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
 Autores:

Maria Elizabeth Zucolotto


Wilton Pinto de Carvalho
Felipe Abrahão Monteiro

Capa:

Giselle de Campos Neves

Outubro
2016
~1~
Zucolotto, Maria Elizabeth.
O quê que os Meteoritos Têm? / Maria Elizabeth
Zucolotto, Wilton Pinto de Carvalho e Felipe Abrahão
Monteiro – Rio de Janeiro, 2016
64 p. : il.; 14,8 cm

ISBN : 978-65-00-09319-3

1. Meteoritos. I Carvalho, Wilton Pinto de. II.


Monteiro, Felipe Abrahão.

CDD

~2~


Este livro foi escrito com a finalidade de ampliar a
divulgação de meteorítica no Brasil, baseando-se em um
exemplar de mesmo estilo, “A Comet Strikes the Earth”, editado
pelo pioneiro na divulgação de meteoritos, Harvey H. Nininger.
Assim como o livro de Nininger continha um fragmento de
óxido do meteorito Canyon Diablo, que formou a famosa
cratera do Arizona há 50 mil anos, este exemplar também
oferece a possibilidade de se tocar em um “ser extraterrestre”!
No caso, um fragmento do óxido do meteorito Bendegó, o
maior meteorito brasileiro, coletado no local onde este foi
achado em Monte Santo (BA), no ano de 1784.
Optamos pelo formato de “perguntas e respostas” com
base nas dúvidas que as pessoas costumam apresentar durante
palestras e em inúmeros eventos.
Prepare-se para “viajar” em um conteúdo voltado para
todo tipo de público interessado nestes corpos celestes que
ainda hoje fascinam pelos seus mistérios e informações
importantes.
Para muitos, este livro conterá o primeiro meteorito de sua
coleção! Seja bem-vindo ao time!

~3~


Introdução ................................................................... 5
Meteoritos e Meteoros .................................................. 6
Fatos Sobre Quedas de Meteoritos ................................. 9
Nome e Origem ............................................................... 17
Objetos Atingidos por Meteoritos ...................................... 20
Como São Formados e Classificação .................................. 23
Maiores Meteoritos .......................................................... 23
Como Reconhecer Meteoritos ........................................... 26
“Mentioritos” ................................................................... 31
Valor dos Meteoritos ........................................................ 34
Comércio de Meteoritos ................................................... 35
Crateras de Impacto ........................................................ 36
Evento Tunguska ............................................................. 40
Extinções ........................................................................ 42
Idade dos Meteoritos ....................................................... 48
Origem da Vida ............................................................... 50
Meteoritos Marcianos ....................................................... 57
Meteoritos e as Civilizações .............................................. 59

~4~


O antigo medo do céu cair sobre nossas cabeças não
é de todo descabido de razão. O espaço interplanetário
está repleto de partículas, poeira e fragmentos de corpos
celestes que penetram na nossa atmosfera
constantemente. A maior parte delas vaporiza-se
completamente nas alturas, mas alguns corpos maiores
conseguem sobreviver à passagem atmosférica e se
chocarem com a superfície terrestre, sendo chamados de
meteoritos.
Estes objetos são geralmente provenientes do
cinturão de asteroides – uma região entre as órbitas de
Marte e Júpiter onde concentram-se asteroides e milhões
de fragmentos sólidos, provavelmente remanescentes da
matéria primordial que formou o sistema solar. Ademais,
os cometas ao se aproximarem do Sol desagregam
partículas de poeira que formam sua cauda e que
continuam a circular em torno do Sol, seguindo a órbita
do cometa. Muitas dessas partículas interceptam a órbita
da Terra e ao colidirem com a nossa atmosfera se
incandescem como meteoros
popularmente chamados de “estrelas
cadentes”.
Os meteoritos estão presentes na
história da Terra desde sua formação

~5~
até nossos dias, sendo responsáveis por diversas feições
geológicas como as crateras de impacto e alguns
depósitos de minerais, sendo também associados a
ocorrências de campos de petróleo, formados após
eventos cósmicos catastróficos. A origem e evolução da
vida em nosso planeta também estão relacionadas à
queda de meteoritos, haja vista a possibilidade dos
meteoritos do tipo carbonáceos terem trazido os
hidrocarbonetos responsáveis pela formação da vida. A
queda de grandes meteoritos teria causado a extinção de
diversas espécies, o que teria favorecido o aparecimento
do homem e, além disso, o ferro meteorítico teria
influenciado em diversas conquistas históricas.

O que são meteoritos?


Meteoritos são fragmentos de corpos sólidos do
Sistema Solar (asteroides, lua, marte e cometas) que,
penetrando na atmosfera terrestre, sobrevivem à queima
como meteoros e atingem a superfície, havendo
possibilidade de recuperá-los.

O que são meteoros?


Os meteoros ou estrelas cadentes são produzidos por
pequenos corpos, que gravitando em
torno do Sol nas proximidades da Terra
com velocidades de 100.000 a 150.000
km/h, atingem a atmosfera terrestre e
tornam-se incandescentes pela
resistência das moléculas de ar,
~6~
vaporizando-se totalmente antes de alcançarem o solo.
A palavra "meteoro" vem do grego μετέωρος "elevado no
céu".

Por que caem?


Na verdade não caem, eles se chocam com a Terra.
No espaço não existe referências de lugar, como em cima
ou embaixo. A Terra é aproximadamente esférica e
estamos sobre a superfície como formigas em uma
laranja, o que imaginamos como em cima, na verdade, é
o prosseguimento para o espaço de uma linha radial
imaginária que parte do centro da Terra até nós. Mais
adiante veremos como se dá esta colisão.

Como caem?
A chegada de um meteorito é geralmente anunciada
pela passagem de um grande meteoro, também
chamado de bólido, acompanhado de efeitos sonoros e
explosões.
Quando no espaço interplanetário, antes de
atingirem a atmosfera terrestre, estes corpos têm a
designação de meteoroides.

Quando caem?
Os meteoros, geralmente que
chegam aleatoriamente a qualquer mo-
mento de qualquer parte da abóbada
celeste, recebem a designação de
meteoros esporádicos (ou simples-
~7~
mente meteoros), podendo ser vistos de 4 a 6 por hora
em local escuro.

O que são chuvas de meteoros?


Existem certas épocas do ano em que costumam
ocorrer mais meteoros sendo este fenômeno conhecido
como chuvas de meteoros. Os meteoros destas chuvas
surgem de pontos específicos do céu chamados de
radiantes. Estas resultam do cruzamento da Terra com
a órbita de alguns cometas e suas respectivas correntes
de partículas.
Os cometas, que são corpos de gelo e poeira, ao se
aproximarem do Sol, tem o gelo evaporado e são
liberadas partículas de poeira que formam a cauda e a
cabeleira, que continuam seguindo a órbita do cometa. A
Terra ao atravessar essas concentrações de poeira
produz uma verdadeira “chuva” de meteoros. Recebem
o nome da constelação na qual se situa o ponto radiante
em vez do nome do cometa com o qual a chuva está
relacionada. É o caso do enxame das Leônidas, em que
os meteoros parecem todos provir da constelação de
Leão e estão relacionadas à passagem do cometa
Tempel-Tuttle.

Quando ocorrem as chuvas de


meteoros?
A Terra, na sua órbita em torno do
Sol, choca-se com enxames de
partículas cometárias, produzindo-se,
~8~
para os observadores noturnos, um inesquecível fogo de
artifício celeste. A posição deste ponto na órbita da Terra
determina a data da "chuva de meteoros".

Fig. 1 - Órbita do cometa Halley cruzando a órbita da Terra em


dois pontos, resultando, em duas chuvas de meteoros por ano
denominadas Eta aquarídea e Orionídeas. A órbita do cometa
Halley é inclinada de 162o em relação à da Terra, sendo assim
quase que totalmente oposta, gerando meteoros de alta
velocidade.

Como se dá a passagem atmosférica?


