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EFEITO FOTOELÉTRICO: A DESCOBERTA QUE

REVOLUCIONOU A FORMA DE SE ENXERGAR A NATUREZA

Márcio Silva Diniz

Laboratório de Física – Universidade Federal de Campina Grande / Campus


Cuité – UFCG

RESUMO
Neste artigo será realizada uma demonstração experimental do fenômeno conhecido
como efeito fotoelétrico. Podemos denominar efeito fotoelétrico como um processo de
emissão de elétrons por determinados materiais quando estes são iluminados por feixes
de frequências específicas. Assim, o experimento foi realizado com o objetivo de
verificar esse processo de emissão de elétrons ao serem atingidos por raios de luz de
diferentes comprimentos de onda e pôde assim ser verificada e representada
graficamente a relação entre a frequência e a tensão de corte observada.

Palavras-chave: efeito fotoelétrico, física moderna, elétrons, física quântica.

ABSTRACT
In this article an experimental demonstration of the phenomenon known as
photoelectric effect will be performed. We can call photoelectric effect as a process of
electron emission by insulating materials when they are illuminated by beams of
specific frequencies. Thus, the experiment was carried out to verify the process of
electron emission and the effects of light rays of different wavelengths, and they were
verified and graphed by a relationship between frequency and shear stress observed.

Key words: photoelectric effect, modern physics, electron, quantum physics.

1. INTRODUÇÃO
O efeito fotoelétrico, descoberto por volta de 1886 por Heinrich Hertz (1857-1894), é
um fenômeno quântico e consiste na emissão de elétrons por determinado material
quando iluminado por radiações eletromagnéticas de certas frequências.
Hertz notou que a incidência da luz ultravioleta em chapas metálicas auxiliava a
produção de faíscas. No entanto, a explicação teórica para esse fenômeno foi
apresentada somente em 1905 pelo físico alemão Albert Einstein.

1.1. O efeito fotoelétrico e o Nobel de Einstein

Naquela época ̶ entre o final do século XIX e o início do século XX ̶ a principal


dúvida era com relação a energia cinética (energia de movimento) dos elétrons que eram
ejetados do material. Essa energia não dependia da intensidade da luz. Einstein
observou que o agente responsável por arrancar cada elétron era uma única partícula de
luz, chamada fóton, que transferia parte de sua energia para os elétrons e, contanto que
sua frequência fosse grande o suficiente, arrancava-os do material.
Para chegar a essa observação Einstein muniu-se das ideias postuladas em 1900 pelo
físico alemão Max Planck, que afirmava que os corpos negros não poderiam emitir luz
de qualquer frequência e sim só luz que fosse múltipla inteira de uma frequência
fundamental. Dizer que algo é múltiplo de um valor fundamental significa dizer que é
quantizado, ou seja, quântico. Essa é a base da física quântica. Apesar da palavra
“quântica” assustar muitos leigos, nada mais é do que dizer que alguma coisa é múltipla
de um valor fundamental.
As descobertas relacionadas ao efeito fotoelétrico viriam, mais tarde, a garantir a
Einstein o seu prêmio Nobel, que, ao contrário do que boa parte das pessoas ainda
pensa, não foi conquistado por causa da sua teoria da relatividade, mas sim por causa
de suas contribuições e por suas descobertas relacionadas à quantização da luz.

1.2. Como funciona o efeito fotoelétrico

Resumidamente, o efeito fotoelétrico se dá pela retirada de elétrons de algum


determinado material exposto a uma certa frequência de radiação eletromagnética (luz,
por exemplo) quando este atinge uma energia mínima necessária para ejetar os elétrons.
Os pacotes de luz vindos dessa radiação eletromagnética – os fótons – emitem energia
que é transferida para os elétrons presentes no material. Caso a quantidade de energia
aplicada seja superior à energia mínima necessária para se ejetar os elétrons eles serão
arrancados da superfície do material, formando uma corrente de fotoelétrons.

Figura 1: esquematização do efeito fotoelétrico. A radiação atinge a chapa de metal


lançando fótons sobre os elétrons, e estes serão ejetados assim que a energia atingir o
valor mínimo necessário para retirar os elétrons do material.

A energia de cada fóton irá depender de sua frequência (𝑓), logo, há uma frequência
mínima que é necessária para produzir o efeito fotoelétrico. A energia mínima que cada
fóton precisa ter para arrancar os elétrons do material é chamada de função trabalho.
Havendo um fóton de frequência 𝑓, a equação a seguir permite calcular a energia do
mesmo:

𝐸 = ℎ𝑓

onde ℎ é a constante física conhecida como constante de Planck, que possui o valor de
6.626 × 10−34 𝐽 ∙ 𝑠, 𝐸 é a energia do fóton lançado no material e 𝑓 a sua frequência.
Como o elétron será arrancado a uma certa velocidade temos, nesse caso, uma energia
cinética. Portanto, a equação acima se torna

𝐾 = ℎ𝑓

onde 𝐾 é a energia cinética do elétron. A energia cinética de uma partícula carregada


pode ser determinada pelo produto de sua carga pela tensão; ou seja
𝐾 = 𝑞𝑉

assim, a equação

𝐾 = ℎ𝑓

torna-se

𝑞𝑉 = ℎ𝑓

e, como estamos falando de elétrons, estamos falando da carga do elétron, logo 𝑞 = 𝑒.


