálcio
reage com o ácido clorídrico. Se sua rocha for um calcário mais magnesiano
faça um pó da rocha riscando contra uma superfície mais dura e então aplique
o ácido clorídrico. O pó vai efervescer lentamente devido à reação mais
demorada entre o carbonato de magnésio e o ácido clorídrico. Dois fatores
primordiais vão distinguir um condrito verdadeiro de uma rocha oolítica ou
pisolítica. Os condritos possuem geralmente côndrulos milimétricos, logo se
exclui texturas pisolíticas. Rochas oolíticas possuem densidade muito baixa,
são muito porosas e não são magnéticas. Os condritos possuem densidade
superior a 3 g/cm³ e ferro-níquel, sendo magnéticos.

AMOSTRAS DE CALCÁRIO OOLÍTICO.


CALCÁRIO OOLÍTICO AO MICROSCÓPIO, OBSERVAR AS ESTRUTURAS
CONCÊNTRICAS DOS OÓLITOS ALÉM DE SEREM COMPOSTOS BASICAMENTE DE
CARBONATO DE CÁLCIO E IMERSOS EM UMA MATRIZ COMPOSTA DE
CARBONATO DE CÁLCIO. MUITOS OÓLITOS SE APRESENTAM DEFORMADOS
DEVIDO À COMPRESSÃO DOS PACOTES DE ROCHAS SEDIMENTARES
SOBREJACENTES DURANTE SOTERRAMENTO DESTA ROCHA CALCÁRIA.

FACE POLIDA DE UMA BAUXITA COM TEXTURA PISOLÍTICA. AS ESFÉRULAS SÃO


OS PISÓLITOS COMPOSTOS DE ÓXIDOS E HIDRÓXIDOS DE ALUMÍNIO QUE SE
DEPOSITARAM DE FORMA COLOIDAL EM PADRÕES CONCÊNTRICOS. A BAUXITA
É O MINÉRIO DE ALUMÍNIO, ALÉM DE SER MUITO MENOS DENSO QUE
QUALQUER METEORITO CONDRÍTICO.
MINÉRIO DE FERRO PISOLÍTICO CHAMADO IRONSTONE, COMPOSTO EM SUA
MAIORIA DE HEMATITA.

Durante muito tempo tenho recebido e-mails e mensagens em redes sociais


contendo fotos de rochas diversas de pessoas que querem saber se suas
amostras são meteoritos. Esse capítulo tem o intuito de esclarecer melhor
algumas questões fundamentais sobre reconhecimento de rochas. De fato,
identificar uma rocha através de fotos é muito complicado, mas a maioria das
rochas terrestres é facilmente identificada em uma foto bem feita e detalhes
extras como densidade da amostra, local de coleta, etc são fundamentais para
complementar esse "diagnóstico". Eu encorajo as pessoas a fazerem o
procedimento de identificação como mostrado neste artigo antes de mandar
fotos e informações extras por meios eletrônicos. Lembre-se de que é muito
mais provável que sua amostra seja uma rocha terrestre. Uma dica extra sobre
desvendar a composição de uma rocha é através de sua dureza. Rochas
terrestres normalmente contêm quartzo. A dureza do quartzo na escala de
Mohs é 7. Faça o teste do risco no vidro. Pegue sua amostra e risque (com
força, mas não muito forte para não quebrar o vidro) contra uma superfície de
vidro. A dureza do vidro na escala de Mohs varia entre 5 e 6. Se sua amostra
fizer um risco no vidro ela contém quartzo e, portanto, não é um meteorito.

Algo que observo é que algumas pessoas vão fazer análise química de sua
rocha e querem um diagnóstico através de meio eletrônico só com análise
química. Eu digo deveras que uma identificação geológica séria requer análise
petrográfica associada a análise química. É possível deduzir muitas coisas de
análises químicas de rochas, mas sem uma petrografia de qualidade é
impossível "bater o martelo" definitivamente sobre o tipo de rocha que
estamos analisando. Portanto, um sério diagnóstico é feito através de lâminas
delgadas sendo analisadas ao microscópio petrográfico. Então associada à
petrografia vem a análise química. Um comentário com relação à análise
química que posso fazer é: Normalmente essas análises mostram a
composição da rocha na forma de óxidos dos elementos químicos, óxidos de
silício, alumínio, titânio, magnésio, cálcio, sódio, potássio, manganês, ferro e
fósforo. Rochas teores de óxido de silício (sílica) de 70% não são meteoritos,
são provavelmente granitos ou rochas vulcânicas equivalentes. Rochas com
altos teores associados de sódio, potássio e silício e baixo teor de ferro e
magnésio não são meteritos. Mas como eu disse, análise química sozinha não
diz nada sobre a rocha, é necessária a petrografia para saber quais fases
minerais compõem a rocha. Sabendo a geologia básica do local de coleta ajuda
muito em qualquer avaliação preliminar de rochas amostradas em campo,
ainda mais quando são amostras soltas.
4. Asteroides: Remanescentes da Formação Planetária

ASTEROIDE 4-VESTA, FOTOGRAFADO PELA SONDA DAWN DA NASA EM 2012.

Os asteróides, de acordo com a antiga teoria dos planetesimais, são rochas


primitivas que tiveram intensa participação na formação dos planetas e seus
respectivos satélites naturais. Mas recentes pesquisas feitas por astrônomos,
revelaram que os asteróides são mesmo é produto final de formação dos
planetas. Isso significa que os asteróides não formaram os planetesimais, mas
foram os planetesimais que os formaram.

Os asteróides são rochas gigantescas que se agruparam em gigantescos


cinturões no Sistema Solar. O cinturão de Kuiper cerca o Sistema Solar além
da órbita de Plutão (lembrando que Plutão não é mais contado como planeta.
Ele deu origem a uma nova classe de corpos celestes, os plutóides, que são
planetas anões, eles estão entre os asteróides e os planetas na classificação
dimensional). O segundo cinturão encontra-se entre as órbitas de Marte e de
Júpiter, separando o sistema solar interior (dos planetas rochosos) do sistema
solar exterior (dos planetas gasosos).

Obviamente, inúmeros asteróides ainda conservam suas propriedades


primordiais, os asteróides carbonáceos, por exemplo, são primitivos, eles
representam pedaços de planetesimais, os asteróides condríticos também. Os
asteróides basálticos é que sofreram um largo processo de diferenciação
planetária devido ao decaimento radioativo de radioisótopos de meia-vida
curta como o alumínio-26, mas os cientistas acreditam que esses asteróides
alterados são na verdade pedaços de um planeta-anão que se quebrou devido
a impactos com outros asteroides, mas é apenas especulação essa nova
explicação. Os meteoritos de composição basáltica com minerais não oxidados
são oriundas da crosta superior e inferior do asteroide 4-Vesta. Este asteroide
tem 500 km de diâmetro médio e é o maior do Sistema Solar. Ceres, com 900
km de diâmetro, foi promovido para planeta anão.
O Vesta é um asteroide diferenciado, isto é, tem massa suficiente para ter
desenvolvido crosta, manto e núcleo, devido ao decaimento radioativo do
alumínio-26. Apesar dos condritos carbonáceos mais antigos terem a
composição mais primordial do Sistema Solar, isto é, eles apresentam a
distribuição de elementos químicos não voláteis semelhante à distribuição
medida para a fotosfera solar, eles tiveram sua mineralogia original
modificada pela alteração aquosa de baixa temperatura que promoveu a
oxidação e hidratação das olivinas e piroxênios da matriz destes condritos,
produzindo minerais secundários hidratados como serpentinas e cloritas e o
ferro-níquel foi oxidado para magnetita e sulfetos metálicos tais como
pentlandita e pirrotita. Os condritos carbonáceos CI e CM apresentam estas
alterações aquosas.

FATIA CHEIA DO ACONDRITO CAMEL DONGA, UM EUCRITO, ESSE METEORITO É


UM BASALTO AUGÍTICO BRECHADO ORIUNDO DA CROSTA DO ASTEROIDE
VESTA, UMA ROCHA ÍGNEA VULCÂNICA RESULTANTE DE UM ASTEROIDE
GEOLOGICAMENTE ATIVO, COM CROSTA, MANTO E NÚCLEO DIFERENCIADOS.

FRAGMENTO DO METEORITO MURCHISON, UM CONDRITO CARBONÁCEO TIPO


CM2, ORIUNDO DE ASTEROIDES CARBONÁCEOS QUE GUARDAM A COMPOSIÇÃO
COSMOQUÍMICA ORIGINAL DO SISTEMA SOLAR, MAS QUE PASSARAM POR
PROCESSO DE ALTERAÇÃO AQUOSA DOS MINERAIS FERROMAGNESIANOS
GERANDO UMA MATRIZ RICA EM ÁGUA ESTRUTURAL, ESTE METEORITO
CONTÉM ALTO TEOR EM CARBONO NA FORMA DE GRAFITA, CARBETOS E
MOLÉCULAS ORGÂNICAS.
Os asteroides parentais dos condritos L, LL e H também passaram por
modificações de sua textura original num processo chamado de
metamorfismo termal. Os tipos petrológicos dos meteoritos de 3 a 6 indicam o
grau de recristalização da matriz original dos condritos. O tipo petrológico 3
representa os condritos primitivos, que preservam a matriz fina e amorfa
original acrecionada do disco protoplanetário e preserva as estruturas
originais dos côndrulos, o material ígneo do disco protoplanetário. Quando os
planetesimais se aglutinaram em tamanhos maiores, o calor liberado por
radioisótopos forneceu energia para recristalizar as porções mais internas dos
asteroides gerando um gradiente de temperatura.

As porções superiores do asteroide conservaram a textura original dos


condritos primitivos, o tipo petrológico 3, mas as porções interiores do
asteroide foram modificadas pelo metamorfismo termal gerando
recristalização de grau crescente da matriz original dos condritos, passando
pelos tipos petrológicos 4 até o 6. Os condritos do grupo químico L vieram de
asteroides do grupo L, os do grupo LL vieram de asteroides com composição
LL e os H vieram de asteroides com composição H. Isto se dá porque o teor de
ferro e magnésio nos minerais e o ferro livre na fase metálica indicam regiões
distintas de condensação planetesimal no disco protoplanetário, quando o
Sistema Solar tinha menos de 4 milhões de anos de idade.

Os asteroides carbonáceos, representados pelos condritos carbonáceos CI e


CM, são classificados em tipos petrológicos 1 e 2, que representam
modificações mineralógicas e texturais de baixa temperatura caracterizadas
por alterações aquosas. Estes asteroides orbitam as porções externas do
Cinturão Principal, então estes condensaram junto de gelos, principalmente
de água durante a era pré-planetária e o calor resultante de decaimento
radioativo de isótopos tais como o alumínio-26 fundiu os gelos e induziu a
alteração da mineralogia original destes condritos. O carbono, um elemento
cosmoquimicamente volátil, se condensou em fases inorgânicas e orgânicas na
matriz dos condritos carbonáceos, na forma de grafita, carbetos e moléculas
orgânicas. O teor de carbono nos condritos CI, por exemplo, chega a 5% em
massa. O teor de água nos condritos CI chega a 20% em massa.

Muitos asteroides são fragmentos de protoplanetas diferenciados, pedaços de


núcleos metálicos destes planetas, pedaços do manto peridotítico destes
protoplanetas e fragmentos da crosta basálticad destes. Os asteroides
metálicos e rocho-metálicos são resultantes de violentos impactos entre
embriões planetários na época da acreção planetária que formou os planetas
rochosos no sistema solar interior. Estes asteroides representam tanto a
fragmentação dos núcleos metálicos diferenciados destes embriões
planetários, quanto a amalgamação de diferentes tipos de fragmentos
formando os asteroides rocho-metálicos. Asteroides também podem ser
aglomeração de vários fragmentos soltos de outras colisões passadas, tais
asteroides têm baixa densidade e apresentam suas partes ligadas pela fraca
gravidade dos mesmos, estes são chamados em inglês de ruble piles ou pilhas
de escombros. Nas observações astronômicas os asteroides são monitorados
principalmente na faixa das ondas de rádio e do infravermelho. No espectro
infravermelho os asteroides foram separados em classes espectrais e foram
correlacionados ao espectro medido em laboratório de diversos meteoritos. Os
asteroides são então classificados:

-ASTERÓIDES ROCHOSOS (classe espectral D ou C)


-ASTERÓIDES METÁLICO-ROCHOSOS (classe espectral S)
-ASTERÓIDES METÁLICOS (classe espectral S)

DIAGRAMA DOS TIPOS DE DIFERENCIAÇÃO ASTEROIDAL. ASTEROIDES


CONDRÍTICOS APRESENTANDO GRADIENTE DE METAMORFISMO TERMAL
CONCÊNTRICO, E ASTEROIDES DIFERENCIADOS EM CROSTA, MANTO E NÚCLEO,
QUE GERALMENTE ERAM EMBRIÕES PLANETÁRIOS QUE DEPOIS FORAM
FRAGMENTADOS EM COLISÕES.

GRÁFICO DE REFLECTÂNCIA NO ESPECTRO INFRAVERMELHO MOSTRANDO A


SIMILARIDADE DOS ESPECTROS MEDIDOS PARA ASTEROIDES E OS ESPECTROS
MEDIDOS EM LABORATÓRIO PARA OS METEORITOS.

Por volta de 4,1 bilhões de anos atrás o Sistema Solar passou por uma segunda
época de alta frequência de colisões cósmicas. Os planetas gigantes gasosos,
Netuno e Urano, trocaram de posição orbital gerando um desequilíbrio
gravitacional no Cinturão de Kuiper e no Cinturão Principal. Como resultado,
bilhões de cometas e asteroides mergulharam no sistema solar interior
recheando de crateras todos os planetas e luas, incluindo a Terra. Na época, a
crosta terrestre estava em processo de maturação tectônica e foi intensamente
retrabalhada por estes impactos cósmicos. Acredita-se que água e matéria
orgânica molecular foi trazida para a Terra neste evento chamado de
Bombardeamento Pesado Tardio. Este bombardeamento foi datado
analisando as crateras na Lua e fazendo correlação com dados isotópicos das
rochas lunares trazidas pelas missões Apollo da NASA.

Os asteroides próximos da Terra recebem a denominação genérica de NEAs


(Near Earth Asteroids) e constantemente são monitorados, mas a capacidade
de monitorar todos ainda se apresenta de forma limitada. A possibilidade de
impactos cósmicos de grande magnitude são remotas, mas vimos como num
curto espaço de tempo grandes meteoros atingiram a Terra tais como o bólido
de Tunguska em 1968, o bólido de Sikhote-Alin em 1947 e o bólido de
Chelyabinsk em 2013. Todos estes aconteceram na Rússia por representar
estatisticamente uma região de maior área continental. Isto são eventos
registrados. Muitos outros grandes meteoros devem atingir a Terra no Oceano
Pacífico, em regiões isoladas sem a presença humana para testemunhar tais
eventos.

GRÁFICO DA IDADE VERSUS FREQUÊNCIA DE COLISÕES CÓSMICAS OBTIDO A


PARTIR DA CORRELAÇÃO ENTRE IDADES DE ROCHAS LUNARES TRAZIDAS DAS
MISSÕES APOLLO E DA CONTAGEM DE CRATERAS NA LUA. NOTA-SE UM PICO DE
ATIVIDADE POR VOLTA DE 3,9 BILHÕES DE ANOS ATRÁS, A ÉPOCA DO
BOMBARDEAMENTO PESADO TARDIO, QUE FORMOU A MAIORIA DAS CRATERAS
VISTAS HOJE NA LUA, EM MARTE, MERCÚRIO E NOS CORPOS MENORES DO
SISTEMA SOLAR.

Alguns impactos são observados na superfície da Lua, de asteroides de


pequenas dimensões. Asteroides próximos à Terra normalmente são
meteoroides com tamanhos entre 10 m até partículas de poeira interplanetária
microscópicas. Este material cósmico cai em toneladas todos os anos no
planeta. Meteoritos são resultado da entrada destes pequenos meteoroides na
atmosfera terrestre. Pequenos asteroides são importantes para a pesquisa
científica, sem estes não haveriam meteoritos para se estudar e não
saberíamos quase nada sobre a composição química dos materiais
pré-planetários e sobre a história do Sistema Solar.

Algumas missões não tripuladas foram enviadas para estudar os asteroides. A


primeira sonda a fotografar asteroides de perto foi a Galileu da NASA. Outras
sondas da NASA e ESA foram enviadas ao espaço para estudar estes
remanescentes da formação do Sistema Solar, uma destas missões notáveis foi
a sonda Dawn que estudou o planeta anão Ceres e o asteroide 4-Vesta. A
sonda OSIRIS-REX foi enviada para estudar o asteroide metálico Bennu, que
tem potencial para futuras explorações de metais no espaço, na área de
mineração de asteroides. Estes objetos contêm toneladas de metais raros
como platina, paládio, irídio, ósmio, ródio e ouro, importantes para a
economia mundial e para a indústria química catalítica e para a indústria da
tecnologia de ponta. A sonda Hayabusa do Japão foi enviada para estudar o
asteroide rochoso Itokawa, chegando a seu destino em setembro de 2005.

ASTEROIDE ITOKAWA, FOTOGRAFADO PELA SONDA JAPONESA HAYABUSA EM


2005. NOTAR A SUA CARACTERÍSTICA DE "RUBLE PILE", OU SEJA, ESTE
ASTEROIDE É RESULTADO DA JUNÇÃO DE FRAGMENTOS LIGADOS PELA FRACA
GRAVIDADE DO MESMO, TAL ASTEROIDE SE FORMOU POR COLISÕES DE BAIXA
VELOCIDADE COM OUTROS ASTEROIDES DO CINTURÃO PRINCIPAL. A SONDA
TOCOU A SUPERFÍCIE DO MESMO E ANALISOU SUA COMPOSIÇÃO COMO SENDO
CONDRÍTICA.

Estas sondas revelaram a composição condrítica de muitos destes asteroides.


Muito já sabemos sobre os asteroides a partir de dados coletados das sondas
espaciais não tripuladas e de estudos detalhados da mineralogia, petrologia,
geoquímica e cosmoquímica dos meteoritos. No entanto, ainda há mais a se
descobrir no futuro próximo coletando mais meteoritos nos desertos quentes e
gelados do planeta e enviando mais sondas espaciais para a exploração da
origem do Sistema Solar e sua evolução. A partir destes dados podemos
montar um quadro do que acontece em outros sistemas estelares e
entendermos melhor o papel dos materiais planetários na evolução química
das galáxias.
5. Cometas: Matéria Protoplanetária

ASTROFOTOGRAFIA DO COMETA HALLEY

A nuvem de Oort é uma gigantesca "bolha" de rochas geladas de diversos


tamanhos que se estende além da órbita de Plutão com um raio médio, com
centro no Sol, de 20000 UA até 100000 UA. Essa névoa de rochas geladas
representa matéria residual da formação do Sistema Solar.

O astrônomo Jean Hendrick Oort foi o descobridor da nuvem. Ele verificou


que os cometas vinham de uma região localizada a 20000 UA (1 UA = 150
milhões de quilômetros, é a distância da Terra ao Sol, equivale a aprox. 8
min-luz). Na verdade, a nuvem de Oort nunca foi vista por nenhum telescópio,
ela é tênue e, por estar muito longe e ter grandes dimensões, possui pouca
refletividade óptica. No entanto, as órbitas de cometas de longo período
revelam uma região onde estes se concentram muito além do Cinturão de
Kuiper. Com o advento de novos telescópios espaciais de infravermelho e
sondas não tripuladas que foram além da órbita de Plutão, como a New
Horizons da NASA, está sendo possível mapear os planetas anões gelados do
Cinturão de Kuiper e além. Revela-se a natureza dos corpos distantes do
Sistema Solar como sendo predominantemente gelos de nitrogênio, gás
carbônico, amônia, metano e água.
CONCEPÇÃO ARTÍSTICA DA NUVEM DE OORT, UMA NUVEM DE ROCHAS
GELADAS LOCALIZADA NOS CONFINS DO SISTEMA SOLAR.

Apesar da predominância de compostos voláteis no Sistema Solar externo, os


cometas se revelam mais ricos em poeria cósmica silicática do que em gelos de
fato. A definição que se dava era de que os cometas seriam "bolas de neve
sujas", ou seja, eram rochas compostas de gelo de água, metano e amônia
junto de partículas minerais cósmicas. A missão Rosetta da ESA (Agência
Espacial Européia) trouxe mais dados que quebraram esse paradígma
revelando o cometa 67P-Shuryumov-Gerasimenko como uma rocha de
baixíssimo albedo, escura como o carvão, com quantidade de gelos e gases
muito abaixo do esperado. O cometa 67P revelou-se uma rocha seca formada
de material carbonáceo e silicático aglutinado com composição semelhante a
dos condritos carbonáceos. Emissão de gases de nitrogênio, amônia e água foi
detectada em pequenas quantidade, como também gás oxigênio foi detectado
emanando do cometa. Crateras de ejeção de gases de alta pressão foram
localizadas na superfície do cometa que parece ser a junção de duas rochas em
uma só pelo seu formato inusitado de "pipoca". Os dois reservatórios de
cometas no Sistema Solar são o Cinturão de Kuiper e a Nuvem de Oort.

As porções de gelo e gás aprisionado nos cometas se deslocam da Nuvem de


Oort e do Cinturão de Kuiper e viajam em direção à órbita de Plutão para
ingressar no Sistema Solar. Mecanismos foram propostos para explicar como
os cometas mergulham em direção ao Sistema Solar interior. Como a órbita
dos cometas na Nuvem de Oort está praticamente no espaço interestelar,
estrelas próximas podem exercer influência gravitacional perturbando as
órbitas dos cometas e modificando a forma de suas órbitas para elipses de alta
excentricidade. A rocha é atraída pela gravidade do Sol, passa pelos planetas
gasosos e ao chegar em Júpiter, muitas vezes, são atraídos e tragados pela sua
gravidade impactando sua atmosfera gasosa, um exemplo foi o impacto do
cometa Shoemaker Levy 9 registrado pelo telescópio espacial Hubble em 1994.
O cometa se partiu em gigantescos pedaços e cada um destes chocou-se um a
um contra a grossa atmosfera de Júpiter, deixando no gigante gasoso manchas
de diâmetros comparáveis com o diâmetro do planeta Terra.

IMAGEM EM INFRAVERMELHO DE TELESCÓPIO DO COMETA SHOEMAKER-LEVY


9 QUE SE FRAGMENTOU NUMA TRILHA DE ROCHAS ANTES DE IMPACTAR A
ATMOSFERA DO PLANETA JÚPITER.
ACIMA, IMAGEM EM INFRAVERMELHO DO MOMENTO DO IMPACTO DOS
FRAGMENTOS COMETÁRIOS NO POLO SUL DE JÚPITER, MOSTRANDO A ENORME
LIBERAÇÃO DE ENERGIA. ABAIXO, IMAGEM EM INFRAVERMELHO DE
MOMENTOS APÓS O IMPACTO MOSTRANDO AS MANCHAS QUE PERMANECERAM
NA ATMOSFERA DO PLANETA JÚPITER.

O evento registrado em tempo real no planeta Júpiter em 1994 nos faz


lembrar que os impactos cósmicos são reais e acontecem no Universo. Nosso
Sistema Solar está numa longa fase de quiessência cósmica porque os
projéteis interplanetários são escassos e as distâncias são vastas. No entanto,
eventos esporádicos de grande energia ainda acontecem e vão continuar
acontecendo em nosso Sistema Solar. Basta um evento de desequilíbrio
gravitacional externo ao Sistema Solar para que cometas e asteroides mudem
suas órbitas e talvez um pequeno evento de bombardeamento cósmico
aconteça no futuro. Mesmo que outro bombardeamento pesado não venha a
ocorrer, o estado de alerta de um impacto gigante ainda permanece para os
planetas.

Quando estas rochas não são tragadas pelo campo gravitacional de Júpiter,
podem chegar ao Sistema Solar Interior e ir em direção ao Sol. Ao
aproximar-se do Sol, os ventos solares e a pressão de radiação solar começam
a fragmentar a rocha que cria um vórtice ou "cauda" de poeira e gelo que se
desprendem da mesma. O gás também é liberado e ionizado pelas partículas
carregadas do vento solar (prótons, elétrons, pósitrons, partículas alfa,
dêuterons, íons de sódio, cálcio etc) constituindo uma segunda cauda de gás
ionizado colorido (a cor depende do gás). Esse processo físico que acontece no
cometa gera o seu brilho, devido a este passar a emitir radiação
eletromagnética devido à ionização do gás liberado. O cometa é constituído de
um núcleo (é a própria rocha que deu origem ao cometa), o coma (região onde
nasce o vórtice de poeira e gás, uma atmosfera temporária), a cauda de poeira
e a cauda de gás, lembrando que a cauda de gás e poeira se projeta em direção
oposta à incidência de luz solar, isso significa que não é obrigatório que a
cauda se projete na direção oposta ao sentido do vetor velocidade do cometa.
O núcleo de um cometa pode ser ativo, ou seja, apresentar jatos de gás seco,
algo semelhante a geisers, o principal gás que se desprende do núcleo é o
hidrogênio, daí a cauda gasosa ser chamada de envelope de hidrogênio, a
cauda gasosa divide-se em outras duas componentes, o hidrogênio neutro
molecular e o hidrogênio ionizado.

Um cometa se aproxima do Sol devido ao campo gravitacional produzido pelo


mesmo e faz a sua trajetória no espaço, essas trajetórias, as órbitas, estão
contidas em um plano que pode está seccionando a eclíptica, isso pode fazer
com que a órbita do cometa esteja "mergulhando" perpendicularmente além
das órbitas da maioria dos planetas, as órbitas cometárias podem ser:
-HIPERBÓLICAS: o cometa se aproxima do Sol, realiza uma curva hiperbólica
no periélio e não retorna mais.
-PARABÓLICAS: o cometa aproxima-se do Sol, realiza uma curva parabólica
no periélio e desaparece.
-ELÍPTICAS: o cometa aproxima-se do Sol, realiza uma curva no periélio, se
afasta até o afélio e retorna em um ciclo ou período cometário calculado pelos
astrônomos. O cometa Halley, o cometa Halle-Bopp, Hyakutake e o Encke são
exemplos de cometas que possuem órbitas elípticas. As órbitas cometárias
elípticas são, normalmente muito excêntricas. Como exemplo, a
excentricidade da órbita do cometa Halley é de 0,96. Cometas com órbitas
elípticas são subdivididos em cometas de longo período e de curto período. Os
cometas de curto período têm sua origem no Cinturão de Kuiper e os cometas
de longo período têm sua origem na Nuvem de Oort.

ASTROFOTOGRAFIA DO COMETA HALLE-BOP, UM COMETA DE LONGO PERÍODO.


O PERÍODO DE REVOLUÇÃO DESTE COMETA FOI CALCULADO EM 4000 ANOS.
COMETA ENCKE, DE CURTO PERÍODO. SEU PERÍODO ORBITAL TEM 3 ANOS.

Muito pouco era sabido da composição química e mineralógica dos cometas,


algumas hipóteses foram levantadas sobre a semelhança que teriam com a
matriz de condritos carbonáceos CI e CM. A missão Stardust da NASA coletou
em uma placa de aerogel algumas partículas de poeira cometária que
desprenderam da cauda do cometa Wild 2. A missão retornou foi iniciada em
1999 e em 2006 retornou à Terra com algumas partículas do cometa. As
análises de laboratório confirmaram partículas silicáticas magnesianas,
micropartículas de enstatita. Pouco foi aprendido com esta missão. Mas já era
alguma coisa. A missão Rosetta pôde analisar melhor a composição de um
cometa e até mandou uma sonda para pousar em sua superfície, a sonda
Philae. Embora tenha ocorrido complicações no pouso, a sonda revelou dados
sobre a textura da superfície. Vários artigos científicos foram publicados
graças a esta missão não tripulada que alcançou seu ápice em 2014 quando a
sonda alcançou o cometa 67P.
NÚCLEO DO COMETA 67P-SHURYUMOV-GERASIMENKO
FOTOGRAFADO PELA SONDA NÃO TRIPULADA ROSETTA DA AGÊNCIA
ESPACIAL EUROPÉIA.

A teoria mais aceita atualmente para a formação dos cometas é a de acreção de


partículas protoplanetárias e interestelares de composição isotópica pré-solar
em aglomerados planetesimais que se aglomeraram longe do Sol. Devido à
distância, os côndrulos e CAIs, que são sólidos resultantes de condensação e
cristalização ígnea próximo do protossol, não foram incorporados ao corpo
dos cometas planetesimais. Como consequência as rochas cometárias
acumularam mais gelos e poeira interplanetária, tanto reprocessada pelos
eventos de aquecimento no disco protoplanetário quanto partículas minerais
de origem na nebulosa solar, isto é, partículas formadas em atmosferas de
estrelas gigantes anteriores e em explosões de supernovas.

A matriz rochosa fina e friável dos cometas é semelhante à matriz alterada dos
condritos carbonáceos CI, que não têm côndrulos e apresentam mineralogia
modificada por alteração aquosa de baixa temperatura. Estes corpos possuem
alteração aquosa de baixa temperatura por terem se condensado longe do
protossol e acumulado para si muito material volátil como partículas de
composição carbonácea, moléculas orgânicas pré-solares geradas por
processos astrofísicos na nebulosa solar primordial e gelos de água, amônia e
metano. Devido à água ser menos volátil que amônia, nitrogênio e metano, ela
se incorporou à estrutura dos silicatos originais da matriz rochosa dos
cometas e gerou alteração aquosa da mesma. Analisando os condritos CI
observa-se veios de carbonatos, matriz serpentinizada e cloritizada, presença
de material carbonáceo na forma de grafita, carbono amorfo e moléculas
orgânicas. A presença de moléculas orgânicas é icônica dos cometas, eles
possuem grande quantidade de material orgânico primordial e possivelmente
modificado por eventos protoplanetários.
Os cometas são diferentes dos asteroides nos quesitos presença de matéria
orgânica, elementos voláteis como gases e gelo de água, baixa abundância de
fases refratárias recristalizadas por processos protoplanetários como
ferro-níquel, cristais desenvolvidos de olivina e piroxênio, ausência de
aglomerações sólidas minerais geradas por processos protoplanetários de
condensação e cristalização ígnea como côndrulos e CAIs (Inclusões ricas em
cálcio e alumínio) e presença predominante de uma matriz carbonácea fina e
maior abundância de grãos microcópicos a nanoscópicos de origem pré-solar
e protoplanetária sem reprocessamento termal. Alguns pesquisadores
defendem que os condritos carbonáceos CI podem ser amostras de cometas
que já perderam todo o seu conteúdo gasoso, ficando para trás as fases sólidas.
Antigos núcleos de cometas que se "apagaram" por perder todos os seus
voláteis podem ser confundidos com asteroides de classe espectral C. Existem
objetos que estão nesta transição entre asteroide e cometa, são normalmente
habitantes do espaço interplanetário do planeta gigante gasoso Netuno e têm
origem provável no Cinturão de Kuiper, estes objetos são chamados de
Centauros e provavelmente são núcleos de antigos cometas. Outros núcleos de
cometas foram fotografados por sondas espaciais anteriores à missão Rosetta
e revelaram corpos de albedo baixo e quase sempre com assinatura de
material carbonáceo e orgânico. A novidade da presença de matéria orgânica
que existe em seres biológicos foi confirmada já em 1997 quando foi detectado
aminoácidos no gás expelido pelo cometa Wild 2.

NÚCLEO DO COMETA HALLEY FOTOGRAFADO PELA SONDA GIOTTO EM 1986.


NÚCLEO DO COMETA TEMPEL 1 FOTOGRAFADO PELA SONDA DEEP IMPACTO EM
2005.

NÚCLEO DO COMETA WILD 2 FOTOGRAFADO PELA SONDA STARDUST EM 1997,


AO LADO UM MAPA COM OS NOMES DADOS ÀS CRATERAS DE LIBERAÇÃO DE
GASES.
NÚCLEO DO COMETA BORRELLY FOTOGRAFADO PELA SONDA DEEP SPACE 1 EM
2001.

Devido à abundância dos cometas no Sistema Solar e sua composição


primitiva, eles são estudados como os prováveis originadores da água e da
vida na Terra e talvez no passado do planeta Marte. Evidências de água líquida
no planeta Marte 3,9 bilhões de anos atrás o coloca como planeta provável que
abrigou vida no passado. Os cometas contêm a chave para se compreender a
origem do Sistema Solar no que diz respeito à química do disco
protoplanetário em regiões distantes da influência do Sol recém formado.
Além disso, os cometas encerram em si moléculas orgânicas que foram
sintetizadas na nebulosa primordial que formou o Sistema Solar, além de água,
o componente essencial para o desenvolvimento de formas de vida como
conhecemos. As moléculas orgânicas detectadas nos cometas também foram
detectadas nos condritos carbonáceos CI e CM.

Especificamente hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, hidrocarbonetos


alifáticos, bases nitrogenadas, carboidratos simples, aminoácidos levógiros e
alguns dextrógiros, todas estas moléculas são blocos fundamentais da vida na
Terra. Além disso, muitos pesquisadores que apóiam a hipótese da
Panspermia Cósmica defendem a presença de bactérias fossilizadas em
condritos carbonáceos CI, o que indica que a vida pode ter vindo do espaço,
microorganismos trazidos por cometas. Esta hipótese era defendida pelos
astrônomos Fred Hoyle e Chandra Wickramasinghe. Além disso, um
pesquisador da NASA, o Dr. Richard B. Hoover publicou diversos artigos
científicos mostrando imagens e análises químicas por microscópio eletrônico
de varredura e dados de microssonda iônica indicando a presença de bactérias
fossilizadas em condritos carbonáceos CI. E como não citar a polêmica
publicação de 1996 da provável evidência de nanobactérias fossilizadas no
meteorito ALH 84001, um fragmento de 3,9 bilhões de anos da crosta de
Marte. A vida pode ter sido semeada na Terra e em Marte por cometas
durante a era do bombardeamento pesado tardio. Muitos estudos
demonstram que microorganismos podem sobreviver à entrada atmosférica e
a impactos de cometas em superfícies planetárias. Microorganismos podem
suportar o vácuo do espaço, falta de água. Esporos bacterianos e vírus
conseguem suportar altos níveis de radiação ultravioleta e raios cósmicos. Se
as afirmações da Panspermia Cósmica mostrarem ser verdadeiras, o mistério
da origem da vida se estende definitivamente para os confins do Universo,
começando a jornada nos cometas.
6. A Petrografia dos Meteoritos

IMAGEM DE MICROSCÓPIO PETROGRÁFICO COM NICOIS CRUZADOS DE UM


CONDRITO CARBONÁCEO. OBSERVE OS OBJETOS REDONDOS, SÃO OS
CÔNDRULOS. OS MINERAIS MAIS COMUNS QUE APARECEM NESTA IMAGEM SÃO
OLIVINA E PIROXÊNIOS, OS MINERAIS MAIS ABUNDANTES NOS METEORITOS
ROCHOSOS.

As rochas terrestres e os meteoritos compartilham semelhanças no que diz


respeito a muitos minerais, sendo estes materiais geológicos identificados de
forma macroscópica quando os cristais dos minerais são grandes o suficiente
para isso ou de forma microscópica, através de microscópio óptico. As rochas
são classificadas de acordo com sua textura e mineralogia e um nome é dado a
elas de acordo com a frequência de ocorrência de minerais, presença de
texturas e estruturas de natureza ígnea plutônica ou vulcânica, sedimentar e
metamórfica. Os minerais que ocorrem formando mais de 90% da massa de
uma rocha são chamados de minerais essenciais e os que compõem menos de
10% da rocha são chamados de minerais acessórios.

Mas o que são os minerais? A definição formal de mineral em geologia é um


sólido natural inorgânico com estrutura tridimensional em arranjo organizado
e repetitivo a nível atômico e com uma composição química definida podendo
ser variada dentro de limites definidos. Os minerais são gerados por processos
ígneos, sedimentares e metamórficos. Os minerais podem cristalizar a partir
de magmas e lavas, que nada mais são do que magmas que extravasam na
superfície em processos vulcânicos, podem ser resultado de reações
metamórficas, produto de recristalização no estado sólido, processo esse
chamado de metamorfismo, em que uma rocha é modificada quanto à sua
mineralogia por tectônica de placas, aquecimento junto a um corpo ígneo ou
outras fontes de calor suficientes para recristalizar a rocha ou mesmo
modificar sua mineralogia original. Processos sedimentares de precipitação de
minerais a partir de águas supersaturadas em sais em bacias evaporíticas são
exemplos de geração de minerais em ambiente sedimentar. Também durante
o processo de transformação de sedimentos inconsolidados em rochas
sedimentares, fenômeno denominado litificação, ocorrem transformações
físico-químicas com participação da água, aumento de pressão e subsidência
tectônica em uma bacia sedimentar, um processo em conjunto chamado de
diagênese, e durante a diagênese minerais podem ser formados a baixa
temperatura. Quantos minerais existem catalogados até hoje? De acordo com
a International Mineralogical Association, em novembro de 2018 existiam
5413 minerais oficiais catalogados. Apenas uma pequena fração desses
minerais ocorrem nos meteoritos e outra pequena fração de minerais
extremamente raros ocorrem apenas em meteoritos.

CRISTAIS DE HÁBITO CÚBICO BEM FORMADOS DE HALITA, CLORETO DE SÓDIO.


ESTE MINERAL É FORMADO EM BACIAS SEDIMENTARES EM LAGOS
EVAPORÍTICOS NA TERRA. ESTE É UM EXEMPLO DE PRECIPITAÇÃO
SEDIMENTAR.

DETALHE DE UM CRISTAL DE OLIVINA BEM FORMADO, COM SUA TÍPICA COR


VERDE OLIVA. ESSE MINERAL É GERADO EM CRISTALIZAÇÃO MAGMÁTICA DE
ALTA TEMPERATURA EM EVENTOS PLUTÔNICOS OU VULCÂNICOS
Existem muitos ambientes de formação de minerais na Terra, mas o mais
expressivo processo de formação de minerais é através da cristalização
magmática. Na Terra as rochas do manto estão sob alta pressão e elevada
temperatura, sendo sólidas e quando ocorre uma descompressão por
movimentos tectônicos entre placas litosféricas, isto é, pedaços da crosta
terrestre separados por falhas transformantes (transcorrência) e zonas de
aproximação (convergência) e afastamento (divergência) estas rochas são
fundidas. Quando a descompressão atinge grandes profundidades, por
exemplo, atingindo o manto superior da Terra a uma profundidade mínima de
100 quilômetros, as rochas atingem a chamada linha de solidus quando a
pressão diminui e parte da rocha é fundida espontaneamente num processo
chamado de fusão parcial. A fusão nunca é total porque muitos componentes
minerais das rochas do manto têm temperaturas mais elevadas do que o grau
geotérmico da Terra, a geoterma regional, pode fornecer. Esse grau
geotérmico representa o calor residual da época de acreção planetesimal da
Terra, onde a fonte desse calor é o núcleo do planeta. O grau geotérmico
representa a taxa de aumento da temperatura das rochas com o aumento da
profundidade e essa taxa não aumenta de forma linear existindo
descontinuidades que causam a geoterma ser uma curva em vez de uma reta
num gráfico de temperatura versus profundidade.

GRÁFICO DA CURVA DA GEOTERMA DA TERRA, RELACIONANDO TEMPERATURA


COM PROFUNDIDADE DESDE O MANTO SUPERIOR ATÉ O NÚCLEO DA TERRA.
NOTAR NÃO LINEARIDADE DA CURVA. A TAXA DE CRESCIMENTO DA CURVA É O
GRAU GEOTÉRMICO. A LINHA DE SOLIDUS É A TEMPERATURA MÍNIMA
NECESSÁRIA PARA FUNDIR AS ROCHAS DO INTERIOR DA TERRA. QUANDO
OCORRE UMA DESCOMPRESSÃO POR EVENTOS TECTÔNICOS, A QUEDA DE
PRESSÃO FAZ A CURVA DE SOLIDUS NAQUELE PROFUNDIDADE CRUZAR A
LINHA DE GEOTERMA E NESSE MOMENTO ACONTECE A FUSÃO PARCIAL DAS
ROCHAS PRODUZINDO MAGMA.
Uma vez atingida a temperatura média de solidus, as rochas do manto são
submetidas à fusão parcial e o líquido magmático gerado ascende à superfície
através de dutos e fraturas gerados pela abertura tectônica, esse magma pode
se alojar na crosta terrestre formando câmaras magmáticas e parte dele pode
chegar à superfície gerando atividade vulcânica. O magma alojado na crosta
terrestre resfria lentamente por estar em contato com rochas adjacentes a uma
temperatura elevada em relação à temperatura da superfície terrestre. Devido
ao gradiente termal menor entre o magma na câmara e as rochas encaixantes,
o magma perde calor lentamente para a vizinhança cristalizando em uma taxa
lenta. O resultado é a cristalização de grandes cristais gerando as rochas
plutônicas cujos minerais podem ser vistos a olho nu sendo a textura
denominada fanerítica. O magma que extravasou na superfície é chamado de
lava, que perde calor rapidamente para a atmosfera formando cristais
microscópicos ou mesmo vidro vulcânico, a rocha neste tem uma textura não
visível chamada de textura afanítica. Então aqui temos nesta última situação
uma rocha vulcânica. Exemplo clássico de magma é o de composição basáltica
que quando solidifica em profundidade forma uma rocha plutônica
denominada genericamente gabro e quando cristaliza rapidamente em
derrames vulcânicos forma a rocha denominada basalto. Quando a
cristalização se dá de forma intermediária entre a plutônica e a vulcânica, a
rocha é chamada de hipoabissal ou subvulcânica, podendo conter uma matriz
fina e cristais grandes numa textura porfirítica ou uma matriz de cristais
aciculares ou tabulares pequenos, mas visíveis. Neste caso o magma basáltico
cristaliza formando uma rocha subvulcânica denominada diabásio ou dolerito.
Estas rochas se encaixam em plútons, diques, sills, etc. Estas são formas de
jazimento das rochas ígneas nas rochas encaixantes. Plútons são as câmaras
magmáticas solidificadas e expostas à superfície após milhões de anos de
erosão das rochas encaixantes. Diques são estruturas verticalizadas, como
veios, preenchidos de magma que solidificou para basaltos ou diabásios, sills
são preenchimentos horizontais, normalmente entre estratos de rochas
sedimentares.

DIAGRAMA GEOLÓGICO MOSTRANDO AS PRINCIPAIS FORMAS DE JAZIMENTO


DAS ROCHAS ÍGNEAS NAS ROCHAS ENCAIXANTES AQUI REPRESENTADAS COMO
ESTRATOS SEDIMENTARES. OS PLÚTONS E BATÓLITOS SÃO AS CÂMARAS
MAGMÁTICAS ONDE AS ROCHAS PLUTÔNICAS CRISTALIZAM. O MAGMA
ASCENDE ATRAVÉS DE FRATURAS EXTENSIONAIS PREENCHENDO-AS DE FORMA
VERTICAL GERANDO DIQUES E DE FORMA HORIZONTAL AO LONGO DOS
ESTRATOS DAS ROCHAS ENCAIXANTES FORMANDO OS SILLS.

Os minerais que compõem uma rocha basáltica são plagioclásio cálcico,


clinopiroxênio cálcico - geralmente augita, podendo conter como minerais
acessórios quartzo, magnetita, ilmenita, apatita, zircão, olivina e ortopiroxênio
hiperstênio. Os minerais olivina, ortopiroxênio, clinopiroxênio e plagioclásio
são muito comuns tanto nas rochas terrestres quanto nos meteoritos, eles são
sempre minerais essenciais e são ditos minerais formadores de rocha. Os
minerais formadores de rocha, assim como muitos dos milhares de outros
minerais, são soluções sólidas. Uma solução sólida é também chamada de
série isomórfica, em que um mesmo mineral, com a mesma estrutura
cristalográfica, tem composições químicas distintas com respeito aos cátions
que ocupam os sítios cristalinos. Os minerais são normalmente sólidos iônicos,
principalmente silicatos. Todos os minerais formadores de rocha aqui citados
são silicatos. Sendo assim eles representam sais que contêm ânions silicato,
que possui geometria molecular tetraédrica, um átomo de silício rodeado por
quatro átomos de oxigênio com uma carga iônica de -4, ligados ionicamente a
cátions metálicos. Por exemplo, a olivina é composta de um ânion silicato e
dois cátions magnésio e/ou ferro. O mineral possui uma estrutura cristalina
definida e essa estrutura possui uma unidade geométrica básica chamada de
cela unitária. Uma cela unitária geralmente contém a fórmula química mínima
do mineral. Usando a olivina como exemplo, existe para cada cela unitária um
ânion silicato e dois cátions metálicos. O magnésio pode ocupar 100% dos
sítios metálicos ou o ferro pode ocupar 100% dos sítios. No entanto, pode
ocorrer que os sítios estão 50% preenchidos com cátions ferro e os outros 50%
preenchidos com cátions magnésio. As proporções de ferro e magnésio podem
variar desde 0% até 100% sendo complementares para balancear a carga
negativa do íon silicato. No caso da olivina dizemos que ela é uma solução
sólida contendo proporções variadas de ferro e magnésio. A forma pura
silicato de ferro, quando o ferro ocupa 100% do sítio metálico na olivina, é
chamda de fayalita e a forma pura de silicato de magnésio, quando o magnésio
ocupa 100% do sítio metálico da olivina, é chamada de forsterita. A
composição química de um cristal de olivina em uma rocha é dada pelos
percentuais molares de fayalita e forsterita. Dizemos que a olivina é uma
solução sólida ou série isomórfica de fayalita e forsterita que são os extremos
composicionais desse mineral.

Com respeito aos piroxênios, eles são subdivididos em ortopiroxênios e


clinopiroxênios. Primeiramente, os piroxênios são também silicatos de ferro e
magnésio. A diferença entre eles e a olivina é que o ânion silicato na verdade
está ligado a outro ânion silicato, formando um ânion dissilicato com carga -2.
Sendo assim, existe um sítio cristalográfico para o cátion metálico que pode
ser ferro ou magnésio. Os ortopiroxênios são assim chamados porque sua
estrutura cristalina é ortorrômbica e eles admitem em sua estrutura um sítio
de cátion metálico. Se 100% dos sítios de um ortopiroxênio são ocupados por
cátions ferro ele é chamado de ferrosilita, mas se 100% dos sítios são
ocupados por cátions magnésio ele é chamado de enstatita. A composição do
ortopiroxênio é dada pelas proporções de ferrosilita e enstatita, os extremos
composicionais deles. Dizemos que os ortopiroxênios são soluções sólidas ou
séries isomórficas dos extremos composicionais ferrosilita e enstatita. Os
clinopiroxênios possuem estrutura cristalina monoclínica e admitem dois
sítios distintos de cátions metálicos, um deles é ocupado pelo cálcio e o outro
pelo ferro ou magnésio. Quando 100% dos sítios do cálcio estão preenchidos e
0% de ferro e magnésio existem na estrutura do clinopiroxênio temos o
extremo composional que é o dissilicato de cálcio chamado de wollastonita.
Quando 100% do sítios de cálcio estão preenchidos de cátions cálcio e 100%
dos sítios metálicos II estão preenchidos com cátions ferro obtemos o
clinopiroxênio puro hedenbergita. Quando 100% do sítio I está preenchido
com cátions cálcio e 100% do sítio II está preenchido com cátions magnésio,
temos o outro extremo composional puro denominado diopsídio. Quando um
clinopiroxênio contém proporções variávies de hedenbergita e diopsídio com
menos cálcio ele é chamado de pigeonita. Quando o clinopiroxênio contém
elevado teor em cálcio e proporções variáveis de hedenbergita e diopsídio, ele
é chamado de augita. A classificação dos piroxênios é resumida em um gráfico
ternário de fases, onde as pontas do triângulo são os extremos composicionais
enstatita, ferrosilita e wollastonita, os extremos intermediários quando o teor
total de cálcio é 50% são hedenbergita e diopsídio. A composição de um
piroxênio é geralmente dada pelos percentuais molares de ferrosilita, enstatita
e wollastonita.

DIAGRAMA TERNÁRIO DE CLASSIFICAÇÃO DOS PIROXÊNIOS COM OS EXTREMOS


COMPOSICIONAIS ENSTATITA, FERROSILITA E WOLLASTONITA. OS EXTREMOS
INTERMEDIÁRIOS SÃO DIOPSÍDIO E HEDENBERGITA. OS CLINOPIROXÊNIOS
ABRANGEM OS CAMPOS HEDENBERGITA, DIOPSÍDIO, AUGITA E PIGEONITA.
ABAIXO DA PIGEONITA O CONTEÚDO EM CÁLCIO É INFERIOR A 5% E TÊM-SE A
SÉRIE ISOMÓRFICA DOS ORTOPIROXÊNIOS COM SOLUÇÃOS SÓLIDAS
COMPLETAS ENTRE OS EXTREMOS ENSTATITA E FERROSILITA. AQUI HÁ UMA
BREVE REFERÊNCIA ÀS FASES METAESTÁVEIS DE CLINOPIROXÊNIO POBRE EM
CÁLCIO, COM OS EXTREMOS COMPOSICIONAIS CLINOENSTATITA E
CLINOFERROSILITA.

Os plagioclásios são parte do grupo dos feldspatos, estes são tectossilicatos,


isto é, são compostos de ânions silicato complexos que se ligam em uma rede
tridimensional e podem ter sítios de silício substituídos por cátions alumínio.
Os sítios catiônicos admitem cálcio e sódio, que possuem raios iônicos
similares. Quando cálcio é substituído por sódio na estrutura do plagioclásio
têm-se a troca de cátion alumínio por cátion silício num processo chamado de
substituição acoplada. Isto acontece por que a carga do cálcio é +2 e a do sódio
é +1, a carga do silício é +4 e do alumínio é +3, a troca deve ser Ca + Al = Na +
Si, conservando as cargas positivas. Como os raios iônicos do Ca e Na são
semelhantes e do Si e Al também, a substituição se dá em todas as proporções,
formando uma solução sólida contínua. Quando 100% do plagioclásio é
composto de cálcio em seu sítio metálico temos o extremo composicional
chamado de anortita, e quanto 100% do sítio metálico do plagioclásio é
preenchido com sódio, tem-se o extremo composicional albita.

A composição de um plagioclásio é dada pelos percentuis molares de anortita


e albita. A série dos feldspatos alcalinos ocorre quando temos sódio e potássio
substituindo os sítios cristalográficos do feldspato. Aqui existe uma solução
sólida descontínua, porque o raio iônico do potássio é maior do que do sódio e
do cálcio. Esses íons não se substituem em todas as proporções. Devido a isto,
a série dos plagioclásios cristaliza no sistema triclínico, mas a série dos
álcali-feldspatos cristaliza no sistema monoclínico. Quando um magma que
contém uma mistura de íons sódio, cálcio e potássio começa a cristalizar
lentamente para formar uma rocha plutônica, o potássio, de maior raio iônico,
é expulso da estrutura cristalina do plagioclásio compondo o álcali-feldspato
potássico denominado ortoclásio. Esse processo de expulsão de íons
incompatíveis durante lenta cristalização magmática é chamado de exsolução.
Nesta situação formam-se lamelas de ortoclásio em meio a lamelas de
plagioclásio. A série dos álcali-feldspatos é composta dos extremos
composionais albita e ortoclásio, o cálcio não é admitido na estrutura dos
álcali-feldspatos. Lamelas de exsolução também ocorrem em clinopiroxênios.
Quando a cristalização magmática é lenta, o cálcio, que tem raio iônico muito
maior do que os cátions ferro e magnésio, é exsolvido formando uma fase mais
rica em cálcio. O resultado é um cristal de Cpx pobre em cálcio, pigeonita, com
lamelas de augita, o Cpx rico em cálcio.

DIAGRAMA TERNÁRIO DA SÉRIE DOS FELDSPATOS COM OS EXTREMOS


COMPOSICIONAIS NAS PONTAS DO TRIÂNGULO, ALBITA, ANORTITA E
ORTOCLÁSIO. EMBAIXO VEMOS A SÉRIE ISOMÓRFICA DOS PLAGIOCLÁSIOS, QUE
FORMAM UMA SÉRIE DE SOLUÇÃO SÓLIDA COMPLETA ENTRE OS EXTREMOS
ALBITA E ANORTITA. OS INTERMEDIÁRIOS RECEBEM NOMES: OLIGOCLÁSIO,
ANDESINA, LABRADORITA E BYTOWNITA. A SÉRIE DOS ÁLCALI-FELDSPATOS É
CONTÍNUA ENTRE ALBITA E ORTOCLÁSIO E UMA GIGANTESCA LACUNA EXISTE
NO TRIÂNGULO DEVIDO À INCOMPATIBILIDADE ENTRE OS RAIOS IÔNICOS DO
SÓDIO E PRINCIPALMENTE DO CÁLCIO COM O POTÁSSIO, EXISTINDO
EXSOLUÇÃO DE FASES ÁLCALI-FELDSPATO DAS FASES DE PLAGIOCLÁSIO EM
MAGMAS DE LENTA CRISTALIZAÇÃO.

Muitos minerais meteoríticos difcilmente ocorrem em rochas terrestres. O


exemplo mais comum é a fase metálica de ferro-níquel. Essa consiste de uma
liga metálica, uma solução sólida de ferro e níquel. Os extremos
composicionais de uma fase metálica são a kamacita (pobre em níquel) e a
taenita (rica em níquel). Devido a uma pequena diferença de raio iônico entre
o ferro e o níquel, eles formam estruturas cristalinas distintas em fases
distintas. Quando um magma metálico esfria lentamente a cristalização gera
lamelas de exsolução de kamacita em taenita, da mesma forma como acontece
com os plagioclásios e os clinopiroxênios magmáticos. A fase sulfetada comum
nos meteoritos é a troilita, um sulfeto de ferro estequiométrico em que a
proporção atômica de ferro e enxofre é exatamente 1:1. Neste mineral o ferro
encontra-se no estado de oxidação zero, sendo esta fase chamada de
protosulfeto de ferro, onde os átomos estão unidos numa forma de "liga
metálica" em que o enxofre está substituindo o sítio metálico do ferro em
proporção estequiométrica. O ferro-níquel e a trolita são fases comuns nos
meteoritos devido à abundância cósmica elevada dos elementos químicos
ferro, níquel e enxofre. Estes elementos são abundamente sintetizados em
estrelas gigantes e durante as fases finais de gigante vermelha quando as
reações termonucleares estão prestes a cessar. Quando a estrela explode em
uma supernova ela libera para o espaço matéria enriquecida em elementos
mais pesados que o hidrogênio e o hélio.

TABELA MOSTRANDO ALGUNS DOS PRINCIPAIS MINERAIS QUE OCORREM NOS


METEORITOS, AQUI INCLUÍDOS ALGUNS RAROS MINERAIS ACESSÓRIOS.

Os elementos mais abundantes na nucleossíntese são oxigênio, carbono,


silício, magnésio, ferro, níquel e enxofre. São exatamente estes elementos
mais abundantes que geraram as fases minerais mais abundantes nos
meteoritos. O carbono é uma excessão sendo um elemento químico
geoquimicamente volátil e atmófilo, preferindo as fases de mais baixa
temperatura. Apenas quando carbono reduzido condensa junto das fases
metálicas no disco protoplanetário ele forma fases distintas de alta
temperatura como a cohenita, o carbeto de ferro e níquel. Mas normalmente o
carbono é oxidado para dióxido de carbono e incorporado nos planetesimais
mais distantes da protoestrela, onde se formam minerais carbonáticos, ou o
carbono está na forma de material carbonáceo fino amorfo e grafita, como
também na forma de grãos pré-solares moissanita (carbeto de silício) e
nanodiamantes. Parte do carbono também ocorre na forma de moléculas
orgânicas interestelares.

O silício e o oxigênio se ligaram para formar os ânions silicato, os silicatos se


uniram aos cátions de ferro e magnésio em ambiente oxidante para formar os
silicatos ferromagnesianos de alta temperatura olivina e piroxênios. As fases
voláteis compondo a matriz dos condritos primitivos são os reservatórios dos
elementos menos abundantes e mais voláteis como sódio, potássio, fósforo,
manganês, etc. O plagioclásio nos meteoritos é resultado de metamorfismo
termal da matriz dos condritos ou de magmatismos em meteoritos acondritos,
resultantes de asteroides e protoplanetas capazes de desenvolver
magmatismos por diferenciação sendo o exemplo clássico o maior subgrupo
dos acondritos, os eucritos, que têm composição basáltica. O ferro e o níquel
condensaram na forma de fases metálicas, mistura de kamacita e taenita, e
parte do ferro metálico se uniu ao enxofre para formar abundantes grãos de
troilita.

Normalmente não é possível identificar os minerais dos meteoritos a olho nu,


portanto, a aplicação da mineralogia descritiva para minerais macroscópicos
não se aplica quando o assunto é identificação da mineralogia dos meteoritos.
Os minerais nos meteoritos possuem granulação variando de alguns
micrômetros até, no máximo, menos de 10 milímetros. O microscópio óptico é
a única opção para se descrever os minerais dos meteoritos e esta descrição é
chamada de petrografia. A mineralogia óptica depende de um equipamento
muito diferente de um microscópio biológico. Antes de mais nada, devemos
entender algumas propriedades físicas dos minerais do ponto de vista da
mineralogia óptica. A luz utilizada na petrografia é polarizada. A luz se
comporta como onda e partícula de acordo com a mecânica quântica, no
entanto, precisamos aqui apenas do comportamento ondulatório da luz para
entender a maioria dos fenômenos na microscopia.

A luz é composta de oscilações no vácuo de campos elétricos e magnéticos


cujos vetores oscilam em planos perpendiculares entre si. Os minerais afetam
apenas os planos de vetores elétricos da luz. A trajetória da luz no espaço é
retilínea e chamada de raio luminoso. Vamos avaliar o comportamento apenas
da componente do campo elétrico da luz. A luz natural de uma lâmpada
comum, assim como a luz emitida por uma lanterna ou pelo Sol não é
polarizada, isto é, ela possui planos de oscilação do campo elétrico em todas as
direções. No entanto, se fizermos a luz passar por um material específico, um
polarizador, podemos subtrair todos os planos de oscilação e deixar apenas
um plano específico passar. A luz polarizada contém um único plano de
oscilação de campo elétrico, ou seja, um plano de vetores de campo elétrico
que vibram em uma única direção. A maioria dos minerais permite a
passagem da luz através deles, essa propriedade física é denominada
diafaneidade. A maioria deles é translúcido ou transparente. Os silicatos são
transparentes ou translúcidos.

