Você está na página 1de 49

Problema 6: “Resistência Sem Contato”

Alberto Lederman Grinspun, Arley Kahuê Valeriano da Silva, Eduardo Barbosa de

Santana Neto, Letícia Ramos de Oliveira e Victor Mendes de Holanda Lins

Nome da Equipe: Boltzmann’s Brains

Professora orientadora: Kelly Cristine Camargo

Recife, 2023

Resumo: Neste relatório analisaremos o Problema 6: Resistência Sem contato, da

37º IYPT. O objetivo deste problema é o estudo das características magnéticas de

diferentes barras de metal não-magnéticas e ferromagnéticas a partir das alterações

de parâmetros relevantes presentes em um circuito RLC, consequentes da variação

do material do núcleo do indutor utilizado. Esta mudança no material da bobina

possui várias aplicações diárias, como o aprimoramento da sua grande capacidade

de lidar com surtos de tensão já que há o aumento da impedância do sistema (como

será demonstrado). Durante a Seção II, nós explicaremos mais claramente os

fenômenos presentes na interação do circuito com o material introduzido, visando

desenvolver algebricamente um modelo que o defina. Na Seção III, descreveremos

o aparato experimental utilizado, juntamente com as correções feitas devido às

dificuldades encontradas, além de explicar o método de uso dos softwares utilizados

para a análise dos dados. A análise dos dados e dos resultados obtidos, juntamente

com a discussão sobre os parâmetros relevantes durante o desenvolvimento do

projeto, foram tratados na Seção IV. As demais discussões foram distribuídas ao

longo do texto. Os resultados experimentais obtidos expuseram os valores

numéricos das permeabilidades magnéticas e condutividade elétrica dos materiais

utilizados com uma boa precisão, comprovando a qualidade do modelo teórico

adotado e a validez do arranjo experimental montado pela equipe.


2
I. INTRODUÇÃO

Um circuito RLC é composto por três componentes principais: um resistor, um

capacitor e um indutor. Quando o sistema é alimentado por um gerador de energia

do tipo AC, é produzida no sistema uma corrente flutuante dependente do tempo

cujo padrão de oscilação depende das características de cada componente.

Este tipo de circuito tem inúmeras aplicações para a sociedade de suma

importância, tais como a capacidade de selecionar somente faixas restritas de

frequência recebidas, como receptor de ondas eletromagnéticas e também como

receptores ópticos, quando esses estão nas proximidades da frequência de

ressonância.

Sabendo disso, é de suma importância considerar os aspectos dos materiais

que compõem cada integrante do circuito. Consequentemente, a mudança de sua

composição implica em alterações óbvias nas respostas obtidas, sendo elas melhor

especificadas na Seção III. Logo, ao inserirmos uma barra de caráter metalizado no

núcleo de um dos elementos, nesse caso o indutor, vemos que as respostas obtidas

já não são as mesmas das de antes.

A mudança gerada nessas respostas não ao, de maneira alguma, aleatórias,

mas sim, podem nos dar uma gama de informações de suma importância sobre o

material constituinte do núcleo metálico inserido na bobina, tais como sua

permeabilidade magnética e sua condutividade elétrica.

Assim, através da interpretação do enunciado fornecido pelo problema, este

relatório se focalizará em demonstrar como será possível, através das respostas, ou

mais precisamente, das mudanças nas respostas do circuito, investigar as

propriedades elétricas e magnéticas do material inserido no aparato indutor.


3
O aparato trata-se de um resistor, um capacitor e um indutor distribuídos em

série a partir de sua inserção em uma placa protoboard alimentados por um gerador

de função e ligados a um osciloscópio, sendo este segundo essencial para a leitura

do sistema. De modo a analisar a mudança dos resultados decorrente da integração

de uma barra de material conhecido, foi utilizado um indutor de número de voltas e

núcleo variáveis.

Com os dados obtidos pelo aparato supracitado foram obtidos diversos dados

experimentais que, ao serem analisados cuidadosamente, revelam-nos as

características buscadas do material. Ao final do trabalho, essas mesmas

características serão comparadas com seus valores teóricos no tópico destinado à

Conclusão.

II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Durante a realização do experimento, foi observado pelo grupo que o fator

que mais se alterava com a inserção do material no núcleo era a amplitude do sinal

de output recebido pelo osciloscópio, já, por exemplo, fatores como a frequência de

ressonância recebida apenas se alterava com material com forte caráter

ferromagnético. Por isso, o modelo teórico tem como objetivo principal determinar a

dependência do ∆𝑉𝑚𝑎𝑥 com a permeabilidade magnética e a condutividade elétrica

do material inserido.

A. DETERMINANDO A PERMEABILIDADE MAGNÉTICA EM FUNÇÃO

DA VARIAÇÃO DA AMPLITUDE DO SINAL RECEBIDO


4

Figura 1. Esquema para demonstração de variáveis.

Durante a montagem da Seção III (e durante todo a escrita do relatório)

usaremos as seguintes denominações:

1. 𝐿 ≡ indutância.

2. 𝑅 ≡ resistência.

3. 𝐶 ≡ capacitância.

4. |𝑍| ≡ módulo da impedância.

5. 𝑉 ≡ amplitude do sinal de d.d.p recebido pelo indutor.

6. 𝑖 ≡ corrente.

7. 𝐴 ≡ área transversal da bobina (representada na figura 2).

8. 𝑙 ≡ comprimento (altura da bobina).

9. 𝑁 ≡ número de voltas da bobina indutora.


𝑁
10. 𝑛 ≡ 𝑙

11. 𝐵 ≡ campo magnético da bobina.

O objetivo da parte A é achar a permeabilidade magnética (µ) do sistema

indutor+barra metálica.

Sabendo disso, de acordo com [1], podemos escrever


5
𝑉
𝐵 = µ𝑛 𝑅
(1)

Nesse caso, a impedância se resume à resistência, pois o sistema está em

perfeita ressonância entre seus elementos. Com isso, chegamos à conclusão que

(sendo φ ≡ fluxo magnético na bobina):


µ𝑛𝐴 ∆𝑉
φ𝑓 = 𝑅
(2)

Ademais, de acordo com [3], temos que em um circuito em perfeita

ressonância:
1
ω = (3)
2π 𝐿𝐶

Logo, substituindo o valor de 𝐿 como uma função de µ, algo comprovado em

[4]:
1 1
µ(ω) = 𝑛²𝑙𝐶𝐴
( 2πω )² (4)

Sabendo disso, o gráfico teórico resultante de (4) é:

Figura 2. Gráfico de µ(ω) por ω. Figura obtida através da representação gráfica da

equação (4) feita pelo programa Desmos.

Assim como citado em [2], de modo a determinar µ(𝑉), faz-se:

0
1 2π𝑉
𝑖= 𝐿
∫ 𝑉(𝑡)𝑑𝑡 = ω𝐿
(5)

Logo
6
𝑙
𝐹 = 𝑖 ∫(𝑑𝑙' 𝑥 𝐵) = − ∇𝑈 (6)
0

em que 𝐹 ≡ força magnética.

Sabendo que
1
𝑈= 2
𝐿𝑖² (7)

∂𝑖
∇𝑈 = 𝐿𝑖 ∂𝑦
(8)

Como

𝑖(𝑦) = 𝑦 𝑛 𝐼(𝑡) (9)

Obtemos a seguinte expressão:

𝑙𝐵 = 𝐿𝑖𝑛 (10)

Com isso:
2π∆𝑉
𝐿= − 𝐴𝑖𝑛
(11)

substituindo (5) em (11), obtemos:

1 2µ0 µ0²
∆𝑉(µ) = − 𝑘²
µ² − 𝑘²
µ + 𝑘²
(12)

em que

ω
𝑘= 𝑛⁵𝑙²𝐴²𝑉𝑚𝑎𝑥
(13)

Por fim, nós obtemos o segundo gráfico deste experimento:

Figura 3. Plot gráfico da função ∆𝑉(µ) por µ. Figura obtida através da representação

gráfica da equação (12) feita pelo programa Geogebra.