(A carga do elétron é uma constante conhecida, que equivale a aproximadamente
1,602 × 10−19 𝐶). Portanto a equação acima torna-se

𝑒𝑉 = ℎ𝑓

𝑒𝑉
𝑓=

nos dá a frequência 𝑓 em uma relação envolvendo a tensão de corte 𝑉.

Após ser atingido pelo fóton, o elétron adquire uma certa energia cinética (energia
de movimento) que é determinada através da diferença da energia do fóton com a
função trabalho (Φ). Assim, temos

𝐸𝑒𝑙é𝑡𝑟𝑜𝑛 = ℎ𝑓 − 𝛷

A função trabalho possui valor característico e determinado que varia de material para
material. Dependendo do quanto estão ligados os elétrons no material, estes possuirão
um valor ou outro para a função trabalho. Veja na tabela a seguir alguns valores de
função trabalho, em unidades de 𝑒𝑉, para alguns materiais.
Função Trabalho
Material
(𝐞𝐕)
Cobre 4,70
Chumbo 4,14
Zinco 4,31
Tabela 1: Valores da função trabalho para alguns materiais.

2. MONTAGEM EXPERIMENTAL

Vamos observar, na prática, através de dados coletados em nosso experimento


realizado em laboratório, como o efeito fotoelétrico funciona.

2.1. Objetivos

• Observar o efeito fotoelétrico na prática


• Analisar e representar graficamente os resultados obtidos
• Calcular a constante de Planck com base nos dados experimentais.

2.2. Materiais utilizados

• Aparelho Constante de Planck


• Cinco LEDs de diferentes cores, isto é, de diferentes comprimentos de onda.

Figura 2: Aparelho Constante de Planck.


2.3. Procedimento experimental

Na pratica o experimento contou com algumas etapas simples e rápidas. Foram elas:
1) Inserir o LED no Aparelho Constante de Planck.
2) Ajustar a intensidade luminosa em 50%.
3) Utilizar os ajustes grosso e fino para variar a tensão até que a corrente se
tornasse zero.
4) Repetir o mesmo procedimento para os LEDs restantes.

3. RESULTADOS E ANÁLISE

Utilizando os LEDs com cores diferentes e, por sua vez, comprimentos de onda
diferentes, encontramos as seguintes tensões de corte para cada um deles, como mostra
a tabela 1 abaixo:

Cor Comprimento de onda (𝐧𝐦) Tensão (𝐕)


Vermelho 611 0,10
Azul 472 0,68
Ciano 505 0,50
Amarelo 588 0,17
Verde 525 0,46
Tabela 2: cor, comprimento de onda e tensão de corte de cada LED.

Com base no comprimento de onda, podemos relacionar a velocidade da onda


eletromagnética e calcular a frequência para cada cor através da expressão:

𝐶
𝜆=
𝑓

e daí temos,
𝐶
𝑓=
𝜆
Assim, sabendo que 𝐶 é uma constante que equivale a aproximadamente
3,0 × 108 𝑚/𝑠, teremos, para os comprimentos de onda de cada LED:

3,0 × 108 𝑚⁄𝑠


𝑓𝑣𝑒𝑟𝑚𝑒𝑙ℎ𝑜 =
611 × 10−9 𝑚
= 4,91 × 1014 𝐻𝑧

3,0 × 108 𝑚⁄𝑠


𝑓𝑎𝑧𝑢𝑙 =
472 × 10−9 𝑚
= 6,35 × 1014 𝐻𝑧

3,0 × 108 𝑚⁄𝑠


𝑓𝑐𝑖𝑎𝑛𝑜 =
505 × 10−9 𝑚
= 5,94 × 1014 𝐻𝑧

3,0 × 108 𝑚⁄𝑠


𝑓𝑎𝑚𝑎𝑟𝑒𝑙𝑜 =
588 × 10−9 𝑚
= 5,10 × 1014 𝐻𝑧

3,0 × 108 𝑚⁄𝑠


𝑓𝑣𝑒𝑟𝑑𝑒 =
525 × 10−9 𝑚
= 5,71 × 1014 𝐻𝑧

Agora que obtivemos as frequências de cada LED, observe a tabela 2 abaixo


contendo cada frequência:

Frequência (𝐇𝐳) Comprimento de onda (𝐧𝐦) Tensão (𝐕)


4,91 × 1014 611 0,10
6,35 × 1014 472 0,68
5,94 × 1014 505 0,50
5,10 × 1014 588 0,17
5,71 × 1014 525 0,46
Tabela 3: frequência, comprimento de onda e tensão de corte de cada LED.
Com base nos dados da frequência calculada e da tensão de corte observada
experimentalmente construímos o gráfico abaixo relacionando estes resultados obtidos
para cada um dos raios luminosos.

