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TRANSMISSÃO

E DISTRIBUIÇÃO
DE ENERGIA
Fatores típicos
de carga
Marco Aurélio da Cruz Gouveia

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Caracterizar as cargas supridas por um sistema de potência.


> Calcular os fatores típicos de carga.
> Construir a curva de duração de carga.

Introdução
A principal função de um sistema de distribuição de energia elétrica é fornecer
energia para os diversos tipos de consumidores, de acordo com as necessidades
de tensão apropriadas ao consumo. Um dos objetivos das concessionárias de
distribuição de energia elétrica é garantir fornecimento com a maior dispo-
nibilidade possível, com a qualidade requerida e com uma tarifa condizente.
Para que esses objetivos sejam atingidos, é necessário que as concessionárias
invistam recursos no planejamento de curto e longo prazos nos projetos de
construção, ampliação e manutenção dos sistemas de distribuição.
O conhecimento dos fatores típicos de carga é fundamental para que as
concessionárias possam projetar os sistemas de distribuição de energia elé-
trica de modo a atender às necessidades dos consumidores. Conhecer esses
fatores também permite que os consumidores — principalmente os comerciais,
industriais e públicos — pratiquem uma gestão mais eficiente da demanda de
energia elétrica, levando em consideração os contratos de fornecimento e
promovendo economia de recursos.
2 Fatores típicos de carga

Neste capítulo, você estudará a classificação das cargas e questões en-


volvendo localização geográfica dos consumidores, diferentes finalidades de
consumo e dependência que temos da disponibilidade de energia elétrica.
Em seguida, você aprenderá a calcular os fatores típicos utilizados em sistemas
de distribuição, estudando questões relativas a demanda e demanda máxima,
diversidades de carga, fator de demanda, fator de utilização, fator de carga e fator
de perdas. O capítulo se encerrará com a construção de uma curva de duração
de carga.

Classificação das cargas dos consumidores


Entre os fatores que mais influenciam os estudos de planejamento de um
sistema de distribuição estão os tipos diferentes de cargas a serem supridas
pelo sistema. Em um sistema de distribuição, podemos classificar diversos
tipos de cargas dos consumidores. De acordo com Kagan, Oliveira e Robba
(2010), uma das maneiras de classificar as cargas é segundo suas caracterís-
ticas típicas, também chamadas de características comuns:

„ localização geográfica;
„ finalidade da energia fornecida;
„ dependência de energia elétrica;
„ perturbações causadas pelas cargas ao sistema;
„ tarifação;
„ tensão de fornecimento.

Examinamos a seguir cada uma dessas características típicas caso a caso.

Localização geográfica
Os consumidores estão distribuídos em diferentes regiões e, consequente-
mente, com necessidades de fornecimento de energia elétrica que variam
de acordo com as características de densidade populacional e presença de
instalações comerciais, industriais e agroindústrias. Esses consumidores
devem ser atendidos considerando suas características de consumo.
Partindo da macrodivisão geográfica, temos as zonas urbana, suburbana
e rural. Sob outra perspectiva, a fim de regulamentar especificamente a ocu-
pação urbana, a divisão das cidades é feita por meio de leis de zoneamento
(SÃO PAULO, 2016). Essa divisão se reflete diretamente na necessidade de su-
primento de energia elétrica e, dessa forma, na zona urbana geralmente temos
Fatores típicos de carga 3

baixo potencial de novas edificações e instalações comerciais e residenciais


que demandam uma densidade de carga elevada e com perfil de demanda
bem definido: maior no horário comercial e menor fora desse horário. Por
sua vez, analisando a zona suburbana geralmente temos uma demanda de
carga menor, devido à predominância de consumidores residenciais, pequenos
comércios e, eventualmente, indústrias. Por fim, nas zonas rurais a densidade
de carga é mais baixa que nas demais zonas, já que essa ocupação apresenta
poucas residências, propriedades rurais e agroindústrias.

Finalidade da energia fornecida


As cargas dos consumidores podem ser classificadas de acordo com a fina-
lidade de utilização:

„ cargas residenciais;
„ cargas comerciais: iluminação, tomadas de uso geral e específico, siste-
mas de climatização, sistemas de monitoramento e alarmes, sistemas
de combate a incêndio, elevadores, etc.;
„ cargas industriais, geralmente trifásicas: motores, fornos, esteiras
transportadoras, etc.;
„ cargas rurais, agroindústria: oficinas, motores, irrigação, conjuntos
motobomba, etc.;
„ cargas públicas, municipais, estaduais e federais;
„ carga de iluminação pública.