7
B. DETERMINANDO A CONDUTIVIDADE DO MATERIAL INTRODUZIDO A
PARTIR DA VARIAÇÃO DA AMPLITUDE DO SINAL RECEBIDO
Primeiramente, sabe-se que
𝐽 = σ𝐸 (14)
em que σ é a condutividade elétrica do sistema indutivo (material + indutor) e 𝐸 é o
campo elétrico gerado. Com isso:
𝑑𝑖
𝑑𝑎
= − σ ∇𝑉 (15)

Como
𝑉
𝑖= 𝑅
(16)

substituímos (7) em (6) e, corrigindo a equação experimentalmente, obtemos


𝑙
σ(∆𝑉) = σ0 − 𝑅𝐴×𝑙𝑛(∆𝑉)
(17)

Em que σ0 é a condutividade elétrica do cobre (bobina). Com a equação (8),

nós plotamos o seguinte gráfico:

Figura 4. Gráfico Teórico da dependência da variação de amplitude pela


condutividade elétrica equivalente do sistema com o material inserido. Figura
obtida através da representação gráfica da equação (17) feita pelo programa
Geogebra.

Com isso, conseguimos extrair características elétricas do material


introduzido no núcleo do indutor.
8
III. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Equipamentos Utilizados e Procedimento

Para executarmos o experimento, utilizamos os seguintes equipamentos: [I]

um capacitor de 100 µ𝐹; [II] um resistor de 470 Ω; [III] uma placa protoboard; [IV] um

osciloscópio do tipo FNIRSI - 1014D; [V] um gerador de função do tipo MFG420 -

2A; [VI] 3 barras de zinco; [VII] 4 barras de alumínio; [VIII] 2 barras de aço-carbono;

[IX] 3 barras de cobre; [X] 4 barras de ferro e [XI] um indutor de indutância variável

(400 voltas; 600 voltas; 800 voltas; 1600 voltas e 2400 voltas).

Figura 5 e 6. Aparato experimental utilizado pelo grupo. Representação

esquemática do circuito utilizado no experimento.

Foi visto durante o experimento que o comprimento das barras não

interferiam significativamente durante o estudo do sistema. As únicas coisas que

importam são o número de barras (ou seja, o quanto elas preenchiam o núcleo do

indutor) e que elas estejam totalmente inseridas no local destinado, em outras

palavras, que elas estejam totalmente introduzidas no centro da bobina.


9
O experimento em si se dividiu em duas frentes: o quanto a amplitude da

onda recebida pelo osciloscópio mudava a partir da inserção dos materiais no

núcleo e como o sistema respondia a uma variação da frequência produzida pelo

gerador de função, ou seja, para diferentes frequências, 𝑉max varia.ou seja, para

diferentes frequências, 𝑉max varia

Figura 7 Barras utilizadas com seus respectivos materiais.

MATERIAIS Comprimento Espessura Base (cm) Diâmetro Diâmetro


(cm) (cm) Interno (cm) Externo
(cm)

Aluminio 14.60 0.30 1.40 - -

Ferro 9.00 - - - 1.25

Aço 29.40 - - - 1.10

Zinco 10.00 0.10 2.30 - -

Cobre 14.20 - - 0.60 0.70

Figura 8. Tabela com as especificações de cada um dos núcleos metálicos utilizados


no experimento.
10
A. Processo de Obtenção de Dados com o Osciloscópio

O grupo decidiu que a extração de dados seria dividida em duas partes: [I] a

investigação da variação da amplitude (d.d.p) em função do material inserido no

núcleo e [II] a variação da amplitude (d.d.p) a partir da produção de frequências

diferentes e como ela muda com e sem a presença das barras introduzidas.

Figura 9. Imagem da d.d.p captada com indutor de 600 voltas a 61 kHz sem e com a
presença das barras de Alumínio (0 e 4 barras, respectivamente)

De modo a garantir que o material das barras fosse o mais puro possível, foi

realizada a purificação (principalmente das barras de ferro, aço-carbono e cobre)

com eletrólise salina e lixamento.

Incerteza das Medidas Coletadas

A respeito da determinação das incertezas experimentais obtidas, foi utilizado

como modelo o Método Gráfico. Para tal, foi usado o software “Origin” para traçar os

gráficos e seus respectivos desvios.


11

Figura 10. Tabelas com as medidas de mudança de frequência separadas por


material; teste realizado no indutor de 2400 voltas.

Ademais, no mesmo programa foram calculados os desvios padrão de cada

uma das amostras e estes foram simbolizados nos gráficos com suas respectivas

barras de erro.

Já para a incerteza do valor da indutância, foi usada a fórmula já conhecida

para a propagação de erros:

∂𝑓
∆𝑓 = (∑(( ∂𝑥ᵢ )²(∆𝑥ᵢ)²)) (18)
𝑖

Logo, para a permeabilidade magnética:

1 1
1 −2
∆µ = ( 𝑘∆𝑉
2
2
)²(∆(∆𝑉))² + (∆𝑉 )(∆𝑘)² (19)

Em que

ω²
𝑘≡ 𝑛⁵𝑙²𝐴²𝑉𝑚𝑎𝑥
(20)

Logo, chegamos na conclusão que (para ∆ϕ representando a incerteza

associada à grandeza ϕ):

1 ω² ω² 25ω² ω²
∆𝑘 = 𝑛⁵𝐴²𝑙²𝑉
(∆ω)² + 𝑛⁵𝑙⁴𝐴²𝑉
(∆𝑙)² + 𝑛⁵𝑙²𝐴⁴𝑉
(∆𝐴)² + 4𝑛⁶𝑙²𝐴²𝑉
(∆𝑛)² + 4𝑛⁵𝑙²𝐴²𝑉³
(∆𝑉)²
12
Analogamente, a respeito do cálculo de incertezas para a determinação da

condutividade elétrica do sistema, teremos, novamente, a fórmula da propagação de

incertezas fornecidas em (10), porém 𝑓 será agora a equação (17), assim:

Onde σ𝑖 é a incerteza associada a grandeza 𝑖, assim, desenvolvendo esta

equação, nós conseguimos:

(21)

IV. DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Para o cálculo das permeabilidades magnéticas e das condutividades

elétricos, foi utilizada a seguinte tabela (todos os dados a seguir correspondem às

características do indutor utilizado):

Nº de Voltas Área transversal (m²) Comprimento (m)

400/600 2. 92 × 10⁻³ 6. 30 × 10⁻²

800/1200/ 2400 3. 97 × 10⁻³ 6. 30 × 10⁻²

A. Variação de amplitude do sinal de output (d.d.p) em função da

frequência de onda gerada com o indutor de núcleo modificado

A primeira parte do experimento foi centrada no estudo do comportamento do

sinal e como ele é recebido pelo osciloscópio com e sem a presença de material

ferromagnético (barras de Ferro e Aço-Carbono) e não-magnético [barras de Zinco,


13
Alumínio e Cobre (o Cu foi tratado como material não magnetizado, por apresentar

comportamentos diamagnéticos muito sutis e não foi observado pelo grupo grandes

divergências de comportamento dele em relação ao Zn e Al)].

Ademais, foi observado que para o indutor de 400 voltas a dependência da

d.d.p com a frequência de output não existe para materiais não-magnéticos e com

características ferromagnéticas fracas como o aço carbono.

Figura 11 e 12. Gráfico de 𝑉(ω) para µ ≠ µ(0). Indutor de 400 voltas e indutor de

2400 voltas. Comparação experimental. As barras de erro não foram adicionadas

aos outros materiais, por serem desprezíveis comparadas às do Fe.

