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Introdução

A espectrofotometria é um método de análise instrumental onde se determina


a concentração de uma solução diluída por meio da absorbância da luz realizada
pelo soluto.
Para entender os mecanismos desta técnica, primeiramente é necessário
compreender o que é a luz.

A luz e sua dualidade onda-partícula

A luz é uma radiação eletromagnética e, portanto, pode ser entendida como


onda ou como partícula. No primeiro caso, a luz é descrita como uma onda
constituída por um campo magnético e um elétrico perpendiculares entre si que se
propagam em alta velocidade pelo espaço. Abaixo o modelo ondulatório da radiação
eletromagnética:

Figura 1 - Modelo ondulatório da radiação eletromagnética


Onde:

E = campo elétrico
M = campo magnético
λ = comprimento de onda

O comprimento de onda é o nome que recebe a distância entre dois picos


vizinhos, e é inversamente proporcional à frequência. Frequência (representada pela
letra grega v – lê-se “ni”) é o número de oscilações que uma onda faz por segundo,
sendo que cada uma corresponde a um Hertz (Hz). Abaixo a equação que mostra a
relação entre comprimento de onda e a frequência, onde c é a velocidade da luz no
vácuo (2,998 ∙ 108 m/s):
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v ∙ λ=c

A associação da radiação eletromagnética como onda é mais adequada ao se


tratar de fenômenos como reflexão, refração, difração, dentre outros. Porém, no
tocante as interações da luz com a matéria, torna-se mais conveniente tratar a
mesma como um conjunto de partículas elementares denominadas fótons, que
carregam determinadas quantidades de energia (quanta) representada pela letra E,
energia esta que é diretamente proporcional a frequência (v) da radiação
eletromagnética.

E=h ∙ v

Onde h é a constante de Planck (6,626 ∙ 10-34 J s)

Outra relação que pode ser feita entre a energia de um fóton e a onda
eletromagnética, é que seu valor se mostra inversamente proporcional ao
comprimento de onda (λ), como pode ser visto pela seguinte equação:

h∙c
E=
λ

Interação da radiação eletromagnética com a matéria

O intervalo onde estão inseridas todas as possíveis frequências da radiação


eletromagnética recebe o nome de espectro eletromagnético, que abrange desde as
ELF (Extremely low-frequency, ou frequência extremamente baixa) de baixa energia
até os extremamente energéticos raios cósmicos.
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Figura 2 - O espectro eletromagnético


Fonte: <http://www.sbfisica.org.br/v1/> Acesso em: 07/04/2016

Todas as regiões do espectro eletromagnético são capazes de interagir com a


matéria, fornecendo quantas de energia e fazendo com que este passe de seu
estado fundamental para um estado excitado. Contudo, nas técnicas de análise
instrumental, normalmente só são usadas as frequências que vão de 3 ∙ 10 6 até 3 ∙
1018 Hz.

Figura 3 - Exemplificação das técnicas mais comuns em análise instrumental de acordo com a
frequência e as alterações que cada uma provoca em uma molécula.
Fonte: SKOOG. et. al. Fundamentos de química analítica. Tradução da 8ª Edição norte-americana.
São Paulo: Thomson, 2006.

As técnicas que empregam frequências menores, como a ressonância


magnética nuclear e a espectroscopia de infravermelho são usados em análise
qualitativa, pois o modo como influenciam as ligações entre os átomos fornecem
dados sobre a estrutura de uma molécula. Já a faixa que compreende o visível e o
ultravioleta, e que será discutida mais detalhadamente, é usada na chamada
espectrofotometria UV/VIS e é extremamente útil ao fornecer dados quantitativos.
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Nesta técnica, leva-se em conta o grau de absorção de um determinado


comprimento de onda pelo soluto em uma solução diluída (no caso de uma solução
colorida, recebe o nome de cromóforo). O comprimento de onda da radiação
absorvida pelo soluto, ou luz monocromática, varia de substância para substância
em função da cor complementar (visível ou não). Para determinar qual o
comprimento de onda adequado para uma amostra, é feita uma varredura usando
toda a região do uv/visível, dando origem ao espectro de absorção, podendo assim
observar qual comprimento de onda melhor interage com o soluto, afim de reduzir
erros de medição e proporcionar um melhor sinal analítico.