Dependência de energia elétrica


Cada vez mais, somos dependentes da energia elétrica. Percebemos essa
dependência quando ela falta, quando ficamos sem acesso à internet ou
quando chegamos ao nosso lar e não conseguimos acionar o portão eletrônico
da nossa garagem.
Os impactos da falta de energia elétrica afetam de forma específica cada
tipo de consumidor. Assim, uma indústria pode sofrer danos aos seus equi-
pamentos ou perda de produtos em processo ou em estoque, enquanto
um hospital pode ficar inoperante, colocando em risco a vida de pacientes,
e uma agroindústria pode ter perdas de produtos que exijam refrigeração.
Em geral, em locais onde a falta de energia elétrica pode causar grandes
danos os consumidores contam com geradores ou outros sistemas para a
manutenção do fornecimento por um certo período.
4 Fatores típicos de carga

Considerando a criticidade da dependência de utilização da energia elé-


trica, as cargas podem ser classificadas como apresentado no Quadro 1.

Quadro 1. Classificação das cargas em função da criticidade de uso

Tipo Caracterização Exemplo

Sensíveis A interrupção do fornecimento de Hospitais, indústrias,


energia elétrica, mesmo que por órgãos públicos, etc.
curto período, acarreta prejuízos.

Semissensíveis A interrupção do fornecimento de Centros de


energia elétrica por até 10 minutos processamento de
não acarreta prejuízo. Interrupções dados, instalações
mais longas que 10 minutos podem comerciais, etc.
causar prejuízo.

Normais A interrupção do fornecimento Edifícios residenciais,


de energia elétrica não acarreta casas, etc.
prejuízos substanciais.

Perturbações causadas pelas cargas ao sistema


Considerando seus ciclos de operação, as cargas podem ser classificadas como
cargas transitórias — cíclicas ou acíclicas — ou cargas contínuas. Quando a
carga não apresenta um regime de funcionamento constante, com variação
ao longo do tempo, ela é classificada como transitória. A carga transitória
pode assumir um ciclo periódico e previsível, sendo classificada como carga
transitória cíclica, ou aperiódica, e nesse caso é chamada de carga transitória
acíclica. As cargas contínuas assumem um regime permanente e constante
de funcionamento, consumindo continuamente a mesma energia elétrica
do sistema.
Para atender a essas variações de carga, é necessário que o sistema elétrico
de potência seja projetado para evitar perturbações. Para que o sistema não
seja afetado pela variação das cargas, é necessário avaliar momentos críticos,
tal como o início de turno de grandes indústrias, dando atenção especial aos
momentos em que a rede é submetida à demanda máxima (pico de carga),
impondo condições rigorosas de queda de tensão e aquecimento (BARROS;
BORELLI; GEDRA, 2014).
Fatores típicos de carga 5

Tarifação
As cargas também podem ser classificadas de acordo com as seguintes classes
e subclasses de consumo (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2005):

„ residencial — em que se enquadram também os consumidores re-


sidenciais de baixa renda, cuja tarifa é estabelecida de acordo com
critérios específicos;
„ industrial — em que se enquadram as unidades consumidoras que
desenvolvem atividade industrial, inclusive o transporte de matérias-
-primas, insumos ou produtos resultante do seu processamento;
„ comercial, serviços e outras atividades — em que se enquadram os
serviços de transporte, comunicação, telecomunicação e outros afins;
„ rural — em que se enquadram as atividades de agropecuária, coopera-
tiva de eletrificação rural, indústria rural, coletividade rural e serviço
público de irrigação rural;
„ poder público — em que se enquadram as atividades dos poderes
públicos federal, estadual ou distrital e municipal;
„ iluminação pública — em que se enquadra a iluminação de ruas, pra-
ças, jardins, estradas e outros logradouros de domínio público de
uso comum e livre acesso, de responsabilidade de pessoa jurídica de
direito público;
„ serviço público — em que se enquadram os serviços de água, esgoto
e saneamento;
„ consumo próprio — que se refere ao fornecimento destinado ao con-
sumo de energia elétrica da própria empresa de distribuição.

Tensão de fornecimento
Sob o critério de tensão de fornecimento, as cargas dos consumidores são
classificadas de acordo com a classe de tensão nominal de fornecimento.

