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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - UFERSA


CURSO DE ENGENHARIA QUÍMICA
Laboratório de Engenharia Química III (2022-2)

DETERMINAÇÃO DA CONSTANTE CINÉTICA DE UMA REAÇÃO A


PARTIR DE DADOS OBTIDOS EM UM REATOR BATELADA
Amanda Karoline Varela de Medeiros, Cássio Alves Pereira Sampaio, Jefferson Murillo Lopes Moreira, Leomar
O. dos Santos, Pedro Ferreira da Silva Neto

Resumo: As análises de produção de reatores são de extrema importância para a indústria química, tendo em
vista o bom dimensionamento para a melhor produção com o menor gasto possível. Para a demonstração de
tal processo o seguinte artigo trás a análise de uma reação entre verde de malaquita e hidróxido de sódio em
um reator batelada de pequena escala, afim de obter valores para a constante cinética da reação. Foi utilizado
um espectrofotômetro para a obtenção da curva de calibração com pequenas a mostras da reação e após fora
retiradas amostras da reação ocorrendo em um reator batelada de bancada para assim serem obtidos os dados
de absorbância ao decorrer do tempo de reação. A partir da lei de Lambert-Beer foram obtidas as concentrações
e consequentemente o valor da constante cinética.

Palavras-chave: Reator batelada; Espectrofotômetro; Lei de Lambert-Beer; Constante cinética

1. INTRODUÇÃO
A fim de alcançar a produção mais satisfatória possível, o meio químico industrial presa pelo melhor
dimensionamento possível de todos os seus equipamentos, assim diversos métodos de análise são feitos com base
no produto desejado e matéria prima utilizada. Dentre esses equipamentos o reator é peça fundamental e um dos
equipamentos mais minunciosamente projetados, por serem responsáveis pela produtividade ou seletividade de
um processo.
Para a análise do produto formado foi utilizado o método de espectrometria, que consiste no emprego da
interação luz e matéria para análise e determinação. As informações obtidas pelas técnicas espectroscópicas são
coletadas, apresentadas e analisadas na forma de um espectro, o qual relacionada à intensidade da grandeza
investigada em função do comprimento de onda, ou da frequência das ondas utilizadas.[2]
O seguinte trabalho demonstra os resultados de testes em um reator batelada de bancada para uma reação entre
verde de malaquita (7x10-5 mol/L) e Hidróxido de sódio (3x10-2 mol/L), posteriormente serão colocadas as
amostras num espectrofotômetro para a análise ao passar do tempo. Depois da obtenção dos dados de concentração
do produto formado, seguirá o calcula da constante cinética da reação [3].

2. OBJETIVOS
Determinar a constante de cinética da reação de verde de malaquita com hidróxido de sódio em um reator
batelada operando isotermicamente.

3. REFERENCIAL TEÓRICO
O estudo da engenharia das reações químicas combina o estudo de cinética química com os reatores nas quais
as reações ocorrem [1]. O conhecimento de cinética química e projetos é crucial para o bom funcionamento e
destaque da indústria, pela possibilidade de montar um sistema que opere de maneira segura e mais eficiente
possível.

3.1. Projeto de Reatores


Para o início do projeto é necessário se conhecer as fronteiras do sistema e realizar o balanço molar das
espécies. Um balanço molar da espécie j em qualquer instante de tempo t, resulta na Eq. 1:

𝑑𝑁𝑗
𝐹𝑗𝑜 − 𝐹𝑗 + 𝐺𝑗 = (1)
𝑑𝑡

Em que Nj representa o número de mols da espécie j no sistema no tempo t. Fjo e Fj são respectivamente as
taxas de entrada e saída de j no sistema. Gj trata-se da taxa de geração de j por reação química no sistema, possível
de se encontrar pela relação que envolve a velocidade de formação da espécie e o volume da reação [1], como
visto da Eq. 2:

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1
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𝑣
𝐺𝑗 = ∫ 𝑟𝑗 𝑑𝑉 (2)
𝑣𝑖

Reatores batelada pode ser utilizados em operações em escala menor num teste de novos processos ainda não
desenvolvidos completamente [1]. Esse tipo de reator tem por vantagem a obtenção de altas conversões. Se a
mistura reacional estiver perfeitamente misturada, então não haverá variação na velocidade de reação dentro do
volume do reator, o termo de geração sai da integral, se não há entrada ou saída de reagentes ou produtos, o balanço
segue a reação 3:

𝑑𝑁𝑗
= 𝑟𝑗 𝑉 (3)
𝑑𝑡

Para o cálculo de uma situação de não conversão no tempo 0 e conversão X no tempo t, obtém-se a Eq. 4:
𝑋
𝑑𝑋
𝑡 = 𝑁𝐴𝑜 ∫ (4)
0 −𝑟𝐴 𝑉
onde NAo é o número de mols de A inicialmente no reator, V o volume reacional, -rA a velocidade de reação e
X a conversão [1].

3.2 Cinética Reacional


A cinética reacional determina os mecanismos de reação e a velocidade que essa ocorre. Para isso, para uma
reação elementar é formada a Eq. 5 como expressão da lei de velocidade:

𝐴 + 𝐵 → 𝐶 + 𝐷

−𝑟𝐴 = 𝑘𝐶𝐴𝑎 𝐶𝐵𝑏 (5)

Para a prática em questão A seria o verde de malaquita e o B o hidróxido de sódio. Os índices de cada elemento
da reação correspondem a 1 e é considerado que a solução de hidróxido de sódio é diluída ao ponto de sua
concentração ser constante ao longo do tempo, assim a expressão final se torna a Eq. 6 [1].

−𝑟𝐴 = 𝑘𝐶𝐴 (6)

O k apresentado na Eq. 6 representa a constante de velocidade, variável não só com a velocidade, mas também
com a temperatura do sistema, pela Eq. 7:
𝐸
𝑘𝐴 (𝑇) = 𝐴𝑒 −𝑅𝑇 (7)

O valor de k também pode ser encontrado por um método de diferenciação numérica partindo da combinação
da lei de velocidade com o balanço molar, obtendo a Eq. 8, aplicando o logaritmo natural de ambos os lados,
demonstrado na Eq. 9.

𝑑𝐶𝐴
− = 𝑘𝐴 𝐶𝐴 (8)
𝑑𝑡
𝑑𝐶𝐴
ln (− ) = ln 𝑘𝐴 + 𝑙𝑛𝐶𝐴 (9)
𝑑𝑡

Pelo traçado do gráfico apresentado na Figura 1 é possível encontrar kA pela Eq. 10.

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2
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Figura 1. Método diferencial para determinação de kA.


Fonte: Fogler (2009).

𝑑𝐶𝐴
(− )
𝑘𝐴 = 𝑑𝑡 𝑝 (10)
𝑎
𝐶𝐴

3.3. Espectrofotometria
A espectrofotometria é o emprego da interação luz/matéria para analise e determinações. Para tal, utilizou-se
o espectrofotômetro, um aparelho que consiste em uma fonte emissora de luz, área da amostra para absorção,
seletor e detector.
O seletor de faixa tem a função de selecionar a faixa de onda monocromática, limpando a faixa de outras
interferências, vindas tanto do emissor, externamente ou da própria amostra. Quando a luz atinge a amostra, o
detector mete o quanto de luz não foi absorvido pela amostra. A partir desse conceito surge a transmitância [2].

𝑃𝑖
𝑇 = (adimensional) (11)
𝑃0
A absorbância como o log na base 10 da transmitância.

𝐴 = −𝑙𝑜𝑔10 𝑇 (adimensional) (12)


Quando T é igual a 1, A é igual a 0, assim é preferível que o valor de A seja no máximo igual a 1. A faixa média
de trabalho da transmitância é 10%.
A lei de Lambert-Beer relaciona a absorbância em função da concentração do analito, como na Eq. 13:

𝐴 = −𝑙𝑜𝑔10 𝑇 = 𝜀𝑏𝐶 (13)

A absorbância pode ser relacionada com a concentração por meio da linearização da reta em um gráfico de
dois eixos [2]:

𝑦 = 𝑎𝑥 (14)
𝑎 = 𝜀𝑏 (15)
𝑥=𝐶 (16)
Para calcular a concentração inicial da solução se utilizou a Eq. 17:

C1.V1 = C2.V2 (17)