Os minerais possuem um arranjo tridimensional ordenado em escala atômica,


se cristalizando em um dos sete sistemas cristalinos: cúbico ou isométrico,
tetragonal, trigonal ou romboédrico, hexagonal, ortorrômbico, monoclínico e
triclínico. Isto quer dizer que num cristal os átomos não ocupam posições
idênticas no espaço, fazendo dos minerais materiais anisotrópicos, ou seja,
que não possuem a mesma aparência em todas as direções. As exceções são o
sistema cúbico que é isotrópico, onde os átomos ocupam posições idênticas
em todas as direções ou materiais amorfos, vítreos, que não possuem
estruturas ordenadas a nível atômico.

Quando a luz atravessa um material isotrópico, como o vidro, o raio luminoso


sofre um ligeiro desvio devido a diminuição da velocidade da luz neste meio.
Isto se dá porque o meio é mais denso em átomos do que o vácuo e esta
propriedade de mudança da trajetória do raio de luz na interface entre dois
meios distintos é chamada de índice de refração. No entanto, no vidro a luz
polarizada não modifica seu plano de vibração de campos elétricos. Os
materiais isotrópicos possuem apenas um valor de índice de refração. Quando
a luz atravessa um meio anisotrópico, como a maioria dos minerais, além de
sofrer desvio característico, seu plano de vibração de campos elétricos é
rotacionado ligeiramente dependendo do ângulo do raio luminoso em relação
a um determinado plano cristalográfico no interior do mineral. Assim, um
mineral anisotrópico estando em diferentes posições gera diferentes rotações
do plano vibracional elétrico da luz polarizada. Estes fenômenos permitem
diferenciar um mineral do outro, porque eles terão diferentes propriedades
ópticas respondendo de forma diferente à luz polarizada.
OS SETE SISTEMAS CRISTALINOS E TODAS AS SUAS POSSIBILIDADES DE
POSIÇÕES ONDE OS ÁTOMOS PODEM OCUPAR. AS CELAS UNITÁRIAS DOS
MINERAIS OBEDECEM À UMA DESTAS SETE SIMETRIAS GEOMÉTRICAS
PRINCIPAIS.

Para visualizar um mineral no microscópio é necessário o preparo de uma


lâmina delgada da rocha. Isto é, para que a luz polarizada seja transmitida
com maior eficiência é preciso cortar uma fatia muito fina da rocha para ela se
tornar transparente à luz. A espessura média padrão de uma fatia de rocha
para petrografia é de 30 micrômetros. A fatia de rocha é mantida fixa com
uma cola especial numa lâmina de vidro que pode ser polida na outra face ou
ser colocada uma lamínula para proteção da face exposta da fatia da rocha.
Várias etapas de corte e polimentos são necessários até se chegar à lâmina
petrográfica.

Existe uma relação entre a cor de interferência dos minerais e a espessura da


lâmina e o profissional confeccionador da lâmina sabe qual a espessura ideal
ao avaliar se chegou às cores de interferência específicas para àquela
espessura. Por exemplo, o quartzo fica com a cor amarelada ou branca
acinzentada quando a espessura da lâmina é ideal. O microscópio petrográfico
consiste de uma fonte de luz com um polarizador inferior. Este polarizador faz
a luz chegar polarizada na lâmina da rocha. Após isto temo as lentes objetivas
que geralmente têm aumentos de 5X, 10X, 20X, 40X, 50X e 100X. Entre as
lentes objetivas e as lentes oculares existem acessórios que são eles: O
polarizador superior chamado de analisador, a lente de Amici-Bertrand e
entrada para placas de desvio de velocidade da luz, normalmente placas de
quartzo ou cunhas de gipso. O polarizador analisador está sempre a noventa
graus do polarizador inferior. Quando não há minerais no campo de visão, a
luz é totalmente absorvida quando cruzamos os polarizadores, isto porque a
luz entra com ângulo de 0º de seu plano de vibração e é barrada pelo
analisador que está a 90º desta posição. No entanto, a presença de minerais
rotaciona este ângulo inicial da luz polarizada em diversos outros ângulos e
estes ângulos fazem a luz não ser totalmente absorvida pelo analisador,
passando para as oculares um componente de luz com plano de vibração de
campo elétrico resultante dos vetores rotacionado e absorvido no analisador.

O MICROSCÓPIO PETROGRÁFICO E SEUS PRINCIPAIS COMPONENTES.

O resultado são as chamadas cores de interferência dos minerais. Minerais


possuem pelo menos dois índices de refração distintos porque a maioria deles
apresenta estrutura anisotrópica. Portanto, a diferença entre os índices de
refração de um mineral é chamada de birrefringência e esta propriedade está
diretamente relacionada ao grau da cor de interferência do mineral. Existe um
diagrama que relaciona espessura da lâmina de rocha com valor
birrefringência e cor de interferência chamado de Carta de Michel-Levy. Esta
carta de cores permite estimar o valor de birrefringência e o grau de cor de
interferência do mineral. Por exemplo, o plagioclásio possui cor de
interferência de primeira ordem, caracterizada por tons cinzas claros, brancos
e amarelos claros. Os clinopiroxênios e as olivinas possuem cores de segunda
ordem caracterizadas por tons fortes e mais claros de azul, verde, rosa,
amarelo, lilás, etc. Minerais de alto índice de refração e birrefringência como
zircão, titanita e calcita, possuem cores de interferência de terceira ordem,
caracterizadas por tons extremamente brilhantes de amarelo, rosa, branco e
cinza. A presença do acessório chamado de placa de quartzo ou cunha de gipso
tem a função de desviar os comprimentos de onda gerados pelas cores de
interferência, porque estes agem como um outro mineral, de cor de
interferência conhecida e padronizada, o quartzo e a gipsita, que desvia os
planos dos campos elétricos da luz que já foi rotacionada pelos minerais
presentes na lâmina da rocha. Isso é feito para se descobrir em qual direção
estão determinados planos cristalográficos dos minerais.

CARTA DE MICHEL-LEVY QUE RELACIONA CORES DE INTERFERÊNCIA DOS


MINERAIS (NO SISTEMA ORTOSCÓPICO) COM A ESPESSURA DA LÂMINA DA
ROCHA E VALORES DE BIRREFRINGÊNCIA. A CARTA CONSIDERA CORES DE 1ª A
6ª ORDENS.
Vimos alguns componentes do microscópio petrográfico. Ele possui uma fonte
de luz, geralmente lâmpada halógena, com um polarizador inferior, o estágio
onde a lâmina é colocada é chamado de platina e este é um disco de metal que
gira em torno de seu próprio eixo. Girando o estágio do microscópio obtemos
vários ângulos de exposição dos minerais à luz polarizada revelando suas
propriedades ópticas que dependem essencialmente de como os raios
luminosos atravessam em ângulos diferentes em relação aos planos
cristalográficos dos minerais.

As lentes objetivas foram citadas, depois temos o polarizador superior ou


analisador, os acessórios placa de quartzo e cunha de gipso e a lente de
Amici-Bertrand e por último as lentes oculares. Esta é a estrutura básica de
um microscópio petrográfico. Pode-se fazer a descrição petrográfica em três
etapas completas de configuração do microscópio. A primeira etapa é análise
dos minerais à luz natural, onde apenas a luz polarizada inferior é usada e as
propriedades dos minerais são avaliadas nestas condições. Algumas
propriedades são relevo, pleocroísmo, clivagens, fraturas e linha de Becker. O
relevo é o contorno do mineral em relação ao seu entorno. Quando o contorno
é elevado, bem preto, o mineral tem índice de refração maior que os minerais
a sua volta e ele é dito ter relevo alto.
Quando o contorno do mineral é uma linha tênue ele tem relevo baixo, possui
índice de refração inferior a dos minerais a sua volta. O pleocroísmo é a
mudança de coloração ou tom de coloração quando o mineral é rotacionado. O
exemplo clássico é a biotita que possui forte pleocroísmo. Quando os planos
de clivagem da biotita estão paralelos à direção do polarizador ela adquire
uma cor marrom escura ou negra, quando esse mesmo plano é rotacionado
para ficar perpendicular à direção do polarizador inferior a biotita adquire
coloração marrom ou verde clara. A clivagem representa planos de fraqueza
bem definidos nos minerais, controlados pela estrutura cristalográfica deles.
Geralmente se apresentam como linhas finas e tênues no interior de um grão
mineral perfazendo toda a sua extensão.

Podem existir clivagens em uma única direção como no caso da biotita, em


duas direções com ângulos oblíquos nos piroxênios e três direções em ângulos
oblíquos na calcita. Fraturas têm contornos escuros e são irregulares num
grão mineral. Linhas de Becker são linhas de luz observadas na lente objetiva
de 40X ou 50X quando mudamos o foco ao girar o ajuste do foco em sentido
antihorário. Quando a linha observada nas bordas do mineral caminha para
dentro do grão dizemos que seu índice de refração é elevado, quando a linha
caminha para fora do grão o seu índice de refração é pequeno. Também
podemos observar a forma do grão, seu hábito, e como estão dispostas as faces
de um cristal. Por exemplo, o plagioclásio tem hábito tabular, tendendo a ter
formas prismáticas. Quando um mineral tem todas as suas faces bem
formadas, retas, dizemos que o grão é euedral ou euédrico. Quando algumas
são distinguidas e outras não o grão é dito subedral ou subeuédrico e quando
o grão é totalmente disforme, sem faces definidas, ele é denominado anedral
ou anédrico.

No chamado sistema ortoscópico colocamos o polarizador superior ou


analisador no sistema do microscópio, agora dizemos que os minerais são
observados com os polarizadores cruzados, também chamados de nicois
cruzados. Nesta situação observamos as propriedades: Extinção, cor de
interferência e geminação. A extinção é o ângulo em que o grão mineral,
quando rotacionado, fica completamente negro, o que significa que nesta
posição você o observa ao longo de se eixo isotrópico, onde toda a luz
transmitida é absorvida no analisador entregando um sinal nulo nas lentes
oculares. O ângulo de extinção permite separar subgrupos de minerais. Por
exemplo, os ortopiroxênios têm ângulos de extinção reta, ou seja, seus grãos
extinguem nas posições 0º e 90º em relação a sua forma anedral prismática
alongada no seu eixo maior. Já os clinopiroxênios têm extinção oblíqua com
ângulos de extinção de 46º em média.

A cor de interferência é uma propriedade fundamental para distinguir


minerais uns dos outros. Plagioclásios têm cores de interferência branca a
amarela pálida, ortopiroxênios têm cores de interferência cinzas claros a
escuros ou amarelo queimado, clinopiroxênios possuem cores de interferência
amarelo claro brilhante, olivina possui cores de interferência brilhantes rosa,
azul, amarelo, verde e até branco. A geminação é outro aspecto importante dos
minerais. Geminações ou maclas são estruturas de intercrescimento de um
mesmo mineral em posições cristalográficas distintas. A característica
diagnóstica dos plagioclásios bem formados é a sua geminação polissintética,
um padrão zebrado, onde listras se extinguem e saem de extinção quando
giramos o estágio do microscópio. Álcali-feldspatos bem desenvolvidos como a
microclina também apresentam uma geminação cruzada característica
chamada de geminação albita-periclina. O álcali-feldspato ortoclásio possui a
característica geminação Carlsbad, em que dois cristais estão juntos em
posições diferentes deixando um extinto e o outro claro.

IMAGEM NO SISTEMA ORTOSCÓPICO DE UM CRISTAL EUEDRAL DE OLIVINA,


APRESENTANDO COR DE INTERFERÊNCIA AZUL TURQUESA, O CRISTAL
APRESENTA MÚLTIPLAS FRATURAS E ALGUMAS MANCHAS DE OXIDAÇÃO.

CRISTAL DE ORTOPIROXÊNIO (Opx) PRISMÁTICO SUBEUEDRAL AO


MICROSCÓPIO NO SISTEMA ORTOSCÓPICO. OBSERVAMOS SUA COR DE
INTERFERÊNCIA DE PRIMEIRA ORDEM, UM CINZA AZULADO, RELEVO ALTO E
CLIVAGENS BEM DEFINIDAS EM UMA DIREÇÃO, EXISTEM PLANOS DE CLIVAGEM
IMPERFEITOS PERPENDICULARES NÃO VISÍVEIS. EM VOLTA VEMOS VÁRIOS
PEQUENOS CRISTAIS ANEDRAIS DE OLIVINA (Ol) COM VÁRIAS CORES DE
INTERFERÊNCIA.
IMAGEM AO SISTEMA ORTOSCÓPICO DE GRANDE CRISTAL DE AUGITA COM
CORES DE INTERFERÊNCIA DE SEGUNDA ORDEM ROSA E AMARELO CLARO.
OBSERVAR AS LISTRAS AO LONGO DE TODA A EXTENSÃO DO CRISTAL, ESTAS
LISTRAS SÃO LAMELAS DE EXSOLUÇÃO DE PIGEONITA NA AUGITA.

IMAGEM AO SISTEMA ORTOSCÓPICO DE UM CRISTAL SUBEUEDRAL TABULAR DE


PLAGIOCLÁSIO COM SUA COR DE INTERFERÊNCIA CINZA CLARA A
ESBRANQUIÇADA DE PRIMEIRA ORDEM. AQUI APARECEM REGIÕES EM
EXTINÇÃO NO CRISTAL EM PADRÃO LISTRADO, A TÍPICA GEMINAÇÃO
POLISSINTÉTICA DO PLAGIOCLÁSIO, ONDE OS CRISTAIS DE ALBITA E ANORTITA
CRESCEM EM DIFERENTES PLANOS CRISTALOGRÁFICOS GERANDO DIFERENTES
ÂNGULOS DE INTERAÇÃO COM A LUZ.

O outro modo de uso do microscópio petrográfico é através do sistema


conoscópico. Neste caso, com os nicois cruzados, mudamos um acessório
abaixo do estágio do microscópio chamado de condensador móvel ou
iluminador oblíquo, esse condensador trata-se de uma lente logo abaixo da
lâmina delgada que tem como objetivo tornar os raios de luz ligeiramente
divergentes formando um cone de luz. Coloca-se na lente ocular de 40X ou
50X e então coloca-se a chamada lente de Amic-Bertrand. O objetivo da lente
de Bertrand é separar os raios de luz em regiões de interferência destrutiva e
interferência construtiva formando padrões circulares denomiandos figuras
de interferência. Cada mineral é analisado como grão isolado no sistema
conoscópico para determinar sua figura de interferência. Existem dois tipos de
figura de inteferência, uma figura uniaxial e outra biaxial. Um cristal uniaxial
forma padrões de interferência destrutiva, chamadas isógiras, em forma de
cruz e minerais uniaxiais cristalizam nos sistema tetragonal, trigonal e
hexagonal. Quando a figura forma arcos escuros, isto é, quando as isógiras são
arcos em vez de uma cruz o cristal é biaxial. Minerais biaxiais cristalizam nos
sistemas ortorrômbico, monoclínico e triclínico. É possível deduzir muito
sobre a estrutura cristalina de um mineral utilizando as figuras de
interferência. Exemplos de minerais uniaxiais são quartzo e o zircão. Os
piroxênios, olivinas e plagioclásios são minerais biaxiais.

À ESQUERDA FIGURA DE INTERFERÊNCIA UNIAXIAL DE UM GRÃO DE QUARTZO,


À DIREITA FIGURA DE INTERFERÊNCIA BIAXIAL DE UM GRÃO DE OLIVINA.

Os sistemas à luz polarizada natural, ortoscópico e conoscópico em conjunto


permitem a identificação qualitativa dos minerais. O microscópio petrográfico
é uma poderosa ferramenta para o geólogo na área de petrologia. A petrologia
consiste no estudo da descrição, composição química, classificação e da
formação e evolução de processos geológicos de uma rocha. A rocha analisada
representa uma amostra de um todo. Este todo pode representar um
afloramento de sequências de rochas ígneas, sedimentares ou metamórficas,
dentro de um contexto regional que pode revelar muito sobre eventos
tectônicos, magmáticos ou de deposição/erosão sedimentar.

No contexto da meteorítica, a ciência que estuda os meteoritos, os meteoritos


representam amostras raras de corpos sólidos do Sistema Solar. As amostras
de meteoritos disponíveis para estudo representam em grande parte os corpos
menores do sistema solar, os asteroides. Muitos destes asteroides são de
natureza condrítica, outros são fragmentos de protoplanetas diferenciados que
foram quebrantados por colisões bilhões de anos atrás e ainda outros são
asteroides gigantes diferenciados em crosta, manto e núcleo. Alguns raros
meteoritos são amostras da crosta da Lua, de Marte e provavelmente do
planeta Mercúrio. Não temos conhecimento de se algum meteorito não
agrupado seja com certeza amostras de partes distantes do Sistema Solar,
talvez de algum satélite pequeno de Júpiter ou Saturno, não sabemos. As
amostras para o estudo petrológico na meteorítica são pontuais e escassas, o
meteoriticista deve fazer uma profunda investigação realizando análises
químicas refinadas nos meteoritos tais como análises pontuais de fases
minerais através de microssonda eletrônica para obter teores dos elementos
químicos maiores, menores e traços, através de espectrômetro de massa para
obter dados de isótopos radiogênicos e estáveis e também análises do mais
recente instrumento analítico, a microssonda iônica, que mede pontualmente
a composição de isótopos estáveis numa amostra. Existem ainda outras
técnicas analíticas tais como espectroscopia Mossbäuer, espectroscopia em
infravermelho, Raman e ativação de nêutrons.

Com todas estes dados em mãos o petrólogo de meteoritos deve inferir


modelos de formação e evolução do corpo parental desse meteorito. Mas
diante de tanta tecnologia e avanço a etapa básica de petrografia é
insubstituível. De nada adianta fazer análises em equipamentos complexos e
caros numa lâmina de rocha às cegas sem fazer uma descrição petrográfica ao
microscópio óptico. Sem isso o pesquisador não terá a menor ideia de qual
caminho analítico tomar, ele não saberá que tipo de rocha é, não terá
informações da mineralogia, textura, estrutura, etc. Sem saber nada da rocha
através do microscópio petrográfico a pesquisa é cega e inútil. Falamos até
agora dos minerais que permitem a transmissão da luz polarizada, mas quanto
aos minerais opacos?

Normalmente minerais metálicos tais como o ferro-níquel, troilita e sulfetos


metálicos tais como pentlandita, pirrotita, cromita, ilmenita e oldhamita
absorvem a luz sendo materiais opacos. Neste caso a análise petrográfica é
feita à luz polarizada refletida. O microscópio possui um acessório extra que
representa uma fonte de luz polarizada que atravessa a lente objetiva, reflete
na superfície da lâmina da rocha e retorna para a ocular. Neste caso a lâmina
da rocha não pode ter lamínula em cima e a superfície deve ser bem polida
para que os minerais opacos ajam como refletores ideais e retornem o sinal
luminoso com maior qualidade. O petrólogo vai avaliar as propriedades
ópticas dos minerais opacos à luz refletida. As principais propriedades que
podemos citar aqui como exemplo são cor, refletividade, anisotropia e maclas.
Com respeito à cor tudo depende da fonte de luz, no entanto, considerando
uma luz policromática polarizada o ferro-niquel se apresenta branco prateado
claro a amarelo brilhante, a troilita tem cor bronze escura, cromita aparece
com cor cinza clara, sulfetos de ferro como a pentlandita apresentam-se em
tons de bronze brilhante, minerais de minério comuns como a magnetita
apresenta cor preta acinzentada com maclas em duas direções aparecendo
como linhas que lembram sulcos retos no grão mineral.

A anisotropia do mineral é fornecida quando a refletividade, o grau de


intensidade de luz recebido na lente ocular, modifica-se em ângulos
específicos quando giramos o estágio do microscópio. Minerais opacos
anisotrópicos não cristalizam no sistema cúbico.
IMAGEM À LUZ POLARIZADA REFLETIDA DA LÂMINA DELGADA DE UM
METEORITO EVIDENCIANDO GRÃOS DE FERRO-NÍQUEL COM COR BRANCA
PRATEADA E UMA INCLUSÃO DE TROILITA COM COR BRONZE CLARA EM UM
GRÃO DE FERRO-NÍQUEL. AQUI O AUTOR CONSEGUIU IDENTIFICAR TAMBÉM
PEQUENAS INCLUSÕES DE COBRE METÁLICO AO LADO ESQUERDO DA TROILITA.

Uma ferramenta muito importante para a distinção de fases opacas numa


rocha é o microscópio eletrônico de varredura (MEV ou SEM, em inglês
- Scanning Electron Microscope) associado a um equipamento de
espectroscopia de dispersão de raios X, o EDS (sigla para Energy Dispersive
Spectroscopy). O equipamento permite a obtenção de uma imagem em tons
de cinza da região da lâmina de rocha e no caso de imagens em elétrons
retroespalhados é possível distinguir fases que contêm mais elementos
químicos de maior peso atômico de fases contendo elementos de menor peso
atômico. Por exemplo, observando a imagem de elétrons retroespalhados de
um grão de cromita ao lado de um grão de plagioclásio pode-se ver claramente
a diferença porque o grão de cromita vai aparecer mais branco e o plagioclásio
vai aparecer cinza.

Devido à presença de cromo e ferro na cromita e de cálcio e sódio no


plagioclásio, elementos de maior peso atômico e menor peso atômico
respectivamente, mais elétrons são desviados do feixe de elétrons do
microscópio em uma amostra contendo átomos pesados porque contêm mais
elétrons para a interação ocorrer entregando para o computador um sinal
mais forte do espectro de elétrons retroespalhados pela fase mineral. O EDS
permite análise química pontual semi-quantitativa, devido à baixa precisão,
das fases minerais, fornecendo os percentuais em massa dos elementos
químicos na forma isolada ou na forma de seus óxidos. O limite de resolução
analítica do EDS é geralmente de 1000 ppm até 100 ppm. A microssonda
eletrônica seria um EDS mais sofisticado com mais cristais analisadores que
utilizam comprimentos de onda de raios X em vez de energias de fótons de
raios X e eles são calibrados constantemente com padrões de composições
químicas conhecidas. A microssonda eletrônica tem uma resolução analítica
de até 0,1 ppm, dependendo muito do equipamento e seu modo de operação.
O EDS é muito útil para se ter uma análise química de qualidade boa e rápida,
dando a oportunidade ao pesquisador de identificar com maior propriedade as
fases minerais numa rocha. Por exemplo, supondo que identificamos na
petrografia um grão de cromita, mas queremos ter a certeza de nossa
descrição; ao realizar análise de EDS no suspeito grão de cromita o software
vai nos mostrar a identidade química da cromita, aparecendo no espectro os
picos de cromo, ferro e oxigênio. Os percentuais em óxidos do cromo e do
ferro serão os dados entregados pelo software do equipamento. Realizando
cálculos estequiométricos podemos chegar à fórmula empírica da cromita,
confirmando nosso mineral em questão.

IMAGEM DE MEV DE ELÉTRONS RETROESPALHADOS DE UM CUMULATO


CROMITÍFERO TERRESTRE, O PRINCIPAL MINÉRIO DE CROMO NO PLANETA. NA
IMAGEM "D" OBSERVAMOS UM GRÃO DE CROMITA APARECENDO BRANCO E
GRÃOS DE OLIVINA BEM CINZAS ESCUROS, DEMONSTRANDO A DIFERENÇA DE
NÚMEROS ATÔMICOS MÉDIOS NESTES MINERAIS.
ESPECTRO DE EDS DE FERRO-NÍQUEL METÁLICO EM UM METEORITO,
OBSERVAMOS OS DOIS PICOS DE ENERGIA DO FERRO E DO NÍQUEL. A ALTURA
DO PICO É DIRETAMENTE PROPORCIONAL À CONCENTRAÇÃO DO ELEMENTO NA
FASE.

Além da identificação e classificação dos minerais e texturas específicas nas


rochas, a maioria dos meteoritos rochosos, com exceção dos condritos, são
rochas ígneas ou brechas de rochas ígneas, geralmente plutônicas a
subvulcânicas, que possuem composição básica de olivinas, ortopiroxênios,
clinopiroxênios e plagioclásio. Tais meteoritos, os acondritos, são muitas vezes
classificados de acordo com diagramas ternários utilizados para as rochas
máficas e ultramáficas terrestres. O único equivalente vulcânico mais
recorrente nos meteoritos são os basaltos. Os diagramas para dar nome a uma
rocha levam em conta as frequências modais dos minerais numa lâmina
delgada avaliada. Esse é chamado de percentual modal, quando contamos e
estimamos a frequência de ocorrência dos minerais numa rocha. Por exemplo,
um ortopiroxenito é uma rocha que possui mais de 90% de ortopiroxênio em
sua composição. Assim os meteoriticistas também se valem dessas
classificações de rocha para caracterizar muitos meteoritos acondritos.

DIAGRAMA TERNÁRIO DE CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS PLUTÔNICAS MÁFICAS


ONDE OS EXTREMOS SÃO AS FREQUÊNCIAS MODAIS DE OPX, CPX E
PLAGIOCLÁSIO. QUANDO A ROCHA TEM MAIS DE 90% DE PLAGIOCLÁSIO ELA
RECEBE O NOME DE ANORTOSITO, QUANDO TEM 90% DE CPX É CHAMADA DE
CLINOPIROXENITO E QUANDO TEM MAIS DE 90% DE OPX É CHAMADA DE
ORTOPIROXENITO. UMA ROCHA COM PROPORÇÕES CONSIDERÁVEIS DE CPX E
PLAGIOCLÁSIO É CHAMADA DE GABRO E ROCHAS COM PROPORÇÕES
CONSIDERÁVEIS DE OPX E PLAGIOCLÁSIO SÃO CHAMADAS DE NORITOS,
INTERMEDIÁRIAS SÃO GABRONORITOS. OS EQUIVALENTES VULCÂNICOS DOS
GABROS SÃO GENERICAMENTE CHAMADOS DE BASALTOS.

DIAGRAMA TERNÁRIO DE CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS ULTRAMÁFICAS COM OS


EXTREMOS SENDO OPX, CPX E OLIVINA, AS ROCHAS QUE PLOTAM NOS CAMPOS
INTERMEDIÁRIOS RECEBEM O NOME GENÉRICO DE PERIDOTITOS, QUANDO
POSSUEM MENOS DE 50% DE OLIVINA SÃO DITOS WEBSTERITOS E QUANDO
POSSUEM MAIS DE 50% DE OLIVINA SÃO CHAMADOS DE LHERZOLITOS.
AUSÊNCIA DE CPX CONFIGURA UM HAZBURGITO E AUSÊNCIA DE OPX
CONFIGURA UM WHERLITO. O QUE NÃO APARECE NESTE DIAGRAMA SÃO OS
TROCTOLITOS, ROCHAS COMPOSTAS DE 50% DE PLAGIOCLÁSIO E 50% DE
OLIVINA.

A seguir vamos ver alguns exemplos de microscopia à luz polarizada de várias


lâminas delgadas de diferentes grupos de meteoritos e como estão dispostos
seus minerais, quais são suas composições mineralógicas, que texturas e
estruturas estão presentes e como são descritas, dentre outros detalhes.
Vamos avaliar cada lâmina delgada e observarmos a beleza destas rochas
quando observadas através do microscópio petrográfico.
- CONDRITOS AO MICROSCÓPIO PETROGRÁFICO:

IMAGEM COM NICOIS CRUZADOS DE UM CONDRITO L3.8 APRESENTANDO


AINDA UMA MATRIZ INTERSTICIAL DE GRANULAÇAÕ FINA, ALGUNS
CÔNDRULOS APARECEM DE FORMA VISÍVEL, UM CRIPTOCRISTALINO (C),
OUTRO DE OLIVINA PORFIRÍTICA COM UM CRISTAL DE OLIVINA MARCADO (Ol)
E CRISTAIS MENORES RESULTANTES DA MATRIZ RECRISTALIZADA COMO UM
GRÃO DE ORTOPIROXÊNIO EVIDENCIADO (Opx).

IMAGEM COM OS NICOIS CRUZADOS DE UM CONDRITO H4 EVIDENCIANDO DOIS


CÔNDRULOS UNTADOS, SUAS TEXTURAS SÃO DE OLIVINA BARRADA, AQUI A
OLIVINA APRESENTA COR DE INTEFERÊNCIA AMARELA ESCURA. AO REDOR
PODEMOS OBSERVAR NO CANTO INFERIOR ESQUERDO CRISTAIS DE
CLINOPIROXÊNIO POBRE EM CÁLCIO CHAMADO CLINOENSTATITA. REGIÕES
ESCURAS PODEM SER MINERAIS OPACOS, PRINCIPALMENTE FERRO-NÍQUEL.

IMAGEM COM NICOIS CRUZADOS DE UM CONDRITO CARBONÁCEO CV3


MOSTRANDO PEQUENOS CÔNDRULOS DE OLIVINA BARRADA E GRANULAR (Ol),
UMA INCLUSÃO REFRATÁRIA CÁLCIO-ALUMINOSA (CAI) ESTÁ EM EVIDÊNCIA,
CONSISTINDO DE UM AGLOMERADO POROSO DE MINERAIS COM COR DE
INTERFERÊNCIA CINZA. A SETA MOSTRA O ESPAÇO INTERSTICIAL ESCURO, EM
EXTINÇÃO, QUE É A MATRIZ AMORFA E CRIPTOCRISTALINA.

IMAGEM COM OS NICOIS CRUZADOS DE UM CONDRITO CARBONÁCEO CM2,


MOSTRANDO A ABUNDÂNCIA DE MATRIZ DE GRANULAÇÃO FINA,
COMPLETAMENTE EM EXTINÇÃO ÓPTICA, ONDE ESTÃO MINERAIS DE
ALTERAÇÃO AQUOSA DE BAIXA TEMPERATURA. ESPALHADOS NA MATRIZ
ESTÃO PEQUENOS CÔNDRULOS E FRAGMENTOS DE CÔNDRULOS E CAIs.
IMAGEM À LUZ POLARIZADA NATURAL DE UMA LÂMINA INTEIRA DE UM
CONDRITO ORDINÁRIO LL3.2, OBSERVAR A ABUNDÂNCIA DE CÔNDRULOS
MUITO BEM DEFINIDOS, AQUI A ESCALA É DE 0,5 mm a 1 mm EM MÉDIA.
OBSERVAR A POUCA QUANTIDADE DE MATRIZ NESTE CONDRITO.
- ACONDRITOS PRIMITIVOS AO MICROSCÓPIO PETROGRÁFICO:

IMAGEM COM OS NICOIS CRUZADOS DE UM UREILITO, COMPOSTO DE MAIS DE


90% DE CRISTAIS DE OLIVINA (Ol) AQUI COM VÁRIAS CORES DE INTERFERÊNCIA.
AS REGIÕES INTERSTICIAIS ESCURAS (ENTRE OS GRÃOS DE OLIVINA) SÃO A
MATRIZ QUE É NORMALMENTE COMPOSTA DE FERRO-NÍQUEL E MATERIAL
CRIPTOCRISTALINO NORMALMENTE DE COMPOSIÇÃO CARBONÁCEA,
PRINCIPALMENTE GRAFITA.

IMAGEM COM OS NICOIS CRUZADOS DE UM LODRANITO, NOTAR A


GRANULAÇÃO GROSSA COMPOSTA DE OLIVINA (Ol), ORTOPIROXÊNIO (Opx) E
FERRO-NÍQUEL METÁLICO ABUNDANTE (Met), O METAL EXISTE NOS
INTERSTÍCIOS. OS GRÃOS TENDEM A FORMAR CONTATOS EM GEOMETRIA
TRÍPLICE COM ÂNGULOS APROXIMADOS DE 120º INDICANDO TEXTURA DE
EQUILÍBRIO METAMÓRFICO. OS LODRANITOS SÃO ROCHAS RESULTANTES DE
METAMORFISMO DE ALTO GRAU DE ROCHAS ORIGINALMENTE CONDRÍTICAS.
IMAGEM COM OS NICOIS CRUZADOS DE UM ACAPULCOÍTO, QUE
ESSENCIALMENTE TEM A MESMA COMPOSIÇÃO MINERALÓGICA DOS
LODRANITOS, AS PORÇÕES ESCURAS INTERSTICIAIS SÃO FERRO-NIQUEL,
EXCETO QUE OS ACAPULCOÍTOS TÊM A GRANULAÇÃO MAIS FINA, A IMAGEM
DOS LODRANITOS ACIMA ESTÁ NA MESMA ESCALA COMPARANDO O TAMANHO
DOS GRÃOS. OS ACAPULCOÍTOS FORMAM UMA SÉRIE PETROLÓGICA COM OS
LODRANITOS, ONDE ESTES PRIMEIROS SÃO RESULTANTES DE METAMORFISMO
DE ALTO GRAU DE CONDRITOS, MAS AINDA DE MENOR GRAU QUE OS
LODRANITOS.

IMAGEM COM OS NICOIS CRUZADOS DE UM WINONAÍTO, QUE PARECE TER A


MESMA TEXTURA DOS ACAPULCOÍTOS, A MINERALOGIA É A MESMA, MAS A
GRANULAÇÃO É LIGEIRAMENTE MENOR E A QUANTIDADE MODAL
(PERCENTUAL EM VOLUME) DE FERRO-NÍQUEL É MAIOR. OS WINONAÍTOS SÃO
AGRUPADOS COM OS METEORITOS METÁLICOS CONTENDO SILICATOS, TAMBÉM
CONSIDERADOS DE ORIGEM METAMÓRFICA A PARTIR DE ROCHAS
ORGINALMENTE CONDRÍTICAS. NA IMAGEM É POSSÍVEL NOTAR UM VEIO DE
METAL CORTANDO A ROCHA, INDICANDO PROVÁVEL EVENTO DE IMPACTO EM
SEU ASTEROIDE PARENTAL.

IMAGEM COM OS POLARIZADORES CRUZADOS DE UM BRACHINITO, UMA


ROCHA COMPOSTA PRATICAMENTE POR OLIVINA, AQUI VEMOS CRISTAIS DE
OLIVINA COM VÁRIAS CORES DE INTERFERÊNCIA, A REGIÃO ESCURA NO
CENTRO É OUTRO GRÃO DE OLIVINA EM EXTINÇÃO. ELE É CLASSIFICADO COMO
UM DUNITO, UMA ROCHA COMPOSTA POR MAIS DE 90% DE OLIVINA. NÃO SE
SABE SE OS BRACHINITOS SÃO RESULTANTES DE CRISTALIZAÇÃO CUMULÁTICA
A PARTIR DE UM MAGMA DE COMPOSIÇÃO CONDRÍTICA OU SE REPRESENTA
RESTITO DE FUSÃO PARCIAL DE MATERIAL ORIGINALMENTE CONDRÍTICO.
DIFERENTEMENTE DOS UREILITOS, OS BRACHINITOS POSSUEM GRÃOS MAIS
ARREDONDADOS DE OLIVINA E NÃO POSSUI MATRIZ COM ABUNDANTE
FERRO-NÍQUEL, GRAFITA É AUSENTE NOS BRACHINITOS.
- ACONDRITOS DIFERENCIADOS AO MICROSCÓPIO
PETROGRÁFICO:

IMAGEM COM NICOIS CRUZADOS DE UM ANGRITO MOSTRANDO CRISTAIS


ESQUELETAIS (PRISMAS CURTOS E FORMAS PONTUDAS) TÍPICA TEXTURA DE
ROCHA VULCÂNICA, A COMPOSIÇÃO MINERALÓGICA É ESSENCIALMENTE
CLINOPIROXÊNIO (Cpx), PLAGIOCLÁSIO (Pl) E OLIVINA (Ol) CLASSIFICANDO
ESTE COMO UM OLIVINA BASALTO. OS ANGRITOS SÃO RESULTANTES DE
VULCANISMOS EM EMBRIÕES PLANETÁRIOS OCORRIDOS HÁ 4,55 BILHÕES DE
ANOS.

IMAGEM COM OS NICOIS CRUZADOS DE UM AUBRITO COM TEXTURA DE


BRECHA, PROVAVELMENTE UMA BRECHA DE IMPACTO COM ABUNDANTES
CLASTOS DE CRISTAIS DE ORTOPIROXÊNIO MAGNESIANO (ENSTATITA) E
OLIVINA MAGNESIANA EM MENOR QUANTIDADE, A REGIÃO ESCURA PODEM
SER CRISTAIS EM EXTINÇÃO ÓPTICA, MAS TAMBÉM REPRESENTA MATRIZ DE
MATERIAL VITRIFICADO. OS AUBRITOS SÃO RESULTADO DA FUSÃO PARCIAL DE
CONDRITOS ENSTATITOS, FORMANDO UMA ROCHA CLASSIFICADA COMO
ORTOPIROXENITO MAGNESIANO OU MAIS APROPRIADAMENTE UMA
ACONDRITO ENSTATITO.

IMAGEM COM OS NICOIS CRUZADOS DE LÂMINA INTEIRA DE UM HOWARDITO,


UMA ROCHA COM TÍPICA TEXTURA DE BRECHA. OS CLASTOS COLORIDOS AQUI
SÃO GRÃOS DE OLIVINA E ORTOPIROXÊNIO IMERSOS NUMA MATRIZ FINA DE
MESMA COMPOSIÇÃO. ALGUNS GRÃOS BRANCOS PODEM SER CRISTAIS DE
PLAGIOCLÁSIO. OS HOWARDITOS SÃO RESULTADO DE LITIFICAÇÃO DE
MATERIAL INCONSOLIDADO DO REGOLITO DO ASTEROIDE 4 VESTA. ESSE
MATERIAL É UNIDO EM UMA ROCHA ATRAVÉS DE IMPACTOS NA SUPERFÍCIE DO
ASTEROIDE, FUNDINDO E UNTANDO OS CLASTOS ANTES SEPARADOS NO
REGOLITO. HOWARDITOS CONTÊM FRAGMENTOS DE EUCRITOS E DIOGENITOS.

IMAGEM COM POLARIZADORES CRUZADOS DE UM EUCRITO, OBSERVAR OS


CRISTAIS ALONGADOS DE HÁBITO ACICULAR DE PLAGIOCLÁSIO (Pl) FORMANDO
EMARANHADOS DE AGULHAS DE PLAGIOCLÁSIO E CRISTAIS DE
CLINOPIROXÊNIO PIGEONITA (Cpx). ESSA TEXTURA DE CRISTAIS ACICULARES E
ESQUELETAIS É TÍPICA DE RÁPIDO RESFRIAMENTO NO CORPO PARENTAL, OU
SEJA, UMA ROCHA VULCÂNICA. OS EUCRITOS SÃO BASALTOS DE ORIGEM EM
DERRAMES VULCÂNICOS OU INTRUSÕES SUBVULCÂNICAS NA CROSTA DO
ASTEROIDE 4 VESTA.
LÂMINA PETROGRÁFICA SOB POLARIZADORES CRUZADOS DE UM DIOGENITO,
ESTA ROCHA É COMPOSTA POR MAIS DE 90% DE ORTOPIROXÊNIO MAGNESIANO
E OLIVINA COMO MINERAL ACESSÓRIO. OS DIOGENITOS SÃO CUMULATOS
ULTRAMÁFICOS, ROCHAS PLUTÔNICAS CRISTALIZADAS NO INTERIOR DA
CROSTA DO ASTEROIDE 4 VESTA. ELES COMPÕEM UM GRUPO JUNTO DOS
EUCRITOS E DOS HOWARDITOS.
- ACONDRITOS PLANETÁRIOS AO MICROSCÓPIO
PETROGRÁFICO:

IMAGEM À LUZ POLARIZADA NATURAL DE UM SHERGOTTITO, METEORITO


MARCIANO, COM CRISTAIS DE ORTOPIROXÊNIO (Opx) E PLAGIOCLÁSIO
VITRIFICADO DE IMPACTO EM BRANCO CHAMADO DE MASKELYNITA (Mask). A
PRESENÇA DE MASKELYNITA INDICA ESTÁGIO DE CHOQUE ELEVADO, TÍPICO DE
MUITOS SHERGOTTITOS, DEVIDO AO PODER DO IMPACTO NECESSÁRIO EM
MARTE PARA EJETAR PEDAÇOS DA CROSTA MARCIANA PARA O ESPAÇO
INTERPLANETÁRIO.

IMAGEM COM OS NICOIS CRUZADOS DE UM NAKHLITO, UM METEORITO


MARCIANO, COMPOSTO PRATICAMENTE POR CLINOPIROXÊNIO RICO EM
CÁLCIO (AUGITA), SENDO UMA ROCHA PLUTÔNICA CUMULÁTICA, UM
CLINOPIROXENITO MARCIANO.

IMAGEM COM OS NICOIS CRUZADOS DO PRIMEIRO METEORITO CHASSIGNITO,


O PRÓPRIO CHASSIGNY, METEORITO MARCIANO, EVIDENCIANDO GRANDES
CRISTAIS DE OLIVINA (Ol) ABUNDANTES E CLINOPIROXÊNIO (Cpx)
INTERSTICIAL COM LAMELAS DE EXSOLUÇÃO. OS CHASSIGNITOS SÃO DUNITOS,
ROCHAS COMPOSTAS POR MAIS DE 90% DE OLIVINA, DE TEXTURA CUMULÁTICA
PLUTÔNICA. OS CHASSIGNITOS SÃO PROVAVELMENTE RESULTADO DE
CRISTALIZAÇÃO MAGMÁTICA NO INTERIOR DA CROSTA DO PLANETA MARTE.

IMAGEM COM OS POLARIZADORES CRUZADOS DE UMA BRECHA ANORTOSÍTICA


LUNAR, CLASSIFICADA COMO BRECHA DE REGOLITO. A PORÇÃO ESCURA É UMA
MATRIZ QUE CONTÉM EVIDÊNCIAS DE QUE ESTA ROCHA ERA REGOLITO LUNAR,
TAIS COMO GASES SOLARES IMPLANTADOS, MICROMETEORITOS, VIDRO DE
IMPACTO ESFERULÍTICO, ETC. BOA PARTE DOS CLASTOS BRANCOS E
FRAGMENTOS SÃO DE PLAGIOCLÁSIO E ROCHAS CONTENDO PLAGIOCLÁSIO. AS
BRECHAS ANORTOSÍTICAS SÃO ORIUNDAS DE IMPACTOS RECORRENTES NAS
TERRAS ALTAS LUNARES DE COMPOSIÇÃO PREDOMINANTEMENTE
ANORTOSÍTICA E TROCTOLÍTICA.

IMAGEM COM OS NICOIS CRUZADOS DE UM BASALTO LUNAR, ORIUNDO DOS


MARES LUNARES, ONDE OBSERVAMOS TEXTURAS SIMILARES A DOS EUCRITOS,
COM CRISTAIS ACICULARES DE PLAGIOCLÁSIO, CRISTAIS ESQUELETAIS DE
CLINOPIROXÊNIO PROVAVELMENTE DE COMPOSIÇÃO AUGITA E OLIVINA.
TEXTURA TÍPICA DE ROCHA VULCÂNICA, PORTANTO CLASSIFICADA COMO
BASALTO.
7. Os Côndrulos e os Condritos

FATIA DO CONDRITO CARBONÁCEO ALLENDE (CV3) MOSTRANDO AS ESFÉRULAS


DE MINERAIS ÍGNEOS, OS CÔNDRULOS E MANCHA BRANCA DO LADO DIREITO É
UM CAI, UMA INCLUSÃO REFRATÁRIA CÁLCIO-ALUMINOSA.

Os côndrulos são pequenas esférulas de minerais ultramáficos (olivinas e


piroxênios) que foram formadas por processos de fusão e cristalização ígnea
no disco protoplanetário. A composição elementar dos côndrulos é
semelhante à composição elementar da fotosfera do Sol, indicando que estas
gotas de minerais ígneos foram formadas na época anterior à aglutinação dos
planetesimais, preservando a composição original da nebulosa solar.

A origem dos côndrulos, no entanto, não é prevista em teorias puramente


físicas de formação planetária. A descoberta de que os meteoritos condritos
contêm os côndrulos e que estes são partículas minerais tão antigas quanto o
Sistema Solar forçou os pesquisadores a criar modelos de formação de
côndrulos no disco de acreção protoplanetário. Qual a fonte de calor para
produzir os côndrulos? Quanto tempo permaneceram no estado líquido? Qual
foi a temperatura de pico e qual a velocidade de resfriamento dos côndrulos?
Estas perguntas são feitas pelos cosmoquímicos e meteoriticistas há séculos.
Os côndrulos são enigmáticas estruturas cujo modelo de geração destes requer
análise profunda dos condritos primitivos, isto é, condritos que não passaram
por alteração aquosa de baixa temperatura ou recristalização por
metamorfismo termal. Os condritos primitivos preservam a química e
composição isotópica original dos côndrulos, permitindo aos pesquisadores
analisá-los individualmente.

Datações radiométricas pelo sistema isotópico Pb-Pb em côndrulso de


condritos primitivos permitiu chegar ao valor de 3 milhões de anos para o
tempo de formação dos côndrulos. Ou seja, os sólidos mais antigos do sistema
solar datados por este método de datação absoluta são as inclusões refratárias
cálcio-aluminosas, as CAIs; estes sólidos foram os primeiros aglomerados de
fases minerais a se condensar a partir da nebulosa solar. De forma
concomitante às CAIs e se estendendo pelos primeiros três milhões de anos de
história do sistema solar na fase de disco protoplanetário, os côndrulos foram
gerados. Os principais reservatórios dos côndrulos são os condritos. O que são
os condritos?

Os condritos são meteoritos formados de côndrulos e matriz, eles são os


meteoritos que possuem a composição elementar mais semelhante à
distribuição elementar da fotosfera solar. Em cosmoquímica a distribuição dos
elementos químicos medida na atmosfera solar é chamada de distribuição
cósmica dos elementos químicos da tabela periódica e é denominada de SAD
(Standard Average Distribution), do inglês, distribuição média padrão. Os
condritos possuem a distribuição cosmoquímica semelhante ao SAD. Logo, os
condritos são as rochas mais antigas do Sistema Solar. Os condritos são
rochas sedimentares geradas pela aglomeração gravitacional de côndrulos e
poeira protoplanetária. A poeira processada no disco protoplanetário formou
uma massa de minerais criptocristalinos, material silicático e carbonáceo
amorfo e vítreo que sustenta os côndrulos, esférulas de olivinas e piroxênios,
contendo também fases vítreas quando os côndrulos estão preservados sem
metamorfismo ou alteração aquosa em sua rocha parental. O material
silicático vítreo protoplanetário contido no interior dos côndrulos nos
interstícios dos minerais máficos e contido na matriz dos condritos é
denominado de mesostasis. Quando a mesostasis passa por metamorfismo
termal no corpo parental dos condritos ela é transformada em plagioclásios
sódicos e clinopiroxênio cálcico.

GRÁFICO DE COMPARAÇÃO ENTRE A COMPOSIÇÃO QUÍMICA SOLAR


NORMALIZADA PARA O ELEMENTO SILÍCIO E A COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS
CONDRITOS CI. OBSERVAR A SIMILARIDADE ENTRE AMBAS AS DISTRIBUIÇÕES
ELEMENTARES.
Os condritos foram datados pelo método radiométrico do sistema
urânio-chumbo com a idade de 4,55 bilhões de anos. As CAIs foram datadas
pelo método chumbo-chumbo em 4,6 bilhões de anos, sendo os sólidos mais
antigos, ocorrendo na matriz dos condritos carbonáceos e raramente em
alguns condritos ordinários primitivos. Os condritos são separados em classes,
os ordinários, carbonáceos, enstatitos, rumurutitos e kakangari. Os condritos
ordinários recebem esse nome porque são os mais abundantes dentre todos os
meteoritos coletados até hoje. Os condritos ordinários possuem abundância
elementar dos elementos litófilos refratários semelhante ao SAD. Os condritos
são separados em grupos químicos de acordo com dados de geoquímica de
rocha total e de isótopos estáveis de oxigênio.

Cada grupo químico é interpretado como um diferente corpo parental de


origem desses meteoritos. Assim, os condritos ordinários são separados em
três grupos químicos: L, LL e H. Os condritos L possuem entre 5% até 10% de
ferro-níquel metálico, os condritos LL possuem menos de 5% de ferro
metálico, e baixo teor de ferro total dentre todos os ordinários e os condritos
H possuem teores de ferro-níquel entre 15% até 25% (teores em volume da
rocha). Os condritos carbonáceos possuem abundância elementar de
elementos litófilos refratários e voláteis semelhante ao SAD e possuem razões
elementares Ca/Si e Al/Si superior a dos outros condritos, devido à presença
de inclusões CAIs, AOAs (Amoeboid Olivine Aggregates) e côndrulos
cálcio-aluminosos. Além disso, os condritos carbonáceos possuem a matriz
alterada por oxidação de baixa temperatura e fraco metamorfismo termal.
Como consequência, a matriz originalmente silicática máfica de alta
temperatura foi alterada para magnetita, serpentinas e cloritas. Alguns
carbonáceos contêm teores de carbono em massa entre 2% até 5% e água
estrutural entre 5% até 20%. Os condritos carbonáceos são separados nos
seguintes grupos químicos: CI, CM, CV, CO, CB, CH, CK e CR.

ESQUEMA SIMPLIFICADO DE CLASSIFICAÇÃO DAS TRÊS PRINCIPAIS CLASSES DE


CONDRITOS E OS RESPECTIVOS TIPOS PETROLÓGICOS DE CADA GRUPO
QUÍMICO.

Os condritos enstatitos são condritos com o mais baixo grau de oxidação de


seus minerais. Eles são rochas compostas majoritariamente por ortopiroxênio
magnesiano, enstatita, e olivina magnesiana, forsterita. O teor de magnésio
dos minerais é muito elevado e o ferro está quase completamente na fase
metálica na liga de ferro-níquel. Devido ao ambiente redutor da nebulosa
solar em que os corpos parentais dos enstatitos se aglutinaram, minerais
exóticos existem nesses meteoritos. Alguns destes minerais são oldhamita,
niningerita, alabandita e keilita. Os enstatitos são separados em dois grupos
químicos: EL e EH. Os EL são menos abundantes em ferro metálico e mais
oxidados e os EH são os mais abundantes em ferro metálico e menos oxidados.
Os condritos rumurutitos são brechas de regolito asteroidal oxidados com
baixíssimo teor de ferro-níquel e baixo grau metamórfico, possuem
semelhança petrográfica com os condritos LL. Os condritos kakangari são um
pequeno grupo de condritos anômalos petrograficamente semelhantes aos
condritos ordinários e com composição isotópica de oxigênio semelhante aos
condritos carbonáceos CV.

TEXTURA DO CONDRITO PRIMITIVO SEMARKONA, TIPO PETROLÓGICO 3,


MOSTRANDO A MATRIZ FINA ORIGEM PROTOPLANETÁRIA, MUITAS VEZES
SILICATOS CRIPTOCRISTALINOS E AMORFOS PROCESSADOS POR EVENTOS
TERMAIS NA FASE PRÉ-PLANETÁRIA E PRESENÇA DE MATÉRIA SILICÁTICA
VÍTREA COM ELEMENTOS LITÓFILOS VOLÁTEIS (Na e K) CHAMADA MESOSTASIS.
SUSTENTADOS POR ESTA MATRIZ PRIMORDIAL ESTÃO OS CÔNDRULOS,
ESFÉRULAS DE SILICATOS MÁFICOS (OLIVINAS E PIROXÊNIOS) GERADOS POR
PROCESSO ÍGNEO PROTOPLANETÁRIO.

Todo esse sistema de classificação dos condritos foi aperfeiçoado e compilado


por Van Schmus e Wood em 1967. Além da classificação em grupos químicos
usando dados de geoquímica total e isótopos estáveis de oxigênio, a
classificação petrográfica do grau de alteração termal e aquosa dos condritos
foi sintetizada nos tipos petrológicos que são designados por números de 1 até
6. Os condritos de tipo petrológico 1 e 2 são aqueles que possuem alteração
aquosa de baixa temperatura, mais característico dos condritos carbonáceos
mais primitivos CI e CM. Quando falamos aqui em primitivo no caso desses
dois grupos de carbonáceos, estamos nos referindo à semelhança entre a
distribuição elementar desses condritos e a distribuição elementar da
fotosfera solar, ou SAD (Standard Average Distribution) na cosmoquímica.

Ou seja, representam material primordial pouco fracionado do disco


protoplanetário. A alteração aquosa de baixa temperatura é caracterizada pela
serpentinização e cloritização dos minerais originais de alta temperatura,
olivinas e piroxênios. Oxidação das fases ferro-níquel e troilita para magnetita,
ilmenita, pentlandita e pirrotita. Transformação de fases carbonáceas em
carbonatos de ferro e magnésio por interação com as fases metálicas e
sulfetadas. Também podem aparecer como produto de oxidação e alteração
aquosa sulfatos de ferro e fayalita. Esta última sendo uma olivina rica em ferro,
gerada por oxidação de baixa temperatura na matriz dos condritos CI e CM.
Outra característica do tipo petrológico 1 é a ausência de côndrulos e a matriz
de granulação fina e natureza amorfa e criptocristalina apresenta-se brechada
cortada por veios de carbonatos e sulfatos, tudo isto produto de alteração de
gelo de água fundido no interior dos asteroides parentais desses condritos
carbonáceos. O tipo petrológico 2 é caracterizado pela presença esparsa de
côndrulos pequenos e parte destes alterados por serpentinização e cloritização.
Os tipos 1 e 2, além da presença de água estrutural, presença de carbono na
forma de carbonatos, matéria carbonácea amorfa formada de hidrocarbonetos
complexos, moléculas orgânicas extraterrestres tais como aminoácidos, bases
nitrogenadas, carboidratos e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, e na
forma de grãos pré-solares de grafita, nanodiamantes, carbeto de silício
(moissanita) e carbeto de titânio.

TEXTURA EM MICROSCÓPIO PETROGRÁFICO DO CONDRITO MURCHISON (CM2)


MOSTRANDO A PREDOMINÂNCIA DE UMA MATRIZ ESCURA, CRIPTOCRISTALINA,
AMORFA E COM A MINERALOGIA MODIFICADA POR ALTERAÇÃO AQUOSA DE
BAIXA TEMPERATURA EM SEU ASTEROIDE PARENTAL. OBSERVAR ALGUNS
PEQUENOS CÔNDRULOS DE OLIVINA PREDOMINANTE.

O tipo petrológico 3 representa os condritos primitivos propriamente ditos,


isto é, os condritos que não possuem alteração aquosa de baixa temperatura e
nem alteração por recristalização causada por metamorfismo termal no corpo
do asteroide parental. O tipo 3 é caracterizado pela textura condrítica original
formada pela matriz fina de silicatos amorfos e criptocristalinos, fases vítreas
da mesostasis e pelos côndrulos, sustentados por esta matriz primordial, com
sua composição química e isotópica original do início do Sistema Solar. Os
côndrulos são as esférulas de minerais máficos, compostos essencialmente por
olivina, ortopiroxênio, clinopiroxênio pobre em cálcio e mesostasis. Os
côndrulos possuem vários tipos de texturas dos minerais, ou seja, a forma
como os cristais estão arranjados formando as esférulas e o tamanho desses
grãos minerais. Os tipos petrológicos 4 até o 6 representam condritos
metamorfizados em grau crescente. O grau de metamorfismo é evidenciado
pela substituição da matriz original fina por grandes cristais de olivina,
piroxênio e plagioclásio, produzidos pela recristalização em estado sólido. A
fonte de calor do metamorfismo e também da alteração aquosa de baixa
temperatura foi o decaimento radioativo do isótopo alumínio-26 com uma
meia-vida de 700 mil anos. Nos primeiros 16 milhões de anos de história do
sistema solar, os asteroides foram transformados pelo calor liberado desse
decaimento radioativo. O alumínio-26 é um isótopo extinto, seu nuclídeo filho,
o magnésio-26, é o que restou em excesso nos sólidos mais antigos nos
condritos, isto é, nas CAIs e nos côndrulos. Este excesso do isótopo radiogênio
Mg-26 é explicado em cosmoquímica como sendo relíquia da época de
enriquecimento isotópico da nebulosa solar com alumínio-26 gerado em
explosões de supernova tipo II, quando uma ou mais estrelas gigantes
explodiram próximo da nebulosa solar espalhando para o espaço interestelar
isótopos novos de meia-vida curta e o Al-26 foi então incorporado no disco
protoplanetário e parcialmente homogeneizado.

PETROGRAFIA DO CONDRITO BARWELL, TIPO PETROLÓGICO 6, MOSTRANDO A


AUSÊNCIA DA MATRIZ FINA QUE FOI COMPLETAMENTE RECRISTALIZADA PARA
OLIVINA, PIROXÊNIO E PLAGIOCLÁSIO E OS CÔNDRULOS ESTÃO PRATICAMENTE
INDISTINGUÍVEIS DA MATRIZ RECRISTALIZADA. É POSSÍVEL VISUALIZAR UM
CÔNDRULO COM AS BORDAS RECRISTALIZADAS NA PORÇÃO INFERIOR DIREITA
DA IMAGEM. AS PORÇÕES ESCURAS SÃO FERRO-NÍQUEL OPACO À LUZ
TRANSMITIDA.

Quando os corpos parentais dos condritos se formaram começou a fase de


acreção planetária em que os corpos menores, os chamados planetesimais,
começaram a se aglomerar gravitacionalmente em protoplanetas, planetoides
e embriões planetários. Cálculos de simulação numérica revelam que nesta
fase a taxa de colisões cósmica era elevada e os protoplanetas tinham
diâmetros que variavam do tamanho da Lua até o tamanho de Marte. Muitas
colisões dilaceraram a maioria dos protoplanetas em pedaços de asteroides
errantes. Estes asteroides passaram por metamorfismo termal em razão das
múltiplas colisões. Os efeito de colisões nos asteroides e protoplanetas é
chamado de choque que modifica a textura e estrutura dos minerais, até
mesmo modificando a mineralogia em casos extremos e isto fica registrado
nos meteoritos. Os condritos possuem diversos estágios de choque. A
classificação de Stoffler et al. (1991) traz à tona uma sistemática de
classificação dos estágios de choque desde o S0 (ou ausência virtual de choque)
até S6 com total obliteração da rocha original formando brechas de impacto,
veios e bolsões de material silicático e metálico fundidos e possível presença
de fases minerais de alta pressão como a ringwoodita.

Como citado anteriormente os côndrulos se encontram em diversas texturas


internas de seus minerais, e recebem uma sistemática de classificação
petrográfica e siglas de abreviação para cada um. Os côndrulos mais
abundantes são os de Piroxênio Radial (RP) também chamados de côndrulos
de piroxênios excentrorradiais, formado por cristais alongados de
ortopiroxênio magnesiano com hábitos de finas agulhas que partem de um
centro em comum. E os de Olivina Barrada (BO) chamados em inglês de
barred olivine chondrules. Estes côndrulos são compostos praticamente de
cristais de olivina magnesiana com hábito esqueletal em bandas separadas por
material vítreo intersticial, a mesostasis, rica em sílica, sódio e potássio.
Muitas vezes côndrulos BO possuem uma borda fina ou grossa de olivinas
envolvendo o hábito esqueletal das olivinas mais internas ao côndrulo. Muitas
vezes os côndrulos aparecem fundidos uns com os outros, partidos ao meio,
em fragmentos, etc. Tanto os côndrulos RP quanto os BO possuem mesostasis
com composição silicática rica em sódio, potássio e cálcio.