Em órbita solar um corpo ao cruzar a órbita terrestre
está com velocidades entre 29 a 42
km/s (~100.000 a 150.000 km/h). A
Terra orbita o sol na direção contrária
ao dos ponteiros do relógio e com
velocidade aproximada de 29.9 km/s. A
direção em que os corpos ao se
~9~
Tab. 1 – Principais chuvas de meteoros.
Número
Data da
Nome do Velocidade Período de de
máxima
Enxame (km/s) visibilidade meteoros
atividade
por hora
Quadrantídeas 43 03 de Janeiro 28 Dez. a 07 Jan. 145
Lirídeas 47 20 de Abril 16 a 25 de Abr. 45
ß Taurídeas
32 30 de Junho 02 Jun. a 18 Jul. 27
(*)
Perseídeas 60 12 de Agosto 23 Jul. a 22 Ago. 100
Draconídeas - 09 de Outubro 06 a 10 de Out. Variável
Orionídeas 66 21 de Outubro 15 a 29 de Out. 75
17 de
Leonídeas 72 14 a 20 de Nov. Variável
Novembro
13 de
Geminídeas 36 06 a 19 de Dez. 150
Dezembro
(*) Enxame diurno. Só registado por radar ou FM.

encontrar com a Terra vai determinar a velocidade de


entrada atmosférica. Assim ao atingirem as camadas
mais altas da atmosfera, os meteoros estão com
velocidades muito altas (de 11 a 70 km/s, ou seja, de
40.000 a 250.000 km/h). O atrito com o ar e as ondas de
choques elevam a temperatura da superfície destes
corpos a milhares de graus Celsius, fundindo-os e
ionizando o ar em sua volta, dando
origem ao fenômeno luminoso
conhecido como estrelas cadentes ou
bolas de fogo.
 Os grãos pequenos queimam-se nas
alta atmosfera e são consumidos em
~ 10 ~
alguns segundos. São vistos como meteoros ou
estrelas cadentes;
 As massas maiores penetram mais fundo na atmosfera
terrestre e o fenômeno luminoso poderá ser observado
por um tempo maior. São bem mais brilhantes, sendo
chamadas de bólidos ou bolas de fogo (fireballs);
 A poeira cósmica, entretanto, é freada nas camadas
mais altas da atmosfera não chegando a se
incandescer, passando a cair lentamente e
praticamente imperceptível, incorporando-se à
superfície terrestre.

Como se dá a queima durante a passagem


atmosférica?
A luz do meteoro começa a brilhar numa altitude de
aproximadamente 100 a 120 km. A superfície do material
é fundida, vaporizada e ejetada. A temperatura é tão alta
que ioniza o ar em volta, ou seja, fazem com que os
átomos e moléculas da atmosfera percam elétrons. Assim
que os elétrons são recapturados, eles emitem uma luz
ser bem brilhante possibilitando serem avistados de
longe. Desta forma, a luminosidade avistada é muito
maior do que a partícula que o produziu.
A massa do meteoroide vai
diminuindo rapidamente à medida que
atravessa as camadas mais baixas e
mais densas da atmosfera, este é o
fenômeno da ablação. A tensão da
atmosfera sobre o corpo penetrante é
~ 11 ~
tão grande que as ondas de choque se acumulam na
frente do corpo, freando-o totalmente no ar. Neste
ponto, chamado “ponto de retardamento”, o bólido
geralmente explode se fragmentando em vários pedaços
que passam a cair sem luminosidade e em queda livre
(dark flight) ou podem se pulverizar totalmente.

Fig. 2 – A grande maioria dos bólidos (1) explode na


altura de uns 10 km no ponto de
retardamento (2) de onde passam a
cair em queda livre (3) espalhando-
se por uma região chamada de elipse
de dispersão (4)

~ 12 ~
Os meteoritos chegam à superfície da terra com
velocidade cósmica?
Os meteoroides ao penetrar a atmosfera da Terra
registram velocidades entre 10 e 70 km/s. A maioria dos
meteoritos não conservam essa velocidade durante o
voo. Eles são freados pela atmosfera e a partir do ponto
de retardamento, que acontece entre 20 a 10 km do solo,
quando o corpo é totalmente freado, passando então a
cair em queda livre. A velocidade com que os meteoritos
atingem o solo seria a mesma de uma pedra de mesmo
tamanho e densidade atirada de um avião no ar
(devendo-se considerar a resistência do ar). Assim, os
meteoritos de até 100 kg quando caem fazem no máximo
um pequeno buraco no solo.
Os corpos maiores, com o peso acima de 10
toneladas, não conseguem ser totalmente freados pela
atmosfera e atingem a superfície da Terra com certa
porcentagem de suas velocidades cósmicas. Os corpos
com mais de 100 toneladas chegam à Terra com cerca
de 50% de sua velocidade cósmica. Como a energia
cinética é [½ m.v2], ou seja, varia com o quadrado da
velocidade, um corpo de 100 toneladas chega com
velocidades de 5 a 35 km/s, o que dá uma energia da
ordem de megatons, produzindo
crateras de impacto pela explosão do
solo e do meteorito que explode antes
de tocá-lo.

~ 13 ~
Os meteoritos fazem barulho ao cair?
Existem pelo menos três barulhos distintos
associados à queda de um meteorito. Um deles é o
“boom” supersônico formado pelas ondas de choque que
se acumulam na frente do meteorito que está mais rápido
que a velocidade do som. Outros sons estranhos e
estrondosos, como trovões, são ouvidos durante a queda
de um meteorito, inclusive o som eletrofônico – um tipo
especial de som muito discutido que se propaga à
velocidade da luz e que é ouvido no momento da
passagem do bólido. Muitas pessoas ouvem o barulho e
depois olham para o céu procurando de onde vem.
Todos estes sons são ouvidos apenas por quem
esteja num raio inferior a 50 km do local da queda. Quem
está bem próximo de onde caiu algum meteorito irá ouvir
também um silvo como o som produzido por um projétil.

Os meteoritos caem fundidos?


A parte do meteorito que se funde na passagem
atmosférica é perdida pelo arraste na atmosfera. Os
meteoritos caem sólidos e pouco aquecidos. O calor não
passa para o interior que estava bem frio no espaço.
Pode-se até tocá-los logo após a queda. No caso do
meteorito Vicência, que caiu em 2013
quase acertando uma pessoa, estava
curiosamente frio de um lado e quente
do outro.

~ 14 ~
Os meteoritos provocam incêndios ao caírem?
Os meteoritos caem sobre o solo já “apagados”, frios
ou mornos, assim não provocam incêndio, nem mesmo
quando caem sobre vegetação seca. Exceções são
meteoritos que provocam crateras e o evento Tunguska.

Onde caem os meteoritos?


Os meteoritos caem aleatoriamente sobre a Terra.
Existe, entretanto, uma incrível diferença no número de
meteoritos que são vistos cair e recuperados logo após
as quedas em diferentes regiões do planeta. Esta
diferença se deve a dois fatores principais: à densidade
demográfica e à cultura do povo da região (interesse em
reportar o evento).
Existem certas regiões, como a Antártida e os
desertos, onde são achados muitos meteoritos. Por
serem regiões com condições climáticas que favorecem
a preservação de meteoritos por milênios, como veremos
mais adiante.

Existe alguma época do ano em que caem mais


meteoritos?
Aparentemente no verão caem mais meteoritos, mas
isso se deve ao fato do tempo firme e quente aumentar
a quantidade de pessoas em áreas
livres (fora de casa) nessa estação do
ano.

~ 15 ~
Os meteoritos caem mais à noite ou de dia?
Apesar dos meteoritos caírem com mais frequência
de meio dia à meia noite com picos às 15h e 21h, eles
são mais recuperados durante o dia, uma vez que é bem
difícil observar onde um meteorito caiu à noite (os
meteoritos caem apagados sobre o solo).

Deve-se acreditar quando alguém diz que um


meteorito caiu “logo ali pertinho à noite”?
Os bólidos são muito brilhantes e são visíveis até
cerca de 10 km de altura. O meteorito cai apagado e
quando alguém tem a impressão de que caiu “logo ali
pertinho”, na verdade, caiu a quilômetros de distância.
Outro erro é o de paralaxe, ou seja, a direção avistada
não é a direção real do percurso do meteorito.

Como saber se um meteorito chegou a alcançar o


solo após a passagem de um bólido brilhante?
Não se pode ter certeza da massa que sobrevive à
passagem atmosférica e à explosão final no ponto de
retardamento, a não ser que sejam vistos os meteoritos
caindo no dark flight. Mas se for visto de dia ou à noite,
como um bólido tão brilhante quanto à lua, pode-se crer
que irá atingir o solo. Se o bólido
explodir alto no céu e demorar alguns
instantes para se ouvir o som da
explosão, o meteorito pode ter caído
em uma área com um raio de até 50
km. Um bólido que pareceu cair no chão
~ 16 ~
logo adiante, pode ter caído mais de 300 km distante do
observador.

Como são dados nomes aos meteoritos?


Por convenção internacional, o nome do meteorito é
o da localidade, aldeia ou vila mais próxima do local da
queda ou do achado.
A designação de queda (“fall”) e achado (“find”) é
interessante, pois embora todos os meteoritos tenham
sido achados, usa-se a palavra “queda” para se referir a
um meteorito que tenha sido visto cair e que tenha sido
recolhido logo após a queda. O “achado” é utilizado para
se referir a meteoritos que tenham sido encontrados no
campo sem que sua queda tenha sido testemunhada.

De onde vêm os meteoritos?


Alguns meteoritos tiveram suas órbitas precisamente
calculadas, como sendo provenientes de corpos situados
no cinturão dos asteroides, mas existem meteoritos
lunares e até, possivelmente, marcianos. Os meteoritos
carbonáceos podem ser originários de cometas, contudo
ainda não foi confirmada esta hipótese.

O que são asteroides?