4. MATERIAIS E MÉTODOS
4.1. Material necessário
• Balança analítica (limite de cerca de 220g e precisão de 0,0001 g);
• Balões de fundo chato de 50 ou 100 mL (limpos e isentos de água);
• Pipetas de 5 ou 1 mL
• Becker de 50 mL
• Solução de Verde de malaquita a 7x10–5 mol/L
• Solução de hidróxido de sódio a 3x10–2 mol/L
• Espectrofotômetro GENAKA, modelo UV/Vis – 340G
• Reator batelada com agitação mecânica e controle de temperatura de 1,2 L
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3
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4.2. Procedimento experimental
Usando o Espectrofotômetro GENAKA UV/Vis – 340G (Figura 2), faz-se a varredura da solução branca para
determinar o comprimento de onda máximo na região do visível para aplicação da Lei de Beer-Lambert. Utilizar
o comprimento de onda máximo e determinar a absorbância das soluções de concentração conhecida.

Figura 2. Espectrofotômetro GENAKA, modelo UV/Vis – 340G.


Fonte: UFERSA (2017).

Com a solução de verde de malaquita a 7x10–5 mol/L, obtém-se várias diluições (1:5, 1:6, 1:7, 1:8, 1:9, 1:10,
1:12, 1:20, 1:50, 1:100, 1:200, 1:300 e 1:500) (Figura 3) e mede-se a absorbância para construção da curva de
calibração, anotando todos os valores das diluições.

Figura 3. Diluições com a solução verde de malaquita.


Fonte: Autoria própria (2023).

Por fim, utilizar o reator operando em batelada a temperatura de 25°C. Fechar as saídas do reator e alimentar
500 mL da solução de hidróxido de sódio e 500 mL da solução de verde de malaquita, simultaneamente. Iniciar a
medida de tempo de reação. Retirar amostras da solução reagente a intervalos regulares de 30 segundos e mede-
se a absorbância da mesma. Em seguida, transformar os valores de absorbância para diversos tempos em uma
curva de concentração de verde de malaquita em função do tempo de reação com ajuda da curva de calibração
construída na primeira etapa dessa prática. Posteriormente, calcular os valores de conversão em função do tempo
e construir o gráfico –ln(1 – X) contra o tempo e através da inclinação encontrar a constante cinética da reação
realizada isotermicamente.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os dados para obtenção da curva de calibração estão presentes no Anexo 1, sendo a reta obtida descrita por:

𝑦 = 14299 ∗ 𝑥 (18)
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4
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Para uma melhor compreensão das informações, podemos escrever a Eq. 18, de maneira que:

𝐴𝑏𝑠 = 14299 ∗ 𝐶 (19)

onde Abs é a absorbância e C a concentração correspondente.

Durante a reação, várias coletas de amostra foram feitas em um dado intervalo de tempo, e as respectivas
absorbâncias medidas por espectrofotometria. Através da Eq. 19, obtivemos as concentrações correspondentes.
Por conseguinte, com essas concentrações, obtivemos a conversão da reação em cada tempo.

Tabela 1 – Valores obtidos de absorbância, concentração e conversão.

t (s) Absorbância C (mol/L) X (%) - ln (1-X)


11,27 0,508 3,55E-05 11,18 0,1186
73,35 0,320 2,24E-05 44,05 0,5807
142,65 0,174 1,22E-05 69,58 1,1900
164,37 0,091 6,36E-06 84,09 1,8382
183,32 0,059 4,13E-06 89,68 2,2715
210,96 0,039 2,73E-06 93,18 2,6855
240,77 0,025 1,75E-06 95,63 3,1302
274,72 0,017 1,19E-06 97,03 3,5159
308,91 0,015 1,05E-06 97,38 3,6410
339,29 0,012 8,39E-07 97,90 3,8642
380,82 0,010 6,99E-07 98,25 4,0465
403,76 0,010 6,99E-07 98,25 4,0465
438,34 0,009 6,29E-07 98,43 4,1518
468,78 0,007 4,90E-07 98,78 4,4032
498,56 0,007 4,90E-07 98,78 4,4032

O gráfico que demonstra a variação da concentração com o tempo é mostrado na Figura 4.

Gráfico C vs t
4,00E-05

3,50E-05

3,00E-05

2,50E-05
C (mol/L)

2,00E-05

1,50E-05

1,00E-05

5,00E-06

0,00E+00
0 100 200 300 400 500 600
t (s)

Figura 4. Concentração em função do tempo.