Pode-se observar que o comportamento do Ferro é bastante diferente dos

demais materiais. A explicação para tal fenômeno é o alto caráter ferromagnético

que este material possui. Perceba que mesmo o Aço-Carbono sendo identificado

como ferromagnético, a maneira como ele se comporta é completamente diferente

do Fe. Isso se deve ao fato de que sua permeabilidade magnética relativa é muito

mais baixa.

A segunda coisa que também é muito fácil de olhar é para altas indutâncias

(no primeiro gráfico, pode-se obter a partir dos métodos narrados em [5],

𝐿(0) ≈ 0. 006 H; já no segundo, 𝐿(0) ≈ 0. 456 H) o aço carbono tende a apresentar


14
o mesmo comportamento que o Ferro, fazendo bastante sentido já que os dois são

ferromagnéticos e para campos altos suas características magnéticas intrínsecas

tendem a se manifestar mais fortemente.

Figura 13: Gráfico de 𝑉(ω) para µ ≠ µ(0). Indutor de 1600 voltas. Comparação

experimental, aqui percebe-se o comportamento exacerbado do Ferro em

comparação aos outros materiais e a tendência de materiais não-magnéticos de se

assemelhar a um ferromagnético com o aumento da indutância.

Assim, a partir da observação da primeira parte das medições do experimento

verifica-se que:

1. Materiais não-magnéticos/diamagnéticos fracos (Cu) vão tender a

apresentar um comportamento parecido com o dos ferromagnéticos à

medida que se aumenta a indutância da bobina.

2. O elemento Ferro (Fe) apresentou o comportamento mais acentuado

em relação aos outros graças a suas características Ferromagnéticas,

ou seja, possuem uma alta facilidade de orientação com o campo

magnético aplicado.
15
3. Em regimes de baixa indutância, a mudança de tensão provocada

pelos materiais não magnéticos é suficientemente pequena para ser

considerada desprezível perto da influência do Ferro, fato que não se

mantém com o aumento do número de voltas no indutor e o

consequente aumento de sua indutância.

Dependência da variação da amplitude da d.d.p de output com o número

de barras introduzido

Já para a segunda parte da análise dos dados obtidos, será analisado pelo

grupo como a mudança no número de barras de um certo material colocada na

bobina irá alterar a resposta do circuito medida no osciloscópio.

Inicialmente foi observado que, para os sistemas que apresentavam uma

baixa indutância advinda do solenóide, o número de barras inseridas não alterou de

maneira significativa a resposta do sistema. Sendo este traço independente da

natureza do material inserido.

Figuras 14 e 15. Gráficos de (𝑉𝑀𝑎𝑥 ) x n.º de Barras com o uso de indutores de 400

e 600 voltas, respectivamente.


16
Com o aumento da indutância, contudo, o comportamento do sistema com o

aumento do número de barras começa a divergir do estado inicial observado.

Assim, fica demonstrada mais uma vez a tendência de materiais não

magnéticos de apresentar comportamentos semelhantes a materiais com

capacidades magnéticas a partir do aumento da indutância do indutor no qual estes

estão inseridos.

Figura 16 e 17. Gráficos de 𝑉𝑚𝑎𝑥 x n.º de barras no solenóide. Os gráficos

representam testes com uma bobina de 1600 e 2400 voltas, respectivamente.

C. Estudo da dependência da variação da amplitude a partir da inserção das

barras com o tipo de material introduzido.

Esta última parte da análise de dados é destinada à comprovação final do

modelo adotado.

No cálculo da permeabilidade magnética, foi utilizado como método

quantitativo os coeficientes dos gráficos das figuras 10, 11 e 12, visto que eles eram

diretamente proporcionais à indutância utilizada. Aspectos como a diferença de fase,

resistência, capacitância, amplitude do sinal e frequência observada foram todos

medidos experimentalmente.

Com isso, utilizando a equação (4), obtemos os seguintes valores:


17
Material µ𝑜𝑏𝑡𝑖𝑑𝑜 (
𝑇𝑚
) ∆𝑉𝑚𝑎𝑥 (V)
𝐴

Alumínio 0.945 × 10⁻⁶ 0.020

Zinco 0.735 × 10⁻⁶ 0.010

Cobre 1.523 × 10⁻⁶ 0.030

Aço-Carbono 3.922 × 10⁻⁶ 0.031

Ferro 6.912 × 10⁻³ 0.127


Figura 18. Tabela dos dados obtidos a partir do circuito. Os valores de µ

correspondem ao sistema Barra + Indutor.

Primeiramente, podemos observar, calculando as incertezas propagadas das

medidas) que o erro relativo da maioria das medições está no limite aceitável, o que

nos diz a qualidade do modelo teórico proposto. Com isso, utilizando os métodos

narrados e plotando o gráfico, chegamos na seguinte configuração:

Figura 19. Gráfico de ΔV x μ com a equação e o fator R² da curva de melhor ajuste.

Pela equação (12), sabemos que

1 µ0 µ0
∆𝑉 = − 𝑘²
µ² − 𝑘²
µ + 𝑘²
(21)
18
Podemos ver na Figura 20 apresenta uma congruência com o gráfico

montado pelo modelo teórico.

V. CONCLUSÃO

No decorrer deste relatório, conseguimos, com a ajuda de uma

fundamentação teórica sólida e coleta de dados experimentais, descrever de

maneira precisa o comportamento de um circuito RLC ao mudar o material contido

em seu núcleo do indutor (utilizando as barras de diferentes composições). Por

causa disso, conseguimos observar mudanças na amplitude da onda captada pelo

osciloscópio demonstrando um aumento na resistência equivalente do circuito como

previsto.

Inicialmente, analisamos o comportamento do sistema quando foi inserido

diferentes núcleos e variando a frequência de input no gerador de tensão, assim

através dessa análise, conseguiu-se perceber que, primeiramente, em regimes de

baixa indutância, não houve diferenças significativas nos dados obtidos para

materiais de permeabilidade magnética baixa.

Ademais, foi estudado pelo grupo as diferenças de comportamentos das

barras não-magnéticas e ferromagnéticas na presença de passagem de corrente.

Consequentemente, por meio do aparato utilizado, pudemos realizar as medidas

com precisão satisfatória, o que nos permitiu fazer uma análise física bastante

contundente com a realidade.

Logo depois, conseguimos provar que, por meio do modelo teórico e

experimental seguido pelo grupo, conseguimos achar a permeabilidade magnética

apresentando incertezas baixas e gráficos com fatores de qualidade elevados (R² >

0,97).
19
Como nota final, a equipe gostaria de apontar alguns fatores de melhoria para

o procedimento experimental, tais como a obtenção de amostras de maior pureza

dos materiais observados e a obtenção de núcleos metálicos que possam preencher

completamente o centro do indutor. Pois, assim, o ar presente no centro da bobina,

que possui acentuadas características de isolante elétrico, é eliminado, retirando,

consequentemente, um bom percentual das incertezas aleatórias geradas pela

presença de um isolante neste experimento.

Por fim, acreditamos que, para investigações futuras, é primordial obter-se

uma maior variedade de materiais metálicos para testes. Além destes, também é de

suma importância a extensão do modelo teórico aqui apresentado, pois os valores

achados de permeabilidade magnética são válidos para o sistema (metal + indutor)

e não somente para o núcleo inserido, gerando desvios numéricos e estatísticos.

Ademais, mostra-se de extrema importância para os próximos passos do

experimento a determinação experimental da condutividade elétrica dos materiais

aqui examinados através da aparelhagem teórica e experimental também propostas

neste relatório. O motivo do grupo não apresentar os dados na Seção IV no tocante

a este assunto foi devido a grande divergência da ordem de grandeza da

condutividade dos materiais em relação aos dados teóricos e experimentais.

