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DOS
METEORITOS
Ricardo G. Neto
A CIÊNCIA
DOS
METEORITOS
Ricardo G. Neto
2021
Este livro eletrônico tem como objetivo a divulgação científica sobre Meteorítica, esta
obra é gratuita.
Dedicado a minha família.
Sobre o Autor
Ricardo Gazillo Neto, bacharel em Geologia pela Universidade Federal do
Ceará e mestre (MSc) em Geologia pela Universidade Federal do Ceará, é
especializado na área de estudo dos meteoritos conhecida como Meteorítica.
Sua pesquisa está ligada à análise de química mineral de fases
ferromagnesianas nos meteoritos condríticos, com ênfase em petrologia dos
condritos e de acondritos derivados do metamorfismo e fusão parcial dos
condritos. Seu coorientador de Mestrado foi o ilustre professor Dr. Klaus Keil,
uma das maiores autoridades em meteorítica no planeta.
Graças ao interesse pelo estudo dos meteoritos, pôde-se observar com maior
clareza as relações entre a história geológica de nosso planeta, a formação dos
planetas como um conjunto, a origem do Sistema Solar e finalmente
culminando com a inescapável Cosmologia que trata da origem e estrutura do
Universo. Entrementes, desde a Cosmologia até a Geologia, a reação em
cadeia de eventos sucessivos leva às pedras de toque que conectam o Cosmos
com a Terra, que são, nada mais, nada menos, que os meteoritos.
Muitos meteoritos não caem gentilmente na Terra como simples bolas de fogo.
Às vezes eles chegam até a superfície de corpos planetários de modo mais
violento. Esses ameaçadores de planetas são os gigantescos asteroides e
cometas que vagam pelo espaço interplanetário e ao impactarem na crosta de
planetas como a Terra ou Marte escavam enormes depressões circulares em
suas crostas, denominadas astroblemas ou crateras de impacto.
Certamente não devemos negar tudo o que não podemos explicar. Milhares
de fenômenos se apresentam diariamente que não podemos explicar, mas
onde os fatos são sugeridos, sem nenhuma analogia com as leis da natureza
que ainda conhecemos, sua veracidade precisa de provas proporcionais à
sua dificuldade. Uma mente cautelosa pesará bem a oposição do fenômeno a
tudo até agora observado, a força do testemunho pelo qual ele é apoiado e os
erros e equívocos aos quais até mesmo nossos sentidos estão sujeitos. Pode
ser muito difícil explicar como a pedra que você possui chegou à posição em
que foi encontrada. Mas é mais fácil explicar como entrou nas nuvens de
onde supostamente caiu? O fato real, entretanto, é o que deve ser
estabelecido, e isso espero que seja feito por aqueles cujas situações e
qualificações os habilitem a fazê-lo. Eu os saúdo com respeito.
Então temos o estudo de Gustav Tschermack de 1883 em que ele detalha três
grupos rochosos e dois grupos metálicos. Depois temos a classificação
mineralógica e química de Oliver Farrington de 1907. Depois temos o sistema
de George Prior de 1920 em que ele mostra a relação entre o teor de ferro nos
minerais silicáticos dos meteoritos mostrando que quando os minerais
ferromagnesianos possuem alto teor em FeO, a fase metálica é mais rica em
níquel, mas quando os minerais silicáticos possuem maior teor em MgO a fase
metálica é mais rica em ferro. Em 1967 temos as atualizações de Brian Mason,
Klaus Keil e Kurt Fredriksson onde eles utilizam a microssonda eletrônica
para realizar precisas análises dos teores elementares nas fases minerais dos
meteoritos. Em 1997 temos a sistemática de classificação mineralógica,
química e isotópica com desenvolvimento de uma petrologia por Alan Rubin.
Por último temos a compilação e atualização desta sistemática por Alexander
Krot e Weisberg em 2005/2006 e recentemente o artigo de 2014 por A. Krot,
K. Keil, Edward R. D. Scott, C. A. Goodrich e M. K. Weisberg que separa os
meteoritos em dois grandes grupos, os condritos e os não condritos, dentro do
contexto de uma petrologia complexa e detalhada baseada em química
mineral, geoquímica isotópica e petrografia.
-ACONDRITOS:
-CONDRITOS:
-SIDERITOS:
-Formação: formaram-se a partir da condensação dos metais em
pequenos corpos na fase pré-planetária do Sistema Solar. São possivelmente
restos de núcleos de antigos protoplanetas.
-Composição: são compostos basicamente por uma liga metálica que
existe na Terra apenas compondo o núcleo do planeta. Essa liga consiste em
uma mistura metálica rica em ferro e níquel, uma solução sólida, podendo
conter fosfetos, sulfetos e carbetos em quantidades menores, sendo que em
quantidades muito pequenas pode se encontrar os elementos traço siderófilos
gálio, germânio, irídio e platina. Os meteoritos metálicos ou sideritos, contém
em seu interior uma complexa matriz metálica, uma estrutura de exsolução
resultante de lento resfriamento da liga, chamada de estrutura de
Widmanstätten. O meteorito é cortado transversalmente e a parte interior é
tratada com ácido nítrico e polida para exibir a estrutura de Widmansttäten.
Assim como os condritos, os sideritos podem ser classificados em:
SIKHOTE-ALIN
-SIDERÓLITOS:
Sabemos que meteorito é uma rocha espacial que é atraída pela gravidade da
Terra e acaba entrando na atmosfera, queimando e derretendo com o atrito
mecânico até perder seu material totalmente ou parcialmente e, muito
raramente, chegando à superfície.
-MAGNETISMO:
Se você acha que encontrou um meteorito, a primeira coisa que deve fazer é
aproximar da rocha um imã (de preferência um superimã, porque se o
meteorito for um acondrito ou um condrito LL, a atração magnética será fraca
devido à pouca quantidade de Fe-Ni) para ver se esta contém metais.
Mas nem toda rocha que atrái imã é um meteorito. Os minérios de ferro como
a magnetita e a hematita e rochas vulcânicas como o basalto, além de
conterem metais (na forma oxidada) e atraírem imãs, possuem uma
semelhança muito grande com os meteoritos. No entanto, a densidade destes
minérios sempre será diferente da densidade de qualquer meteorito. Portanto,
deve-se testar a segunda propriedade física. É muito comum também
encontrar ligas metálicas artificiais e restos de escória e erroneamente
identifcá-los como meteoritos.