Côndrulos mais raros, mas igualmente frequentes nos condritos são os POP
(Porphyritic Olivine Pyroxene), ou seja, côndrulos porfiríticos de olivina e
piroxênio, compostos de cristais euedrais a subedrais ou mesmo arredondados
de olivina e piroxênios imersos na mesostasis, PO (Porphyritic Olivine) -
olivina porfirítica, cristais de olivina em mesostasis, PP (Porphyritic Pyroxene)
- piroxênio porfirítico, cristais de ortopiroxênio e/ou clinopiroxênio pobre em
cálcio (clinoenstatita) em mesostasis, GOP (Granular Olivine-Pyroxene) -
olivina-piroxênio granular, aglomerado de pequenos grãos de olivina e
piroxênio imersos na mesostasis e C - côndrulo criptocristalino, estes não
apresentam cristais definidos, tendo aspecto amorfo e pode ter composição de
olivina, piroxênio ou intermediário entre os dois. Além destes existem os
côndrulos poiquilíticos de olivina-piroxênio, que consistem de um inteiro
cristal de ortopiroxênio com inclusões de olivinas. Cada uma destas texturas
indica um modo de cristalização e resfriamento dessas bolinhas de material
ígneo silicático. Os côndrulos preservados todos têm a parte vítrea chamada
de mesostasis. Em condritos metamorfizados, os côndrulos tiveram sua
mesostasis recristalizada para fases de equilíbrio entre plagioclásios e
clinopiroxênio cálcico, especificamente uma paragênese de
oligoclásio-diopsídio.
TEXTURAS DE CÔNDRULOS:

CÔNDRULO DE PIROXÊNIO RADIAL (RP), QUANDO O ESTÁGIO DO MICROSCÓPIO


É GIRADO OCORRE ESTE EFEITO DE EXTINÇÃO DE CADA CRISTAL INDIVIDUAL
DE ORTOPIROXÊNIO COM HÁBITO ACICULAR.
CÔNDRULO DE OLIVINA BARRADA (BO), NOTAR COMO OS CRISTAIS DE OLIVINA
FORMAM HÁBITOS EM BASTÕES INTERCONECTADOS E NOTAR A BORDA ÍGNEA
DE OLIVINA ENVOLVENDO O CÔNDRULO.

CÔNDRULO PORFIRÍTICO DE OLIVINA-PIROXÊNIO (POP)


CÔNDRULO CRIPTOCRISTALINO, (C), NOTAR AUSÊNCIA DE ESTRUTURA VISÍVEL,
ESTE CÔNDRULO NA VERDADE É COMPOSTO DE DOIS CÔNDRULOS UNIDOS.

Porque os condritos são relevantes para o estudo da meteorítica? Por que eles
são as rochas mais antigas do Sistema Solar e guardam informações sobre
geoquímica, distribuição isotópica e cosmoquímica do início da formação
planetária, encerrando em seus conteúdos registros dos processos
pré-planetários. O principal registro pré-planetário ocorre na forma de
côndrulos, pequenas esferas de minerais ultramáficos ígneos gerados por
processos enigmáticos que ocorreram na fase de disco protoplanetário do
sistema solar.

FATIA DO METEORITO KRYMKA, CONDRITO LL3.1

A relevância dos condritos está nos seguintes fatos: Os componentes dos


condritos providenciam registros dos processos que ocorreram no disco
protoplanetário. Estes processos consistem de eventos de geração de
côndrulos e CAIs, que ocorreram muito antes destes próprios objetos se
aglutinarem nos planetesimais. As composições geoquímicas de rocha total
dos condritos são similares ao Sol, ou à composição elementar medida por
espectroscopia da fotosfera solar, ou seja, à distribuição cosmoquímica dos
elementos químicos ou SAD (Standard Average Distribution - distribuição
média padrão). Esta informação nos diz que os condritos representam
material preservado do disco protoplanetário, material que não foi processado
por eventos geológicos nos corpos parentais, que geraram os meteoritos
acondritos, principalmente as rochas ígneas asteroidais. Análises
principalmente de condritos carbonáceos revelam as inclusões refratárias
cálcio-aluminosas, ou CAIs, que são aglomerados de minerais de alta
temperatura, normalmente espinélios e óxidos de cálcio, alumínio, titânio e
magnésio, os primeiros sólidos a condensarem a partir do plasma quente da
nebulosa solar. Datação pelo método radiométrico chumbo-chumbo
providenciou a idade mais precisa para esses materiais revelando 4,6 bilhões
de anos para as CAIs, sendo estes os sólidos mais antigos do Sistema Solar.

GRÁFICO DA CONDENSAÇÃO CALCULADA DAS FASES MINERAIS A PARTIR DE


UMA COMPOSIÇÃO SOLAR (SAD - STANDARD AVERAGE DISTRIBUTION)
MOSTRANDO QUE AS FASES DE MAIS ALTA TEMPERATURA, RICAS EM CA, AL, TI
E MG FORMARAM AS CAIs (CALCIUM-ALUMINIUM RICH INCLUSIONS), OS
SÓLIDOS MAIS ANTIGOS DO SISTEMA SOLAR. A POEIRA PROTOPLANETÁRIA
PROCESSADA, JUNTAMENTE DE MINERAIS CONDENSADOS A PARTIR DO
PLASMA DA NEBULOSA SOLAR, FORAM AQUECIDOS E TRANSFORMADOS EM
GOTÍCULAS DE MATERIAL ÍGNEO QUE SOLIDIFICOU PARA FORMAR OS
CÔNDRULOS.

Os condritos encerram em si os côndrulos, CAIs e matriz. Esta última, nos


condritos desequilibrados ou primitivos, representa poeira protoplanetária e
mesostasis que se aglutinaram junto dos côndrulos e CAIs para formar os
planetesimais dos condritos. Os côndrulos mais bem preservados foram
datados com idades máximas de 3 milhões de anos após a formação das CAIs,
indicando que os côndrulos começaram a se formar junto das CAIs e
continuaram a ser produzidos e misturados no disco protoplanetário por 3
milhões de anos. Isto significa que os materiais mais importantes para a
formação planetária se formaram apenas nos primeiros três milhões de anos
de história do sistema solar. Vimos que os condritos carbonáceos são os mais
primitivos dentre os condritos, no que diz respeito à similaridade em
composição cosmoquímica com a composição da nebulosa solar,
especialmente os condritos CI e CM. Estes encerram em suas matrizes finas de
origem protoplanetária grãos pré-solares tais como a moissanita, grafita,
carbeto de titânio e nanodiamantes, silicatos pré-solares tais como enstatita e
olivina forsterita e material carbonáceo, principalmente na forma de
moléculas orgânicas extraterrestres, tanto de origem interestelar, ou seja,
pré-solar, quanto alteradas por processos posteriores nos asteroides parentais
desses condritos carbonáceos.

A questão da presença de moléculas orgânicas nos condritos carbonáceos


levou os pesquisadores a especularem que estes meteoritos podem ter sido os
responsáveis por semear a Terra com os ingredientes essenciais para a origem
e evolução bioquímica da vida. Evidências petrológicas através de petrografia
e geoquímica exaustiva nos condritos CI e CM demonstram que seus
asteroides parentais passaram por processos pós-planetários de alteração
aquosa de baixa temperatura, da mesma forma que os asteroides parentais
dos condritos ordinários passaram por extensos processos de metamorfismo
termal com modificação de suas texturas originais. Os condritos alterados por
processos de baixa temperatura e por metamorfismo termal perderam a
informação isotópica e geoquímica original de seus côndrulos e não podem ser
utilizados para se estudar os côndrulos separadamente. Os condritos ideais
para estudar os côndrulos à parte são os condritos primitivos, aqueles que não
passaram por alteração aquosa e nem por metamofismo termal e estes
condritos são do tipo petrológico 3.

Um dos dados interessantes sobre os côndrulos são as variadas composições


químicas que eles possuem quando plotamos num gráfico, por exemplo, do
percentual em massa de óxido de magnésio versus dióxido de silício. As fases
minerais que também ocorrem em todos os côndrulos e que não foram citadas
na Parte 1 deste artigo são ferro-níquel metálico e troilita. Estes dois
representam fases de condensação de temperatura mais baixa que os silicatos
ferromagnesianos. Entretanto, devemos lembrar de que os côndrulos são
pequenas rochas ígneas de forma esferoidal que foram geradas por processos
de aquecimento que ocorreram na poeira protoplanetária que foi condensada
e misturada a partir da nebulosa solar. Diante destes fatos os côndrulos
representam um quebra-cabeças formidável para os petrólogos experimentais.
Para reproduzir o ambiente de formação dos côndrulos os pesquisadores
tiveram de controlar pressão, temperatura e composição química para que os
côndrulos produzidos em laboratório apresentassem semelhança com as
texturas naturais observadas nos condritos.

Resultados experimentais demonstraram que os côndrulos de olivina barrada


e os de piroxênio radial se formam apenas quando as gotas estão
completamente fundidas e a taxa de resfriamento foi calculada dentro de uma
ampla faixa de 0,1 ºC/hora até 100ºC/hora. Os côndrulos deste tipo tiveram
de estar líquidos a uma temperatura de 1750 ºC até 2200 ºC, dependendo da
composição ditada no experimento. Côndrulos porfiríticos devem ter sido
parcialmente fundidos, permanecendo alguns cristais sólidos. Outros
côndrulos são empobrecidos em elementos químicos voláteis como sódio,
potássio e enxofre. Tais côndrulos apresentam pouca mesostasis e pouca
troilita. O processo de aquecimento dos côndrulos teve de ser relativamente
rápido e eficiente para produzir uma gama de texturas ígneas diferenciadas, e
o processo de resfriamento teve de ser lento o suficiente, talvez através de um
mecanismo de insulação térmica, talvez em meio a densas nuvens de poeira
cósmica no disco protoplanetário. A poeira cósmica, partículas de silicatos de
granulação fina, com micrômetros a nanômetros de tamanhos, têm uma área
de superfície maior e, portanto, seriam menos afetadas pelo processo de
aquecimento que gerou as gotículas ígneas progenitoras dos côndrulos. A
poeira deve ter sido um eficiente isolante térmico para fazer o processo de
resfriamento dos côndrulos ser lento o suficiente para gerar as texturas de
grandes cristais observados na petrografia.

DIAGRAMA MOSTRANDO UM DOS PRINCIPAIS MECANISMOS ACEITOS PELA


COMUNIDADE CIENTÍFICA DE COMO OS CÔNDRULOS SE FORMARAM POR
PROCESSAMENTO TÉRMICO PRÓXIMO DO PROTOSSOL, OS CÔNDRULOS FORAM
SEPARADOS POR VENTOS SOLARES E CAMPOS MAGNÉTICOS, ISTO EXPLICARIA A
SEGREGAÇÃO GRANULOMÉTRICA DOS CÔNDRULOS. OS PLANETESIMAIS SE
FORMARAM PELA AGLUTINAÇÃO DE POEIRA PROTOPLANETÁRIA, CÔNDRULOS
E CAIs. OS CÔNDRULOS SERIAM MATERIAL PRÉ PLANETESIMAL NESTE
MODELO.

A pergunta que se faz agora é: Quais são os mecanismos de geração dos


côndrulos? Existem vários modelos propostos para explicar como os
côndrulos se formaram, adotando duas linhas de visão principais: Uma
defendendo os côndrulos como produtos de processos protoplanetários na
fase pré acrecionária dos planetesimais e a outra defendendo que os côndrulos
são produtos finais da acreção planetesimal, especificamente produtos de
colisões de alta velocidade entre os planetesimais gerando os côndrulos, sendo
estes produto final da história inicial do disco protoplanetário e não material
primordial anterior à formação dos planetesimais. Ambas as visões têm suas
vantagens e desvantagens porque conseguem explicar um aspecto dos
côndrulos e outro não. Os modelos propostos dos côndrulos como matéria
primordial da formação pré planetesimal explica as variadas composições dos
côndrulos, mas não suas texturas e as taxas de aquecimento e resfriamento
determinadas experimentalmente. Os modelos que propõem os côndrulos
como produto final da colisão de planetesimais explicam como os côndrulos
desenvolveram suas texturas, mas não dá muitas informações sobre como se
deu a variabilidade da composição química deles, além disso não explica o
grande mistério de como todos os tipos composicionais de côndrulos estão
presentes em praticamente todos os grupos de condritos.

A presença de fragmentos de côndrulos, cristais de olivina quebrados


inseridos dentro de côndrulos e côndrulos fundidos mostra que estes objetos
foram retrabalhados no disco protoplanetário. Ainda outra relevante evidência
observada nos condritos são as de que cada grupo químico possui uma
diferente distribuição granulométrica de côndrulos. Por exemplo, os condritos
do grupo químico L possuem população de côndrulos com diâmetro médio
maior do que a população de côndrulos do grupo químico H. Outros condritos,
como os do grupo CI, não possuem côndrulos. Que mecanismo produziu a
segregação e seleção granulométrica dos côndrulos no disco protoplanetário?
(Ver modelo proposto na imagem anterior).

Antes de considerarmos os modelos propostos mais conhecidos de formação


dos côndrulos é preciso compreender melhor o que é um disco
protoplanetário. A teoria corrente mais aceita por dados observacionais e
experimentais numéricos e laboratoriais é a da nebulosa primordial que
originou o Sistema Solar. A teoria afirma que uma nuvem molecular dentro de
uma nebulosa começa a colapsar por sua própria gravidade quando uma
região da nuvem torna-se densa o suficiente e/ou é compressionada por ondas
de choque geradas por uma supernova próxima, fazendo com o gás e a poeira
interestelar se desestabilizem gravitacionalmente iniciando o colapso. À
medida que parte da nuvem molecular colapsa gravitacionalmente, a
conservação do momentum angular faz a nuvem aumentar sua rotação
intrínseca fazendo com que as partículas interestelares e o gás comecem a
friccionar entre si gerando um disco de gás e poeira cada vez mais achatado e
no centro do disco começa a se formar um embrião estelar. A região central do
disco de gás e poeira cósmica atinge massa e pressão interna suficientes para
iniciar o processo de fusão nuclear do hidrogênio gerando energia que
converte o gás quente em plasma fazendo o embrião estelar começar a emitir
luz e radiação infravermelha e nesta fase o caroço denso de gás quente no
centro do disco de acreção é denominado de protoestrela.
IMAGENS REAIS DE TELESCÓPIO EM INFRAVERMELHO DE TRÊS DISCOS
PROTOPLANETÁRIOS, MOSTRANDO A TÍPICA ESTRUTURA DE MATERIAL MAIS
ESCURO, RICO EM POEIRA CÓSMICA MINERAL E MATERIAL FINO CARBONÁCEO,
E PONTOS BRILHANTES ONDE PODEM ESTAR OCORRENDO PROCESSOS
TERMAIS. SERÁ QUE CÔNDRULOS ESTÃO SE FORMANDO NESTES DISCOS
PROTOPLANETÁRIOS?

A protoestrela desenvolve poderosos campos magnéticos que se retorcem com


a rotação do sistema. Muitos discos protoplanetários imageados por telescópio
em nuvens moleculares apresentam jatos de gás em ambas as direções
perpendicular ao disco, tais jatos foram denominados de objetos de
Herbig-Haro, evidenciando a forte influência de campos magnéticos nas fases
de formação de planetesimais. A estrela nesta fase inicial ativa foi chamada de
Estágio T-Tauri. O disco de acreção em volta da estrela, composto de material
original da nebulosa que colapsou, é denominado disco protoplanetário, onde
começam os eventos de processamento térmico e aglutinação da poeira
cósmica em planetesimais e posteriormente acreção planetária formando os
planetas em volta da estrela. Os processos discutidos com respeito à formação
dos côndrulos ocorreram no disco protoplanetário, quando o sistema solar
tinha apenas alguns milhões de anos de idade e o Sol era uma protoestrela
muito ativa magneticamente, produzindo ondas de choque que poderiam ter
ocasionado o pré-aquecimento das partículas no disco protoplanetário
gerando posteriormente os côndrulos.

IMAGENS DO TELESCÓPIO ESPACIAL HUBBLE DE UM OBJETO HERBIG-HARO


JATOS BIPOLARES DE GÁS E POEIRA LANÇADOS PELA ATIVIDADE MAGNÉTICA
DE UMA PROTOESTRELA.
Os modelos propostos para a formação dos côndrulos consideram a fase do
protossol ativo e neste cenário os côndrulos foram gerados a partir do
aquecimento e fusão de partículas protoplanetárias que se aproximavam
muito do protossol sendo convertidas e aglutinadas em gotículas ígneas que
depois eram retrabalhadas pela rotação do gás e da poeira no disco. Este
modelo não explica como pode ter ocorrido o lento resfriamento dos
côndrulos necessário para produzir as texturas observadas. A outra hipótese
considera que os côndrulos foram gerados por impactos entre planetesimais.
Nesta visão os planetesimais foram formados pela aglutinação gravitacional
das partículas sólidas do disco protoplanetário e depois colidiram uns com os
outros gerando calor suficiente que vaporizou muito material que passou a ser
expelido em jatos gerando as gotículas magmáticas que resfriaram formando
os côndrulos.

Este modelo de impacto entre planetesimais explica os côndrulos como


produtos pós planetesimais e não como partículas primordiais do disco
protoplanetário. Pode existir um fundo de verdade neste modelo quando
observamos os condritos carbonáceos do grupo CB. Estes estranhos e raros
meteoritos contêm côndrulos ricos em minerais refratários enriquecidos nos
isótopos pesados nitrogênio-15 e deutério, indicando que estes condritos são
resíduos de material evaporado que ressolidificou; também existem côndrulos
inteiramente feitos de ferro-níquel e tais côndrulos foram datados como mais
jovens que os demais e foram explicados como tendo sido formados em
impactos posteriores entre planetesimais que geraram energia suficiente para
fundir o material lançado no espaço e formar gotículas ígneas que se
aglutinaram novamente formando os condritos CB.

FATIA DO METEORITO GUJBA, UM CONDRITO CARBONÁCEO DO GRUPO CB.


OBSERVAR OS MÚLTIPLOS CÔNDRULOS TOTALMENTE DE FERRO-NÍQUEL
METÁLICO, E OS CÔNDRULOS SILICÁTICOS. ESTE METEORITO POSSUI
ASSINATURA ISOTÓPICA POSITIVA PARA ISÓTOPOS PESADOS DE NITROGÊNIO E
DEUTÉRIO, POSSUEM EMPOBRECIMENTO GEOQUÍMICO RELATIVO DE
ELEMENTOS LITÓFILOS VOLÁTEIS COMO SÓDIO, POTÁSSIO, CHUMBO, TÁLIO E
MANGANÊS. O MODELO PARA EXPLICAR A FORMAÇÃO DESTE CONDRITO
INVOCA UMA COLISÃO DE ALTA VELOCIDADE ENTRE PLANETESIMAIS, O
MATERIAL VAPORIZADO FOI CONDENSADO NA FORMA DE GOTÍCULAS, OS
CÔNDRULOS QUE AQUI SE APRESENTAM NESTE METEORITO.

O outro modelo proposto invoca ondas de choque geradas pelo material


acrecionado no disco protoplanetário gerando ondas de pressão que
provocaram a aglutinação e aquecimento de partículas sólidas produzindo os
côndrulos. Também neste modelo se invoca descargas elétricas em meio ao
plasma do protossol que forneceu calor suficiente para fundir a poeira cósmica
e gerar gotículas de minerais ígneos, os côndrulos. Uma alternativa a esta
visão foi proposta em que os côndrulos se formaram após a acreção planetária.
Modelos propostos para a formação planetária indicam que Marte foi formado
nos primeiros quatro milhões de anos do sistema solar, sendo este um dos
protoplanetas sobreviventes das múltiplas colisões da fase de acreção
planetária. Então Marte recém-formado ainda permeava em um disco rico em
gás e poeira e ao descrever sua órbita em torno do protossol gerava vácuo em
seu caminho aglutinando o gás e a poeira atrás de si onde modelos de
computador indicam que a compressão gerada pela passagem de um
protoplaneta na nebulosa poderia aglutinar e fundir partículas sólidas e gerar
os côndrulos.

DIAGRAMA MOSTRANDO UM MODELO DE FORMAÇÃO PÓS ACREÇÃO


PLANETESIMAL DOS CÔNDRULOS ONDE ESTES SÃO GERADOS POR IMPACTOS
DE ALTA VELOCIDADE ENTRE PLANETESIMAIS, AQUI O MODELO INCORPORA O
CONCEITO DE GRAU DE METAMORFISMO TERMAL NOS CORPOS PARENTAIS
NUMA SITUAÇÃO DE PÓS AGLUTINAÇÃO DOS CÔNDRULOS EM NOVOS CORPOS
PARENTAIS.

Nenhum destes mecanismos citados funciona sozinho e nem pode ser


verificado para a formação dos côndrulos. Para se constatar como os
côndrulos realmente se formam e se são produtos inevitáveis da formação
planetária, será preciso aprimorar observações astronômicas de outros discos
protoplanetários em berçários estelares e tentar concluir pelo menos se
côndrulos estão se formando nestes jovens sistemas estelares. Analisar outros
discos protoplanetários em nossa galáxia poderá no futuro próximo lançar luz
na questão de se os côndrulos são consequência inevitável de eventos que
ocorrem antes da acreção planetesimal ou se são produtos finais de colisões
entre planetesimais ou de aglutinação de material protoplanetário após a
formação de protoplanetas. Dados de ondas de rádio e telescópios espaciais
observando o Universo no espectro infravermelho mostram que discos
protoplanetários possuem intensa atividade magnética e são densamente
povoados por partículas com tamanhos superiores a 1 micrômetro. Estas
partículas podem ser fortes candidatas a côndrulos. Ainda há muitas
perguntas sem respostas sobre a formação planetária, o que se sabe é que as
colisões cósmicas, isto é, colisões entre protoplanetas, é um processo
necessário para a geração de planetas e os côndrulos podem ser, afinal de
contas, os produtos destas múltiplas colisões que aconteceram entre os
planetesimais no início do sistema solar.

A existência de corpos parentais acondríticos com idades tão antigas quanto


as CAIs evidenciada pelos meteoritos acondritos angritos nos motra que os
côndrulos podem realmente ser produto de colisões planetesimais. No futuro
teremos mais informação vinda do céu, tanto na forma de novos meteoritos
quanto na forma de dados e amostras trazidos de sondas espaciais. Um
vislumbre disto foi a missão Hayabusa, da Agência Espacial Japonesa, que
conseguiu provar que a composição do asteroide Itokawa é condrítica. Novas
missões não tripuladas para os asteroides e cometas são fundamentais para
desvendarmos os mistérios da formação e evolução dos materiais planetários,
sondas tais como a Dawn, Rosetta e Osiris-REX.
8. Os Acondritos Asteroidais

FRAGMENTO DO METEORITO NOVO-UREI, UM ACONDRITO UREILITO.

Os acondritos representam um extenso grupo de meteoritos que não possuem


textura condrítica. Todos eles apresentam algum estágio de anatexia, sempre
representando líquido magmático oriundo da fusão de material condrítico ou
restitos do mesmo processo. Os acondritos que sofreram fusão parcial
incipiente e ainda apresentam composição de rochatotal dos elementos
litófilos e/ou siderófilos semelhante a dos condritos sendo restitos de anatexia
são chamados de acondritos primitivos. Acondritos que sofreram acentuada
anatexia com total extração do líquido gerando derrames basálticos na crosta
do asteroide, e restitos peridotíticos no manto, são chamados de acondritos
diferenciados.

Quando a geoquímica de terras raras desses acondritos é plotada normalizada


por um condrito se observa que os primitivos não possuem história de
extração de elementos incompatíveis e que os diferenciados possuem dois
estágios evolutivos. Uma primeira classe de acondritos diferenciados foi
submetida a apenas uma única extração a partir do reservatório condrítico e
formam basaltos antigos como os eucritos e outra classe de acondritos
diferenciados possuem um complexo padrão de terras raras indicando mais de
uma história de extração magmática e tais corpos não podem ter sido gerados
em asteroides, estes foram gerados em corpos de dimensão planetária.
Portanto, os acondritos diferenciados são subdivididos segundo sua origem
em planetários e asteroidais.

Os acondritos asteroidais que serão aqui analisados são aqueles oriundos de


asteroides que passaram por processos de metamorfismo e fusão parcial ou
total, excetuando os acondritos H.E.D. que serão tratados à parte por
derivarem de um tipo de asteroide único, o 4 Vesta. Os que serão tratados
neste capítulo são: Acapulcoítos-Lodranitos, Winonaítos, Brachinitos,
Ureilitos, Aubritos e Angritos.
1. Acapulcoítos-Lodranitos e Winonaítos:

Recebem esses nomes devido ao meteorito Acapulco, cuja queda foi


testemunhada em 11 de agosto de 1976; o meteorito Lodran, caído em 1868 no
Paquistão e o meteorito Winona, achado em 1928 nos Estados Unidos. Esses
três tipos de acondritos são produto dos mesmos processos geológicos que
modificaram a textura originalmente condrítica de alguns asteroides. Os
acapulcoitos, lodranitos e os winonaítos possuem texturas semelhantes e
assinatura geoquímica bem semelhante a dos condritos ordinários sendo os
três resultado de diferentes graus de metamorfismo termal avançado e
anatexia (fusão parcial) de rochas originalmente condríticas.

O resultado é uma textura granoblástica poligonal resultante de equilíbrio


metamórfico das olivinas e dos piroxênios, a recristalização total dos
côndrulos e da matriz originais formando uma textura homogênea de grãos
minerais ferromagnesianos, mas ainda presente as fases troilita e ferro-níquel.
Cromita, whitlockita, apatita e plagioclásios são bem desenvolvidos nesses
meteoritos como resultado do avançado metamorfismo termal nestas rochas.
Os acapulcoítos possuem granulação mais fina e os lodranitos mais grossa

FATIA DO ACAPULCOÍTO NWA 725.

FATIA DO ACAPULCOÍTA NWA 2656.


indicando que os lodranitos são o estágio metamórfico mais avançado dos
acapulcoítos. Ambos apresentam os cristais poligonais com junções tríplices
de 120º típica de equilíbrio metamórfico dos minerais, isto é, que eles
recristalizaram e cresceram nas mesmas condições de temperatura e pressão.
A mineralogia dos acapulcoítos e lodranitos, algumas vezes mencionados
como um único tipo 'acapodranitos' consiste de ortopiroxênio, olivina,
Cr-diopsídio, plagioclásio sódico, Fe-Ni metálico, schreibersita, troilita,
whitlockita, cloroapatita, cromita e grafita. Alguns côndrulos reliquiares, ou
seja, que sobraram das reações metamórficas, aparecem em algumas porções
deles. Pela proximidade composicional e isotópica com os condritos eles são
chamados de acondritos primitivos.

Os acapodranitos não se apresentam brechados apresentando baixo estágio de


choque. A história de alguns meteoritos desse grupo mostra que é possível que
várias litologias distintas foram coletadas em uma única brecha de impacto de
natureza condrítica e em seguida foram metamorfizados "apagando" o
avançado estágio de choque original. Evidências de exposição aos raios
cósmicos parecem indicar que os acapodranitos provêm de um único corpo
parental, apesar de haver controvérsias porque diversos asteroides de uma
família de asteroides pode ter a mesma idade de exposição cósmica indicando
o mesmo evento de estilhaçamento de um ou mais asteroides em colisões. Os
isótopos estáveis de oxigênio dos acapodranitos apresentam-se em valores
diversos, mas formam um "cluster" ao redor dos condritos ordinários. Alguns
autores teorizam que os acapodranitos podem estar relacionados aos
condritos do grupo químico H.

FATIA DO METEORITO LODRAN.


FRAGMENTO DO METEORITO WINONA.

Os winonaítos possuem maior frequência modal da fase metálica de


ferro-níquel e são relacionados ao clã ígneo/metamórfico dos sideritos IAB
silicatados. Os winonaítos podem representar a interface da crosta silicática
recristalizada com as fases metálicas resultantes da fusão parcial das rochas
condríticas no interior de um asteroide grande o suficiente para produzir estas
modificações geológicas. A maioria deles não possui côndrulos reliquiares,
indicando estágio metamórfico avançado ao ponto de obliterar por completo
todas as texturas condríticas reliquiares. A mineralogia é semelhante a um
intermediário entre os enstatita condritos e os condritos H.

2. Brachinitos:

Recebem esse nome devido ao meteorito Brachina, encontrado na Austrália


em 1974. Uma rocha de 203 gramas. São acondritos constituídos por 79% a
95% em volume de cristais de olivina, apresentam abundância significativa do
clinopiroxênio cálcico augita e diversas frequências modais de plagioclásio.
Minerais acessórios incluem ortopiroxênio, cromita, fosfatos, sulfetos de ferro
e ferro-níquel metálico. A textura dos brachinitos é normalmente de
granulação grossa adcumulática e em alguns exemplares existem evidências
de uma estruturação acamadada de assentamento de cristais. Geralmente a
composição das olivinas é mais rica em ferro e a da augita mais rica em
magnésio. A borda dos grãos nos brachinitos são geralmente arredondadas,
mas alguns cristais apresentam junções tríplices características de equilíbrio
metamórfico.
FATIA DO BRACHINITO NWA 11756.

Os brachinitos apresentam evidências em seus cristais de resfriamento


intermediário do magma entre os acapodranitos e ureilitos. A distribuição de
elementos litófilos refratários na maioria dos brachinitos mostra semelhança
com a distribuição condrítica, alguns possuindo menor abundância de
alumínio, cálcio, rubídio, potássio, sódio e elementos terras raras leves,
indicando extração magmática no interior do asteroide parental dos
brachinitos sendo estes os restitos da fusão parcial e não o líquido magmático
que cristalizou após a extração. A depleção em elementos incompatíveis
evidencia que os brachinitos são restitos de fusão parcial de material
condrítico. Se eles representam material restítico de fusão ou rochas de
cristalização de magma em câmara magmática formando textura cumulática
ainda está em aberto. No entanto, a geoquímica demonstra que eles
representam provavelmente material restítico, mas, eles podem resultar de
cristalização de magma previamente empobrecido em elementos
incompatíveis.

3. Ureilitos:

Foram nomeados devido ao meteorito Novo-Urei, uma queda testemunhada


em 1886 na Rússia. Eles são rochas ultramáficas contendo teores elevados de
carbono inorgânico. A composição mineralógica básica consiste de olivina,
piroxênio com pouco cálcio e uma matriz intersticial composta de carbono,
ferro-níquel metálico, sulfetos e silicatos de granulação fina. Grande parte do
carbono nos ureilitos se apresenta na forma de grafita. Os teores de cálcio e
cromo são elevados nos cristais de olivina e os teores de carbono são os
maiores dentre todos os acondritos e condritos excetuando os condritos
carbonáceos CI e CM.
FATIAS DO UREILITO ALMAHATA SITTA.

Os ureilitos possuem alto teor em ferro-níquel metálico na forma de veios e


bolsões indicando uma história de impactos cósmicos de alta energia capazes
de fundir e remobilizar os metais e metamorfizar as fases carbonáceos
originais do asteroide parental. A presença de uma matriz carbonácea indica a
contribuição de um protólito condrítico carbonáceo primitivo. Os ureilitos são
subdivididos em 95% de ureilitos do grupo principal e 5% de ureilitos
polimíticos. Os ureilitos do grupo principal possuem textura de equilíbrio
metamórfico, se subdividem em olivina-augita e olivina-ortopiroxênio
ureilitos. Os polimíticos são brechas fragmentárias e de impacto, as de regolito
são evidenciadas como tais devido a presença de gases do vento solar
implantados na matriz destas brechas.

A hipótese mais plausível para a formação dos ureilitos é a de que esses


meteoritos são impactitos formados na colisão entre um asteroide condrítico
carbonáceo e um asteroide de composição variável, provavelmente condrítica
em geral, gerando anatexia e remobilização de elementos químicos litófilos e
siderófilos. A assinatura geoquímica de terras raras é anômala apresentando
enriquecimento em terras raras leves e também em pesadas com uma
anomalia negativa de európio. O problema com a hipótese da colisão é que
não há evidências de choque nos cristais de olivina em muitos ureilitos,
nenhuma feição planar e nenhum polimorfo de alta pressão ocorrem, com
exceção de nanodiamantes nas fases carbonáceas intersticiais. No entanto, os
nanodiamantes podem ser herança do condrito carbonáceo pretérito. Ambos
ureilitos e brachinitos possuem características de acondritos tanto primitivos
quanto de diferenciados.

4. Angritos:

Os angritos são acondritos que recebem esse nome devido ao primeiro do tipo
que foi uma queda testemunhada em Angra dos Reis, Rio de Janeiro, no
século XIX. Eles são rochas ígneas com granulação média a grossa de
composição geralmente basáltica cuja mineralogia consiste de um piroxênio
de Ca-Al-Ti denominado fassaíta, olivina rica em cálcio e plagioclásio
anortítico. Os minerais acessórios incluem espinélio, ulvoespinélio, ilmenita,
troilita, kirschsteinita, whitlockita, titanomagnetita e Fe-Ni metálico. Outros
minerais acessórios às vezes presentes são celsiana, rhönita e baddeleyita. Eles
são subdivididos em angritos plutônicos com composição mineralógica
homogênea e angritos vulcânicos com minerais apresentando zoneamento
composicional.

FATIA DO ANGRITO D’ORBIGNY.

Devido à geoquímica rica em cálcio, alumínio e titânio, os angritos são os


basaltos mais pobres em álcalis no Sistema Solar. São rochas pobres em
alguns elementos moderadamente voláteis e ricas em elementos altamente
voláteis tais como bromo, selênio, zinco, cádmio e índio comparado com
basaltos lunares e eucritos. O caráter único dos angritos também se reflete em
sua composição isotópica de oxigênio estável apresentando uma reta de
fracionamento típica de evolução geológica de um único corpo parental,
indicando que os angritos se originam de um único asteroide. Os angritos não
se apresentam como brechas e não exibem feições de choque, isto é, de
impactos. Os angritos são uma das rochas mais antigas do Sistema Solar,
datando de no mínimo 4 Ma após a formação das inclusões cálcio-aluminosas
(CAIs) e no máximo 11 Ma após a formação dos CAIs dos condritos
carbonáceos do grupo CV.

5. Aubritos:

Também chamados de acondritos enstatitos, representam rochas ígneas


altamente reduzidas e praticamente monominerálicas composta do
ortopiroxênio enstatita, o extremo composicional dos piroxênios ricos em
magnésio. A maioria dos aubritos são brechas fragmentárias e brechas de
regolito. Pouquíssimos aubritos são não brechados tais como o meteorito
Shallowater. Os aubritos são originalmente produto de fusão e cristalização
fracionada em asteroides diferenciados com composição original similar aos
condritos enstatitos.
AMOSTRA DO AUBRITO CUMBERLAND FALLS, NOTAR A TEXTURA TÍPICA DE
BRECHA, COM CLASTOS ANGULOSOS.

A mineralogia principal consiste de 75% a 95% em volume de enstatita


praticamente livre de FeO, ou seja, 100% MgO, mas contendo pequenas
quantidades de plagioclásio sódico, diopsídio e forsterita. Minerais acessórios
incluem Fe-Ni metálico contendo teores pequenos, mas consideráveis de
silício na forma metálica, sulfetos exóticos tais como heideita e oldhamita.
Alguns aubritos são produto de fusão parcial em impactos asteroidais
produzindo brechas com porções de material fundido e recristalizado. Em
casos específicos como no meteorito QUE 97289, um aubrito pode ser
resultado de fusão de impacto de condritos enstatitos. Apesar de similaridades
isotópicas de oxigênio, os aubritos e os condritos enstatitos têm a mesma
origem na nebulosa solar, mas consistem de distintos asteroides parentais.

Todos os acondritos apresentados aqui são amostras de asteroides que


passaram por processos de metamorfismo de alto grau, fusão parcial ou
profundas modificações em impactos entre asteroides. A fusão parcial pode
ter sua origem tanto no interior de um asteroide de massa suficiente para ter
isótopos radioativos de meia-vida curta acumulados produzindo calor de
desintegração nuclear suficiente para fundir os minerais e modificar as
distribuições dos elementos químicos na composição condrítica original
gerando rochas resultantes da cristalização do líquido magmático que ascende
às porções apicais do asteroide produzindo uma crosta diferenciada
geralmente de composição basáltica.

Os magmas basálticos podem produzir gabros, ortopiroxenitos e dunitos em


uma sequência estratificada na crosta do asteroide. O manto do asteroide
pode desenvolver porções rocho-metálicas ou de natureza silicática restítica,
isto é, rochas que são resíduo sólido de alta temperatura da fusão parcial.
Estas rochas podem também ser ortopiroxenitos e dunitos enriquecidos em
elementos compatíveis em contrapartida aos ortopiroxenitos e dunitos
resultantes de cristalização fracionada de magma de composição basáltica.
Esses asteroides produzem núcleos metálicos. A extração do núcleo produz
anomalias negativas de elementos siderófilos nas rochas ígneas resultantes da
diferenciação asteroidal. Processos posteriores incluem a formação de brechas
de impacto e de regolito na superfície do asteroide.

GRÁFICO DE ISÓTOPOS ESTÁVEIS DE OXIGÊNIO MOSTRANDO AS FAIXAS QUE


DEFINEM OS ACONDRITOS ASTEROIDAIS, CADA REGIÃO REPRESENTA UM
DISTINTO CORPO PARENTAL DESTES METEORITOS, MOSTRANDO A
DIVERSIDADE DE ASTEROIDES COM HISTÓRIAS GEOLÓGICAS COMPLEXAS NO
SISTEMA SOLAR.

Os acondritos asteroidais ensinam que a história do Sistema Solar consistiu da


formação de pequenos planetas que possuíam as mesmas características
geológicas dos planetas propriamente ditos. Mas estes são mais antigos que os
planetas e provavelmente muitos destes participaram da formação planetária.
9. Acondritos H.E.D.: O Grupo dos Meteoritos do Asteroide 4-Vesta

MASSA PRINCIPAL DE 5,4 KG DO METEORITO SERRA PELADA, CAÍDO EM 2017.


ESSE METEORITO É UM EUCRITO MONOMÍTICO EQUILIBRADO, OS EUCRITOS
SÃO BASALTOS ORIUNDOS DA CROSTA DO ASTEROIDE DIFERENCIADO 4 VESTA.

Os meteoritos acondritos, antigamente colocados como os meteoritos


rochosos geralmente denominados aerólitos, não possuem côndrulos como é
característica dos meteoritos rochosos condritos. Os acondritos são
geralmente rochas ígneas que podem estar metamorfizadas em diversos
graus.

Geralmente os acondritos são rochas basálticas ou peridotíticas. Os basaltos


são as rochas mais comuns nos corpos sólidos do Sistema Solar,
especialmente os planetas rochosos Mercúrio, Vênus, Terra e Marte. Basaltos
são rochas ígneas vulcânicas compostas pelos minerais piroxênios
(geralmente clinopiroxênios augita e pigeonita) e plagioclásio cálcico (do
grupo dos feldspatos) com quantidades variáveis de minerais acessórios tais
como olivina, anfibólios, quartzo, magnetita, ilmenita e sulfetos de ferro.
Rochas ígneas são produzidas pela cristalização de magma produzido pela
fusão parcial de rochas pré-existentes. Normalmente a origem de magmas
basálticos se dá pela fusão de rochas peridotíticas previamente cristalizadas a
partir de um magma primordial gerado na época da acreção planetesimal.

Os peridotitos são considerados rochas ígneas devido à sua origem primordial


a partir de cristalização fracionada de um líquido magmático gerado em um
protoplaneta que foi totalmente fundido após acreção planetesimal no início
do Sistema Solar. Os planetas rochosos são diferenciados em crosta, manto e
núcleo. As crostas planetárias são geralmente mais enriquecidas em sílica,
alumínio e álcalis e empobrecidas em elementos geoquimicamente
classificados como compatíveis tais como magnésio e ferro. O teor de cálcio
também é variável, mas menor na crosta em relação ao manto. Os mantos
planetários são geralmente mais ricos em magnésio, ferro e cálcio sendo
compostos de rochas mais ricas em minerais ferromagnesianos de alta
temperatura tais como olivinas e piroxênios tendo como minerais acessórios
plagioclásio cálcico e fases de alta pressão tais como espinélios e granadas.

Os núcleos planetários são compostos de ferro e níquel com quantidades


pequenas de enxofre, fósforo, carbono e silício. Esses corpos são acamadados
porque passaram pelo processo de diferenciação onde o material rochoso
totalmente fundido pode ser separado pela própria gravidade do corpo
planetário de acordo com a densidade aliada à compatibilidade geoquímica
dos elementos. Elementos mais leves ascenderam para formar a crosta,
elementos de pesos atômicos intermediários formaram o manto e os
elementos metálicos de alto peso atômico afundaram para formar o núcleo. À
medida que a pressão litostática aumenta com a profundidade no interior de
um corpo planetário as fases minerais se modificam sendo convertidas em
minerais de mais alta pressão estáveis naquelas profundidades. O manto
terrestre mais interno é dominado por minerais tais como espinélios
magnesianos, polimorfos da olivina como wadsleiyta e ringwoodita,
polimorfos de alta pressão do quartzo tais como a coesita e óxidos complexos
de alta pressão. Recentemente se provou experimentalmente que o manto
interno da Terra é dominado pelo mineral magnesiano de alta pressão
bridgimanita.

DIAGRAMA ESQUEMÁTICO 3D DA ESTRUTURA DE UM CORPO PLANETÁRIO


DIFERENCIADO COMO O PLANETA TERRA. A GRAVIDADE EM UM CORPO
PLANETÁRIO FUNDIDO O DIFERENCIA EM UMA CROSTA, MANTO E NÚCLEO.
AQUI OBSERVA-SE A ESTRUTURA INTERNA DA TERRA COM CROSTA (LILÁS),
MANTO (MARROM), NÚCLEO EXTERNO LÍQUIDO (AMARELO) E NÚCLEO
INTERNO SÓLIDO (VERMELHO). A CROSTA DOS CORPOS PLANETÁRIOS É
FORMADA PREDOMINANTEMENTE POR ROCHAS BASÁLTICAS.
O manto litosférico da Terra compreende as profundidades de 32 km até 100
km e o manto superior compreende profundidades de 100 km até 660 km.
Toda essa extensão do planeta Terra é dominado pelas rochas ultramáficas
denominadas de peridotitos. Os peridotitos são rochas consideradas ígneas
devido à origem deles durante a formação da prototerra e são constantemente
retrabalhados por processos tectônicos e da convecção térmica do manto
sendo considerados rochas metamórficas por se apresentarem em constante e
lento processo de recristalização no manto. Os peridotitos são compostos de
quantidades variáveis de olivina, ortopiroxênios, clinopiroxênios e minerais
acessórios estáveis de acordo com a profundidade como plagioclásio em
profundidades rasas, granada em níveis intermediários e espinélios em
profundidades maiores. Quando ocorre uma anomalia térmica na interface
entre o manto inferior da Terra e o núcleo externo líquido metálico do planeta
em profundidades de mais de 2900 km uma ascenção de material
semi-fundido ocorre lentamente até chegar à base da litosfera. A litosfera
compreende o manto litosférico e a crosta continental e oceânica do planeta.

O material mantélico pastoso tem geralmente composição basáltica e é


resultado da fusão parcial de rochas peridotíticas. A fusão parcial ocorre
porque os minerais fundem em diferentes temperaturas e cada mineral funde
em uma faixa de temperatura que não obedece à fusão de sólidos puros
porque os minerais são todos soluções sólidas contendo componentes com
diferentes temperaturas de solidus. Além disso, a fonte de calor do interior de
um planeta é o calor oriundo da acreção planetária com eventos colisionais e o
decaimento radioativo de radioisótopos de meia-vida longa como urânio-238,
tório-232 e potássio-40. A Terra primitiva gerava rochas mais ricas em
magnésio que se fundiam a mais altas temperaturas da ordem de 1600 ºC,
estas rochas vulcânicas são os komatiítos, a Terra de hoje, mais fria, gera
magmas em temperaturas de no máximo 1200 ºC com rochas mais pobres em
magnésio em relação à Terra de 4,5 bilhões de anos atrás, estas rochas
vulcânicas são os basaltos.

Fases minerais que fundem acima de 1200ºC permanecem no estado sólido


durante a fusão parcial de rochas mantélicas. Quando ocorre uma tectônica
distencional, isto é, de ruptura e abertura da crosta as rochas peridotíticas do
manto podem ser atingidas pelas fraturas tectônicas e fundirem parcialmente
devido à diminuição da pressão. Ascenção magmática acontece por diferença
de pressão e de densidade em relação às rochas encaixantes. Quando o magma
é de composição basáltica, resultante da fusão parcial de peridotitos, ele pode
se alojar no interior da crosta continental ou oceânica gerando um bolsão de
magma denominado câmara magmática. Lembrando que a espessura da
crosta continental varia de 32 km em regiões tectonicamente estáveis e
erodidas a 70 km em regiões de cadeias de montanhas recentes como os
Himalaias. A crosta ocêanica é mais fina com espessura média de 7 km.
DIAGRAMA ILUSTRATIVO DE UMA CÂMARA MAGMÁTICA, UMA BOLHA DE
MAGMA DE COMPOSIÇÃO BASÁLTICA SE ALOJA NA CROSTA E COMEÇA A
CRISTALIZAR OS MINERAIS DE MAIS ALTA TEMPERATURA QUE SE ASSENTAM
POR GRAVIDADE FORMANDO CAMADAS, O MATERIAL PRECIPITADO PRODUZ
UMA ROCHA ÍGNEA CUMULÁTICA. O AFUNDAMENTO DOS CRISTAIS É POSSÍVEL
DEVIDO À BAIXA VISCOSIDADE DO MAGMA BASÁLTICO. ESSA ESTRUTURA GERA
UM COMPLEXA ACAMADADO MÁFICO-ULTRAMÁFICO DE ROCHAS
PERIDOTÍTICAS A GABROICAS.

O processo de cristalização magmática ocorrerá lentamente na câmara


produzindo camadas de rochas geradas por cristalização fracionada e
acentamento gravitacional dos primeiros cristais produzidos. Na chamada
sequência de cristalização magmática de Bowen os primeiros minerais a
cristalizarem a partir de um magma são os de mais alta temperatura e depois
os minerais de mais baixa temperatura de fusão ou solidus. Portanto,
começa-se com a cristalização da olivina seguindo a sequência, ortopiroxênios,
clinopiroxênios, anfibólios (se o magma for hidratado - presença de água
dissolvida no magma), plagioclásios cálcicos, plagioclásios sódicos, feldspatos
alcalinos e quartzo.

Se o magma for muito hidratado e de composição mais granítica a sequência


após os anfibólios inclui a mica ferrífera biotita, depois a mica alcalina
muscovita. A sequência de cristalização em uma câmara magmática com
magma basáltico anidro produz uma sequência acamadada de rochas ígneas
máfica-ultramáficas que da base para o topo da sequência são: dunitos (>90
vol% de olivina), ortopiroxenitos (>90% de ortopiroxênio), peridotitos (~ 50%
de olivina, ~ 50% de ortopiroxênio), lherzolitos (ortopiroxênio, clinopiroxênio,
olivina e plagioclásio cálcico), noritos (ortopiroxênios e plagioclásio cálcico),
gabronoritos (ortopiroxênio, clinopiroxênio e plagioclásio cálcico), gabros
(clinopiroxênio e plagioclásio cálcico) e anortositos (>90% de plagioclásio
cálcico). Nessa sequência de diferenciação magmática são produzidas rochas
plutônicas, cujos cristais são visíveis ao olho nu, devido a cristalização ser
lenta por se dá alojada na crosta terrestre onde o gradiente térmico entre o
magma e as rochas encaixantes é pequeno.

A SÉRIE DE CRISTALIZAÇÃO MAGMÁTICA DE BOWEN. AQUI CONSIDERA-SE UM


MAGMA DE COMPOSIÇÃO BASÁLTICA COM UM PEQUENO PERCENTUAL DE
VOLÁTEIS, NO CASO, ÁGUA MAGMÁTICA. NO CONTEXTO DOS ACONDRITOS
ASTEROIDAIS OS MAGMAS SÃO PRATICAMENTE ANIDROS E NÃO SE
DIFERENCIAM COMPLETAMENTE PARA FORMAR ROCHAS FÉLSICAS COM
QUARTZO, FELDSPATOS ALCALINOS E MICAS.

Se esse mesmo magma extravasa na superfície, têm-se os eventos vulcânicos


onde as rochas produzidas são basaltos. Os basaltos geralmente têm
composição semelhante a dos gabros, compostos de clinopiroxênio e
plagioclásio cálcico. Em derrames basálticos grandes volumes de lava são
depositados em camadas. Nas sequências acamadadas os basaltos mais
profundos no meio de uma sequência ou injetados em rochas mais profundas
terão uma textura de cristais intermediária entre os gabros e os basaltos,
sendo os grãos minerais pequenos ou inseridos em uma matriz fina onde os
cristais são microscópicos. Estas rochas intermediárias em profundidade são
chamadas de subvulcânicas ou hipoabissais e no caso de uma lava basáltica
estas rochas recebem o nome de doleritos ou diabásios que nada mais são do
que basaltos com cristais pequenos, mas visíveis ao olho nu. Quando cristais
se destacam na rocha com tamanhos maiores do que cristais visíveis e
menores a textura é denominada porfirítica. Quando a rocha apresenta-se
com cristais orientados seja por tectônica pós magmatismo ou fluxo de lava a
textura pode ser denominada ofítica.
DERRAMES DE LAVA BASÁLTICA PAHOEHOE NO HAVAÍ. ESSAS LAVAS
EXTRAVASAM DOS VULCÕES GERADOS POR HOTSPOTS OU PLUMAS TÉRMICAS
DO MANTO TERRESTRE. O RESULTADO É A CRISTALIZAÇÃO DE CAMADAS DE
LAVA BASÁLTICA, COM BAIXA VISCOSIDADE E BAIXO TEOR DE CRISTAIS
GRANDES.

IMAGEM DOS DECCAN TRAPS, ANTIGOS DERRAMES BASÁLTICOS CONTINENTAIS


NA ÍNDIA DE 66 MILHÕES DE ANOS ATRÁS. ESTES CÂNIONS REVELAM
EXTENSAS CAMADAS DE BASALTO EXTRUDIDAS DURANTE MILHARES DE ANOS.
A ESPESSURA TOTAL DO DERRAME É ESTIMADA EM 2 KM. DERRAMES
BASÁLTICOS SEMELHANTES FORMARAM A CROSTA DOS CORPOS PLANETÁRIOS
E PROTOPLANETÁRIOS DIFERENCIADOS, FORMANDO SUAS CROSTAS
BASÁLTICAS.

Durante a fase de acreção planetesimal vários corpos com diâmetros variando


de 100 km até 2000 km foram gerados nos primeiros 16 milhões de anos do
Sistema Solar. Datações mais precisas em côndrulos, inclusões ricas em cálcio
e alumínio (CAIs) e acondritos basálticos muito antigos como os angritos
mostram que a acreção planetesimal formou corpos sólidos com tamanhos
acima de 100 km, tamanhos semelhantes à Lua e tamanhos semelhantes ao
planeta Marte. Estes foram chamados de protoplanetas ou embriões
planetários. Foram estes protoplanetas que colidiram entre si e se aglutinaram
por acreção gravitacional para formar os planetas. Acredita-se através de
dados coletados por diversas sondas espaciais que Marte seja um desses
antigos embriões planetários. Já a Terra e Vênus são resultantes da
aglutinação de embriões planetários diversos. A formação de protoplanetas se
deu muito cedo na história do Sistema Solar, nos primeiros 4 milhões de anos,
quando os côndrulos estavam se formando. Sabendo que os côndrulos são
esférulas de material magmático, a teoria de que eles se formaram a partir da
colisão de protoplanetas fundidos ganha mais força. Neste cenário os
côndrulos seriam produto da acreção planetesimal e não anteriores aos
planetesimais.

Os protoplanetas tinham massa suficiente para fundir devido à presença de


radioisótopos de meia-vida curta, principalmente o alumínio-26 que decaiu
para magnésio-26 com meia-vida de 740 mil anos. Com uma meia-vida muito
curta, muito calor foi liberado pela desintegração nuclear desse isótopo em um
curto período de tempo. O suficiente para converter um protoplaneta com
diâmetro superior a 200 km em uma bola completamente fundida. Uma vez
sendo convertido em uma bola de magma o protoplaneta esfria gerando o
processo de diferenciação em crosta, manto e núcleo. Os protoplanetas
originalmente de composição condrítica gerariam uma crosta
predominantemente basáltica sem diferenciação, devido à falta de atividade
geológica como uma tectônica de placas desenvolvida que seria capaz de gerar
rochas mais félsicas, ou um oceano de magma de composição basáltica
previamente formado, como aconteceu com a Lua mais tarde. Esses
protoplanetas tiveram uma curta história de extrações magmáticas
produzindo derrames basálticos em sua superfície e gerando câmaras
magmáticas acamadadas em seu interior. O manto desses protoplanetas seria
de composição dunítica e peridotítica e o núcleo de ferro-níquel. A evidência
de que muitos desses protoplanetas diferenciados existiram são os meteoritos
metálicos magmáticos.
DIFERENCIAÇÃO NOS ASTEROIDES. O CALOR GERADO PELOS PROCESSOS DE
ACREÇÃO PLANETESIMAL E DECAIMENTO RADIOATIVO DE ISÓTOPOS DE
MEIA-VIDA CURTA PRODUZIRAM FUSÃO DE PROTOPLANETAS COM TAMANHOS
SUPERIORES A 100 KM, ESSES EMBRIÕES PLANETÁRIOS DESENVOLVERAM UMA
CROSTA BASÁLTICA, UM MANTO PERIDOTÍTICO-DUNÍTICO E UM NÚCLEO
METÁLICO. ASTEROIDES PRIMITIVOS NÃO SOFRERAM DIFERENCIAÇÃO E SÃO
CONDRÍTICOS. NUM ESTÁGIO POSTERIOR, MUITOS PROTOPLANETAS FORAM
ESTILHAÇADOS POR COLISÕES ENTRE CORPOS MENORES PRODUZINDO
FAMÍLIAS DE ASTEROIDES METÁLICOS, BASÁLTICOS E PERIDOTÍTICOS.

Esses meteoritos são pedaços de núcleos de protoplanetas. Esses


protoplanetas foram dilacerados em impactos devido à alta frequência de
colisões durante a época da acreção gravitacional planetária. Esses impactos
exporam os núcleos desses antigos protoplanetas. Hoje os pedaços desses
núcleos metálicos vagam como asteroides metálicos e muitos deles terminam
nas coleções aqui na Terra como meteoritos metálicos. Sabemos muito mais
da composição química e mineralógica de um núcleo planetário estudando os
meteoritos metálicos e vemos que eles contêm inclusões de fases minerais
com elementos voláteis tais como sulfetos, fosfetos e carbetos. Muitos desses
meteoritos são silicatados, tudo isso indicando que realmente os núcleos
planetários contêm certa quantidade de elementos tais como enxofre, fósforo,
carbono, silício e oxigênio, sendo estas afirmações compatíveis com dados
sobre a densidade dos planetas e as propriedades físicas de seus interiores
medidas indiretamente por sondas espaciais que mediram seus momentos de
inécia, propriedade física indicativa da distribuição de massa no interior de
um corpo planetário.

Alguns protoplanetas diferenciados escaparam de serem destruídos em


colisões no disco protoplanetário. Um dos famosos sobreviventes da época
colisional é o asteroide 4 Vesta. Esse corpo menor do Sistema Solar é o
segundo maior asteroide catalogado, com dimensões de 578 km x 560 km x
458 km com uma média de 530 km de diâmetro. Foi descoberto pelo
astrônomo Heinrich Wilhelm Olbers em 29 de março de 1807. Seu nome
provém da mitologia romana, Vesta é a deusa virgem correspondente à
divindade feminina da mitologia grega chamada de Héstia. A distância média
de Vesta a partir do Sol é de 2,36 UA (lembrando que 1 Unidade Astronômica
corresponde a 149.597.870.700 metros, aproximadamente 150 milhões de
quilômetros). Localizado no cinturão principal de asteroides entre as órbitas
de Marte e Júpiter. É o único asteroide visível a olho nu. Vesta pertence à
classe espectral tipo V. O asteroide foi promovido a protoplaneta ou
quase-planeta em 2012 após estudos da sonda espacial não tripulada Dawn da
NASA que voou sobre a superfície de Vesta em 16 de julho de 2011 quando
permaneceu em órbita em torno do asteroide por um ano.

IMAGEM DO ASTEROIDE VESTA, CONSIDERADO UM PLANETA MENOR EM 2012,


FOTOGRAFADO PELA SONDA DAWN DA NASA EM 2011.

Os resultados obtidos através do espectro infravermelho confirmaram a


geologia de Vesta como sendo predominantemente formado por uma crosta
basáltica. As crateras de impacto mais profundas no protoplaneta revelaram
sua subsuperfície composta de material peridotítico. O regolito de Vesta é
composto de brechas de composição basáltica e peridotítica misturadas. A
assinatura espectral do asteroide Vesta já havia sido comparada à assinatura
espectral dos meteoritos acondritos do grupo H.E.D. e sempre se obteve
resultados com máxima comparação. Acreditava-se que esses acondritos
seriam oriundos de Vesta e com a confirmação da missão Dawn se tornou
clara a origem desses meteoritos. O grupo H.E.D. é uma sigla sendo composto
pelos acondritos Howarditos, Eucritos e Diogenitos. Esses meteoritos fazem
parte da mesma família de rochas, isto é, a mesma suíte magmática ou clã.
Isto significa que esses três têm conexão genética entre si tendo sido formados
no mesmo corpo parental. Essa missão da NASA foi muito importante porque
pela primeira vez temos o mapa geológico do asteroide Vesta em grandes
detalhes!
MAPA TOPOGRÁFICO DO ASTEROIDE VESTA, NOTAR A GRANDE BACIA DE
IMPACTO NO POLO SUL E NO EXTREMO LESTE DO CORPO.

MAPA GEOLÓGICO CRONOESTRATIGRÁFICO DE VESTA. IMAGEM RETIRADA DO


ARTIGO Williams, D. A. et al. (2014) The chronostratigraphy of protoplanet
Vesta. Icarus, Vol. 244, pp. 158 - 165.