Cores complementares
Comprimento de onda
(λ) Cor absorvida Cor complementar
<380 Ultravioleta -
380-420 Violeta Verde-amarelo
420-440 Violeta-azul Amarelo
440-470 Azul Laranja
470-500 Azul-verde Vermelho
500-520 Verde Purpura
520-550 Amarelo-verde Violeta
550-580 Amarelo Violeta-azul
580-620 Laranja Azul
620-680 Vermelho Azul-verde
680-780 Púrpura Verde

Desse modo, ao realizar o espectro de absorção de uma solução amarela, a


radiação com o comprimento de onda correspondente ao azul (435-480 nm) será
observada como a que melhor interage com o soluto e, portanto, a mais adequada
para uma análise espectrofotométrica.

Absorbância e lei de Beer-Lambert

Como visto acima, um feixe de luz monocromática P 0 ao atravessar uma


solução diluída, sofrerá um decréscimo em sua intensidade. A radiação P que não é
absorvida pela amostra recebe o nome de transmitância (T).
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P0 → AMOSTRA → P

Decréscimo da intensidade da radiação ao atravessar uma solução diluída.

A transmitância é um valor que varia de 0 a 1 (podendo ser expressa em


porcentagem) e é calculada dividindo a radiação que não foi absorvida pela amostra
(P) pela radiação que atinge a amostra (P0). Com o valor obtido, pode-se calcular a
absorbância (A) da solução:

A=−logT

O valor da absorbância cresce na medida que aumenta a concentração da


amostra analisada, uma relação conhecida como Lei de Beer-Lambert, permitindo
que A também possa ser calculado da seguinte maneira:

A=εbc

Onde:

ε (épsilon) = coeficiente de absorção molar (quantidade de luz absorvida de um certo


comprimento de onda por 1 mol da substância analisada)
b = caminho óptico (comprimento do recipiente que contem a amostra)
c = concentração (em M)

Ainda que não existam muitas exceções que possam comprometer os


resultados da lei de Beer-Lambert, existem certos desvios que devem ser levados
em conta, isso por que ela se trata de uma lei limite, ou seja, só funciona sob
determinadas condições. Alguns dos principais desvios:

 Concentrações que ultrapassam o valor de 0,01 M, podem apresentar erros


de leitura em virtude da proximidade entre as moléculas de soluto, o que pode
causar variações na absorbância;
 O mesmo ocorre para soluções em que o soluto está ionizado;
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 Sujeiras ou imperfeições no recipiente da amostra podem fazer com que o


raio de luz seja disperso;
 Erros de calibração do instrumento.

Espectrofotômetro UV/VIS

O espectrofotômetro UV/VIS é um dos instrumentos mais utilizados em


laboratórios de química analítica. Este aparelho foi desenvolvido pelo químico norte
americano Arnold O. Beckman, que lançou o primeiro espectrofotômetro no ano de
1940.
O espectrofotômetro mais comum é o chamado de feixe simples. É munido de
lâmpadas de tungstênio/halogênio e deutério (D2) que funcionam como fonte de
radiação eletromagnética que abrange a região do visível e do ultravioleta. A
radiação emanada por esta fonte passa por um colimador sendo refletida e
chegando até o dispositivo que recebe o nome de monocromador, que pode ser um
prisma, ou nos modelos mais recentes, uma rede de difração, superfície que
apresenta pequenas ranhuras que refrata a luz, separando-a em diversos
comprimentos de onda, analogamente à película de um CD. Em seguida, um
espelho côncavo irá direcionar até uma fenda seletora, a radiação no comprimento
de onda necessário para a análise em questão, fazendo com que este atravesse
uma cubeta contendo a amostra e tenha sua transmitância medida por um detector.
A partir da transmitância é calculada então a absorbância da solução.