-DENSIDADE:
Os meteoritos podem ser diferenciados das rochas terrestres por se fazer um
cálculo da sua densidade. Os meteoritos são geralmente mais densos que as
rochas terrestres. Por exemplo, a maioria das rochas terrestres, granitos e
basaltos, têm densidades que variam de 2,7 g/cm³ a 3,0 g/cm³. Os meteoritos
metálicos são mais densos que a magnetita e a hematita que têm densidades
em torno de 5 g/cm³. São dadas abaixo tabelas com as densidades médias dos
meteoritos em gramas por centímetro cúbico:
Condritos Ordinários:
LL 3.21 (± 0.22)
L 3.35 (± 0.16)
H 3.40 (± 0.18)
Condritos Enstatitos:
EL 3.55 (± 0.1)
EH 3.72 (± 0.02)
Condritos Carbonáceos:
CI 2.11
CM 2.12 (± 0.26)
CR 3.1
CO 2.95 (± 0.11)
CV 2.95 (± 0.26)
CK 3.47 (± 0.02)
Acondritos:
Aubritos 3.12 (± 0.15)
Diogenitos 3.26 (± 0.17)
Eucritos 2.86 (± 0.07)
Howarditos 3.02 (± 0.19)
Ureilitos 3.05 (± 0.22)
Shergottitos 3.10 (± 0.04)
Chassignitos 3.32
Nakhlitos 3.15 (± 0.07)
Siderólitos:
Mesosideritos4.25 (± 0.02)
Pallasitos 4.76 (± 0.10)
Sideritos:
Meteoritos metálicos têm uma composição de Ferro-Níquel de densidade
aproximada igual a 7g/cm3 - 8g/cm3.
-EMISSÃO DE CALOR:
-RADIOATIVIDADE:
Por mais interessante que possa ser discutir se existe um meteorito radioativo,
isso não ocorre na realidade, os elementos radioativos não são abundantes e,
no caso dos asteroides, estes não possuem gravidade suficiente para manter
estes elementos pesados em seu interior, estes passaram por desintegração
nuclear e decaíram para isótopos estáveis. Assim, não existe meteorito que
contenha urânio ou tório, entre outros, em quantidades suficientes para serem
considerados rochas radioativas. As concentrações de tório, urânio e
potássio-40 nos meteoritos são similares às concentrações medidas em todas
as rochas terrestres, na faixa de partes por milhão. Portanto, os meteoritos
não são ameaça para os seres humanos quando são manuseados.
CAÇADORES DE METEORITOS
Problemas começaram a surgir porque não haviam evidências desse big bang
e o modelo de Hubble-Humanson considerava que a idade do Universo, já que
ele aparentemente é finito no tempo, era de cerca de 15 bilhões de anos.
Refinamentos posteriores da chamada Constante de Hubble calculam a idade
atual do Universo como 13,8 bilhões de anos. Esse tempo não é suficiente para
que estruturas complexas de superaglomerados de galáxias se formassem.
Cálculos realizados por diversos astrônomos mostram que estas
superestruturas se formam sob ação da gravidade em um tempo mínimo de
150 bilhões de anos, mais do que a idade do Universo. Com a descoberta da
rotação anômala dos discos galácticos e nos aglomerados galácticos pelos
pesquisadores, parecia que havia mais matéria do que era visível nos
telescópios. Os corpos em escala galáctica e intergaláctica exerciam uma
atração gravitacional maior do que o esperado nos cálculos da gravitação tanto
de Newton quanto de Einstein. Os cientistas chamaram essa "matéria
invisível" de matéria escura. A matéria escura foi a invocada para resolver o
problema das estruturas em larga escala diminuindo o tempo necessário para
a formação destas.
Não vou me aprofundar muito aqui nas muitas nuances das teorias sobre a
origem do Universo. Apenas devemos considerar que na ciência precisamos
ter a mente aberta para novas descobertas e evidências. Não adotar modelos
científicos como dogmas inquebráveis e sim estar aberto a novas fascinantes
possibilidades de explicar algo tão vasto quanto o Cosmos ainda cheio de
mistérios a revelar. Vou discutir aqui a formação planetária e sobre a origem
das galáxias vou considerar o modelo tradicional de formação de acordo com a
teoria do big bang, mas existem teorias alternativas para a formação de
galáxias. As estruturas cosmicamente importantes no contexto de evolução
planetária são primeiramente as galáxias. Estas foram formadas pela acreção
gravitacional de grandes nuvens de gás que se aglutinaram e formaram
nuvens maiores rotacionando e adquirindo estabilidade devido à fricção do
próprio gás assumindo formas de discos em rotação. A maioria das galáxias
atuais tem esse padrão de discos espirais.
O Sol é uma estrela de geração recente, formado cerca de 8,7 bilhões de anos
após o início do universo no modelo do big bang. Ele se formou a partir do
colapso gravitacional de uma nuvem molecular, uma nebulosa de gás e poeira
muito fria e densa rica em matéria não na forma atômica ou ionizada, mas na
forma molecular e contendo partículas sólidas de minerais produzidos em
atmosferas de estrelas supergigantes denominadas estrelas AGB (Assimptotic
Giant Branch) e em supernovas. Quase toda a matéria colapsada foi ejetada
pela rotação do disco protoestelar, o restante formou o Sol e uma pequena
parcela de material acrecionado era composta de gás e poeira interestelar. O
gás e a poeira se acumularam em volta do protossol em um disco
protoplanetário. No disco a matéria coalesceu em corpos maiores, os
planetesimais, e muitos destes se aglutinaram por colisões aleatórias e por
gravidade produzindo corpos de dimensões com mais de centenas de
quilômetros, os protoplanetas. Esses embriões planetários varreram suas
órbitas acrescionando gravitacionalmente toda poeira e gás disponíveis e
aumentando suas massas até atingirem dimensões de planetas. A região mais
próxima do Sol não preservou os elementos voláteis como os gases
abundantes hidrogênio e hélio que foram varridos pelos ventos solares
intensos. Nesta região interna do disco protoplanetário os planetas rochosos
foram consolidados. Apenas nas regiões distantes mais frias do disco, os
planetas acumularam o gás e tornaram-se gigantes gasosos. Modelos de
simulação por computador, as simulações numéricas, do disco
protoplanetário mostram que em apenas 4 milhões de anos de evolução o
disco contém milhares de protoplanetas ou embriões planetários com
diâmetros variando do tamanho da Lua até o tamanho de Marte.
IMAGEM DO HST DA NEBULOSA NGC 1491, LOCALIZADA NA CONSTELAÇÃO DE
PERSEUS. ESTA NEBULOSA CONTÉM GIGANTESCAS NUVENS MOLECULARES, AS
PORÇÕES ESCURAS NA IMAGEM. ESTAS NUVENS DENSAS RICAS EM POEIRA
CÓSMICA SÃO REGIÕES DE INTENSA FORMAÇÃO ESTELAR. O SOL SE FORMOU
JUNTO DE OUTRAS ESTRELAS EM UMA NEBULOSA COMO ESTA.
Antes de mais nada devemos entender a estatística por trás dos meteoritos.