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] BÉRON, F.; SOARES, G.; PIROTA, K. R. First-order reversal curves acquired by
a high precision ac induction magnetometer. Review of Scientific Instruments, v.
82, n. 6, 2011. Disponível em:
https://www.researchgate.net/profile/Gabriel-Soares-5/publication/51460079_First-or
der_reversal_curves_acquired_by_a_high_precision_ac_induction_magnetometer/lin
ks/5452a3160cf2bccc490949e2/First-order-reversal-curves-acquired-by-a-high-preci
sion-ac-induction-magnetometer.pdf. Acesso em: novembro de 2023.
20
[2] Circuito RLC série. FAP-0214 2006.
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/239561/mod_resource/content/1/RLC_caos.
pdf. Acesso: novembro de 2023.

[3] Exp. 7 Ressonância num circuito RLC FSC5143. Laboratório de Física III
FSC5123. Física experimental II. Disponível em: lemo.ufsc.br Versão de 28 de
novembro de 2020[1] https://lemo.paginas.ufsc.br/files/2019/09/roteiro-exp-7.pdf.
Acesso: novembro de 2023.

[4] GRIFFITHS, David J. Introduction to Electrodynamics. Fourth Edition. 2021.


Disponível em:
http://debracollege.dspaces.org/bitstream/123456789/562/1/Introduction%20to%20El
ectrodynamics%2C%204th%20Edition%20by%20David%20J.%20Griffiths%20.pdf.
Acesso em: novembro de 2023.

[5] RESSONÂNCIA EM CIRCUITO RLC -SÉRIE UNESP - Faculdade de Engenharia


- Campus de Guaratinguetá. Disponível em:
https://www.feg.unesp.br/Home/PaginasPessoais/zacharias/rlc-senoidal.pdf. Acesso
em: novembro de 2023.
Problema 14: "Truque da Régua"

Alberto Lederman Grinspun, Arley Kahuê Valeriano da Silva, Eduardo Barbosa


de Santana Neto, Letícia Ramos de Oliveira e Victor Mendes de Holanda Lins
Equipe: Boltzmann’s Brains, Colégio GGE

(Data: 3 de dezembro de 2023)

Neste relatório analisaremos o Problema 14: Truque da Régua, da 37º IYPT. O ob-

jetivo deste problema é investigar parâmetros que influênciam o experimento e explicar

o fenômeno ao interpretar como os parâmetros de relacionam e regem o evento. Du-

rante a Seção II, iremos interpretar e explicar o problema a partir de ideais teóricos.

Na Seção III, há a descrição do materiais utilizados e da estrutura montada junto de

sua importância para fazer os testes, além disso é exposto o procedimento por trás da

obtenção de dados. Os dados adquiridos e a interpretação destes estão presentes na

Seção IV.
2

I. INTRODUÇÃO

A colisão entre a régua e a bolinha é regida por uma série de fatores, que vão desde a

altura que ela é jogada, bem como sua massa, até a gramatura e dimensões do papel. Este

último atua oferecendo uma diferença de pressões ∆P entre o ar amosférico e a superfície

que é cobrida por ele, que será melhor abordada na Seção II. Assim, qualquer leve alteração

nas componentes do experimento implica em alterações nos resultados obtidos, e isso será

contemplado na Seção IV. Por causa disso, é essencial que sejam feitas séries de medidas

para cada amostra e que o procedimento para coletar dados seja o mais sistemático possível.

Mesmo com uma montagem simples, o experimento consegue ser desafiante pela dinâmica

de seus fatores, que estão sempre mudando, e por sua repetição. Porém, ter um bom enten-

dimento sobre ele pode nos revelar mais sobre colisões, corpos deformáveis e até mesmo

física dos materiais. O objetivo desse relatório será investigar como cada parâmetro influen-

ciará no fenômeno, e com base em nossos dados tentar propor um modelo experimental para

explicar o evento. Em seguida, vamos comparar os resultados com o modelo teórico e assim

descobrir a mecânica e segredos por trás do "Truque da Régua".

II. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Para criar o modelo teórico, note que durante a colisão, existe uma força na folha que re-

siste ao movimento, a natureza desta é a diferença de pressão entre a face inferior e superior

desta, assim a força será da forma F∆P = ∆P Aef etivo , Aef etivo corresponde à área em que a

diferença de pressão é criada, região onde a folha está em contato com a mesa, é de imediato

que menor que área total da folha. Podemos observar o equilíbrio da régua quando está no

limite de rotação, isto é, quando a força normal que a mesa exerce sobre este tende a zero e
3

então a bola foi lançada de uma altura crítica. Por praticidade, usemos A para representar a

área efetiva. Pela expressão para estática de corpo rígido exposta por D. Morin em sua obra

[1]

F D = MR gx + (mg + ∆P A)d (1)

Onde F D é torque que a bola faz na régua, com D representando o braço da força consi-

derando o centro de rotação a ponta da mesa, MR é a massa da régua, d é a distância do CM

do papel até o eixo da rotação. Analisando o impulso na esfera com a equação apresentada

por Moyses N. [2]


p (1 + e)MB 2gHc
I = F ∆t = (1 + e)MB v = (1 + e)MB 2gHc → F = (2)
∆t

Assim, (1) e (2) implica que

∆t2 (MR gx + (mg + ∆P A)d)2


Hc = (3)
2(1 + e)2 MB2 gD2

Se a esfera, de massa MB , colide com a régua a uma distância fixa K da ponta da régua fora

da mesa, D passa a ter uma relação com x

D = l/2 − K − x (4)

∆t2 (MR gx + (mg + ∆P A)d)2


Hc = (5)
2MB2 g(1 + e)2 (l/2 − K − x)2
4

Essa é a altura crítica em que a régua fica na iminência de rotacionar em função de x, a

distância do CM da régua até o eixo da rotação.

III. DESCRIÇÃO EXPERIMENTAL

A. Equipamentos do Experimento

Os aparatos utilizados envolve uma série de papéis A4 com diferentes gramaturas, régua

de 30cm com massa MR = (0, 035 ± 0, 001)kg , uma pequena bola de basquete de basquete

de MB1 = (0, 1674 ± 0, 0001)kg e uma bola de frescobol de MB2 = (0.0583 ± 0, 0001)kg

(a)

Figura 1: Materiais do Experimento

A gramatura dos papéis, da esquerda para a direita, é 300g/m2 ; 200g/m2 ; 140g/m2 ;

115g/m2 ; 56g/m2 e 75g/m2 .

B. Arranjo Experimental

Conforme testes foram promovidos, notamos uma dificuldade em manter o ponto de lan-

çamento em uma mesma vertical que o ponto de colisão desejado e de ajustar uma altura
5

desejado, assim construimos uma estrutura de canos PVC junto de um cano branco de lan-

çamento que resolvia estes impasses. O local do qual a bola era tal que o dentro geométrico

da esfera esteja na altura do bocal superior do cano, todos os valores de altura já foram cor-

rigidos considerando o raio da esfera. O esqueleto montado com canos nos permite maior

(a) (b)

Figura 2: Estrutura Utilizada

estabilidade, diminuindo a variação incosciente da altura e posição horizontal do lançamento.

Além disso, os dois canos destacáveis (Fig. 1(a)) têm diâmetros ajustados para as bolas de

respectivos tamanhos.
6

C. Procedimento

O comprimento da régua em baixo do papel e o tipo da folha usada são os parâmetros

que foram escolhidos para variar e, assim, investigar a relação da variação da altura crítica

com a desses. Para determinada altura, a bola era solta 10 vezes a partir do bocal superior

do cano de lançamento - com a cautela de não rotaciona-lo - renovando a folha sob a régua

para que a diferença de pressão não fosse comprometida pelo amassado, e corrigindo o

valor da altura crítica considerando o raio da esfera solta, pois a altura que o CM da esfera

percorreu é Hc = h − r onde h é a altura do bocal de lançamento de r o raio da esfera.

Quando o equilíbrio da régua era mantido em metade das repetições a altura estava próxima

da crítica e então todos os valores próximos eram testados, ajustando a posição do cano de

lançamento sem rotacionar este em torno do cano vetical do esqueleto fixo. A altura crítica

era considerada a média dos valores de H que seguiam a condição exposta acima.