Os eucritos são basaltos pigeoníticos quase sempre brechados e


metamorfizados, os diogenitos são ortopiroxênitos magnesianos quase sempre
brechados e quase sempre sem olivina e os howarditos são brechas de regolito
asteroidal compostos por clastos de eucritos e diogenitos misturados. A
conexão entre estes três tipos litológicos é indiscutível quando se observa
dados de isótopos estáveis de oxigênio desses meteoritos que os agrupa em
um único trend composicional. A assinatura de isótopos de oxigênio é única
para cada corpo parental. Se meteoritos possuem o mesmo trend de
fracionamento ou agrupamento de assinatura isotópica de oxigênio o
paradígma baseado na formação do Sistema Solar a partir de processos de
acreção em um disco protoplanetário mostra que tais meteoritos são oriundos
de um mesmo corpo parental ou pelo menos de um mesmo tipo de corpo
parental. Os eucritos são os basaltos que extravasaram na superfície de Vesta
ou foram injetados em subsuperfície e metamorfizados através de
aquecimento e recristalização devido à fonte de calor do interior do
protoplaneta. Muitos eucritos se apresentam brechados devido a impactos
posteriores de meteoroides na crosta de Vesta os convertendo em brechas de
eucritos. Os diogenitos são as rochas plutônicas peridotíticas que cristalizaram
em subsuperfície provavelmente em câmaras magmáticas que produziram
magmas eucríticos e diogeníticos por diferenciação magmática pelo
mecanismo de cristalização fracionada a partir de um magma de composição
basáltica. Alguns raros meteoritos encontrados na Antártica preenchem a
lacuna entre os diogenitos e os eucritos, sendo os dunitos do asteroide Vesta,
rochas compostas de mais de 90% em volume de olivina magnesiana.

ESPECTROS DE REFLECTÂNCIA NA FAIXA DO INFRAVERMELHO DE PÓ DE


AMOSTRAS DOS TRÊS ACONDRITOS DO GRUPO HED COMPARADAS AO
ESPECTRO DO ASTEROIDE VESTA COLETADO POR TELESCÓPIOS. OS PONTOS
SÃO AS MEDIDAS DO TELESCÓPIO E A LINHA CONTÍNUA SÃO AS MEDIDAS DE
LABORATÓRIO DOS METEORITOS. AS DUAS LINHAS VERTICAIS PROEMINENTES
MARCAM A ABSORÇÃO PELA FASE MINERAL PIROXÊNIO. AS AMOSTRAS
ANALISADAS FORAM O EUCRITO JUVINAS, O DIOGENITO JOHNSTOWN E O
HOWARDITO NWA 982. IMAGEM RETIRADA DA REVISTA Reflector, Vol. 69, nº.1 de
dezembro de 2016. OS RESULTADOS OBTIDOS POR TELESCÓPIOS COMPARADOS
COM OS METEORITOS MEDIDOS EM LABORATÓRIO FORAM CONFIRMADOS
PELOS DADOS REFINADOS OBTIDOS PELA SONDA DAWN DA NASA.
GRÁFICO DA RELAÇÃO DOS DELTAS DE OXIGÊNIO-17 VERSUS OXIGÊNIO-18
MOSTRANDO A LINHA DE FRACIONAMENTO TERRESTRE QUE INCLUI TODAS AS
ROCHAS TERRESTRES E LUNARES, O TREND DOS METEORITOS MARCIANOS E O
TREND DOS ACONDRITOS DE VESTA. NOTAR QUE CADA TREND REPRESENTA UM
CORPO PARENTAL OU TIPOS DE CORPOS PARENTAIS DAS ROCHAS.
SEMELHANÇA DE ASSINATURA ISOTÓPICA SIGNIFICA ORIGEM DOS
METEORITOS EM UM MESMO CORPO PARENTAL OU TIPOS DE CORPOS
PARENTAIS.

O paradígma de diferenciação magmática como se deu na Terra se deu


também em Vesta, mas em menor grau e extensão temporal. A geologia de
Vesta foi desativada nos primeiros 16 milhões de história do Sistema Solar,
quando esse pequeno protoplaneta finalmente esfriou. Muitos eucritos
rivalizam em idade com os condritos primitivos, indicando que tanto
acondritos basálticos quanto os condritos foram formados de forma
concomitante, mais uma vez reforçando a teoria da origem dos côndrulos
através de colisões de protoplanetas fundidos. A evidência de eventos
magmáticos complexos no asteroide Vesta comprova que ele foi diferenciado
em crosta, manto e núcleo confirmando que esse protoplaneta um dia esteve
completamente fundido nos primórdios do sistema solar. Devido a múltiplos
impactos com outros asteroides, Vesta teve fragmentos grandes seus lançados
para o espaço formando a família dos chamados asteroides vestoides, que são
fragmentos gigantes da crosta basáltica do protoplaneta. A assinatura
isotópica idêntica dos acondritos H.E.D., suas similaridades mineralógicas e
composicionais químicas juntamente com a ocorrência de brechas polimíticas
contendo clastos de diogenitos e eucritos são as principais evidências
concretas de que estes três tipos de meteoritos são oriundos do mesmo corpo
parental diferenciado.
Eucritos Cumuláticos: Os eucritos são separados em cumuláticos e não
cumuláticos. Os eucritos cumuláticos têm granulação grossa e tratam-se de
rochas subvulcânicas formadas por acúmulo de clinopiroxênios e plagioclásios
em uma câmara magmática em nível crustal raso. Eles são divididos em dois
tipos: Binda e Moore County, sendo estes de granulação grossa, normalmente
não brechados. Interpreta-se que o ortopiroxênio original foi invertido para
clinopiroxênio pobre em cálcio com teores molares da componente enstatita
variando de 58 a 67 mol%, também compostos por ortopiroxênio invertido
para pigeonita com teores de enstatita de 45 mol% a 57 mol% e lamelas de
exsolução de augita nos piroxênios com espessura grossa. Esses eucritos
cumuláticos são gabros, rochas plutônicas equivalentes aos basaltos, que
solidificaram e cristalizaram em níveis crustais médios a profundos no corpo
parental diferenciado.

DIFERENÇA QUÍMICA ENTRE EUCRITOS BASÁLTICOS (NÃO CUMULÁTICOS),


CUMULÁTICOS E DIOGENITOS NAS RELAÇÕES FERRO VERSUS SILÍCIO E CÁLCIO
VERSUS MAGNÉSIO. NOTA-SE QUE AS ROCHAS DA BASE DA CÂMARA
MAGMÁTICA TENDEM A SER MAIS RICAS EM MAGNÉSIO EM RELAÇÃO AO
CÁLCIO E O TEOR DE SÍLICA TENDE A SER MAIOR QUANDO O FERRO É MENOR.
IMAGEM RETIRADA DO ARTIGO Mittlefehldt, D. M. (2015) Asteroid (4) Vesta: I. The
howardite-eucrite-diogenite (HED) clan of meteorites. Chemie der Erde, Vol. 75, pp. 155 -
183

A profundidade em que os eucritos cumuláticos ocorrem foi estimada por


simulações computacionais baseadas em dados experimentais da taxa de
resfriamento de eucritos estudados em laboratório. Estima-se estes valores
baseando-se nos gradientes composicionais de teor do elemento cálcio nas
lamelas de exsolução de augita em piroxênios. Resultados estimados para o
eucrito cumulático Moore County mostram uma taxa de resfriamento de 0,16
ºC/mil anos, que corresponde a uma profundidade de cristalização teórica de
8 km. Dados de taxas de resfriamento e modelamento da evolução magmática
de Vesta estimam que a espessura da crosta de Vesta, composta de basaltos,
seja de 10 km. A presença de texturas de exsolução de augita em pigeonita
revela lento resfriamento do magma basáltico no interior da crosta do corpo
parental. A pigeonita é o clinopiroxênio pobre em cálcio e quando o magma
cristaliza lentamente o cálcio não é admitido na estrutura da pigeonita
formando uma fase que mais facilmente admite o cálcio em sua estrutura
cristalina, a augita, o clinopiroxênio rico em cálcio. Como resultado ocorre a
separação entre uma fase mais rica em cálcio inserida na forma de lamelas
numa fase mais pobre em cálcio. O resultado são lamelas de exsolução de
augita em cristais de pigeonita. Esse processo seria o contrário da dissolução
de um componente molar numa fase mineral. Quando a granulação do eucrito
é grossa o suficiente para classificá-lo como cumulático essas feições indicam
resfriamento lento do magma. Sabe-se que uma rocha é produto de fusão
parcial, principalmente ígneas contendo plagioclásio cálcico, quando se
analisa as concentrações de elementos terras raras na rocha total e observa-se
uma anomalia negativa de európio na amostra normalizada com um condrito.
A anomalia negativa de európio é evidência geoquímica de fusão parcial e
cristalização de líquido magmático empobrecido em európio, que tem maior
afinidade em permanecer na estrutura cristalina do plagioclásio substituindo
o sítio iônico do cálcio por ter raio iônico semelhante e carga elétrica igual. O
európio permanece na fase de alta temperatura. As rochas basálticas e
graníticas possuem tipicamente esta anomalia negativa do elemento európio
mostrando que tais rochas se tratam de produto de cristalização de magma
oriundo de fusão parcial de rochas pré-existentes. A rocha não fundida é
chamada de restito e tende a fracionar os elementos mais compatíveis. Os
elementos terras raras leves, incompatíveis, tendem a ser melhor fracionados
para o líquido magmático. Essa anomalia negativa de európio é visível nas
análises do eucrito Moore County.

FRAGMENTO DO METEORITO MOORE COUNTY, UM RARO EUCRITO


CUMULÁTICO NÃO BRECHADO. OS EUCRITOS CUMULÁTICOS SÃO GABROS ONDE
OS CRISTAIS DE PIGEONITA CONTÊM LAMELAS DE EXSOLUÇÃO DE AUGITA,
INDICANDO LENTO RESFRIAMENTO NUMA CÂMARA MAGMÁTICA.
IMAGEM AO MICROSCÓPIO PETROGRÁFICO À LUZ NATURAL (ESQUERDA) E COM
OS NICOIS CRUZADOS (DIREITA) DO EUCRITO CUMULÁTICO MOORE COUNTY,
OS CRISTAIS BRANCOS COM MACLAS ZEBRADAS SÃO PLAGIOCLÁSIOS E OS
CRISTAIS COLORIDOS SÃO CLINOPIROXÊNIO PIGEONITA, É POSSÍVEL VER
LAMELAS DE EXSOLUÇÃO DE AUGITA. NOTAR A GRANULAÇÃO GROSSA DESSA
ROCHA, EVIDENCIANDO UMA TEXTURA DE ROCHA PLUTÔNICA.

ARANHOGRAMAS DOS ELEMENTOS TERRAS RARAS DO EUCRITO MOORE


COUNTY NORMALIZADO COM UM CONDRITO MOSTRANDO A CLARA ANOMALIA
NEGATIVA DO ELEMENTO EURÓPIO (O BRUSCO PICO INVERTIDO NA POSIÇÃO
DO ELEMENTO QUÍMICO EURÓPIO), EVIDÊNCIA GEOQUÍMICA DE QUE ESSE
EUCRITO TEVE ORIGEM ATRAVÉS DE FUSÃO PARCIAL DE ROCHAS MANTÉLICAS
DO PROTOPLANETA VESTA. NOTAR QUE O MAGMA EUCRÍTICO ESTÁ
ENRIQUECIDO EM TERRAS RARAS PESADAS (GADOLÍNIO AO LUTÉCIO),
ELEMENTOS COMPATÍVEIS, INDICANDO UMA FONTE GEOQUÍMICA JÁ
ENRIQUECIDA EM ELEMENTOS COMPATÍVEIS NO INTERIOR DE VESTA.

Eucritos Basálticos: Também chamados de eucritos não cumuláticos não


metamorfizados (agrupados no tipo Pasamonte), são lavas que derramaram
na superfície do asteroide Vesta, apresentando granulação fina e texturas de
fluxo magmático. A composição dos piroxênios consiste de pigeonita com 70
mol% até 20 mol% da componente magnesiana enstatita. Os cristais de
pigeonita apresentam zoneamento composicional e lamelas de exsolução
muito finas. Essas lamelas de exsolução em eucritos não cumuláticos indicam
uma fase pós-magmática de aquecimento lento gerado por derrames de lavas
posteriores ou outro mecanismo que os levou a níveis crustais mais profundos
no corpo parental tal como reversão estratigráfica em impactos de
meteoroides que pudessem retrabalhar a crosta eucrítica mais superficial de
Vesta. Isto significa que muitos eucritos foram metamorfizados por processos
termais estáticos semelhantes ao que acontece com os condritos em seus
corpos parentais. O metamorfismo dos eucritos produz texturas tais como
lamelas de exsolução e recristalização com crescimento de cristais de cromita
e plagioclásio.

FRAGMENTO DO METEORITO PASAMONTE, EUCRITO BASÁLTICO NÃO


METAMORFIZADO.

IMAGEM AO MICROSCÓPIO PETROGRÁFICO COM OS NICOIS CRUZADOS DE


LÂMINA DELGADA DO EUCRITO NÃO CUMULÁTICO PASAMONTE. OBSERVAR A
TEXTURA DE ROCHA VULCÂNICA CARACTERIZADA POR CRISTAIS DE
PLAGIOCLÁSIO CÁLCICO COM HÁBITOS ACICULARES E PADRÕES ESQUELETAIS
DOS COLORIDOS CRISTAIS DE CLINOPIROXÊNIO CÁLCICO. ESTA ROCHA
REPRESENTA UM DERRAME DE LAVA VULCÂNICA BASÁLTICA NA SUPERFÍCIE
DO CORPO PARENTAL.

Eucritos Basálticos Equilibrados: Os eucritos não cumuláticos


metamorfizados são chamados de eucritos ordinários e são separados em:
Tipo Juvinas (grupo principal), tipo Stannern e tipo Nuevo Laredo. Esses
eucritos são brechas monomíticas ou não estão brechados, apresentando
composição química homogênea dos grãos de pigeonita, indicando equilíbrio
metamórfico, e finas lamelas de exsolução de augita. A espessura das lamelas
de exsolução dos clinopiroxênios é utilizada como medida indireta para
estimar as taxas de resfriamento desses eucritos e a profundidade em que
foram metamorfizados. Para o eucrito vesicular Ibitira, uma amostra de
basalto não cumulático altamente metamorfizado e não brechado, a taxa de
resfriamento foi de 550 ºC/ka. A profundidade de soterramento desses
eucritos foi estimada entre 30 metros para regolito asteroidal compactado e
550 metros para rocha sólida.

GRANDE MASSA INDIVIDUAL DO METEORITO STANNERN, EUCRITO NÃO


CUMULÁTICO METAMORFIZADO.
IMAGEM AO MICROSCÓPIO PETROGRÁFICO DO EUCRITO STANNERN À
ESQUERDA E DE UM BASALTO TERRESTRE À DIREITA. NOTAR A SEMELHANÇA
DAS TEXTURAS. ESSA ROCHA APRESENTA EVIDÊNCIAS DE REAQUECIMENTO
POR METAMORFISMO TERMAL OCASIONADO PROVAVELMENTE POR DERRAMES
BASÁLTICOS SOBREJACENTES. AS LAMELAS DE EXSOLUÇÃO DE AUGITA NOS
CRISTAIS DE PIGEONITA SÃO A PRINCIPAL EVIDÊNCIA DO METAMORFISMO
TERMAL NESSES METEORITOS.

Eucritos Polimíticos: Os eucritos polimíticos são brechas basálticas


polimíticas consistindo de menos de 10% em volume modal de clastos
diogeníticos. Lembrando-se de que brechas polimíticas são rochas compostas
de uma matriz de granulação mais fina sustentando clastos de diversos
materiais com composições modais e/ou químicas/mineralógicas distintas.
Brechas polimíticas eucríticas indicam uma rocha composta de clastos com
diferentes tipos de eucritos em uma mesma rocha. Tais brechas são geradas
por impactos de meteoroides que retrabalham a crosta de Vesta
constantemente e também pela mistura de material eucrítico no regolito que
depois é cimentado por eventos posteriores de impactos cósmicos. Estas
rochas estão mais predominantes na coleção dos meteoritos coletados na
Antártica.
METEORITO ALLAN HILLS (ALH) A81006, ENCONTRADO NA ANTÁRTICA.
EUCRITO POLIMÍTICO.

IMAGEM AO MICROSCÓPIO PETROGRÁFICO DO METEORITO ALHA 81006,


EUCRITO POLIMÍTICO, MOSTRANDO CLASTOS DE EUCRITO CUMULÁTICO (À
DIREITA) E CLASTOS DE EUCRITO BASÁLTICO (À ESQUERDA) COM TÍPICAS
ACÍCULAS DE PLAGIOCLÁSIO CÁLCICO DE ROCHA VULCÂNICA, IMERSOS NUMA
MATRIZ DE GRANULAÇÃO MAIS FINA COMPOSTA DE FRAGMENTOS DE
PIROXÊNIO E PLAGIOCLÁSIO.

Diogenitos: Os diogenitos são rochas de granulação grossa, isto é, plutônicas,


normalmente brechadas, representando cumulatos ultramáficos cristalizados
a partir de sequência de cristalização fracionada de magma com composição
basáltica. Os diogenitos são praticamente compostos de ortopiroxênio
magnesiano sendo ortopiroxênitos não oxidados compostos em média por
92,2% em volume de ortopiroxênio, 4,2% de olivina, 1,2% de clinopiroxênio,
0,9% de cromita, 0,4% de plagioclásio cálcico, 0,1% de ferro-níquel metálico,
0,6% de troilita e 0,4% de fases de sílica. Os diogenitos são considerados as
rochas mais comuns de maior profundidade no asteroide Vesta. No modelo
proposto para a formação da suíte magmática eucritos-diogenitos, os
diogenitos estão na base da sequência que segue da base para o topo como:
Diogenitos, eucritos cumuláticos, eucritos metamorfizados (ordinários),
eucritos não cumuláticos não equilibrados (não metamorfizados) e
howarditos.

DIAGRAMA TERNÁRIO DE CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS


MÁFICA-ULTRAMÁFICAS COM DESTAQUE PARA A CLASSIFICAÇÃO DOS
DIOGENITOS EM ORTOPIROXENÍTICOS, OLIVINA-ORTOPIROXENÍTICOS,
HAZBURGÍTICOS E DUNÍTICOS, NA RESPECTIVA SEQUÊNCIA CRESCENTE EM
TEOR VOLUMÉTRICO DE OLIVINA EM RELAÇÃO INVERSA AO TEOR
VOLUMÉTRICO DE ORTOPIROXÊNIO.
GRANDE MASSA DO METEORITO JOHNSTOWN, DIOGENITO BRECHADO.

IMAGEM AO MICROSCÓPIO PETROGRÁFICO DE LÂMINA DELGADA DO


METEORITO NORTHWEST AFRICA 2198, DIOGENITO BRECHADO SEMELHANTE
AO DIOGENITO JOHNSTOWN, OBSERVAR A TEXTURA DE BRECHA COM CLASTOS
DE ORTOPIROXENITO EM MATRIZ DE GRANULAÇÃO MAIS FINA COMPOSTA DE
GRÃOS DE ORTOPIROXÊNIO MAGNESIANO. A GRANULAÇÃO GROSSA DOS
DIOGENITOS MOSTRA QUE SÃO ROCHAS PLUTÔNICAS CRISTALIZADAS EM UMA
CÂMARA MAGMÁTICA NO INTERIOR DA CROSTA DE VESTA.

Sendo os howarditos a cobertura de regolitos ou material brechado por


impactos com meteoroides na superfície de Vesta. Apesar de os diogenitos
serem amostras das camadas mais profundas em câmaras magmáticas no
asteroide Vesta, a taxa de resfriamento dos mesmos é a mais alta dentre todas
as litologias HED. Para o diogenito Johnstown foi estimada como 50 ºC/ka e
para o diogenito Roda foi de 800 ºC/ka, uma brusca variação na taxa de
resfriamento destas rochas. Sabendo do mecanismo geológico pelo qual estas
rochas se formam a partir da cristalização fracionada de magmas de
composição basáltica, os diogenitos são a base de câmaras magmáticas e os
eucritos são as porções apicais da câmara, logo, estas discrepantes taxas de
resfriamento são explicadas como resfriamentos pós-magmáticos durante
reset térmico em impactos que remobilizaram a estratigrafia original dos
diogenitos os colocando em níveis crustais mais rasos onde foram reaquecidos
em profundidades menores do que a cristalização dos eucritos não
cumuláticos equilibrados.

Nos processos de formação de complexos acamadados máfico-ultramáficos


observamos que a base da sequência acamadada não são os ortopiroxenitos e
sim os dunitos, rochas compostas de mais de 90% em volume modal de
olivina. Onde está a litologia dunítica do grupo HED? Na verdade essas rochas
existem e já foram encontradas. Eu gostaria de mencionar aqui o exemplo do
meteorito encontrado na Antártica em 14 de dezembro de 2003 denominado
Miller Range (MIL) 03443 com massa total de 46,25 gramas. Esse meteorito
foi classificado como dunito do grupo HED. Esse meteorito é um dunito
brechado composto de grãos de olivina subedrais compondo 91% do volume
da rocha, com quantidades menores de ortopiroxênio, troilita e cromita. Esse
meteorito foi originalmente considerado um clasto isolado de um
mesossiderito, no entanto, dados geoquímicos da razão FeO/MgO versus
composição molar de magnésio nos piroxênios revelou sua identidade junto
dos meteoritos do grupo HED. A profundidade de origem desse meteorito está
muito além de pouco mais de 10 km porque dados espectrais da sonda Dawn
da NASA não revelaram assinatura clara de olivina na crosta de Vesta, nem
mesmo no interior das crateras mais profundas onde litologias mais
profundas estão expostas ao espaço. É provável que esse dunito tenha se
originado em uma câmara magmática alojada na crosta de Vesta, uma
ocorrência pontual, mas provável, por estar mais próxima da superfície.

FRAGMENTOS DO METEORITO MILLER RANGE (MIL) 03443. CLASSIFICADO


COMO DUNITO PERTENCENTE AO CLÃ MAGMÁTICO DOS
EUCRITOS-DIOGENITOS.
IMAGEM AO MICROSCÓPIO PETROGRÁFICO DO METEORITO MILLER RANGE
03443 MOSTRANDO SER COMPOSTO EM SUA MAIORIA POR CRISTAIS DE OLIVINA
EM TEXTURA CUMULÁTICA, OS CRISTAIS COLORIDOS SÃO TODOS GRÃOS DE
OLIVINA, CARACTERIZANDO UM DUNITO. A GEOQUÍMICA DOS
CLINOPIROXÊNIOS ACESSÓRIOS NESTA ROCHA A AGRUPA AO CLÃ MAGMÁTICO
DOS EUCRITOS-DIOGENITOS, SENDO ESTA ROCHA UMA AMOSTRA DA BASE DE
UMA CÂMARA MAGMÁTICA ALOJADA NO INTERIOR DA CROSTA DO CORPO
PARENTAL DOS ACONDRITOS HED, QUE SEGUNDO O PARADÍGMA MAIS ACEITO,
É O ASTEROIDE 4 VESTA.

Howarditos: Os howarditos são brechas polimíticas de regolito compostas


de clastos eucríticos e diogeníticos, com mais de 10% em volume modal de
ortopiroxênio nestes clastos. Os howarditos contêm um pouco de olivina,
indicando a presença de um componente dunítico. Além disso estas brechas
contêm material xenolítico, especialmente clastos de condritos carbonáceos
implantados em impactos de pequenos meteoroides incorporando-os no
regolito de Vesta. A matriz é de granulação fina incluindo clastos de rochas
fundidas por impacto cósmico. A matriz também contém gases implantados
dos ventos solares, característica fundamental de uma brecha de regolito,
indicando exposição cósmica prolongada. As brechas de regolito são material
regolítico consolidado ou litificado por impactos cósmicos.
FATIA DO METEORITO DAR AL GANI 779. HOWARDITO.

IMAGEM AO MICROSCÓPIO PETROGRÁFICO COM NICOIS CRUZADOS DO


HOWARDITO DAR AL GANI 779. OBSERVAR OS CLASTOS DE ORTOPIROXÊNIO E
CLINOPIROXÊNIO COLORIDOS, ALÉM DE PEQUENOS DE PLAGIOCLÁSIO E
OLIVINA. OS HOWARDITOS SÃO BRECHAS DE REGOLITO ASTEROIDAL
COMPOSTOS DE CLASTOS DE EUCRITOS E DIOGENITOS EM UMA MATRIZ DE
GRANULAÇÃO FINA, APRESENTANDO MUITAS VEZES XENÓLITOS DE OUTROS
METEORITOS IMPLANTADOS NO REGOLITO POR IMPACTOS DE METEOROIDES E
BOLSÕES E VEIOS DE MATERIAL FUNDIDO DE IMPACTO. AS BRECHAS DE
REGOLITO CONSISTEM DE REGOLITO EXPOSTO AOS RAIOS CÓSMICOS QUE É
LITIFICADO EM UMA ROCHA SÓLIDA BRECHADA.

Como esses meteoritos foram parar aqui na Terra? O mecanismo ocorre


quando um asteroide impacta a crosta de Vesta ejetando pedaços da mesma
para o espaço interplanetário. A baixa aceleração da gravidade na superfície
de Vesta permite que pedaços grandes sejam facilmente ejetados para o
espaço durante impactos cósmicos e isto explica porque os acondritos HED
não possuem evidências de alto estágio de choque como plagioclásios
convertidos em maskelynita como acontece com os basaltos marcianos, os
shergottitos. Portanto, ejetar pedaços da crosta de Vesta para o espaço é um
mecanismo que ocorre com mais facilidade do que ejetar fragmentos da crosta
da Lua ou de Marte.

Uma vez em órbitas heliocêntricas próprias os fragmentos da crosta de Vesta


tornam-se asteroides vestoides que podem ser desviados para próximo da
órbita da Terra por colisões posteriores ou Efeito Yarkovsky. Uma vez
ingressado na trajetória da órbita da Terra os pedaços do asteroide Vesta
tornam-se meteoroides com potencial de interceptarem o planeta e entrarem
na atmosfera terrestre caindo na superfície como meteoritos. De fato, os
eucritos representam os mais comuns meteoritos dentre o grupo dos
acondritos. O paradígma mais aceito pelos meteoriticistas é de que os
acondritos HED são amostras geológicas do asteroide diferenciado 4 Vesta e
aqui vimos algumas das principais evidências que reforçam esta afirmação. Os
dados da sonda não tripulada Dawn da NASA reforçaram esse paradígma.
Nesta jornada interplanetária os acondritos HED nos trazem informações de
como os embriões planetários se formaram, qual as suas estruturas internas e
geologia e como ajudaram a moldar o futuro dos planetas rochosos de nosso
Sistema Solar.
10. A Diferenciação Planetária

ILUSTRAÇÃO DA ACREÇÃO DE UM PLANETA

O modelo de formação dos sistemas planetários está baseado em teorias de


mecânica celeste e observações astronômicas. O processo astrofísico mais
comum no Universo é a formação de estrelas. A formação de uma estrela é
controlada pela força da gravidade. Gigantescas porções de gás e poeira
cósmica na Galáxia possuem regiões mais densas e frias onde é possível
formarem-se moléculas espontaneamente. Estas regiões de nebulosas são
chamadas de nuvens moleculares, que são geralmente opacas à luz visível.
Essa opacidade se dá pela presença de grande quantidade de poeira cósmica,
partículas do meio interestelar concentradas de várias eras de estrelas
anteriores que enriqueceram essas grandes nuvens com elementos químicos
mais pesados que o hidrogênio e o hélio.

A poeira cósmica consiste de pequenos grãos de silicatos, carbetos, nitretos,


grafita e diamantes que foram ejetados por explosões de supernova e por
ejeção de massa de atmosferas de estrelas supergigantes, as chamadas estrelas
AGB (Assymptotic Giant Branch stars). Outra porção da poeira cósmica
consiste de partículas de gelos principalmente de água, dióxido de carbono,
monóxido de carbono e amônia. Nas baixas temperaturas do espaço
interestelar esses compostos todos estão no estado sólido e servem de núcleos
de formação de moléculas mais complexas tais como cianeto de hidrogênio,
formaldeído, metano, etc. Estas nuvens são majoritariamente compostas de
hidrogênio molecular devido às condições de baixa incidência de radiação
ultravioleta no interior opaco e denso das nuvens moleculares onde moléculas
de hidrogênio se formam e suas ligações químicas não são prontamente
rompidas. Os cometas são relíquias de planetesimais que preservam a
composição original da nebulosa solar e guardam grande parte desses gelos e
compostos orgânicos.
NÚCLEO DO COMETA HALLEY EJETANDO VOLÁTEIS, FOTOGRAFADO PELA
SONDA GIOTTO NA DÉCADA DE 90. OS COMETAS SÃO PLANETESIMAIS QUE
PRESERVAM OS GELOS E COMPOSTOS ORGÂNICOS DA NEBULOSA SOLAR.

Grandes porções de nuvens moleculares são densas e frias o suficiente para


permitir que a gravidade devido à massa da própria nebulosa lentamente
inicie o processo de colapso lento e gradual no começo e depois mais rápido e
eficaz no final do processo. Várias porções de uma nuvem densa formam
nódulos de gás e poeira cada vez mais densos. Cada nóbulo formará uma nova
estrela, e cada estrela desta terá uma quantidade considerável de poeira que se
distribuirá em discos protoplanetários ao redor das protoestrelas. Estes discos
serão os locais onde novos planetas vão se formar. Análises de isótopos de
oxigênio estáveis (O-16, O-17 e O-18) de meteoritos, rochas lunares e
terrestres revelam uma gama de diferentes processos de aglutinação de
material planetesimal e posterior processamento de materiais planetários. Por
exemplo, os condritos carbonáceos primitivos (CI e CM) representam
planetesimais processados por alteração aquosa da fusão de gelo de água em
regiões mais distantes do proto-sol.

Regiões estas mais próximas da região de coalescência dos planetas gigantes


gasosos, na chamada linha de congelamento do Sistema Solar, onde a água
existe apenas no estado sólido. Nesta região mais densa e fria do disco
protoplanetário as razões isotópicas de oxigênio são completamente diferentes
das razões isotópicas de meteoritos que se formaram mais próximos do
proto-sol. O gráfico que mostra a relação entre os isótopos estáveis de
oxigênio revela diferentes regiões da nebulosa solar, ou do disco
protoplanetário, onde os meteoritos se formaram. Estes representam
heterogeneidades no reservatório geoquímico da nebulosa solar, ou seja,
diferentes regiões com propriedades físico-químicas distintas. No geral se
considera que a nebulosa solar é isotopicamente homogênea. No entanto, em
escala de materiais asteroidais revela-se regiões estratificadas com correlação
da distância em que os corpos sólidos coalesceram em relação ao Sol.
GRÁFICO DE ISÓTOPOS ESTÁVEIS DE OXIGÊNIO REVELANDO DIVERSOS
PROCESSOS DE FRACIONAMENTO ISOTÓPICO QUE OCORRERAM EM PORÇÕES
DISTINTAS DA NEBULOSA SOLAR GERANDO DIFERENTES RESERVATÓRIOS
GEOQUÍMICOS TAIS COMO O SISTEMA TERRA-LUA, MARTE, OS CONDRITOS
CARBONÁCEOS, OS CONDRITOS ORDINÁRIOS, ETC.

Os isótopos são átomos do mesmo elemento químico, mas que possuem


diferentes números de massa atômica, ou seja, representam átomos cujos
núcleos possuem o mesmo número de prótons, mas diferentes números de
nêutrons. Todos os isótopos de um mesmo elemento têm as mesmas
propriedades químicas e físicas, mas existem diferenças sutis causadas pela
diferença de massa entre eles. Por exemplo, o oxigênio-16, o mais abundante
isótopo do oxigênio, é mais leve que os demais isótopos, oxigênio-17 e
oxigênio-18. Sendo assim, as moléculas de água contendo O-16 serão mais
leves que moléculas de água contendo O-18, as interações químicas entre um
átomo de O-16 e um átomo de hidrogênio em uma molécula de água terão
uma cinética ligeiramente diferente de uma mesma ligação química entre
O-18 e um átomo de hidrogênio.

O O-18 terá uma vibração intrínseca na ligação covalente mais lenta do que
um átomo de O-16 e estas diferenças favorecem um fracionamento entre
moléculas de água com diferentes conteúdos isotópicos. Num processo de
evaporação da água, moléculas contendo O-18 passarão mais lentamente para
o estado gasoso em relação a moléculas contendo O-16. Assim, num processo
de evaporação lenta cria-se um reservatório de água líquida levemente rica em
O-18 e o vapor produzido estará levemente rico em O-16. Quando as primeiras
chuvas ocorrem após um longo período de estiagem, a primeira água que
precipita das nuvens está mais rica em O-18. Depois de chuvas copiosas, as
águas seguintes estão mais ricas em O-16 enquanto o reservatório de onde a
água veio por evaporação, por exemplo, um grande lago, estará levemente
enriquecido em O-18. Para se ter um elemento de comparação entre amostras
de isótopos coletados da natureza, é necessário um padrão de comparação do
isótopo do elemento especificado. O padrão mais utilizado para o elemento
oxigênio é o SMOW, sigla para o termo inglês Standard Mean Ocean Water,
ou Padrão Médio da Água do Oceano. Esse padrão também é usado para o
deutério, o isótopo estável pesado do hidrogênio. Existe um parâmetro que
mede o desvio isotópico entre o padrão e a amostra analisada. Esse parâmetro
é denominado "delta". O que obtém das amostras são razões entre os isótopos
menos abundantes e os mais abundantes no denominador do quociente.
Assim, para o oxigênio se obtém valores das razões O-17/O-16 e O-18/O-16. A
equação para o cálculo do "delta" depende das razões da amostra e das razões
do padrão. Amostras empobrecidas nos respectivos isótopos terão valores de
"delta" negativos e amostras enriquecidas terão valores positivos.

FÓRMULAS PARA O CÁLCULO DO "DELTA" DOS ISÓTOPOS ESTÁVEIS PESADOS DO


CARBONO E DO OXIGÊNIO, AS FÓRMULAS NECESSITAM DE VALORES DE
PADRÕES PRÉ-ESTABELECIDOS QUE REPRESENTEM RESERVATÓRIOS
ISOTÓPICOS ADEQUADOS.

ESTA TABELA APRESENTA OS PRINCIPAIS PADRÕES PARA OS ISÓTOPOS


ESTÁVEIS MAIS UTILIZADOS EM GEOQUÍMICA.

Em processos de cinética química, isótopos pesados são levemente menos


reativos do que isótopos leves de um mesmo elemento químico. Por exemplo,
o carbono possui dois isótopos estáveis naturais, o mais abundante
carbono-12 e o carbono-13. Moléculas biológicas possuem longas histórias de
reações bioquímicas complexas e estas reações favorecem a captação maior de
átomos de carbono-12 do que de carbono-13. Isto se dá porque a massa do
carbono-12 mais leve facilita sua mobilidade e seu modo de vibração mais
rápido, vibração térmica intrínseca, favorecendo mais velocidade de interação
com outros átomos. As ligações químicas geradas são mais estáveis.

O carbono-13 é mais pesado e ocorre o inverso do que acontece com o


carbono-12. Sendo assim, amostras de moléculas orgânicas de origem
biológicas são mais ricas em carbono-12 do que em carbono-13. Portanto, a
biosfera terrestre representa um reservatório geoquímico enriquecido em
carbono-12 e empobrecido em carbono-13. Com base nisto é possível saber a
origem de uma substância orgânica, se biótica ou abiótica, a partir de sua
assinatura isotópica do elemento carbono. O padrão para o carbono é o PDB,
sigla para o termo em inglês Pee Dee Belemnite, que é um fóssil de um animal
cefalópode (o belemnite) mineralizado com carbonato de cálcio da formação
cretácea Pee Dee da Carolina do Sul, EUA. Esse padrão foi escolhido devido à
abundância desse material no registro fóssil, a simplicidade da mineralogia, o
carbonato de cálcio, e pelo fato de ser uma amostra de origem biológica que
sofreu uma transformação diagenética por substituição mineralógica. A razão
medida para o elemento carbono é C-13/C-12.

Outro tipo de fracionamento ocorre com isótopos instáveis em que o isótopo


pai tem afinidade geoquímica diferente do isótopo filha. Por exemplo, o
elemento urânio possui dois principais isótopos naturais, o urânio-238, mais
abundante, e o urânio-235, menos abundante. O U-238 decai para
chumbo-206 e o U-235 decai para chumbo-207. O urânio é um elemento
litófilo, ou seja, tem mais afinidade a se ligar aos minerais silicáticos e na
forma de óxidos, mas o chumbo é um elemento calcófilo, ou seja, tem mais
afinidade a se ligar ao enxofre formando sulfeto de chumbo. Em uma situação
onde uma rocha está inicialmente em processo metamórfico, o urânio decai
para chumbo nos minerais desta rocha. Supondo que ela seja submetida a
uma fusão parcial, o sistema isotópico é totalmente aberto.

Os átomos de urânio e chumbo são liberados no líquido magmático. Se


acontecer uma contaminação do magma com material rico em enxofre, por
exemplo, se o magma entrar em contato com rochas encaixantes sedimentares
evaporíticas contendo gipsita, o enxofre dissolvido no magma capturará
efetivamente os íons de chumbo separando-os do líquido magmático em fases
sulfetadas que cristalizarão mais rápido. O urânio permanecerá no magma e
irá para as fases silicáticas durante a cristalização do magma. O resultado final
foi o fracionamento entre os isótopos de urãnio e chumbo, que foram
separados devido a terem diferentes afinidades geoquímicas. Assim, rochas
sulfetadas terão excesso de chumbo em relação a urânio e rochas silicáticas
terão excesso de urânio em relação ao chumbo. Esse processo é denominado
de fracionamento isotópico independente da massa, porque o fator
considerado na separação entre isótopos relacionados por decaimento
radioativo não foi pela massa atômica, mas pela afinidade geoquímica.
O MINERAL GALENA, SULFETO DE CHUMBO, FRACIONA MUITO BEM OS
ISÓTOPOS DE CHUMBO RADIOGÊNICO, MAS NÃO FRACIONA ISÓTOPOS DE
URÂNIO DE FORMA EFICIENTE DEVIDO AO URÂNIO SER UM ELEMENTO
LITÓFILO.

O mesmo pode acontecer com os isótopos estáveis. No caso do oxigênio,


durante o metassomatismo de um mármore, por exemplo, fluidos quentes de
origem magmática profunda ricos em sílica dissolvida podem trazer gás
carbônico dissolvido na forma de carbonato e bicarbonato e esses ânions estão
enriquecidos em C-13. Ao interagir com o mármore parte dos carbonatos de
origem biológica na rocha serão substituídos por carbonatos de origem
hidrotermal. Esta interação ocorreu devido ao fluido ter maior temperatura e,
portanto, maior reatividade substituindo os carbonatos do mármore por
minerais calcissilicáticos (devido à presença de sílica dissolvida no fluido) e
novos carbonatos de mais alta temperatura poderão substituir a calcita
original do mármore. Esse mármore transformado em uma rocha
calcissilicática por processo hidrotermal terá fases minerais carbonáticas
empobrecidas em C-12 devido à interação hidrotermal.

Esse fracionamento isotópico do elemento carbono não foi causado


especificamente pela diferença de massa entre os isótopos, mas pela diferença
de temperatura e pela interação entre diferentes reservatórios geoquímicos,
isto é, mármore de origem sedimentar e fluido hidrotermal de origem
magmática profunda. Os processos geológicos que ocorrem na Terra geraram
um trend distinto de isótopos de oxigênio nas rochas terrestres. Este trend é
visível no gráfico deltaO-18 versus deltaO-17, onde se observa a chamada Reta
de Fracionamento Terrestre. Todas as rochas terrestres (e lunares também)
plotam nesta reta. Mas as demais rochas extraterrestres ocupam outros trends
nesse gráfico, revelando outros reservatórios geoquímicos no Sistema Solar.
Este sistema de isótopos estáveis permite distinguir muito bem materiais
terrestres de materiais extraterrestres, como se fossem impressões digitais.
PERFIL GEOLÓGICO SIMPLIFICADO DE UM DEPÓSITO DE SKARN ONDE ROCHAS
SEDIMENTARES CALCÁRIAS OU MÁRMORES SÃO SUBMETIDOS À
METASSOMATISMO POR AÇÃO DE FLUIDOS HIDROTERMAIS DE ORIGEM
PLUTÔNICA. A ASSINATURA ISOTÓPICA DE CARBONO NOS
CALCÁRIOS/MÁRMORES É MODIFICADA PELA AÇÃO DE FLUIDOS
HIDROTERMAIS QUE PODEM ENRIQUECER AS ROCHAS EM C-13.

O processo de diferenciação tem um significado local em petrologia ígnea e


global em planetologia comparada. A diferenciação consiste na evolução de
um líquido magmático que cristaliza de forma fracionada extraindo e
separando os elementos químicos compatíveis dos incompatíveis.
Compatibilidade em geoquímica significa afinidade química com o elemento
magnésio. O magnésio é o metal mais abundante nos planetas rochosos,
devido aos processos nucleossintéticos favorecerem a sua formação em
maiores quantidades. Os elementos químicos cujos íons têm propriedades
físicas semelhantes aos íons de magnésio são ditos compatíveis e os demais
são incompatíveis. Por exemplo, os íons de Fe2+ têm carga elétrica igual a dos
íons Mg2+ e raio iônico semelhante. Portanto, nas rochas o ferro substituirá
de forma efetiva sítios cristalográficos que são ocupados pelo magnésio.
Outros exemplos de elementos compatíveis são Ni, Cu, Ir, Pt, Mn, Gd, Lu, etc.
Já os metais alcalinos possuem raios iônicos maiores que o do magnésio e
cargas elétricas menores, sendo assim, esses elementos são incompatíveis.
Elementos desse tipo são chamados de LILE (Large Ion Lithophile Elements -
elementos litófilos de grande raio iônico) tais como Na, K, Rb, Cs, Sr, Ba, Cl,
etc.

Outra classe de elementos incompatíveis são os HFSE (High Field Strenght


Elements - elementos de elevado campo de força) o que significa íons que
possuem alta densidade de carga elétrica porque possuem cargas elétricas
elevadas com valores +4 e +5 e raios iônicos pequenos, semelhantes ao
magnésio ou até menores. Estes elementos são "expulsos" dos sítios
cristalográficos do magnésio devido à grande diferença de carga elétrica e a
não acomodação de espaço em redes cristalinas por serem muito pequenos.
Elementos HFSE são Y, Ta, Zr, Hf, etc. Os elementos incompatíveis estão
normalmente associados a fases minerais que cristalizam a temperaturas
menores do que os elementos compatíveis que estão associados a fases
minerais que cristalizam em maiores temperaturas. Isto se dá também pela
relação entre carga e raio iônico dos elementos. Elementos com uma baixa
densidade de carga elétrica como os LILE (baixa razão q/r ou seja) são mais
suscetíveis a estarem nos líquidos magmáticos durante evento de fusão parcial.
Ou seja, serão mais facilmente eliminados dos sítios cristalográficos dos
minerais que estão se fundindo. Os elementos compatíveis tenderão a
permanecer nas fases sólidas, ou seja, as fases que resistirão mais à fusão com
o aumento da temperatura. O que se tem como resultado é um fracionamento
geoquímico entre elementos compatíveis que preferem as fases refratárias e os
incompatíveis que preferem as fases de baixa temperatura. Assim os minerais
de mais alta temperatura como as olivinas e piroxênios fracionarão para si
mais os elementos tais como Mg, Fe, Ni, Co, Au, Pt, Cr, W, etc. Já os minerais
de mais baixa temperatura de cristalização como muscovita, ortoclásio e
plagioclásio sódico fracionarão os elementos Na, K, Rb, Cs, Ta, Zr, etc.

GRÁFICO DA RELAÇÃO ENTRE RAIO IÔNICO E CARGA IÔNICA DOS PRINCIPAIS


ELEMENTOS QUE COMPÕEM AS ROCHAS. A MENOR RAZÃO ENTRE CARGA/RAIO
DEFINE OS ELEMENTOS INCOMPATÍVEIS LILE (ÁREA VERDE), A MAIOR RAZÃO
DEFINE OS ELEMENTOS HFSE (ÁREA AMARELA), E RAZÕES INTERMEDIÁRIAS
DEFINE OS ELEMENTOS COMPATÍVEIS COM O MAGNÉSIO (ÁREA AZUL CLARA).

Análises das rochas terrestres mostram que a Terra possui pelo menos duas
regiões internas estratificadas conhecidas por suas diferenças em termos de
compatibilidade geoquímica. O manto superior da Terra abrange uma
profundidade desde à descontinuidade sísmica de Mohorovic que começa por
volta de 30 km de profundidade até 660 km de profundidade numa região de
baixa velocidade sísmica anômala chamada de camada D'. O manto superior
que está logo abaixo da litosfera é chamado de manto litosférico e é
geoquimicamente conhecido como manto empobrecido porque não possui
quantidades apreciváveis de elementos incompatíveis devido a estes terem
sido totalmente extraídos por eventos magmáticos de fusão dessa região do
manto para formar as rochas da crosta terrestre. Xenólitos do manto trazidos
por magmas basálticos em hotspots mostram que as rochas do manto
empobrecido são principalmente dunitos e peridotitos. Como resultado, as
rochas que compõem o manto litosférico são ditas estéreis porque não são
facilmente submetidas à fusão parcial e apresentam elevados teores de
magnésio. O manto mais profundo, além de 400 km de profundidade, após a
zona parcialmente fundida chamada astenosfera, o manto é chamado de
manto enriquecido. As rochas oriundas desta região profunda são os
kimberlitos e suites magmáticas peralcalinas que incluem carbonatitos e
fosforitos. Estas rochas apresentam elevado teor de elementos incompatíveis
junto dos elementos compatíveis indicando que não houve extração eficiente
dessas regiões profundas do manto (além de 250 km de profundidade),
indicando que o manto inferior não foi completamente homogeneizado e
fundido por completo, sendo de natureza muito mais metamórfica. O manto
inferior é dito fértil porque pode ser fundido por eventos de tectônica
profunda gerando magmas ricos em LILE, elementos terras raras leves e
elementos compatíveis tais como o magnésio.

XENÓLITOS DE DUNITO (PORÇÕES VERDES, RICAS EM OLIVINA) EM ROCHA


BASÁLTICA. OS DUNITOS SÃO ORIUNDOS DO MANTO LITOSFÉRICO.

Apesar de a Terra não parecer ter sido completamente fundida, a presença de


um núcleo de ferro-níquel no planeta demonstra que houve um evento
termodinâmico significativo de fusão parcial das rochas que pôde
efetivamente fazer a gravidade acumular os metais, anteriormente dispersos,
em uma região central do planeta. Esse processo de aquecimento do planeta
com formação de crosta, manto e núcleo é chamado de diferenciação
planetária. Os corpos do Sistema Solar de forma geral foram aquecidos pelo
decaimento radioativo de isótopos de meia-vida curta tais como alumínio-26 e
plutônio-244. Corpos maiores como os planetas rochosos foram aquecidos
pela energia cinética liberada das colisões e aglutinações de planetesimais
menores formando o protoplaneta e depois pelo decaimento radioativo de
isótopos de meia-vida curta e meia-vida longa. A Terra fundiu e mantém até
hoje seu calor interno graças ao decaimento de isótopos tais como urânio-238,
urânio-235, tório-232 e potássio-40. Outros isótopos de meia-vida curta
também contribuíram para a fase de aquecimento inicial da Terra o que gerou
um grau geotérmico ainda maior na Terra primitiva, tais como os isótopos
hoje extintos plutônio-244, plutônio-239 e plutônio-238 e demais elementos
actinídeos que estavam presentes no início do Sistema Solar como o berquélio,
cúrio e o califórnio.

RESUMO DOS PRINCIPAIS PROCESSOS DESDE À ACREÇÃO NO DISCO


PROTOPLANETÁRIO ATÉ DIFERENCIAÇÃO PLANETÁRIA COMPLETA E OS
PRINCIPAIS SISTEMAS ISOTÓPICOS UTILIZADOS PARA DATAR ESTES EVENTOS.

O evento de formação do núcleo da Terra foi muito rápido em termos


cósmicos, durando no máximo 10 milhões de anos. Estimativas de idade de
formação do núcleo provém de fracionamento do sistema isotópico
háfnio-tungstênio. O háfnio-182 é um radionuclídeo extinto que se acumulou
de forma homogênea na prototerra antes da formação do núcleo. O háfnio-182
tem meia-vida de 8,9 milhões de anos e decai para o isótopo estável
tungstênio-182. O háfnio é um elemento litófilo, isto é, tem maior afinidade
geoquímica aos silicatos e óxidos e como tal esse elemento prefere se
acumular na crosta terrestre acompanhando os líquidos magmáticos por se
comportar mais como um elemento incompatível. Já o tungstênio é um
elemento siderófilo, isto é, prefere as fases metálicas nativas de ferro-níquel e
como tal é fracionado pelas fases metálicas se separando dos silicatos.

No evento de formação do núcleo da Terra grande parte do háfnio-182 decaiu


e se transmutou para tungstênio-182. No entanto, o tungstênio-182 foi
fracionado pelos metais que foram levados para o centro do planeta formando
o núcleo. O resultado final foi o empobrecimento da crosta terrestre em
tungstênio-182 indicando que quando o núcleo da Terra se formou muito
rapidamente dando tempo de ter levado o háfnio-182 decaído para
tungstênio-182 para o núcleo e empobrecendo as rochas silicáticas que hoje
compõem a crosta. Demais fracionamentos isotópicos ajudam os geoquímicos
a entender melhor os processos planetários e no futuro ajudará a
compreender a evolução plena da geologia complexa da Terra e de outros
planetas além no futuro distante.
11. Os Vários Estágios na História dos Meteoritos

CONCEPÇÃO ARTÍSTICA DA QUEDA DO METEORITO ALLENDE.

Os meteoritos são rochas que foram submetidas a vários processos naturais


antes de chegar às mãos de colecionadores, cientistas ou museólogos. Um
meteorito passa por vários estágios ao longo de sua existência, desde a sua
formação no seu corpo parental até sua sobrevivência à entrada na atmosfera
da Terra e permanência no ambiente terrestre enquanto não é coletado por
seres humanos.

Os grupos químicos dos meteoritos são interpretados em meteorítica como


diferentes corpos parentais. Os grupos são a mais alta hierarquia de
classificação de um meteorito que o identifica, teoricamente, com um
determinado corpo parental e isto se aplica de forma similar aos acondritos,
não apenas aos condritos. Por exemplo, os condritos ordinários são separados
em três grandes grupos químicos: L, LL e H. Estes representam pelo menos
três diferentes tipos de corpos parentais de origem desses condritos. O que
chamamos aqui de corpos parentais são asteroides, protoplanetas, planetas ou
luas de onde os meteoritos vêm, este termo é traduzido da terminologia
original em inglês "parent body" que seria traduzido ao pé da letra como
corpos pais, mas para clareza e melhor sonoridade escolhi utilizar aqui um
"anglicismo" e chamar de corpo parental. No caso dos condritos, eles se
originam de asteroides que são resíduos de planetesimais, material
acrecionado do disco protoplanetário, um asteroide condrítico de exemplo é o
asteroide 25143 Itokawa. Já os acondritos basálticos como os eucritos provêm
de um asteroide diferenciado, um "quase" protoplaneta, o asteroide 4 Vesta,
que possui 550 km de diâmetro médio. Diz-se então que o corpo parental de
um condrito ordinário pode ser o asteroide 25143 Itokawa e o corpo parental
de um eucrito é o asteroide 4 Vesta.

Os grupos químicos dos condritos são determinados por três análises


realizadas nestes meteoritos: Petrografia (composição mineralógica, texturas
de côndrulos, grau de recristalização da matriz, estruturas como fraturas e
veios, estimação do tipo petrológico, estágio de choque e grau de alteração
terrestre), geoquímica de rocha total e/ou análises pontuais de microssonda
eletrônica nas fases minerais determinantes que são as olivinas e os
piroxênios e determinação da composição de isótopos estáveis de oxigênio
(O16, O17 e O18). Com base nestes dados se determina o grupo do condrito.
Os grupos nos acondritos são interpretados de forma diferente, exceto que
isótopos de oxigênio também são utilizados para separá-los em grupos. Por
exemplo o grupo H.E.D. (Howarditos, Eucritos e Diogenitos) plotam no
mesmo campo no gráfico triisotópico de oxigênio, indicando uma mesma
origem, um mesmo corpo parental. Eles apresentam similaridades
composicionais, os eucritos são basaltos, os howarditos são brechas de
regolito asteroidal que contêm clastos de diogenitos e eucritos misturados e os
diogenitos são ortopiroxenitos reduzidos, com composição química
complementar aos eucritos, seus derivados de fusão.

GRÁFICO DE ISÓTOPOS ESTÁVEIS DE OXIGÊNIO ONDE PLOTAM OS "DELTAS" DE


O17 E O18 EM RELAÇÃO AO O16, EM RELAÇÃO AO PADRÃO ISOTÓPICO DE
OXIGÊNIO SMOW (STANDARD MEAN OCEAN WATER), A MÉDIA ISOTÓPICA
PADRÃO DA ÁGUA DO OCEANO TERRESTRE. NOTAR QUE OS METEORITOS CAEM
EM CAMPOS E RETAS ESPECÍFICAS QUE OS IDENTIFICAM COM SEUS CORPOS
PARENTAIS. POR EXEMPLO, AS ROCHAS TERRESTRES E LUNARES TODAS CAEM
NA RETA DE FRACIONAMENTO TERRESTRE, QUE IDENTIFICA A TERRA COMO
CORPO PARENTAL DESTAS ROCHAS. OS CONDRITOS CARBONÁCEOS E OS
UREILITOS PLOTAM NUMA RETA COM INCLINAÇÃO APROX. IGUAL A 1, RETA
ESTA QUE IDENTIFICA OS MINERAIS ANIDROS DOS CONDRITOS CARBONÁCEOS
(CCAM - CARBONACEOUS CHONDRITE ANHYDROUS MINERALS), INDICANDO
ASTEROIDES CARBONÁCEOS COM A FONTE DESSES METEORITOS.

A idade de formação dos condritos, isto é, a idade em que seus componentes


foram acrecionados a partir de material do disco protoplanetário: Matriz fina,
côndrulos, CAIs e AOAs, é calculada pela quantidade de isótopos radioativos
pai e seus isótopos radiogênicos estáveis filho. Por exemplo, o sistema
isotópico urânio-chumbo consiste, por exemplo, do isótopo mais abundante
urânio-238 que decai em uma série até se transmutar finalmente para o
chumbo-206 estável. Diz-se que o urânio-238 é o radioisótopo pai com uma
meia-vida de 4,5 bilhões de anos e o chumbo-206 é o isótopo radiogênico
estável filho. Sabendo a quantidade de urânio-238 e chumbo-206 em um
sistema fechado, por exemplo, em uma amostra de mineral extraído de um
meteorito, pode-se calcular a idade de cristalização deste mineral sabendo a
constante de decaimento nuclear do urânio-238 que corresponde também a
sua meia-vida, uma constante universal e imutável.

Considerando que a rocha é isotopicamente homogênea, ou seja, toda ela se


formou ao mesmo tempo e aprisionou proporções semelhantes de seus
isótopos ao longo de seu corpo de minerais, a composição de rocha total
também pode fornecer a idade de cristalização da rocha como um todo, a sua
idade de formação ou do magma original de seu reservatório geoquímico
através da construção de um gráfico de isócrona com várias medidas da rocha
total e minerais individuais extraídos da mesma.

A isócrona é uma linha reta gerada num gráfico quando normalizamos a


concentração dos isótopos na rocha utilizando um isótopo estável não
radiogênio como parâmetro de normalização. Por exemplo, se analisamos três
diferentes amostras de rocha total de um mesmo meteorito para o sistema
isotópico rubídio-estrôncio, onde rubídio-87 radioativo transmuta para
estrôncio-87 estável com uma meia-vida de 49,23 bilhões de anos, então cada
uma das três medidas vai produzir diferentes concentrações desses isótopos.
Mas, medindo as concentrações também do isótopo estável estrôncio-86, que
não provém do decaimento do rubídio-87, pode-se obter as razões
rubídio-87/estrôncio-86 e estrôncio-87/estrôncio-86 e quando estas razões
são plotadas em um gráfico elas caem numa mesma reta chamada isócrona,
ou reta de mesma idade.
ISÓCRONA DO SISTEMA RUBÍDIO-ESTRÔNCIO DO METEORITO MARCIANO NWA
7034 DANDO UMA IDADE DE CRISTALIZAÇÃO DE 2,089 BILHÕES DE ANOS COM A
RAZÃO INICIAL Sr87/Sr86 = 0,71359. NOTAR OS PONTOS QUE GERARAM A RETA
DA ISÓCRONA, PORÇÕES DIFERENTES DO METEORITO FORAM ANALISADAS E
DERAM DIFERENTES RAZÕES, MAS TODAS INDICAM A MESMA ROCHA,
PORTANTO SÃO PLOTADAS EM UMA RETA, MOSTRANDO QUE A ROCHA TODA
CRISTALIZOU AO MESMO TEMPO.

Outros sistemas isotópicos de elementos químicos geoquimicamente


"imóveis", isto é, que dificilmente fracionam em fases distintas quando ocorre
diferenciação seja por metamorfismo, fusão parcial e extração de magmas, são
utilizados tais como samário-neodímio e rênio-ósmio. Razões isotópicas
iniciais de neodímio e ósmio nos meteoritos revelam sua idade de cristalização
ou de extração magmática mais antiga em seu corpo parental. Em rochas
terrestres estes geram idades modelo, ou seja, a idade em que a rocha foi
originalmente "extraída" de um reservatório geoquímico considerado
isotopicamente homogêneo. Por exemplo, analisando um basalto de fundo
oceânico, sua idade isocrônica determinada pelo sistema rênio-ósmio ou
samário-neodímio, revela quando o magma basáltico foi originalmente gerado
por fusão parcial do manto superior da Terra.

O basalto é a rocha analisada, o manto superior, chamado de manto


empobrecido, é o reservatório geoquímico, e a idade calculada é idade modelo
do basalto analisado, ou seja, a idade da extração do magma basáltico a partir
do manto empobrecido. O manto é dito empobrecido em elementos químicos
incompatíveis com o magnésio, ou seja, elementos que preferem as fases
fluidas, mais voláteis, como o potássio, sódio, cálcio, nióbio, tântalo, etc.
Elementos compatíveis preferem as fases de mais alta temperatura nos
minerais ferromagnesianos que são similares em raio iônico e carga iônica ao
cátion magnésio, por exemplo, ferro, cromo, platinoides e elementos terras
raras pesados como itérbio e lutécio. Analisando o fracionamento desses
elementos é possível estabelecer o grau de diferenciação de uma rocha a partir
de um padrão, de um referencial geoquímico. O referencial utilizado muitas
vezes são os condritos, normalmente os condritos CI, que representam o
material mais semelhante à composição da nebulosa solar de onde a Terra e
todos os corpos do sistema solar se formaram.