A distribuição se caracteriza como o segmento do setor elétrico dedicado ao


rebaixamento da tensão proveniente do sistema de transmissão, à conexão de
centrais geradoras e ao fornecimento de energia elétrica ao consumidor. O sistema
de distribuição é composto pela rede elétrica e pelo conjunto de instalações e
equipamentos elétricos que operam em níveis de alta tensão (superior a 69 kV e
inferior a 230 kV), média tensão (superior a 1 kV e inferior a 69 kV) e baixa tensão
(igual ou inferior a 1 kV) (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2018, documento
on-line, grifo nosso).
6 Fatores típicos de carga

Fatores típicos de carga


Nesta seção, vamos examinar a conceituação e os cálculos definidos pela NBR
ABNT 5460:1992 — Sistemas elétricos de potência (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE NORMAS TÉCNICAS, 1992).

Demanda
Segundo a ABNT NBR 5460 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
1992, p. 14), demanda é definida como a “média das potências elétricas ins-
tantâneas solicitadas ao sistema elétrico, por consumidor ou outro conces-
sionário, durante um intervalo de tempo especificado”. O período durante o
qual é tomado o valor médio é designado intervalo de demanda, geralmente
de 15 minutos.

Carga instalada
A carga instalada é a soma das potências nominais dos equipamentos de
um consumidor ou unidade consumidora que têm condições de entrar em
funcionamento.

Demanda máxima
A maior de todas as demandas que ocorreram num período especificado
recebe o nome de demanda máxima, que pode ser diária, semanal, mensal,
etc. A Figura 1 apresenta um exemplo de gráfico de demanda máxima.
Fatores típicos de carga 7

Figura 1. Exemplo de gráfico da demanda máxima.


Fonte: Vieira Júnior (2017, p. 6).

Demanda diversificada
Em virtude das especificidades de cada consumidor — variedade de cargas —
temos como consequência que a demanda máxima de um conjunto de cargas
é menor que a soma das demandas máximas individuais.
Para a elaboração de um projeto de distribuição buscando otimizar o
sistema, leva-se em consideração a demanda máxima do conjunto dos con-
sumidores, em vez da demanda máxima de cada consumidor individualmente.
A demanda diversificada de um conjunto de consumidores de um mesmo
grupo é definida como a relação entre a demanda do conjunto e o número
de consumidores, sendo expressa por:

∑ =1 ( )
div =

onde:

„ Ddiv é a demanda diversificada ao conjunto no instante t;


„ Di (t) é a demanda do consumidor i no instante t;
„ n é o número de consumidores do conjunto.
8 Fatores típicos de carga

Demanda máxima diversificada


A demanda máxima diversificada é a demanda do conjunto considerada como
o seu valor máximo, ou seja:

∑ máx ()

O somatório das demandas máximas individuais dividido pelo número


de consumidores é definido como a demanda máxima não coincidente do
conjunto, expressa como:

∑ =1 máx ( )
máx nc =

onde:

„ Dmáx nc é a demanda máxima não coincidente do conjunto;


„ Dmáx (i) é a demanda máxima individual do consumidor i;
„ n é o número de consumidores.

Fator de demanda
Fator de demanda é a relação entre a demanda máxima que ocorreu no
intervalo de tempo (t) e a potência instalada de um sistema, ou parte do
sistema ou de uma carga:

máx
=
inst

Para um grupo de n consumidores temos:

máx
=
inst
Fatores típicos de carga 9

Suponha que um sistema elétrico de potência supre um circuito


de cargas industriais e que a demanda máxima desse circuito seja
de 2.200 kW em determinado período do dia. Esse circuito tem uma potência
instalada de 3.200 kW. O fator de demanda será:

2.200 kW
−ind = = 0,6875, ou 68,75%
3.200 kW

Via de regra, o fator de demanda é menor que 1, mas em casos de sobrecarga


será maior que 1.
Para o projeto de rede, o ideal seria conhecer o fator de demanda medindo
a demanda máxima do consumidor e conhecendo sua potência instalada. Como
na maioria dos casos os consumidores ainda não estão ligados, a demanda é
estimada com base em dados disponíveis e definida estatisticamente. Diversos
fatores contribuem para a determinação do fator de demanda, como classe de
consumidor, magnitude de sua carga, quantidade de equipamentos ligados,
época do ano, etc.

Fator de diversidade
Fator de diversidade é a relação entre a soma das demandas máximas das
cargas e a demanda máxima do conjunto, dado por:

∑ =1 máx ( )
div =
máx

onde:

„ Dmáx (i) é a demanda máxima do consumidor i;


„ Dmáx é a demanda máxima do conjunto.