Eles são rochas extremamente raras de se encontrar em campo. De fato, o alto
valor comercial dos meteoritos se deve a sua raridade e também ao fato
inescapável de que são visitantes do espaço interplanetário, o que é sem
dúvida fascinante. Como diz o pesquisador Dr. Randy Korotev, especialista em
rochas lunares, se você acha que encontrou um meteorito eu já lhe digo que
com 99% de certeza a sua rocha é terrestre. A probabilidade de encontrar um
meteorito é extremamente baixa e sua rocha que tem um "jeitão" diferente
com (quase) plena certeza não é um meteorito.
Se sua rocha não é um minério de ferro, mas é magnética, se for escura com
quase certeza você tem um basalto terrestre ou um gabro, a versão plutônica
do basalto. Se sua rocha contém óxidos e hidróxidos de ferro, alumínio
associada a sílica ela não é um meteorito, é uma laterita ou minério de
alumínio chamado bauxita. Rochas que contêm em abundância minerais tais
como o quartzo, feldspatos, micas, anfibólios, óxidos e hidróxidos metálicos
não são meteoritos, são rochas terrestres. Os minerais formadores de rocha
podem ser identificados de forma grosseira como? Numa rocha em que os
minerais podem ser distinguidos a olho nu se você observa grãos
esbranquiçados, rosados ou acinzentados com "pequenas linhas" em seu
interior e eles são às vezes alongados, esses grãos são feldspatos. Se você
observa porções escuras na rocha, grãos pretos distintos eles podem ser
biotita ou anfibólios. Micas em geral, a biotita e a muscovita, são plaquinhas
que se destacam da rocha. Com um canivete você pode extrair plaquinhas
desses minerais que se soltam e parecem purpurina na mão. Se você observa
na rocha grãos translúcidos, às vezes de cor branca leitosa, às vezes
acinzentados sem um formato específico, esses grãos são o quartzo. Uma
rocha desse tipo com cristais visíveis é um granito, não é meteorito.
1. MAGNETISMO
2. CROSTA DE FUSÃO
3. REGMAGLYTOS
4. CÔNDRULOS
5. DENSIDADE
6. PADRÃO DE WIDMANSTÄTTEN
Sua densidade será maior do que a de um cubo oco. Essa densidade é igual à
massa específica do alumínio que representa a massa de alumínio dividida
pelo volume ocupado pela massa de alumínio, sem espaços vazios. Quando
tratamos de rocha estamos geralmente falando de densidade em vez de massa
específica porque uma rocha pode conter vazios em seu interior. A quantidade
de vazios em uma rocha é medida pela sua porosidade. A porosidade é o
percentual de espaços vazios na rocha em relação a seu volume total.
Geralmente os meteoritos possuem porosidade praticamente nula. Raros
meteoritos contém vazios, e quando contêm a sua porosidade é inferior, por
exemplo, a de uma rocha sedimentar terrestre. Um meteorito rochoso possui
densidade semelhante às rochas do manto terrestre, variando normalmente
de 3,0 até 3,4 gramas por centímetro cúbico. Em comparação, as rochas
terrestres mais comuns, os granitos, possuem densidade média de 2,8 gramas
por centímetro cúbico. A densidade do quartzo (sua massa específica) é igual a
2,65 gramas por centímetro cúbico. Se sua rocha tem densidade entre 3,0 e
3,4 g/cm³, ela provavelmente será uma rocha terrestre máfica-ultramáfica
representadas geralmente por gabros e peridotitos. Se você sabe que sua rocha
não é terrestre, então ela é um meteorito se estiver dentro dessa faixa de
densidade. A diferença de densidade é ainda maior se considerarmos uma
massa de hematita e uma de uma meteorito metálico. A densidade da
hematita varia de 4,7 a 5 g/cm³ enquanto a densidade dos meteoritos
metálicos varia de 7,8 a 8 g/cm³. Abrindo um parênteses aqui, uma hematita e
uma magnetita possuem uma característica cor de traço. O que é uma cor de
traço? Pegue uma placa de porcelana porosa e sua rocha que você acha que é
um meteorito metálico. Esfregue a rocha na placa. O risco deixado na placa
tem uma cor característica do mineral que forma a rocha. Se você tiver em sua
mão uma amostra de hematita ela deixará um risco marrom na porcelana. Se
sua rocha for uma amostra de magnetita ela deixará um risco preto na
porcelana.
Outro meteorito anômalo e único no planeta até agora é o eucrito Ibitira que
contém vesículas de escape de gases vulcânicos. Os eucritos são basaltos
asteroidais oriundos do asteroide 4 Vesta, como tais podem representar
amostras de derrames basálticos na superfície do asteroide e alguns deles
podem eventualmente apresentar vesículas de degaseificação do magma.
Outro raro exemplo é do acondrito angrito D'Orbgny que apresenta vesículas
de degaseificação vulcânica porque os angritos também são basaltos
asteroidais. Salvo estas raríssimas excessões os meteoritos não possuem
vesículas e nem amígdalas. Além disso, muitos resíduos industriais de ferro e
alumínio apresentam um formato irregular que lembra muito meteoritos
metálicos, mas lembre-se de que são menos densos e apresentam
normalmente em seu interior vesículas. A hematita também é muito
confundida com meteorito, mas quando ela é cortada seu interior é escuro ou
marrom e pode conter vazios de dissolução de minerais que coexistiam com a
hematita em um minério. Existe uma infinidade de materiais artificiais que
possuem bolhas de ar. Vidros e escórias são os exemplos mais comuns.
O resultado são os oóides que são pequenas esférulas carbonáticas que são
cimentados juntos numa matriz calcária ou silicosa sendo chamados de oólitos.
Além da baixa densidade, é possível saber se sua rocha é carbonática pingando
algumas gotas de ácido clorídrico na sua amostra. A região gotejada vai
efervescer pela liberação de dióxido de carbono quando carbonato de cálcio
reage com o ácido clorídrico. Se sua rocha for um calcário mais magnesiano
faça um pó da rocha riscando contra uma superfície mais dura e então aplique
o ácido clorídrico. O pó vai efervescer lentamente devido à reação mais
demorada entre o carbonato de magnésio e o ácido clorídrico. Dois fatores
primordiais vão distinguir um condrito verdadeiro de uma rocha oolítica ou
pisolítica. Os condritos possuem geralmente côndrulos milimétricos, logo se
exclui texturas pisolíticas. Rochas oolíticas possuem densidade muito baixa,
são muito porosas e não são magnéticas. Os condritos possuem densidade
superior a 3 g/cm³ e ferro-níquel, sendo magnéticos.