O procedimento foi repetido para cada gramatura, com 18cm da régua embaixo da folha e

os dois tipos de bola, e por isso o gráfico respectivo (Fig. 6(a)) foi feito usando a energia crítica

Ec
do objeto que colide que está relacionado com a altura crítica por Ec = MB gHc → Hc = MB g

, e para comprimentos diferentes do trecho da régua coberta pela folha, 16cm; 18cm; 20cm e

22cm, com a folha de 75g/m2 e a bola de basquete.

Os testes com as folhas de gramatura 300g/m2 e 200g/m2 foram feitos com a bola de

frecobol e as folhas de gramatura 140g/m2 ; 115g/m2 ; 75g/m2 e 56g/m2 com a bola de bas-

quete.
7

(a)

Figura 3: Tabela feita no aplicativo Origin com os valores de Hc e os respectivos valores de Rf ,


onde este é o tamanho da parte da régua que está sob a folha.

IV. ANÁLISE DOS DADOS

Houve um teto inesperado no valor de Rf , pois quando chegamos em Rf = 24cm, a

altura crítica era maior que o teto do laboratório, assim percebemos que o comportamento

do experimento em relação à variação do comprimento da régua embaixo da folha era um

aumento rápido de Hc .

(a)

Figura 4: Gráfico Rf × Hc feito no aplicativo Origin com a curva que melhor se ajusta aos dados e
o modelo teórico.
8

Usando l/2 + x = Rf → x = Rf − l/2 podemos ajustar a expressão (5) do modelo teórico

para apresentar H como uma função de Rf

∆t2 (MR gRf − MR gl/2 + (mg + ∆P A)d)2


Hc (Rf ) = (6)
2MB2 g(1 + e)2 (l − K − Rf )2

Observa-se que quando Rf se aproxima de l − K = 30 − 3 = 27cm, o valor de Hc

tende a infinito, que está dentro dos dados obtidos no experimento, isso é equivalente à bola

colidir exatamente na ponta da mesa, ou seja o braço da força será nulo. É esperado pelo

modelo teórico que o mínimo da função seja em Rf = 15cm, pois é o ponto em que o CM

da régua está em cima do eixo de rotação da régua, assim a altura critíca será a menor, pois

a resistência à rotação será menor. Para Rf < 15cm a régua começa a perder o contato

com a folha mais facilmente, deslizando para fora da mesa e saindo do regime de interesse.

Continuando o desenvolvimento:

2 g∆t2
MR MR ∆t2 MR gl ∆t2 MR gl 2
2 R2
2MB (1+e)2 f
+ 2 (1+e)2 ((mg
MB
+ ∆P A)d − 2
)Rf + 2 g(1+e)2 ((mg
2MB
+ ∆P A)d − 2
)
Hc (Rf ) =
Rf2 − 54Rf + 729

(7)
aRf2 + bRf + c
= (8)
Rf2 − 54Rf + 729

MR2 g∆t2
→ = 60, 34cm (9)
2MB2 (1 + e)2
9

MR ∆t2 MR gl
→ 2 2
((mg + ∆P A)d − ) = −3267, 9cm2 (10)
MB (1 + e) 2

∆t2 MR gl 2
→ 2 2
((mg + ∆P A)d − ) = 44486, 1cm3 (11)
2MB g(1 + e) 2

(a)

Figura 5: Tabela feita no aplicativo Origin com os dados obtidos na variação dos tipos de folha,

Alterar a gramatura da folha, não influência apenas na massa da folha, mas também na

rigidez dela, ou seja a diferença de pressão muda devido ao tamanho da área de folha que

encosta na mesa, tendo vista que quanto mais rígido, menos ela toca na mesa pois sua

resistência a uma curvatura será maior.

Vemos nos dados, que apesar da folha de gramatura 300g/m2 ser a mais massiva, é a que

precisa de menos energia na bola para retirar a régua do equilíbrio, por ser proporcionalmente

rígida. O tipo da folha que resiste mais ao movimento da régua é a de gramatura 75g/m2 , por

ser bem maleável e garantir uma diferença de pressão maior.


10

(a)

Figura 6: Gráfico Gramatura × Ec feito no aplicativo Origin, não é possível ver as barras de erros,
pois a incerteza é da ordem de 0, 01.

V. CONCLUSÃO

Pode-se dizer que o comprimento da régua é um fator muito importante para o experi-

mento, seu valor pode facilitar, ou dificultar o processo de tirar a régua do equilíbrio devido à

dependência dos braços das forças envolvidas no sistema. Este comportamento esta satis-

fatoriamente dentro da previsão do modelo teórico desenvolvido na Seção II. Outros fatores

que suas importâncias foram observadas é a gramatura e rigidez do papel, ou seja, o tipo,

mas lamentavelmente o modelo teórico não é desenvolvido suficientemente para antecipar o

comportamento relacionado à rigidez, isso estaria dentro da forma de calcular teoricamente

a área de contato do papel com a mesa, Aef etiva , Então apesar de considerar a massa do

papel, e assim sua gramatura, pois m = λAtotal onde λ representa a densidade superficial

do papel (gramatura), o modelo teórico não consegue prever uma função para o gráfico da
11

Figura 6(a).

Portanto, possibilidades para um estudo futuro mais aprofundado seria testar novos possí-

veis parâmetros do experimento e destrinchar a expressão teórica de Hc (5) suficientemente

para abranger a rígidez do papel usado.

[1] Introductory Classical Mechanics, D. Morin, with Problems and Solutions. Capítulo 1.2, Equação

1.8

[2] Curso de Física Básica, H. M. Nussenzveig Capítulo 9, Equação 9.2.2


1

Problema 17: “Dimmer de Luz Quântico”

Alberto Lederman Grinspun, Arley Kahuê Valeriano da Silva, Eduardo Barbosa de

Santana Neto, Letícia Ramos de Oliveira e Victor Mendes de Holanda Lins

Nome da equipe: Boltzmann’s Brains

Recife, 2023

Resumo: Neste relatório analisaremos o Problema 17: Dimmer de Luz Quântico, da

37º IYPT. Esse problema tem como objetivo a análise do clareamento da sombra

que uma chama com sal causa frente à uma lâmpada de vapor de sódio de baixa

pressão (LVSBP) após essa chama ser exposta a um campo magnético forte. Esse

experimento destaca-se por ser uma visualização do Efeito Zeeman com

equipamentos mais simples do que os utilizados comumente (principalmente por

não necessitar de um interferômetro de Fabry-Pérot). A proposta do presente

relatório é de identificar como a intensidade luminosa na sombra varia com o campo

magnético, e comparar os resultados experimentais com o modelo teórico do Efeito

Zeeman, além de fazer adaptações ao modelo teórico presente na literatura, já que

este é centrado em uma medição direta da variação da frequência da luz, e não

numa variação da intensidade luminosa absorvida por uma chama.


2
I. INTRODUÇÃO

O Efeito Zeeman é um dos fenômenos quânticos mais relevantes na física,

tendo inúmeras aplicações essenciais na atualidade, como a ressonância magnética

e até a análise do campo magnético de corpos celestes. Ele foi observado pela

primeira vez no final do século XIX por Pieter Zeeman e consiste na separação das

linhas de emissão e absorção de átomos expostos a um campo magnético devido à

interação do momento magnético dos elétrons (e, em menor grau, do núcleo) com o

campo. Inicialmente, havia uma explicação desse fenômeno proposta por Alfred

Lorentz baseada na eletrodinâmica clássica, o Efeito Zeeman Normal, contudo

havia efeitos específicos que só puderam ser explicados após a descoberta da

mecânica quântica e do spin dos elétrons, o chamado Efeito Zeeman Anômalo.

