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Projeto 2 de F328

Cinturão de Van Allen


(QUESTÃO 03)

Daniel Stellet Nunes – RA 238470


Gabriel Oliveira Jacovetti – RA 234961
Márcio Ferreira de Santana – RA 34462
Matheus Menezes Silva – RA 251488

Campinas, 2022
O “Cinturão de Van Allen” é uma região do campo magnético da Terra, gerado pela
rotação do núcleo do planeta, que concentra partículas carregadas em movimento, como
prótons e elétrons. Essa concentração, citada anteriormente, existe devido a um fenômeno
chamado “espelho magnético" que “aprisiona” as partículas na região, de modo que ficam em
uma trajetória de “ida e volta” de um polo ao outro do planeta pela região do cinturão.

Ilustração 1: Esquema ilustrativo dos Cinturões de Van Allen ao redor da Terra. Fonte: NASA's
Goddard Space Flight Center/Tom Bridgman

Esse fenômeno ocorre por conta da variação de intensidade do campo magnético ao


longo do cinturão; em latitudes menores (próximo à Linha do Equador) a intensidade é menor,
e em latitudes maiores (próximo aos polos Sul e Norte da Terra) a intensidade é maior.
Na ilustração abaixo, é possível notar a maior concentração de linhas de campo nas
regiões em que a latitude é maior (próximo aos polos):
Ilustração 2: Linhas de campo magnético da Terra. Fonte: Nasa NASA's Goddard Space Flight
Center

Para entender melhor porque esse “aprisionamento” acontece, se faz necessário


entender o fenômeno dos “espelhos magnéticos”. Para isso, foi analisado o movimento de
uma partícula na região menos intensa do campo magnético.
Quando uma partícula entra no campo magnético com vetor velocidade 𝑣 paralelo às
linhas de campo, a força magnética será igual a 0 e, consequentemente, não haverá
aceleração.

Ilustração 3. Partícula carregada com velocidade paralela ao campo.

Pela fórmula da força magnética 𝐹 = 𝑞. 𝑣 × 𝐵, como o produto vetorial entre


𝒗 e 𝑩 é zero (ângulo entre eles é 0), a força também é zero.
Em outra situação, quando outra partícula entra no campo com uma velocidade não
paralela ao campo, a decomposição vetorial vai nos dar uma componente paralela (𝑣 ∥) e
uma componente perpendicular (𝑣 ⊥). Calculando a força magnética para cada uma dessas
componentes, é obtido que:
𝐹⃗ = 𝑞. 𝑣 ⊥ × 𝐵 ≠ 0, e com direção perpendicular a 𝑣 ⊥ e 𝐵 , pela regra da mão
direita.
𝐹⃗ = 𝑞. 𝑣 ∥ × 𝐵 = 0, utilizando o mesmo raciocínio descrito no caso em que o vetor
velocidade é paralelo às linhas de campo.

Ilustrações 4a e 4b. Movimento descrito por uma partícula positiva em um campo magnético.

A força magnética gera uma aceleração centrípeta, e, portanto, a partícula tem uma
trajetória de espiral, como está representado na ilustração 4. O sentido de rotação é variável,
dependendo da carga da partícula e o sentido do vetor velocidade 𝑣.
Entendido o movimento “padrão” de uma partícula carregada em um campo
magnético, a discussão será aprofundada no contexto do Cinturão de Van Allen. O campo,
nesse contexto, varia na direção paralela às linhas de campo, ou seja, o gradiente 𝛻𝐵 é
paralelo a 𝐵 (𝛻𝐵 ∥ 𝐵). Chegando próximo aos polos, o campo se intensifica e há uma
variação grande.

Ilustração 5: Linhas de campo magnético da Terra. Fonte: Nasa NASA's Goddard Space Flight
Center
Ilustração 6: Imagem retirada do livro Introduction to Plasma Physics and Controlled Fusion,Francis
F.Chen, Figure 2-7.