Algo que observo é que algumas pessoas vão fazer análise química de sua
rocha e querem um diagnóstico através de meio eletrônico só com análise
química. Eu digo deveras que uma identificação geológica séria requer análise
petrográfica associada a análise química. É possível deduzir muitas coisas de
análises químicas de rochas, mas sem uma petrografia de qualidade é
impossível "bater o martelo" definitivamente sobre o tipo de rocha que
estamos analisando. Portanto, um sério diagnóstico é feito através de lâminas
delgadas sendo analisadas ao microscópio petrográfico. Então associada à
petrografia vem a análise química. Um comentário com relação à análise
química que posso fazer é: Normalmente essas análises mostram a
composição da rocha na forma de óxidos dos elementos químicos, óxidos de
silício, alumínio, titânio, magnésio, cálcio, sódio, potássio, manganês, ferro e
fósforo. Rochas teores de óxido de silício (sílica) de 70% não são meteoritos,
são provavelmente granitos ou rochas vulcânicas equivalentes. Rochas com
altos teores associados de sódio, potássio e silício e baixo teor de ferro e
magnésio não são meteritos. Mas como eu disse, análise química sozinha não
diz nada sobre a rocha, é necessária a petrografia para saber quais fases
minerais compõem a rocha. Sabendo a geologia básica do local de coleta ajuda
muito em qualquer avaliação preliminar de rochas amostradas em campo,
ainda mais quando são amostras soltas.
4. Asteroides: Remanescentes da Formação Planetária
Por volta de 4,1 bilhões de anos atrás o Sistema Solar passou por uma segunda
época de alta frequência de colisões cósmicas. Os planetas gigantes gasosos,
Netuno e Urano, trocaram de posição orbital gerando um desequilíbrio
gravitacional no Cinturão de Kuiper e no Cinturão Principal. Como resultado,
bilhões de cometas e asteroides mergulharam no sistema solar interior
recheando de crateras todos os planetas e luas, incluindo a Terra. Na época, a
crosta terrestre estava em processo de maturação tectônica e foi intensamente
retrabalhada por estes impactos cósmicos. Acredita-se que água e matéria
orgânica molecular foi trazida para a Terra neste evento chamado de
Bombardeamento Pesado Tardio. Este bombardeamento foi datado
analisando as crateras na Lua e fazendo correlação com dados isotópicos das
rochas lunares trazidas pelas missões Apollo da NASA.
Quando estas rochas não são tragadas pelo campo gravitacional de Júpiter,
podem chegar ao Sistema Solar Interior e ir em direção ao Sol. Ao
aproximar-se do Sol, os ventos solares e a pressão de radiação solar começam
a fragmentar a rocha que cria um vórtice ou "cauda" de poeira e gelo que se
desprendem da mesma. O gás também é liberado e ionizado pelas partículas
carregadas do vento solar (prótons, elétrons, pósitrons, partículas alfa,
dêuterons, íons de sódio, cálcio etc) constituindo uma segunda cauda de gás
ionizado colorido (a cor depende do gás). Esse processo físico que acontece no
cometa gera o seu brilho, devido a este passar a emitir radiação
eletromagnética devido à ionização do gás liberado. O cometa é constituído de
um núcleo (é a própria rocha que deu origem ao cometa), o coma (região onde
nasce o vórtice de poeira e gás, uma atmosfera temporária), a cauda de poeira
e a cauda de gás, lembrando que a cauda de gás e poeira se projeta em direção
oposta à incidência de luz solar, isso significa que não é obrigatório que a
cauda se projete na direção oposta ao sentido do vetor velocidade do cometa.
O núcleo de um cometa pode ser ativo, ou seja, apresentar jatos de gás seco,
algo semelhante a geisers, o principal gás que se desprende do núcleo é o
hidrogênio, daí a cauda gasosa ser chamada de envelope de hidrogênio, a
cauda gasosa divide-se em outras duas componentes, o hidrogênio neutro
molecular e o hidrogênio ionizado.
A matriz rochosa fina e friável dos cometas é semelhante à matriz alterada dos
condritos carbonáceos CI, que não têm côndrulos e apresentam mineralogia
modificada por alteração aquosa de baixa temperatura. Estes corpos possuem
alteração aquosa de baixa temperatura por terem se condensado longe do
protossol e acumulado para si muito material volátil como partículas de
composição carbonácea, moléculas orgânicas pré-solares geradas por
processos astrofísicos na nebulosa solar primordial e gelos de água, amônia e
metano. Devido à água ser menos volátil que amônia, nitrogênio e metano, ela
se incorporou à estrutura dos silicatos originais da matriz rochosa dos
cometas e gerou alteração aquosa da mesma. Analisando os condritos CI
observa-se veios de carbonatos, matriz serpentinizada e cloritizada, presença
de material carbonáceo na forma de grafita, carbono amorfo e moléculas
orgânicas. A presença de moléculas orgânicas é icônica dos cometas, eles
possuem grande quantidade de material orgânico primordial e possivelmente
modificado por eventos protoplanetários.
Os cometas são diferentes dos asteroides nos quesitos presença de matéria
orgânica, elementos voláteis como gases e gelo de água, baixa abundância de
fases refratárias recristalizadas por processos protoplanetários como
ferro-níquel, cristais desenvolvidos de olivina e piroxênio, ausência de
aglomerações sólidas minerais geradas por processos protoplanetários de
condensação e cristalização ígnea como côndrulos e CAIs (Inclusões ricas em
cálcio e alumínio) e presença predominante de uma matriz carbonácea fina e
maior abundância de grãos microcópicos a nanoscópicos de origem pré-solar
e protoplanetária sem reprocessamento termal. Alguns pesquisadores
defendem que os condritos carbonáceos CI podem ser amostras de cometas
que já perderam todo o seu conteúdo gasoso, ficando para trás as fases sólidas.
Antigos núcleos de cometas que se "apagaram" por perder todos os seus
voláteis podem ser confundidos com asteroides de classe espectral C. Existem
objetos que estão nesta transição entre asteroide e cometa, são normalmente
habitantes do espaço interplanetário do planeta gigante gasoso Netuno e têm
origem provável no Cinturão de Kuiper, estes objetos são chamados de
Centauros e provavelmente são núcleos de antigos cometas. Outros núcleos de
cometas foram fotografados por sondas espaciais anteriores à missão Rosetta
e revelaram corpos de albedo baixo e quase sempre com assinatura de
material carbonáceo e orgânico. A novidade da presença de matéria orgânica
que existe em seres biológicos foi confirmada já em 1997 quando foi detectado
aminoácidos no gás expelido pelo cometa Wild 2.