GRÁFICOS "SPIDERGRAM" DE QUATRO DIFERENTES METEORITOS MARCIANOS


NO QUE DIZ RESPEITO ÀS SUAS CONCENTRAÇÕES DE ELEMENTOS TERRAS
RARAS (OS ELEMENTOS DA SÉRIE DOS LANTANÍDEOS, DO LANTÂNIO AO
LUTÉCIO) EM RELAÇÃO AO PADRÃO QUE É A MÉDIA DE COMPOSIÇÃO DOS
CONDRITOS CARBONÁCEOS CI. NOTAR O GRAU DE FRACIONAMENTO DESSAS
ROCHAS DEVIDO A PROCESSOS DE FUSÃO PARCIAL E CRISTALIZAÇÃO
CUMULÁTICA. NOTAR QUE ROCHAS RESULTANTES DE CRISTALIZAÇÃO A PARTIR
DE LÍQUIDOS MAGMÁTICOS COMO O METEORITO NAKHLA, APRESENTA
EMPOBRECIMENTO NOS TERRAS RARAS PESADOS (DO GADOLÍNIO AO LUTÉCIO),
PORQUE ESSES PREFEREM MAIS AS FASES SÓLIDAS DO QUE SEREM
FRACIONADOS PARA O LÍQUIDO MAGMÁTICO. JÁ O SHERGOTTITO TISSINT TEM
CARACTERÍSTICA CUMULÁTICA, DERIVADA DE ROCHAS DE ALTA TEMPERATURA,
RESTITOS DE FUSÃO PARCIAL, OU CRISTALIZAÇÃO A PARTIR DE MAGMA
ENRIQUECIDO EM TERRAS RARAS PESADOS. DISCREPÂNCIAS ENTRE TERRAS
RARAS LEVES E PESADOS INDICAM UM CORPO PARENTAL DE GEOLOGIA ATIVA
COMO ACONTECE NA TERRA E ACONTECEU EM MARTE.

Por exemplo, analisando os elementos químicos traço em um granito em


relação à composição elementar dos condritos CI, observamos que os granitos
peraluminosos, resultantes de fusão parcial de rochas sedimentares
metamorfizadas tais como xistos e quartzitos, são rochas enriquecidas em
elementos incompatíveis tais como lítio, césio, flúor, tântalo, ítrio, nióbio,
elementos terras raras leves como cério, neodímio e samário e é empobrecida
em elementos compatíveis tais como platinoides, magnésio, cromo, elementos
terras raras pesados como gadolínio, hólmio, itérbio e lutécio. Esta assinatura
geoquímica de elementos traços é típica de rochas de origem planetária, que
passaram por múltiplos processos de fusão, metamorfismo, soerguimento e
intemperismo, em ciclos de reciclagem de rochas, processos estes que ocorrem
em corpos parentais como a Terra onde a geologia é muito ativa com tectônica
de placas produzindo vulcanismos, eventos deformacionais, metamorfismo e
fusão parcial de rochas pré-existentes. Um meteorito que possui assinatura
geoquímica complexa como um granito terrestre representa um fragmento de
um corpo que possivelmente tem dimensões planetárias e uma geologia ativa.
Meteoritos que possuem padrões simples e similares aos condritos CI são
pouco diferenciados e provêm de corpos parentais como uma geologia inativa
ou com uma curta história de magmatismos e metamofismo.

A Lua, por exemplo, não possui indícios de que houve tectônica de placas, é
um corpo de massa pequena para desenvolver uma geologia tão ativa quanto à
Terra e suas rochas revelam isto. As rochas lunares têm um fracionamento
geoquímico menos complexo do que os mais simples basaltos terrestres.
Apresentando enriquecimento e empobrecimento em elementos
incompatíveis e compatíveis com "desnível" muito pequeno em relação aos
condritos CI e em relação a um basalto terrestre. Isto indica que a Lua teve
uma geologia ativa por um curto período de tempo, produzindo rochas com
pequeno grau de diferenciação, mas depois ela cessou suas atividades, seu
núcleo esfriou e a geologia lunar hoje é inativa. Atividade vulcânica na Lua
cessou, de acordo com idades de recristalização calculada para rochas lunares
trazidas pelas missões Apollo da NASA e para meteoritos lunares, há pelo
menos 3,9 bilhões de anos, quando impactos cósmicos de grandes dimensões
fraturaram profundamente a crosta lunar gerando fusão parcial de seu manto
e ascensão de magmas basálticos.

AMOSTRA APOLLO 10017, BASALTO LUNAR COLETADO PELOS ASTRONAUTAS DA


MISSÃO APOLLO 11 DA NASA. ESTE BASALTO REPRESENTA DERRAMES
VULCÂNICOS NOS MARES LUNARES, OS EVENTOS GEOLÓGICOS MAIS RECENTES
DA LUA.
ISÓCRONAS DOS SISTEMAS ISOTÓPICOS SAMÁRIO-NEODÍMIO E
RUBÍDIO-ESTRÔNCIO FORNECENDO A IDADE DE CRISTALIZAÇÃO DO BASALTO
LUNAR APOLLO 10017 DE 3,633 BILHÕES DE ANOS E 3,678 BILHÕES DE ANOS,
MOSTRANDO CONSISTÊNCIA DE IDADES CALCULADAS. OS ÚLTIMOS EVENTOS
VULCÂNICOS NA LUA TÊM IDADES EM TORNO DE 3,7 BILHÕES DE ANOS.

Voltando à questão da isócrona no sistema Rb-Sr a tangente do ângulo de


inclinação da isócrona gerada é proporcional à idade da amostra analisada. A
isócrona permite uma melhor avaliação de dados de medidas isotópicas
obtidos e uma melhor precisão para a idade da rocha como um todo. Além
disso a isócrona revela um pouco sobre a natureza de um corpo parental de
um meteorito. Por exemplo, plotando a reta isócrona do sistema Rb-Sr,
podemos interpolar e calcular a razão isotópica inicial de
estrôncio-87/estrôncio-86 e esta razão revela muito sobre a natureza do corpo
parental. A menor razão isotópica inicial de Sr87/Sr86 são das CAIs, as
inclusões refratárias cálcio-aluminosas, os primeiros aglomerados minerais a
condensarem a partir da nebulosa solar, os sólidos mais antigos do sistema
solar. Razões isotópicas inicias elevadas indicam o grau de diferenciação
geológica de um corpo parental. A razão inicial Sr87/Sr86 dos condritos é
menor do que a dos acondritos marcianos que é menor do que os granitos
pós-cambrianos da Terra. O grau de diferenciação geológica de um corpo
parental dita o quão distante ele está do material original primitivo da
nebulosa solar representado pelos CAIs e pelos condritos carbonáceos CI.

A idade da Terra foi calculada desta maneira pelo geoquímico Claire Patterson
em 1956 quando ele plotou medidas de isótopos de urânio e chumbo
normalizados para o chumbo-204 não radiogênico em uma isócrona. As
medidas eram de meteoritos, sedimentos de fundo oceânico e de rochas ígneas
terrestres. Todos estes materiais plotavam ao longo de uma mesma reta
indicando uma mesma fonte isotópica do urânio-238. Patterson teve a
brilhante conclusão de que a idade da Terra era também a idade dos materiais
planetários, ou seja, a idade de formação do Sistema Solar. Patterson obteve
uma idade isocrônica de 4,55 bilhões de anos, a confirmação definitiva da
idade da Terra. A idade de cristalização da maioria dos meteoritos está nesta
faixa de 4,5 bilhões de anos, a idade do sistema solar. No entanto, existem
meteoritos tais como os acondritos lunares que têm idades de 3,9 bilhões de
anos ou mais e os acondritos marcianos tais como os shergottitos que
representam magmas que cristalizaram em períodos de tempo mais recentes,
com idades de cristalização de 165 a 575 milhões de anos, indicando uma
geologia ativa ainda recente para o planeta Marte.

ISÓCRONA DE EVOLUÇÃO ISOTÓPICA DO SISTEMA URÂNIO-CHUMBO


DESENVOLVIDA POR CLAIRE PATTERSON EM 1956 PARA CALCULAR A IDADE DE
FORMAÇÃO DA TERRA. NOTAR QUE OS METEORITOS METÁLICOS CANYON
DIABLO E HENBURY REPRESENTAM A FONTE MAIS PRIMORDIAL DE CHUMBO
RADIOGÊNICO E SEDIMENTOS OCEÂNICOS MODERNOS (PONTO AZUL)
REPRESENTAM A MÉDIA DO MATERIAL "TOTAL" DA TERRA, TODOS PLOTAM NA
RETA DE EVOLUÇÃO ISOTÓPICA DE IDADE IGUAL A 4,55 BILHÕES DE ANOS, A
IDADE DO SISTEMA SOLAR.

FRAGMENTO DO METEORITO CANYON DIABLO


FRAGMENTO DO METEORITO HENBURY

- AMBOS OS METEORITOS METÁLICOS CANYON DIABLO E HENBURY FORAM


UTILIZADOS POR CLAIRE PATTERSON COMO OS RESERVATÓRIOS GEOQUÍMICOS
DE CHUMBO RADIOGÊNICO MAIS ANTIGOS, ELE TEVE O INSIGHT DE QUE OS
MATERIAIS PLANETÁRIOS TODOS SE FORMARAM COM A MESMA IDADE, A
IDADE DO SISTEMA SOLAR. ELE ANALISOU O TEOR DE CHUMBO NOS NÓDULOS
DE TROILITA DOS METEORITOS E OBTEVE O PONTO MAIS BAIXO DA ISÓCRONA,
A TROILITA DO CANYON DIABLO É HOJE O PADRÃO ISOTÓPICO PARA O
CHUMBO.

Um corpo parental normalmente foi submetido a uma longa história de


impactos cósmicos. Muitos asteroides, por exemplo, são fragmentos de
protoplanetas que foram estilhaçados em violentos impactos com outros
protoplanetas no início do sistema solar. Outros asteroides, como os
condríticos, são remanescentes de planetesimais, mas também foram
impactados múltiplas vezes e esses impactos podem ficar registrados nos
minerais como estruturas de impacto, polimorfos de alta pressão, veios e
fraturas de choque, brechas de impacto, veios e bolsões de material silicático
ou mesmo metálico fundido, etc. Nos impactos os corpos menores do sistema
solar, asteroides e cometas, se separam em múltiplos fragmentos, cada um
destes expondo novas superfícies ao espaço e partes do asteroide que antes
formavam seu interior podem ser expostas ao espaço através de impactos.
Corpos de dimensões planetárias como a Lua e Marte estão repletos de
crateras de impacto e pedaços das crostas destes mundos foram ejetados para
o espaço interplanetário. Alguns desses pedaços chegam à Terra e caem para
se tornarem os raros acondritos lunares e marcianos. Estes fragmentos da
crosta destes mundos também têm uma idade de exposição ao vácuo do
espaço.

O tempo em que o corpo parental e/ou meteoroide de um meteorito


permaneceu vagando no espaço ou as idades de múltiplas exposições de
fragmentos de corpos parentais dos meteoritos podem ser determinadas
através da análise de isótopos específicos implantados nos meteoritos. Por
exemplo, um meteorito marciano era um pedaço da crosta do planeta.
Enquanto este meteorito era uma rocha compondo a crosta marciana ele
estava "protegido" dos raios cósmicos oriundos de todas as partes do Universo
devido à atmosfera do planeta ou mesmo a rocha estava na subsuperfície,
protegida dos raios cósmicos por camadas de rochas e/ou regolito subjacentes.
O que seria o regolito? Eles são como os solos, material inconsolidado
resultante da fragmentação de rochas através de processos intempéricos. No
caso dos regolitos, os processos intempéricos são raios cósmicos e impactos de
micrometeoritos. A água no planeta Marte também pode ter tido um papel
fundamental em compor o regolito marciano.

Uma vez que acontece um impacto de meteorito gigante na crosta marciana, a


rocha marciana é ejetada para o espaço interplanetário se tornando um
meteoroide. Uma vez no espaço a rocha agora está exposta aos raios cósmicos,
sendo bombardeada em todas as direções por partículas subatômicas de alta
energia oriundas de processos astrofísicos ocorrendo em todo o Universo,
inclusive partículas oriundas do vento solar. Como resultado disso, alguns
nuclídeos presentes na rocha podem interagir com estas partículas gerando
isótopos específicos que servem de assinatura para a presença desses raios
cósmicos. O tempo em que o meteoroide ficou exposto aos raios cósmicos é
chamado de idade de exposição cósmica. Isótopos resultantes da interação
com raios cósmicos são chamados de isótopos cosmogênicos. Alguns dos
isótopos cosmogênicos mais utilizados para medir a idade de exposição
cósmica de um meteorito são hélio-3, neônio-21, criptônio-81 e argônio-38.
Alguns desses isótopos, como o hélio-3 e o argônio-38, são estáveis, e sua
quantidade acumulada no meteorito é diretamente proporcional à idade de
exposição cósmica do meteorito. Cada isótopo tem um método de análise,
obtenção de dados e cálculo da idade, mas todos devem concordar
aproximadamente com a idade de exposição cósmica real do meteorito.

COLISÕES ENTRE ASTEROIDES EXPÕEM REGIÕES INTERNAS DOS MESMOS AOS


RAIOS CÓSMICOS, REVELANDO QUANTO TEMPO UM METEOROIDE DERIVADO
DE UMA COLISÃO PERMANECEU VAGANDO PELO ESPAÇO INTERPLANETÁRIO.
COLISÕES DE ASTEROIDES E COMETAS CONTRA CORPOS PLANETÁRIOS PODEM
EJETAR PEDAÇOS DA CROSTA DE MUNDOS PARA O ESPAÇO, UMA VEZ NO
ESPAÇO, FRAGMENTOS DA CROSTA SE TORNAM METEOROIDES EXPOSTOS AOS
RAIOS CÓSMICOS. OS METEORITOS MARCIANOS SÃO EXEMPLOS DISSO.

Por exemplo, podemos calcular a idade de exposição cósmica de um meteorito


hipotético usando esses quatro isótopos citados e chegarmos a resultados tais
como 11,9 Ma, 10,8 Ma, 13 Ma, 12,1 Ma. Esses valores nos mostram que há
consistência, precisão, na análise e todos os isótopos medidos concordam que
este meteorito, aliás, seu meteoroide original, ficou exposto no espaço por pelo
menos 12 milhões de anos. Anteriormente a isto, o meteoroide estava
"protegido" dos raios cósmicos no interior de seu corpo parental e foi exposto
aos raios cósmicos em eventos colisionais.

É possível inferir a partir da idade de exposição cósmica as idades em que


ocorreram os últimos eventos colisionais nos corpos parentais dos meteoritos.
Por exemplo, um meteorito com cinco diferentes idades de exposição cósmica
indica que seu corpo parental teve pelo menos cinco eventos de fragmentação
por colisões cósmicas de seu corpo parental, onde novas superfícies de
meteoroide ficaram expostas aos raios cósmicos. Por exemplo, um meteorito
hipotético tem idades de exposição cósmica de 23 Ma, 50 Ma e 100 Ma, isto
significa que seu corpo parental foi fragmentado pelo menos três vezes em três
eventos colisionais diferentes onde o mais recente foi há 23 milhões de anos e
o mais antigo foi há 100 milhões de anos.
HISTOGRAMAS DE IDADES DE EXPOSIÇÃO CÓSMICA DE DIVERSOS METEORITOS
ROCHOSOS, VARIANDO DE 150 MA ATÉ 0,2 MA. POR EXEMPLO, OS EUCRITOS
TÊM UM PICO DE IDADE EM 20 MILHÕES DE ANOS, INDICANDO QUE O EVENTO
COLISIONAL MAIS IMPORTANTE PARA EJEÇÃO DE PEDAÇOS DA CROSTA DO
ASTEROIDE VESTA FOI HÁ 20 MILHÕES DE ANOS. OUTROS EVENTOS
COLISIONAIS MENORES OCORRERAM DEPOIS INDICADOS PELAS MENORES
FREQUÊNCIAS DE EUCRITOS COM IDADES MAIORES OU MENORES QUE ESTA.
NOTAR QUE OS DIOGENITOS E OS HOWARDITOS TÊM PICOS NA MESMA IDADE,
INDICANDO UM EVENTO DE IMPACTO GIGANTE EM VESTA NESTA ÉPOCA QUE
EJETOU TAMBÉM PEDAÇOS DA CROSTA PROFUNDA DE VESTA REPRESENTANDO
OS METEOROIDES DOS DIOGENITOS.

Quando o meteoroide é atraído pelo campo gravitacional da Terra e entra na


atmosfera, devido à fricção em alta velocidade com o ar atmosférico, ele
começa a aquecer até 3000 ºC se transformando em uma bola incandescente
com uma calda de material resultante do desgaste por vaporização da rocha.
Neste estágio ele é chamado de meteoro e quando brilham próximos da
superfície são chamados de bólidos. Quando o bólido deixa de ser
incandescente ele cai com uma velocidade terminal quase em queda livre e se
fragmentos sobrevivem ao desgaste da entrada atmosférica temos os
meteoritos. Os meteoritos achados podem ter caído há milhares ou mesmo
milhões de anos atrás. A idade de permanência do meteorito no ambiente
terrestre após sua queda é chamada de idade terrestre. Esta idade pode ser
medida através de datação radiogênica do material onde o meteorito está
inserido, isto é, se tiver minerais evaporíticos como carbonatos crescendo em
volta do meteorito, estes carbonatos podem ser datados por urânio-chumbo
ou carbono-14. Meteoritos achados com idades terrestres superiores a
milhares de anos são normalmente coletados em regiões onde a taxa de
intemperismo químico das rochas é muito baixa tais como desertos quentes
como o Saara e gelados como a Antártica.

Além disso, quando o meteorito cai na Terra a atmosfera o protege do


bombardeio dos raios cósmicos, com isso, isótopos cosmogênicos radioativos
deixam de ser produzidos no meteorito porque ele não recebe mais raios
cósmicos, e estes começam a decair para isótopos estáveis. Medindo a
quantidade de isótopos estáveis e resíduos de isótopos cosmogênicos originais
no meteorito é possível calcular a idade terrestre do mesmo. Isótopos muito
utilizados são carbono-14, berílio-10 e cloro-36. Estes isótopos têm meia-vida
curta, mas são ideais porque meteoritos dificilmente têm idades terrestres
superiores a 500 mil anos, sendo facilmente degradados e oxidados pelo
intemperismo físico, químico e biológico da superfície terrestre.

Exceto em casos extremos, meteoritos podem estar depositados em rochas


sedimentares de milhões de anos. Estes são chamados de meteoritos
reliquiares ou meteoritos fósseis e a idade de sua queda é estipulada através
da idade das rochas onde eles estão encaixados. Alguns meteoritos
encontrados na Antártica têm idades terrestres de milhões de anos por
estarem preservados em camadas de gelo em plataformas tectonicamente
estáveis no continente antártico. Evidências geológicas coletadas pelos russos
na estação Vostok, no centro da Antártica, revelam que as camadas de gelo ali
remontam até 14 milhões de anos de deposição de neve compondo as geleiras,
e estas camadas podem muito bem conter meteoritos bem preservados.
TABELA DE IDADES DE EXPOSIÇÃO CÓSMICA E TERRESTRES DE ALGUNS
METEORITOS. NOTAR AS IDADES TERRESTRES ELEVADAS DOS METEORITOS
QUE 94201 COM 290 MIL ANOS E DHOFAR 019 COM 340 MIL ANOS, ACHADOS NA
ANTÁRTICA E NO DESERTO DE OMÃ RESPECTIVAMENTE.

Em síntese, vimos que os meteoritos têm uma longa história começando com
sua formação determinada pela sua idade de cristalização e aglutinação a
partir de material do disco protoplanetário, sua idade de exposição cósmica,
que revela eventos colisionais entre corpos parentais e nos diz por quanto
tempo um meteoroide permaneceu no espaço interplanetário antes de chegar
à Terra e sua idade terrestre que revela por quanto tempo um meteorito
achado permaneceu na Terra depois de sua queda.
12. A Matéria Orgânica Extraterrestre

TITÃ, SATÉLITE NATURAL DE SATURNO, IMAGEM DA SONDA CASSINI DA NASA.


TITÃ POSSUI UMA DENSA ATMOSFERA DE NITROGÊNIO CONTENDO COMPOSTOS
ORGÂNICOS COMPLEXOS CHAMADOS THOLINS, POR CARL SAGAN. AS REGIÕES
ESCURAS NA SUPERFÍCIE SÃO INTERPRETADAS COMO LAGOS DE METANO E
ETANO LÍQUIDOS.

A química orgânica é a área da Química que estuda os compostos orgânicos. E


o que seriam compostos orgânicos? Durante o século XIX os químicos já
separavam as substâncias inorgânicas daquelas orgânicas, isto é, que eram
consideradas terem relação com os seres vivos, que compõem e são
sintetizadas pelos seres vivos. No entanto, o primeiro a realizar essa
separação, de forma mais qualitativa, foi Mylius em 1618 onde em seu livro
intitulado Basílica Química ele faz a distinção entre compostos do reino
mineral dos do reino vivo. Em 1777 o químico Bergmann fez a distinção entre
a química dos minerais da química dos produtos de origem biológica.

Em 1808 o químico Berzelius pela primeira vez utilizou o termo Química


Orgânica para se referir aos compostos de origem biológica. Ele levantou a
hipótese da Força Vital que dizia ser todos os compostos orgânicos de origem
biológica e não poderiam se sintetizados a partir de matéria inorgânica porque
necessitava-se de uma "força vital" para fabricá-los e somente formas de vida
teriam essa "força". No entanto, em 1828, um dos alunos de Berzelius, o
químico Wöhler, conseguiu por serendipidade converter o sal inorgânico
cianato de amônio em uréia. Pela primeira vez havia sido confirmado em
experimentos de laboratório que um material mineral poderia ser convertido
em um composto que na época era conhecido apenas da excreção de animais,
a uréia. Mesmo depois desta confirmação Berzelius apontou que essa
descoberta não violava sua hipótese da força vital porque o sal cianato de
amônio tinha origem biológica, oriunda da calcinação de ossos de animais.

Até os dias de hoje se aceita que compostos orgânicos podem ser sintetizados
apartir de materiais inanimados e milhões dessas substâncias são sintetizadas
hoje por laboratórios farmacêuticos. Qual a definição de uma substância
orgânica? Esse termo "orgânico" permaneceu na terminologia moderna
devido aos estudos de que a maioria dessas substâncias têm participação
fundamental nos organismos vivos. Uma substância orgânica é toda aquela
que é composta do elemento carbono ligado a átomos de hidrogênio. O
"esqueleto" de todas as moléculas orgânicas são os hidrocarbonetos. O
elemento carbono é tetravalene, isto é, pode realizar quatro ligações
covalentes simples com quatro outros átomos ou grupos moleculares. O
carbono também realiza ligações com ele mesmo favorecendo a formação de
cadeias longas e complexas de átomos de carbono estáveis. Estas propriedades
do elemento carbono permitem a ele ter uma química extremamente
diversificada e altamente complexa sendo separado para estudo único do
restante dos outros elementos da Tabela Periódica. Geralmente as moléculas
orgânicas são compostas dos átomos de carbono ligados comumente aos
elementos H, O, N, P e S. Os organometálicos são compostos onde existem
ligações covalentes entre átomos de carbono e metais, normalmente metais de
transição externa.

REPRESENTAÇÃO DA MOLÉCULA DE METANO, O COMPOSTO ORGÂNICO MAIS


SIMPLES. O CARBONO PODE FAZER ATÉ QUATRO LIGAÇÕES COVALENTES COM
OUTROS ÁTOMOS TAIS COMO O HIDROGÊNIO NOS HIDROCARBONETOS.

As substâncias orgânicas mais simples são os hidrocarbonetos, esses são


moléculas compostas apenas de átomos de carbono ligados a átomos de
hidrogênio. O hidrocarboneto mais simples é o metano, cuja molécula contém
um único átomo de carbono ligado a quatro átomos de hidrogênio. O metano é
um gás nas condições de temperatura e pressão ambientes e representa um
grande percentual (84% a 95%) do gás natural explorado principalmente nas
bacias sedimentares na Terra associado muitas vezes ao petróleo. O metano
pode ter origem abiogênica como podemos observar diversos corpos do
Sistema Solar que são ricos em gás metano como os gigantes gasosos Júpiter,
Saturno, Urano e Netuno, que possuem gás metano em suas atmosferas
misturado ao hidrogênio molecular e ao gás hélio. Também cometas
apresentam em suas caudas o gás metano que já foi detectado inúmeras vezes
através de espectroscopia e através de sondas espaciais.
O metano é abundante no maior satélite natural de Saturno, Titã. A atmosfera
de Titã contém um percentual de metano e etano e existem lagos de metano e
etano líquidos e gelos de metano em suas paisagens alienígenas. Os
hidrocarbonetos também foram detectados no meio interestelar, compondo as
nuvens moleculares no coração das gigantescas nebulosas que compõem não
somente a Via Láctea, mas muitas outras galáxias. O etano é o próximo
hidrocarboneto mais simples composto de dois átomos de carbono ligados
entre si e ligados a seis átomos de hidrogênio no total. Depois segue-se os
hidrocarbonetos com número crescente de átomos de carbono tais como
propano, butano, pentano, hexano, heptano, octano, nonano, decano, etc.
Quanto maior o número de carbonos na molécula de hidrocarboneto maior o
ponto de ebulição do composto. Por exemplo, além do butano os
hidrocarbonetos se tornam líquidos nas condições ambientes. O petróleo é o
maior exemplo de uma mistura de hidrocarbonetos encontrado nas rochas
sedimentares terrestres e que possui origem biológica fóssil e parte dele tendo
também origem abiótica (teoria do petróleo abiogênico).

IMAGEM COMPOSTA EM INFRAVERMELHO DO PLANETA URANO. O METANO É


UM DOS COMPONENTES DA ATMOSFERA DO PLANETA.
IMAGEM DE TELESCÓPIO ÓPTICO DA REGIÃO CENTRAL DA VIA LÁCTEA. AS
REGIÕES ESCURAS EM MEIO AOS BILHÕES DE ESTRELAS SÃO GIGANTESCAS
NUVENS MOLECULARES, REGIÕES ENRIQUECIDAS COM MOLÉCULAS
ORGÂNICAS.

DETALHE DA SUPERFÍCIE DE TITÃ OBTIDO POR RADAR DA SONDA CASSINI, DA


NASA, EVIDENCIANDO UM LAGO GIGANTE DE HIDROCARBONETOS,
INTERLIGADO NUMA COMPLEXA BACIA COM RIOS E TRIBUTÁRIOS
DESENBOCANDO NO LAGO.
A filosofia sobre a origem dos compostos orgânicos levantada por Berzelius no
século XIX traz à tona sobre se os compostos orgânicos realmente teriam
origem totalmente abiogênica ou mesmo sendo sintéticos teriam dependência
da energia biológica ou de outros processos onde a biologia estaria presente. O
astrofísico Fred Hoyle, responsável pela teoria da nucleossíntese estelar e da
teoria cosmológica do estado estacionário, era o principal apoiador da teoria
da panspermia cósmica juntamente com o astrônomo Chandra
Wickramasinghe. Ele afirmava que Wöhler estaria errado em sua
interpretação da conversão química do cianato de amônio em uréia e que a
visão de Berzelius não havia sido derrubada. No argumento de Fred Hoyle e
Chandra Wickramasinghe os compostos orgânicos sempre dependem de uma
etapa onde a biologia está envolvida. Segundo eles a vida é eterna, isto é, não
teve uma origem distinguível no tempo, devido à teoria deles levar em conta
que o Universo é infinitamente velho sendo difícil traçar a "primeira" origem
da vida.

No exemplo do experimento de serendipidade de Wöhler, Hoyle e


Wickramasinghe afirmam que o sal inorgânico cianato de amônio não tem
origem estritamente abiogênica, mas que esse sal foi, como apontado por
Berzelius, resultante da calcinação de material biológico. Outra origem do
cianato de amônio é através da reação bioquímica complexa realizada por
bactérias que podem converter compostos biológicos em cianato de amônio.
Veremos mais adiante que a natureza é extremamente versátil e diversificada,
moléculas orgânicas podem provir de vias totalmente abióticas e de vias
híbridas, como também de vias totalmente bióticas. Além do exemplo de
Wöhler, pode-se mencionar o exemplo da criação de acetileno, um
hidrocarboneto, através da hidrólise de carbeto de cálcio, um composto
totalmente originado de processos abióticos. Ao se adicionar carbeto de cálcio
em água rapidamente esse composto se decompõe em hidróxido de cálcio e
gás acetileno. Neste exemplo se produziu um composto orgânico, que é
liberado por frutas para amadurecimento, através de um processo totalmente
desprovido de vida.

A teoria da panspermia (que discutirei em outra série de artigos) se embasa no


experimento realizado por Louis Pasteur. Na época da grande discussão sobre
a origem das formas de vida na Terra a teoria derivada da visão de Aristóteles,
da geração espontânea da vida a partir de matéria não viva, estava em alta. No
entanto, o experimento de Pasteur veio para dar um ponto final na discussão
da geração espontânea ou abiogênese. Em seu experimento ele separou dois
vidros de laboratório chamados frascos com pescoço de cisne. Ele esterilizou
uma mistura de nutrientes, um caldo nutritivo, por ebulição e adicionou em
dois frascos pescoço de cisne. Um dos frascos ele quebrou o pescoço do vidro
deixando o caldo exposto à atmosfera e no outro frasco ele deixou o frasco sem
acesso ao meio externo deixando o pescoço intacto. Após um período
considerável de tempo ele verificou no microscópio o que havia acontecido aos
dois caldos nutritivos. No caldo exposto ele verificou a presença de
microorganismos se desenvolvendo. No entanto, no frasco isolado o caldo
nutritivo permaceu estéril, sem microorganismos. Ele concluiu então que o
caldo exposto foi contaminado com microorganismos do meio externo que se
alimentaram dos componentes do caldo e se reproduziram, no entanto, no
outro caldo não houve contato com o meio externo e, portanto, não houve
contaminação. Logo, formas de vida surgem no ambiente apenas quando este
é "contaminado" com seres vivos pré-existentes. O caldo não gerou
espontaneamente os organismos. A partir daí se deu origem à "pasteurização"
que consiste em se esterilizar os alimentos aquecendo sob determinadas
condições de temperatura, pressão e intervalo de tempo para aumentar o
tempo de validade das comidas.

DIAGRAMA SIMPLIFICADO DO EXPERIMENTO DE PASTEUR QUE REFUTOU DE


UMA VEZ POR TODAS A HIPÓTESE DA GERAÇÃO ESPONTÂNEA DE VIDA. A
TEORIA DA PANSPERMIA CÓSMICA TEM COMO BASE ESSE EXPERIMENTO.

O experimento de Pasteur mostrou que vida provém apenas de vida. A partir


desse experimento e de outros argumentos, Hoyle e Wickramasinghe
formularam sua hipótese de que a vida não surgiu na Terra, mas foi trazida
por cometas e asteroides no início do Sistema Solar. A Terra teria sido
infectada por microorganismos alienígenas que encontrando um ambiente
propício para se reproduzirem iniciaram o processo de transformação
geoquímica da atmosfera terrestre e começaram a escalada da evolução
biológica. Sem muitas delongas, outros pesquisadores realizaram
experimentos de abiogênese, como o famoso experimento de Urey-Miller que
mostrou ser possível sintetizar aminoácidos a partir de descargas elétricas em
uma atmosfera redutora de metano, nitrogênio e vapor de água. Eles
simularam as condições hipotéticas da Terra há mais de 4,0 bilhões de anos e
comprovaram que algumas moléculas orgânicas podem ser sintetizadas a
partir de moléculas de origem abiótica. Entretanto a síntese de moléculas
orgânicas está muito distante de mostrar a "síntese" de um organismo vivo.

Como vimos o Universo está repleto de moléculas orgânicas, como por


exemplo, os hidrocarbonetos. De onde vieram essas moléculas? Representam
resíduos de formas de vida extraterrestre ou foram sintetizadas de forma
abiogênica por processos astrofísicos? Quando encontramos compostos
orgânicos naturalmente ocorrendo aqui na Terra estamos acostumados a dizer
que eles têm origem biológica. Somos levados pelo conceito sólido de Pasteur
de que esses compostos são resíduos ou produtos de atividade biológica. No
entanto, não estaríamos também utilizando a hipótese de Berzelius da força
vital de forma inconsciente? Por exemplo, a teoria da origem abiogênica do
petróleo é considerada por muitos pesquisadores como uma pseudociência.
Por quê? Enquanto isso, quando moléculas orgânicas são encontradas em
meteoritos ou são detectadas no meio interestelar, prontamente se abraça a
visão de Wöhler e se diz que aquelas moléculas com toda a certeza são de
origem abiótica. Porque não seriam de origem também biótica? Os processos
naturais na Terra geram moléculas orgânicas apenas de forma biológica e os
processos naturais que ocorrem no espaço geram moléculas orgânicas apenas
de forma abiótica, porque não existe vida no espaço, apenas na Terra. Será
mesmo?

O astrofísico Thomas Gold, contribuidor das teorias cosmológicas contrárias


ao Big Bang, foi um dos grandes apoiadores da hipótese do petróleo
abiogênico no ocidente. Ele afirma que assim como existem moléculas
orgânicas abundantes no espaço e muitas evidências no Sistema Solar, na
Terra os hidrocarbonetos teriam sido gerados por processos inorgânicos no
manto terrestre e ascendem à superfície tal qual os magmas se alojando
preferencialmente em rochas de alta porosidade e permeabilidade, tais como
as rochas sedimentares. Gold abraça como visão unificadora a filosofia
levantada pelo experimento de Wöhler afirmando que as moléculas orgânicas
podem ter origem abiótica tanto na Terra como no restante do Universo.

Na visão de Thomas Gold os compostos orgânicos tem origem abiótica e


também biótica. No entanto, assim como os hidrocarbonetos são abundantes,
por exemplo, em Titã e não necessariamente são de origem fóssil, assim
também na Terra eles seriam abundantes e de origem primordial, oriundo do
manto da Terra. De fato, existem muitos poços de gás natural e petróleo que
possuem origem abiótica e parte do petróleo, ou grande parte dele, tem
também origem biológica fóssil. Então não seria do mesmo jeito no espaço?
Existiriam processos de síntese de matéria orgânica abióticos e parte dessa
matéria orgânica serviria de alimento e meios metabólicos de
microorganismos alienígenas? Na Terra o petróleo serve de alimento para
alguns tipos de bactérias. Assinaturas de hopanoides, compostos orgânicos
existentes na parede celular de bactérias, foram encontradas em muitos
petróleos extraídos das porções mais superficiais de bacias sedimentares,
indicando contaminação biológica por essas bactérias que estariam se
alimentando dos hidrocarbonetos.
OS PRINCIPAIS PROPONENTES DA TEORIA DO PETRÓLEO ABIOGÊNICO, ENTRE
ESTES O QUÍMICO DMITRI MENDELEEV, FORMULADOR DA TABELA PERIÓDICA.
O ASTROFÍSICO THOMAS GOLD FOI O PRINCIPAL DEFENSOR MAIS RECENTE DA
TEORIA NA HISTÓRIA.

A matéria orgânica de origem extraterrestre já é conhecida dos primeiros


pesquisadores que detectaram estas substâncias nos condritos carbonáceos no
século XIX. Um desses pesquisadores foi o próprio Wöhler que estudou vários
compostos presentes no meteorito Orgueil, um condrito carbonáceo primitivo
do grupo químico CI. Os condritos carbonáceos são os meteoritos oriundos de
asteroides das regiões mais distais do Cinturão Principal. Os asteroides
carbonáceos possuem uma característica assinatura espectral na faixa do
infravermelho evidenciando um regolito rico em moléculas orgânicas
complexas, principalmente se teoriza serem hidrocarbonetos policíclicos
aromáticos, resultantes da reação de transformação química pela absorção de
radiação ultravioleta solar polimerizando moléculas mais simples e
convertendo-as em moléculas maiores e mais complexas. Esses compostos
orgânicos complicados estão em muitos corpos sólidos do sistema solar.
Exemplos existem desses compostos na alta atmosfera de Titã dando a ela
aquela característica coloração alaranjada. Carl Sagan nomeou essas
substâncias de tholins. Eles estão também presentes em Plutão e Caronte
sendo aquelas manchas avermelhadas. Europa, a lua de gelo de água de
Júpiter, apresenta ao longo das falhas geológicas por onde o gelo se abre em
processo de criotectônica, uma quantidade considerável de thollins marcados
pelas estrias marrom avermelhadas.

O meteorito mais estudado em termos de compostos orgânicos de origem


extraterrestre é o condrito carbonáceo Murchison. Sendo uma queda
testemunhada em 1969 na pequena cidade de Murchison, na Austrália; esse
meteorito foi coletado pouco tempo depois de sua queda permitindo que as
moléculas orgânicas nele presentes fossem preservadas de contaminação
terrestre acentuada. O Murchison é um condrito CM, um dos mais primitivos
condritos existentes. Primitivo aqui significa que a proporção de elementos
químicos no meteorito é muito semelhante à distribuição cósmica dos
elementos químicos, isto é, aquela medida na fotosfera solar. Essa distribuição
cosmoquímica padronizada para o Sol é chamada de SAD (Standard Average
Distribution) e representa a composição aproximada da nebulosa solar. A
diferença entre os condritos CI e CM e o SAD está na quantidade dos
elementos mais voláteis que são atmófilos, isto é, H, He, N e C. Os condritos
CI possuem alteração aquosa de baixa temperatura ocorrida no planetesimal
de origem, seu corpo parental, e esta alteração é muito acentuada tendo
oxidado as fases metálicas de ferro-níquel para magnetita e pentlandita e os
silicatos originais de alta tempertatura, olivinas e piroxênios, foram
convertidos para serpentinas, argilominerais complexos e cloritas. Os
condritos CI são brechas de regolito que não possuem côndrulos. Já os
condritos CM possuem alguns côndrulos esparsos, o grau de alteração aquosa
é menor do que os CI e eles representam brechas de regolito ou de impacto de
baixa velocidade.

AMOSTRA DO METEORITO ORGUEIL, CONDRITO CARBONÁCEO CI1, UMA


BRECHA DE REGOLITO FRIÁVEL, RICA EM ÁGUA E MATÉRIA ORGÂNICA,
DESPROVIDO DE CÔNDRULOS, COM COMPOSIÇÃO PRÓXIMA DA FOTOSFERA
SOLAR.
GRANDE AMOSTRA COM 90% DE CROSTA DE FUSÃO DO METEORITO
MURCHISON, CONDRITO CARBONÁCEO CM2, MENOS PRIMITIVO QUE ORGUEIL,
MAS IGUALMENTE ABUNDANTE EM ÁGUA ESTRUTURAL E MATÉRIA ORGÂNICA,
CONTENDO ESPARSOS CÔNDRULOS E CAIS PRESERVADOS.

Ambos esses condritos possuem uma matriz de granulação fina escura e


friável composta majoritariamente de silicatos hidratados, serpentinas,
argilominerais e cloritas, com quantidades variáveis de sulfetos tais como
pentlandita e pirita, ferro oxidado na forma de magnetita e ilmenita, sulfatos e
carbonatos de ferro e magnésio. Uma fração considerável da matriz dos
condritos CI e CM consiste de carbono principalmente na forma de matéria
orgânica. No Murchison ~ 5% de sua massa representa material carbonáceo.
Dessa quantidade cerca de 75% consiste de matéria orgânica complexa
insolúvel semelhante aos querogênios que dão origem ao petróleo biogênico.
O restante consiste de compostos orgânicos solúveis em água ou solventes
orgânicos. Um pequeno percentual da matriz desses condritos, menos de 1%
em massa, consiste de grãos pré-solares tais como silicatos de origem
interestelar como forsterita e enstatita, óxidos tais como óxido de alumínio,
moissanita (carbeto de silício), nitreto de silício, grafita e nanodiamantes.
Esses grãos variam de poucos micrômetros de tamanho até nanômetros. Esses
grãos pré-solares cristalizaram em processos circunstelares em atmosferas de
estrelas gigantes vermelhas e a partir do resfriamento de porções de gás
quente expelidos em explosões de supernovas.

Voltando aos compotos orgânicos presentes nesses condritos, analisando o


condrito Murchison, os dois tipos de matéria orgânica foram separados e
estudados no que diz respeito à estereoquímica e composição isotópica. A
matéria orgânica presente nos condritos CI e CM ocorre em glóbulos e túbulos
delicados ligados aos grãos de silicatos hidratados ou a silicatos de alta
temperatura preservados que não passaram pela alteração aquosa. Parte dos
compostos orgânicos têm origem interestelar, ou seja, são moléculas que
estavam originalmente presentes na nebulosa solar e foram incorporados e
preservados pelos planetesimais carbonáceos na fase de disco protoplanetário.
Outra porção da matéria orgânica resulta de reações químicas ocorridas no
corpo parental, no interior dos planetesimais carbonáceos, na presença de
água de baixa temperatura e/ou radiação ultravioleta solar resultando em
moléculas mais complexas, polímeros de baixo peso molecular e
hidrocarbonetos diversos. A água se originou da fusão do gelo original
acrecionado do disco protoplanetário, esse gelo derreteu absorvendo o calor
do decaimento radioativo de isótopos de meia-vida curta, principalmente o
alumínio-26.

DISTRIBUIÇÃO DA OCORRÊNCIA DOS COMPOSTOS ORGÂNICOS SOLÚVEIS DE


ORIGEM EXTRATERRESTRE ANALISADOS NO CONDRITO MURCHISON. ESTES
SÃO ÁCIDOS CARBOXÍLICOS, ALDEÍDOS E CETONAS, AMINOÁCIDOS,
HETEROCÍCLICOS NITROGENADOS, AMINAS E AMIDAS, ÁLCOÓIS,
HIDROCARBONETOS ALIFÁTICOS, HIDROCARBONETOS AROMÁTICOS E ÁCIDOS
SULFÔNICOS.

Compostos Orgânicos Solúveis:

Essas são substâncias que puderam ser extraídas da matriz do meteorito


Murchison com solventes orgânicos ou água purificada. São moléculas
pequenas de substâncias orgânicas que também existem na Terra e outras
exóticas que não estão presentes nos organismos vivos terrestres. As
principais dessas moléculas foram hidrocarbonetos alifáticos de cadeia
simples e ramificados com C3 até C30, hidrocarbonetos aromáticos
monocíclicos e policíclicos pequenos tais como benzopireno, naftaleno,
fenantreno, tolueno e benzeno, ácidos carboxílicos com C3 até C6,
hidroxiácidos orgânicos, aminoácidos - sendo alguns destes com quantidades
ligeiramente maiores de alfa-aminoácidos, álcoóis, cetonas, ésteres e bases
nitrogenadas - purinas e pirimidinas, ácidos fosfônicos e ácidos sulfônicos. As
substâncias solúveis mais abundantes no meteorito são os ácidos carboxílicos,
provavelmente originados de reações de adição de cadeias carbônicas mais
longas na fase de alteração aquosa do corpo parental. A maioria dessas
moléculas são acreditadas terem sido sintetizadas por processos de síntese de
Fischer-Tropsch que requer catálise heterogênea ou reações de Strecker para
formar moléculas orgânicas nitrogenadas com núcleos de pirimidina e
aminoácidos.

TABELA APRESENTANDO AS CONCENTRAÇÕES DOS COMPOSTOS ORGÂNICOS


SOLÚVEIS DETECTADOS NO METEORITO MURCHISON.

A substância de início de montagem das moléculas de ácidos carboxílicos,


onde os ácidos com maior número de carbonos são denominados ácidos
graxos, é o formaldeído que pode reagir com radicais livres tais como
monóxido de carbono excitado por radiação ultravioleta do meio interestelar
para produzir ácido acético. O ácido acético pode ser convertido em
hidroxiácidos ou ácidos graxos maiores. Hidrocarbonetos podem também
reagir com monóxido de carbono interestelar para formar ácidos carboxílicos.
Hidrocarbonetos aromáticos podem se originar da ciclização de
hidrocarbonetos alifáticos com radicais livres ou ácidos carboxílicos através de
reações de descarboxilação no corpo parental ou no meio interestelar. Os
aminoácidos podem ser originários de sínteses abióticas como a síntese de
Strecker onde moléculas de cianeto do meio interestelar podem ser oxidadas e
adicionadas à esqueletos de moléculas de ácidos carboxílicos produzindo
aminoácidos. As substâncias solúveis detectadas no meteorito Murchison
incluem, por exemplo: Hidrocarbonetos alifáticos com até 30 átomos de
carbono, hidrocarbonetos aromáticos (PAHs) com mínimo de 2 anéis
benzênicos (naftaleno) até 8 anéis condensados (benzoperileno),
hidroxiácidos, aminoácidos com 2 até 8 carbonos e contendo todos os
possíveis isômeros estruturais e ópticos. A abundância dos aminoácidos em
termos de isômeros é alfa > beta > gama, entre estes destacam-se glicina,
ácido alfa-aminobutírico e alanina, onde cadeias ramificadas são mais
abundantes do que cadeias normais. Bases nitrogenadas extraterrestres foram
detectadas, entre estas a uracila e xantina. A xantina é um composto
intermediário na síntese de purina, uma molécula com dois anéis carbônicos
condensados contendo nitrogênio como heteroátomo. Essas bases
nitrogenadas estão presentes nos polinucleotídeos biológicos, DNA e RNA.
Outras moléculas detectadas foram glicerol (~ 15 ppm), ácido glicérico (8,5
ppm) e ácido sacarínico.

Os aminoácidos presentes no Murchison possuem excesso de deutério em


subsituição ao hidrogênio. A presença de deutério em excesso em relação ao
hidrogênio leve revela processos interestelares e atesta a origem extraterrestre
das moléculas. Outra assinatura de origem extraterrestre evidenciada nestas
moléculas é o excesso de carbono-13 e de nitrogênio-15. Todas as moléculas
orgânicas identificadas no Murchison possuem excessos dos isótopos estáveis
pesados de hidrogênio, nitrogênio e carbono. Verificou-se que com o aumento
do número de carbonos nas moléculas se diminuia o excesso de carbono-13
indicando reações orgânicas de adição em quase equilíbrio químico
provavelmente ocorridas no meio interestelar. Alguns autores defendem que a
maioria dessas moléculas teve origem em reações complexas envolvendo
catálise em superfícies dos minerais silicáticos hidratados e talvez de metais
oxidados no corpo parental enquanto água de baixa temperatura circulava
pelo corpo parental carbonáceo. Outros defendem que os aminoácidos, por
exemplo, teriam origem no meio interestelar devido à presença de moléculas
de cianeto livre estarem presentes nas nebulosas e serem mais raras no
interior do corpo parental onde rapidamente seriam oxidadas. Os
aminoácidos são compostos que apresentam atividade óptica.

ALGUNS DIAMINOÁCIDOS DETECTADOS POR ESPECTRÔMETRO DE MASSA EM


AMOSTRAS DO METEORITO MURCHISON.
ALGUNS AMINOÁCIDOS EXÓTICOS DETECTADOS NO CONDRITO MURCHISON. AS
POSIÇÕES MARCADAS COM ASTERISCOS NAS ESTRUTURAS DAS MOLÉCULAS
INDICAM A POSIÇÃO DE CARBONOS QUIRAIS.

As moléculas que apresentam atividade óptica são denominadas de isômeros


ópticos e representam moléculas que rotacionam a vibração da componente
do campo elétrico da luz polarizada para esquerda (levógiras) ou para a direita
(dextrógiras). Por exemplo, a alanina é um aminoácido que pode estar na
configuração alfa (levógira) ou beta (dextrógira). As reações bioquímicas são
estereoseletivas, isto é, são assimétricas e sempre dão origem a moléculas
levógiras. Os aminoácidos biológicos, especialmente os proteinogênicos,
aqueles que formam polipeptídeos, são todos alfa-aminoácidos. A alfa alanina
é a imagem espelhada da molécula de beta alanina e vice-versa. Uma molécula
não se justapõe a outra sendo imagens espelhadas. A esta propriedade se dá o
nome de quiralidade e o carbono central da molécula com esta propriedade é
chamado de carbono quiral. Processos biológicos geram moléculas com
quiralidade levógira e processos abióticos não são seletivos e produzem iguais
quantidades de moléculas com configuração alfa e beta.

ISÔMEROS ÓPTICOS SÃO AQUELES CUJAS MOLÉCULAS EXISTEM EM DUAS


DISTINTAS CONFIGURAÇÕES EM RELAÇÃO AO ÁTOMO DE CARBONO CENTRAL
LIGADO A QUATRO GRUPOS DIFERENTES NA MOLÉCULA. AS DUAS ESTRUTURAS
POSSÍVEIS SÃO IMAGENS ESPECULARES UMA DA OUTRA E NÃO SE SOBREPÕEM
POR NENHUMA OPERAÇÃO DE SIMETRIA. O CARBONO CENTRAL DO ISÔMERO É
CHAMADO DE CARBONO QUIRAL. OS AMINOÁCIDOS SÃO EXEMPLOS DE
COMPOSTOS QUIRAIS. AS FORMAS DE VIDA UTILIZAM MOLÉCULAS LEVÓGIRAS,
COM ATIVIDADE ÓPTICA QUE ROTACIONA LUZ POLARIZADA PARA ESQUERDA.

Amostras com 50:50 de composição de moléculas dextrógiras e levógiras são


chamadas de misturas racêmicas e não apresentam atividade óptica. As
amostras de aminoácidos presentes no Murchison apresentam leve atividade
óptica levógira, embora estejam bem próximas de serem racematos.
Aminoácidos de origem biogênica que estão em equilíbrio com o sistema
químico externo podem sofrer inversão e se tornar um racemato ainda que
preservando um leve desvio levógiro. O porquê desse pequeno desvio na
quantidade de alfa-aminoácidos é ainda um mistério. Uma das explicações
dadas é devido à conversão de moléculas com configuração alfa através de luz
polarizada ultravioleta produzida por grãos interestelares na nuvem molecular,
ou rotação óptica através de campos magnéticos gerados por estrelas de
nêutrons - pulsares. Uma possibilidade não muito explorada pelos
pesquisadores seria a provável assinatura de vida extraterrestre que pode
estar representada por esta assimetria nos aminoácidos.

Compostos Orgânicos Insolúveis:

Representam até 75% da matéria orgânica dos condritos CM e 98% nos


condritos CI. Eles consistem de macromoléculas complexas tipo querogênio
que apresentam em sua estrutura até 100 átomos de carbono e são insolúveis
em solventes orgânicos. Essas substâncias se organizam em glóbulos ocos e
maciços orgânicos que se apresentam aderidos aos grãos de silicatos na matriz
desses condritos. As maneiras de se avaliar a composição dessas moléculas é
através de pirólise seguida de análise por cromatografia gasosa ou
espectrometria de massa ou através de análise de espectrometria do
infravermelho, a espectrometria Raman.

No caso da pirólise o querogênio extraterrestre é extraído por dissolução em


ácidos fortes tais como ácido clorídrico e ácido fluorídrico, que dissolvem
todas as fases silicáticas, óxidos e fases metálicas, deixando para trás os
glóbulos de matéria orgânica. Depois a matéria orgânica é decomposta por
aquecimento em ambiente anóxico para não haver queima e destruição total
das moléculas. Com a pirólise o querogênio é decomposto em moléculas
menores que podem ser analisadas na fase gasosa tanto por cromatografia
quanto por espectrometria de massa. Dados do espectrômetro de massa
mostram que mais de 40% da estrutura das macromoléculas orgânicas são
anéis aromáticos e o restante consistindo de aneis de piridina (nitrogênio
diretamente ligado no anel benzênico substituindo um átomo de carbono na
molécula) e tiofeno (enxofre ligado em um anel de quatro átomos de carbono).
Ligados aos aneis aromáticos estão cadeias de hidrocarbonetos alifáticos, mas
as cadeias são curtas e muito ramificadas.
EXEMPLO DE IDENTIFICAÇÃO DE COMPOSTOS LIBERADOS DA PIRÓLISE DE
MATÉRIA ORGÂNICA EXTRATERRESTRE INSOLÚVEL. O ESPECTRÔMETRO DE
MASSA DISTINGUIU UMA ABUNDÂNCIA DE ANEIS AROMÁTICOS DIVERSOS.

EXEMPLO DE ESTRUTURA DE UMA MACROMOLÉCULA QUE COMPÕE A MATÉRIA


ORGÂNICA INSOLÚVEL NOS METEORITOS. OBSERVAR A ABUNDÂNCIA DE ANEIS
AROMÁTICOS. AS LETRAS "R" INDICAM CADEIAS DE HIDROCARBONETOS
DIVERSOS LIGADOS AOS ANEIS BENZÊNICOS. NORMALMENTE OS GRUPOS "R"
SÃO HIDROCARBONETOS ALIFÁTICOS DE CADEIA RAMIFICADA.
Em algumas amostras da matéria orgânica insolúvel foram encontrados
radicais livres preservados de aldeídos e nitrilas, esses sendo considerados
moléculas reliquiares do meio interestelar que ficaram preservadas das
modificações do disco protoplanetário por estarem abrigadas no interior das
macromoléculas orgânicas. As análises revelam uma fórmula molecular desses
querogênios sendo C100H60O18N3S2 para o Murchison e C100H67O18N3S3
para o Orgueil. Essa matéria orgânica insolúvel também é encontrada em
outros grupos de condritos carbonáceos com menor grau de alteração
metamórfica e aquosa tal como os condritos CR.

O querogênio é o nome que se dá a moléculas orgânicas com grande número


de carbonos, acima de 100 átomos de carbono, que são praticamente
insolúveis em solventes orgânicos e possuem alto percentual de carbono em
relação a outros elementos. Geralmente essas substâncias são hidrocarbonetos
aromáticos ligados a cadeias de hidrocarbonetos alifáticos e contendo também
vários aneis de hidrocarbonetos alifáticos com subsituição de nitrogênio,
oxigênio e enxofre. Estas substâncias são consideradas os originadores do
petróleo na Terra. Quando a matéria orgânica biológica de origem marinha,
especialmente a biomassa de fitoplâncton e zooplâncton, é depositada junto a
sedimentos finos em condições anóxicas, processos de diagênese começam a
transformar os carboidratos e lipídios (que representam grande percentual da
massa do plâncton) em hidrocarbonetos complexos em cadeias muito longas.

A polimerização por reações geoquímicas acontece durante o período de


diagênese e litificação das rochas sedimentares. Geralmente as rochas
sedimentares que contêm a matéria orgânica concentrada, as chamadas
rochas geradoras, são folhelhos carbonosos também chamados de folhelhos
pirobetuminosos. O termo xisto é utilizado com frequência, mas é
cientificamente incorreto. O termo xisto em geologia se aplica a rochas
metamórficas contendo foliação e ricas em micas. As rochas sedimentares
geradoras de petróelo são denominadas folhelhos e não xistos. O processo de
transformação das moléculas biológicas de carboidratos e lipídios em
querogênio é chamado de metagênese. A metagênese representa o
enriquecimento das moléculas em carbono havendo perda de voláteis que não
o carbono tais como nitrogênio, oxigênio e enxofre. Elementos tais como
fósforo e metais são extraídos para a fase aquosa e comporão minerais
autigênicos na rocha sedimentar.

A metagênese transforma a matéria biológica em querogênio a temperaturas


não muito superiores que 70ºC. O processo de quebra do querogênio em
moléculas de hidrocarbonetos menores é chamado de catagênese e se dá a
profundidades de até 5 km na rocha sedimentar geradora e a temperaturas de
até 200ºC. Acima de 300ºC nestas condições de pressão de soterramento os
hidrocarbonetos são decompostos em carbono amorfo ou grafita e água ou gás
hidrogênio dependendo da fugacidade de oxigênio dos sedimentos
compactados. O processo de catagênese é o que converte o querogênio na
mistura complexa de hidrocarbonetos, por decomposição térmica do mesmo.
Em essência a catagênese é a pirólise natural dos querogênios na rocha
sedimentar geradora. Esse mesmo material de querogênio, não exatamente de
mesma natureza é claro, existe nos meteoritos. Esse querogênio extraterrestre
é acreditado ter se formado em processos termais ocorridos no interior do
corpo parental carbonáceo. Uma grande reserva de querogênio deve existir no
planeta anão Ceres que é feito de material condrítico carbonáceo e pode
conter em seu interior querogênios e grande percentual dessa matéria
orgânica macromolecular extraterrestre pode ter sofrido catagênese e se
convertido em petróleo. Sendo assim, pode existir grandes reservas de
petróleo e gás natural nos regolitos de Ceres. Outros asteroides gigantes
carbonáceos como Matilde também podem abrigar grandes quantidades de
querogênio.

O PLANETA ANÃO CERES, FOTOGRAFADO PELA SONDA DAWN DA NASA. CERES É


COMPOSTO DE CONDRITOS CARBONÁCEOS PRIMITIVOS. É POSSÍVEL EXISTIR
RESERVAS DE QUEROGÊNIO EXTRATERRESTRE NO REGOLITO DE CERES E
TALVEZ ESSA MATÉRIA ORGÂNICA POSSA TER SE CONVERTIDO PARCIALMENTE
EM PETRÓLEO PELO CALOR PRIMORDIAL INTERNO DO PLANETA MENOR.

Segundo a hipótese do astrofísico Thomas Gold é possível que a Terra tenha


sido acrecionada de forma não tão violenta e os planetesimais se aglutinaram
mais suavemente formando a prototerra. Então o interior da prototerra foi
aquecido e metamorfizado, mas não ao ponto de ser completamente fundido.
Ocorreu então fusão parcial das regiões que hoje compreendem o manto
litosférico. Os líquidos magmáticos foram extraídos para a superfície
formando a primeira crosta terrestre através de um oceano magmático.
Algumas evidências existem na Lua de que corpos de dimensões planetárias
desenvolvem um oceano de magma que depois se diferencia para formar as
crostas planetárias. Mas o oceano de magma não significa que todo o
protoplaneta se fundiu por completo. Sendo assim, existiria uma
probabilidade do material carbonáceo acrecionado ser preservado no interior
da Terra. A matéria orgânica extraterrestre contida nos asteroides
carbonáceos, principalmente esses querogênios, teria se armazenado no
manto e formado reservatórios de potenciais hidrocarbonetos. Na visão de
Gold os hidrocarbonetos seriam de origem primordial. Dados termodinâmicos
mostram que os hidrocarbonetos são estáveis acima de 300 ºC em condições
de pressão equivalentes a profundidades variando de 10 km até 300 km, o que
corresponde a boa parte do manto superior. Além disso, Gold defende a
síntese abiótica direta no manto através da reação entre carbono elementar,
óxido de ferro dos minerais e água estrutural gerando hidrocarbonetos
diversos.