O campo magnético da ilustração 5 é equivalente ao recorte do campo magnético da


Terra, que forma o cinturão de Van Allen, especificamente as linhas de campo próximas aos
polos, destacadas pelo quadrado vermelho, na mesma ilustração.
A partir de agora, foi adotado um sistema de coordenadas cilíndricas. Como mostra a
ilustração 6, Z é o eixo paralelo às linhas de campo, r é a distância da partícula ao eixo Z e θ
é o ângulo de revolução ao redor do eixo. Com isso, podemos escrever a velocidade 𝑣 da
partícula, o campo magnético 𝐵 e a força magnética 𝐹 como a soma de cada componente
no sistema de coordenadas cilíndricas:

𝐵 = 𝐵𝜃 + 𝐵𝑟 + 𝐵𝑧

𝑣 = 𝑉𝜃 + 𝑉𝑟 + 𝑉𝑧

𝐹 = 𝐹𝜃 + 𝐹𝑟 + 𝐹𝑧

Agora podemos traçar o objetivo de descrever matematicamente o que acontece em


r, 𝜃 e Z para compreender o efeito que as partículas sofrem quando o campo magnético se
intensifica. Lembrando que, como o campo se intensifica ao longo de Z, Z será o eixo no qual
a discussão será mais aprofundada e detalhada.
Note que 𝐵𝜃 = 0 (I), ou seja, o campo não muda conforme variamos o 𝜃. Além
disso, o divergente de 𝐵 vale zero (𝐷𝑖𝑣(𝐵) = 0), utilizando a Lei de Gauss para o
magnetismo.
Portanto:
𝐵 = 𝐵𝑟 + 𝐵𝑧

1 𝜕(𝑟(𝐵𝑟)) 𝜕(𝐵𝑧)
𝐷𝑖𝑣(𝐵) = 𝛻 ∙ 𝐵 = 𝑟 + =0
𝜕𝑟 𝜕𝑧
𝜕(𝐵𝑧)
A partir disso, pode-se obter 𝐵𝑟 em função de e isso será útil para substituições
𝜕𝑧
no futuro:

1 𝜕(𝑟(𝐵𝑟)) 𝜕(𝐵𝑧)
= −
𝑟 𝜕𝑟 𝜕𝑧

𝑟 𝜕(𝐵𝑧)
𝑟(𝐵𝑟) = − ∫0 𝑟 𝑑𝑟
𝜕𝑧

𝑟 𝜕(𝐵𝑧)
𝐵𝑟 = −
2 𝜕𝑧

Agora, usando a fórmula da força magnética, pode-se determinar as componentes da


força:

𝐹 = 𝑞. 𝑣 × 𝐵

𝐹=𝑞.

𝐹𝑟 = 𝑞. (𝑉𝜃. 𝐵𝑧 − 𝑉𝑧. 𝐵𝜃), 𝐵𝜃 = 0 (I)

∴ 𝐹𝜃 = 𝑞. (𝑉𝑧. 𝐵𝑟 − 𝑉𝑟. 𝐵𝑧)

∴ 𝐹𝑟 = 𝑞. (𝑉𝜃. 𝐵𝑧)

𝐹𝑧 = 𝑞. (𝑉𝑟. 𝐵𝜃 − 𝑉𝜃. 𝐵𝑟), 𝐵𝜃 = 0 (I).

∴ 𝑧𝐹 = −𝑞. 𝑉𝜃. 𝐵𝑟 (III)

O valor de 𝐵𝑟 é conhecido (II), então será feita uma substituição de (II) na equação
de 𝐹𝑧 (III):

𝑟 𝜕(𝐵𝑧)
𝐹𝑧 = −𝑞. 𝑉𝜃 . (− 2 )
𝜕𝑧
𝑞𝑟 𝜕(𝐵𝑧)
∴ 𝐹𝑧 = 𝑉𝜃
2 𝜕𝑧

Para tornar a análise mais clara, 𝑉𝜃 foi chamado de ±𝑣 ⊥, sendo o sinal positivo
indicando no sentido horário para um observador de frente para as linhas de campo (linhas
de campo entrando no observador) e o sinal negativo para o sentido anti-horário (linhas de
campo saindo no observador). Com isso, temos:

𝑞𝑟 𝜕(𝐵𝑧)
𝐹𝑧 = ± 𝑣⊥ (IV)
2 𝜕𝑧

Lembrando que a velocidade angular 𝜔 é igual à velocidade escalar dividida pelo raio
da circunferência, portanto podemos escrever o raio em função de 𝜔 e 𝑣 ⊥:

𝑣⊥
𝑟= (V)
𝜔
Substituindo (V) em (IV):

𝑞𝑣⊥ 𝜕(𝐵𝑧)
𝐹𝑧 = ± 𝑣⊥
2𝜔 𝜕𝑧

𝑞𝑣⊥ 𝜕(𝐵𝑧)
𝐹𝑧 = ± 𝑣⊥ (VI)
2𝜔 𝜕𝑧

Além disso, a velocidade angular de uma partícula de carga 𝑞 e massa 𝑚 em


movimento circular em um campo magnético 𝐵 é conhecida e dada por:

𝑞.𝐵
𝜔=±
𝑚 (VII)

Substituindo (VII) em (VI), temos:

𝑚𝑣 2 ⊥ 𝜕(𝐵𝑧)
𝐹𝑧 = − 2𝐵 𝜕𝑧

1
Agora, o momento magnético 𝜇 da partícula será 𝜇 = 2𝐵 𝑚𝑣2 ⊥ (VIII).

𝜕(𝐵𝑧)
𝐹𝑧 = −𝜇 (IX)
𝜕𝑧

1 𝑚𝑣2 ⊥
OBS: Justificativa para 𝜇 = 2 𝐵
(VIII):
𝑞
Por definição, 𝜇 = 𝐴𝑖 (X), 𝐴 = 𝜋 𝑟 2 (XI) para um loop circular de raio r e 𝑖 = 𝑇 (XII),
sendo 𝑞 a carga da partícula e 𝑇 o tempo para completar o loop. Assim, (XI) e (XII) serão
substituídas em (X):

𝜇 = 𝜋 𝑟2 . 𝑇𝑞 (XIII)

2𝜋
Sabe-se que 𝑇 = (XIV), então substituindo em (XIII):
𝜔
𝑞
𝜇 = 𝜋 𝑟2 . 2𝜋 .𝜔

2𝑞 𝜔
𝜇 =𝑟 2
(XV)

𝑣⊥
Sabe-se que 𝑟 = (V), então substituindo em (XV):
𝜔
2
𝜇 = 𝑣⊥ .𝑞 .𝜔
𝜔2 2

2
𝜇 = 12 . 𝑣⊥𝜔 𝑞 (XVI)

Sabe-se também que 𝜔 = 𝑞𝑚.𝐵 (VII), então com mais uma substituição em (XVI):

2
𝜇 = 12 . 𝑣⊥
𝑞 .𝐵
𝑞
.𝑚

1 𝑚𝑣 2 ⊥
∴ 𝜇=2 . (VIII)
𝐵

𝜕(𝐵𝑧)
Voltando para 𝐹𝑧 = −𝜇 (IX)
𝜕𝑧

Pela segunda Lei de Newton:

𝑑𝑣||
𝐹𝑧 = 𝑚 𝑑𝑡

𝑑𝑣|| 𝜕(𝐵𝑧)
𝑚 = −𝜇
𝑑𝑡 𝜕𝑧

𝑑𝑧
Lembrando que 𝑣 ∥= e multiplicando os dois lados por 𝑣 ∥:
𝑑𝑡

𝑑𝑣∥ 𝑑𝑧 𝜕(𝐵𝑧)
𝑚𝑣 ∥ = −𝜇 𝑑𝑡 .
𝑑𝑡 𝜕𝑧
1
𝑑(2 .𝑚𝑣 2 ∥) 𝜕(𝐵𝑧)
= −𝜇 (XVII)
𝑑𝑡 𝜕𝑡

1
Note que 𝐸𝑐 ∥= 2 𝑚𝑣 2 ∥ (XVIII) é a energia cinética na componente paralela do
movimento.

Agora, este resultado será utilizado para mostrar que 𝜇 é uma constante e depois
discutir o fenômeno da reflexão.