Figura 4 – Esquema mostrando o funcionamento de um espectrofotômetro com rede de difração


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Para determinar a concentração de uma amostra desconhecida, o processo


acima descrito é realizado com soluções padrão e posteriormente elaborando uma
curva de calibração, que além de verificar a precisão e exatidão do aparelho e
fornecer dados para calcular as figuras de mérito, permitirá desenvolver a equação
da reta, que encontrará o valor da concentração do analito:

Si=mc+ Si br
Onde:

Si= Sinal medido


m = inclinação da reta
c = concentração
Sibr = Sinal analítico para o branco

Ainda que existam outros espectrofotômetros, como de feixe duplo, e de


espectrofotometria no infravermelho, o foco será mantido apenas no
espectrofotômetro UV/VIS, pois além de ser o mais comum, pode ser considerado
um dos mais importantes, tendo em vista sua praticidade, custo de manutenção
relativamente baixo e suas inúmeras aplicações, partindo da química analítica,
passando pela agricultura e indo até a medicina.
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Objetivos

Determinar a concentração de KMnO4 através da espectrofotometria na região


do visível (400 a 800 nm).

Materiais e reagentes

 Espectrofotômetro Nova Instruments NI-1600UV


 Cubetas de vidro
 Balança semi-analítica
 Vidro de relógio
 Espátula
 Balão volumétrico de 2 l
 Pipeta graduada de 10 ml
 Tubos Falcon
 Permanganato de Potássio (KMnO4)
 Água destilada

Procedimento experimental

Preparo das soluções padrão de KMnO4

Preparou-se em balão volumétrico de 100 mg/L uma solução estoque de


KMnO4.
Preparou-se através da diluição da solução estoque em tubos, soluções
padrão de concentração 0, 2, 4, 6, 8 e 10 mg de KMnO4/l.

Análises das soluções padrão

Colocou-se a solução de 10 mg de KMnO4, realizou-se o espectro de


absorção da região do visível (400-800 nm).
Feito o espectro de absorção do KMnO 4, fez-se a leitura das soluções padrão
para obter a curva de calibração, repetindo cada leitura por 3 vezes.
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Fez-se a leitura de uma solução de KMnO4 de concentração desconhecida.

Calibração do espectrofotômetro

Com base nos resultados obtidos, construiu-se no Excel a curva de calibração


do espectrofotômetro, determinando a precisão e exatidão do equipamento e
obtendo a equação da reta usada para determinar a concentração da amostra
problema.
Por fim, calculou-se o limite de detecção do espectrofotômetro, podendo dessa
maneira, verificar se os dados obtidos na espectrofotometria são confiáveis.

Análises e resultados

Preparo das soluções padrão de KMnO4

Preparada a solução estoque de KMnO4 100 mg/l dissolvendo 2 mg deste sal


em 2 litros de água destilada, fez-se a diluição desta para obter 10 ml de soluções
padrão de 2, 4, 6, 8 e 10 mg/l. para tanto, utilizou-se a equação fundamental da
diluição de soluções, onde Cx está em mg/l e Vx em ml:

1) 2 mg/l

C1 ∙ V1 = C2 ∙ V2
20 ∙ V1 = 2 ∙ 10
V1 = 1 ml de KMnO4 10 mg/l

2) 4 mg/l

C1 ∙ V1 = C2 ∙ V2
20 ∙ V1 = 4 ∙ 10
V1 = 2 ml de KMnO4 10 mg/l
10

3) 6 mg/l

C1 ∙ V1 = C2 ∙ V2
20 ∙ V1 = 6 ∙ 10
V1 = 3 ml de KMnO4 10 mg/l

4) 8 mg/l

C1 ∙ V1 = C2 ∙ V2
20 ∙ V1 = 8 ∙ 10
V1 = 4 ml de KMnO4 10 mg/l

5) 10 mg/l

C1 ∙ V1 = C2 ∙ V2
20 ∙ V1 = 10 ∙ 10
V1 = 5 ml de KMnO4 10 mg/l

Feito este procedimento, as soluções foram reservadas em tubos.