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5
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Fonte: Autoria própria (2023).

A partir de análise do gráfico, pode-se notar o comportamento da concentração de verde de malaquita, que
diminui com o passar do tempo, como era esperado de um reagente que está sendo consumido.
Um gráfico da conversão em função do tempo também foi plotado, conforme ilustra a Figura 5.

Gráfico X vs t
120,00

100,00

80,00
X (%)

60,00

40,00

20,00

0,00
0 100 200 300 400 500 600
t (s)

Figura 5. Conversão em função do tempo.


Fonte: Autoria própria (2023).

O gráfico da conversão nos mostra o aumento da conversão com o passar do tempo, comportamento também
esperado.
Com os valores de conversão, podemos projetar um gráfico de –ln(1 – X) em função do tempo a fim de obter
a constante cinética de reação, conforme ilustrado na Figura 6.

1,40
1,20 y = 0,0082x + 0,011
R² = 0,9978
1,00
-ln(1-X)

0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0 50 100 150
t (s)

Figura 6. Curva para obtenção de k.


Fonte: Autoria própria (2023).

Este gráfico foi obtido escolhendo-se apenas alguns pontos a fim de se obter uma reta com um resultado mais
confiável de coeficiente angular que, no nosso caso, será o valor da constante cinética que procuramos. Em termos
práticos, os demais pontos podem ser desprezados já que concentração e conversão atingem um estado de
equilíbrio após um tempo.
Após ajuste da reta em uma equação, o valor obtido para a constante cinética k foi de 0,0082 s–1.

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6. CONCLUSÃO
A modelagem de reatores em batelada para reações de primeira ordem é bem simples, o que torna possível a
determinação da constante cinética de reação sem muito esforço matemático.
Partindo de análises gráficas, pôde-se avaliar o comportamento da concentração e da conversão do verde de
malaquita, além de obter a constante cinética, de 0,0082 s–1, dadas as condições do experimento em questão.
Entretanto, a confiabilidade do valor obtido para a constante pode ser questionada, tendo em vista erros como
imprecisão nas medições das diluições, medições dos intervalos de tempo, alguma contaminação na cubeta, etc.
Apesar dos erros aqui destacados, conclui-se que o objetivo pretendido nesta experiência foi alcançado.

7. REFERÊNCIAS
[1] FOGLER, H. Scott. Elementos de Engenharia das Reações Químicas, 4ª ed. Editora LTC. Rio de Janeiro: 2009.

[2] BORISSEVITCH, I. E.; GONÇALVES, P. J.; SCHABERLE, F. A. Fundamentos da Espectroscopia de


absorção Óptica. Editora Livraria da Física. São Paulo. 2016.

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ANEXO 1
A partir das diluições da solução mãe de verde de malaquita a fim de se obter medidas de absorbância em
diferentes concentrações, foi possível construir uma curva de calibração. Os dados obtidos estão na Tabela A1 e o
gráfico obtido a partir dos dados pode ser observado conforme Figura A1.

Tabela A1 – Valores de absorbância obtidos para curva de calibração.

V (mL) C (mol/L) Absorbância


10,00 1,400E-05 0,199
8,40 1,167E-05 0,147
7,10 1,000E-05 0,150
6,30 8,750E-06 0,132
5,60 7,778E-06 0,117
5,00 7,000E-06 0,105
4,20 5,833E-06 0,090
2,50 3,500E-06 0,050
1,00 1,400E-06 0,020
0,50 7,000E-07 0,010
0,30 3,500E-07 0,005
0,20 2,333E-07 0,003
0,10 1,400E-07 0,002

Com a curva (Figura A1), foi possível encontrar a reta que melhor se ajusta aos dados.

Curva de calibração
0,220
0,200 y = 14299x
R² = 0,9957
0,180
0,160
0,140
0,120
Abs

0,100
0,080
0,060
0,040
0,020
0,000
0,0E+00 2,0E-06 4,0E-06 6,0E-06 8,0E-06 1,0E-05 1,2E-05 1,4E-05 1,6E-05
C (mol/L)

Figura A1. Curva de Calibração.


Fonte: Autoria própria (2023).

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