Os asteroides são corpos
planetários pequenos e fragmentos que
se movem em órbita solar numa região
compreendida entre as órbitas de Marte
e de Júpiter denominada Cinturão dos
~ 17 ~
Asteroides. Já foram descobertos mais de 540.000
asteroides e a cada dia mais são descobertos. O maior é
o Ceres, descoberto em 1801, cujo diâmetro é
aproximadamente de 900 km e constitui 30% da massa
de todos os asteroides combinados. Vesta e Palas são
dois outros asteroides de considerável tamanho, com
diâmetros superiores a 400 km. Além desses três corpos
grandes, o cinturão de asteroides é povoado por milhões
de fragmentos pequenos e de formato irregular com
quase dois milhões deles medindo mais de um quilômetro
de diâmetro.
Alguns asteroides foram empurrados ou puxados
gravitacionalmente para órbitas que cruzam a trajetória
da Terra. São os asteroides dos grupos Apollo, Amor e
Aten que originam a maior parte dos meteoritos que
colidem com o nosso planeta.
Embora apenas poucos asteroides tenham sido
estudados diretamente por sondas espaciais, existe uma
correlação entre os diferentes tipos de meteoritos e
eventuais grupos de asteroides. Essa constatação veio do
estudo destes astros por técnicas remotas de observação
não visual como os raios, ultra violeta, infravermerlho,
radar, fotometria, polarimetria e radiometria.

~ 18 ~
Fig. 3 – O espectro de
três asteroides (traço
cheio) comparados a
alguns tipos de
meteoritos. A
semelhança é suficiente
para sugerir uma
correlação genética.

Quantos meteoritos caem na Terra?


Estima-se em 500 meteoritos caem na Terra
anualmente com tamanho suficiente para serem
identificados e recuperados, embora a atmosfera
terrestre seja continuamente bombardeada por
partículas cósmicas. Segundo a NASA, estima-se que
caiam anualmente na Terra 36.000 toneladas de material
cósmico, na sua maioria em forma de poeira.
Os meteoroides penetram a atmosfera da Terra
vindos de todas as partes do espaço,
assim mais de 70% desse 500
meteoritos que atingem a superfícies
caem nos oceanos e os 30% restantes,
nos continentes. Apesar da população
da Terra ser expressiva, existem muitas
~ 19 ~
áreas praticamente despovoadas onde caem meteoritos
que ficam perdidos para sempre, acabando por se
alterarem e se transformarem em partes do solo. Por
essa razão, são recuperados por ano apenas entre 4 a 10
meteoritos cujas quedas foram presenciadas. Nos
últimos 200 anos, segundo o Catálogo de Meteoritos,
publicado em 2000, ocorreram 1.005 quedas
comprovadamente testemunhadas.
Supõem-se, entretanto, que nos últimos 4 bilhões
cerca de 20 quatrilhões de toneladas de matéria
meteorítica incorporaram-se à massa da Terra,
suficientes para produzir uma camada de sedimentos
com aproximadamente 40 cm de espessura, porém,
devido ao movimento da crosta terrestre ou à tectônica,
a maioria deste material se encontra em profundidade.
Impactos de grandes meteoritos formadores de
crateras são raros nos dias de hoje, embora já tenham
sido bastante frequentes nos primórdios terrestres.

Quais as chances de um meteorito atingir uma


pessoa?
Raramente os meteoritos atingem objetos, pessoas
ou animais, contudo muitos dos meteoritos recuperados
chocaram-se com telhados, árvores e
veículos, facilitando sua recuperação.
Imagine que você estacione seu carro
em frente ao portão da sua casa e,
passados alguns minutos, após um silvo
estridente, ouve um enorme estrondo.
~ 20 ~
O que pensaria de imediato? Vinha-lhe logo à ideia de
que algum “maluco” tenha batido contra o seu carro, mas
se ao sair de casa visse que seu carro fora atingido por
uma pedra... Iria pensar que esta pedra tivesse caído do
céu? Foi o que aconteceu em 9 de outubro de 1992, em
Peekskill, Nova Iorque, onde um meteorito de 12 kg
atingiu em cheio o cadillac 1980 de Michell Knapp. Apesar
da queda do Peekskill ter produzido um bólido visto e
filmado atravessando vários estados americanos, apenas
o fragmento que atingiu o carro foi recuperado.

Fig. 4 – Foto do bólido avistado na queda do meteorito Peekskill em


outubro de 1992 e o famoso cadilac de Michell Knapp atingido pelo
meteorito.

Todavia, existem diversos registros históricos de


meteoritos que atingiram proprie-
dades, casas, celeiros, animais e até
mesmo algumas pessoas. O caso mais
célebre é a senhora Hodges, em 30 de
novembro de 1954, no Alabama,
Estados Unidos. O meteorito perfurou o
~ 21 ~
telhado de sua casa, ricocheteou no chão junto ao
aparelho de televisão e acabou por lhe bater na virilha.

Mas não tema que isso possa acontecer com você,


pois a probabilidade de sermos atingidos por um
meteorito é tão pequena que quase não merece ser
considerada. É mais
fácil acertar várias
vezes na loteria que ser
atingido por um
meteorito.
Existem diversos
relatos de animais
mortos por meteoritos.
O caso mais famoso,
mas duvidoso, foi de
um infeliz cachorro que
vivia num oásis do Egito
em 28 de junho de
1911. O animal foi
morto pelo meteorito
marciano Nakhla. Trata- Fig. 5 – A senhora Hodges,
se, assim, do primeiro junto do seu médico.
ser vivo terrestre a ser
atingido e morto por um “marciano”.
Em 1836, o meteorito brasileiro Macau,
RN, caiu matando várias vacas,
segundo relatos de jornais da época.

~ 22 ~
Do que os meteoritos são formados e como são
classificados?
Existem três tipos básicos de meteoritos: os sideritos
(metálicos), constituídos de uma liga metálica de ferro-
níquel; os aerólitos (rochosos), constituídos de material
rochoso; e os siderólitos (mistos), formados de uma
mistura mais ou menos equivalente de material rochoso
e ferro-níquel. Como os nomes indicam, esta classificação
é baseada nas proporções relativas de metal e rocha.
Muitos meteoritos rochosos são caracterizados por
possuírem pequenos agregados esferoidais com
diâmetros milimétricos denominados côndrulos. Os
meteoritos rochosos com estas esférulas são
denominados condritos e os que não os têm são os
acondritos.
Uma classificação mais sugestiva e correta do ponto
de vista genético deveria considerar dois grandes grupos:
os diferenciados e os não diferenciados, ou seja, os
condríticos e os não-condríticos, em que os elementos do
segundo grupo seriam derivados dos do primeiro devido
à diferenciação magmática, como apresentada na Tab. 3
no final do livro.

Qual o tamanho dos meteoritos?


Existem meteoritos de todos os
tamanhos, desde poeira cósmica até
dezenas de toneladas. Os meteoritos
metálicos, por serem mais resistentes,
tendem a serem maiores. O maior
~ 23 ~
meteorito conhecido é o siderito Hoba, que ainda
permanece no local de sua queda, em Grootfontein, na
Namíbia. Seu peso aproximado é de 60 toneladas,
podendo ter pesado cerca de 100 toneladas quando caiu.
Este meteorito não produziu cratera de impacto e
acredita-se que seja o maior tamanho que um meteorito
possa chegar à Terra sem formar crateras.

Fig. 6 – meteorito Hoba, Grootfontein, Namíbia. É o maior


meteorito conhecido e ainda se encontra no local onde caiu,
sendo escavado para melhor visualização (Foto de André
Ribeiro).

Na tabela 2, temos uma relação dos


maiores meteoritos conhecidos até o
presente. O Bendegó ainda figura entre
os 15 maiores, se considerarmos as
diversas massas do Cape York e do
~ 24 ~
Campo del Cielo como o mesmo meteorito. Por muito
tempo, o Bendegó foi o segundo maior do mundo e o
primeiro em exibição em museu.

N°. Meteorito País Peso (t) Achado


1 Hoba Namíbia 66,0 1920
Campo del Cielo
El Gancedo 30,0 2016
(Chaco) 28.8 1969
2 Argentina
(Mesón de Fierro) 20,0 1576
(Santiago del 10,0 1997
Estero)
Cape York
3 (Ahnighito) Groenlândia 34,0 1894
(Agpalilik) 20,1 1963
4 Gobi China 33,0 1965
5 Bacubirito México 22,0 1863
6 Armanty China 20,0 1898
7 Mbosi Tanzânia 16,0 1930
8 Willamette USA 14,1 1902
9 Chupaderos I México 14,1 1852
10 Mundrabilla I Austrália 11,5 1966
11 Morito México 11,0 1600
12 Port Oxford USA 10,0 1859
13 Bendegó Brasil 5,36 1784
Tabela 2 – Relação dos maiores
meteoritos do mundo.

~ 25 ~
Fig. 7 – Meteorito
Bendegó, Bahia. O
maior meteorito
brasileiro com 5,36
toneladas se
encontra em
exposição no Museu
Nacional desde seu
transporte para o Rio
de Janeiro em 1888.