O fator diversidade, que é adimensional, será, portanto, maior que uma


unidade, só sendo unitário quando as demandas máximas coincidirem no
tempo.
10 Fatores típicos de carga

Fator de coincidência
O fator de coincidência é o inverso do fator de diversidade:

1 div ,máx
coinc. = =
div ∑ =1 máx ,

O fator diversidade também é adimensional, mas não assumirá valor


maior que um.

Fator de contribuição
O fator de contribuição de cada uma das cargas do conjunto é definido pela
relação, em cada instante, entre a demanda da carga considerada e sua
demanda máxima, expresso por:

cont =
máx

Trata-se de um fator adimensional e sempre menor ou igual a um. Seu


valor é unitário quando, no instante considerado, sua demanda coincide com
a demanda máxima. Dessa forma, o fator de contribuição é importante para
o instante de demanda máxima do conjunto, sendo, nesse caso, definido
como fator de contribuição para demanda máxima.

O sistema elétrico de potência apresentado no exemplo anterior tem


a seguinte demanda máxima por tipo de circuito em determinado
período do dia: 100 kW de iluminação pública, 2.900 kW residencial e 2.200 kW
industrial. A demanda máxima do conjunto é 3.800 kW. O fator de diversidade
desse circuito é:

100 + 2.900 + 2.200


div = = 1,368
3.800

Já o fator de coincidência é:

1 1
coinc = = = 0,731
div 1,368
Fatores típicos de carga 11

Considere que às 23:00 h a demanda de carga industrial seja de 800


kW, então o fator de contribuição para a carga industrial será:

800
cont −Ind = = 0,364
2.200

Fator de utilização
O fator de utilização em determinado período é a relação entre a máxima
demanda do período referido e a capacidade nominal do sistema:

máx
=

onde:

„ Dmáx é a demanda máxima do sistema no período definido;


„ C é a capacidade do sistema;
„ fu é o fator de utilização do sistema.

O fator de utilização nos informa a porcentagem da capacidade nomi-


nal do sistema que está sendo utilizada no instante de demanda máxima,
ao passo que o fator de demanda indica a porcentagem de carga instalada
que está sendo alimentada.
Trata-se de um fator adimensional, calculado definindo-se a demanda
máxima e a capacidade nas mesmas unidades. A capacidade do sistema é
obrigatoriamente expressa em unidades de corrente (A) ou potência aparente
(VA).

Fator de carga
O fator de carga é definido como a relação entre a demanda média num de-
terminado intervalo de tempo e a demanda máxima verificada nesse mesmo
intervalo:

média ∫ ( )
carga = =
máx máx ∆
12 Fatores típicos de carga

Multiplicando-se o numerador e o denominador dessa equação pelo pe-


ríodo de tempo, temos:

média média ∆ Energia absorvida em ∆


carga = = = =
máx máx ∆ máx ∆ máx ∆

ou

= máx ∆ carga = máx eq

onde:

„ Dmédia é a demanda média do sistema;


„ Dmáx é a demanda máxima do sistema;
„ fcarga é o fator de carga do sistema;
„ ∆t é a demanda instantânea no instante t;
„ ε é a energia absorvida no período ∆t;
„ Heq significa horas equivalentes.

O produto do fator de carga pela duração do período ∆t representa o


período durante o qual o sistema deveria operar com sua demanda máxima
para alcançar a mesma energia que operando em sua curva de carga.
O valor da demanda é considerado de acordo em um intervalo de demanda,
geralmente 15 minutos. Associado ao intervalo de demanda é definido o
período para o qual se deseja determinar o fator de carga, como um dia,
uma semana, um mês, etc. O fator de carga deve ser o mais próximo possível
de 1, porque o custo por kWh cai quando o custo fixo — que, por sua vez,
independe da quantidade de energia que está sendo consumida — é rateado
numa quantidade maior de kWh vendido.

Fator de perda
O fator de perda é a relação entre os valores médio (pmédio) e máximo (pmáximo)
da potência dissipada em perdas, em intervalo de tempo determinado (τ),
sendo expresso como:

Perda média em Energia perdida no intervalo


= =
Perda máxima em máxima
Fatores típicos de carga 13

A perda em cada intervalo de tempo é dada por:

εp,i = K ∙ Di2 ∙ ti

onde:

„ εp,i é a energia perdida no intervalo de tempo i de duração ti ;


„ Di é a demanda, em termos de potência aparente, no intervalo de
tempo i de duração ti.