Côndrulos mais raros, mas igualmente frequentes nos condritos são os POP
(Porphyritic Olivine Pyroxene), ou seja, côndrulos porfiríticos de olivina e
piroxênio, compostos de cristais euedrais a subedrais ou mesmo arredondados
de olivina e piroxênios imersos na mesostasis, PO (Porphyritic Olivine) -
olivina porfirítica, cristais de olivina em mesostasis, PP (Porphyritic Pyroxene)
- piroxênio porfirítico, cristais de ortopiroxênio e/ou clinopiroxênio pobre em
cálcio (clinoenstatita) em mesostasis, GOP (Granular Olivine-Pyroxene) -
olivina-piroxênio granular, aglomerado de pequenos grãos de olivina e
piroxênio imersos na mesostasis e C - côndrulo criptocristalino, estes não
apresentam cristais definidos, tendo aspecto amorfo e pode ter composição de
olivina, piroxênio ou intermediário entre os dois. Além destes existem os
côndrulos poiquilíticos de olivina-piroxênio, que consistem de um inteiro
cristal de ortopiroxênio com inclusões de olivinas. Cada uma destas texturas
indica um modo de cristalização e resfriamento dessas bolinhas de material
ígneo silicático. Os côndrulos preservados todos têm a parte vítrea chamada
de mesostasis. Em condritos metamorfizados, os côndrulos tiveram sua
mesostasis recristalizada para fases de equilíbrio entre plagioclásios e
clinopiroxênio cálcico, especificamente uma paragênese de
oligoclásio-diopsídio.
TEXTURAS DE CÔNDRULOS:
Porque os condritos são relevantes para o estudo da meteorítica? Por que eles
são as rochas mais antigas do Sistema Solar e guardam informações sobre
geoquímica, distribuição isotópica e cosmoquímica do início da formação
planetária, encerrando em seus conteúdos registros dos processos
pré-planetários. O principal registro pré-planetário ocorre na forma de
côndrulos, pequenas esferas de minerais ultramáficos ígneos gerados por
processos enigmáticos que ocorreram na fase de disco protoplanetário do
sistema solar.
2. Brachinitos:
3. Ureilitos:
4. Angritos:
Os angritos são acondritos que recebem esse nome devido ao primeiro do tipo
que foi uma queda testemunhada em Angra dos Reis, Rio de Janeiro, no
século XIX. Eles são rochas ígneas com granulação média a grossa de
composição geralmente basáltica cuja mineralogia consiste de um piroxênio
de Ca-Al-Ti denominado fassaíta, olivina rica em cálcio e plagioclásio
anortítico. Os minerais acessórios incluem espinélio, ulvoespinélio, ilmenita,
troilita, kirschsteinita, whitlockita, titanomagnetita e Fe-Ni metálico. Outros
minerais acessórios às vezes presentes são celsiana, rhönita e baddeleyita. Eles
são subdivididos em angritos plutônicos com composição mineralógica
homogênea e angritos vulcânicos com minerais apresentando zoneamento
composicional.
5. Aubritos:
O O-18 terá uma vibração intrínseca na ligação covalente mais lenta do que
um átomo de O-16 e estas diferenças favorecem um fracionamento entre
moléculas de água com diferentes conteúdos isotópicos. Num processo de
evaporação da água, moléculas contendo O-18 passarão mais lentamente para
o estado gasoso em relação a moléculas contendo O-16. Assim, num processo
de evaporação lenta cria-se um reservatório de água líquida levemente rica em
O-18 e o vapor produzido estará levemente rico em O-16. Quando as primeiras
chuvas ocorrem após um longo período de estiagem, a primeira água que
precipita das nuvens está mais rica em O-18. Depois de chuvas copiosas, as
águas seguintes estão mais ricas em O-16 enquanto o reservatório de onde a
água veio por evaporação, por exemplo, um grande lago, estará levemente
enriquecido em O-18. Para se ter um elemento de comparação entre amostras
de isótopos coletados da natureza, é necessário um padrão de comparação do
isótopo do elemento especificado. O padrão mais utilizado para o elemento
oxigênio é o SMOW, sigla para o termo inglês Standard Mean Ocean Water,
ou Padrão Médio da Água do Oceano. Esse padrão também é usado para o
deutério, o isótopo estável pesado do hidrogênio. Existe um parâmetro que
mede o desvio isotópico entre o padrão e a amostra analisada. Esse parâmetro
é denominado "delta". O que obtém das amostras são razões entre os isótopos
menos abundantes e os mais abundantes no denominador do quociente.
Assim, para o oxigênio se obtém valores das razões O-17/O-16 e O-18/O-16. A
equação para o cálculo do "delta" depende das razões da amostra e das razões
do padrão. Amostras empobrecidas nos respectivos isótopos terão valores de
"delta" negativos e amostras enriquecidas terão valores positivos.
Análises das rochas terrestres mostram que a Terra possui pelo menos duas
regiões internas estratificadas conhecidas por suas diferenças em termos de
compatibilidade geoquímica. O manto superior da Terra abrange uma
profundidade desde à descontinuidade sísmica de Mohorovic que começa por
volta de 30 km de profundidade até 660 km de profundidade numa região de
baixa velocidade sísmica anômala chamada de camada D'. O manto superior
que está logo abaixo da litosfera é chamado de manto litosférico e é
geoquimicamente conhecido como manto empobrecido porque não possui
quantidades apreciváveis de elementos incompatíveis devido a estes terem
sido totalmente extraídos por eventos magmáticos de fusão dessa região do
manto para formar as rochas da crosta terrestre. Xenólitos do manto trazidos
por magmas basálticos em hotspots mostram que as rochas do manto
empobrecido são principalmente dunitos e peridotitos. Como resultado, as
rochas que compõem o manto litosférico são ditas estéreis porque não são
facilmente submetidas à fusão parcial e apresentam elevados teores de
magnésio. O manto mais profundo, além de 400 km de profundidade, após a
zona parcialmente fundida chamada astenosfera, o manto é chamado de
manto enriquecido. As rochas oriundas desta região profunda são os
kimberlitos e suites magmáticas peralcalinas que incluem carbonatitos e
fosforitos. Estas rochas apresentam elevado teor de elementos incompatíveis
junto dos elementos compatíveis indicando que não houve extração eficiente
dessas regiões profundas do manto (além de 250 km de profundidade),
indicando que o manto inferior não foi completamente homogeneizado e
fundido por completo, sendo de natureza muito mais metamórfica. O manto
inferior é dito fértil porque pode ser fundido por eventos de tectônica
profunda gerando magmas ricos em LILE, elementos terras raras leves e
elementos compatíveis tais como o magnésio.
A Lua, por exemplo, não possui indícios de que houve tectônica de placas, é
um corpo de massa pequena para desenvolver uma geologia tão ativa quanto à
Terra e suas rochas revelam isto. As rochas lunares têm um fracionamento
geoquímico menos complexo do que os mais simples basaltos terrestres.
Apresentando enriquecimento e empobrecimento em elementos
incompatíveis e compatíveis com "desnível" muito pequeno em relação aos
condritos CI e em relação a um basalto terrestre. Isto indica que a Lua teve
uma geologia ativa por um curto período de tempo, produzindo rochas com
pequeno grau de diferenciação, mas depois ela cessou suas atividades, seu
núcleo esfriou e a geologia lunar hoje é inativa. Atividade vulcânica na Lua
cessou, de acordo com idades de recristalização calculada para rochas lunares
trazidas pelas missões Apollo da NASA e para meteoritos lunares, há pelo
menos 3,9 bilhões de anos, quando impactos cósmicos de grandes dimensões
fraturaram profundamente a crosta lunar gerando fusão parcial de seu manto
e ascensão de magmas basálticos.