Em contra partida, a maior parte dos estudos experimentais publicados sobre

tal efeito se concentram nos átomos de rubídio e césio, dada a maior facilidade de

se produzir feixes na frequência de ressonância desses elementos [4], logo um dos

desafios encontrados durante a elaboração do artigo foi achar modelos e pesquisas

parecidas. Foi possível encontrar duas montagens experimentais similares à que

queríamos fazer, mas ambas apenas mostravam o efeito qualitativamente sem

apresentar dados de dependência da intensidade da sombra com a chama.

Ademais, fica evidente que, se de um lado o Efeito de Zeeman controla o que

acontece na absorção da luz pelos íons de sódio presentes na chama, outro

parâmetro relevante é a lâmpada que emite essa luz. Evidentemente, o motivo pelo

qual a sombra não desaparece completamente para campos baixos é porque as

linhas de emissão da lâmpada não são perfeitamente discretas, ou seja, o espectro

de emissão dela sofre pequenas variações e assim cada linha de emissão tem uma

certa largura ωnat (ou em inglês, line breadth) devido principalmente ao princípio da
3
incerteza e ao Efeito Doppler do movimento dos átomos dentro da lâmpada, por

conta da pressão e temperatura, além de impurezas.

Dessa forma, o presente relatório tem como objetivo analisar o Efeito

Zeeman no espectro de absorção do sódio, usando um método experimental distinto

do comumente utilizado na literatura, e, ao final, será possível calcular a largura de

linha da emissão da lâmpada de sódio utilizada e compará-la à estimativa teórica.

Ele é importante por ser uma forma mais barata e simples de se observar o efeito

Zeeman.

Na Seção II, faremos uma descrição teórica mais detalhada sobre o Efeito

Zeeman na absorção da chama e dos efeitos de largura de linha da emissão da

lâmpada. Na Seção III, apresentaremos o desenvolvimento experimental e as

dificuldades encontradas no caminho para observar o efeito, fazendo a análise dos

dados durante a Seção IV e por fim comparando-os com a teoria e discutindo

possíveis divergências na Seção V.

Figura 1 e 2. Fotos da sombra com a bobina desligada vs 10V. Houve uma

alteração perceptível na sombra feita pela chama na parede.

II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


4
A. O Efeito Zeeman

Inicialmente, é essencial se aprofundar no modelo teórico do Efeito Zeeman,

isto é, do desdobramento das linhas espectrais dos átomos (no caso do presente

experimento, com atenção especial para as linhas de absorção do sódio) pela ação

de um campo magnético externo. Esse estudo é de extrema importância, pois o

motivo pelo qual a sombra da chama se clareia ao aplicar um campo magnético

forte se deve ao desvio das linhas de absorção do sódio da frequência de

ressonância com as linhas de emissão da lâmpada, que não está em um campo

magnético, como demonstrado em [1].

Por motivos históricos, o estudo desse fenômeno costuma ser dividido em

Efeito Zeeman Normal, quando o spin total dos elétrons é nulo, e Efeito Zeeman

Anômalo, quando o spin total dos estados envolvidos na transição é diferente de

zero. Como no átomo de sódio o spin não é nulo, o modelo escolhido se baseia no

Efeito Zeeman Anômalo:

Para calcular as transições desse efeito, usamos o fato de que a diferença de

energia em um nível de energia após se aplicar um campo magnético pode ser

escrita como (considerando um campo magnético na direção z):

∆𝐸 = − µ𝑧 × 𝐵 (1)

Dessa forma, resta calcular o momento magnético na direção z. Podemos

aproximar a razão giromagnética orbital (gl) para 1 e a razão giromagnética de spin

(gs) para 2, então, o momento magnético total do átomo será:

µ𝐵
µ ·µ= − ħ
[𝐿 · 𝑙 + 2𝑆 · 𝑠] (2)
5
Porém, por conta de interações spin-órbita, os momentos angulares S e L

não são conservados individualmente, apenas o momento angular total J = S+L (a

notação em negrito é vetorial)

A componente de µ na direção J pode ser representada como:

µ𝐵
µ𝐽 = − ħ𝐽
(3𝐽² + 𝑆² − 𝐿²) (3)

Porém, o valor de µ que vai interagir com o campo magnético (cuja direção é

assumida como o eixo z) é a componente na paralela ao campo. Como µ não está

na mesma direção que µj (por conta do fator gs ser diferente de gl), mas o seu vetor

precessiona ao redor de J, já que apenas J é conservado, podemos assumir que

𝐽𝑍
µ𝑍 = (µ𝑗 · 𝑧) = [µ𝑗 · ( 𝐽
)] (4)

Assim:

µ𝐵
µ𝑧 · 𝐽² = − ħ
[𝐽𝑍 (3𝐽² + 𝑆² − 𝐿²)] (5)

Usando 𝐽² = 𝑗(𝑗 + 1); 𝑆² = 𝑠(𝑠 + 1) e 𝐿² = 𝑙(𝑙 + 1), obtemos:

𝐽𝑍
µ𝑍 = − 𝑔µ𝑍 × ħ
(6)

Onde

𝑗(𝑗+1)+𝑠(𝑠+1)−𝑙(𝑙+1)
𝑔=1 + 2𝑗(𝑗+1)
(7)

Finalmente, usando 𝐽𝑍 = ħ × 𝑚𝑗:

∆𝐸 = 𝑔µ𝐵𝐵𝑚𝑗 (8)

Logo:

µ𝐵
∆ω = ℎ
· 𝑔𝑚𝑗 · 𝐵 (9)
6
Em que B é o campo magnético aplicado, e 𝑚𝑗 = − 𝐽, − 𝐽 + 1, ..., + 𝐽.

Assim, pode-se concluir que a presença do campo magnético B levanta a

degenerência no nível, desdobrando-o em 2J + 1 componentes, uma para cada

valor de mj, algo de altíssima relevância para o desenvolvimento deste experimento.

A grandeza g, que, nesse caso, denomina o fator g de Landé, é um coeficiente

adimensional característico do nível atômico considerado.

Até agora, nós apresentamos apenas o caso geral de um átomo com número

atômico n. Restringindo o caso para o sódio que possui 11 elétrons, sendo, entre

eles, apenas um elétron de valência (também chamado de elétron ótico), temos que

1 3
o estado P (Na⁺) está separado em um dubleto J = 2
e J = 2
, por conta de sua

estrutura fina. Essa separação é uma manifestação do acoplamento spin-órbita

originando as famosas linhas D, características do desdobramento das linhas

espectrais do sódio. Quando a luz emitida pela lâmpada de Na é colocada sobre a

influência de um campo magnético, cada um dos três níveis (²S, ²P1/2, e ²P3/2) é

desdobrado em subníveis com diferentes números quânticos mj.

Figura 3. Níveis de energia de uma estado P e S e transições permitidas para o

átomo de sódio. Nesta figura podemos ver claramente o desdobramento das linhas
7
espectrais. Também está sendo representado (juntamente com as estruturas de

linhas) as intensidades relativas. Figura tirada de [2].

O espectro de emissão do efeito Zeeman anômalo consiste então de 10

linhas, 4 das quais oriundas das transições onde ∆mj = 0 (componentes π) e 6

originadas das transições onde ∆mj = ± 1 (componentes σ). Fazendo os cálculos

das separações de frequência em função do campo, obtemos:


1

➔ 3𝑠² → 2𝑝 2 (λ = 589. 00 𝑛𝑚):

1 𝐵
∆π = 3
µ𝐵 · ℎ
= 4. 6 𝐺𝐻𝑧/𝑇 (10)

𝐵
∆σ1± = µ𝐵 · ℎ
= 14 𝐺𝐻𝑧/𝑇 (11)

5 𝐵
∆σ2± = 3
µ𝐵 · ℎ
= 23. 3 𝐺𝐻𝑧/𝑇 (12)

➔ 3𝑠² → 2𝑝 2 (λ = 589. 60 𝑛𝑚)

2 µ𝐵
∆π = 3
𝐵· ℎ
= 9. 3 𝐺𝐻𝑧/𝑇 (13)

4 µ𝐵
∆σ1± = 3
𝐵 · ℎ
= 18. 6 𝐺𝐻𝑧/𝑇 (14)

E as intensidades relativas de cada transição são dadas por:

Figura 4. Tabela de transições do espectro de emissão do átomo de sódio. Obtida

de [2].
8
O desenvolvimento em etapas das equações acima podem ser encontrados

em [3].