O que são micrometeoritos?


São partículas de cerca de 100 m tão leves que ao
penetrarem na atmosfera ficam em suspensão, caindo
lentamente na superfície terrestre. Podem ser coletadas
por meio de painéis especiais com silicone colocados em
aviões da NASA (Administração Nacional de Aeronáutica
e Espaço) que voam em altitudes elevadas. Também são
encontrados no gelo da Antártida e no fundo oceânico.

Como reconhecer meteoritos?


Apesar dos meteoritos se diferenciarem das demais
rochas da Terra, é necessário certo treino para
reconhecê-los. Quando caem, apresentam uma fina
película escura por fora denominada
crosta de fusão, cuja cor e composição
é diferente de sua porção interior. Ao
ficar exposta às intempéries, esta
crosta começa a se alterar devido à

~ 26 ~
chuva e vegetação, tornando mais difícil o
reconhecimento da rocha como sendo um meteorito.
Apesar de não podermos generalizar a aparência dos
meteoritos, eles apresentam algumas características
particulares que os diferenciam das demais rochas
terrestres:

Crosta de Fusão: Os
meteoritos são
recobertos por uma fina
camada escura chamada
crosta de fusão,
resultante dos efeitos do
calor quando de sua
passagem pela
atmosfera da Terra.
Devido à velocidade de Fig. 8 – Meteorito de
penetração do meteorito, a Patrimônio , achado/caído em
parte de sua superfície Minas Gerais, mostrando a fina
crosta de fusão preta em
funde-se e desprende-se contraste com o interior cinza.
fazendo com que o calor
gerado pelo atrito das partículas do ar contra a parte
externa seja dissipado, mantendo o interior do meteorito
frio. Ao atingir o solo, apenas uma fina
camada do material vítreo fundido fica
aderida à superfície. Essa crosta de
fusão, geralmente é preta e fosca
podendo, entretanto, ser brilhante nos
acondritos, em especial nos eucritos.
~ 27 ~
Regmaglitos: Uma característica muito comum nos
meteoritos é a existência de depressões que se
assemelham a marcas de dedos em massa de modelar,
chamadas regmaglitos. São formadas pela fusão
diferenciada ou ablação durante a passagem
atmosférica. Os meteoritos que se fragmentam na fase
final do percurso consequentemente desenvolvem
menos regmaglitos. Assim, os meteoritos metálicos, por
serem mais resis-
tentes, apresentam
esta característica de
forma mais mar-
cante que os meteo-
ritos rochosos. O
intemperismo terres-
tre, no entanto, ten-
de a apagar altera
essas marcas, che-
gando mesmo a
extingui-las.

Fig. 9 – Foto do Pirapora, achado em Minas Gerais,


exibindo os regmaglitos muito comuns nos
meteoritos metálicos.

Formato: Os meteoritos apresentam


formatos bem variados e irregulares,
pois são moldados pelas forças
~ 28 ~
atuantes durante a passagem atmosférica. A maioria dos
meteoritos rochosos se fragmenta na atmosfera,
mostrando formas semi-fraturadas, que tendem, no
entanto, a terem os cantos arredondados. Alguns
meteoritos metálicos provenientes de crateras ou de
fragmentação na atmosfera se apresentam com as
pontas retorcidas.

Magnetismo: A maioria dos meteoritos é atraída por


imã. Nos meteoritos metálicos esta atração é mais forte
que nos rochosos.

Densidade: Os meteoritos metálicos chegam a ter


densidade de 7,7 g/cm3, enquanto nos rochosos a
densidade varia de 2,11 a 3,15 g/cm3, Alguns exemplares
dos condritos carbonáceos acondritos apresentam
densidade equivalente e até menor que as rochas
terrestres.

A presença de Ferro-Níquel: A maioria dos meteoritos


contém ferro-níquel metálico. Quando lixados, os
meteoritos rochosos exigem pontinhos com brilho ,
enquanto os sideritos quando serrados mostram um
interior semelhante na cor e textura ao
aço inoxidável, como a lâmina de uma
faca.

Côndrulos: Esférulas milimétricas de


minerais compostas de olivina,
~ 29 ~
plagioclásio e piroxênio presentes na maioria dos
meteoritos condritos. Acredita-se que os côndrulos foram
formados nos primeiros estágios do sistema solar e, ao
se juntarem, deram origem aos planetesimais, astros
precursores dos planetas.
Os meteoritos rochosos acondritos não apresentam as
características acima, exceto crosta de fusão e
regmaglitos, tornando-se difíceis de identificar à primeira
vista por serem muito parecidos com rochas terrestres.
Geralmente são recuperados logo após a queda ou em
busca realizadas nos desertos e na Antártida onde são
preservados por longo tempo, conservando a crosta de
fusão. Nesses locais acumularam-se grande quantidade
de meteoritos ao longo dos milênios e a ocorrência de
rochas é muito rara.

Fig. 10 – Côndrulos no meteorito Santa


Vitória do Palmar, largura do campo
4mm

~ 30 ~
Quais são os objetos que se confundem com
meteoritos, conhecidos como “mentioritos”?
A maioria das pessoas pensa que um meteorito é
uma pedra preta, esburacada e pesada. Estas
características são comuns em algumas rochas e
minérios terrestres como a magnetita, a hematita e o
basalto, muito encontrados no Brasil.
Os objetos que são mais confundidos com meteoritos
são instrumentos líticos, machados indígenas,
conhecidos como pedras de raio, que são desenterrados
pelos agricultores lavrando o campo ou achados nas
matas e leitos secos de rios. Essas rochas estão
relacionadas a superstições e crendices: são
transportadas em relâmpagos e raios, enterram-se após
cair e permanecem no subsolo durante sete anos,
aflorando em um dia de chuva após esse tempo. Não sei
a razão, mas segundo a crendice popular, as pedras
caem dos raios ou relâmpagos e ficam enterradas por 7
anos até aflorar em um dia de chuva.
Outros objetos, como escória de siderurgia, pedaços
de trilho ou ferramentas antigas muito oxidadas, são
facilmente confundidos com meteoritos, pois apresentam
a parte externa oxidada e o interior metálico. Nesses
casos, recomenda-se analisar um
fragmento para verificar a existência ou
não do elemento Níquel,
invariavelmente presentes em
meteoritos metálicos. Algumas rochas
intemperizadas apresentam uma crosta
~ 31 ~
preta de oxidação e o interior mais claro, sendo bastante
confundidas com meteoritos rochosos. No entanto, estas
crostas são bem mais espessas que a crosta de fusão dos
meteoritos e são formadas por manganês.
Visto que os meteoritos apresentam depressões e
sulcos, muitas rochas com furos são confundidas com
meteoritos. Lavas vulcânicas escuras e resistentes como
o basalto também se parecem com meteoritos. Rochas
com conteúdo alto de ferro são magnéticas e atraem um
imã levando as pessoas a confundi-las com meteoritos

Se eu encontrar um meteorito, ele é meu?


No Brasil não há leis que definam quem é o dono do
meteorito. Segundo Neves, M. P. (2014), a ausência de
norma faz surgir inúmeras controvérsias acerca dos
direitos reais sobre estes bens.
De um lado, o art. 20, IX da Constituição Federal do
Brasil estabelece que os recursos minerais são
propriedade da União; de outro, os pesquisadores
afirmam que, por não se enquadrar em tal conceito, o
meteorito não poderia ser considerado um bem público
em sentido estrito.
Poder-se-ia entender o meteorito como res nullius,
termo jurídico que significa “coisa sem
dono”, aplicando-se aos meteoritos
regras existentes para a descoberta de
tesouros. Nessa linha de pensamento,
assiste direito ao proprietário do
terreno e ao mesmo tempo a quem os
~ 32 ~
encontra. No Brasil, existe necessidade de se promulgar
Lei para assegurar a quem encontrar meteoritos em
nosso país o direito de propriedade total ou parcial e
assegurar sua livre comercialização doméstica ou
internacional, criando-se assim um ambiente jurídico que
favoreça pesquisas para recuperação dessas rochas
espaciais.
Nos Estados Unidos os meteoritos pertencem aos
donos das terras onde foram recuperados, sendo
propriedade da União os espécimes encontrados em
terras públicas. Não existe qualquer proibição ou
necessidade de permissão federal para sua exportação
ou comercialização doméstica, sendo permitida a coleta
dessas rochas em terras públicas, mediante
licenciamento. O Canadá segue a mesma regra dos
Estados Unidos sobre a propriedade, mas exige
permissão federal para a exportação que pode ser
negada, caso o meteorito seja de interesse cientifico
relevante.

O que devo fazer se encontrar um meteorito?


Deve enviar uma amostra de pelo menos 100 g para
análise e depósito em uma instituição científica como o
Museu Nacional. Lá ele será estudado e
submetido ao comitê de nomenclatura
da Meteoritical Society, onde poderá
receber oficialmente um nome (que
será o nome da cidade onde foi
encontrado) e figurar no Meteoritical
~ 33 ~
Bulletin. O restante do meteorito ficará com o
descobridor para fazer o que lhe convier.

