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INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE LISBOA

Área Departamental de Engenharia Eletrotécnica Energia e Automação

Mestrado em Engenharia Eletrotécnica

Disciplina de Fundamentos de Potência Pulsada

Trabalho Prático N.º 2

Eletroporação

Docentes:
Luis Redondo & Hiren Canacsinh
Discentes:
Vadir Lima n.49868
Yuriy Kalashnyk n.50338

Ano: 2023/2024
Índice

1. Introdução.................................................................................................................. 3
2. Objetivos ................................................................................................................... 3
3. Descrição da experiência ........................................................................................... 3
4. Cálculos ..................................................................................................................... 4
4.1. Campo elétrico aplicado .................................................................................... 4
4.2. Condutividade antes e no final da experiência .................................................. 4
4.3. Corrente elétrica no início e final dos impulsos, considerando que no final a
condutividade era de 1 mS/cm; ..................................................................................... 4
4.4. Subida de temperatura durante os impulsos ...................................................... 6
4.5. Estime um protocolo de PEF para subir a temperatura da água de 12 ºC. ........ 7
5. Conclusão .................................................................................................................. 8

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1. Introdução
A eletroporação consiste na aplicação de um campo elétrico (E) numa célula biológica de
forma a provocar formação de poros na membrana celular, tornando a célula permeável,
permitindo a troca de materiais entre os seus meios interno e externo.
Esta técnica é aplicada no setor alimentar, e.g. na produção de açúcar, na secagem de
produtos, na produção de sumos, na extração de óleo de plantas, com o objetivo de
facilitar a extração de componentes do interior das células vegetais e também inativar
microrganismos patogénicos.
Uma vantagem da aplicação de campos elétricos pulsados (Pulse Electric Field - PEF) é
a diminuição da carga térmica aplicada no material, permitindo a aplicação de campos
intensos na ordem de 10s de kV/cm.

2. Objetivos
Com este trabalho, pretende-se observar uma experiência de aplicação de campos
elétricos pulsados a um alimento (a beterraba) e verificar os efeitos que esta aplicação
tem na condutividade do meio assim como na desagregação do material e libertação de
cor. Para além disso, serão realizados cálculos de algumas grandezas de forma a
“quantificar” os resultados obtidos na experiência.

3. Descrição da experiência
Nesta experiência, foi utilizada uma beterraba (sem casca), sendo esta dividida em duas
metades: uma metade imersa com água de torneira (para conduzir o campo elétrico até a
beterraba) dentro de uma câmara de tratamento, composto por um recipiente e dois
elétrodos paralelos, conectados com a AT e GND, com as dimensões apresentadas na fig.
1, sendo aplicado impulsos de alta tensão (PEF); a outra metade foi colocada num
recipiente com a mesma água (de torneira), utilizada como uma amostra de controlo, sem
a presença dos elétrodos.

O valor inicial da condutividade (𝜎i) para ambos os casos (PEF e controlo) foi de 0,26
𝑚𝑆/𝑐𝑚.

Durante a experiência foram aplicados 100 impulsos de 10kV com ton de 50µs, com
frequência de 10Hz e com duração de 5ms. Nesta fase, nota-se o fenómeno da
eletroporação, isto é, aplicação de campos elétricos sobre células, com a finalidade de
formação de poros na membrana celular, aumentando assim a permeabilidade da
membrana celular. Com isso, facilita a extração de componentes no interior das células,
bem como, inativar microrganismos patogénicos.
Após o processo de eletroporação, a beterraba começa a libertar pigmento vermelho do
interior das células, sendo que, observa-se uma maior pigmentação na água dentro da

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câmara de tratamento, resultando num ligeiro aumento da condutividade (𝜎 = 0,27
𝑚𝑆/𝑐𝑚). Isto não é visível do recipiente de controlo (𝜎 = 0,25 𝑚𝑆/𝑐𝑚).