A idade da Terra foi calculada desta maneira pelo geoquímico Claire Patterson
em 1956 quando ele plotou medidas de isótopos de urânio e chumbo
normalizados para o chumbo-204 não radiogênico em uma isócrona. As
medidas eram de meteoritos, sedimentos de fundo oceânico e de rochas ígneas
terrestres. Todos estes materiais plotavam ao longo de uma mesma reta
indicando uma mesma fonte isotópica do urânio-238. Patterson teve a
brilhante conclusão de que a idade da Terra era também a idade dos materiais
planetários, ou seja, a idade de formação do Sistema Solar. Patterson obteve
uma idade isocrônica de 4,55 bilhões de anos, a confirmação definitiva da
idade da Terra. A idade de cristalização da maioria dos meteoritos está nesta
faixa de 4,5 bilhões de anos, a idade do sistema solar. No entanto, existem
meteoritos tais como os acondritos lunares que têm idades de 3,9 bilhões de
anos ou mais e os acondritos marcianos tais como os shergottitos que
representam magmas que cristalizaram em períodos de tempo mais recentes,
com idades de cristalização de 165 a 575 milhões de anos, indicando uma
geologia ativa ainda recente para o planeta Marte.
Em síntese, vimos que os meteoritos têm uma longa história começando com
sua formação determinada pela sua idade de cristalização e aglutinação a
partir de material do disco protoplanetário, sua idade de exposição cósmica,
que revela eventos colisionais entre corpos parentais e nos diz por quanto
tempo um meteoroide permaneceu no espaço interplanetário antes de chegar
à Terra e sua idade terrestre que revela por quanto tempo um meteorito
achado permaneceu na Terra depois de sua queda.
12. A Matéria Orgânica Extraterrestre
Até os dias de hoje se aceita que compostos orgânicos podem ser sintetizados
apartir de materiais inanimados e milhões dessas substâncias são sintetizadas
hoje por laboratórios farmacêuticos. Qual a definição de uma substância
orgânica? Esse termo "orgânico" permaneceu na terminologia moderna
devido aos estudos de que a maioria dessas substâncias têm participação
fundamental nos organismos vivos. Uma substância orgânica é toda aquela
que é composta do elemento carbono ligado a átomos de hidrogênio. O
"esqueleto" de todas as moléculas orgânicas são os hidrocarbonetos. O
elemento carbono é tetravalene, isto é, pode realizar quatro ligações
covalentes simples com quatro outros átomos ou grupos moleculares. O
carbono também realiza ligações com ele mesmo favorecendo a formação de
cadeias longas e complexas de átomos de carbono estáveis. Estas propriedades
do elemento carbono permitem a ele ter uma química extremamente
diversificada e altamente complexa sendo separado para estudo único do
restante dos outros elementos da Tabela Periódica. Geralmente as moléculas
orgânicas são compostas dos átomos de carbono ligados comumente aos
elementos H, O, N, P e S. Os organometálicos são compostos onde existem
ligações covalentes entre átomos de carbono e metais, normalmente metais de
transição externa.
De maneira geral, estas brechas lunares feldspáticas são amostras das terras
altas lunares ou highlands que representam a crosta original primitiva da Lua
de composição anortosítica, mas esta crosta anortosítica foi retrabalhada,
impactada, pulverizada e brechada por bilhões de anos de erosão cósmica, seja
por impactos de micrometeoritos, impactos de asteroides e cometas e
alteração por raios cósmicos produzindo complexas litologias de brechas
diversas. As brechas consistem de clastos angulosos de anortosito,
leucogabros, noritos, troctolitos ou mesmo fragmentos de vidro vulcânico,
vidros de fusão de impacto, fragmentos de brecha fragmentária, etc,
sustentados por uma matriz escura fina cristalina e/ou vítrea geralmente
composta por microfragmentos de anortositos, esferulitos, micropartículas de
metal e minerais de impacto, além de sílica, cromita titanífera, magnetita e
Mg-ilmenita abundante.
Outro tipo de litologia lunar são os basaltos dos mares lunares. Os mares são
gigantescas bacias de impacto que foram escavadas por impactos gigantes que
produziram fraturamento da crosta lunar e consequente fusão parcial
trazendo à superfície magmas basálticos que preencheram estas crateras
gigantes gerando extensas planícies de derrames basálticos que são as regiões
mais escuras da lua. Alguns destes basaltos possuem uma assinatura
geoquímica muito específica da Lua, sendo este padrão geoquímico conhecido
como KREEP, um acrônimo para a presença anômala de potássio, elementos
terras-raras (REE – Rare Earth Elements) e fósforo associados.
A Lua não possui atmosfera, portanto, sua camada superior de regolito está
exposta a bombardeio de micrometeoritos e irradiação dos ventos solares. O
contínuo bombardeio de micrometeoritos no regolito lunar pulveriza cada vez
mais fragmentos rochosos e funde porções do solo lunar. As porções fundidas
misturadas com fragmentos líticos formam aglomerados irregulares
chamados de aglutinantes. Ao mesmo tempo, o vento solar implanta enormes
quantidade de H e He e traços de outros elementos.
As raias de material ejetado por impacto vistas nas crateras mais jovens da
Lua demonstram que partículas finas podem ser transportadas e depositadas
a grandes distâncias na Lua. Vidro e fragmentos líticos são muito importantes
porque revelam dados sobre a natureza das rochas existentes longe dos locais
de amostragem. Devido a este motivo, os cientistas lunares são interessados
na fração grossa-fina do solo lunar. A fração grossa-fina do regolito lunar
representa partículas com tamanhos da fração granulométrica da areia. Nesta
fração de grãos estão os vidros, fragmentos líticos locais ou exóticos,
microbrechas e partículas de aglutinantes.
Muitos dos meteoritos lunares são brechas de regolito e estes são rochas
fragmentárias que contêm o regolito que foi cimentado numa massa coerente,
estes naturalmente contêm os componentes do regolito lunar tais como
aglutinantes, esférulas de vidro (esferulitos) e produtos de fusão por impacto.
Estes meteoritos são amostrados de um número diverso de terrenos
geológicos lunares incluindo o lado oculto da Lua e suas regiões polares.
Sendo assim, esses meteoritos promovem um relatório mais completo da
diversidade global da crosta lunar comparado às amostras das missões Apollo
e Luna.