Figura 3: frequência versus tensão de corte de cada LED.

Observe que traçamos uma reta média devido aos pontos experimentais estarem
ligeiramente irregulares.
Agora, munidos de todos estes resultados podemos utilizar a relação

𝑒𝑉
𝑓=

para determinar a constante de Planck com base em nossos resultados. Assim, sabendo
que

𝑒𝑉
ℎ=
𝑓

iremos utilizar os nossos resultados obtidos experimentalmente nessa relação. Portanto

(1,602 × 10−19 𝐶)(0,10𝑉)


ℎ1 =
4,91 × 1014 𝐻𝑧
ℎ1 = 3,259 × 10−35 𝐽 ∙ 𝑠

(1,602 × 10−19 𝐶)(0,68𝑉)


ℎ2 =
6,35 × 1014 𝐻𝑧
ℎ2 = 1,715 × 10−34 𝐽 ∙ 𝑠

(1,602 × 10−19 𝐶)(0,50𝑉)


ℎ3 =
5,94 × 1014 𝐻𝑧
ℎ3 = 1,347 × 10−34 𝐽 ∙ 𝑠

(1,602 × 10−19 𝐶)(0,17𝑉)


ℎ4 =
5,10 × 1014 𝐻𝑧
ℎ4 = 5,333 × 10−35 𝐽 ∙ 𝑠

(1,602 × 10−19 𝐶)(0,46𝑉)


ℎ5 =
5,71 × 1014 𝐻𝑧
ℎ5 = 2,289 × 10−34 𝐽 ∙ 𝑠

Se fizermos uma média dos valores da constante de Planck obtidos teremos que

ℎ1 + ℎ2 + ℎ3 + ℎ4 + ℎ5
ℎ𝑓 =
5

Logo

3,259 𝑥 10−35 + 1,715 𝑥 10−34 + 1,347 𝑥 10−34 + 5,333 𝑥 10−35 + 2,289 𝑥 10−34
ℎ𝑓 =
5

ℎ𝑓 = 6,210 × 10−34 𝐽 ∙ 𝑠

que é bem próximo do valor real da constante de Planck.

4. CONCLUSÃO
Após a realização dos estudos na aula teórica e do procedimento experimental
realizado no laboratório podemos observar como os elétrons são retirados do material
gerando o efeito fotoelétrico.
Observamos que o valor obtido para a constante de Planck através dos dados
coletados em nosso experimento foi ligeiramente diferente do valor da constante em si.
Entretanto é uma diferença pouco significativa visto que a ordem da potência de 10
permaneceu a mesma. O desvio no resultado advém do fato de serem mãos humanas
ajustando a tensão no aparelho, o que pode gerar pequenas diferenças na hora da
medição, mas nada que deslegitime o experimento.
Com o procedimento experimental foi possível notar também que a intensidade do
raio luminoso não afeta a forma como cada elétron é arrancado. Se você não aplica a
tensão certa, o efeito não ocorre, pois ele depende da tensão de corte, que varia
dependendo da frequência da radiação aplicada sobre o material.
Foi possível perceber, ainda, que, aumentando a intensidade da luz aplicada no
material não há, como já mencionamos, efeito prático em cada elétron individual, pois a
sua remoção depende da tensão aplicada. A variação da intensidade da luz aplicada só
influencia na quantidade de elétrons que serão arrancados do material. Quanto maior a
intensidade, mais elétrons serão arrancados.
Esse fenômeno é observado também em outras áreas além da física, como na
radiologia, por exemplo, e em diversas outras.
O efeito fotoelétrico foi, portanto, uma descoberta que revolucionou a física e a
forma como enxergamos a natureza e o universo. Teve um impacto tão grandioso que
garantiu a Albert Einstein um prêmio Nobel, redirecionou os estudos posteriores de
outros cientistas e serviu como pilar de sustentação para o grande monumento chamado
física quântica.

5. REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

[1] HALLIDAY, David. RESNICK, Robert. WALKER Jearl. Fundamentos de física


IV. Trad. de Ronaldo Sérgio de Biasi. 9ª ed. Rio de Janeiro. Instituto Militar de
Engenharia – 2002.

[2] FÍSICA E VESTIBULAR. Efeito Fotoelétrico.


Disponível em: https://fisicaevestibular.com.br/novo/fisica-moderna/efeito-fotoeletrico-
2/.
Acesso em: 23/08/2019.

[3] IF-UFRGS, Efeito Fotoelétrico.


Disponível em: https://www.if.ufrgs.br/~betz/iq_XX_A/fotoElec/aFotoElecText.htm.
Acesso em: 23/08/2019.

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