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E DISTRIBUIÇÃO
DE ENERGIA
Fatores típicos
de carga
Marco Aurélio da Cruz Gouveia
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A principal função de um sistema de distribuição de energia elétrica é fornecer
energia para os diversos tipos de consumidores, de acordo com as necessidades
de tensão apropriadas ao consumo. Um dos objetivos das concessionárias de
distribuição de energia elétrica é garantir fornecimento com a maior dispo-
nibilidade possível, com a qualidade requerida e com uma tarifa condizente.
Para que esses objetivos sejam atingidos, é necessário que as concessionárias
invistam recursos no planejamento de curto e longo prazos nos projetos de
construção, ampliação e manutenção dos sistemas de distribuição.
O conhecimento dos fatores típicos de carga é fundamental para que as
concessionárias possam projetar os sistemas de distribuição de energia elé-
trica de modo a atender às necessidades dos consumidores. Conhecer esses
fatores também permite que os consumidores — principalmente os comerciais,
industriais e públicos — pratiquem uma gestão mais eficiente da demanda de
energia elétrica, levando em consideração os contratos de fornecimento e
promovendo economia de recursos.
2 Fatores típicos de carga
localização geográfica;
finalidade da energia fornecida;
dependência de energia elétrica;
perturbações causadas pelas cargas ao sistema;
tarifação;
tensão de fornecimento.
Localização geográfica
Os consumidores estão distribuídos em diferentes regiões e, consequente-
mente, com necessidades de fornecimento de energia elétrica que variam
de acordo com as características de densidade populacional e presença de
instalações comerciais, industriais e agroindústrias. Esses consumidores
devem ser atendidos considerando suas características de consumo.
Partindo da macrodivisão geográfica, temos as zonas urbana, suburbana
e rural. Sob outra perspectiva, a fim de regulamentar especificamente a ocu-
pação urbana, a divisão das cidades é feita por meio de leis de zoneamento
(SÃO PAULO, 2016). Essa divisão se reflete diretamente na necessidade de su-
primento de energia elétrica e, dessa forma, na zona urbana geralmente temos
Fatores típicos de carga 3
cargas residenciais;
cargas comerciais: iluminação, tomadas de uso geral e específico, siste-
mas de climatização, sistemas de monitoramento e alarmes, sistemas
de combate a incêndio, elevadores, etc.;
cargas industriais, geralmente trifásicas: motores, fornos, esteiras
transportadoras, etc.;
cargas rurais, agroindústria: oficinas, motores, irrigação, conjuntos
motobomba, etc.;
cargas públicas, municipais, estaduais e federais;
carga de iluminação pública.
Tarifação
As cargas também podem ser classificadas de acordo com as seguintes classes
e subclasses de consumo (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2005):
Tensão de fornecimento
Sob o critério de tensão de fornecimento, as cargas dos consumidores são
classificadas de acordo com a classe de tensão nominal de fornecimento.
Demanda
Segundo a ABNT NBR 5460 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
1992, p. 14), demanda é definida como a “média das potências elétricas ins-
tantâneas solicitadas ao sistema elétrico, por consumidor ou outro conces-
sionário, durante um intervalo de tempo especificado”. O período durante o
qual é tomado o valor médio é designado intervalo de demanda, geralmente
de 15 minutos.
Carga instalada
A carga instalada é a soma das potências nominais dos equipamentos de
um consumidor ou unidade consumidora que têm condições de entrar em
funcionamento.
Demanda máxima
A maior de todas as demandas que ocorreram num período especificado
recebe o nome de demanda máxima, que pode ser diária, semanal, mensal,
etc. A Figura 1 apresenta um exemplo de gráfico de demanda máxima.
Fatores típicos de carga 7
Demanda diversificada
Em virtude das especificidades de cada consumidor — variedade de cargas —
temos como consequência que a demanda máxima de um conjunto de cargas
é menor que a soma das demandas máximas individuais.
Para a elaboração de um projeto de distribuição buscando otimizar o
sistema, leva-se em consideração a demanda máxima do conjunto dos con-
sumidores, em vez da demanda máxima de cada consumidor individualmente.