Meteoritos são valiosos?


Os meteoritos, assim como minerais exóticos e
gemas são valiosos para colecionadores e cientistas. O
valor comercial desse material é inversamente
proporcional a sua abundância. Assim, meteoritos muito
raros (lunares, marcianos e acondritos de um modo
geral) atingem valores altos no mercado internacional.
Os condritos e sideritos são bem mais baratos,
obedecendo a inexorável lei da oferta e da procura.
Importante frisar que os meteoritos, assim como as
pedras preciosas são comercializados em pequenas
quantidades, possuindo um mercado bem restrito em
termos de potenciais compradores.

Como faço para ter um meteorito?


Com muita sorte e esforço poderá dedicar-se a uma
busca sistemática para encontrar um, seguindo indícios e
relatos de bolas de fogo que cruzam os céus e estrondos
ouvidos após a passagem de bólidos. Outra forma de
obter um meteorito é comprá-lo. No exterior existem
muitas empresas e colecionadores que vendem
meteoritos, comercializados através da
internet com preços acessíveis.
Os meteoritos mais comuns como
Campo del Cielo e principalmente os
NWA, designação genérica para

~ 34 ~
meteoritos achados nos desertos do Noroeste da África,
possuem preços bastante razoáveis. Muitos vendedores
de meteoritos, conhecidos como “dealers”, são
credenciados pela IMCA - International Meteoritic
Collector Association. Meteoritos também podem ser
adquiridos em feiras internacionais de minerais como as
de Tucson e Denver (Estados Unidos), Munique
(Alemanha) e Santa Maria aux Mine (França). No Brasil,
grupos de colecionadores e comerciantes (dealers) de
meteoritos estão começando a se formar e necessitam
ser amplamente estimulados pelos cientistas visando
maior disponibilização de material extraterrestre para
estudos.

É legal a importação e exportação de meteoritos?


As leis sobre exportação de meteoritos variam de
país para país. No Brasil, não existe uma lei específica
para regulamentar os achados de meteoritos e posterior
utilização ou comercialização. Essas rochas
extraterrestres são consideradas bens minerais e assim
tratadas pelo Código de Mineração.
No Brasil, a existência de dealers que permutam,
compram e vendem meteoritos e de um mercado
pequeno ainda não reconhecido
oficialmente pode ser malvista por
quem não seja familiarizado com a
meteorítica. Porém, ao contrário do que
ocorre com a Paleontologia e a
Arqueologia, que possuem normas
~ 35 ~
regulamentadoras referentes ao intercâmbio com
comerciantes, a participação dos amadores na
meteorítica é livre e muito estimulada
internacionalmente.
Está comprovada que a atuação de dealers
colecionadores de meteoritos ajuda a Ciência através da
descoberta de espécimes cientificamente importantes
e/ou representativos para exposições e coleções. Os
caçadores de meteoritos, pessoas que se dedicam à
busca sistemática dessas rochas, são os responsáveis por
cerca de 90 % de todos os meteoritos disponibilizados
para estudos científicos, excluindo-se as pesquisas
realizadas na Antártida por órgãos governamentais,
sendo importante lembrar que o desenvolvimento da
meteorítica foi altamente influenciado pelas descobertas
e estudos de um caçador de meteoritos e educador
americano chamado Harvey Nininger que formou uma
excelente coleção na décadas de 1930 e 1940,
posteriormente dividida em duas partes vendidas uma
para o Museu Britânico e outra para a Universidade
Estadual do Arizona, Estados Unidos.

O que são crateras de impacto?


As crateras de impacto são
estruturas circulares formadas quando
um corpo celeste (planeta, satélite ou
asteroide) é atingido por outro de
menor dimensão, como meteorito,
asteroide ou cometa.
~ 36 ~
A cratera de impacto mais conhecida na Terra é a
Cratera do Meteoro, situada no Arizona, Estados Unidos,
escavada pela queda de um meteorito metálico com
aproximadamente 50 metros de diâmetro, há cerca de 50
mil anos.
Contrastando com outros astros do sistema solar
como a Lua, Mercúrio e Marte, a Terra possui poucas
crateras devido ao seu dinamismo geológico que erode
as depressões escavadas por meteoritos. Em meados do
século passado, os cientistas começaram a valorizar os
estudos das crateras, passando a distinguir feições
produzidas por impactos daquelas decorrentes da
atividade geológica do planeta, a exemplo do vulcanismo
e terremotos. No site Earth Impact Database são listadas
188 crateras de impacto, com diâmetros entre 0,1 e-300
km e idades que chegam aos 2 bilhões de anos.
A Cratera de Vredefort, na África do Sul é um
exemplo de formações de impactos muito erodidas e
preenchidas por sedimentos. Essa cratera é a maior
identificada até o momento na Terra com cerca de 300
km de diâmetro e 2 bilhões de anos de idade,

Existem crateras de impacto no Brasil?


No Brasil há apenas 6 crateras
reconhecidas: Vista Alegre (RS), Domo
de Araguainha (MT/GO), Riachão (MA),
Serra da Cangalha (TO), Domo de
Vargeão (SC) e Colônia (SP). Esta
última localiza-se em uma área urbana,
~ 37 ~
no distrito de Parelheiros, na zona sul da cidade de São
Paulo.

Fig. 11 – A conhecida Cratera do Arizona – Meteor Crater –


formada há 50 mil anos pela colisão de um meteorito. A cratera
mede 1,2 km de diâmetro e 170 m de profundidade.

Existem crateras em todo o sistema solar?


Olhando para a Lua através de um pequeno telescópio
observa-se inúmeras crateras, escavadas pela queda de
meteoritos ao longo do tempo.. As sondas espaciais
mostraram que este fenômeno, o bombardeamento de
astros por meteoritos, não é uma
singularidade da Lua, mas uma
ocorrência comum em todos os
planetas terrestres, satélites e
asteroides do sistema solar. A
exploração espacial da Lua permitiu a
~ 38 ~
datação de rochas coletadas de sua superfície,
mostrando que as regiões mais antigas (Terras Altas),
com cerca de 4,2 bilhões de anos, são mais ricas em
crateras que as partes mais novas (Mares) com cerca de
3,8 Ga. Esse intervalo é uma evidência de que nos
primeiros 500 milhões de anos do Sistema Solar, logo
após a formação dos planetas, houve um grande número
de impactos, que foram diminuindo exponencialmente
até aos níveis atuais. Através da contagem do número de
crateras de um corpo celeste é possível datar com
aproximação razoável a ocorrência desse
bombardeamento e, consequentemente, a região
estudada.

Fig. 12 – Distribuição de crateras de


impacto na Terra.

~ 39 ~
O estudo da Lua, dos planetas terrestres e dos satélites
dos planetas gigantes corroborou esta ideia, ao tempo
em que a colisão de 21 fragmentos do cometa
Shoemaker-Levy 9 sobre o planeta Júpiter, em 1994,
demostrou eloquentemente como as superfícies
planetárias podem a qualquer tempo ser atingidas por
corpos espaciais de grande massa.

O que foi o evento Tunguska?


Em 30 de junho de 1908, uma gigantesca “bola de
fogo” cruzou o céu da Sibéria e explodiu dramaticamente
próximo do rio Tunguska. A explosão foi tão violenta que
tremores foram registrados por diversas estações
sismográficas bem distantes do local da ocorrência, como
a cidade de Postdam, na Alemanha.. Na Europa,
registraram-se perturbações no campo magnético
terrestre e uma nuvem de poeira na atmosfera fez com
que o céu permanecesse claro durante toda a noite,
permitindo a leitura de jornais na rua. Ondas de choque
geradas pela explosão do bólido entre 5 e 10 km de
altura, circularam o globo terrestre duas vezes. Mais de
2.000 km2 de floresta foram devastados pelas ondas de
choques e calor produzidos pela explosão.
À medida que relatos da grande
explosão chegavam a Moscou,
construíram-se diversas hipóteses para
a inusitada ocorrência e a mais aceita
atribuía a grande devastação a queda
de um meteorito, com peso superior a
~ 40 ~
um milhão de toneladas, Outras teorias criadas para
explicar o fenômeno são relacionadas a queda de um
cometa, explosão nuclear, explosão de nave alienígena,
choque de antimatéria com matéria. Somente em
fevereiro de 1927, o cientista russo Leonid Kulik partiu de
Moscou para a grande e difícil viagem até o local da
explosão Ao chegar ao local, Kulik e seus companheiros
Depois de encontraram um panorama catastrófico com
milhares de árvores caídas e calcinadas de cima para
baixo, como se um súbito e instantâneo calor as
houvesse queimado. Não encontraram nenhum sinal de
cratera meteorítica, nem fragmentos de meteorito como
seria de esperar, e o que teria provocado tal explosão
permanece um grande mistério até hoje, mais de 100
anos após o episódio.