Depois de 30 minutos, nota-se uma maior concentração de pigmentos, consequentemente


uma maior troca de componentes da beterraba com a água, e com um valor de
condutividade ainda maior (𝜎f = 0,87 𝑚𝑆/𝑐𝑚). Para o recipiente de controlo, o valor
manteve-se constante (𝜎f = 0,26 𝑚𝑆/𝑐𝑚)

4. Cálculos
4.1.Campo elétrico aplicado
O Campo elétrico (E) aplicado ao meio aquoso e a beterraba é determinado segundo a
equação (1) abaixo apresentado. Sendo “VP”, a tensão de pico (tensão dos pulsos
aplicado) e “d”, a distância entre os elétrodos.
𝑉𝑃 10 [𝐾𝑉] 𝑘𝑉
𝐸= ⇔𝐸= =1 [ ] (1)
𝑑 10 [𝑐𝑚] 𝑐𝑚

4.2.Condutividade antes e no final da experiência

A condutividade (𝜎) é dada pela equação (2) apresentada a seguir, sendo ρ , a resistividade
do material [Ω.m].
𝟏
𝝈 = 𝝆 [S/m] (2)

Perante o vídeo apresentado da experiência, os valores antes e no final da condutividade


são respetivamente 𝜎i = 0,26mS/cm e 𝜎f = 0.87mS/cm.

4.3.Corrente elétrica no início e final dos impulsos, considerando que no final a


condutividade era de 1 mS/cm;
Pela lei de Ohm (3), sabe-se que:
𝐔 𝑽 (3)
𝑰= [ ]
𝐑 𝜴
Sendo que a corrente no início e no final dos impulsos serão dados pelas seguintes
expressões:
U U
𝐼𝑖 = ; 𝐼𝑓 =
𝑅𝑖 𝑅𝑓

Inicialmente, começa por determinar a resistência inicial (Ri) e final (Rf), sendo a equação
geral (4) usado para os respetivos cálculos, com “l”, o comprimento do material, “A”, a
área da secção transversal, “𝝆” a resistividade do material.
𝒍 (4)
𝑹=𝝆
𝑨

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Para o caso em estudo, tem-se que:
- Área elétrodos paralelos: 10×10 cm2;
- Distancia entre elétrodos (d): 10 cm;
- Altura da água (h): 5 cm;

- 𝜎i = 0,26mS/cm e 𝜎f = 0.87mS/cm.

Sendo que na expressão (4), a área para esta situação é dada por (h×l), que corresponde a
área do elétrodo em contacto com o meio aquoso onde a beterraba se encontra inserida.
A figura 1 representa o ensaio laboratorial efetuado, pelo qual será a base para proceder
com os cálculos.

Fig. 1 - Recipiente com duas placas de elétrodos ligadas com metade de uma beterraba
sem casca e água

Portanto, partindo da equação (4), a resistência inicial (Ri) e final (Rf) serão dadas por:
𝑙 1 𝑑 1 10 [𝑐𝑚]
𝑅𝑖 = 𝜌𝑖 = × ⇔ 𝑅𝑖 = × ≈ 769,23 𝛺
𝐴 𝜎𝑖 ℎ × 𝑙 𝑆 [𝑐𝑚] × 10 [𝑐𝑚]
0,26 × 10−3 [𝑐𝑚] 5

𝑙 1 𝑑 1 10 [𝑐𝑚]
𝑅𝑓 = 𝜌𝑓 = × ⇔ 𝑅𝑖 = × = 200,00 𝛺
𝐴 𝜎𝑓 ℎ × 𝑙 −3 𝑆 5 [𝑐𝑚] × 10 [𝑐𝑚]
1 × 10 [𝑐𝑚]

Com o valor das resistências determinadas, basta aplicar a lei de Ohm, equação (3), para
encontrar a corrente elétrica no início e final dos impulsos, sendo estas dadas por:

𝑈𝑃 10 × 103 [𝑉]
𝐼𝑖 = ⇔ 𝐼𝑖 = = 13 [𝐴]
𝑅𝑖 769,23 [Ω]

𝑈𝑃 10 × 103 [𝑉]
𝐼𝑓 = ⇔ 𝐼𝑓 = = 50[𝐴]
𝑅𝑓 200 [Ω]

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4.4.Subida de temperatura durante os impulsos
Para determinar a subida de temperatura, recorre a equação (5), apresentada a seguir,
sendo W𝑠 , a energia específica, expressa em J/kg e Cp, a capacidade térmica mássica, em
J/kg.ºC.
𝒋
𝐖𝒔 [
] (5)
𝒌𝒈
𝜟𝑻 =
𝑱
𝑪𝒑 [𝑲𝒈 . ˚𝑪]

A energia específica (Ws) é dada pelo quociente entre a energia total transferida (WT) e a
massa (m), consoante a equação 6.
𝑾𝑻 (6)
𝑾𝑺 =
𝒎

Sendo a Energia Total transferida (𝑊𝑇 ) resultado da soma da Energia de todos os impulsos
(N), dada pela equação (7)

𝑾𝑻 = 𝑵 × 𝑾𝒑 (7)

Com Wp (a energia de cada impulso) obtido através da equação (8).