Outra via de síntese diferente, dependendo do estado de oxidação local no


manto inferior, seria a reação entre carbonato, ferro elementar e hidrogênio
para formar os hidrocarbonetos. Uma vez formados os hidrocarbonetos
migram como líquidos magmáticos através de fraturamento tectônico para se
alojar em rochas porosas tais como as sedimentares. Gold menciona a
ocorrência de hidrocarbonetos no poço profundo de Kola, na Rússia e
presença de petróleo em rochas pré-Cambrianas na África do Sul sem nenhum
tipo de rocha sedimentar geradora adjacente. Outro argumento para o
petróleo abiogênico é a presença de hidrocarbonetos complexos em inclusões
fluidas em diamantes e outros minerais trazidos por magmas kimberlíticos.
Ainda outro argumento se diz respeito a reservas de gás natural que contêm
quantidades enormes de gás hélio. Argumentos da teoria do petróleo biótico
falam que o hélio-4 no gás natural é derivado do decaimento radioativo de
urânio e tório das rochas encaixantes. No entanto, Gold menciona depósitos
de gás natural cujo hélio apresenta concentrações elevadas do isótopo
cosmogênico hélio-3 e esse isótopo tem origem primordial não sendo
resultante de decaimento radioativo. Magmas profundos muitas vezes trazem
quantidades apreciáveis de grafita e essa pode ter sido resultado da
decomposição de hidrocarbonetos primordiais trazidos pelos magmas.
COMPOSIÇÃO DE INCLUSÕES FLUIDAS EXTRAÍDAS DE UM DIAMANTE E DE UMA
INCLUSÃO DE GRANADA NO DIAMANTE MOSTRANDO ABUNDÂNCIA DE
HIDROCARBONETOS COMPLEXOS, ORIUNDOS DO MANTO. IMAGEM DO ARTIGO:
Sobolev, N. V. et al. (2019) Composition of Hydrocarbons in Diamonds, Garnet, and
Olivine from Diamondiferous Peridotites from the Udachnaya Pipe in Yakutia,
Russia. Engineering, Vol. 5, No. 3, pp. 471 - 478

Existem depósitos de gás natural no Chile associados à zona de subdução dos


Andes que apresenta metano com assinatura isotópica anômala e ali foi
confirmado se tratar de metano abiogênico de origem mantélica. Sem muitas
delongas sobre a teoria do petróleo abiogênico, verifica-se que a realidade é
muito mais complexa e diversificada, sendo os problemas reais mais difíceis
de se solucionar se tivermos uma única visão das circunstâncias, um único
modelo científico ou uma única hipótese ou teoria. Precisamos manter nossas
mentes abertas para enxergar novas soluções para novos e antigos problemas.
A presença de matéria orgânica em abundância nos materiais extraterrestres
nos mostram o grande leque de possibilidades que as formas de vida
primordiais tiveram para se adaptar aos sistemas planetários e de se
multiplicar em ambientes extremos.

A existência de matéria orgânica extraterrestre representa um capítulo


fundamental na história da compreensão da origem da vida. Se a vida veio do
espaço ou se surgiu na Terra de forma espontânea, uma coisa é mais do que
certa, as moléculas orgânicas extraterrestres devem ter tido um papel
fundamental na química pré-biótica que levou à bioquímica propriamente dita.
O que é certo de evidências geológicas é que os hidrocarbonetos podem ter se
originado de duas fontes sem nenhum problema, uma pequena parte pode ter
vindo do manto, representando reservatório de carbono primordial, e uma
grande parte veio da transformação geoquímica de matéria orgânica de
origem marinha nas rochas sedimentares. O que se pode aprender disso tudo
é que o Universo é extremamente versátil e prático e a síntese de matéria
orgânica não foge a esta versatilidade permitindo às leis da física e da química
produzir moléculas orgânicas complexas tanto por vias biótica como por vias
abióticas e os organismos vivos talvez sejam consequência inevitável da
relação entre o "reino mineral" e o "reino vivo".
13. Os Meteoritos Lunares: A Geologia da Lua Trazida À Terra

A TERRA FOTOGRAFADA A PARTIR DA ÓRBITA LUNAR.

Um dos impactos cósmicos de maior interesse ocorreu há cerca de 4,5 bilhões


de anos quando a Terra já diferenciada foi submetida a uma violenta colisão
tangencial com o protoplaneta Theia cujo diâmetro era semelhante ao do
planeta Marte de hoje. Como resultado deste evento, material foi lançando
para o espaço, que se pensa representar na sua maioria do manto terrestre, e
outra parte de Theia. Este material coalesceu e formou a protolua. Modelos de
formação da crosta lunar mostram que a Lua após ser acrecionada passou a
ter um oceano magmático do qual a partir deste as primeiras rochas
anortosíticas cristalizaram e passaram a boiar neste mar de magma, a
sequência de cristalização prosseguiu se diferenciando até os dunitos.

A crosta lunar é originalmente de composição anortosítica, com algumas


suítes magmáticas de troctolitos, gabros e noritos. Posteriormente, a Lua foi
submetida a bilhões de impactos de asteroides e cometas durante um período
de 4,1 Ga a 3,85 Ga conhecido como Bombardeamento Pesado Tardio. Sendo
submetida a esta série de bombardeamentos cósmicos, a crosta lunar foi
completamente retrabalhada, gerando inúmeras crateras de impacto em um
número tão grande delas que muitas se sobreporam ao longo da história de
colisões produzindo brechas e regolitos. Impactos gigantes na crosta lunar
escavaram crateras tão amplas e profundas que o manto lunar foi fraturado e
sofrendo fusão parcial gerou ascensão de líquidos magmáticos que
preencheram estas crateras gigantes com derrames basálticos produzindo os
mares lunares basálticos sendo naturalmente mais jovens que a crosta
anortosítica chamada de terras lunares.
Além de sofrer impactos gigantes, a Lua foi submetida a constantes impactos
de milhões de micrometeoroides que lentamente durante bilhões de anos
pulverizaram a crosta convertendo-a em uma camada de material fino com
dezenas de metros de espessura composta de fragmentos microcristalinos e
produtos de impactos anteriores numa mistura mal selecionada denominada
de regolito lunar. O regolito lunar é constantemente bombardeado por
partículas dos raios cósmicos, principalmente partículas oriundas do vento
solar e estas partículas modificam o regolito num processo chamado de
intemperismo cósmico (space weathering) implantando gases do vento solar
nas partículas do regolito lunar. Quando outros impactos ocorrem no regolito,
este sofre cimentação sendo convertido numa massa coerente denominada
brecha de regolito lunar.

Essas brechas são abundantes e contêm a assinatura do intemperismo


cósmico em seu conteúdo e representam amostras do regolito lunar,
permitindo estudar os componentes do regolito e sua mineralogia, além de
permitir saber a concentração de um isótopo muito importante na futura
produção de energia nuclear, o He3. As brechas lunares guardam a história
dos resets isotópicos que ocorreram devido aos múltiplos impactos na crosta
lunar demonstrados pelo método Ar39-Ar40 nos clastos. Quando impactos
ocorrem na Lua, pedaços da crosta são lançados para o espaço, muitos deles
assumem órbitas geocêntricas e podem ser capturados pela gravidade da
Terra entrando na atmosfera a velocidades menores que a de meteoroides
asteroidais, chegando à superfície como meteoritos lunares ou lunaítos.

QUANDO UM ASTEROIDE OU COMETA GRANDE O SUFICIENTE ATINGE A CROSTA


LUNAR, FRAGMENTOS DA LUA SÃO EJETADOS COM VELOCIDADE SUFICIENTE
PARA ESCAPAREM DE SUA INFLUÊNCIA GRAVITACIONAL. ESTES FRAGMENTOS
DA LUA AO ENTRAREM NA ATMOSFERA DA TERRA, QUANDO RESISTEM À
ABLAÇÃO ATMOSFÉRICA, TORNAM-SE METEORITOS LUNARES.
- Classificação dos Meteoritos Lunares:

Os meteoritos estão subdivididos segundo duas categorias: os condritos e os


não-condritos. Os não-condritos reúnem os acondritos, que são os meteoritos
rochosos desprovidos de textura condrítica, os siderólitos, que possuem
porções semelhantes de fase metálica e fase silicática e os sideritos, que são
meteoritos metálicos de Fe-Ni. Os acondritos são os meteoritos rochosos que
não possuem uma textura condrítica, eles são divididos em acondritos
primitivos e acondritos diferenciados.

Os acondritos primitovos são restitos de fusão parcial incipiente de materiais


originalmente condríticos, preservando as proporções condríticas de
elementos litófilos refratários, estes são os chamados de acapodranitos
(acapultoitos e lodranitos), winonaitos, brachinitos e ureilitos. Sendo que os
brachinitos e os ureilitos apresentam características de acondritos tanto
primitivos quanto diferenciados. Os acondritos diferenciados são subdivididos
em asteroidais e planetários. Os acondritos diferenciados asteroidais são
aqueles meteoritos que representam rochas ígneas oriundas de asteroides
diferenciados, estes são representados pelo grupo H.E.D. (Howarditos,
Eucritos e Diogenitos) que são oriundos do asteroide 4-Vesta, o maior
asteroide do sistema solar que possui um diâmetro médio de 550 km e foi
submetido à diferenciação asteroidal possuindo uma crosta com derrames
basálticos e um interior diferenciado em manto e núcleo metálico. Também
acondritos diferenciados asteroidais são os aubritos e os angritos, ambos
sendo também produto de magmatismo em asteroides diferenciados, mas
cujos corpos parentais não são o asteroide 4-Vesta.

Os acondritos diferenciados planetários possuem características


mineralógicas, texturais, geoquímicas e isotópicas totalmente diferentes da
dos acondritos diferenciados asteroidais. Estes possuem uma história
geológica muito mais complexa apresentando sucessivas assinaturas de
extrações magmáticas e retrabalhamento em regolitos, apresentando teores de
gases nobres planetários muito diferentes das do padrão condrítico. Esses
meteoritos são representados por dois grupos compostos, os meteoritos S.N.C.
(Shergottitos, Nakhlitos e Chassignitos) que foram descobertos serem
oriundos do mesmo corpo parental que possui dimensões planetárias para ter
uma geologia tão ativa a ponto de gerar rochas basálticas como os Shergottitos
com idades tão recentes de até 180 Ma, indicando que o corpo planetário de
origem desses meteoritos possuía ou ainda possui uma geologia ativa.

Teores de gases nobres existentes nestes meteoritos revelou um padrão


semelhante aos gases nobres atmosféricos do planeta Marte. Outro dado
importante foi a presença de uma assinatura de enriquecimento em deutério
em relação ao hidrogênio, também esta semelhante ao padrão isotópico de
hidrogênio da atmosfera de Marte. Tudo isso mostra que esse grupo de
acondritos são pedaços da crosta de Marte que foram ejetadas por impactos
gigantes na superfície de Marte. Outro grupo de meteoritos extremamente
complexos são brechas de regolito, brechas fragmentárias, basaltos e gabros
com sucessivas histórias de impacto cósmico contendo padrão
de resets isotópicos de seus sistemas K-Ar, além de muitos destes possuírem
padrão isotópico de oxigênio que plotam na reta de fracionamento terrestre
compartilhando padrão de fracionamento isotópico com as rochas terrestres.
Esses meteoritos foram comparados com as amostras de rochas lunares
trazidas pelas missões Apollo da NASA, revelando-se serem meteoritos
lunares, fragmentos há muito ejetados da crosta lunar por impactos cósmicos,
estes impactos foram os que produziram os resets isotópicos nesses
meteoritos.

O grupo dos lunaítos, portanto, se enquadra na classe dos acondritos


diferenciados planetários, estes acondritos possuem uma história de
diferenciação e reprocessamento ígneo e/ou metamórfico que não pode ser
explicada em um corpo parental simples como um asteroide, mas o corpo
parental destes meteoritos são de dimensões planetárias para que pudessem
desenvolver rochas com uma geologia mais complexa. Os meteoritos lunares
são assim classificados como oriundos da Lua porque seus espécimes foram
comparados com as rochas lunares trazidas pelas missões Apollo e Luna.
Estas rochas foram analisadas tanto geoquimicamente quanto isotopicamente
e provaram ser fragmentos da crosta lunar. A maioria dos meteoritos lunares
são brechas anortosíticas ou também denominadas de brechas feldspáticas.
Essas brechas são subclassificadas em fragmentárias, de fusão de impacto, de
regolito e granulíticas.

As brechas que representam porções da crosta lunar que não apresentam


abundantes fragmentos regolíticos tais como aglomerados, aglomerados
vesiculares, esferulitos e fragmentos de FeNi e condríticos são denominadas
de brechas fragmentárias, as brechas que apresentam assinaturas de gases do
vento solar implantados e os componentes regolíticos supracitados
representam o regolito lunar que foi exposto ao vento solar e aos raios
cósmicos e, portanto, são denominadas de brechas de regolito, sendo estas a
junção mecânica de fragmentos inconsolidados que é cimentado por impactos
cósmicos, talvez cimentadas no momento do impacto que as ejeta da Lua.

As brechas que apresentam clastos sustentados por uma matriz de natureza


vítrea ígnea representam fragmentos da crosta lunar que foram cimentados
por rocha fundida e vitrificada por impactos cósmicos ou eventos vulcânicos e
são denominadas de brechas de fusão de impacto. E as brechas que
apresentam texturas de recristalização em sua mineralogia mostrando que
estavam soterradas em grande profundidade e submetidas ao calor residual da
Lua devido a seu gradiente geotérmico ou devido a impactos gigantes e foram
assim parcialmente metamorfisadas adquirindo lamelas de exsolução nos
clinopiroxênios, devitrificação de partes da matriz e texturas simplectíticas
são denominadas brechas granulíticas.
CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS BRECHAS METEORÍTICAS. Extraído de Krot et al.
(2014).

De maneira geral, estas brechas lunares feldspáticas são amostras das terras
altas lunares ou highlands que representam a crosta original primitiva da Lua
de composição anortosítica, mas esta crosta anortosítica foi retrabalhada,
impactada, pulverizada e brechada por bilhões de anos de erosão cósmica, seja
por impactos de micrometeoritos, impactos de asteroides e cometas e
alteração por raios cósmicos produzindo complexas litologias de brechas
diversas. As brechas consistem de clastos angulosos de anortosito,
leucogabros, noritos, troctolitos ou mesmo fragmentos de vidro vulcânico,
vidros de fusão de impacto, fragmentos de brecha fragmentária, etc,
sustentados por uma matriz escura fina cristalina e/ou vítrea geralmente
composta por microfragmentos de anortositos, esferulitos, micropartículas de
metal e minerais de impacto, além de sílica, cromita titanífera, magnetita e
Mg-ilmenita abundante.

FATIA DO METEORITO LUNAR CALCALONG CREEK, UMA BRECHA


ANORTOSÍTICA DE REGOLITO.
FATIA DO METEORITO LUNAR NWA 7274, UMA BRECHA FELDSPÁTICA
FRAGMENTÁRIA.

Outro tipo de litologia lunar são os basaltos dos mares lunares. Os mares são
gigantescas bacias de impacto que foram escavadas por impactos gigantes que
produziram fraturamento da crosta lunar e consequente fusão parcial
trazendo à superfície magmas basálticos que preencheram estas crateras
gigantes gerando extensas planícies de derrames basálticos que são as regiões
mais escuras da lua. Alguns destes basaltos possuem uma assinatura
geoquímica muito específica da Lua, sendo este padrão geoquímico conhecido
como KREEP, um acrônimo para a presença anômala de potássio, elementos
terras-raras (REE – Rare Earth Elements) e fósforo associados.

Esse padrão geoquímico “KREEPy” é correlacionado à região de Oceanus


Procellarum identificada com uma anomalia de Th, U e K por sensoriamento
remoto lunar. Os basaltos lunares são classificados em pobres em Ti,
moderadamente ricos em Ti e ricos em Ti, amostras das missões Apollo
representam basaltos com até 11% de Ti. Os basaltos lunares são
empobrecidos em elementos voláteis como Na e K em relação aos basaltos
terrestres. Alguns meteoritos lunares ocorrem como basaltos brechados,
basaltos em contato litológico com brechas de regolito e basaltos associados a
brechas de fusão de impacto.
NESTA FOTOGRAFIA DA LUA, AS REGIÕES BRANCAS SÃO AS TERRAS ALTAS
COMPOSTAS DE ROCHAS FELDSPÁTICAS ANORTOSÍTICAS E AS REGIÕES
ESCURAS SÃO OS MARES LUNARES COMPOSTOS DE EXTENSOS DERRAMES
BASÁLTICOS. AS TERRAS SÃO MAIS ANTIGAS QUE OS MARES LUNARES.
CIRCULADO EM VERMELHO ESTÁ A REGIÃO DE OCEANUS PROCELLARUM ONDE
EXISTEM ROCHAS VULCÂNICAS COM ANOMALIA GEOQUÍMICA KREEP.

METEORITO LUNAR NWA 4898, UM BASALTO LUNAR, NO CANTO SUPERIOR


DIREITO DA SEGUNDA IMAGEM ESTÁ O DETALHE MICROSCÓPICO
EVIDENCIANDO A TEXTURA VULCÂNICA DE ACÍCULAS DE PLAGIOCLÁSIO
CÁLCICO EM MEIO À MATRIZ ESCURA CRIPTOCRISTALINA DE COMPOSIÇÃO
MÁFICA.
DETALHE DE MICROSCÓPIO PETROGRÁFICO COM POLARIZADORES CRUZADOS
DO BASALTO LUNAR NWA 4898 MOSTRANDO A TEXTURA VULCÂNICA COM
CRISTAIS BRANCOS/CINZAS DE PLAGIOCLÁSIO COM HÁBITOS ACICULARES E
CRISTAIS COLORIDOS DE CLINOPIROXÊNIO CÁLCICO, TÍPICA ASSOCIAÇÃO
MINERAL DE UMA ROCHA DE COMPOSIÇÃO BASÁLTICA.

Os meteoritos lunares são todos achados, sendo a maioria encontrada nos


desertos quentes do Saara, Algeria, Líbia, Marrocos e Omã e na Antártica
pelas missões ANSMET da NASA. Estes meteoritos são resultado de ejeção de
pedaços da crosta lunar por impactos de asteroides e cometas na Lua que
geram projéteis com capacidade para vencer a velocidade de escape do campo
gravitacional da Lua. Os meteoroides lunares, isto é, os pedaços ejetados da
crosta lunar, possuem um tempo de transição do percurso da Lua até a Terra.

Datações do tempo de percurso por exposição de raios cósmicos de meteoritos


lunares demonstram que estes representam uma população de pedaços
ejetados da Lua há pelo menos 20 Ma com um limite inferior de 0,5 Ma. A
maioria dos meteoroides lunares quando ejetados assumem órbitas
geocêntricas e entram na atmosfera da Terra com velocidades mais baixas do
que os meteoritos asteroidais visto que estes últimos são grandemente
acelerados pela gravidade do Sol em virtude de terem órbitas heliocêntricas. É
possível que alguns meteoritos lunares fossem meteoroides que assumiram
órbitas heliocêntricas. A maioria dos meteoritos lunares é menor do que a
média de massa para os meteoritos rochosos, principalmente acondritos
planetários como os meteoritos marcianos, possuindo médias de 50 g. O
primeiro meteorito lunar identificado foi o ALHA 81005 com uma massa de 31
g encontrado na Antártica. O primeiro meteorito lunar achado fora da
Antártica foi o Calcalong Creek de 19 g encontrado no deserto da Austrália.
Posteriormente, muitos mais começaram a ser achados e identificados como
lunares.
METEORITO ALHA81005, O PRIMEIRO METEORITO LUNAR ENCONTRADO. EM
COMPARAÇÃO COM AS ROCHAS TRAZIDAS PELOS ASTRONAUTAS SE CONCLUIU
SE TRATAR DE UMA ROCHA LUNAR, UMA BRECHA ANORTOSÍTICA DE
REGOLITO.

Normalmente os lunaítos apresentam uma crosta de fusão vítrea, às vezes com


vesículas e marrom fosca, ou verde oliva com aparência túrbida. Os meteoritos
lunares possuem diversas idades que podem ser determinadas por isótopos
cosmogênicos, estas idades são as de cristalização da crosta lunar, que
normalmente é resetada para sistemas isotópicos frágeis como K-Ar e não há
como datar clastos anortosíticos devido ao plagioclásio não fracionar bem
elementos radioisotópicos geoquimicamente imóveis como o sistema
radiocronológico Sm-Nd ou Re-Os, gerando assim apenas idades
de resets isotópicos geralmente interpretadas como idades de impactos
cósmicos na Lua, há também o tempo de residência da rocha no regolito lunar
dada pela concentração de gases nobres solares implantados nos fragmentos
minerais do regolito, depois o tempo de transição Lua-Terra do meteorito
quando ejetado da superfície lunar sendo determinado como a idade de
exposição cósmica através de isótopos de Ne21 e finalmente a idade terrestre ou
idade de residência na Terra dada por isótopos cosmogênicos de Be10, Cl36 e C14.
- Geologia do Regolito Lunar:

Cerca de 0,1% de todos os meteoritos coletados são meteoritos lunares, onde a


maioria deles são brechas polimíticas de regolito lunar. Estas rochas contêm
importantes informações sobre a mineralogia, composição química e
assinatura isotópica do regolito lunar. Este material inconsolidado foi
convertido em uma rocha coerente por impactos de asteroides no regolito
lunar. O regolito contém uma mineralogia diversa e exótica, além de
componentes complexos como esferulitos, aglutinados vesiculares, clastos
angulosos da crosta lunar tais como anortositos, gabros, troctolitos, noritos e
até fragmentos de basaltos e vidro vulcânico, estes guardam um sistema
isotópico que foi aberto em múltiplas colisões sendo possível datar os eventos
de reset isotópico através do método Ar39-Ar40. Além desses componentes do
regolito, essas amostras de regolito podem conter microfragmentos de outros
meteoritos, tais como partículas de FeNi e partículas de condritos, todos estes
componentes implantados nos regolitos.

Muitos regolitos lunares contêm proporções variadas de gases implantados


dos ventos solares. Esses eram partículas de alta energia ejetadas por fluxos
na atmosfera solar. Estas partículas tais como prótons, elétrons, dêuterons e
partículas alfa bombardeiam constantemente a Lua e muitas destas ficam
aprisionadas no regolito. Um isótopo cosmogênico implantado que é de maior
importância aqui é o Hélio-3. Esse componente isotópico do regolito foi
medido nos locais de pouso das missões Apollo e os dados revelam que a
distribuição da concentração de He3 no regolito lunar não é constante, mas
depende de uma série de variáveis inerentes ao tipo de regolito e sua
profundidade, por exemplo. O He3 é um importante isótopo que pode ser
utilizado no futuro como combustível estável para a fusão. Esse isótopo
praticamente não existe na Terra, mas é relativamente abundante na Lua,
preso no regolito lunar. No futuro, será possível a humanidade minerar o
regolito em busca desse isótopo.

O fato de não testemunharmos quedas de meteoritos lunares significa que a


maioria destes representam populações de meteoroides que existiam nas
proximidades da Terra há apenas pelo menos milhares de anos atrás,
provavelmente não existindo mais meteoroides lunares nas proximidades da
Terra, pelo menos não em abundância semelhante a de meteoroides
condríticos, vestoides ou mesmo de Marte. Essa informação pode ser extraída
sabendo a idade terrestre dos lunaítos.

A idade de residência dos meteoritos lunares na Terra é de muita importância


para a ciência meteorítica, porque todos os meteoritos lunares são achados,
sendo que, sabendo sua idade terrestre somada a sua idade de exposição
cósmica quando estes estavam na fase de meteoroide, o chamado tempo de
trânsito da Lua para a Terra, pode-se chegar a idade de ejeção do material
lunar a partir de sua crosta por impactos de asteroides e cometas. O tempo de
ejeção de meteoritos lunares permite correlacioná-los, isto é, verificar se estes
fazem parte do mesmo local de onde foram ejetados, se a cratera de origem
deles é a mesma. Se dois meteoritos lunares têm praticamente a mesma idade
de ejeção e apresentam a mesma litologia, então é quase certo que estes são
pareados, ou seja, são oriundos da mesma cratera de impacto lunar.
De forma simples, o grau de intemperismo dos meteoritos é diretamente
proporcional ao seu tempo de residência no ambiente terrestre. Todos os
meteoritos lunares coletados até hoje foram achados nos desertos quentes de
Omã, Saaara, Líbia e Austrália e no deserto gelado da Antártica. Nos
ambientes desérticos os meteoritos rochosos podem sobreviver ao
intemperismo por até 50 mil anos ou mesmo até 300 mil anos. Na Antártica
foram encontrados meteoritos com idades terrestres superiores a 2 Ma.
Nesses ambientes secos e quentes, de natureza árida ou semi-árida, os
meteoritos lunares se acumulam e são submetidos a alteração terrestre tais
como produção de veios e fraturas preenchidos com caliche, evaporitos ou
argilominerais em estágios avançados de intemperismo.

Tais meteoritos são submetidos a bombardeio dos raios cósmicos quando


eram meteoroides no espaço interplanetário. Ao chegarem à superfície, cessa a
influência dos raios cósmicos que param de produzir o isótopo no meteorito.
Em corpos parentais, ou meteoroides, pequenos como asteroides, por exemplo,
a irradiação cósmica ocorre em todas as direções do meteoroide até atingir a
saturação em profundidade no meteoroide, esse tipo de bombardeio cósmico
de partículas é denominado de irradiação 2π. Quando a superfície do corpo
parental é considerada infinita, isto é, não há como as partículas
bombardearem toda a extensão em área de um determinado corpo rochoso,
mas atuam apenas na superfície até atingir uma certa profundidade de
saturação, como é o caso da superfície de corpos planetários como a Lua, o
processo é chamado de irradiação 4π. O processo de interação dos átomos da
rocha com os raios cósmicos podem ser de captura de partículas com
consequente transmutação elementar ou de espalhamento de partículas, isto é,
fissões nucleares que geram diferentes isótopos cosmogênicos. As reações
nucleares com raios cósmicos, durante saturação, atingem o meteoroide em
profundidade gerando em seu interior nêutrons livres que perdem
gradualmente a energia convertendo-se em nêutrons térmicos, isto é, de baixa
energia, gerando reações nucleares secundárias de captura de nêutrons por
nuclídeos específicos.
ESTE GRÁFICO MOSTRA AS IDADES DE EJEÇÃO EM MILHÕES DE ANOS, DOS
METEORITOS LUNARES CALCULADAS A PARTIR DO CONTEÚDO DE ISÓTOPOS
COSMOGÊNICOS MEDIDOS NAS ROCHAS. A IDADE DE EJEÇÃO CORRESPONDE À
IDADE DE EXPOSIÇÃO CÓSMICA SOMADA A IDADE TERRESTRE. NO EIXO
VERTICAL ESTÁ A CONCENTRAÇÃO DE TÓRIO INDICANDO QUAIS DESSES
MATERIAIS SÃO ORIUNDOS DE EXTRAÇÃO MAGMÁTICA COM ANOMALIA
GEOQUÍMICA KREEP, NOTAR QUE O CALCALONG CREEK É UMA MISTURA DE
BASALTO COM ANORTOSITO E APRESENTA ALTO TEOR DE TÓRIO INDICANDO
SUA ORIGEM NUM DERRAME BASÁLTICO LUNAR IMPACTADO E
TRANSFORMADO EM REGOLITO.

A taxa de produção de isótopos cosmogênicos instáveis como C14 é dependente


de uma série de variáveis como a profundidade de ação do meteoroide, a área
de seção do meteoroide que normalmente produzirá irradiação 2π, o tipo de
material, ou seja, se é um meteorito rochoso ou um meteorito metálico, devido
ao átomo alvo para produção deste isótopo ser específico, além do que este
isótopo possui uma meia-vida muito curta fazendo-se necessário calibrá-lo
utilizando a função de produção de outro isótopo instável cosmogênico com
uma meia-vida longa, normalmente o Be10. A calibração é feita levando em
conta a taxa de produção cosmogênica de ambos os isótopos considerados e
sabendo o tipo de meteorito e a profundidade de ação no meteoroide. Faz-se
necessário saber a profundidade de ação dos raios cósmicos que está
relacionada à taxa de produção dos isótopos cosmogênicos instáveis porque
não se sabe de antemão se o meteorito representa um fragmento da superfície
do meteoroide ou se este representa um fragmento sobrevivente na entrada
atmosférica que fazia parte de uma região mais interna do meteoroide.

Uma vez fazendo estas considerações, o meteorito quando no ambiente


terrestre não está mais submetido aos raios cósmicos, então os isótopos
cosmogênicos considerados começam a decair. Sabendo a concentração
desses isótopos e levando em conta a curva de calibração C14/Be10 para os
meteoritos lunares, pode-se calcular o tempo de residência do meteorito, isto
é, o tempo desde que parou a produção de radioisótopo cosmogênico. Uma
vez que todos os meteoritos submetidos aos raios cósmicos apresentam-se
saturados em concentração nos isótopos considerados, quando no ambiente
terrestre começam a ter seus isótopos decaindo. Então, se obtivermos as
concentrações isotópicas cosmogênicas de um meteorito com idade terrestre
conhecida, isto é, um meteorito cuja queda foi testemunhada, então é possível
correlacionar seu padrão de isótopos cosmogênicos com as medidas de um
meteorito achado de idade terrestre desconhecida, servindo como padrão de
calibração isotópica.

GRÁFICO DAS IDADES TERRESTRES E DE EJEÇÃO DE ALGUNS METEORITOS


LUNARES. AS BARRAS DE ERRO GRANDES INDICAM PERDAS DE ISÓTOPOS
COSMOGÊNICOS DEVIDO À DEGASEIFICAÇÃO DO REGOLITO LUNAR AO LONGO
DO TEMPO E/OU ERROS ANALÍTICOS INERENTES AO MÉTODO UTILIZADO. A
MAIORIA DOS METEORITOS POSSUEM IDADES TERRESTRES ELEVADAS, ENTRE
10 MIL A 100 MIL ANOS.

A superfície lunar é coberta por uma camada de material granular fino e


inconsolidado chamado de regolito lunar. A espessura do regolito varia de
uma média de 5 m nos mares lunares até 10 m nas terras lunares. O principal
componente do regolito é um solo de granulação fina de cor cinza com uma
densidade em torno de 1,5 g/cm³. No regolito também ocorrem brechas e
fragmentos das rochas encaixantes. Cerca de 50% em peso de solo lunar
contém grãos que variam em granulometria de 60 a 80 microns.

A Lua não possui atmosfera, portanto, sua camada superior de regolito está
exposta a bombardeio de micrometeoritos e irradiação dos ventos solares. O
contínuo bombardeio de micrometeoritos no regolito lunar pulveriza cada vez
mais fragmentos rochosos e funde porções do solo lunar. As porções fundidas
misturadas com fragmentos líticos formam aglomerados irregulares
chamados de aglutinantes. Ao mesmo tempo, o vento solar implanta enormes
quantidade de H e He e traços de outros elementos.

CURVA DE DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA DO REGOLITO LUNAR


COLETADO PELAS MISSÕES APOLLO. INDICA-SE UMA MÁXIMA DE
GRÃOS MUITO FINOS, COM 90% DAS PARTÍCULAS TENDO TAMANHO
MAIOR QUE 10 MÍCRONS.

O contínuo retrabalhamento por impactos de micrometeoritos do solo lunar


rico em hidrogênio gera fusão fazendo com que o H aprisionado do vento solar
reaja com o FeO presente nas partículas do regolito, produzindo vapor de água
e grãos submicroscópicos de Fe nativo onde estes componentes ficam nos
aglutinantes gerados. Esse processo continua até que este regolito é soterrado
por novas camadas de material ejetado por novos impactos próximos ou são
destruídos pela escavação de uma grande cratera. Análises de núcleos de furo
de sonda na Lua pelas missões Apollo revelaram uma estratificação rítmica de
múltiplos horizontes de regolitos intercalados com material ejetado de
impactos.
IMAGEM AO MICROSCÓPIO ÓPTICO DE AGLUTINANTE LUNAR, MATERIAL
VÍTREO (PRETO) SOLDA JUNTO PARTÍCULAS MINERAIS E ESFÉRULAS DE FERRO
METÁLICO.

A maturidade de um regolito lunar é ditada pelo grau de exposição aos


micrometeoritos e ao vento solar. Essa maturidade é verificada pela
quantidade de aglutinantes presentes no regolito, distribuição granulométrica
e/ou pela quantidade de gases nobres implantados pelo vento solar. No
entanto, o meio mais simples de se verificar o grau de maturidade de um
regolito é através de determinação magnética da quantidade de grãos de ferro
submicroscópicos presentes no regolito.

As raias de material ejetado por impacto vistas nas crateras mais jovens da
Lua demonstram que partículas finas podem ser transportadas e depositadas
a grandes distâncias na Lua. Vidro e fragmentos líticos são muito importantes
porque revelam dados sobre a natureza das rochas existentes longe dos locais
de amostragem. Devido a este motivo, os cientistas lunares são interessados
na fração grossa-fina do solo lunar. A fração grossa-fina do regolito lunar
representa partículas com tamanhos da fração granulométrica da areia. Nesta
fração de grãos estão os vidros, fragmentos líticos locais ou exóticos,
microbrechas e partículas de aglutinantes.

Os astronautas não encontraram muitas rochas do regolito lunar, sendo a


maioria das amostras de regolito um fino pó do solo lunar. A estratégia de
amostragem diz que devem ser amostradas rochas das bordas de crateras
existentes no regolito lunar, desta forma, as rochas coletadas sob estas
circunstâncias representarão amostras do regolito lunar coerente que foi
cimentado pelo impacto que escavou a cratera no regolito. Portanto, muitas
amostras de mão trazidas pelas missões Apollo 11 e Apollo 15 são brechas de
regolito.
UMA PEQUENA CRATERA NA LUA AVISTADA PELOS ASTRONAUTAS, NAS BORDAS
ESTA CRATERA CONTÉM BRECHAS DE REGOLITO LUNAR.

No regolito lunar também existe um certo percentual de material piroclástico,


apesar de que nenhum vidro vulcânico reconhecido foi encontrado em
amostras da Apollo 16, mas uma grande amostragem de vidro vulcânico foi
feita pela Apollo 15 e 17. Muitos desses vidros possuem coloração verde e
laranja. A missão Apollo 17 foi a que coletou amostras de um solo laranja no
regolito lunar, sendo interpretado como produto de erupções vulcânicas na
Lua. Os meteoritos lunares que representam brechas de regolito são porções
do regolito lunar ejetadas de locais aleatórios na superfície da Lua, devido a
impactos de asteroides e cometas. Todos os meteoritos lunares foram
submetidos à exposição de raios cósmicos seja durante sua residência no
regolito lunar até alguns metros de profundidade ou durante seu trânsito
entre a Lua e a Terra.

Muitos dos meteoritos lunares são brechas de regolito e estes são rochas
fragmentárias que contêm o regolito que foi cimentado numa massa coerente,
estes naturalmente contêm os componentes do regolito lunar tais como
aglutinantes, esférulas de vidro (esferulitos) e produtos de fusão por impacto.
Estes meteoritos são amostrados de um número diverso de terrenos
geológicos lunares incluindo o lado oculto da Lua e suas regiões polares.
Sendo assim, esses meteoritos promovem um relatório mais completo da
diversidade global da crosta lunar comparado às amostras das missões Apollo
e Luna.

Os acondritos lunares são materiais imprescindíveis no estudo da geologia da


Lua. A partir de dados petrológicos gerados pelas análises das rochas lunares
trazidas pelas missões Apollo da NASA pôde-se pintar um quadro mais
detalhado da história geológica da Lua, mostrando que ela é um satélite
natural cuja origem está simbioticamente ligada à origem da Terra, que esta
surgiu a partir de material ejetado da prototerra por um impacto tangencial
com outro planetoide há 4,55 bilhões de anos. A Lua é um corpo diferenciado
em crosta, manto e núcleo. A crosta de composição originalmente anortosítica
foi gerada pela cristalização fracionada de um gigantesco oceano de magma
basáltico que existia na protolua. A partir desse oceano pedaços de rocha
anortosítica cristalizaram e boiaram na superfície, as rochas ultramáficas
cristalizaram na base desse oceano permanecendo em profundidade formando
o manto lunar. A crosta foi bombardeada durante pelo menos 400 milhões de
anos formando todas as inúmeras crateras de impacto vistas através de nossos
telescópios.

As regiões escuras da Lua são eventos magmáticos relativamente recentes (~ 2


- 3 Ga) induzidos por impactos gigantes na crosta lunar. Estes eventos
fraturaram a crosta anortosítica e fundiram parcialmente o manto lunar
trazendo magmas basálticos à superfície. Os basaltos lunares formaram
extensos derrames preenchendo as bacias de impacto. Os meteoritos lunares
preenchem as lacunas deixadas pelas amostras coletadas pelos astronautas.
Eles consistem de brechas das terras lunares anortosíticas mais antigas e de
basaltos dos mares lunares. As brechas indicam idades de resetamento
isotópico quando de impactos copiosos na superfície lunar registrando o
evento do Bombardeamento Pesado Tardio que foi precisamente datado entre
4,1 Ga e 3,8 Ga através de análises de isótopos radiogênicos dos minerais
contidos nas brechas lunares. Muito estudo ainda virá pela frente no futuro
onde mais sobre a geologia da Lua será desvendado.
14.Os Meteoritos Marcianos

METEORITO ELEPHANT MORAINE 79001, ACHADO NA ANÁRTICA, É UM


SHERGOTTITO MARCIANO.

Uma série de meteoritos encontrados nos desertos e algumas quedas


testemunhadas são rochas ígneas geralmente subvulcânicas e
minoritariamente plutônicas que não se encaixam facilmente na classificação
de acondritos oriundos de asteroides. O grau de diferenciação magmática,
litogeoquímica e isotópica desses meteoritos é muito elevado em comparação
com os acondritos asteroidais diferenciados tais como os eucritos e os
diogenitos. Também a mineralogia dessas rochas se apresenta com grau de
oxidação dos elementos químicos maior do que nos acondritos asteroidais
mais diferenciados.

Além destas discrepâncias petrológicas, as idades de cristalização desses


meteoritos varia de 4,5 Ga a 1,8 Ga sendo os de composição basáltica, os mais
abundantes desses acondritos, mais jovens do que 800 milhões de anos
indicando uma história de atividade magmática compatível com um corpo
parental de dimensões planetárias e não correspondendo ao período de
diferenciação e magmatismo dos asteroides basálticos tais como o 4 Vesta.
Evidências de alteração aquosa com idades menores que 0,8 Ga em fases
minerais em muitos destes meteoritos também sugere uma história geológica
complexa em um corpo planetário onde existia água no estado líquido para
gerar a precipitação de carbonatos, a oxidação de piroxênios e olivinas para
iddingsita e argilominerais e ainda a formação ainda em estado de magma de
anfibólios tais como a kaersutita. Os anfibólios são minerais estáveis apenas
em magmas com alto grau de diferenciação onde existe uma quantidade
suficiente de água no sistema para cristalizar tais minerais em condições de
mais baixa temperatura de liquidus de um magma basáltico.

Outra observação fascinante sobre esses estranhos acondritos é o estágio de


choque evidente em sua petrotrama e em grãos individuais dos minerais.
Todos os acondritos basálticos desse tipo, denominados shergottitos,
apresentam o mineral plagioclásio transformado para uma fase amorfa
peseudomorfa denominada maskelynita. A maskelynita é resultado de
impacto de alta velocidade na rocha alvo quando atingida por um meteoroide
batendo na superfície de um corpo planetário de gravidade superior à da Lua.
Como resultado da energia do impacto violento, os grãos de plagioclásio
rapidamente invertem suas estruturas cristalinas para uma fase vítrea quase
instantaneamente. Simulações numéricas de impactos de hipervelocidade em
corpos planetários mostram que as rochas da crosta impactadas são ejetadas
com velocidade suficiente para escaparem para o espaço interplanetário.
Outras feições de choque são veios de impacto preenchidos com material
silicático vitrificado, a presença de mosaicismo proeminente em grãos de
piroxênios, extinção ondulante e feições de deformação planar em cristais de
olivina, fraturas pervasivas, etc.

PETROGRAFIA COM NICOIS CRUZADOS DO SHERGOTTITO TISSINT, AQUI UM


MEGACRISTAL DE OLIVINA COM FEIÇÕES DE DEFORMAÇÃO PLANAR EM
QUATRO DIREÇÕES, INDICANDO ALTO ESTÁGIO DE CHOQUE.

Os acondritos estranhos aqui tratados são de três tipos: Os shergottitos, os


nakhlitos e os chassignitos. Esses três fazem parte de um grupo abreviado
para a sigla SNC e as evidências laboratoriais apontam que estes três tipos de
acondrito são oriundos de um único corpo planetário, o planeta Marte. Estes
são fragmentos ejetados da crosta do planeta vermelho por impactos de
hipervelocidade causado por asteroides ou cometas. As evidências que ligam a
origem desses meteoritos ao planeta Marte são: Gases atmosféricos
aprisionados nos grãos minerais, a química de rocha total, geocronologia e a
hidrogeologia. Os nomes principais provêm das primeiras amostras de cada
um dos três tipos. Interessante que todos os três primeiros integrantes que
deram nome ao grupo são quedas testemunhadas. O meteorito Shergotty,
caído na Índia em 1865 deu nome aos meteoritos shergottitos consistindo de
basaltos cujas lavas foram de rápido resfriamento muitas vezes com textura
porfirítica com megacristais de olivina se destacando, com uma mineralogia
essencial de clinopiroxênio pobre em cálcio, ortopiroxênio em menor
quantidade e plagioclásio cálcico transformado em maskelynita.
Os shergottitos cumuláticos são lherzolitos ricos em olivina compostos de
clinopiroxênio, olivina, ortopiroxênio e plagioclásio transformado em
maskelynita. Minerais acessórios incluem kaersutita, pirita, pirrotita, sílica e
magnetita. O meteorito Nakhla, caído no Egito em 1911, deu nome ao grupo
dos nakhlitos, consistindo de clinopiroxenitos cumuláticos derivados de
magmas basálticos. O meteorito Chassigny, caído na França em 1815, deu
nome ao grupo dos chassignitos e representam rochas com mais de 95% de
olivina cumulática, sendo dunitos derivados da diferenciação de magma de
composição basáltica. Um quarto tipo de meteorito marciano foi inicialmente
classificado como diogenito, mas pelas características mineralógicas
apresentando sinais de oxidação acentuada e feições texturais e de choque foi
reclassificado como ortopiroxenito marciano, o meteorito ALH 84001,
encontrado nas montanhas de Alan Hills na Antártica em 1984. Esse
meteorito tornou-se famoso pelos prováveis indícios de estruturas
microbianas fossilizadas publicados em um artigo científico de 1996. A
repercursão sobre a provável existência de vida nativa em Marte foi grande ao
ponto de o presidente Bill Clinton fazer um pronunciamento sobre a provável
"descoberta" de vida extraterrestre em um meteorito marciano. O ALH 84001
é uma rocha composta majoritariamente de ortopiroxênio com cromita como
mineral acessório.

Sobre os gases atmosféricos aprisionados nos minerais dos acondritos SNC:


Os meteoritos SNC contêm concentrações pequenas, mas detectáveis, de gases
com composição elementar e isotópica semelhante ao da atmosfera do planeta
Marte. A composição da atmosfera de Marte foi medida indiretamente através
de espectroscopia e diretamente através da sonda não tripulada Viking da
NASA. Medidas da abundância dos gases nobres, nitrogênio e dióxido de
carbono foram realizadas e a similaridade entre estas medidas e as realizadas
em inclusões fluidas nos minerais de choque dos meteoritos SNC é marcante.
Os meteoritos contêm proporções de gases nobres distintas uns dos outros
que marcam a história de exposição cósmica e de retenção de material
primordial da nebulosa solar. No caso do planeta Marte a distribuição dos
gases nobres na atmosfera é distinta dos demais corpos do Sistema Solar por
apresentar uma complexa história de fracionamento elementar e isotópico
pela degaseificação do manto do planeta Marte durante a consolidação da sua
crosta primária de composição basáltica.

Os gases atmosféricos do planeta vermelho são aprisionados em


pequeníssimas bolhas nos minerais de choque no momento do impacto de um
asteroide ou cometa na superfície do planeta. Durante o impacto os gases
atmosféricos do planeta são implantados na estrutura dos minerais que
invertem para uma fase vítrea tal como a maskelynita. Estudos também
demonstram a existência desses gases aprisionados em minerais não
vitrificados nos meteoritos SNC. Estudos realizados no meteorito shergottito
EETA79001 mostram que a razão entre as medidas realizadas na atmosfera do
planeta Marte para as concentrações dos gases nobres, nitrogênio e dióxido de
carbono e as medidas desses mesmos gases aprisionados nos minerais de
choque do meteorito é praticamente igual a um. Isto significa que a
semelhança entre a atmosfera marciana e os gases presentes no meteorito é
máxima, indicando a origem da rocha na crosta do planeta vermelho. A
composição isotópica dos gases nobres nos gases marcianos e dos meteoritos
SNC também é semelhante. Razões isotópicas são muito específicas de cada
corpo parental, diferentes processos geológicos geram distintas assinaturas
isotópicas nas rochas. Processos de fracionamento por diferença de massa tal
como a difusão gasosa em eventos de degaseificação de reservatório
geoquímico planetário são diferentes de prováveis degaseificações mais
escassas em asteroides diferenciados. Como exemplo, as razões medidas pela
sonda Viking dos isótopos de argônio foram Ar-40/Ar-36 = 3000 +/- 500 e
Ar-36/Ar-38 = 5,5 +/- 1,5. As razões medidas para os meteoritos SNC foram
Ar-40/Ar-36 < 1900 e Ar-36/Ar-38 < 4,0. Outra tentativa de medida isotópica
pela Viking foi a razão dos isótopos de xenônio, Xe-129/Xe-132, que
forneceram valores mais precisos e consistentes com similaridades entre a
atmosfera marciana e os shergottitos. Outras razões similares são dos isótopos
de hidrogênio, a razão D/H (deutério/hidrogênio), isótopos de nitrogênio,
N-15/N-14, e de carbono, C-13/C-12. Em conclusão, a mera existência de gases
aprisionados em relativa abundância nos meteoritos SNC sugere um corpo
parental de dimensões planetárias que contém uma atmosfera. A maioria dos
meteoritos provêm de corpos desprovidos de uma atmosfera espessa o
suficiente tais como asteroides e a Lua.

GRÁFICO DA RELAÇÃO 1:1 ENTRE AS CONCENTRAÇÕES DOS GASES NOBRES,


NITROGÊNIO E DIÓXIDO DE CARBONO MEDIDAS EM INCLUSÕES NOS VIDROS
DE CHOQUE DOS SHERGOTTITOS E OS RESULTADOS PARA A ATMOSFERA
MARCIANA MEDIDOS PELAS SONDAS VIKING DA NASA.

A distribuição das idades dos meteoritos marcianos não se correlaciona com


as idades calculadas para a superfície de Marte que é mais antiga que 3 Ga.
Assim como existe uma classificação estratigráfica da geologia da Terra, o
planeta Marte possui uma estratigrafia determinada pelo método da contagem
da frequência de crateras de impacto existentes na superfície do planeta
calibrada para a frequência das crateras lunares que possui correlação com
datações radiométricas das rochas lunares. Por exemplo, idades superiores a 3
Ga em Marte corresponde ao período Noaquiano/Hesperiano. As idades mais
recentes dos acondritos SNC os colocam no Amazoniano Médio/Superior que
corresponde a provínicas vulcânicas correspondetes às regiões Elysium,
Amazonis Planitia e Thasis. A inexistência de meteoritos marcianos mais
antigos que os SNC pode ser explicada pelo fato de terem ocorrido impactos
recentes, nos últimos 20 Ma, na superfície de Marte ejetando as rochas ígneas
mais jovens para o espaço e as mais antigas sendo friáveis e provavelmente de
natureza sedimentar, se fragmentam no processo não sendo preservadas
quando capturadas pela gravidade terrestre. Além disso, o grau de alteração
por processos intempéricos em Marte é maior quanto mais antigos são os
meteoritos marcianos e isto pode ter influência direta na preservação de
meteoroides marcianos de idades de cristalização superiores a 1,3 Ga, com
exceção do ALH 84001.

1. Shergottitos:

São os mais abundantes dos meteoritos marcianos. Eles são subdivididos em


três tipo: Os basálticos, lherzolíticos e olivina-porfiríticos. Os shergottitos
basálticos são constituídos dos minerais clinopiroxênio cálcico, plagioclásio
modificado para maskelynita devido ao impacto de ejeção da crosta marciana,
possuindo uma textura subvulcânica a vulcânica semelhante aos basaltos
terrestres e diabásios, respectivamente. Os shergottitos basálticos geralmente
não possuem olivina e seus baixos teores de magnésio indicam que são
produto de cristalização magmática em superfície ou subuperfície e suas
idades recentes indicam que fazem parte de derrames vulcânicas em platôs
basálticos no planeta Marte.

FATIA DO SHERGOTTITO BASÁLTICO DAR AL GANI 476.

Muitos destes apresentam cristais de piroxênio em textura cumulática e


possuem foliação magmática indicando fluxo de lava em sills ou diques em
subsuperfície e também podem indicar cristalização fracionada nas porções
apicais de câmaras magmáticas. Outros shergottitos apresentam maior
abundância em plagioclásio indicando uma gradação para rochas
anortosíticas representando pulsos de magma mais diferenciados no topo de
uma câmara magmática indicando sequência de evolução magmática desde
uma rocha mais gabroica de granulação muito fina para uma rocha tendendo
a anortosítica. A presença de anfibólio como mineral acessório indica líquidos
magmáticos hidratados em condições de interação entre rochas crustais
encaixantes e magma de composição basáltica de origem mantélica, uma
evidente marca de evolução geoquímica em um corpo de dimensões
planetárias.

Os shergottitos lherzolíticos possuem maior teor de magnésio e são


constituídos de cumulatos de olivina e ortopiroxênio contendo também
cromita indicando pulsos de magma de origem profunda em uma câmara
magmática com cristalização fracionada em região profunda configurando
maiores temperaturas de cristalização indicada pela presença de olivina e
cromita e pelo maior teor de magnésio. Os cristais de pigeonita nestas rochas
são poiquilíticos contendo em seus interiores cristais arredondados de olivina
e cromita indicando reações no magma produzindo diferenciação a nível de
grãos minerais. Essa textura é típica de derrames máfico-ultramáfico
acamadados tipo Bushveld na Terra.

FATIA DO SHERGOTTITO LHERZOLÍTICO NWA 1950.

Outras fases tardias que interagem nessa assembléia ultramáfica são cristais
de granulação mais fina de olivina contendo maior teor em ferro, pigeonita,
augita e maskelynita. Os lherzolitos são rochas férteis, ou seja, podem ser
sujeitas a ciclos de fusão parcial gerando peridotitos menos férteis como são
os wherlitos e hazburgitos. Os dunitos são rochas ultramáficas normalmente
cumuláticas de alta temperatura no funda da câmara magmática ou
representam restitos da fusão de uma rocha peridotítica mais fértil como é o
caso dos lherzolitos. Os shergottitos lherzolíticos representam então rochas
cumuláticas de origem em uma câmara magmática no interior de um
complexo provavelmente vulcânico em Marte e são os estágios primordiais a
intermediários na evolução dos magmas marcianos.

Os shergottitos olivina-porfiríticos são os mais raros dentre os shergottitos e


representam rochas compostas de megacristais de olivina magnesiana,
ortopiroxênio e cromita sustentados por uma matriz de granulação mais fina
composta de pigeonita e plagioclásio. Rochas ígneas porfiríticas indicam dois
estágios de cristalização magmática em pelo menos dois diferentes níveis de
alojamento crustal. Esses shergotittos foram provavelmente remobilizados na
câmara magmática por fluxos de correntes de convexão ou por movimentos
tectônicos de curto período fazendo com que a primeira fase de cristalização
originasse os megacristais de olivina, ortopiroxênio e cromita em níveis
profundos e nas fases iniciais de cristalização fracionada e depois essas
massas de magma contendo estes cristais de mais alta temperatura (magmatic
mush) ascendescem para as porções apicais da câmara magmática onde a
matriz de pigeonita-plagioclásio foi cristalizada tardiamente gerando a textura
porfirítica desses shergottitos.

GRANDE MASSA INDIVIDUAL DO SHERGOTTITO OLIVINA-PORFIRÍTICO TISSINT.

2. Nakhlitos:

Consistem de raros acondritos marcianos com idades de cristalização maiores


do que os shergottitos indicando suas origens em porções mais antigas da
crosta marciana onde ocorreram ciclos mais antigos de eventos vulcânicos e
plutônicos. Eles são constituídos de uma massa de cristais de clinopiroxênio
magnesiano sendo clinopiroxenitos ou wehrlitos. Raramente contêm cristais
de olivina. Além do predominante clinopiroxênio em textura cumulática,
existem as fases minerais intercumulus são plagioclásio acicular, pigeonita,
ferroaugita, titanomagnetita, pirita, troilita, cloroapatita e rara sílica amorfa.
A presença de lamelas de exsolução nos cristais de augita dos cristais
cumuláticos indica lento resfriamento em uma câmara magmática indicando
que os nakhlitos são produto de cristalização fracionada em uma câmara
magmática em um complexo máfico-ultramáfico acamadado. A próxima
evolução dos nakhlitos seriam rochas gabróicas nas porções mais superficiais
dessa câmara magmática.

O meteorito Yamato 000593 foi achado na 41ª Expedição de Pesquisa


Antártica Japonesa em dezembro de 2000 na geleira de Yamato nas
Montanhas de Queen Fabiola, no continente Antártica. A petrografia revelou
uma rocha ígnea ultramáfica cumulática onde predominam cristais de augita
com geminação polissintética e uma pequena quantidade de olivina. A matriz
intercumulus é constituída de cristais radiais de plagioclásio (26 a 32 mol% de
anortita; 4 a 8 mol% de ortoclásio). A olivina tem composição de 67 a 78 mol%
de fayalita e piroxênio de composição 20 a 40 mol% enstatita e 38 a 40 mol%
de wollastonita. Foi classificado como acondrito marciano nakhlito. A idade de
ejeção da crosta marciana foi caculada em 11 milhões de anos, a idade de
cristalização magmática foi calculada em 1,3 Ga semelhante a todos os outros
nakhlitos e a idade terrestre foi calculada em 50 mil anos. Dados de
microscopia eletrônica revelam pequenas esferas orgânicas. Tais estruturas
foram consideradas como possíveis fósseis de microorganismos marcianos
pelos pesquisadores da NASA envolvidos no estudo publicado. A principal fase
de alteração aquosa é a iddingsita e dados de microscopia eletrônica
demonstram que essa iddingsita é de origem marciana, indicando água líquida
como ativo fluido de alteração mineralógica nas rochas marcianas in situ.

MASSAS INDIVIDUAIS DO METEORITO NAKHLA.

O NAKHLITO YAMATO 000593.

3. Chassignitos:

São rochas ultramáticas compostas por mais de 90 vol% de olivina recebendo


a nomenclatura de dunitos. Existem dois chassignitos de grande massa, o
Chassigny e o NWA 2737. Os isótopos estáveis de oxigênio desses dois
meteoritos plotam exatamente na reta de fracionamento marciana. Eles são
essencialmente rochas cumuláticas compostas de olivina e cromita, contendo
pequeno percentual de piroxênios. A composição das olivinas é uniforme,
sendo magnesiana. Existem inclusões nos grãos de olivina consistindo de
anfibólios, indicando condições oxidantes de cristalização do magma
ultramáfico. O meteorito NWA 2737 é preto devido a pequenas inclusões de
nanopartículas de ferro metálico formadas por intenso estágio de choque que
ejetou a rocha da crosta de Marte deixando os grãos de olivina, que eram
originalmente verdes, com coloração cinza escura. Os chassignitos possuem
alto estágio de choque contendo maskelynita e olivina com mosaicismo. A
idade de cristalização dos chassignitos foi calculada em 1,3 Ga, indicando uma
provável cogeneticidade com os nakhlitos. Os chassignitos seriam porções
mais profundas dos corpos plutônicos alojados na crosta marciana, sendo
produto da cristalização inicial acumulando os grãos de olivina na base da
câmara e acima dessas camadas de dunitos estariam os pulsos de magma mais
ricos em piroxênio que seriam os nakhlitos.

FRAGMENTO DO CHASSIGNITO NWA 2737.

4. ALH 84001:
Esse meteorito foi descoberto nas montanhas de Allan Hills em 1984 pela
equipe ANSMET de caça aos meteoritos na Antártica. Ele foi primeiramente
classificado como diogenito devido a consistir de um ortopiroxenito. No
entanto após avaliar o grau de oxidação dos minerais no meteorito e os gases
retidos nas inclusões fluidas descobriu-se que esta rocha se tratava na verdade
de um raro ortopiroxenito de origem marciana. O meteorito ALH 84001 é o
pedaço mais antigo da crosta do planeta Marte já encontrado. A idade de
cristalização da rocha foi medida em 3,9 Ga colocando essa rocha em um
contexto das primeiras eras geológicas do planeta Marte quando sua crosta
estava recentemente consolidada a partir de um oceano de magma. Análises
isotópicas mostraram que a idade terrestre dele é de 13 mil anos. A idade de
exposição cósmica mostra que o meteorito foi ejetado da crosta de Marte há 16
milhões de anos. Esta rocha fazia parte das porções mais internas dos
derrames mais antigos de magma. A massa total do meteorito era de 1,9 kg.
Um artigo científico publicado em 1996 por pesquisadores da NASA mostram
análises de grãos de carbonatos de ferro e cálcio presentes no interior do
meteorito que parcem conter evidências de vida microbiana fossilizada
oriunda do planeta Marte. Essa publicação mostra que ao redor dos glóbulos
de carbonato, provavlemente precipitados por ação de águas intersticiais que
percolavam a rocha no planeta vermelho, existem estruturas filamentosas que
foram resolvidas no microscópio eletrônico de varredura. Estas estruturas
pareciam muito com bactérias embora muito menores do que uma bactéria
convencional. Além disso, dados de espectrometria de massa revelaram a
presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAHs em inglês) no
interior do ALH 84001. Os pesquisadores concluíram que esses PAHs eram
resultantes da decomposição dos microorganismos marcianos no interior do
meteorito e todas as evidências juntas apontavam que esse meteorito continha
estruturas fósseis de formas de vida microscópicas de origem extraterrestre. O
estudo foi questionada pelos anos seguintes e hoje vários pesquisadores
concluem que essas estruturas não são de origem biológica, que os PAHs são
resultantes de contaminação terrestres e que os carbonatos são oriundos
exclusivamente de processos inorgânicos na crosta marciana.

METEORITO ALH 84001.

IMAGEM AO MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE VARREDURA DE UMA AMOSTRA DO


METEORITO ALH 84001 MOSTRANDO O QUE PARECEM SER ESTRUTURAS
FILAMENTOSAS INTERPRETADAS PREVIAMENTE COMO NANOBACTÉRIAS
MARCIANAS FOSSILIZADAS.
15.Os Meteoritos Rocho-Metálicos

FATIA POLIDA DO PALLASITO ESQUEL, OBSERVAR OS BELOS CRISTAIS


AMARELOS DE OLIVINA EM MEIO À MATRIZ METÁLICA.