Fig. 13 –
Árvores
derrubadas
na região de
Tunguska

(Crédito: Comissão de Meteoritos da


Academia de Ciências da Rússia).

~ 41 ~
É verdade que o impacto de um grande meteorito
causou a extinção dos dinossauros?
A descoberta de Walter e Luis Alvarez de uma
camada de sedimentos contendo alta concentração de
irídio na fronteira que marca a mudança dos terrenos do
Cretáceo para os do Terciário (K/T) ocorrida há 65
milhões de ano, em Gubbio, na Itália, coincide com a
época atribuída à extinção dos dinossauros. Essa
anomalia do irídio, aliada à presença de outros minerais
platinoides, bem como a ocorrência de indicadores de
impactos de grande porte, tais como quartzos alterados
por choques de alta pressão, formação de microtectitos
e esférulas em desvitrificação, espinélios niquelíferos e
outras evidências isotópicas, embasam a hipótese de
uma colisão de um corpo celeste com 10 km de diâmetro
no final do Cretáceo.
A descoberta em 1991 da cratera submersa de
Chicxulub, no Golfo do México, com cerca de 200 km de
diâmetro e precisamente com idade de 65 milhões de
anos, fortaleceu a teoria da extinção dos dinossauros
pelos efeitos causados pela queda de um pequeno
asteroide.

Poderiam outras extinções


também estarem ligadas a
impactos cósmicos?
Por volta de 1980, alguns
paleontólogos começaram a verificar
que havia uma certa periodicidade nas
~ 42 ~
extinções globais de fauna e flora ao longo dos últimos
250 milhões de anos. Descobriram que havia extinções
menores que ocorriam num período de 26 a 30 Ma. Esta
mesma periodicidade foi encontrada em eventos
geológicos, como ciclos tectônicos, distúrbios
geomagnéticos, picos de ocorrência de crateras de
impacto, grandes erupções vulcânicas (“traps”) e
eventos glaciais e climáticos, criando-se favorecendo a
ideia de que essas periodicidades estavam relacionadas
a movimentos astronômicos regulares.
Um grupo de estudiosos da Universidade de Berkeley
alertou para o fato de que muitos níveis estratigráficos
apresentavam assinaturas de impacto, coincidentes com
extinções em massa ou “stepwise extinctions”,
formando-se um novo ramo das Ciências da Terra – a
Impacto-Estratigrafia – onde os métodos tradicionais da
Estratigrafia abraçam colaborações astronômicas,
cosmoquímicas e mineralógicas.
Hoje são conhecidas cinco fronteiras estratigráficas
com registros de mega-impactos correlacionados às
idades dos grandes derramamentos de lava (“traps”) e
das principais extinções em massa nos últimos 250
Ma:Chicxulub há 65 Ma, Manicouagan e Rochechouart há
210 Ma, Popigai e Chesapeake Bay há
35 Ma; outra provável estrutura de
mega-impacto com idade de 91 Ma
está localizada 300 km a oeste de
Peniche, em Portugal. (Adaptado de

~ 43 ~
Courtillot, 1995; Ribeiro, 1998; e Monteiro, 2004)

Fig. 14 – Episódios de algumas extinções em massa ao longo


dos últimos 250 Ma, estando muitas delas associadas a
marcadores mineralógicos e assinaturas geoquímicas de
impacto e a grandes crateras.

Por que esta periodicidade nas


extinções estaria ligada a impactos
cósmicos?
O sistema solar não está parado na
nossa galáxia (Via Láctea). Coinciden-
temente, o tempo que ele leva para dar
~ 44 ~
uma volta em torno do eixo galáctico é de 250 Ma e do
movimento oscilatório de saltitação, acima e abaixo do
plano de simetria imaginário que passa pelo plano médio
da galáxia, é de 30 Ma. Pode ser que este movimento
oscilatório cause um efeito gravitacional de ressonância
que desloque cometas da Nuvem de Oort para o sistema
solar interior, aumentando a chance de impactos
catastróficos sobre os planetas, inclusive a Terra.
A exploração espacial nos fez entender que a Terra
não é um sistema fechado. Os efeitos de mega-impactos
sobre a superfície do nosso planeta ainda estão longe de
serem compreendidos satisfatoriamente. A ligação do
impactismo, do vulcanismo, da tectônica de placas e da
origem e evolução da vida é certamente um desafio para
a Geologia que cada vez mais terá que considerar os
eventos astronômicos.

Esta teoria é aceita pela ciência?


Assim como a comunidade científica levou muitos
anos para aceitar a hipótese de que os meteoritos eram
extraterrestres, a comunidade geológica atual ainda tem
muita resistência à hipótese de impactos cósmicos,
apesar das evidências marcantes sobre a Terra e todos
os demais corpos planetários rochosos.
Os cientistas planetários, astrônomos e
físicos que lidam com questões da
exploração espacial e estudam os
meteoritos aceitam a teoria dos
grandes impactos porque têm uma
~ 45 ~
visão da Terra como corpo celeste sujeito a colisões com
outros astros do sistema solar. Essa visão tem sido
compartilhada com geólogos e paleontólogos que aos
poucos vão considerando a importância desses eventos
em suas áreas de estudos.

Ainda poderão ocorrer outros impactos cósmicos


na Terra?
Alguns corpos menores do sistema solar têm órbitas
tangenciando a da Terra, podendo um dia colidir com
nosso planeta se forem perturbados em seu caminho ao
redor do Sol. Estes objetos, mais conhecidos pela sigla
NEAs, Near Earth Asteroids, (Asteroides Próximos à
Terra) são meteoroides, asteroides e restos de cometas
que constituem uma verdadeira ameaça à vida na Terra,
justificando permanente monitorização de seus
movimentos. Isso está sendo feito por diversos
programas de observação astronômica, como o projeto
LINEAR (Lincoln Near Earth Asteroid Research),
conduzidos pela NASA e ESA. Essa ameaça de uma
extinção em massa em nosso tempo somente foi levada
a sério quando fragmentos do cometa Shoemaker-Levy
9 se chocaram contra Júpiter em 1994. O impacto foi
previsto por um dos descobridores do
cometa (Eugene Shoemaker), principal
defensor da teoria de que “impactos
cósmicos que ocorreram no passado
ainda poderiam ocorrer” no presente.

~ 46 ~
Assim, a partir de 1995, começou o patrulhamento
do céu em busca de asteroides e cometas com passagens
próximas à Terra, catalogando-se mais de 14 mil objetos
com essa característica. Em 2013, o asteroide 2012DA14
s passou a apenas 27.700 km da Terra, mais próximo que
os satélites estacionários que orbitam nosso planeta a
35.000 km de altura. Esse asteroide mede 45 metros de
comprimento e tem uma massa equivalente a cerca de
130.000 toneladas.

Fig. 15 – Número cumulativo de Near-Earth Asteroids (NEAs)


conhecidos ao longo do tempo.
http://www.nasa.gov/topics/solarsystem/features/asteroidflyby.html

O que são objetos Apolo?


Os asteroides que passam próximos
à Terra se dividem em três grupos
segundo suas órbitas: o grupo Atenas
~ 47 ~
(que tem órbita interna a da Terra), o grupo Apollo (que
cruza a órbita do nosso planeta) e o grupo Amor (com
um periélio um pouco exterior à órbita terrestre). Estes
objetos podem se aproximar fortemente da Terra.

Os meteoritos são radioativos?


Não, os meteoritos não contêm uma quantidade
maior de elementos radioativos do que qualquer outra
rocha terrestre.

Qual a idade dos meteoritos?


Através da geocronologia são atribuídos três
intervalos de tempo que podem ser calculados: i) idade
de cristalização ou de Formação; ii) idade de exposição
aos raios cósmicos; iii) idade terrestre

Idade de Cristalização ou de Formação - É o tempo


entre o presente e o último evento de alta temperatura
ocorrido na história do meteorito. Esse tempo é
determinado diretamente através de sistemas isotópicos
de elementos de meia-vida longa, destacando-se os
pares 187Re-187Os e 238/235U-238/235Pb pela precisão de seus
resultados.
Esta idade para os acondritos
basálticos, por exemplo, é o intervalo
de tempo desde a sua cristalização a
partir de um magma até hoje. Os
condritos formaram-se pela acresção de
~ 48 ~
várias substâncias, correspondendo sua idade de
formação ao tempo decorrido a partir da cristalização de
seus minerais, geralmente próxima a 4,56 Ga.

Idade de Exposição aos Raios Cósmicos – Os astros


que compõem o sistema solar, incluídos nessa categoria
os meteoroides que colidem com a Terra, são expostos a
um contínuo bombardeamento de raios cósmicos e
partículas do vento solar. A ação dessas partículas de alta
energia sobre corpos desprovidos de atmosfera e
magnetosfera geram reações nucleares que produzem
isótopos que são utilizados em geocronologia para
determinar o tempo em que o meteoroide vagou pelo
espaço antes de colidir com nosso planeta.
Essas radiações são predominantemente compostos
de prótons, nêutrons e partículas alfa, e sua energia é da
ordem de 100 MeV (mega-eletron volts) a 10 GeV (Giga-
eletron volts). Essa energia se traduz em velocidades
entre 43% e 99% da velocidade da luz.