Considerando a conservação de energia do sistema, têm-se:

𝐸𝑐 ∥ + 𝐸𝑐 ⊥= 𝐶 , sendo 𝐸𝑐 ∥ a energia cinética do movimento paralelo ao campo,


𝐸𝑐 ⊥ a energia cinética do movimento perpendicular ao campo e 𝐶 uma constante, obtêm-
se:

1 1
𝑚𝑣 2 ∥ + 𝑚𝑣 2 ⊥ = 𝐶 (XIX)
2 2

Derivando em relação ao tempo:

𝑑 1 𝑑 1
( 𝑚𝑣 2 ∥) + 𝑑𝑡 (2 𝑚𝑣 2 ⊥) = 0 (XX)
𝑑𝑡 2

Lembrando que:

𝜕(𝐵𝑧) 𝑑 1
−𝜇 𝜕𝑡
= 𝑑𝑡 (2 𝑚𝑣 2 ∥) (XVII)

𝑚𝑣2 ⊥
𝜇 = 12 𝐵𝑧
(28) ⇒
1
2
𝑚𝑣2 ⊥= 𝜇(𝐵𝑧) (XXI)

Substituindo em (XVIII):

𝜕(𝐵𝑧) 𝜕
−𝜇 + 𝜕𝑡 (𝜇(𝐵𝑧)) = 0
𝜕𝑡

Pela regra do produto:

𝜕(𝐵𝑧) 𝜕𝜇 𝜕(𝐵𝑧)
−𝜇 . + . (𝐵𝑧) + 𝜇 =0
𝜕𝑡 𝜕𝑡 𝜕𝑡
𝜕𝜇
. (𝐵𝑧) = 0
𝜕𝑡

𝜕𝜇
∴ = 0 → logo, 𝜇 é uma constante.
𝜕𝑡

Com isso, a expressão de 𝜇 (VIII) é retomada:

𝑚𝑣2 ⊥
𝜇 = 12 𝐵
= 𝐾, 𝐾 constante.

1 1
𝑚𝑣 2 ⊥= 𝐾𝐵, como 𝐸𝑐 ⊥= 2 𝑚𝑣 2 ⊥ :
2

𝐸𝑐 ⊥= 𝐾𝐵

Pode-se dizer, então, que 𝐸𝑐 é diretamente proporcional a 𝐵.

∴ 𝐸𝑐 ⊥ 𝛼 𝐵

Considerando que 𝐸𝑐 ⊥ é proporcional a 𝐵 e que, pela conservação de energia, 𝐸𝑐



+ 𝐸𝑐 ∥ = 𝐶 (XIX) é constante, conclui-se que, para manter a expressão constante, 𝐸𝑐 ∥ é
inversamente proporcional ao valor do campo.
Desse modo, as velocidades 𝑣 ⊥ e 𝑣 ∥ variam para manter o valor de C diante da
variação do campo. No caso dessa variação ser muito intensa, como no contexto do campo
próximo aos polos, o campo muito forte implica no aumento drástico de 𝑣 ⊥ e, 𝑣 ∥ vai à
zero, para compensar.
Essas velocidades variam, e, portanto, deve haver uma força paralela ao eixo z que
gera uma aceleração e reflete as partículas.
Como a intensidade do campo é muito alta em ambos os polos, o efeito de espelho
magnético acontece tanto no Norte quanto no Sul. Isso implica no "aprisionamento" das
partículas na região de campo magnético chamado de Cinturão de Van Allen, que ficam em
uma trajetória de “ida e volta” de um polo ao outro do planeta, eternamente pelo cinturão,
variando suas velocidades 𝑣 ⊥ e 𝑣 ∥ , mas sempre com a mesma energia cinética e mesmo
dipolo magnético.

Referências:

Introduction to Plasma Physics and Controlled Fusion,Francis F.Chen - Capítulo 2, seção


2.3.3;

NASA's Goddard Space Flight Center/Johns Hopkins University, Applied Physics Laboratory;

Nasa Scientific Visualization Studio, Earth 's Magnetosphere.

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