Por fim, vale ressaltar que, conforme [1], a observação do Efeito Zeeman

utilizando o método de medição da diferença da intensidade luminosa só pode ser

feita a partir de um valor de campo mínimo, Bcrítico, pois, para campos menores, a

largura (breadth) das linhas de emissão é maior que a separação das linhas de

absorção.

III. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

A. Equipamentos Utilizados e Procedimento

Para a execução final do experimento, foi utilizada uma bobina (1) fornecida

pelo laboratório MesoMag, do Prof. Eduardo Padrón da Universidade Federal de

Pernambuco. Ela contém 2 núcleos de ferro, cuja distância pode ser ajustada, e para

a condução de todas as medidas aqui apresentadas, foi utilizada uma distância entre

os núcleos de (8,00 ±0,05)mm, medida com um paquímetro. Essa distância foi

escolhida por ser a menor possível para a qual a chama ainda passava

completamente, sem ser muito desviada para os lados, garantindo uma boa

interação com a intensidade máxima de campo.


9
Figura 5. Montagem do aparato experimental com seus respectivos

números-indicadores.

A bobina suporta, com segurança, uma voltagem máxima de 10V gerando

uma corrente de 40A, que pode ser ajustada na fonte. Para medir o campo

magnético entre os núcleos, foi utilizado um teslômetro da marca Phywe (8). A

voltagem foi variada de 0V a 10V e, para cada valor de voltagem, foi medida a

intensidade de campo magnético. Dessa forma, foi possível saber o valor do campo

quando o experimento foi conduzido, registrando apenas a voltagem na bobina

quando a chama estava ligada. A escolha de ajustar a voltagem e não a corrente na

bobina se deu por motivos técnicos, já que o ajuste de voltagem tinha uma escala

maior, o que possibilitou ao grupo fazer ajustes finos durante o experimento com o

objetivo de obter mais pontos.

Para fazer uma chama estável, foi utilizado um bico de bunsen (3),

alimentado por um botijão de gás de 2kg (2). A medida da intensidade luminosa foi

feita utilizando o monitor de potência óptica PM100D, da ThorLabs (6) (fornecido

pelo Prof. Márcio Heráclito, da UFPE). A lâmpada de vapor de sódio de baixa

pressão, juntamente com a sua fonte de tensão e reator/ignitor (4) foi fornecida pelo

Prof. Alysson J. A. Carvalho, do Laboratório de Física Moderna da UFPE.

Para os experimentos envolvendo polarização da luz, um filtro polarizador

linear foi colocado em um suporte (7) na frente da saída de luz da lâmpada, e por

fim também foi utilizado um fio de níquel-cromo (5) para segurar o sal de cozinha (9)

em frente à chama.

B. Montagem Experimental e Obtenção de Dados


10
Para fazer a obtenção dos dados, ligamos a lâmpada de sódio e esperamos

que ela esquentasse por pelo menos 10 minutos (visando obter a máxima

intensidade luminosa emitida possível), deixando-a colinear com a bobina e o

sensor. Posicionamos o bico de bunsen um pouco abaixo do vão entre os núcleos

da bobina, de forma que a sua chama passasse completamente por eles. O fio de

níquel-cromo era molhado em uma solução de ácido clorídrico (concentrado a 1%) e

depois passado no sal para então ser colocado em um suporte que mantinha-o um

pouco acima do bico, mas ainda abaixo do espaço entre os núcleos, de forma que

toda a chama que passava pelos núcleos estava no espectro do sódio, e esse

processo era repetido toda vez que um novo “set” de medidas era feito (ou seja, a

cada 11 medições de intensidade por campo), para garantir que a chama estaria

sempre no espectro correto.

O sensor do monitor de potência óptica foi colado em um anteparo e fixado. A

distância entre a lâmpada de sódio e a bobina foi de 57 cm, e a distância entre a

bobina e o anteparo era de 53 cm. Por mais que fosse interessante aproximar mais

a lâmpada para obter um maior valor de potência/menor incerteza, uma

aproximação muito maior do que a utilizada prejudicava o foco da sombra, dada a

natureza difusa da lâmpada, e não poderia ser feita sem o uso de lentes. Era

importante manter uma distância considerável entre o sensor e a chama, para que a

sua luminosidade não interferisse no experimento (o objetivo é medir apenas a

sombra projetada pela chama no sensor). Finalmente, as luzes do laboratório foram

desligadas, permanecendo apenas a luz emitida pela lâmpada de sódio.

Para obter os dados da intensidade para cada valor de campo com o sensor

da Thorlabs, utilizamos uma função estatística que faz 2000 medições durante

aproximadamente 10 segundos e fornece um valor médio de intensidade e o seu


11
devido desvio padrão e, por fim, exportava esses dados para o notebook com o

software da ThorLabs conectado ao monitor óptico. Após salvar a medida, o valor

da voltagem na bobina era alterado e mais uma medição era tomada. Foram feitas

11 medidas em cada set, variando a voltagem de 0V a 10V.

Para a análise final, tomamos 4 sets de medidas, sendo 1 com o polarizador

na polarização pi, um com o polarizador na direção sigma, um com a luz não

polarizada e por fim um set de controle, variando o campo com a chama na frente

da lâmpada e com o bico de bunsen/núcleos da bobina completamente limpos e

sem sal. Por conta de uma breve queda de tensão na lâmpada, alguns dados

ficaram faltando na medição da polarização pi.

Figura 6 e 7. Posicionamento da lâmpada, bobina e anteparo e exemplo de

medição estatística utilizando o software da ThorLabs.

Apesar de termos utilizado equipamentos bastante sofisticados na

configuração final do experimento, muitas outras tentativas foram feitas

anteriormente, e elas não obtiveram sucesso. Alguns dos principais desafios

encontrados pela equipe durante essa jornada foram:


12
1. A lâmpada de sódio utilizada precisa ser uma lâmpada de sódio de baixa

pressão, pois o espectro de emissão das lâmpadas de sódio de alta pressão

(que são o modelo mais comum de se encontrar no Brasil) é muito mais

amplo, de forma que não faz uma boa sombra quando colocada na frente da

chama com sódio. Os nossos primeiros testes deram errado justamente

porque não tínhamos a lâmpada certa.

2. O campo magnético necessário para observar com boa precisão uma

redução na intensidade luminosa é muito alto, ou seja, as primeiras bobinas

utilizadas não eram poderosas o suficiente para coletar dados. Além disso, se

o núcleo da bobina for muito pequeno, pequenos desvios da chama podem

fazer com que o fogo saia da região do campo magnético, fazendo com que

não se conseguisse observar o efeito.

3. Este na verdade foi o problema mais persistente durante todas as

nossas medidas: Para conseguir observar o efeito, é necessário ter uma fonte

de chama muito estável, pois qualquer variação na combustão pode deslocar

muito a intensidade luminosa, além de tornar impossível de distinguir o que

seria efeito do campo magnético e o que seria efeito da natureza caótica da

fogo. Dessa forma, só foi possível observar qualquer efeito quando nós

adquirimos um bico de bunsen a gás, que provia uma fonte de chama

bastante estável.

IV. DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS DADOS

A. Medida do campo magnético para cada valor de voltagem na bobina


13
Dada a impossibilidade de manter o teslômetro medindo a intensidade de

campo magnético enquanto se conduzia o experimento (já que ele não podia ser

exposto a um calor extremo), foi necessário tomar medidas anteriores de campo

magnético para cada voltagem aplicada na bobina (cujo campo remanescente vale

aproximadamente 85 mT). Assim, construímos a seguinte tabela de conversão:

Figura 8 e 9. Gráfico de 𝐵(𝑉) e tabela correspondente aos pontos inseridos.