O fator de perdas será dado por:

2
∑ =1, ∙
perda = 2
máx ∙

O produto do intervalo de tempo pelo fator de perdas expressa as horas


equivalentes para perdas (Heq p), ou seja, o número de horas que a instalação
deve funcionar com a perda máxima para que o montante global de perdas
seja igual àquelas verificadas no período considerado:

εperdas = pmáxima τ fperdas = pmáxima Heq p

Correlação entre fator de carga e fator de perda


Para encontramos a correlação entre o fator de carga e o fator de perda,
analisaremos um consumidor cuja curva de carga, com duração de tempo T,
apresenta uma demanda dada por:

D = D1 para 0 ≤ t ≤ t1;
D = D2 para t1 ≤ t ≤ T;
com D2 ≤ D1.

O fator de carga será:

1 1 + 2( − 1)
+ 2( − 1)
=
1
=
1 1

1
=
1
+
2

1
(1 − )
1
14 Fatores típicos de carga

Supondo que no intervalo T a tensão e o fator de potência da carga man-


tenham-se constantes e considerando que em sistemas trifásicos simétricos
e equilibrados as perdas são dadas pelo triplo do produto de (I2 × R), onde I
é a intensidade de corrente pela resistência ôhmica do trecho em questão,
pode-se afirmar que as perdas p(t) são proporcionais ao quadrado da demanda:

p(t) = KD2(t)

O Quadro 2 apresenta o valor de K em função da natureza da demanda.

Quadro 2. Valores do fator K

Natureza da demanda Equação da constante

Corrente 3R

Potência aparente
2

Potência ativa
( cos )2

Potência reativa
( sen )2

onde:

„ R é a resistência ôhmica do trecho;


„ V é a tensão de linha de carga;
„ φ é o ângulo de rotação entre fase e corrente.

A energia absorvida diariamente por um consumidor residencial


é de 12.990 kW e a demanda máxima é de 2.900 kW. Sendo assim,
o fator de carga é:

ε 12.990
carga −Res = = = 0,187, ou 18,7%
máx ∆ 2.900 × 24

Perda média em Energia perdida no intervalo


= =
Perda máxima em máxima
Fatores típicos de carga 15

Um consumidor apresenta 4.688 kW de perda média de energia diária e perda


máxima de 662 kW. Sendo assim, o fator de perda é:

Perda média em 4.688


= = = 0,295
Perda máxima em 662 × 24

Curva de duração de carga


A curva de carga de um determinado sistema é construída a partir dos dados
de solicitação das cargas atreladas a este sistema. A curva de carga sofre
alterações decorrentes da variação de demandas nos fins de semanas, nos
feriados, períodos de férias, estações do ano, etc.
Com o intuito de projetar e manter o sistema elétrico, é necessário fazer
uma análise em um intervalo de tempo que possa representar as variações
decorrentes dos eventos específicos. Para tanto, geralmente toma-se o período
de um ano para que seja possível determinar alguns fatos relevantes, como
o período durante o qual a carga não é maior que um determinado valor, a
probabilidade de ocorrências de demanda para um determinado valor, etc. De
posse desses dados, é determinada a curva de duração de carga, que permite
analisar as demandas de carga com uma visão ampliada.
Para construir a curva de duração de cargas, são utilizados softwares
específicos ou planilhas eletrônicas. Independentemente do recurso utilizado,
a seguinte sequência costuma ser observada (KAGAN; OLIVEIRA; ROBBA, 2010):

„ ordenar em ordem decrescente as demandas verificadas no período;


„ determinar para cada valor de demanda o tempo de sua duração;
„ acumular, na ordem das demandas decrescentes, seus tempos de
duração;
„ construir a curva de carga determinando o valor dos níveis de demanda
para cada um dos intervalos de tempo acumulados.