Os meteoritos rocho-metálicos são compostos de dois grupos de meteoritos


que representam eventos mistos de diferenciação asteroidal com impactos de
hipervelocidade entre asteroides e/ou protoplanetas. No início do Sistema
Solar vários pequenos corpos de dimensões variando de 100 km até 1000 km
adquiriram crosta, manto e núcleo e a frequência de colisões entre esses
corpos era muito alta. Como resultado esses corpos colidiam e seus estilhaços
eram misturados de diversas formas. Fragmentos do núcleo metálico de um
desses corpos poderia colidir com a crosta basáltica de outro formando novos
tipos de corpos asteroidais em texturas de brechas. Já em situações específicas
poderia acontecer o recente mecanismo proposto pelos pesquisadores do
ferrovulcanismo em que magma de composição metálica pode fluir através do
manto de um corpo protoplanetário formando uma massa de ferro-níquel
metálico sustentando cristais de olivina de porções da crosta ou do manto do
asteroide diferenciado. Os dois grupos de meteoritos rocho-metálicos
formados nestes contextos são os mesossideritos e os pallasitos.

1. Mesossideritos:

São brechas compostas de 50% de minerais silicáticos e 50% de ferro-níquel


metálico. A parte silicática consiste de minerais em massas de textura ígnea,
clastos líticos, isto é, fragmentos de outras rochas normalmente de
composição basáltica semelhante aos eucritos e uma matriz de granulação
mais fina fragmentária ou de textura ígnea. Os clastos líticos presentes nos
mesossideritos são basaltos, piroxenitos, gabros, raros dunitos e cristais
individuais de olivina e ainda mais raro ocorrem anortositos. Existe um
gradiente de granulação variando desde os clastos líticos até grãos individuais
indicando processos de formação de brechas com diversos eventos de mistura
de componentes na rocha. Os clastos de grãos minerais incluem ortopiroxênio
de granulação grossa, plagioclásio e olivina.
FATIA CHEIA DO MESOSSIDERITO VACA MUERTA, OBSERVAR OS NÓDULOS DE
FERRO-NÍQUEL SE DESTACANDO PELOS REFLEXOS DA LUZ.

Os mesossideritos são subdivididos em três classes petrológicas de acordo


com a frequência de ortopiroxênio. De acordo com a abundância de
ortopiroxênio, o caráter da rocha vai se modificando de máfico para
ultramáfico. Os mesossideritos tipo A possuem composição basáltica, os tipo
B são rochas ultramáficas de assembleia plagioclásio-piroxênio com maior
teor de piroxênio que os basálticos e os tipo C são ortopiroxenitos. Estes três
tipos são por sua vez subdivididos em quatro subtipos de acordo com o grau
de recristalização dos grãos minerais na rocha denotando diferentes graus de
metamorfismo termal. Indo do menor para o maior grau metamórfico, o grau
1 é caracterizado por uma matriz fragmentária de granulação fina
apresentando desequilíbrio termodinâmico dos cristais pela heterogeneidade
das composições molares dos minerais individuais, os graus 2 e 3 são
caracterizados por uma matriz fragmentária recristalizada com vários estágios
de equilíbrio das concentrações molares dos componentes nos minerais e o
grau 4 são brechas contendo matriz fundida. O grau de recristalização grada
desde metamorfismo incipiente no grau 1 até fusão parcial da textura original
no grau 4.

A caracterização dos graus metamórficos é um tanto quanto difícil porque


existem texturas nos mesossideritos que podem ser confundidas com outras,
por exemplo, uma matriz recristalizada é texturalmente igual a uma matriz de
granulação fina de natureza ígnea derivada de processos ígneos em outro
asteroide ou processos de fusão do material ultramáfico devido a impactos de
hipervelocidade. No entanto, a critério preliminar, os graus metamórficos são
muitas vezes considerados. Por exemplo, um mesossiderito basáltico de grau 4
é classificado utilizando a nomenclatura "4A". O ferro-níquel metálico nos
mesossideritos consistem de 20 a 80% em teor modal na rocha e ocorrem na
forma de grãos milimétricos a submilimétricos entre os grãos silicáticos e às
vezes formando nódulos individuais. Evidências químicas e texturais
demonstram que a fase metálica nos mesossideritos estava fundida quando da
mistura com os clastos silicáticos e texturas de kamacita bordejando grãos de
taenita indicam lento resfriamento, indicando um magma metálico em meio a
grãos silicáticos sólidos.

A composição isotópica de oxigênio dos mesossideritos é uniforme e similar


aos valores dos acondritos HED. Dados de razão Mn/Cr indicam que o
fracionamento dos elementos químicos no corpo parental dos mesossideritos
ocorreu 2 Ma após o fracionamento no asteroide parental dos acondritos HED.
Alguns eucritos anômalos foram identificados como oriundos de um
mesossiderito e não do asteroide 4 Vesta ou asteroides vestoides. A presença
do mineral metamórfico cordierita no mesossiderito Chaunskij indica que este
pode ter se formado em um corpo parental com pelo menos 400 km de
diâmetro, similar ao tamanho do asteroide 4 Vesta. É provável que os
mesossideritos derivem de diversos processos de formação de brechas através
de impactos entre corpos previamente diferenciados. Muitos mesossideritos
podem ter sido resultado de impacto entre um asteroide metálico e um
diversos fragmentos da crosta de asteroides vestoides, daí a similaridade com
os eucritos.

GRÁFICO DE ISÓTOPOS ESTÁVEIS DE OXIGÊNIO MOSTRANDO VÁRIOS GRUPOS


DE ACONDRITOS, NOTAR NO TOPO QUE OS MESOSSIDERITOS PLOTAM NA
MESMA REGIÃO DE FRACIONAMENTO DOS ACONDRITOS HED.

Exemplo de um mesossiderito é o meteorito Chinguetti, achado em 1916 na


região de Adrar na Mauritânia à 45 km da cidade de Chinguetti. O descobridor
do meteorito, Gaston Ripert, dizia que a amostra coletada por ele fazia parte
de uma massa gigantesca de meteorito com 40 metros de altura e 100 metros
de largura. Infelizmente o relato de Ripert nunca foi confirmado. A massa
total do meteorito era de 4,5 kg. A petrografia realizada em 1982 revelou, em
volume percentual, piroxênio 42%, kamacita 39%, troilita 14%, plagioclásio
3%, merrilita <2% e tridimita 0,5%. A troilita se apresenta de forma
intersticial entre os silicatos e a fase metálica. O meteorito é uma brecha
marcada tipicamente por nódulos e clastos de composição semelhante a dos
howarditos em uma matriz intersticial metálica. A composição química
mineralógica revelou para os piroxênios fayalita 21 mol%, enstatita 77 mol% e
wollastonita 1,6 mol%. A composição da fase metálica foi níquel 7,60 mol%, a
razão Ca/Al em massa foi 0,88. A idade de exposição cósmica foi calculada em
66 Ma e a idade terrestre foi calculada em 18 mil anos. O raio calculado do
meteoroide pré-terrestre foi cerca de 80 cm. O meteorito foi classificado como
mesossiderito tipo 1B.

FATIA POLIDA DO MESOSSIDERITO CHINGUETTI

2. Pallasitos:

Representam meteoritos rocho-metálicos compostos de partes quase iguais de


silicatos ferromagnesianos, principalmente olivina, ferro-níquel metálico e
troilita. Os pallasitos são essencialmente rochas compostas de cristais grandes
de olivina amarela ou esverdeada sustentadas por uma matriz metálica de
ferro-níquel. Existem três tipos de pallasitos que são distinguidos pela
mineralogia e química mineral representando amostras de pelo menos três
diferentes asteroides parentais. Eles são subdivididos em (1) Grupo Principal;
(2) O Pequeno Grupo Eagle Station e (3) Pallasitos contendo piroxênio.

Os Pallasitos do Grupo Principal consistem de meteoritos compostos


dominantemente por cristais de olivina amarela arredondadas ou angulares
com pequenas quantidades de piroxênio pobre em cálcio, fosfatos raros
(farringtonita, stanfieldita e whitlockita), cromita, troilita e schreibersita. A
maioria deles contém olivina altamente magnesiana com cerca de 88 mol% de
forsterita e alguns contém olivinas mais ricas em ferro contendo 82 mol% de
fayalita. A fase metálica tem composição próxima da dos meteoritos metálicos
IIIAB ricos em níquel. Eles normalmente não apresentam feições de choque e
não são brechas.

Os pallasitos do pequeno grupo Eagle Station diferem dos do grupo principal


por apresentarem cristais de olivina mais ricos em ferro e cálcio. A fase
metálica é próxima da composição dos meteoritos metálicos do grupo IIF,
possuindo maior teor de níquel e irídio em relação aos pallasitos do grupo
principal. Esses pallasitos possuem geoquímica isotópica do elemento cromo
semelhante a dos condritos carbonáceos do grupo CV sugerindo que podem
ser resultantes da diferenciação asteroidal de corpos parentais de grandes
dimensões com composição originalmente condrítica carbonácea desse grupo
químico. Os pallasitos contendo piroxênio diferem dos demais por conterem
cristais milimétricos de piroxênio. Por exemplo, o pallasito Yamato 8451
contém 14-63 vol% de olivina, 30-43 vol% de fase metálica, o,7-3 vol% de
piroxênio e 0-1 vol% de troilita e whitlockita. O teor modal de ortopiroxênio
varia muito nesses pallasitos podendo chegar até 34 vol%. Os teores de irídio,
ouro e germânio são similares aos pallasitos Eagle Station e o teor de níquel
neles é similar aos do grupo principal. Essas semelhanças e discrepâncias
entre os grupos de pallasitos sugerem conexões na origem deles, mas em
diferentes corpos parentais.

UM CORTE DE UM INDIVIDUAL DO PALLASITO BRENHAM.

Uma teoria mais antiga invocava impactos de hipervelocidade para a


formação dos pallasitos. Como nestes impactos a fusão era total, não se
preservava a textura de brecha de impacto nestes pallasitos, mas não se
explica a ausência de outros minerais silicáticos além da abundante olivina.
Outra hipótese é de que os pallasitos representam amostras da interface entre
a base do manto, de composição dunítica, e o topo do núcleo metálico de um
asteroide diferenciado. Teores de elementos siderófilos voláteis como ouro e
gálio são elevados nos pallasitos em relação aos meteoritos metálicos
corroborando com a origem mantélica dos mesmos.

No entanto, novos estudos sugerem um mecanismo extra na formação dos


pallasitos, o ferrovulcanismo. Neste contexto, asteroides diferenciados
conteriam plútons de magma metálico em meio a material dunítico encaixante.
Como resultado de diferença de pressão do interior para o exterior do
asteroide, esse magma metálico contendo xenólitos de olivina e outros
minerais acessórios ascenderia à superfície ou se alojaria na subsuperfície
desse asteroide cristalizando os pallasitos. A origem dos pallasitos continua
um mistério e pode ser que a resposta seja que as três hipóteses funcionem em
conjunto produzindo os diversos grupos de pallasitos existentes.

Exemplo de um pallasito é o meteorito Sericho, achado em 2016 no Kênia por


dois irmãos que estavam à procura de seus camêlos e encontraram várias
rochas grandes e densas numa região onde não haviam muitas rochas em
Sericho no Kênia. Eles decidiram coletar todas que puderam acreditando
serem meteoritos. De fato eram meteoritos. O campo de espalhamento tem
mais de 45 km de extensão de eixo e massas variando de menores de 1 até 500
kg foram coletadas nesta área. A massa total coletada foi de 2,8 toneladas. A
petrografia revela 70% em volume de olivina e < 1% vol. de cromita imersos
em uma massa de ferro-níquel metálico.

UM ENDCUT DO PALLASITO SERICHO.

Os grãos de olivina (composição - fayalita 12,3 mol%; FeO/MnO = 57,4,


Cr2O3 = 0,03) são em sua maioria arredondados com tamanhos variando de
0,5 a 1 cm, menos comumente euédricos com cor verde claro a laranja. A
matriz metálica é composta de cristais de kamacita (composição - níquel 7,1 %
em massa, Co = 0,81 wt%, P = 0,06 wt%) que bordejam os cristais de olivina
com porções de plessita mais escura. Regiões do meteorito onde predomina a
matriz metálica existem padrões de Widmanstätten desenvolvidos. Minerais
acessórios são schreibersita (composição - (Fe1,51Ni1,45Co0,01)P) e troilita.

MODELO DO FERROVULCANISMO EM UM ASTEROIDE METÁLICO, UM NOVO


MECANISMO PROPOSTO PARA FORMAÇÃO DOS PALLASITOS.
16.Os Meteoritos Metálicos: Antigos Núcleos de Protoplanetas

UM DOS MILHARES DE FRAGMENTOS DO FAMOSO METEORITO METÁLICO


SIKHOTE-ALIN, CAÍDO NA RÚSSIA EM 1947.

Os meteoritos metálicos são fascinantes rochas extraterrestres completamente


constituídos de uma liga natural de ferro-níquel. Esses pedaços de ferro
metálico com grande conteúdo em níquel normalmente têm tamanhos
grandes em geral porque sobrevivem melhor à entrada atmosférica. Seus
meteoroides são resistentes à ablação e quando chegam à superfície adquirem
uma camada de óxido metálico resistente que o protege por milhares de anos
do intemperismo químico. O maior meteorito do mundo documentado até
hoje é o Hoba West, um meteorito metálico de 60 toneladas com composição
rica em níquel. Esse meteorito é tão pesado que ninguém conseguiu retirá-lo
do local onde foi encontrado.

A composição mineralógica geral dos meteoritos metálicos, chamados pelo


apelido coletivo de sideritos, é constituída de ferro-níquel em duas fases
distintas e que ocorrem em soluções sólidas, a kamacita, mais rica em ferro, e
a taenita, mais rica em níquel. Estas duas são as principais fases. Em geologia
quando um magma de composição específica está solidificando lentamente, os
cristais que se formam a partir do líquido magmático primeiro criam germes
de cristalização e crescem em tamanhos grandes, quanto mais lenta for a taxa
de solidificação do líquido magmático maior o tamanho dos cristais gerados.
Além disso, num processo de lenta cristalização magmática, quando uma fase
mineral admite uma ampla faixa de composições elementares, por exemplo,
um cristal de plagioclásio permite percentuais variados de sódio e cálcio em
um mesmo sítio cristalográfico, se desenvolvem soluções sólidas, isto é, séries
minerais isomórficas que apresentam a mesma estrutura cristalina, mas
percentuais variados dos cátions metálicos em sua composição.

Quando o potássio, de raio iônico maior que o sódio e o cálcio, está presente
no magma e a cristalização é lenta, o sítio cristalográfico do plagioclásio não
admite a entrada dos íons potássio expulsando o mesmo do sítio e este começa
a constituir uma nova fase à parte da série isomórfica do plagioclásio,
formando álcali-feldspato. O processo de separação de fases quando ocorre
lenta cristalização magmática é chamado de exsolução. No exemplo citado a
fase ortoclásio, o feldspato potássico, se apresenta intercalado com a fase do
plagioclásio cálcio-sódico e ocorre um padrão de exsolução denominado
pertita. No caso dos meteoritos metálicos observa-se um padrão de
intercrescimento com geometria octaédrica na maioria das composições de
ferro-níquel e este padrão representa um evento de exsolução das fases
kamacita e taenita devido ao lento resfriamento do magma metálico original.
A partir da informação de que existe uma estrutura de exsolução magmática
nos meteoritos metálicos, conclui-se que para haver tal cristalização lenta é
necessário que este corpo de metal líquido estivesse dentro de um ambiente
que mantesse a temperatura alta por longos períodos de tempo, mais
especificamente, centenas de milhões de anos. Os pesquisadores concluíram
que os meteoritos metálicos são amostras de antigos núcleos de ferro-níquel
que existiam nos protoplanetas ou embriões planetários.

CORTE DE METEORITO METÁLICO POLIDO E TRATADO QUIMICAMENTE PARA


REVELAR AS ESTRUTURAS DE WIDMANSTÄTTEN QUE REPRESENTAM PADRÕES
DE EXSOLUÇÃO DA FASE KAMACITA A PARTIR DA FASE TAENITA, SENDO AMBAS
SÉRIES ISOMÓRFICAS DA LIGA METÁLICA NATURAL DE FERRO-NÍQUEL. ESTES
PADRÕES DE EXSOLUÇÃO OCORREM QUANDO MAGMA CRISTALIZA
LENTAMENTE.

Simulações de computador demonstram que na fase de acreção planetária do


sistema solar, os protoplanetas tinham tamanhos que variavam entre o
diâmetro da Lua e o diâmetro de Marte. Estes corpos tinham massa suficiente
para terem sido submetidos à diferenciação planetária em crosta, manto e
núcleo. A taxa de colisões entre os protoplanetas era elevada e então muitos
destes colidiam e eram dilacerados expondo suas camadas internas, incluindo
pedaços de seus núcleos metálicos. Ao segurar uma amostra de meteorito
metálico, você está tendo um vislumbre de como seria ter uma amostra do
núcleo da Terra. Este é uma amostra do núcleo de uma antigo protoplaneta
que foi quebrantado por colisões cósmicas que aconteceram há 4,5 bilhões de
anos!
MODELOS DOS CORPOS PARENTAIS DOS METEORITOS, OBSERVE QUE OS
METEORITOS METÁLICOS, OS SIDERITOS, TÊM SUA ORIGEM EM ANTIGOS
NÚCLEOS DE PROTOPLANETAS DIFERENCIADOS EM CROSTA, MANTO E NÚCLEO
METÁLICO. ESTES CORPOS FORAM ESTILHAÇADOS EM GIGANTESCAS COLISÕES
ENTRE EMBRIÕES PLANETÁRIOS HÁ 4,5 BILHÕES DE ANOS.

Os meteoriticistas estimam que existam cerca de 50 asteroides com tamanhos


variando de 5 - 100 km de diâmetro médio que são a fonte dos meteoritos
metálicos. Estes asteroides seriam fragmentos de antigos núcleos de
protoplanetas. A mineralogia secundária deles é normalmente fases contendo
fósforo e carbono, tais como a schreibersita, o fosfeto de ferro-níquel e a
cohenita, o carbeto de ferro-níquel. Quando a schreibersita ocorre em cristais
euedrais (cristais com as faces bem definidas) é chamada de rhabdita. Em
muitos meteoritos metálicos ocorrem abundantes nódulos de troilita e grafita.
Estes nódulos são produto da cristalização do magma metálico que exsolveu o
enxofre, o fósforo e o carbono originalmente dissolvidos no líquido, formando
fases minerais não metálicas separadas da kamacita e taenita. Regiões de
rápida cristalização, seja por choques cósmicos tardios no asteroide parental
metálico, ou por anomalias termais no núcleo do protoplaneta, desenvolveram
uma fase que representa porções criptocristalinas ou amorfas de
kamacita-taenita, numa liga sem estruturação interna chamada de plessita. Os
elementos químicos menores, isto é, aqueles que se apresentam em
concentrações abaixo de 1% em massa no meteorito são comumente cobalto e
cromo. Elementos químicos traços, ou seja, aqueles que estão na faixa de 100
ppm ou menos são comumente gálio, germânio, irídio, platina, paládio, ródio,
rutênio e ouro.
DETALHE DE CORTE POLIDO E TRATADO QUIMICAMENTE DO METEORITO
METÁLICO ODESSA EVIDENCIANDO UM NÓDULO DE TROILITA, PROTOSULFETO
DE FERRO, BORDEJADO POR SCHREIBERSITA, FOSFETO DE FERRO E NÍQUEL,
TUDO ISSO IMERSO NA MASSA DE FERRO-NÍQUEL.

Realizando análises da geoquímica dos elementos traço nos meteoritos


metálicos e normalizando com respeito aos teores de níquel os meteoriticistas
agrupam os meteoritos metálicos em 13 grupos químicos específicos: IAB, IC,
IIAB, IIC, IID, IIE, IIIAB, IIICD, IIIE, IIIF, IVA, IVB, IIG, UNG. O último é
para os meteoritos que não se agrupam a nenhum destes 13 grupos químicos
sendo classificado como IRON UNGROUPED, ou "ferro não agrupado". Com
relação à textura de exsolução de kamacita e taenita, da mesma forma como a
pertita se forma em magmas silicáticos, esta recebe o nome especial de Padrão
de Widmanstätten, e ela é revelada quando uma face polida do meteorito é
tratada com ácido nítrico dilúido e álcool isopropílico revelando regiões mais
ricas em níquel e menos ricas em níquel, os padrões de exsolução das fases de
ferro-níquel. Existe uma relação entre à presença deste padrão e o teor de
níquel em massa do meteorito. Com base no teor de níquel, os meteoritos com
menos de 5% de Ni são denominados de hexaedritos e não contêm padrão de
Widmanstätten, os meteoritos com teores de Ni entre 5% e 18% são chamados
de octaedritos e possuem o padrão de Widmanstätten, e recebem também
subclassificações dadas pela espessura da banda de exsolução em octaedrito
fino, octaedrito médio, octaedrito grosso e octaedrito plessítico. Os meteoritos
com teores de níquel superiores a 20% são denominados ataxitos, e não
possuem padrão de Widmanstätten, mas são totalmente formados de uma
massa plessítica devido ao teor elevado de níquel ter "preenchido" a lacuna de
exsolução durante a cristalização do metal.
GRÁFICOS DE CLASSIFICAÇÃO DOS METEORITOS METÁLICOS AQUI MOSTRANDO
AS RELAÇÕES ENTRE O PERCENTUAL EM MASSA DE NÍQUEL E OS TEORES DOS
ELEMENTOS TRAÇO OURO E RUTÊNIO EM PPM. NOTAR QUE PLOTAM-SE
PONTOS QUE CAEM EM REGIÕES ESPECÍFICAS, OS TREZE GRUPOS QUÍMICOS
DOS SIDERITOS.

No modelo de lenta cristalização no núcleo de um protoplaneta, as taxas de


resfriamento do metal líquido se apresentam numa faixa de temperatura entre
700 K a 1000 K. As mudanças que ocorrem durante a lenta cristalização do
núcleo de um protoplaneta são as exsoluções tanto de fases metálicas quanto
de fases não metálicas e esta gera os padrões de Widmanstätten que seguem a
orientação cristalográfica octaédrica em planos de kamacita em meio à taenita.
Dados de temperatura de pico e taxa de resfriamento podem ser inferidos
medindo a espessura das bandas de kamacita no padrão de Widmanstätten e
correlacionando esta informação com a variação do teor de níquel ao longo da
banda analisada.

Este tipo de análise se faz em microssonda eletrônica para obter valores


precisos de composições pontuais de níquel ao longo de uma banda de taenita
ou kamacita. Este procedimento deriva as taxas de resfriamento da estrutura
de Widmanstätten porque a espessura da banda de exsolução tem a ver com a
taxa de difusão de átomos de níquel quando ocorre o processo de resfriamento,
nucleação e crescimento dos cristais de kamacita que se separam dos cristais
de taenita. A difusão dos átomos de níquel é mais lenta na fase taenita do que
na kamacita. O resultado é que quando a kamacita começa a cristalizar, a
cristalização da taenita é suprimida no centro de uma banda de exsolução e
tende a crescer nas bordas de uma banda de taenita. Como exemplo, para um
meteorito com 8,4% em massa de niquel e 0,08% em massa de fósforo, a taxa
de resfriamento foi calculada como 500 K/Ma, ou seja, 500 kelvins por milhão
de anos. Taxas de resfriamento típicas estão entre 1000 K/Ma a 5000 K/Ma.
GRÁFICO DA RELAÇÃO ENTRE MEDIDAS PONTUAIS DO TEOR DE NÍQUEL AO
LONGO DE UMA BANDA DE EXSOLUÇÃO DE KAMACITA E AS DISTÂNCIAS DE
MEDIÇÃO AO LONGO DA ESPESSURA DA BANDA. PLOTANDO ESTE GRÁFICO
INFERE-SE POR CÁLCULOS A TAXA DE RESFRIAMENTO EM KELVINS/MILHÃO DE
ANOS DO NÚCLEO PROTOPLANETÁRIO QUE DEU ORIGEM AO METEORITO
METÁLICO ANALISADO.

Plotando num gráfico o teor de níquel em massa percentual e a temperatura


de formação das fases metálicas produzimos um diagrama de equilíbrio de
fases que demonstra como as fases kamacita e taenita se separam com o
avanço da cristalização de um líquido metálico inicialmente homogêneo em
termos químicos. O diagrama de fases demonstra que durante a cristalização
de uma banda de kamacita, a primeira fase a cristalizar a partir de exsolução
da fase taenita é a martensita, uma fase polimórfica de alta temperatura da
kamacita. A martensita inverte para kamacita quando as bandas de exsolução
evoluem durante o processo de resfriamento do núcleo do protoplaneta. Neste
modelo se prevê então as taxas de resfriamento dos meteoritos metálicos.
Dados de taxa de resfriamento foram calculados para corpos parentais de 5
km até 200 km de diâmetro. No entanto, foram medidas diferentes taxas de
resfriamento para um mesmo grupo químico, o que é interpretado como
diferentes taxas de resfriamento para um mesmo núcleo de protoplaneta e isto
é impossível. Um mesmo corpo parental deve ter a mesma taxa de
resfriamento. Isto acontece, por exemplo, para um dos grandes grupos de
meteoritos, o grupo IVA, que apresenta uma ampla faixa de taxas de
resfriamento variando entre 10 K/Ma até 6000 K/Ma.
DIAGRAMA DE FASES DO TEOR DE NÍQUEL EM PERCENTUAL MOLAR VERSUS A
TEMPERATURA MEDIDA EM KELVINS MOSTRANDO UMA LACUNA
COMPOSICIONAL ENTRE AS FASES KAMACITA, ESTÁVEL COM TEORES DE
NÍQUEL MENORES E TAENITA, ESTÁVEL COM TEORES DE NIQUEL MAIORES. O
PROCESSO DE EXSOLUÇÃO ACONTECE SOB LENTO RESFRIAMENTO DO LÍQUIDO
METÁLICO DEVIDO À LENTA EXSOLUÇÃO DE ÁTOMOS DE NÍQUEL AO LONGO DA
ESTRUTURA DA TAENITA.

Modelos de impactos de alta velocidade pós colisões entre protoplanetas


foram invocados para explicar estas discrepâncias, mas de acordo com alguns
pesquisadores, talvez a interpretação dos dados esteja falha ou outros
mecanismos desconhecidos ocorreram no corpo parental para gerar estes
dados discordantes. Uma provável explicação seria a de fusão parcial em um
asteroide parental onde plútons de magma metálico se desenvolveram em
diferentes profundidades num mesmo corpo parental, então estes
pertenceriam ao mesmo grupo químico e teriam taxas de resfriamento
diferentes explicando o que observamos para o grupo IVA. Estes corpos com
plútons metálicos seriam parcialmente diferenciados, o mecanismo de geração
desse magmatismo diferente do modelo tradicional de um núcleo sozinho no
interior de um protoplaneta pode realmente ser impacto cósmico. Um
impacto de alta velocidade pode fundir material metálico de asteroides
diferenciados ou mesmo condríticos e produzir um corpo que se aglutina
gravitacionalmente com porções metálicas em várias posições no interior
deste novo corpo parental desenvolvendo histórias térmicas distintas, mas a
mesma composição química. Modelagem numérica feita por pesquisadores
considerando as múltiplas taxas de resfriamento dos meteoritos do grupo IVA
revelam que o corpo parental resultante deste impacto gigante teria de ter
cerca de 300 km de diâmetro, sendo involto por um manto de silicato
totalizando 600 km de diâmetro, cerca de 100 km maior do que o asteroide
Vesta. Um exemplo mostrado de um fragmento deste colossal corpo parental
seria o asteroide 216 Kleopatra com raio maior de 217 km.
MODELO DIGITAL DO ASTEROIDE METÁLICO 216 KLEOPATRA COM SEU
FORMATO DETERMINADO POR IMAGEAMENTO DE RADAR, AO LADO ESTÃO
PARA COMPARAÇÃO DE TAMANHO OS ASTEROIDES 433 EROS E 1620
GEOGRAPHOS.

Um modelo de formação de asteroides metálicos foi desenvolvido pelo


pesquisador Erik Asphaug e sua equipe da Universidade da Califórnia. Neste
modelo de colisão, dois protoplanetas do tamanho de Marte colidem de
maneira tangencial expondo seus núcleos metálicos e mantos silicáticos
deixando para trás uma trilha de corpos metálicos e silicáticos. Esta trilha
pode se reagrupar gravitacionalmente em um novo corpo parental totalmente
metálico ou rocho-metálico dando origem aos meteoritos metálicos como os
do grupo IVA e aos meteoritos rocho-metálicos. Este tipo de evento pode ter
sido comum na época de acreção planetária onde inúmeros protoplanetas com
diâmetros de ~ 1000 km vagavam no sistema solar jovem. Além disso,
evidências geoquímicas nos meteoritos do grupo IVA corroboram com este
modelo. A concentração de elementos traço siderófilos voláteis como gálio e
germânio é menor nos meteoritos deste grupo, indicando que um evento
termal volatilizou estes elementos deixando para trás uma assinatura
geoquímica relativa negativa de gálio e germânio, indicando que este
meteorito representa resíduo de impactos cósmicos de alta velocidade entre
protoplanetas. Isto porque estes eventos têm energia suficiente para evaporar
elementos voláteis do material metálico.

RESULTADOS DA SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE ASPHAUG E SUA EQUIPE PARA O


MODELO DE COLISÃO ENTRE DOIS PROTOPLANETAS QUE PRODUZEM APÓS O
CHOQUE INÚMEROS CAROÇOS DE METAL E MATERIAL SILICÁTICO QUE SE
AGLUTINAM EM PEQUENOS CORPOS QUE SÃO PROVAVELMENTE OS
DERIVADORES DOS ASTEROIDES DE ORIGEM DOS METEORITOS METÁLICOS E
ROCHO-METÁLICOS.

Dados isotópicos dos meteoritos metálicos revelam que estes foram formados
cerca de 1,5 milhão de anos após a formação dos sólidos mais antigos gerados
no disco protoplanetário, as CAIs, as inclusões refratárias cálcio-aluminosas.
Isto quer dizer que os corpos parentais dos meteoritos metálicos,
protoplanetas com cerca de 1000 km de diâmetro, já haviam se formado
muito antes da acreção dos corpos planetesimais dos condritos. Esta pode ser
uma evidência indireta de que os côndrulos realmente são produto de eventos
pós acreção planetesimal, de uma época posterior à formação dos embriões
planetários. O sistema isotópico Hf-W é utilizado para datar eventos de
separação entre fases metálicas e fases silicáticas. Quando os protoplanetas se
formaram pela aglutinação gravitacional de poeira protoplanetária, o calor
liberado pelo decaimento radioativo do isótopo Al-26 incorporado nos
protoplanetas foi o responsável pela fusão e diferenciação dos mesmos em
crosta, manto e núcleo metálico.

Durante o processo de separação das fases metálicas e formação do núcleo, a


crosta silicática fraciona melhor o isótopo háfnio-182, um elemento litófilo,
tem afinidade à fase silicática, e o núcleo fraciona melhor, ou seja, arrasta
consigo o isótopo tungstênio-182, que é um elemento siderófilo, tem afinidade
à fase metálica. A meia-vida de decaimento do háfnio-182 é de 10 milhões de
anos, então se uma amostra de meteorito metálico tem excesso de
tungstênio-182 com idade inferior a 10 milhões de anos após a formação das
CAIs, os sólidos mais antigos datados, então esse meteorito se formou logo
depois da formação das CAIs e se consolidou em um corpo planetário cerca de
1 milhão de anos antes da formação e aglutinação da maioria dos côndrulos
em planetesimais. Estes dados demonstram que de uma forma
espantosamente rápida, corpos do tamanho de Marte já existiam no sistema
solar quando este tinha apenas 1,5 milhões de anos.

A época em que os protoplanetas foram destruídos por colisões mútuas


expondo seus núcleos metálicos é a mais remota já registrada em datações de
exposição cósmica em meteoritos metálicos. Devido ao fato de sobreviverem
melhor à impactos cósmicos e permanecerem durante bilhões de anos no
espaço sem desenvolverem regolitos complexos, como no caso dos asteroides
rochosos, os asteroides metálicos estão expostos aos raios cósmicos, ou seja,
ao bombardeio de partículas subatômicas de alta energia oriundas de todas as
partes do Cosmos, incluindo os ventos solares. Estas partículas são
implantadas na rede cristalina dos minerais das fases metálicas e reagem com
núcleos de determinados elementos químicos produzindo isótopos específicos.
Tais isótopos gerados por colisões com raios cósmicos são chamados de
isótopos cosmogênicos. Quando um corpo parental é exposto aos raios
cósmicos ele acumula isótopos cosmogênicos em suas camadas mais externas.
Exemplos destes isótopos são cloro-36, berílio-10, criptônio-81, hélio-3 e
neônio-22. Estes isótopos têm uma taxa de decaimento radioativo.
Correlacionando análises de concentrações destes isótopos cosmogênicos é
possível determinar a idade mínima de exposição cósmica, ou seja, o intervalo
de tempo em que o asteroide ficou exposto ao espaço. A maioria dos
meteoritos rochosos têm idades de exposição cósmica máximas de 30 milhões
de anos, enquanto a maioria dos meteoritos metálicos têm idade de exposição
cósmica máxima de 1,2 bilhões de anos. Isto significa que o último grande
evento de impacto que estilhaçou o protoplaneta original, ou o fragmento
maior de protoplaneta original, destes meteoritos, foi há 1,2 bilhões de anos.
Sem dúvida os meteoritos metálicos ainda terão novas informações
fascinantes sobre o início do sistema solar.
17.Identificando Meteoritos em Campo

METEORITO FOSSILIZADO EM CAMADA DE CALCÁRIO DE IDADE ORDOVICIANA.

Os meteoritos são corpos de rocha oriundos do espaço interplanetário.


Constantemente sobre a Terra meteoroides atingem a atmosfera e alguns sobrevivem
à ablação atmosférica tornando-se bolas de fogo ou bólidos e caem na superfície
sendo chamados de meteoritos. Muitos meteoritos são encontrados em campo e sua
queda não é testemunhada por pessoas. Alguns meteoritos caíram na Terra há
milhões de anos como aqueles encontrados no gelo da Antártica.

Muitos ambientes do planeta recebem quedas de meteoritos e não os preservam


devido a alta taxa de intemperismo químico. Regiões como a Amazônia onde a taxa
de pluviosidade é elevada e há muita vegetação e lama, os meteoritos que lá caem são
completamente absorvidos por regiões ricas em vegetação e solo argiloso, sendo
obliterados por chuvas constantes e completamente convertidos em massas
irreconhecíveis de argila e óxido de ferro desaparecendo no ambiente.

Identificando os Meteoritos Achados

Os locais mais propícios a se encontrar meteoritos que se acumulem durante


milhares de anos são aqueles cuja taxa de intemperismo químico tende a zero. Tais
regiões mais apropriadas são as de clima seco, com temperaturas elevadas ou abaixo
de zero. Estes são os chamados desertos quentes e frios. Exemplos são o deserto do
Atacama e a Antártica sendo respectivamente desertos quente e frio. Nestas regiões
os meteoritos são preservados e acumulados normalmente por um longo período de
tempo com idades terrestres superiores a milhares de anos em média.

Os meteoritos nestas regiões são reconhecíveis por algumas de suas propriedades


ímpares como crosta de fusão, regmaglytos, feições superficiais de fluxo, presença de
ferro-níquel metálico, densidade elevada, tamanho em relação a seixos adjacentes no
ambiente, além do que os meteoritos residentes nos desertos quentes desenvolvem
outras feições adicionais tais como o verniz do deserto (desert varnish) e a pátina
desértica (desert patina). Todas estas feições são as principais utilizadas na
prospecção e identificação dos meteoritos em campo, principalmente nas regiões
desérticas quentes.

Algumas feições de alteração terrestre são principalmente fraturas internas de


expansão térmica e superficiais, estas últimas comumente chamadas de contraction
cracks que podem ser também de origem primária, geradas durante ablação
atmosférica criando elevado gradiente termal na crosta de fusão de meteoritos
rochosos. Em meteoritos com alto grau de alteração terrestre ocorrem fraturas
preenchidas com carbonatos e sulfatos, além de outros evaporitos como halita e
silvita em casos extremos. Outra feição de alteração terrestre evidente são as crostas
limoníticas de oxidação de meteoritos metálicos algumas vezes chamadas de pátina
desértica e também crostas de caliche na superfície do meteorito, além de crostas de
fusão secundárias, representando crostas de fusão completamente substituídas por
minerais terrestres tais como goetita, argilominerais, evaporitos e caliche. Desta
forma, os meteoritos apresentarão feições primárias e secundárias que estão
resumidas na Tabela. Todas estas feições serão consideradas. Há também os
chamados meteoritos fósseis, ou seja, aqueles que foram soterrados por sedimentos e
estes sedimentos foram convertidos em rocha sedimentar e os meteoritos foram
submetidos à diagênese modificando sua mineralogia básica, mas preservando sua
textura e alguns minerais primários tais como a cromita. Estes meteoritos fósseis são
reconhecidos por feições superficiais de sua “paleocrosta” de fusão e através de
análises de isótopos de oxigênio em minerais resistatos como a cromita.

Principais feições identificadas nos meteoritos em campo.

Feições Primárias Feições Secundárias


Crosta de Fusão Pátina
Regmaglytos Verniz Desértico
FeNi metálico Fraturas pervasivas
Feições Superficiais de Fluxo Veios de minerais secundários
Contraction Cracks Crosta Secundária
Formas Orientadas Contraction Cracks
Crosta de Caliche
Meteorito Fóssil

As Feições Primárias e Secundárias dos Meteoritos Achados

1. Feições Primárias

1.1. Crosta de Fusão: Consiste de uma casca fina de material fundido e cristalizado
rapidamente na superfície do meteoroide em queda gerando uma camada de
coloração normalmente preta ou marrom de brilho fosco ou vítreo com uma
espessura aproximada de 0,25 mm a 0,5 mm que envolve os meteoritos rochosos. Os
meteoritos metálicos desenvolvem uma crosta de fusão preta de brilho metálico com
espessura média de 0,25 mm composta principalmente de magnetita e óxidos de
níquel com traços de Fe-Ni metálico. A crosta de fusão é uma camada natural que
acaba protegendo o meteorito dos primeiros processos de substituição mineralógica
por intemperismo químico.

Os meteoritos rochosos condríticos geralmente desenvolvem uma crosta de fusão


preta de brilho fosco e quando estão já algum tempo no ambiente terrestre a crosta
preta oxida para uma coloração marrom avermelhada. Desta forma, quedas recentes
são reconhecidas pelo aspecto da crosta de fusão, que quando bem preservada terá
cores mais escuras. Meteoritos acondríticos geralmente possuem uma crosta de fusão
com brilho vítreo que desenvolve texturas de fluxo.

METEORITO NEW CONCORD PARCIALMENTE COBERTO PELA SUA CROSTA DE FUSÃO


CINZA.

Os meteoritos lunares possuem crostas de fusão inusitadas com cores bege a marrom
e alguns contêm vesículas de escape de gases nobres presos, oriundos do vento solar,
no regolito lunar original. Meteoritos marcianos possuem uma crosta de fusão
esverdeada e aspecto vítreo. Muitas vezes, quando o bólido está em queda, os
fragmentos de meteorito se quebram ainda quentes e desenvolvem nas superfícies
quebradas uma crosta mais fina e tardia, essa é chamada de crosta secundária. A
crosta secundária normalmente tem cor mais clara do que a primária, por ser mais
fina.

1.2. Regmaglytos: São feições superficiais geradas durante a entrada do


meteoroide na atmosfera, quando este sofre ablação atmosférica, ou seja, quando do
aumento de temperatura do ar circundante devido à energia cinética do meteoroide,
o bólido incandescente desenvolve vórtices de plasma em sua superfície e estes geram
escavação na superfície do meteoroide incandescente formando sulcos, cavidades e
indentações na superfície dos meteoritos. Os regmaglytos se desenvolvem mais
facilmente em meteoritos metálicos devido a seu comportamento reológico mais
plástico em relação aos meteoritos rochosos que rapidamente fragmentam-se. Muitos
sideritos recém-caídos exibem padrões complexos de regmaglytos, como o meteorito
Sikhote-Alin caído na Rússia, que apresenta muitos de seus fragmentos com padrões
de cavidades e ondulações em sua superfície. Meteoritos que possuem maior tempo
de residência terrestre acabam oxidando e perdendo os regmaglytos. Em alguns casos,
os regmaglytos são realçados gerando indentações com pontas em meteoritos
metálicos oxidados.

1.3. Fe-Ni Metálico: A maioria dos meteoritos possui uma quantidade


relativamente grande de Fe-Ni na fase metálica ou nativa. As rochas terrestres
normalmente não contêm ferro nativo, sendo este presente na forma de óxidos,
principalmente hematita e magnetita. Nos meteoritos as ligas metálicas de
ferro-níquel são compostas de dois minerais metálicos, a kamacita e a taenita que
coexistem em proporções diversas. A kamacita possui uma estrutura cristalográfica
cúbica de corpo centrado apresentando átomos de níquel ocupando alguns sítios
cristalográficos do ferro sendo essa fase mineral chamada de ferro alfa. A taenita
possui estrutura cristalográfica cúbica de faces centradas com átomos de níquel
ocupando alguns sítios cristalográficos sendo chamada de ferro gama. O percentual
de níquel na taenita é maior do que na kamacita, sendo a taenita a fase mais
resistente ao intemperismo devido ao baixo potencial de oxidação do níquel em
relação ao ferro. Os condritos possuem de 5% até 20% em volume de Fe-Ni metálico e
os sideritos são inteiramente compostos de Fe-Ni com exceção de alguns contendo
IMAGEM SUPERIOR MOSTRA O METEORITO LUNAR QUE 93069 COM SUA CROSTA DE
FUSÃO COR BEGE E COM TEXTURA VESICULAR. IMAGEM INFERIOR MOSTRA
FRAGMENTOS DO METEORITO MARCIANO NAKHLA COM SUA CROSTA DE FUSÃO VERDE
ESCURA E BRILHO LUSTROSO.

FACE DE UM FRAGMENTO DO METEORITO TAMDAKHT APRESENTANDO UMA TÊNUE


CROSTA DE FUSÃO SECUNDÁRIA, NA PARTE SUPERIOR DA FOTO ESTÁ A CROSTA DE
FUSÃO PRIMÁRIA.

PADRÃO DE REGMAGLYTOS NO METEORITO METÁLICO SIKHOTE-ALIN.


PADRÃO DE REGMAGLYTOS COM PONTAS REALÇADAS POR INTEMPERISMO NO
METEORITO SIDERITO HENBURY DA AUSTRÁLIA, NOTAR O ESTÁGIO OXIDADO DE SUA
SUPERFÍCIE.

algum conteúdo em silicatos sendo chamados de ferros silicatados (Figura 6). Devido
a isto, os meteoritos apresentam alta susceptibilidade magnética em relação às rochas
terrestres permitindo sua prospecção utilizando imãs ou detectores de metais. O
magnetismo dos meteoritos normalmente é confundido com alguns minérios
terrestres como a magnetita, mas as propriedades físicas dos meteoritos metálicos e
do metal contido nos condritos é totalmente diferente do da magnetita. Os sideritos
possuem densidade em torno de 8g/cm³ enquanto a magnetita possui densidade de
5g/cm³. Além disso, os sideritos possuirão outras feições como crosta de fusão,
pátina desértica e/ou regmaglytos. Quando a magnetita é cortada e polida exibe uma
superfície escura, quando um siderito é cortado e polido exibe uma superfície de cor
prateada e espelhada, além disso, a interação entre kamacita e taenita produz
padrões de exsolução que são exibidos quando a superfície polida do siderito é
tratada com uma solução de ácido nítrico e álcool etílico puro exibindo padrões
geométricos de intercrescimento dos minerais metálicos conhecidos como estruturas
de Widmanstätten.
IMAGEM SUPERIOR MOSTRA UMA FACE CORTADA E POLIDA DE UM CONDRITO
MOSTRANDO OS GRÃOS DE METAL EM MEIO À MASSA SILICÁTICA CONTENDO A
TEXTURA CONDRÍTICA, IMAGEM INFERIOR MOSTRA UM METEORITO METÁLICO
SILICATADO. OS CRISTAIS SÃO DE OLIVINA.
PADRÃO DE WIDMANSTÄTTEN EM UMA FACE POLIDA E QUIMICAMENTE TRATADA DE
UM SIDERITO.

1.4. Feições Superficiais de Fluxo: Alguns meteoritos sob condições especiais de


comportamento aerodinâmico do bólido produzem em sua crosta de fusão texturas
de fluxo que refletem a dinâmica da queda do bólido original. As feições superficiais
de fluxo são raras nos meteoritos. Estas são principalmente padrões lineares
denominados flow lines ou linhas de fluxo que reproduzem a direção de fluxo do ar
quente na superfície do meteoroide incandescente. Há também padrões que lembram
ripple marks ou marcas de onda, sendo padrões de ondulações na crosta de fusão que
revelam pequenos vórtices de ar quente que moldaram a superfície do meteorito.
Meteoritos orientados normalmente apresentam linhas de fluxo.

IMAGEM ESQUERDA MOSTRA UM METEORITO LUNAR COM A CROSTA DE FUSÃO


DOTADA DE PADRÕES DE LINHAS DE FLUXO. IMAGEM DIREITA MOSTRA SUPERFÍCIE
DE SIDERITO COM RIPPLES DE LINHAS DE FLUXO JUNTO DE PADRÕES DE
REGMAGLYTOS.

1.5. Contraction Cracks (Fraturas de Contração Primárias): Estas são


feições produzidas pelo rápido arrefecimento da crosta de fusão num momento
anterior em que o meteorito entra em queda livre devido à rápida mudança de
temperatura ao cessar a incandescência do bólido. As fraturas de contração primárias
possuem espessuras de abertura muito estreitas, sendo da ordem da espessura da
própria crosta de fusão. O padrão formado na crosta de fusão lembra gretas de
contração na argila ou mesmo juntas de resfriamento em basaltos.

METEORITO COM A CROSTA DE FUSÃO REPLETA DE CONTRACTION CRACKS.

1.6. Formas Orientadas: Assim como ocorre nas linhas de fluxo, os meteoritos
orientados são assim moldados sob condições aerodinâmicas muito especiais.
Quando o bólido cai de forma aproximadamente regular de tal forma que este gira em
torno de seu próprio eixo, possuindo apenas um único eixo de rotação ou um eixo de
rotação preferencial, a geometria resultante adquire uma forma aproximada de um
cone abaulado ou em forma de bala. Essas formas aerodinâmicas gravadas no
meteorito podem vir acompanhadas de linhas de fluxo que possuem um padrão
radial que aponta para o centro do cone abaulado. Quando o bólido está em queda
sem nenhum eixo de rotação, um caso aerodinâmico igualmente raro, então o
meteorito adquire uma forma mais semelhante a um prato meio cônico, sendo
chamado de escudo. Existem, portanto, duas formas de meteoritos orientados: os
cônicos e os escudos.

2. Feições Secundárias

2.1. Pátina: É uma feição superficial gerada em sideritos, consiste de uma crosta
dura e resistente ao intemperismo composta de óxidos de ferro, principalmente
goetita. gerada por uma primeira camada do meteorito que foi completamente
oxidada gerando uma crosta de óxidos de ferro com cor marrom avermelhada. Essa
crosta impede que nova camada do meteorito seja oxidada.
IMAGEM ESQUERDA MOSTRA UM METEORITO ORIENTADO TIPO ESCUDO, À DIREITA
UM METEORITO ORIENTADO TIPO CONE ABAULADO.

METEORITO SIDERITO URUAÇU APRESENTANDO CARACTERÍSTICA COBERTURA DE


PÁTINA, UMA CROSTA RESISTENTE DE COR AVERMELHADA COMPOSTA DE ÓXIDOS DE
FERRO.

2.2. Verniz Desértico: Consiste de uma camada de óxidos e hidróxidos de Fe e Mn


transportado nas granulações argila e/ou silte pelos ventos do deserto onde
gradativamente a rocha exposta vai sendo recoberta por sucessivos depósitos desse
material que possui aspecto envernizado sendo de coloração marrom escuro e
apresentando um brilho lustroso. Essa camada se forma em todas as rochas do
deserto que estão submetidas a planícies de deflação desértica com abundância
desses óxidos e hidróxidos de Fe e Mn. Muitos seixos do deserto denominados
ventifatos são recobertos com verniz do deserto e são confundidos com meteoritos.
2.3. Fraturas Pervasivas: Quando os meteoritos caem em ambientes quentes e
secos, são submetidos a um gradiente térmico elevado devido à brusca e cíclica
mudança de temperatura nos períodos de dia e noite que provocam fraturamento
aproveitando as descontinuidades primárias geradas por stress na rocha durante a
entrada na atmosfera. Estas fraturas são resultado da expansão térmica,
principalmente em fraturas preexistentes no meteorito.

IMAGEM ESQUERDA MOSTRA UM METEORITO IN SITU COBERTO COM UMA SUPERFÍCIE


ENVERNIZADA, CHAMADO DE DESERT VARNISH; IMAGEM DIREITA MOSTRA UM
METEORITO COBERTO COM VERNIZ DO DESERTO, ALGUMAS FRATURAS ESTÃO
PRESENTES EM SUA SUPERFÍCIE.

IMAGEM ESQUERDA MOSTRA O METEORITO LUNAR MAC 88105 ENCONTRADO NA


ANTÁRTICA COM FRATURAS DE ORIGEM TÉRMICA; IMAGEM DIREITA MOSTRA O
METEORITO NWA 2965 ALTAMENTE ALTERADO POR INTEMPERISMO TERRESTRE COM
COMPLEXO PADRÃO DE FRATURAS PERVASIVAS.

2.4. Veios de Minerais Secundários: As fraturas de expansão térmica podem ser


percoladas por água rica em sais, ou seja, salmouras que terminam evaporando e
depositando nas fraturas minerais tais como carbonatos, sulfatos e cloretos. Desta
forma são gerados veios de minerais secundários de origem normalmente evaporítica.
Meteoritos que apresentam veios de minerais secundários podem ter idades
terrestres superiores a centenas de anos. As fraturas também podem estar
preenchidas com hematita, limonita e argilominerais resultantes de alteração aquosa
e oxidante do próprio material mineral do meteorito.

FATIA POLIDA DO METEORITO LUNAR DAR AL GANI 262 CORTADO POR VEIOS DE
MINERAIS SECUNDÁRIOS DE ALTERAÇÃO TERRESTRE, PRINCIPALMENTE
ARGILOMINERAIS E CARBONATOS.

2.5. Crosta Secundária: Meteoritos que possuem idades terrestres da ordem de


dezenas de milhares de anos desenvolvem, sob condições específicas de
comportamento geoquímico dos sedimentos e/ou solo adjacentes, uma crosta
secundária resultante da completa substituição mineralógica da crosta de fusão
original. Essa crosta secundária é composta de argilominerais e óxidos de ferro. Um
exemplo de meteorito com crosta secundária é o condrito Gold Basin com idade
terrestre de 25 mil anos.

2.6. Contraction Cracks (Fraturas de Contração Secundárias): Estas são


fraturas geradas pela diferença de temperatura de insolação ao qual a crosta
secundária é submetida gerando fraturas com espaçamento da ordem de 1 mm ou
superior. Estas lembram mais cabalmente as gretas de contração formadas em solo
argiloso de ambiente seco e quente.

2.7. Crosta de Caliche: Meteoritos submetidos a ambientes desérticos durante


condições de umidade relativamente altas por determinados períodos de tempo
intermitentes são cobertos com manchas esbranquiçadas em sua superfície. Essas
manchas são crostas de caliche, ou seja, material normalmente composto de
carbonato de cálcio produzido pela evaporação de umidade contendo esses
componentes dissolvidos próximo à superfície do meteorito. Os outros tipos de
caliche que não os de carbonato de cálcio são produzidos sob condições de alta
umidade e não se aplica em ambientes desérticos.

MASSA PRINCIPAL DO METEORITO CONDRÍTICO GOLD BASIN APRESENTANDO UMA


CROSTA DE FUSÃO SECUNDÁRIA, RESULTANTE DE SUBSTITUIÇÃO MINERALÓGICA AO
LONGO DE 25 MIL ANOS.

FRATURAS DE CONTRAÇÃO TÉRMICA GERADAS EM CROSTA DE FUSÃO SECUNDÁRIA


DESSE METEORITO ROCHOSO COM ALTO GRAU DE ALTERAÇÃO TERRESTRE. NOTAR A
LARGURA DAS FRATURAS SECUNDÁRIAS QUE É MAIOR DO QUE AS FRATURAS DE
CONTRAÇÃO DA CROSTA DE FUSÃO PRIMÁRIA.
METEORITO ROCHOSO COBERTO COM CROSTA DE FUSÃO PARCIALMENTE COBERTA
COM CALICHE, MATERIAL AMARELADO PERMEANDO A SUPERFÍCIE DA ROCHA.

2.8. Oxiditos (Terrestrialitos): Os oxiditos também chamados de terrestrialitos


são meteoritos metálicos com estágio altamente evoluído de alteração terrestre. Estes
perderam completamente suas feições primárias de meteorito, convertendo-se numa
massa de hematita, limonita e magnetita muitas vezes com padrões foliados. Esses
meteoritos extremamente alterados são reconhecidos in situ devido a sua relação com
alguma cratera de impacto ou estudos da sua mineralogia secundária que podem
auxiliar em saber se aquela rocha era um meteorito metálico. Os meteoritos sideritos
se convertem em oxiditos, já os rochosos normalmente são completamente
absorvidos por solo e sedimento adjacente se convertendo em bolas de lama. Em
inglês os oxiditos também são chamados de iron shale ou shale ball. Alguns famosos
oxiditos são os do meteorito Canyon Diablo da Meteor Crater, Arizona e o meteorito
Wolf Creek, da cratera de mesmo nome, na Austrália.

IMAGEM ESQUERDA MOSTRA O CARÁTER FOLIADO DE UM OXIDITO DO SIDERITO


CANYON DIABLO, ARIZONA; IMAGEM DIREITA MOSTRA O OXIDITO WOLF CREEK DA
AUSTRÁLIA.
2.9. Meteoritos Fósseis: Em casos muito especiais, quedas de meteoritos são
preservadas em camadas de rocha sedimentar. Esses meteoritos são submetidos à
diagênese e sua mineralogia é completamente substituída por argilominerais e óxidos
secundários preservando alguns poucos minerais resistatos como a cromita. Muitas
vezes, meteoritos metálicos têm mais chance de serem preservados se estes caírem
em regiões pantanosas onde serão soterrados por lamas pobres em oxigênio que
depois de serem convertidas em folhelhos negros podem ainda conservar o ferro
nativo característico dos meteoritos sideritos.

IMAGEM SUPERIOR MOSTRA UMA FATIA POLIDA DO SIDERITO LAKE MURRAY, UM


METEORITO FÓSSIL DE 110 MILHÕES DE ANOS, ALGUMAS PORÇÕES ESTÃO
LIMONITIZADAS; IMAGEM INFERIOR MOSTRA UM METEORITO CONDRÍTICO FÓSSIL EM
UMA ROCHA CALCÁRIA DO ORDOVICIANO, NO CANTO ESQUERDO DA FOTO OCORRE
UMA CONCHA DE MOLUSCO BELEMNITE.
Dois exemplos são os meteoritos condríticos encontrados em calcários do
período Ordoviciano na Pedreira de Ostërplana na Europa Ocidental. Muitas
camadas de calcário apresentavam meteoritos fossilizados junto de conchas de
belemnites. A identidade condrítica desses meteoritos pôde ser observada
em alguns côndrulos que ficaram preservados, apenas sua estrutura, sendo
que sua mineralogia foi totalmente substituída e também através de análises
de isótopos de oxigênio em cromitas reliquiares, outra observação nestes
meteoritos fósseis é a presença de um halo de oxidação em torno do fóssil.
Outro exemplo é o meteorito metálico Lake Murray encontrado em uma
camada de arenito em Carter County, Oklahoma, Estados Unidos. Esse
meteorito foi encontrado em rochas de 110 milhões de anos e apresentava
ainda porções totalmente preservadas, sendo todo o seu restante convertido
em massas de limonita como mostrado na figura anterior.
18.Meteoritos da Antártica

METEORITO COLETADO NA ANTÁRTICA, MAC 88105, ACHADO EM 1988


NAS MONTANHAS DE MaCAlpine Hills PELA EQUIPE ANSMET-NASA,
COM UMA MASSA DE 663 g CLASSIFICADO COMO BRECHA
ANORTOSÍTICA LUNAR.

O continente da Antártica permaneceu praticamente inexplorado até o início


do século XX quando expedições completas foram enviadas para entender
melhor esse misterioso continente que permanece coberto de gelo desde
muitos milhões de anos. A Antártica consiste em um vasto deserto gelado,
uma região dominada por depósitos sedimentares controlados por fluxos de
geleiras que começam sua história a partir de sublimação atmosférica da água,
deposição nas planícies e vales e transporte com fluxo do gelo do interior do
continente para o oceano.

Neste processo global controlado pelo constante clima do continente antártico


toneladas de fragmentos de rochas e sedimentos de variadas granulometrias
são erodidos, incorporados e transportados pelas massas de gelo. O fluxo das
geleiras produz depósitos de sedimentos mal selecionados chamados de tills.
Os tills consistem de depósitos sedimentares glaciais inconsolidados
compostos de clastos de rochas de todos os tamanhos e tipos imersos numa
matriz fina siltosa a argilosa. Quando os tills são litificados se transformam
em rochas sedimentares glaciais chamadas tilitos. Outro depósito glacial, de
lagos intracontinentais, são os varvitos. Os varvitos são rochas sedimentares
resultantes da litificação de sedimentos finos que se depositam anualmente
em ciclos de sedimentação rica em matéria orgânica no período do verão e
pobre em matéria orgânica no período do inverno formando laminação
sedimentar intercalada no fundo de lagos glaciais.
Os varvitos podem conter localmente seixos pingados, ou seja, rochas que
caíram no fundo do lago produzindo uma deformação nos sedimentos
varvíticos, normalmente esses seixos pingados são trazidos por fragmentos de
geleiras que boiam no lago glacial no período de verão. Vários depósitos de
rochas maiores, de seixos a matacões, podem estar dispostos em depósitos
lineares ao longo dos sopés das montanhas que servem de barreiras naturais
para o movimento das geleiras sendo denominados morenas e estes
representam sedimentos com origem em diversas partes do continente e
provindos de diversas épocas de erosão e deposição. As cadeias de montanhas
antárticas que servem de represas naturais para o fluxo das geleiras são
denominadas de nunataks.