Idade Terrestre – A idade terrestre de um meteorito é


o tempo decorrido desde sua queda até a determinação
em laboratório de suas concentrações de isótopos
cosmogênicos. Estes ao chegarem na
atmosfera terrestre, começam a decair,
permitindo a determinação da idade
terrestre de meteoritos.
Os principais isótopos utilizados
para determinação dessa idade são:
~ 49 ~
Ar, 14C e 36Cl. O cálculo do tempo de residência de um
39

meteorito na Terra, em essência, segue a mesma


metodologia e princípios aplicados à obtenção da idade
de exposição aos raios cósmicos, através da medição das
concentrações de isótopos produzidos por spallation ou
captura de nêutrons enquanto o meteoroide vaga pelo
espaço.

O que é vida?
Definir o que se entende por vida não é fácil, pode-
se dizer que os seres vivos se caracterizam por quatro
propriedades fundamentais: crescem, alimentam-se,
reagem ao ambiente e reproduzem-se.
As bactérias são os mais simples dos seres vivos
capazes de se multiplicar independentemente. Não
incluímos aqui os vírus, que apenas se reproduzem no
interior da célula de um hospedeiro adequado.

Quando surgiu a vida?


Os primeiros seres fossilizados que se conhecem são
os estromatólitos – estruturas calcárias resultantes da
atividade de cianobactérias – com 3,46 Ga. Esses
procariotas (células simples sem núcleo) foram os únicos
habitantes da Terra durante a maior
parte da história. Existem evidências
isotópicas do carbono encontrado em
algumas rochas com 3,8 Ga que
apontam para que a vida já existisse
por essa altura, empurrando a sua
~ 50 ~
origem para o conturbado período de violência de
impactos (cometas e asteroides) sobre a Terra,
conhecido pelos geólogos como o Éon Hadeano.

O que é panspermia?
Em 1905, o químico sueco Svante Arrhenius (1859-
1927) sugeriu que a vida tivesse chegado à Terra sob a
forma de germes. Esta ideia que ficou conhecida por
panspermia e que ainda hoje tem os seus seguidores,
como a dupla do cosmólogo Fred Hoyle (1915-2001) e
do astrofísico Chandra Wickramasinghe. Estes partidários
do neo-panspermismo escreveram vários livros de
popularização nos quais defendem que os cometas
seriam os reservatórios de germens de vida que
"semeariam" os planetas com vida. Foram ainda além,
dizendo que muitas das pestes e epidemias da história
da humidade foram provocadas por vírus trazidos por
cometas.

O que são extremófilos?


Algumas bactérias estão adaptadas aos mais
variados limites de pressão, temperatura, salinidade,
radiação, ausência de Sol, e ambientes onde outrora não
se imaginava a vida ser possível. A
descoberta destes extremófilos, como
são designados, é uma das maiores
promessas para a astrobiologia.

~ 51 ~
Como surgiu a vida?
Em 1928, o biólogo inglês J. B. S. Haldane (1892-
1964) publicou um artigo sobre as possíveis condições
iniciais que teriam permitido o aparecimento da vida na
Terra. Considerava-se que os raios ultravioletas
provenientes do Sol atuaram na atmosfera primitiva da
Terra, formando uma imensa quantidade de compostos
orgânicos. Muitos teriam se acumulado nos oceanos
primitivos. A presença de alguns minerais, como as
argilas e a pirita, teria funcionado como substâncias
catalisadoras o que facilitou as sínteses químicas
complexas, possibilitando a formação de agregados de
moléculas cada vez mais complexos, que acabariam por
adquirir propriedades replicativas.
Em 1953, o jovem Stanley Miller, estudante de
doutorado na Universidade de Chicago, sob orientação
do famoso químico Harold Urey (1893-1981), realizou a
famosa experiência em que obteve uma variedade de
compostos orgânicos simples a partir de uma mistura
inorgânica semelhante ao que se supunha ser a
atmosfera primitiva da Terra, porém observada nos
planetas gasosos. Miller fez atravessar uma descarga
elétrica em um balão com água e uma mistura de metano
(amônia e hidrogênio). Ao destilar a
água em um circuito fechado,
conseguiu sintetizar além de ácidos
simples, como acético e fórmico, pelo
menos dois aminoácidos e o ácido
cianídrico, que é capaz de dar origem a
~ 52 ~
derivados muito mais complexos. Desde esta data, essa
experiência foi repetida e melhorada por diversos
pesquisadores e quase toda a "química da vida" foi
produzida em laboratório.
Assim, os estudos da origem da vida incluem as
diferentes fontes, considerando os oceanos como o
ambiente mais propício às sínteses com as fontes
hidrotermais na dependência do calor vulcânico.

Fig. 16 – Resumo das


fontes de energia e
local provável onde as
sínteses bióticas
ocorreram na Terra
primitiva. (Crédito
José F. Monteiro)

A contribuição cósmica, porém,


deve ser considerada, pois muita da
matéria orgânica e a água da Terra
inicial teriam vindo dos cometas e
condritos carbonáceos. A partir disto, a
~ 53 ~
origem da vida tenha de ser considerada em tripla
perspectiva, cósmica, química e geológica, em que
astrônomos e geólogos têm cada vez um papel mais
importante na resolução deste enigma.

Qual a importância dos meteoritos para a origem


da vida?
Diariamente, toneladas de matéria orgânica rica em
carbono penetram na atmosfera terrestre em forma de
poeira microscópica proveniente da poeira dos cometas
e pequenos meteoroides. Por vezes, fragmentos maiores
caem na superfície como os meteoritos carbonáceos.
Esta quantidade era muito maior na época da formação
do Sistema Solar e são de grande importância para o
estudo da origem da vida.
Os meteoritos carbonáceos podem conter até 5% de
compostos orgânicos e 20% de água, sendo ambos os
componentes fundamentais para a vida.

Como os hidrocarbonetos teriam se formado no


espaço?
Os mecanismos que levam à produção e evolução das
moléculas orgânicas no meio interestelar ocorrem na
superfície de pequenos grãos de poeira
com gelo que, pela ação da radiação
ultravioleta, desencadeiam toda uma
série de reações químicas que leva à
formação de um invólucro orgânico em
torno do núcleo de poeira.
~ 54 ~
Uma descoberta formidável: o espaço interestelar
está cheio de matéria orgânica! E também o Sistema
Solar é um repositório de compostos orgânicos
complexos.
Só nos condritos carbonáceos existem cerca de 400
compostos orgânicos, incluindo alguns que ainda não
foram encontrados aqui na Terra.

Fig. 17 – Composição do cometa Halley visitado pela sonda


europeia Giotto comparada ao meteorito carbonáceo Orgueil.

A matéria orgânica formada no meio interestelar,


poderia ter contribuído para a origem da vida?
Esta é uma velha questão que nos levam a supor ter
havido uma forte contribuição cósmica para a origem da
vida na Terra. Isto, evidentemente, não
confirma a panspermia, que a vida
tenha vindo diretamente do espaço e
“semeada” no planeta onde teria
encontrado um ambiente favorável,

~ 55 ~
mas que os ingredientes para a formação da vida vieram
diretamente do espaço.

Fig. 18 – Condrito
carbonáceo de Orgueil,
que apresenta um teor
de 6% de matéria
orgânica. (Crédito:
MNHN, Paris)

Que tipos de aminoácidos estão presentes nos


meteoritos?
Estudos mais detalhados efetuados no Murchison e
em outros condritos carbonáceos recolhidos na Antártida
identificaram mais de uma centena de moléculas
orgânicas naqueles meteoritos. Hidrocarbonetos,
hexoses, aminoácidos, purinas, pirimidinas (bases dos
ácidos nucleicos), compostos fosfatados e outros
componentes essenciais à química dos seres vivos
existem em muitos meteoritos primitivos.

Existe vida fora da Terra?


O universo apresenta todos os
requisitos para formação de vida,
porém é necessário que haja condições
específicas para ela se desenvolver.
~ 56 ~
Com uma infinidade de sistemas planetários no universo,
é muito provável que a vida possa ter surgido em outros
mundos, contudo ainda não se teve esta comprovação
científica.

O que é o meteorito ALH84001? Ele veio mesmo


de Marte?
O meteorito ALH-84001 foi encontrado em dezembro
de 1984 na Antártida, próximo às montanhas Allan Hills.
O estudo da composição química revelou uma razão
isotópica idêntica as medidas na atmosfera marciana
pelas sondas Viking. Apesar deste meteorito não
pertencer ao grupo SNC (Shergotitos, Naklitos e
Chassignitos), tidos como oriundos de Marte, apresenta
as mesmas evidencias, exceto a idade.
Este meteorito possui idade estimada de 4,5 Ga e
caiu sobre a Terra há 13 mil anos, mantendo-se
preservado intacto no gelo.