𝑾𝒑 = 𝑼𝑷 × 𝑰𝒎𝒆𝒅 × 𝒕𝑶𝑵 (8)


Sendo tON, a duração dos pulsos, e Imed, representa a média aritmética entre corrente inicial
e final, obtidas anterior, sendo o valor desta dada por:
𝑰𝒊 + 𝑰 𝒇 (9)
𝑰𝒎𝒆𝒅 =
𝟐
13 + 50
𝐼𝑚𝑒𝑑 = = 31,5 𝐴
2
Sabendo que ρágua= 1g/mL e 1cm3 = 1mL = 1g, para determinar a massa da água, basta
calcular o seu volume com base na figura 1 representado anterior:

𝑉á𝑔𝑢𝑎 = 𝑑 × 𝐿 × ℎ ⇔ 𝑉 = 10 × 10 × 5 = 500 𝑐𝑚3

Resulta que: m = 500g = 0,5 kg.


A partir das equações (5) a (8), obtém-se:
𝑊𝑇 𝑁 × 𝑊𝑝 𝑁 × 𝑈𝑃 × 𝐼𝑚𝑒𝑑 × 𝑡𝑂𝑁
𝑊𝑆 = = =
𝑚 𝑚 𝑚
100 ∗ (10 ∗ 103 ) ∗ 31,5 ∗ (50 ∗ 10−6 ) 𝑘𝐽
𝑊𝑆 = = 3,15
0,5 𝑘𝑔

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Partindo da equação (5), com 𝐶𝑝 (á𝑔𝑢𝑎) = 4,18𝑘𝐽. 𝐾𝑔−1 . ℃−1 , o valor da subida da
temperatura durante o impulso é dado por:
W𝑠 3,15
𝛥𝑇 = = = 0,75 ℃
𝐶𝑝 4,18

4.5.Estime um protocolo de PEF para subir a temperatura da água de 12 ºC.


A partir das equações (5) a (8), estime-se o protocolo PEF (Considerando os mesmos
valores de tensão, corrente e número de impulsos).
W𝑠 𝑘𝐽
Com 𝛥𝑇 = 12º𝐶 ⟹ 𝛥𝑇 = ⇔ 𝐖𝒔 = 𝛥𝑇 ∗ 𝐶𝑝 = 12 ∗ 4,18 = 50,18 𝑘𝑔
𝐶𝑝

𝑊𝑇
𝑊𝑆 = ⇔ 𝑾𝑻 = 𝑊𝑆 ∗ 𝑚 = 50,18 ∗ 0,5 = 25,09 𝑘𝐽
𝑚
𝑊𝑇 25090
𝑊𝑇 = 𝑁 × 𝑊𝑝 ⇔ 𝑾𝒑 = = = 250,9 𝐽
𝑁 100
𝑊𝑃 250,9
𝑊𝑝 = 𝑈𝑃 × 𝐼𝑚𝑒𝑑 × 𝑡𝑂𝑁 ⇔ 𝒕𝑶𝑵 = = = 0,8 𝑚𝑠
𝑈𝑃 × 𝐼𝑚𝑒𝑑 10 ∗ 103 × 31,5
Em suma, obtém-se:

Energia específica (Ws) 50,18 kJ/kg


Energia Total transferida (𝑊𝑇 ) 25,09 kJ
Energia de um pulso (Wp) 250,9 J
Duração dos pulsos (tON) 0,8 ms

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5. Conclusão
Com esta experiência, observou-se que com a aplicação de campos elétricos pulsados
num alimento, para o caso em estudo, a beterraba, a condutividade do meio aumenta, isto
devido a libertação de pigmento vermelho das células para a água. Pois inicialmente a
condutividade era de 0,26 𝑚𝑆/𝑐𝑚, de seguida, com a aplicação dos campos elétricos
pulsados (PEF), a condutividade sofreu um ligeiro aumento (𝜎 = 0,27 𝑚𝑆/𝑐𝑚).
Posteriormente, passado 30 minutos, notou-se um aumento significativo (𝜎 =
0,87𝑚𝑆/𝑐𝑚), mas só para a água dentro da câmara de tratamento, sendo que no recipiente
de controlo, o valor da condutividade manteve-se constante.
Nota-se que com a aplicação de campos elétricos pulsados, resulta numa degradação do
material (a beterraba), isto é explicado pelo fenómeno de eletroporação (formação de
poros na membrana celular). Houve também uma libertação do pigmento vermelho a
beterraba, estando assim a água mais concentrada.

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