1. Shergottitos:
Outras fases tardias que interagem nessa assembléia ultramáfica são cristais
de granulação mais fina de olivina contendo maior teor em ferro, pigeonita,
augita e maskelynita. Os lherzolitos são rochas férteis, ou seja, podem ser
sujeitas a ciclos de fusão parcial gerando peridotitos menos férteis como são
os wherlitos e hazburgitos. Os dunitos são rochas ultramáficas normalmente
cumuláticas de alta temperatura no funda da câmara magmática ou
representam restitos da fusão de uma rocha peridotítica mais fértil como é o
caso dos lherzolitos. Os shergottitos lherzolíticos representam então rochas
cumuláticas de origem em uma câmara magmática no interior de um
complexo provavelmente vulcânico em Marte e são os estágios primordiais a
intermediários na evolução dos magmas marcianos.
2. Nakhlitos:
3. Chassignitos:
4. ALH 84001:
Esse meteorito foi descoberto nas montanhas de Allan Hills em 1984 pela
equipe ANSMET de caça aos meteoritos na Antártica. Ele foi primeiramente
classificado como diogenito devido a consistir de um ortopiroxenito. No
entanto após avaliar o grau de oxidação dos minerais no meteorito e os gases
retidos nas inclusões fluidas descobriu-se que esta rocha se tratava na verdade
de um raro ortopiroxenito de origem marciana. O meteorito ALH 84001 é o
pedaço mais antigo da crosta do planeta Marte já encontrado. A idade de
cristalização da rocha foi medida em 3,9 Ga colocando essa rocha em um
contexto das primeiras eras geológicas do planeta Marte quando sua crosta
estava recentemente consolidada a partir de um oceano de magma. Análises
isotópicas mostraram que a idade terrestre dele é de 13 mil anos. A idade de
exposição cósmica mostra que o meteorito foi ejetado da crosta de Marte há 16
milhões de anos. Esta rocha fazia parte das porções mais internas dos
derrames mais antigos de magma. A massa total do meteorito era de 1,9 kg.
Um artigo científico publicado em 1996 por pesquisadores da NASA mostram
análises de grãos de carbonatos de ferro e cálcio presentes no interior do
meteorito que parcem conter evidências de vida microbiana fossilizada
oriunda do planeta Marte. Essa publicação mostra que ao redor dos glóbulos
de carbonato, provavlemente precipitados por ação de águas intersticiais que
percolavam a rocha no planeta vermelho, existem estruturas filamentosas que
foram resolvidas no microscópio eletrônico de varredura. Estas estruturas
pareciam muito com bactérias embora muito menores do que uma bactéria
convencional. Além disso, dados de espectrometria de massa revelaram a
presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAHs em inglês) no
interior do ALH 84001. Os pesquisadores concluíram que esses PAHs eram
resultantes da decomposição dos microorganismos marcianos no interior do
meteorito e todas as evidências juntas apontavam que esse meteorito continha
estruturas fósseis de formas de vida microscópicas de origem extraterrestre. O
estudo foi questionada pelos anos seguintes e hoje vários pesquisadores
concluem que essas estruturas não são de origem biológica, que os PAHs são
resultantes de contaminação terrestres e que os carbonatos são oriundos
exclusivamente de processos inorgânicos na crosta marciana.
1. Mesossideritos:
2. Pallasitos:
Quando o potássio, de raio iônico maior que o sódio e o cálcio, está presente
no magma e a cristalização é lenta, o sítio cristalográfico do plagioclásio não
admite a entrada dos íons potássio expulsando o mesmo do sítio e este começa
a constituir uma nova fase à parte da série isomórfica do plagioclásio,
formando álcali-feldspato. O processo de separação de fases quando ocorre
lenta cristalização magmática é chamado de exsolução. No exemplo citado a
fase ortoclásio, o feldspato potássico, se apresenta intercalado com a fase do
plagioclásio cálcio-sódico e ocorre um padrão de exsolução denominado
pertita. No caso dos meteoritos metálicos observa-se um padrão de
intercrescimento com geometria octaédrica na maioria das composições de
ferro-níquel e este padrão representa um evento de exsolução das fases
kamacita e taenita devido ao lento resfriamento do magma metálico original.
A partir da informação de que existe uma estrutura de exsolução magmática
nos meteoritos metálicos, conclui-se que para haver tal cristalização lenta é
necessário que este corpo de metal líquido estivesse dentro de um ambiente
que mantesse a temperatura alta por longos períodos de tempo, mais
especificamente, centenas de milhões de anos. Os pesquisadores concluíram
que os meteoritos metálicos são amostras de antigos núcleos de ferro-níquel
que existiam nos protoplanetas ou embriões planetários.
Dados isotópicos dos meteoritos metálicos revelam que estes foram formados
cerca de 1,5 milhão de anos após a formação dos sólidos mais antigos gerados
no disco protoplanetário, as CAIs, as inclusões refratárias cálcio-aluminosas.
Isto quer dizer que os corpos parentais dos meteoritos metálicos,
protoplanetas com cerca de 1000 km de diâmetro, já haviam se formado
muito antes da acreção dos corpos planetesimais dos condritos. Esta pode ser
uma evidência indireta de que os côndrulos realmente são produto de eventos
pós acreção planetesimal, de uma época posterior à formação dos embriões
planetários. O sistema isotópico Hf-W é utilizado para datar eventos de
separação entre fases metálicas e fases silicáticas. Quando os protoplanetas se
formaram pela aglutinação gravitacional de poeira protoplanetária, o calor
liberado pelo decaimento radioativo do isótopo Al-26 incorporado nos
protoplanetas foi o responsável pela fusão e diferenciação dos mesmos em
crosta, manto e núcleo metálico.
1. Feições Primárias
1.1. Crosta de Fusão: Consiste de uma casca fina de material fundido e cristalizado
rapidamente na superfície do meteoroide em queda gerando uma camada de
coloração normalmente preta ou marrom de brilho fosco ou vítreo com uma
espessura aproximada de 0,25 mm a 0,5 mm que envolve os meteoritos rochosos. Os
meteoritos metálicos desenvolvem uma crosta de fusão preta de brilho metálico com
espessura média de 0,25 mm composta principalmente de magnetita e óxidos de
níquel com traços de Fe-Ni metálico. A crosta de fusão é uma camada natural que
acaba protegendo o meteorito dos primeiros processos de substituição mineralógica
por intemperismo químico.