A demanda diversificada de um conjunto de consumidores de um mesmo
grupo é definida como a relação entre a demanda do conjunto e o número
de consumidores, sendo expressa por:
∑ =1 ( )
div =
onde:
∑ máx ()
∑ =1 máx ( )
máx nc =
onde:
Fator de demanda
Fator de demanda é a relação entre a demanda máxima que ocorreu no
intervalo de tempo (t) e a potência instalada de um sistema, ou parte do
sistema ou de uma carga:
máx
=
inst
máx
=
inst
Fatores típicos de carga 9
2.200 kW
−ind = = 0,6875, ou 68,75%
3.200 kW
Fator de diversidade
Fator de diversidade é a relação entre a soma das demandas máximas das
cargas e a demanda máxima do conjunto, dado por:
∑ =1 máx ( )
div =
máx
onde:
Fator de coincidência
O fator de coincidência é o inverso do fator de diversidade:
1 div ,máx
coinc. = =
div ∑ =1 máx ,
Fator de contribuição
O fator de contribuição de cada uma das cargas do conjunto é definido pela
relação, em cada instante, entre a demanda da carga considerada e sua
demanda máxima, expresso por:
cont =
máx
Já o fator de coincidência é:
1 1
coinc = = = 0,731
div 1,368
Fatores típicos de carga 11
800
cont −Ind = = 0,364
2.200
Fator de utilização
O fator de utilização em determinado período é a relação entre a máxima
demanda do período referido e a capacidade nominal do sistema:
máx
=
onde:
Fator de carga
O fator de carga é definido como a relação entre a demanda média num de-
terminado intervalo de tempo e a demanda máxima verificada nesse mesmo
intervalo:
média ∫ ( )
carga = =
máx máx ∆
12 Fatores típicos de carga
ou
onde:
Fator de perda
O fator de perda é a relação entre os valores médio (pmédio) e máximo (pmáximo)
da potência dissipada em perdas, em intervalo de tempo determinado (τ),
sendo expresso como:
εp,i = K ∙ Di2 ∙ ti
onde:
2
∑ =1, ∙
perda = 2
máx ∙
D = D1 para 0 ≤ t ≤ t1;
D = D2 para t1 ≤ t ≤ T;
com D2 ≤ D1.
1 1 + 2( − 1)
+ 2( − 1)
=
1
=
1 1
1
=
1
+
2
1
(1 − )
1
14 Fatores típicos de carga
p(t) = KD2(t)
Corrente 3R
Potência aparente
2
Potência ativa
( cos )2
Potência reativa
( sen )2
onde:
ε 12.990
carga −Res = = = 0,187, ou 18,7%
máx ∆ 2.900 × 24
Medições
15 h às 20 h às
Horário 00 h às 07 h 07 h às 08 h 08 h às 09 h 09 h às 12 h 12 h às 13 h 13 h às 14 h 14 h às 15 h
20 h 24 h
Fatores típicos de carga
2ª a 6ª feira
Demanda
180 350 1.200 1.000 1.300 700 900 1.500 180
(kW)
Fator de
0,85 0,85 0,92 0,89 0,93 0,9 0,91 0,89 0,85
potência
Demanda
180 180 180 180 180 320 320 200 180
(kW)
Fator de
0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,88 0,88 0,85 0,85
potência
(Continua)
(Continuação)
Demandas e durações
Período de Período de
Demanda Fator de Demanda Duração Duração
ocorrência ocorrência
(kW) potência (kVA) (h) acumulada (h)
— dias úteis dias festivos
00 h às 07 h e 00 h às 13 h e
180 0,85 211,8 89 168
Fatores típicos de carga
20 h às 24 h 20 h às 24 h
17
18 Fatores típicos de carga
1.000
800
600
400
200
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Horas acumudas da semana [h]
Referências
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (Brasil). Superintendência de Regulação dos
Serviços de Distribuição. Regulação dos serviços de distribuição. Aneel, 2018. Dispo-
nível em: https://www.aneel.gov.br/regulacao-da-distribuicao/-/asset_publisher/
nHNpDfkNeRpN/content/regulacao-dos-servicos-de-distribuicao/656827?inheritRe
direct=false. Acesso em: 22 set. 2021.
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (Brasil). Tarifas de fornecimento de energia
elétrica. Brasília, DF: ANEEL, 2005.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 5460:1992: sistemas elétricos
de potência. Rio de Janeiro: ABNT, 1992.
BARROS, B. F.; BORELLI, R.; GEDRA, R. L. Geração, transmissão, distribuição e consumo
de energia elétrica. São Paulo: Érica, 2014.
KAGAN, N.; OLIVEIRA, C. C. B.; ROBBA, E. J. Introdução aos sistemas de distribuição de
energia elétrica. 2. ed. rev. São Paulo: Blucher, 2010.
SÃO PAULO. Lei n. 16.402, de 22 de março de 2016. Diário Oficial da Cidade de São Paulo,
São Paulo, ano 61, n. 54, p. 1-9, 23 mar. 2016. Disponível em: http://www.docidadesp.
imprensaoficial.com.br/NavegaEdicao.aspx?ClipId=2QUAFFO7S38BLeER7VNEFPVLQBE.
Acesso em: 22 set. 2021.
VIEIRA JÚNIOR, J. C. M. Eficiência energética: tarifação de energia elétrica. Edisciplinas
Usp, 2017. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3095674/mod_re-
source/content/1/SEL0437_Aula03_Tarifacao_parteI_2017.pdf. Acesso em: 22 set. 2021.
Leituras recomendadas
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (Brasil). Atlas de energia elétrica do Brasil.
3. ed. Brasília, DF: ANEEL, 2008.
MATOS, M. A. Sistema por unidade. Porto: Universidade do Porto, 2003. Disponível em
https://paginas.fe.up.pt/~mam/sistemapu.pdf. Acesso em: 22 set. 2021.