As rochas são transportadas pelas geleiras e as camadas de gelo mais antigas e


mais profundas fluem para cima quando encontram uma barreira de nunataks
trazendo rochas que se depositaram em épocas mais antigas para a superfície
onde elas são expostas pela ablação do gelo. Os meteoritos presentes nas
camadas de gelo profundo podem aflorar ao longo dos nunataks sendo
concentrados ali onde ocorre a prospecção. Outros depósitos sedimentares são
os de planície de lavagem glacial, quando seixos e sedimentos arenosos são
depositados nas planícies de inundação de rios resultantes do derretimento
das geleiras. Estas planícies contêm sedimentos mais ricos em clastos maiores
e matriz arenosa chamados de diamictão. Nestes depósitos ricos em rochas
terrestres a prospecção é difícil e mais limitada.

AFLORAMENTO DE TILLITO, UMA ROCHA SEDIMENTAR DE ORIGEM GLACIAL

Quando o diamictão é litificado ele se torna uma rocha sedimentar de origem


glacial chamada diamictito, o equivalente glacial dos conglomerados, rochas
sedimentares onde se predomina clastos arredondados grandes em uma
matriz arenosa, carbonática, silicosa ou argilosa. As geleiras fluem das regiões
de deposição e compactação da neve em direção ao oceano antártico e neste
processo o gelo é erodido vagarosamente num processo de ablação que expõe
camadas subjacentes de neve outrora cobertas e nestas camadas podem existir
meteoritos "armazenados" ali por até centenas de milhares de anos
praticamente intactos. Estas regiões de ablação do gelo são denominadas
de blue ice fields ou campos de gelo azuis que são identificados em imagens de
satélite e estas regiões são comumente selecionadas para a prospecção de
meteoritos.

Os meteoritos caem em todas as regiões da Terra, a queda de material cósmico


no planeta é completamente aleatória e controlada apenas pela quantidade e
densidade de meteoroides que vagam no espaço interplanetário e
eventualmente interceptam a órbita da Terra entrando na atmosfera e tendo a
chance de resistir à ablação atmosférica para chegar à superfície como um
meteorito. Além disso existe o fator do campo gravitacional da Terra agir
como uma "lente" capaz de focar os meteoroides os atraindo e os direcionando
para o planeta, mudando suas trajetórias. Uma vez caídos no gelo da Antártica
os meteoritos seguem suas histórias ao sabor das geleiras juntamente com
outras rochas e sedimentos do próprio continente. Eles podem ser
acumulados em depósitos sedimentares glaciais como nos tills, diamictões,
nas morenas, ao longo dos sopés das cadeias de montanhas ou nunataks e nos
campos de gelo azul. O primeiro meteorito coletado na Antártica foi
encontrado por uma das equipes de campo de Douglas Mawson em 1912, um
pequeno meteorito de 10 cm de tamanho médio completamente coberto por
crosta de fusão. O geólogo da expedição, F. L. Stillwell, reconheceu
imediatamente a rocha como um meteorito. Ele foi encontrado na neve
endurecida na Costa Adelie na Antártica Leste.

OS NUNATAKS, CADEIAS DE MONTANHAS EM MEIO ÀS GELEIRAS DA ANTÁRTICA


QUE SERVEM COMO BARREIRA PARA O FLUXO DA NEVE EM DIREÇÃO AO
OCEANO.
BLUE ICE FIELD, OU CAMPO DE GELO AZUL, REGIÃO DE PLANÍCIE ONDE A NEVE
É ERODIDA POR ABLAÇÃO DE VENTOS QUE EXPÕEM CAMADAS ANTIGAS DE
GELO DEPOSITADO EM UMA REGIÃO ENTRE NUNATAKS.

Explorações científicas sistemáticas da Antártica começaram em 1957 devido


ao Ano Internacional da Geofísica. Após o início destas expedições mais três
meteoritos foram achados, o primeiro chamado de Lazarev, um meteorito
metálico recuperado na forma de dois fragmentos nas Montanhas de
Humboldt em janeiro de 1961. O segundo foi chamado de Thiel Mountains,
um pallasito achado em dezembro de 1961 e o terceiro foi chamado de
Neptune Mountains, um meteorito metálico encontrado durante mapeamento
geológico no sopé das montanhas de Pensacola Range em fevereiro de 1964.
Os primeiros a reconhecerem que existe um mecanismo de concentração de
meteoritos na Antártica foram os japoneses, que iniciaram suas expedições em
1969. Os primeiros nove meteoritos foram encontrados pela equipe do
glaciologista Renji Naruse em sua décima expedição JARE (Japanese
Antarctic Research Expedition), nas montanhas de Yamato. O petrólogo ígneo
Masao Gorai analisou os meteoritos concluindo que eram condritos E, H, L,
um condrito carbonáceo e um diogenito. Cinco grupos petrológicos distintos
em um único local. Estava mais claro que havia um mecanismo natural que
concentrava os meteoritos nos depósitos glaciais e a probabilidade destas
amostras terem caído no mesmo local quase no mesmo intervalo de tempo era
astronomicamente pequena.

Outros grupos de pesquisadores se manteram céticos quanto à hipótese


apresentada por Yoshida e sua equipe em 1974 num artigo científico propondo
que diferentes grupos petrológicos de meteoritos sendo achados próximos
significava que estes foram transportados e concentrados em locais específicos
no continente antártico. Novas expedições japonesas foram às montanhas de
Yamato, tais como as importantes expedições JARE-14 e JARE-15. As equipes
coletaram até 1973 um total de 663 meteoritos. Após estes acontecimentos, o
meteoriticista norte-americano William Cassidy, da Universidade de
Pittsburgh, se convenceu do enorme potencial do continente antártico em
prover uma grande população de meteoritos preservados e concentrados nas
gelerias e campos de gelo azul. Após isto os pesquisadores convenceram o
governo dos Estados Unidos a iniciar em 1975 a primeira expedição
norte-americana à Antártica para coletar meteoritos, a ANSMET - The US
Antarctic Search for Meteorites. Atualmente, no ano de 2019, existe um total
de 43991 meteoritos coletados na Antártica de acordo com o Meteoritical
Bulletin do Lunar and Planetary Institute. O livro Catálogo de Meteoritos de
Monica Grady, do ano 2000, estima que 85% dos meteoritos coletados no
mundo em número se originaram na Antártica. Outros países e instituições
não governamentais também organizam expedições em pequena escala para
coleta de meteoritos na Antártica. Como exemplo tem-se a EUROMET, um
consórcio de países europeus engajados nestas expedições principalmente de
coleta nas regiões montanhosas de Allan Hills e Frontier Mountains. Também
a PNRA - Programa Nacional Italiano na Antártica, a Chinese Antarctic
Research e uma fundação privada chamada Planetary Studies Foundation. A
grande dificuldade em se coletar meteoritos na Antártica são os custos
elevados de planejamento, organização e manutenção de equipes e logística de
transporte.

LOGO DA EXPEDIÇÃO ANTÁRTICA NORTE-AMERICANA ANSMET DE COLETA DE


METEORITOS.

FOTOGRAFIA DE DOIS MEMBROS DA EQUIPE ANSMET COLETANDO UM


METEORITO NOS CAMPOS DE GELO AZUL.
O método de coleta das expedições consiste em escolher um local de
concentração de rochas expostas no gelo, organizar um grupo de pessoas em
uma linha espaçada de acordo com a quantidade de membros da equipe para
reconhecimento das rochas a pé ou com veículo apropriado. A equipe segue de
forma conjunta de forma perpendicular à linha de caminhamento examinando
cada rocha que se destaca no gelo. Após cada trajeto ser concluído, a equipe
move-se para outro quadrante do trajeto reiniciando o procedimento, sempre
se adaptando às condições do terreno, do tempo e locais instáveis e
potencialmente perigosos. Não existe um equipamento especial para
reconhecimento de meteoritos em campo, os olhos treinados de uma pessoa
são o melhor equipamento de reconhecimento de meteoritos, capaz de
distinguir um meteorito de uma rocha terrestre. Os campos de gelo,
especialmente os chamados campos de gelo azul, são excelentes para
reconhecer meteoritos que facilmente se destacam no gelo, principalmente
porque estas regiões não são depósitos de morenas ou outros sedimentos
glaciais, abundantes em rochas terrestres, facilitando ainda mais o trabalho
das equipes.

FOTOGRAFIA DE UM METEORITO IN SITU NA NEVE COM ESCALA ACIMA, ESSE


FOI NOMEADO DOM 08001 (Dominion Range 08001) COM MASSA DE 1305 GRAMAS
CLASSIFICADO POSTERIORMENTE COMO EUCRITO BRECHADO, COLETADO PELA
EQUIPE ANSMET.

Vários equipamentos foram sugeridos e utilizados pelas equipes ANSMET


para aumentar a eficiência e a facilidade de reconhecimento e coleta de
meteoritos, principalmente em depósitos cheios de rochas terrestres.
Detectores de metais foram empregados, mas estes não têm a capacidade de
detectar meteoritos acondritos que tornam-se praticamente indistinguíveis
das rochas terrestres pela ausência de minerais ferromagnéticos em muitos
destes valiosos meteoritos. Um robô foi construído para esta tarefa, o NOMAD,
que não apresentou a mesma eficiência de um pesquisador humano de olho
treinado que acabou reconhecendo um maior número de meteoritos do que o
robô durante um teste em campo. A capacidade do cérebro e olho humanos de
reconhecer padrões e coletar similaridades com um vasto "banco de dados" é
ainda superior ao das máquinas. Outra técnica de reconhecimento feita pelas
equipes, chamada de "high-grading", é a de se concentrar em encontrar
meteoritos acondritos, mais valiosos para a meteorítica e planetologia, e
ignorar condritos ordinários. Nesta técnica se apresenta o desafio de
diferenciar um acondrito de um condrito se as condições forem difíceis, como
por exemplo, se a amostra está completamente coberta de crosta de fusão ou
ser uma amostra que não possui crosta de fusão visível e ser facilmente
confundida com uma rocha terrestre.

FOTOGRAFIA DO ROBÔ COLETOR DE METEORITOS NOMAD, DA ANSMET.

Os pesquisadores japoneses tais como Takahashi e sua equipe e Bintanja


estimam quais locais são os mais propícios a concentrações de meteoritos.
Segundo eles as áreas são (1) regiões imediatamente adjacentes, e no interior,
a platôs nas camadas de gelo junto aos nunataks como ocorre nas Montanhas
de Yamato; (2) imediatamente adjacente ou nos sopés de cadeias de nunataks
como ocorre nas Montanhas Frontier; (3) regiões predominantes de gelo em
escarpas, com ou sem depósitos de morenas, como ocorre nos campos de gelo
de Elephant Moraine. Apesar do elevado grau de preservação dos meteoritos
antárticos em relação aos achados em outras partes do mundo, eles também
possuem grau de intemperismo porque foram expostos a processos de
alteração aquosa, mesmo que superficial, devido ao gelo antártico não ser
obviamente estático e não permanecer sempre no estado sólido.

Artigos científicos de pesquisadores cmo Bland mencionam que as taxas de


intemperismo nos meteoritos antárticos são três vezes menores do que os
meteoritos encontrados em desertos quentes. Isto significa que os meteoritos
antárticos mais antigos têm maior grau de preservação do que meteoritos
encontrados nos desertos quentes caídos há menos tempo. Diferentemente da
classificação de Wlotzka para o grau de intemperismo dos meteoritos,
"weathering grade", que vai de W0 (alteração terrestre ausente) a W6
(alteração terrestre completa), os meteoritos antárticos recebem a designação
de A, B e C para o grau de alteração terrestre sendo o grau A os meteoritos
menos intemperizados e o grau C os mais alterados contendo minerais
secundários preenchendo fraturas no meteorito e contendo eflorescências de
cristais evaporíticos na superfície da rocha e em seu interior.

Os condritos carbonáceos são normalmente os mais propícios a


desenvolverem alteração por água de degelo e oxigênio atmosférico devido à
presença de uma matriz fina e suscetível a percolação de fluidos
contaminantes durante a permanência do meteorito no gelo antártico. A
crosta de fusão funciona como uma primeira barreira de proteção contra
intemperismo químico, no entanto, fraturas no meteorito e aberturas na
crosta de fusão são regiões propícias a infiltração de água e precipitação de
cristais evaporíticos oriundos de sedimentos químicos liberados do degelo,
podendo quebrar a rocha por aumento de volume interno, como também o
próprio gelo preenchendo fraturas pode quebrar o meteorito em vários
fragmentos. A fase metálica presente na maioria dos meteoritos é alterada
facilmente por água de percolação trazendo oxigênio dissolvido e halogênios
como o cloro, produzindo minerais secundários na forma de hidróxidos e
óxidos tais como akaganeita, goetita, maghemita e lepidocrocita.

Os meteoritos achados na Antártica estão preservados no gelo e representam


os mais bem conservados contra contaminações e agentes de intemperismo
elevados comuns em outras partes do planeta. As equipes de coleta seguem
um procedimento padrão de coleta, armazenamento e preservação das
amostras até seu destino final no laboratório sob condições controladas,
mantendo os meteoritos mais isolados possíveis de contaminantes. No campo
na Antártica quando um meteorito é localizado todos os membros da equipe
de busca convergem para o local do achado, então eles não manuseiam com as
mãos, evitando qualquer contato com a pele ou sujeira aleatória. Então a
localização do achado é determinada por equipamento GPS e a amostra é
fotografada in situ. Cada amostra recebe um identificador único e são
descritas quanto ao tamanho, disposição da crosta de fusão, presença de
fraturas, fragmentos adjacentes, tipo de contato com a neve ou rochas
terrestres adjacentes, possível contato humano acidental e tudo isto é
devidamente levado em consideração.
METEORITO ANTÁRTICO FOTOGRAFADO APÓS CHEGADA NO LABORATÓRIO,
EXEMPLO DO METEORITO EET 87500 (Elephant Moraine 87500) CLASSIFICADO
COMO MESOSSIDERITO, COM MASSA TOTAL DE 8,13 KG.

A amostra é então colocada com cuidado em sacolas plásticas esterilizadas que


são então seladas e mantidas em condições ambientes, ou seja, mantidas em
baixa temperatura. Os meteoritos selados são armazenados em recipientes
mantidos secos e frios até seus destinos finais que são os laboratórios do
Johnson Space Center (JSC) da NASA em Houston, Texas, o Instituto
Smithsonian, em Washington DC e o do Programa Japonês NIPR em Tóquio.
Após a chegada no JSC, por exemplo, as sacolas são abertas e colocadas em
temperatura ambiente sendo submetidas a nitrogênio líquido. Então elas são
armazenadas em caixas com luvas em atmosfera normal para amostras
comuns (condritos ordinários) ou atmosfera de nitrogênio para amostras
raras.

Os curadores fazem a descrição macroscópica abrindo as amostras


quebrando-as e cortando-as. Para raras amostras tais como os acondritos
lunares e marcianos, lâminas delgadas são preparadas para descrição
petrográfica em microscópio à luz polarizada transmitida e refletida.
Procedimentos de análise geoquímica de isótopos estáveis de oxigênio,
carbono, isótopos cosmogênicos, entre outros tais como análise geoquímica de
rocha total são também realizados. As amostras são nomeadas de acordo com
o nome do local onde foram encontradas, recebem um número de série único
baseado no ano da expedição em que a amostra foi coletada e a sequência em
que foi analisado no laboratório. Por exemplo, o famoso meteorito marciano
ALH 84001 foi encontrado na Antártica no sopé das Montanhas de Allan Hills
(Sigla abreviativa ALH) no ano de 1984 (o número 84) e foi o primeiro a ser
catalogado no laboratório (número 001). Outras siglas de locais na Antártica
são: MET (Meteorite Hills), QUE (Queen Alexandra Range), PCA (Pecora
Scarpment), GRO (Grosvenor Mountains), GRA (Graves Nunataks), EET
(Elephant Moraine), Y (Yamato Mountains), BUC (Buckley Island), etc.
FOTO DO METEORITO ALH 84001 JÁ CORTADO, MANTIDO DENTRO DE UMA
CÂMARA ESTERILIZADA E PRESSURIZADA COM ATMOSFERA INERTE DE
NITROGÊNIO, NO LABORATÓRIO DO JOHNSON SPACE CENTER, DA NASA.

A importância dos meteoritos antárticos para a meteorítica é fenomenal,


porque a meteorítica é uma ciência jovem com apenas 200 anos de existência
e a maioria dos trabalhos dos pesquisadores de meteoritos é puramente
descritivo, com análises petrográficas, químicas e isotópicas e algumas
hipóteses sobre a formação e origem dos materiais do sistema solar. O vasto
achado de meteoritos da Antártica proveu mais dados para preencher lacunas
na meteorítica com novas litologias sendo catalogadas, descritas e permitindo
maior entendimento petrológico das rochas extraterrestres. O entendimento
dos materiais planetários é ainda muito limitado e novos meteoritos estão
sendo achados e novas litologias estão aparecendo. É como montar um
quebra-cabeças da história dos corpos sólidos do Sistema Solar, fazendo isso
por encontrar evidências pontuais e atar os pontos numa teia de
conhecimento. Mais dados são necessários e os meteoritos antárticos estão
lentamente providenciando isto. Instituições de pesquisa têm acesso livre a
estes meteoritos através de providência governamental abrindo o caminho
para o conhecimento científico sem o bias dos meteoritos não antárticos de
elevado valor comercial que ficam retidos dos pesquisadores em sua maioria.
19.As Crateras de Impacto

METEOR CRATER, ARIZONA

As crateras de impacto são de importância fundamental na Geologia


Planetária. As astroblemas (do grego astros - corpo celeste, blemes - cicatriz),
em meteorítica, são crateras de impacto produzidas pela queda de meteoritos
de dimensões suficientes para produzir uma escavação no solo. As crateras de
impacto não são abundantes na superfície de nosso planeta, devido às
atividades geológicas e atmosféricas ao longo de muitos milhões de anos
terem "apagado" a maioria das astroblemas terrestres.

Os primeiros estudos detalhados de que as crateras da Lua eram resultantes


de impactos de meteoritos foram realizados pelos geólogos Dietz e Barringer.
Daniel Barringer estudou a Cratera do Meteoro, no Arizona, e defendia que ela
tinha sido produzida pelo impacto de um gigantesco meteorito, mas a visão na
época era de que tal cratera era de origem vulcânica, mais especificamente,
uma explosão vulcânica violenta, chamada de criptoexplosões. No entanto,
não haviam sólidas evidências disso, nenhuma rocha vulcânica havia sido
encontrada, as brechas eram rochas que continham material vitrificado a alta
temperatura e não poderiam geradas por explosões vulcânicas. Além disso
haivam inúmeros fragmentos de ferro meteorítico associados às bordas da
cratera e alguns no interior da mesma.

Foi o geólogo planetário Eugene Shoemacker que chegou à conclusão final


sobre a origem das crateras de impacto quando ele fez uma analogia entre as
crateras produzidas em testes de explosões nucleares e as crateras observadas
na Lua. Ele calculou a energia necessária para soerguer toneladas de rocha,
vitrificar as mesmas e gerar bordas com estratigrafia invertida, era equivalente
a de uma explosão nuclear. As crateras eram na verdade liberações de energia
concentrada de impactos de meteoritos.

Uma cratera de impacto é resultado do descarregamento da energia cinética


muito grande de meteoros de massa e dimensões muito grandes (com
diâmetro da ordem de alguns quilômetros) que se converte em calor, energia
mecânica, luz e ondas de choque. Mesmo pequenos meteoros podem causar
grandes estragos, dependendo de sua densidade ou massa, porque todos eles
entram na atmosfera com incríveis velocidades que são maximizadas pelo
campo gravitacional do planeta, no entanto, ao longo do percurso, além do
meteoro perder massa em decorrência da resistência dos gases e da pressão
atmosférica ascendente com a diminuição progressiva da altitude, ele é
gradativamente freado, embora obviamente não completamente até
eventualmente chegar ao solo, se chegar, e esse freio diminui sua velocidade
anterior.

Conclui-se que um corpo celeste sólido como um planeta terá mais crateras
em sua superfície se este tiver uma atmosfera rarefeita ou nenhuma. Por isso
nossa Lua, Mercúrio e Marte possuem tantas crateras de impacto de diversos
tamanhos em sua superfície, porque eles têm respectivamente nenhuma
atmosfera, uma atmosfera extremamente rarefeita e uma atmosfera de baixa
pressão, tênue. Além disso, esses três corpos exemplares cessaram há muito
tempo suas atividades geológicas, isso fez com que não mais "apagassem" suas
astroblemas primitivas.

Na Terra, existem algumas astroblemas que merecem destaque pelo seu


tamanho e importância científica. A primeira delas é a Cratera de Barringer,
também chamada de Meteor Crater, localizada no Arizona, formou-se há 50
mil anos por um meteorito de ferro de diâmetro médio estimado em 60 m,
com uma velocidade média de 40 mil km/h. Essa cratera de impacto possui
200 m de profundidade e 1,2 km de diâmetro. Lá foram encontrados muitos
fragmentos do meteorito original que se estilhaçou no interior da cratera
recém formada, estes fragmentos são sideritos octaedritos conhecidos pelo
nome Canyon Diablo.

UM DOS MILHARES DE FRAGMENTOS DO METEORITO CANYON DIABLO,


REMANESCENTES DO GRANDE METEORITO QUE FORMOU A METEOR CRATER

A segunda cratera de impacto de grande importância é a de ChicXulub na


Península de Yucatán no México. Essa cratera está oculta entre o continente e
o oceano, com um diâmetro de 180 km, ela é gigantesca e muito antiga, ela
formou-se há 65,5 milhões de anos. Acredita-se que essa astroblema foi o
marco da destruição dos dinossauros junto de outros animais do período
Cretáceo, por um gigantesco meteoro de 10 km de diâmetro. Essa cratera é tão
antiga, que tornou-se difícil reconhecê-la com precisão por estar em um local
geológico de tão difícil acesso, a estrutura da cratera está recoberta por
sedimentos de idade mesozoica. Hoje temos imagens digitais geradas por
levantamento geofísico gravimétrico da cratera de ChicXulub, e nas imagens
percebemos as características típicas de uma astroblema, reveladas abaixo da
camada de rochas sedimentares na Península de Yukatán. A relação
diâmetro/profundidade, uma borda ligeiramente circular e uma pequena
elevação em seu centro é típica de crateras de impacto complexas, que
possuem um pico em seu centro.

IMAGENS PROCESSADAS DE DADOS GRAVIMÉTRICOS REVELANDO A


ESTRUTURA CIRCULAR COM PICO CENTRAL, A CRATERA DE CHIC-XULUB.
CONCEPÇÃO ARTÍSTICA DO EVENTO DE IMPACTO DO ASTEROIDE DE 10 KM DE
DIÂMETRO MÉDIO OCORRIDO HÁ 65 MILHÕES DE ANOS.

As astroblemas são geomorfologicamente depressões. Elas se formam devido


à pressão intensa exercida no solo ao atingi-lo e, dessa forma, a cratera inicial
é um gigantesco buraco cujo material que o preenchia é ejetado e dispersado a
volta da cratera se extendendo por até milhares de quilômetros. Dentro da
cratera formam-se rochas recristalizadas devido às intensas pressões e do
calor gerado pelo impacto, essas rochas são sedimentos do antigo solo que se
fundiu e modificou seus minerais. No interior de uma cratera podemos
encontrar resquícios do meteoro original e estruturas cônicas chamadas cones
de estilhaçamento (shatter cones), formados pelo desgaste instantâneo do solo
durante e, recentemente, após o impacto. Astroblemas muito antigas como a
de Chicxulub perderam algumas características como as rochas que foram
recristalizadas e os resquícios do asteróide que a formou, também não se
encontra mais o cone de estilhaçamento.

No entanto, uma astroblema, mesmo que antiga e modificada pela ativa


geologia de nosso planeta, pode ser identificada se conservada a sua estrutura
básica que é uma circunferência, a possível presença de anéis concêntricos às
bordas da cratera pelo motivo das ondas de choque geradas no impacto que
deixam suas impressões no relevo e pela presença, isso se a cratera tiver um
diâmetro mínimo da ordem de 100 km, de uma pequena elevação no centro da
cratera de impacto que é formada pela pressão perpendicular ao sentido do
impacto gerada pelo subsolo que causa uma elevação do relevo. Outra
evidência de impacto é o quartzo polimorfo de alta densidade denominado
stishovita. As crateras possuem sedimentos ao seu redor, resultado da matéria
ejetada e recristalizada como os tectitos, no interior a cratera é constituída de
rochas chamadas de brechas de impacto e brechas de fusão denominadas
suevitos. As rochas resultantes de impactos de meteoritos são chamadas de
impactitos.
AFLORAMENTO DE SHATTER-CONES, ESTRUTURAS DE ESTRESSE GERADAS NAS
ROCHAS IMPACTADAS PELA PASSAGEM DA ONDA DE CHOQUE.

BRECHAS DE FUSÃO DE IMPACTO, OU SUEVITOS.

A região que delimita a cratera é chamada BORDA, a região que pronuncia a


depressão é chamada PAREDE, a região interior da cratera é chamada CHÃO,
e a elevação central (que nem toda cratera tem) é simplesmente denominada
MONTE. Esses nomes das partes de uma astroblema são muito simples,
repare que não é diferente para as crateras em outros mundos de nosso
Sistema Solar. A formação de uma cratera de impacto é dividida em três
estágios principais: 1. Contato e Compressão, 2. Escavação e 3. Modificação.
Quando o asteroide ou cometa toca a superfície do corpo alvo ele gera uma
compressão de alta energia que libera energia suficiente para começar a
escavar as rochas-alvo. No momento da compressão, o meteoroide começa a
se deformar e a se vaporizar. Na escavação ocorre a abertura de uma cratera
temporária com diâmetro aproximadamente igual a do meteoroide, ele
começa a se vaporizar e a energia de compressão libera uma onda de choque
que viaja para o interior do corpo impactado fraturando e brechando as
rochas-alvo. O meteorito é parcialmente ou completamente pulverizado e
vaporizado pela liberação da sua energia cinética. Diferentemente do que
ocorreu com a Meteor Crater, fragmentos de meteorito não se preservam na
formação de uma astroblema, isto porque a energia da escavação da cratera é
liberada na forma de calor que vaporiza completamente o projétil, deixando
apenas vestígios microscópicos impressos nos impactitos, muitas vezes,
apenas vestígios isotópicos e de elementos traço indicadores do meteorito
original, como a presença de irídio, ósmio e platina em partes por bilhão nas
rochas impactadas. No estágio de modificação ocorre o relaxamento das
rochas por fraturamento e falhamento, as rochas nas bordas da cratera têm a
estratigrafia invertida pela ejeção de material durante a escavação.

A cratera subside no terreno gerando fraturas concêntricas, e no centro da


cratera ocorre intenso dobramento e falhamento que pode gerar soerguimento
do terreno formando uma elevação central na cratera. Crateras simples não
tiveram energia suficiente para gerar esta elevação central, por terem sido
resultado de impactos de pequenos meteoroides, da ordem de 100 metros de
diâmetro médio. Um cálculo simples pode ser efetuado para se computar a
energia liberada em um impacto cósmico. Utilizando a física de Newton para
encontrar a energia cinética total de um meteoroide, e considerando a relação
empírica entre diâmetro da cratera e diâmetro do projétil cósmico, temos que
a energia liberada em kilotons é igual à raiz cúbica do diâmetro da cratera
final em quilômetros. Calcula-se que para o evento KT (a extinção no intervalo
do cretáceo-terciário), que a energia liberada para formar a cratera de
Chic-Xulub foi equivalente a 600 milhões de bombas de Hiroshima. Cada
bomba de Hiroshima equivale a 13 kilotons de energia liberada.

OS ESTÁGIOS DE FORMAÇÃO DE UMA CRATERA DE IMPACTO.

Outra famosa cratera de impacto, a astroblema mais antiga da Terra ainda


com sua morfologia preservada, é a Cratera de Vredefort na África do Sul.
Nesta astroblema, preservou-se a elevação central, que na verdade não é um
pico, mas sim uma estrutura anelada. Crateras gigantescas desenvolvem pico
central anelado. Crateras com diâmetros superiores a 1000 km são
multianeladas e são denominadas de bacias multianeladas. A cratera de
Vredefort possui grandes depósitos de brechas de impacto, os suevitos, e
muitos afloramentos e blocos soltos de rochas com shatter-cones. Esta cratera
foi datada em 2,01 bilhões de anos. O impacto na época causou um inverno
cósmico na Terra, a poeira ejetada na atmosfera bloqueou a luz solar por
muitos anos. A vida na época era predominantemente microscópica, as praias
eram repletas de colônias de bactérias estromatolíticas, formando
estromatólitos. Pode ter acontecido um minievento de extinção global de
algumas espécies de microorganismos devido ao bloqueio considerável da
atividade fotossintética após o impacto gigante.

Estudos geológicos de depósitos minerais gigantes de ouro e urânio da bacia


de Witwatersrand parecem indicar que estas jazidas podem ter sido
ocasionadas pelo gigantesco impacto cósmico que gerou intenso vulcanismo
da crosta inferior trazendo à superfície metais nobres e formando derrames
vulcânicos intensos. Posteriormente este material foi erodido e transportado
para bacias sedimentares. Depois estes depósitos metamorfizaram e deram
origem à bacia de Witwatersrand, datada de aproximadamente 2 bilhões de
anos atrás. A escala de tempo aqui pode ter sido de centenas de milhões de
anos entre o evento de impacto e a deposição da bacia após os eventos
endógenos induzidos pelo impacto gigante. Impactos cósmicos gigantescos
podem induzir derrames vulcânicos por gerarem fraturamento e
descompressão de rochas do manto ou da crosta inferior de um corpo
planetário gerando a fusão parcial e ascensão de magma. Na Lua as bacias
vulcânicas são todas crateras de impacto gigantes, mais especificamente,
bacias de impacto multianeladas com centenas até milhares de quilômetros de
diâmetro. Um exemplo é a bacia lunar Mare Orientale, uma bacia
multianelada com derrames basálticos em seu centro, representando ascensão
magmática em regiões de alívio tectônico pós impacto.

IMAGEM DE SATÉLITE DO DOMO DE VREDEFORT, A ASTROBLEMA PRESERVADA


MAIS ANTIGA DA TERRA, COM 2,01 BILHÕES DE ANOS DE IDADE.
BACIA LUNAR MARE ORIENTALE, COM 294 KM DE DIÂMETRO, UMA CRATERA DE
IMPACTO MULTIANELADA CUJO IMPACTO INDUZIU VULCANISMO E DERRAMES
BASÁLTICOS EM SEU INTERIOR.

Os corpos celestes geologicamente ativos (como Io (satélite natural de Júpiter),


tritão (satélite natural de Netuno), talvez Ganymedes (satélite natural de
Júpiter), o planeta Vênus, etc) possuirão uma relativa ausência de crateras,
essa ausência é diretamente proporcional à atividade geológica do astro, como
exemplo o vulcanismo de tritão é frio, os vulcões de tritão lançam para o
espaço criomagma isto é gelos de nitrogênio, hidrogênio e água e este
criomagma não corrói as rochas da superfície desse satélite que conserva suas
antigas astroblemas e relevos e o que ocorre é preenchimento parcial de
algumas depressões e crateras mas não o desmanchamento destes. Em
contrapartida, io possui cerca de 200 vulcões ativos em sua superfície, esses
vulcões lançam cerca de 1000 ton/s de material rico em enxofre em forma de
óxidos e sais, o magma de enxofre corrói a superfície de Io e suas crateras são
desmanchadas, portanto a crosta de Io é sempre renovada por material
magmático extrusivo que "limpa" as crateras e relevos antigos de sua
superfície. Vênus pode ser considerado mais violento que io, isso porque a
atmosfera de Vênus é extremamente densa e composta de gases tóxicos, a
pressão atmosférica na superfície de Vênus é comparada com a pressão
exercida sobre um assoalho oceânico aqui na Terra.

A temperatura na superfície do planeta é de 430° C, suficiente para levar o


chumbo do estado sólido para o líquido e mantê-lo. Foram descobertos vários
vulcõe possíveis de atividade duvidosa, o terreno de vênus é marcado pela
corrosão do enxofre ligado aos ácidos e o dióxido de carbono, as astroblemas
de Vênus são raras e aquelas que existem em sua superfície são muito grandes
(uma média de 10 a 200 km de diâmetro), foram cerca de 700 crateras
contadas pela sonda Magalhães que mapeou 95% da superfície do planeta pela
técnica de radar. As astroblemas têm uma borda moldada e arredondada,
possível resultado da corosão e processos de derramamento de magma nos
últimos 700 milhões de anos da história do planeta. Conclui-se que a
atmosfera é um fator negativo de preservação das crateras de impacto. Marte é
o planeta mais craterizado do sistema solar, fica atrás apenas de Mercúrio,
isso porque sua atmosfera é muito rarefeita, para se ter uma idéia, a presão
atmosférica no fundo da depressão mais acentuada do planeta vermelho é de
10 milibars, a pressão da atmosfera marciana ao nível do raio do planeta (visto
que em Marte não existe nível do mar) é cerca de 1/16 da pressão atmosférica
da Terra.

DIAGRAMA DE SEÇÃO TRANSVERSAL MOSTRANDO AS ESTRUTURAS BÁSICAS DE


UMA CRATERA SIMPLES E UMA CRATERA COMPLEXA, ALÉM DESTES DOIS TIPOS
EXISTE A CRATERA DE PICO ANELADO E A CRATERA MULTIANELADA.

Por causa disso, os meteoróides encontram extrema facilidade de chegar ao


solo com tamanho considerável para formar uma astroblema de tamanho
considerável. Visto que a atmosfera é extremamente rarefeita, os meteoros
não sofrem intensa pulverização e a maioria sempre consegue chegar à
superfície. É exatamente o oposto de Vênus cuja atmosfera densa e corrosiva
não deixa que a grande maioria de meteoritos chegue sequer a menos de
alguns quilômetros da superfície do planeta. Além disso, Marte parou suas
atividades geológicas intensas há 100 milhões de anos, um período curto para
as escalas de tempo geológico, no entanto essa atividade marciana que incluia
o vulcanismo intenso não foi suficiente para destruir grande parte das crateras
na superfície. Marte pode ser geologiacamente dividido em duas grandes áreas:
os terrenos antigos (com uma idade de 4 bilhões de anos) formados de rochas
basálticas ferruginosas e sedimentos, e os terrenos recentes (com cerca de 3
bilhões de anos) formados de rochas recristalizadas pelo magma escorrido,
também esculpidas pela possível passagem de água ou gás carbônico líquido
que compactou o sedimento arenoso em rochas sedimentares detríticas.

A maioria das astroblemas na Terra não preservou muitas litologias que


facilitem seu reconhecimento em campo geológico. Muitas crateras ficam na
classificação duvidosa porque apenas estruturas simples como falhas e
fraturas se preservam. Astroblemas muito antigas podem estar cobertas de
rochas sedimentares, podem ter sido completamente apagadas pela erosão e
podem ter sido deformadas pela tectônica de placas. A astroblema de Sudbury
Basin no Canadá é um exemplo de cratera de impacto que ocorreu a 1,8
bilhões de anos, cuja estrutura circular foi deformada por eventos tectônicos
posteriores. A cratera é marcada hoje por derrames vulcânicos preenchendo
veios e fraturas numa sequência de rochas subvulcânicas a plutônicas
contendo extensos depósitos de sulfetos de ferro, níquel e cobre. Essas
riquezas foram trazidas à superfície pelo impacto cósmico que perturbou a
crosta gerando vulcanismo acentuado.

Sudbury Basin é uma cratera que sofreu deformação tectônica, mas ainda
preserva sua borda hoje com formato elíptico. Há evidências de que existiu
uma astroblema na Groenlândia cujas rochas que se preservam hoje são
gnaisses com características semelhantes a brechas de impacto, seus
protólitos. O possível impacto foi datado em 3,9 bilhões de anos. Algumas
crateras mais recentes preservam todas as suas feições, suas rochas de
impacto e também fragmentos do meteorito original. Os exemplos mais
conhecidos são o da já citada Meteor Crater no Arizona, e também a cratera
Wolf Creek, na Austrália. A cratera Wolf Creek tem 300 mil anos de idade e os
fragmentos de meteorito foram completamente oxidados pelo intemperismo
químico, sendo hoje apenas massas de óxido de ferro denominados oxiditos
ou terrestrialitos, que são meteoritos completamente intemperizados.

Outro exemplo são as crateras de Henbury, também na Austrália, cujos


meteoritos metálicos de mesmo nome foram encontrados aos milhares em
volta da cratera datada em quase 5000 anos. As astroblemas, ou crateras de
impacto, são vestígios de uma era de intenso bombardeamento no Sistema
Solar primordial. A frequência dos impactos cósmicos hoje é
consideravelmente menor, no entanto, estimativas baseadas nas datações de
astroblemas identificadas na Terra demonstram que impactos de magnitude
semelhante a de Chic-Xulub ocorrem uma vez a cada 100 milhões de anos.
Impactos como da Meteor Crater ocorrem uma vez a cada 100 mil anos. Nos
estudos de geologia planetária as crateras revelam muito sobre a evolução dos
corpos do Sistema Solar e sobre como lidar com futuros eventos de impacto de
meteorito. Os acontecimentos de Tunguska e Chelyabinsk nos fazem lembrar
disto.
CRATERA WOLF CREEK, AUSTRÁLIA

MASSA DO METEORITO METÁLICO WOLF CREEK, COMPLETAMENTE OXIDADO


PARA HEMATITA E MAGNETITA, METEORITOS RELIQUIARES COMO ESTE
RECEBEM O NOME DE OXIDITOS OU TERRESTRIALITOS.
CRATERAS DE IMPACTO NO SISTEMA SOLAR:

CRATERA LOWELL EM MARTE

CRATERA VITÓRIA - MARTE


CRATERAS ACHELOUS (ACIMA) E GULA (ABAIXO) - GANYMEDES

TERRENO DE CRATERAS GELADAS EM CALISTO


CRATERA GOLUBKNA - VÊNUS
20.Impactitos: Registros Geológicos de Impactos Meteoríticos

AMOSTRA DE BRECHA DE IMPACTO, SUEVITO OU IMPACT MELT BRECCIA, DA


CRATERA DO METEORITO METÁLICO ODESSA COM 64 MIL ANOS.

Quando um bólido de grandes dimensões, superiores a 100 m quando chega à


troposfera, atinge a superfície da Terra, ocorre a formação de uma cratera de
impacto. Vimos no artigo anterior sobre astroblemas que um impacto de
meteorito gigante produz uma cratera através de três estágios principais, o
contato e compressão, escavação e modificação.

Durante o estágio de escavação uma grande quantidade de energia cinética do


projétil cósmico original é transferida para as rochas impactadas, chamadas
de rochas-alvo, e como resultado estas rochas fundem, recristalizam, são
pulverizadas e brechadas. Existem muitos processos ocorrendo ao mesmo
tempo. A maioria do material pulverizado é lançado para longe da cratera
formando depósitos de ejeta. Em crateras de idade recente, como muitas
observadas na Lua, os depósitos de ejeta formam padrões radiais para longe
do centro da cratera.

Outros depósitos são formados de pedaços de rochas que foram escavadas


durante o impacto, estes ocorrem quando clastos das rochas-alvo se misturam
entre si e são cimentados pelo material fundido e cristalizado rapidamente.
Estas rochas são brechas cimentadas por vidros de impacto. Outras feições se
desenvolvem em fraturas e falhas, juntas de alívio geradas pelo alívio de
estresse do estágio de modificação da cratera. Neste estágio formam-se veios e
filões de rocha vitrificada, por onde o líquido silicoso percorreu e preencheu as
fraturas de alívio formando pseudotaquilitos. Os pseudotaquilitos são
preenchimentos de fraturas nas rochas encaixantes de material fundido e
rapidamente solidificado formando vidros. Tais vidros não são de origem
vulcânica, mas de origem tectônica.

Num contexto geológico normal um pseudotaquilito é formado por falhas


tectônicas, zonas de cisalhamento, transformantes. No contexto de
metamorfismo de impacto, o processo que gera estas rochas especiais, os
pseudotaquilitos são gerados por tectônica de impacto cósmico. O material
fundido pela energia do impacto migra para juntas de alívio na cratera
formando depósitos de material vítreo. As brechas de impacto são rochas
formadas de clastos de múltiplas litologias originais das rochas-alvo, estes
clastos são cimentados por material fundido ou por material depositado
posteriormente na cratera. Brechas sedimentares de impacto são chamadas de
brechas de fallback, estas rochas contêm em sua matriz esferulitos, pequenas
esferas de vidro de material fundido e pulverizado para fora da cratera. Esse
material se sedimenta novamente formando depósitos de brechas junto dos
clastos maiores. As brechas de impacto cimentadas por matriz fundida são
chamadas de suevitos e ocorrem preenchendo grandes fraturas na cratera,
ocorrendo em veios, filões de diques. Os suevitos são as rochas mais
abundantes em um terreno de impacto meteorítico.

BRECHA DE FALLBACK DA CRATERA DE SUDBURY BASIN, CANADÁ. NOTAR A


TEXTURA E ESTRUTURA SEMELHANTE A UMA BRECHA VULCÂNICA, UM
IGNIMBRITO. O MATERIAL FOI LANÇADO E MISTURADO SENDO CIMENTADO
POR UMA MATRIZ FINA E VÍTREA.

VEIO BRECHADO DE PSEUDOTAQUILITOS - O MATERIAL ESCURO NO


AFLORAMENTO, DA CRATERA DE VREDEFORT, ÁFRICA DO SUL.
Já vimos alguns dos principais impactitos, isto é, rochas geradas por impacto
de meteorito. Os principais impactitos vistos aqui são os pseudotaquilitos,
brechas de fallback e suevitos. Mas terrenos de impacto possuem rochas que
preservam a passagem da onda de choque do impacto meteorítico. Estas
rochas contêm fraturas penetrativas com formatos cônicos fractais, que
quebram com a mesma simetria cônica em múltiplas direções, estes
impactitos são chamados de shatter-cones ou cones de estilhaçamento.

Estas estruturas se desenvolvem quando a velocidade da onda de choque


rompe a barreira de velocidade da onda sísmica no interior das rochas da
mesma forma quando um avião supersônico rompe a velocidade do som no ar
gerando ondas de choque cônicas denominadas de Cone de Mach. Os
equivalentes do cone de Mach nas rochas são os shatter-cones, que
permanecem impressos na rocha como marcadores definitivos de impacto
cósmico. Dependendo da reologia da rocha, isto é, o comportamento de
elasticidade ou plasticidade da rocha, os shatter-cones são bem definidos ou
mal definidos nos afloramentos de rochas impactadas. Geralmente os
shatter-cones mais interessantes e facilmente visíveis ocorrem em rochas
carbonáticas e em arenitos. Na bacia de impacto de Sudbury no Canadá os
shatter-cones se apresentam em gnaisses e estes são um pouco difíceis de
visualizar, mas ocorrem amplamente em diversos afloramentos estudados no
interior da antiga astroblema.

AMOSTRA DE SHATTER-CONE EM ROCHA CALCÁRIA.


AFLORAMENTO DE SHATTER-CONES EM QUARTZITOS, CRATERA DE
VREDEFORT.

Os shatter-cones são considerados estruturas que provam definitivamente a


ocorrência de um impacto meteorítico no terreno geológico examinado.
Muitas estruturas circulares preservadas não necessariamente são
astroblemas, feições estruturais em forma de domos e bacias são comuns de
ocorrerem em bacias sedimentares onde camadas de sal, os evaporitos, sobem
por menor densidade deformando os estratos sobrejacentes e gerando padrões
circulares de domos e bacias quando são erodidos. Outras estruturas de
cratera são caldeiras vulcânicas de colapso ou pipes de rochas vulcânicas de
grande profundidade como kimberlitos e lamoproítos. Crateras de kimberlitos
têm feições próprias de brechas vulcânicas e apresentam rochas vulcânicas
com composição kimberlítica. É muito comum confundir crateras de impacto
com estruturas de domo e bacia em bacias sedimentares e crateras vulcânicas.
No entanto, estas estruturas quando antigas não conterão jamais os
shatter-cones e brechas de impacto, os suevitos. O trabalho do geólogo é
exatamente diferenciar uma brecha tectônica ou vulcânica de uma brecha de
impacto e conseguir identificar shatter-cones no local.

A matriz das brechas de impacto podem conter minerais de alta pressão


metaestáveis gerados exclusivamente em condições de alta pressão em um
impacto meteorítico. Os principais minerais indicadores de impacto cósmico
nas rochas são os polimorfos de alta densidade do quartzo, a stishovita e a
coesita. Brechas podem conter em sua matriz microcristais de coesita e
stishovita. Estes podem ser identificados em difração de raios-X. Também
existem microfeições de impacto que ocorrem nos grãos de quartzo em um
impactito. Quando os cristais de quartzo apresentam evidências de choque,
eles se encontram fraturados em múltiplas direções com padrões de
fraturamento planos ou padrões de juntas ou bandas de deformação no
interior do cristal que podem ser "cicatrizadas" pela formação de inclusões
fluidas ao longo das juntas de choque. Estas estruturas são chamadas de PDFs
ou Planar Deformation Features, feições de deformação planares. Cristais de
quartzo são mais suscetíveis a deformações durante grande pressão de choque
meteorítico e podem guardar esta informação. Feldspatos e micas podem
também conter feições planares de choque, mas devido a suas estruturas
cristalinas, é difícil desenvolverem PDFs, no entanto, estes minerais podem
fundir rapidamente no impacto e resolidificar como uma fase vítrea que
preserva a forma original do cristal, mas não possui mais arranjo cristalino
ficando a fase em extinção completa no microscópio petrográfico quando
cruzamos os dois polarizadores. Estes minerais rapidamente vitrificados são
pseudomorfos, ou seja, eles conservam a forma original do cristal, mas não
são mais cristais e sim vidros de impacto, e são denominados de vidros
diaplécticos ou vidros de impacto.

IMAGEM AO MICROSCÓPIO PETROGRÁFICO DE GRÃO DE QUARTZO EM UMA


BRECHA DE IMPACTO, CONTENDO AS PDFs, FEIÇÕES PLANARES DE CHOQUE
QUE FORAM "CURADAS"FORMANDO TRILHAS DE INCLUSÕES FLUIDAS NO
CRISTAL.

IMAGEM AO MICROSCÓPIO PETROGRÁFICO. À ESQUERDA, À LUZ POLARIZADA


NATURAL MOSTRANDO OS GRÃOS PSEUDOMORFOS DE PLAGIOCLÁSIO E
MUSCOVITA, À DIREITA COM POLARIZADORES CRUZADOS MOSTRANDO TOTAL
EXTINÇÃO DAS FASES, INDICANDO QUE O PLAGIOCLÁSIO E A MUSCOVITA
SÃO VIDROS DIAPLÉCTICOS GERADOS POR CHOQUE DE IMPACTO
CÓSMICO.
O plagioclásio é o mais suscetível a esta transformação durante impactos e por
isso os plagioclásios vitrificados diaplécticos são denominados de maskelynita.
Esta fase vítrea é muito comum em meteoritos marcianos, porque estes
meteoritos sofreram intenso choque quando foram ejetados da crosta
marciana por gigantescos impactos de meteoritos na superfície do planeta.
Como consequência, os cristais de plagioclásio originais das rochas marcianas
foram transformados em maskelynita.

Os piroxênios e as olivinas podem desenvolver feições planares de deformação,


mas por terem uma competência mecânica menor do que o quartzo, isto é,
terem um comportamento menos dúctil ou plástico e mais rúptil ou
quebradiço, estes minerais desenvolvem múltiplas linhas de quebra que são
visualizadas ao microscópio como diferentes domínios ópticos em um mesmo
cristal e estas estruturas são denominadas de mosaicismo, porque parecem
formar um mosaico de pedaços que pertenciam ao mesmo cristal. A olivina
pode ser transformada em uma fase de alta pressão em colisões cósmicas de
alta velocidade. Em estágios de choque avançados a olivina pode ser
convertida a uma fase de coloração azul meio roxa chamada de ringwoodita.
Essa fase de alta pressão da olivina não é comum em rochas terrestres
impactadas, é comum em alguns meteoritos com estágio de choque elevado,
quando colisões entre asteroides têm energia suficiente para converter os
cristais de olivina em ringwoodita.

A ringwoodita foi encontrada como inclusão em grãos de coesita em rochas


terrestres metamórficas de alta pressão e temperatura, os eclogitos. Outros
minerais podem desenvolver feições planares de deformação por choque, um
exemplo, além dos comuns citados, é o mineral zircão. O zircão é um mineral
acessório comum em muitas rochas terrestres, sendo utilizado em
geocronologia para datação isotópica absoluta da idade de cristalização ou de
metamorfismo de uma rocha através de análise da concentração de urânio e
chumbo radiogênico substituindo sítios cristalográficos nos cristais de zircão.
Este pode absorver e "gravar" feições de choque em sua estrutura cristalina.

IMAGEM AO MICROSCÓPIO PETROGRÁFICO DE LÂMINA DELGADA DO


METEORITO TISSINT, SHERGOTTITO MARCIANO, MOSTRANDO A PRESENÇA DA
MASKELYNITA, PORÇÕES BRANCAS NA IMAGEM, O PLAGIOCLÁSIO AMORFO DE
CHOQUE.

IMAGEM PETROGRÁFICA DE SEÇÃO DE UM CONDRITO COM ELEVADO ESTÁGIO


DE CHOQUE, ESTÁ MOSTRADO AQUI UM CRISTAL DE CLINOPIROXÊNIO
APRESENTANDO MOSAICISMO, OU SEJA, BANDAS DE DEFORMAÇÃO INDUZIDAS
POR IMPACTO.

IMAGEM PETROGRÁFICA DE UM CONDRITO COM ALTO ESTÁGIO DE CHOQUE


APRESENTANDO CRISTAIS AZUIS DE RINGWOODITA, UMA FASE DE ALTA
PRESSÃO POLIMORFA DA OLIVINA.

Um tipo especial de impactitos são os tectitos, estas rochas são vidros de


impacto que em vez de se depositarem na cratera ou nos depósitos de ejeta
junto das brechas, são lançados para longe da cratera formando depósitos de
material vítreo, solidificado rapidamente gerando formas inusitadas devido à
aerodinâmica. Os tectitos são compostos de um vidro que nada mais é do que
material silicático das rochas-alvo fundido e solidificado rapidamente. Este
material amorfo dos tectitos é chamado de lechatelierita. Existem outros
vidros naturais, lechatelierita que não é gerada por impacto meteorítico, mas
por tempestades elétricas. Quando um raio atinge um depósito arenoso, a
areia se funde a altas temperaturas gerando estruturas vítreas tubulares
chamadas de fulguritos. Os tectitos seriam a versão de origem por impacto
cósmico dos fulguritos. A maioria dos tectitos encontrados no planeta não têm
relação com nenhuma cratera de impacto conhecida. Por exemplo, o famoso
tectito de cor verde chamado Vidro Líbio, encontrado em várias partes no
deserto da Líbia e do Sudão, foi datado, baseando-se nas rochas encaixantes
onde estes vidros são coletados, em 26 milhões de anos.

AMOSTRA DE VIDRO LÍBIO, UM FAMOSO TECTITO ENCONTRADO AOS MILHARES


NO DESERTO DO SUDÃO E DA LÍBIA.

TECTITO MOLDAVITA
TECTITOS INDOCHINITOS

Alguns argumentam que a estrutura do impacto cósmico que gerou o vidro


líbio pode ter sido completamente erodida ou está soterrada por centenas de
metros de sedimentos que hoje recobrem o deserto do Saara. Outra hipótese é
a de que o impacto foi violento o suficiente para a própria cratera ser
recoberta de lava vulcânica e toda as feições de impacto desaparecerem em
um gigantesco derrame vulcânico hoje soterrado por muitos metros de
sedimento do Saara. Ainda outra possibilidade explorada por muitos geólogos
e físicos é a de uma gigantesca explosão tipo Tunguska que não gerou
nenhuma cratera de impacto, mas liberou energia equivalente a uma
gigantesca explosão termonuclear que vitrificou os arenitos antigos,
transformando-os em vidro líbio.

Os vidros líbios foram ejetados para longe se tornando parte dos sedimentos
do local e à medida que os depósitos eólicos foram se deslocando ao longo dos
milhares de anos os fragmentos de tectito foram descobertos pela erosão se
espalhando pelo deserto. Os tectitos são encontrados na Indochina, todos são
de coloração escura e são bem parecidos, mesmo coletados em distintas
localidades. Os tectitos abundantes da Ásia são chamados pelos nomes dos
locais tais como indochinitos, tailanditos, irguizitos e belitonitas. O vidro de
impacto moldavita é outro exemplo de tectito verde encontrado na Europa. O
vidro de Darwin é um tectito famoso resultante de uma cratera de impacto
hoje coberta por sedimentos de pântano na Tasmânia, o impacto foi datado
utilizando o sistema isotópico Ar39-Ar40 dando 816 mil anos.
DIAGRAMA SIMPLIFICADO DOS ESTÁGIOS DE FORMAÇÃO DE UM TECTITO.

AMOSTRA DE TECTITO VIDRO DE DARWIN, DA TASMÂNIA.

Os vidros de Darwin ocorrem associados aos quartzitos, o que indica que a


rocha impactada, a rocha-alvo, são os quartzitos que forneceram a sílica que
compõem o material desses tectitos. Como se sabe que os tectitos têm conexão
com impactos meteoríticos? Análises químicas e petrográficas dos tectitos
revelam a presença de anomalias geoquímicas de ferro, níquel, cobalto e
cromo, uma associação de elementos químicos considerada rara para rochas
areníticas que deram origem aos tectitos, mas elementos comuns em
meteoritos. Além disso, fases de ferro-níquel são encontradas na forma de
minúsculas esférulas na estrutura vítrea dos tectitos. Dados isotópicos de
oxigênio mostram que eles são material terrestre. Portanto, os tectitos são
rochas terrestres que fundiram com o intenso calor de um impacto
meteorítico e encerram em si as evidências geoquímicas do projétil cósmico.
Os tectitos ocorrem em maior abundância em escala microscópica, formando
os depósitos de esferulitos muito comuns de se encotrar em impactos
meteoríticos recentes como na Meteor Crater, no Arizona, que apresenta
brechas carbonáticas de impacto com esferulitos cimentados juntos na matriz,
muitos destes com poucos milímetros de diâmetro. Esferulitos também são
encontrados em depósitos sedimentares de idade cretácea superior associados
ao gigantesco impacto ocorrido há 65 milhões de anos que gerou a astroblema
de Chic-Xulub na Península de Yukatán.

Os impactitos às vezes podem conter riquezas minerais, é o caso das brechas


de impacto encontradas na Cratera de Popigai, na Rússia. A astroblema de
Popigai tem 90 km de diâmetro, foi datada em 35,7 milhões de anos e a
composição do meteorito que a formou pôde ser confirmada por dados
isotópicos reliquiares nos impactitos, sendo a identidade do projétil um
condrito do grupo químico H. Essa cratera está localizada em Krasnoyarsk, na
Rússia. Um local simbólico para a meteorítica devido ao famoso "ferro de
Pallas", o primeiro meteorito classificado como pallasito no século XVIII, que
leva o nome Krasnoyarsk e teve significado primordial no desenvolvimento da
ciência meteorítica. As rochas-alvo são gnaisses e xistos, sendo que os gnaisses
contêm granada e grafita.

Extensos corpos de grafita gnaisse foram impactados e sofreram


metamorfismo de impacto e os cristais de grafita foram convertidos em
diamantes, que hoje formam depósitos que não possuem exploração
econômica devido à localização remota e o valor da extração superar em muito
a produção de diamantes sintéticos. Os diamantes da cratera de Popigai têm
tamanhos milimétricos e são aglomerados de nanodiamantes. Mas o valor
científico destes diamantes de impacto é inestimável. A fase de alta pressão de
carbono identificada como inclusões nos diamantes é a lonsdaleita, um tipo de
alótropo do carbono com estrutura cristalina hexagonal e 58% mais duro que
o próprio diamante que possui estrutura cristalina cúbica.

GRÃOS DE DIAMANTES DE IMPACTO DA CRATERA POPIGAI. ESTES DIAMANTES


SÃO AGLOMERADOS DE NANODIAMANTES FORMADOS A PARTIR DA
TRANSFORMAÇÃO DE ALTA PRESSÃO DA GRAFITA NOS GNAISSES IMPACTADOS.

A lonsdaleíta foi identificada em outros terrenos de impacto, como no caso das


brechas da Meteor Crater. Também foi identificada lonsdaleita incrustada nos
meteoritos Canyon Diablo. Outra fase de carbono gerada em impactos
cósmicos é o carbonado, este estranho material escuro é constituído de
aglomerados de diamantes com impurezas carbonáceas encontrados apenas
em um local específico na África e no Brasil. Dados isotópicos dos carbonados
mostram extrema pureza isotópica do carbono-12, tal fonte seria, de acordo
com alguns cientistas, de origem cósmica. Este material pode ser um
impactito ou pode ser material cósmico oriundo de matéria interestelar que
pode ter vindo de outro sistema estelar ou material carbonáceo primordial do
Sistema Solar. A questão dos carbonados ainda está imersa em especulações
devido a não se poder traçar a origem dos mesmos. Os impactitos são em
essência os registros geológicos de antigos impactos de meteoritos e utilizando
os impactitos podemos identificar terrenos que foram impactados no passado,
mesmo não preservando mais suas astroblemas.

Estágio de Choque nos Meteoritos:

O estágio de choque é uma escala desenvolvida por Stöffler et al. (1991) que
determina o grau de metamorfismo de impacto nos meteoritos através de
análise por microscópio petrográfico das feições existentes principalmente nos
grãos de olivina e plagioclásio. A olivina, por exemplo, apresenta fraturas que
evoluem para extinção ondulante, feições de deformação planares,
mosaicismo até se converter para ringwoodita nas condições máximas de
temperatura e pressão. O plagioclásio desenvolve fraturas planares em
estágios maiores, inverte para uma fase amorfa chamada maskelynita em
choques moderados a altos e funde completamente em estágios elevados de
choque. O metamorfismo de impacto ou de choque é causado por colisões de
hipervelocidade entre asteroides ou entre asteroides/cometas e um corpo
planetário causando estas feições em meteoritos marcianos e lunares.

O estágio mais avançado gera uma rocha completamente fundida que


cristaliza formando uma textura vulcânica a subvulcânica com alguns veios
metálicos como no caso dos mesossideritos gerando uma textura de brecha,
comum também no caso das rochas lunares. A escala de choque vai do mais
fraco S1 até o mais forte S6, terminando com uma rocha brechada e
completamente modificada por fusão da rocha original impactada. O grau de
choque dos meteoritos permite aos pesquisadores inferir sobre a história
colisional no espaço interplanetário e a frequência de colisões no passado do
Sistema Solar quando dados petrográficos se aliam a datação de exposição
cósmica dos meteoritos em seus corpos parentais.
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