B. Medida da potência luminosa detectada pelo sensor em função do

campo magnético externo aplicado

Conforme discutido na Seção II, o fato de existir uma largura de linha

considerável na emissão da lâmpada de sódio faz com que não seja possível

observar com clareza a dependência da potência luminosa com o campo para

intensidades mais baixas, pois nesse regime a separação das linhas de absorção

devido ao Efeito Zeeman ainda é menor do que a largura de cada linha de emissão.

Porém, a partir de um valor crítico de campo, a dependência da potência com o

campo torna-se linear e bastante visível. Por isso, foi escolhido uma função de fitting

“piecewise”, de forma que os coeficientes calculados pelo gráfico são o Bcrítico e o


14
coeficiente angular após atingido o valor crítico de campo (k2), além do coeficiente

linear que simplesmente é o valor da potência sem chama. Nesta parte,

analisaremos os gráficos do aumento da intensidade luminosa (causada pela

diminuição da sombra) devido ao Efeito Zeeman, ou seja, a parte do gráfico a ser

analisada é para um campo B > Bcrítico para determinar o valor médio da separação

das linhas de absorção em função do campo. Já na Parte C, o próprio valor de Bcrítico

será analisado para fazer uma estimativa da largura de linha média do espectro de

emissão da lâmpada.

Figura 10. Gráfico 1: Potência luminosa no sensor em função do campo para a luz

não-polarizada (vermelho) e para o teste de controle (sem sal na chama) em preto.

Potência sobe à medida que a sombra vai ficando mais fraca.


15

Figura 11. Gráfico 2: Potência luminosa no sensor em função do campo para a luz

com filtro polarizador.

Como nessa seção queremos analisar apenas o efeito Zeeman, o coeficiente

que nos interessa nesse caso é o “k2”, que descreve a inclinação do gráfico. Neste

domínio (B > Bcrítico), a quantidade de luz absorvida pela chama diminui com o

campo segundo a fórmula:

𝑃𝑎𝑏𝑠 = 𝑃𝑎𝑏𝑠−0 − 𝑘2 × (𝐵 − 𝐵𝑐𝑟í𝑡𝑖𝑐𝑜) (15)

Qualitativamente, os valores desse coeficiente angular na polarização π vs.

na σ mostram a mesma tendência do modelo teórico (Tabela 1: ∆𝑓 em função do

campo para cada transição), de que em média as emissões com polarização na

direção σ se desdobram muito mais rapidamente com o campo do que as emissões

com polarização π. Os dados com a luz não-polarizada não tiveram um R² tão alto

quanto os polarizados, o que faz sentido considerando que ele age como se

tivessem dois Bcríticos, um para a componente σ e outro para a π.


16
Já os dados retirados sem a presença de sal na chama são essenciais para

mostrar que o efeito observado é devido de fato à interação do sódio com o campo

magnético, e não uma variação da chama provocada pelo campo, já que eles não

são estatisticamente distintos de uma função constante.

C. Estimativa da largura de linha de emissão da lâmpada

Por fim, é relevante notar que o valor do campo mínimo (Bcrítico) para observar

uma diminuição na absorção da luz pelo sódio pode ser combinado com o modelo

teórico de Efeito Zeeman para estimar a largura de linha de emissão da lâmpada.

Combinando as intensidades relativas (Tabela 1) com os valores de

separação com o campo (equações 10, 11, 12, 13 e 14), obtemos um valor médio

de separação das linhas com o campo de aproximadamente 11.6GHz/T. Assim,

como Bcrítico para as emissões da lâmpada não-polarizada [Bcrítico = (800 ± 80)T],

temos uma separação média de (9.3 ± 0.9) GHz para conseguir observar o Efeito

Zeeman. Isso significa que a largura das linhas de emissão da lâmpada está nessa

ordem de grandeza. Esse valor é compatível com outras medições feitas por

autores como Hon. R. J.; Strutt [1], que mediu um valor de separação entre 0.02nm

e 0.03nm, ou (convertendo para uma diferença de frequência) entre 17.28GHz e

26GHz. Logo, a estimativa tomada configura uma boa estimativa, já que o valor

exato obtido depende da fonte de luz usada, impurezas, entre outros, além de que

não foi possível obter o aparato experimental para separar as linhas D1 e D2 do

sódio, que em geral têm larguras diferentes.

V. CONCLUSÃO
17
No decorrer desse relatório, foi possível construir um experimento que

demonstra o Efeito Zeeman com materiais relativamente simples. Foi possível

observar a dependência da intensidade luminosa com o campo magnético, que é

linear a partir de um valor crítico de campo magnético, assim como o esperado pelo

modelo teórico, já que a separação das linhas de absorção é linear com o campo

magnético, além de que, conforme o esperado pelo modelo teórico, o coeficiente

angular dessa dependência é significativamente maior nas emissões com

polarização sigma do que nas de polarização pi, o que é coerente com o modelo

teórico, onde as emissões pi têm uma separação mais fraca com o campo. Também

foi possível utilizar o valor de Bcrítico para estimar a largura das linhas de emissão da

lâmpada de sódio utilizada no experimento, obtendo um valor que concorda em

ordem de grandeza com outros experimentos.

Por outro lado, não foi possível encontrar uma forma direta de relacionar a

mudança de intensidade da luz absorvida pela chama (quantidade medida pelo

experimento) ao aplicar um campo com a mudança da frequência de ressonância de

absorção (quantidade usada no modelo teórico), ou seja, por mais que tenha sido

possível observar o Efeito Zeeman qualitativamente, não foi possível obter de forma

analítica uma medida das separações das linhas em frequência, para que fosse

possível compará-la com o modelo teórico, e nem foi possível obter um modelo

teórico que descreve quantitativamente a mudança de intensidade da luz absorvida

em função do campo.

Além disso, os altos valores de incerteza causados pela natureza instável da

chama e pela baixa intensidade da lâmpada utilizada em relação ao ruído de fundo

e do instrumento prejudicaram uma análise mais aprofundada do experimento.

Assim, além de tomar dados com lâmpadas de intensidade mais alta ou utilizar
18
lentes para melhorar a intensidade que atinge a chama, também seria interessante

utilizar filtros que separassem as linhas D1 e D2 do sódio, permitindo uma precisão

ainda mais alta para medir a dependência de cada transição específica com o

campo.

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] STRUTT, Robert John. Observations on the fluorescence and resonance


radiation of sodium vapour.-I. Proceedings of the Royal Society of London.
Series A, Containing Papers of a Mathematical and Physical Character, v. 91, n.
630, p. 388-395, 1915. Disponível em:
https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&as_sdt=0%2C5&q=Observations+o
n+the+fluorescence+and+resonance+radiation+of+sodium+vapour.-I&btnG= Acesso
em: novembro de 2023.
[2] Efeito Zeeman. Universidade de São Paulo.Instituto de Física de São Carlos.
Laboratório Avançado de Física. Disponível em: Efeito Zeeman. Acesso em:
Novembro de 2023.

[3] WHITE, Harvey Elliott. Introduction to atomic spectra. International Series in


Pure and Applied Physics, 1934. Disponível em:
https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&as_sdt=0%2C5&q=Introduction+to+
atomic+spectra+H+E+white&oq=Introduction+to+atomic+spectra+H+E+Whit.
Acesso em: novembro de 2023.

[4] MOMIER, Rodolphe; PAPOYAN, Aram V.; LEROY, Claude. Sub-Doppler spectra
of sodium D lines in a wide range of magnetic field: theoretical study. Journal of
Quantitative Spectroscopy and Radiative Transfer, v. 272, p. 107780, 2021.
Disponível em: https://arxiv.org/pdf/2104.14896. Acesso em: novembro de 2023.

Você também pode gostar