Considere a demanda medida durante uma semana de um consumidor


comercial apresentada no Quadro 3 (assuma que o fator de potência se mantém
constante nos intervalos).
16

Quadro 3. Medições, demandas e durações

Medições

15 h às 20 h às
Horário 00 h às 07 h 07 h às 08 h 08 h às 09 h 09 h às 12 h 12 h às 13 h 13 h às 14 h 14 h às 15 h
20 h 24 h
Fatores típicos de carga

2ª a 6ª feira

Demanda
180 350 1.200 1.000 1.300 700 900 1.500 180
(kW)

Fator de
0,85 0,85 0,92 0,89 0,93 0,9 0,91 0,89 0,85
potência

Sábado, domingo e feriados

Demanda
180 180 180 180 180 320 320 200 180
(kW)

Fator de
0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,88 0,88 0,85 0,85
potência
(Continua)
(Continuação)

Demandas e durações

Período de Período de
Demanda Fator de Demanda Duração Duração
ocorrência ocorrência
(kW) potência (kVA) (h) acumulada (h)
— dias úteis dias festivos

1.500 0,89 1.685,4 25 25 15 h às 20 h ----

1.300 0,93 1.397,8 5 30 12 h às 13 h ----

1.200 0,92 1.304,3 5 35 08 h às 09 h ----

1.000 0,89 1.123,6 15 50 09 h às 12 h ----

900 0,91 989 5 55 14 h às 15 h ----

700 0,9 777,8 5 60 13 h às 14 h ----

350 0,85 411,8 5 65 07 h às 08 h ----

320 0,88 363,6 4 69 ---- 13 h às 15 h

200 0,85 235,3 10 79 ---- 15 h às 20 h

00 h às 07 h e 00 h às 13 h e
180 0,85 211,8 89 168
Fatores típicos de carga

20 h às 24 h 20 h às 24 h
17
18 Fatores típicos de carga

A Figura 2 foi gerada utilizando a sequência de construção da curva de carga.

Curva de duração de carga em kW


1.600
1.400
1.200
Demandas [kW]

1.000
800
600
400
200
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Horas acumudas da semana [h]

Figura 2. Exemplo de curva de duração de carga.

Visando facilitar o estudo e modelagem da curva de duração de carga,


utiliza-se com frequência a representação em por unidade (p.u.). Para fazer
a conversão em p.u., toma-se como base a demanda em kW e divide-se por
um valor-base de demanda máxima em kW.
A Figura 3 apresenta um exemplo de uma curva de distribuição de pro-
babilidades em p.u.

Figura 3. Curva de distribuição de probabilidades em p.u.


Fonte: Kagan, Oliveira e Robba (2010, p. 42).
Fatores típicos de carga 19

Para saber mais sobre a representação em p.u., consulte o artigo


“Sistema por unidade”, do professor Manuel António Matos (2003),
da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal.

Referências
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (Brasil). Superintendência de Regulação dos
Serviços de Distribuição. Regulação dos serviços de distribuição. Aneel, 2018. Dispo-
nível em: https://www.aneel.gov.br/regulacao-da-distribuicao/-/asset_publisher/
nHNpDfkNeRpN/content/regulacao-dos-servicos-de-distribuicao/656827?inheritRe
direct=false. Acesso em: 22 set. 2021.
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (Brasil). Tarifas de fornecimento de energia
elétrica. Brasília, DF: ANEEL, 2005.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 5460:1992: sistemas elétricos
de potência. Rio de Janeiro: ABNT, 1992.
BARROS, B. F.; BORELLI, R.; GEDRA, R. L. Geração, transmissão, distribuição e consumo
de energia elétrica. São Paulo: Érica, 2014.
KAGAN, N.; OLIVEIRA, C. C. B.; ROBBA, E. J. Introdução aos sistemas de distribuição de
energia elétrica. 2. ed. rev. São Paulo: Blucher, 2010.
SÃO PAULO. Lei n. 16.402, de 22 de março de 2016. Diário Oficial da Cidade de São Paulo,
São Paulo, ano 61, n. 54, p. 1-9, 23 mar. 2016. Disponível em: http://www.docidadesp.
imprensaoficial.com.br/NavegaEdicao.aspx?ClipId=2QUAFFO7S38BLeER7VNEFPVLQBE.
Acesso em: 22 set. 2021.
VIEIRA JÚNIOR, J. C. M. Eficiência energética: tarifação de energia elétrica. Edisciplinas
Usp, 2017. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3095674/mod_re-
source/content/1/SEL0437_Aula03_Tarifacao_parteI_2017.pdf. Acesso em: 22 set. 2021.

Leituras recomendadas
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (Brasil). Atlas de energia elétrica do Brasil.
3. ed. Brasília, DF: ANEEL, 2008.
MATOS, M. A. Sistema por unidade. Porto: Universidade do Porto, 2003. Disponível em
https://paginas.fe.up.pt/~mam/sistemapu.pdf. Acesso em: 22 set. 2021.

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