Existia fóssil no meteorito marciano ALH-84001?


Em 1996, o mundo inteiro foi surpreendido com o
anúncio da NASA (Agência Espacial Americana), que
David McKay e sua equipe do Centro Espacial Johnson de
Houston haviam descoberto indícios de
vida no interior do meteorito marciano
ALH-84001. O artigo publicado na
revista “Science” diz que descobriram
“fósseis” de nano bactérias (cerca de 50
nanômetros) e “vestígios de atividade
~ 57 ~
biológica” relatados por uma estrutura semelhante a uma
bactéria – micro esférulas de carbonato e pontuações de
magnetita que juntos seriam vestígios inequívocos da
atividade de bactérias.
David McKay e seus colegas admitiram que, de forma
separada, estes indícios não permitem afirmar com
certeza sobre a presença de uma atividade biológica. "...
de maneira coletiva e, sobretudo, porque coincidem em
um mesmo espaço, estes fenômenos só podem constituir
uma prova da existência de uma forma de vida primitiva
no princípio da história de Marte", disse McKay.
Com novas técnicas, como a microscopia eletrônica
de alta resolução, foram estudados discos de carbono e
nano-cristais de magnetita, concluindo que o meteorito
interagiu fortemente com a água de Marte há cerca de 4
Ga. Enfim, provou-se que alguns argumentos contra o
meteorito não ter indícios biológicos deixassem de ser
verdadeiros.
Resumindo, só existem duas hipóteses, a biológica e
a não biológica. O estudo concluiu que a hipótese não
biológica não é possível, mas ainda não prova a
existência de vida no meteorito.

~ 58 ~
Fig. 19 – Estranhas
formas tubulares
interpretadas por
alguns como
“fósseis” de
bactérias marcianas
no meteorito ALH-
84001

Como os meteoritos influenciaram civilizações?


Os meteoritos tiveram papel destacado na vida dos
nossos antepassados, quer pelo mistério que envolvia a
sua queda, quer pelo enigma de sua origem. Assim, estes
objetos despertaram desde cedo interesses diversos.
Quando do tipo metálico, constituíam excelente
matéria-prima para o fabrico de utensílios e objetos de
defesa, havendo evidências de que foram usados por
diversos povos, como os egípcios, os maias, os incas, os
astecas e os esquimós. Alguns hieróglifos egípcios
mostram que aquela civilização já tinha conhecimento de
que os meteoritos provêm do firmamento, designando-
os por “ferro do céu”, a palavra grega sideros, de
siderurgia, vem do céu, ou seja, o ferro
do céu. Recentemente, foi comprovada
a origem meteorítica de uma adaga de
ferro encontrada na tumba de
Tutancâmon.

~ 59 ~
Também nas crenças religiosas, os meteoritos
ocuparam um lugar de destaque. A queda de um
meteorito causa espanto até nos dias de hoje e não era
de se estranhar que os antigos atribuíssem ao evento um
caráter sobrenatural. Como exemplos, temos: a Pedra
Negra ligada ao culto da deusa Cibele, e a Pedra de
Kaaba adorada pelos muçulmanos.
No Ocidente, a queda mais antiga de um meteorito,
cujo material ainda se encontra preservado, deu-se em
Ensisheim, na Alsácia. Tratava-se de um meteorito
rochoso que caiu em 16 de novembro de 1492. Diz-se
que o Imperador Maximiliano se referiu a esta queda
como a proclamação do sinal de Deus de que venceria a
batalha.

Quais informações os meteoritos trazem?


O estudo dos meteoritos nos traz informações dos
processos que se passaram na origem do Sistema Solar
e nas fases iniciais da evolução planetária, antes do
registro geológico que está disponível sobre a Terra e nos
planetas terrestres. O carácter primitivo, pouco ou nada
alterado, dos condritos os torna as rochas fundamentais
para o estudo do material primordial que formou os
planetas e até mesmo alguns processos
astrofísicos que ocorreram antes
mesmo da formação do Sistema Solar.
Este estudo se faz recorrendo a
sofisticadas técnicas analíticas que vão
desde a simples microscopia óptica até
~ 60 ~
técnicas de microscopia eletrônica com sistema de
microanálise por raios X, microssonda eletrônica,
microssonda iônica e métodos analíticos instrumentais,
como o ICP-MS, espectroscopia de massa, INAA
(Instrumental Neutron Activation Analysis), entre muitos
outros.
Por isso não é de todo descabido dizer que algumas
observações astronômicas importantes, geralmente
efetuadas com potentes telescópios, podem também ser
feitas com o recurso ao microscópio. As disciplinas de
Astronomia ao Microscópio, Cosmoquímica ou
Astromineralogia merecem hoje ser encaradas como
complementos auxiliares da Astrofísica.
Outro aspecto importante no estudo dos meteoritos
é o fato de eles apresentarem um registro isotópico de
distintas fontes astrofísicas que introduziram inequívocos
grãos de diamante e de carboreto de silício na nuvem
pré-solar. Assim, diferentes populações de carbono e os
seus marcadores, representados por distintas populações
isotópicas de gases raros, mostram que nucleossínteses
típicas de estrelas tipo “nova”, “gigante vermelha” e
“supernova” contaminaram a nuvem que veio a dar
origem ao Sol e aos planetas
Até pouco tempo atrás, toda
informação sobre a poeira interestelar
era obtida por observações
astronômicas. Hoje, sabemos que as
diferentes estrelas produzem vários
elementos químicos com diversas
~ 61 ~
relações entre os isótopos e que o Sistema Solar é uma
mistura de material proveniente de várias fontes
estelares.
Alguns meteoritos primitivos preservaram grãos pré-
solares, eles não só preservaram as anomalias isotópicas,
como também eles mesmos representam uma amostra
de estrelas mais antigas que o Sol. Portanto, os
meteoritos primitivos, formados há cerca de 4,5 Ga,
guardam “pedacinhos de estrelas” que viveram e
morreram antes do Sol.
Esse descobrimento abriu um caminho muito
frutífero que relaciona a Ciência Meteorítica com a
Astrofísica e a própria Física. A explicação para a
abundância dos elementos no Sistema Solar requer não
só considerar que houve contribuição de grãos de cada
estrela da galáxia, mas também aceitar que as próprias
estrelas que existiram antes do Sol incorporaram, ao
longo da evolução química da galáxia, material ejetado
por gerações anteriores a elas.
A Cosmoquímica está em constante evolução e seus
modelos se adaptam aos novos dados que os meteoritos,
como testemunhas privilegiadas dos primeiros instantes
da formação do Sistema Solar, vão aos poucos nos
entregando.

~ 62 ~
Fig. 20 – Se achar que tem um meteorito,
realize o teste aqui.

~ 63 ~
NÃO DIFERENCIADOS DIFERENCIADOS
CLASSE GRUPO EXEMPLO CLASSE GRUPO EXEMPLO

CONDRITOS ACONDRITOS
CI Ivuna EUCRITOS EUC Serra de Magé

VESTA
CM Murchison DIOGENITOS DIO Tatahouine
CARBONÁCEOS

CO Ornans HOWARDITOS HOW Le Teilleul


CONDRITOS

CV Allende ANGRITOS ANG Angra dos Reis

CK Karounda AUBRITOS AUB Norton County

CR Renazzo UREILITOS URE Novo Urei

CH ALH85085 SHERGOTITOS SHE Shergotty


MARTE

CB Bencubbin CHASSIGNITOS CHA Chassigny


NAKHLITOS NAK Nakhla
ORDINÁ

H Flandreau
CONDRI

ORTOPIROXENITO OPX ALH84001


TOS

L L’Aigle BASALTOS
LUA

LL St.Mesmin BRECHAS
ENSTAT

CONDRI

EH St.-Sauveur METÁLICOS-ROCHOSOS
ITA

PALASITOS PAL Brehan


EL Eagle
MESOSIDERITOS MES Chinguetti
RUMURU
R Rumuruti METÁLICOS
TI
KAKANG GRUPO CLASS.
K Kakangari EXEMPLO
ARI QUÍMICO ESTRUTURAL
IIAB H Patos de Minas
IIB, IIE Ogg Sikhote Alin
NÃO CONDRITOS IIIE, IIIF IC Og Canyon Diablo
ACAPULCOIT Acapulc
AC IIIAB, IID, IIIF Om Cape York
O o
LODRANIT LOD Lodran IVA, IIIC Of Gibeon
OS
WINONAIT WIN Winona
IIID Off Tazewell
OS
METÁLICOS – NÃO Balinoo
IIC, IIF Opl
MAGMÁTICOS
IVB D Hoba
IAB Og Campo Del Cielo
NÃO GRUPADOS IIE, UNG

Tab. 3 – Classificação dos meteoritos do


ponto de vista genético.

~ 64 ~

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