Os meteoritos lunares possuem crostas de fusão inusitadas com cores bege a marrom
e alguns contêm vesículas de escape de gases nobres presos, oriundos do vento solar,
no regolito lunar original. Meteoritos marcianos possuem uma crosta de fusão
esverdeada e aspecto vítreo. Muitas vezes, quando o bólido está em queda, os
fragmentos de meteorito se quebram ainda quentes e desenvolvem nas superfícies
quebradas uma crosta mais fina e tardia, essa é chamada de crosta secundária. A
crosta secundária normalmente tem cor mais clara do que a primária, por ser mais
fina.
algum conteúdo em silicatos sendo chamados de ferros silicatados (Figura 6). Devido
a isto, os meteoritos apresentam alta susceptibilidade magnética em relação às rochas
terrestres permitindo sua prospecção utilizando imãs ou detectores de metais. O
magnetismo dos meteoritos normalmente é confundido com alguns minérios
terrestres como a magnetita, mas as propriedades físicas dos meteoritos metálicos e
do metal contido nos condritos é totalmente diferente do da magnetita. Os sideritos
possuem densidade em torno de 8g/cm³ enquanto a magnetita possui densidade de
5g/cm³. Além disso, os sideritos possuirão outras feições como crosta de fusão,
pátina desértica e/ou regmaglytos. Quando a magnetita é cortada e polida exibe uma
superfície escura, quando um siderito é cortado e polido exibe uma superfície de cor
prateada e espelhada, além disso, a interação entre kamacita e taenita produz
padrões de exsolução que são exibidos quando a superfície polida do siderito é
tratada com uma solução de ácido nítrico e álcool etílico puro exibindo padrões
geométricos de intercrescimento dos minerais metálicos conhecidos como estruturas
de Widmanstätten.
IMAGEM SUPERIOR MOSTRA UMA FACE CORTADA E POLIDA DE UM CONDRITO
MOSTRANDO OS GRÃOS DE METAL EM MEIO À MASSA SILICÁTICA CONTENDO A
TEXTURA CONDRÍTICA, IMAGEM INFERIOR MOSTRA UM METEORITO METÁLICO
SILICATADO. OS CRISTAIS SÃO DE OLIVINA.
PADRÃO DE WIDMANSTÄTTEN EM UMA FACE POLIDA E QUIMICAMENTE TRATADA DE
UM SIDERITO.
1.6. Formas Orientadas: Assim como ocorre nas linhas de fluxo, os meteoritos
orientados são assim moldados sob condições aerodinâmicas muito especiais.
Quando o bólido cai de forma aproximadamente regular de tal forma que este gira em
torno de seu próprio eixo, possuindo apenas um único eixo de rotação ou um eixo de
rotação preferencial, a geometria resultante adquire uma forma aproximada de um
cone abaulado ou em forma de bala. Essas formas aerodinâmicas gravadas no
meteorito podem vir acompanhadas de linhas de fluxo que possuem um padrão
radial que aponta para o centro do cone abaulado. Quando o bólido está em queda
sem nenhum eixo de rotação, um caso aerodinâmico igualmente raro, então o
meteorito adquire uma forma mais semelhante a um prato meio cônico, sendo
chamado de escudo. Existem, portanto, duas formas de meteoritos orientados: os
cônicos e os escudos.
2. Feições Secundárias
2.1. Pátina: É uma feição superficial gerada em sideritos, consiste de uma crosta
dura e resistente ao intemperismo composta de óxidos de ferro, principalmente
goetita. gerada por uma primeira camada do meteorito que foi completamente
oxidada gerando uma crosta de óxidos de ferro com cor marrom avermelhada. Essa
crosta impede que nova camada do meteorito seja oxidada.
IMAGEM ESQUERDA MOSTRA UM METEORITO ORIENTADO TIPO ESCUDO, À DIREITA
UM METEORITO ORIENTADO TIPO CONE ABAULADO.
FATIA POLIDA DO METEORITO LUNAR DAR AL GANI 262 CORTADO POR VEIOS DE
MINERAIS SECUNDÁRIOS DE ALTERAÇÃO TERRESTRE, PRINCIPALMENTE
ARGILOMINERAIS E CARBONATOS.
Conclui-se que um corpo celeste sólido como um planeta terá mais crateras
em sua superfície se este tiver uma atmosfera rarefeita ou nenhuma. Por isso
nossa Lua, Mercúrio e Marte possuem tantas crateras de impacto de diversos
tamanhos em sua superfície, porque eles têm respectivamente nenhuma
atmosfera, uma atmosfera extremamente rarefeita e uma atmosfera de baixa
pressão, tênue. Além disso, esses três corpos exemplares cessaram há muito
tempo suas atividades geológicas, isso fez com que não mais "apagassem" suas
astroblemas primitivas.
Sudbury Basin é uma cratera que sofreu deformação tectônica, mas ainda
preserva sua borda hoje com formato elíptico. Há evidências de que existiu
uma astroblema na Groenlândia cujas rochas que se preservam hoje são
gnaisses com características semelhantes a brechas de impacto, seus
protólitos. O possível impacto foi datado em 3,9 bilhões de anos. Algumas
crateras mais recentes preservam todas as suas feições, suas rochas de
impacto e também fragmentos do meteorito original. Os exemplos mais
conhecidos são o da já citada Meteor Crater no Arizona, e também a cratera
Wolf Creek, na Austrália. A cratera Wolf Creek tem 300 mil anos de idade e os
fragmentos de meteorito foram completamente oxidados pelo intemperismo
químico, sendo hoje apenas massas de óxido de ferro denominados oxiditos
ou terrestrialitos, que são meteoritos completamente intemperizados.
TECTITO MOLDAVITA
TECTITOS INDOCHINITOS
Os vidros líbios foram ejetados para longe se tornando parte dos sedimentos
do local e à medida que os depósitos eólicos foram se deslocando ao longo dos
milhares de anos os fragmentos de tectito foram descobertos pela erosão se
espalhando pelo deserto. Os tectitos são encontrados na Indochina, todos são
de coloração escura e são bem parecidos, mesmo coletados em distintas
localidades. Os tectitos abundantes da Ásia são chamados pelos nomes dos
locais tais como indochinitos, tailanditos, irguizitos e belitonitas. O vidro de
impacto moldavita é outro exemplo de tectito verde encontrado na Europa. O
vidro de Darwin é um tectito famoso resultante de uma cratera de impacto
hoje coberta por sedimentos de pântano na Tasmânia, o impacto foi datado
utilizando o sistema isotópico Ar39-Ar40 dando 816 mil anos.
DIAGRAMA SIMPLIFICADO DOS ESTÁGIOS DE FORMAÇÃO DE UM TECTITO.
O estágio de choque é uma escala desenvolvida por Stöffler et al. (1991) que
determina o grau de metamorfismo de impacto nos meteoritos através de
análise por microscópio petrográfico das feições existentes principalmente nos
grãos de olivina e plagioclásio. A olivina, por exemplo, apresenta fraturas que
evoluem para extinção ondulante, feições de deformação planares,
mosaicismo até se converter para ringwoodita nas condições máximas de
temperatura e pressão. O plagioclásio desenvolve fraturas planares em
estágios maiores, inverte para uma fase amorfa chamada maskelynita em
choques moderados a altos e funde completamente em estágios elevados de
choque. O metamorfismo de impacto ou de choque é causado por colisões de
hipervelocidade entre asteroides ou entre asteroides/cometas e um corpo
planetário causando estas feições em meteoritos marcianos e lunares.
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