Obtenção do espectro de absorção do KMnO4 10 mg/l

Disposta a solução padrão de KMnO4 10 mg/l no compartimento de amostras


do espectrofotômetro Nova Instruments NI-1600UV, foi feita uma varredura fazendo
incidir comprimentos de onda que variam de 400 a 800 nm (região do visível),
obtendo os seguintes resultados:

Tabela 1: Espectro de absorção do KMnO4 10 mg/l na região do visível


Comprimento de onda λ (em nm) Absorbância
400 0,019
410 0,016
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420 0,012
430 0,012
440 0,013
450 0,015
460 0,018
470 0,028
480 0,038
490 0,055
500 0,071
510 0,087
520 0,101
530 0,106
540 0,100
560 0,062
580 0,032
600 0,009
620 0,007
640 0,006
700 0,001
800 0,001

Com esta varredura, é possível verificar que a radiação de comprimento de


onda que sofreu maior absorbância (0,106) foi o de 530 nm, que está presente na
região de transição entre o verde e o amarelo, o que de certa forma era de se
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esperar, visto que a coloração púrpura da solução de KMnO 4 representa a cor


observada quando o verde é absorvido (cor complementar).
Sendo 530 nm o comprimento de onda que melhor interagiu com o soluto,
este valor foi fixado no espectrofotômetro para que todas as soluções fossem
analisadas buscando obter um melhor sinal analítico e eliminar fontes de erro de
medição.

Construção da curva de calibração e determinação da concentração de KMnO 4


na amostra desconhecida

Para se obter a curva de calibração, mediu-se a absorbância das soluções


padrão de KMnO4 em triplicata, além de uma amostra de concentração
desconhecida, tirando a média dos sinais obtidos:

Tabela 2: Espectrofotometria do KMnO4


Concentração Absorbância Absorbância Absorbância
Média
(em mg/l) 1 2 3
0,016
2 0,016 0,017 0,017
6
0,049
4 0,048 0,050 0,050
3
0,077
6 0,077 0,078 0,078
6
0,096
8 0,097 0,097 0,096
6
0,150
10 0,190 0,131 0,130
3
0,010
Amostra 0,104 0,104 0,104
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Com estes dados, nota-se que a absorbância medida aumentou de forma


proporcional a concentração das soluções analisadas, fenômeno que evidencia a
lei de Beer-Lambert em ação.
Em seguida com os resultados, foi plotada a curva de calibração na planilha
eletrônica Excel®.
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A partir deste gráfico obteve-se a seguinte equação de reta:

y=0,0157 x−0,0163

Onde:

y = Si = sinal medido
0,0157 = m = inclinação da reta
x = c = concentração

0,0163 = Sibr = sinal do instrumento para o branco

Ainda que o gráfico mostre que a absorbância da amostra de 8 mg/l


apresenta uma certa discrepância em relação a reta de tendência, possivelmente
devido a erros na diluição, as medidas podem ser consideradas confiáveis tendo em
vista o valor de R² (0,9741). Portanto, verifica-se que é seguro determinar a
concentração da amostra desconhecida através da equação da reta.

Si=mc+ Si br

0,104=0,0157 ∙ c−0,0163
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0,104−0,0163
c=
0,0157

c=5 , 58 mg/l

Este resultado também pôde ser obtido através do Excel®, montando uma
tabela e por meio desta, elaborando uma equação (vide barra de fórmulas):

CONCLUSÃO

Por meio deste experimento, foi possível observar na prática os conceitos


relacionados à radiação eletromagnética, como o espectro eletromagnético e o
modo que cada frequência presente neste interage com a matéria de uma maneira
própria, dando ênfase na região do ultravioleta-visível. Também foi possível
constatar a lei de Beer-Lambert em ação ao notar que o sinal da absorbância
medido pelo espectrofotômetro aumentava de forma proporcional à concentração da
solução analisada. Colocou-se em prática a elaboração de algumas figuras de
mérito, como a curva de calibração e o limite de detecção além da determinação da
concentração de uma amostra por meio da equação da reta.
Em resumo, é uma prática de suma importância devido a sua praticidade e
redução de custos, tornando-se indispensável nos mais diversos campos, seja na
pesquisa, no controle de qualidade de uma indústria, na agricultura ou medicina.

BIBLIOGRAFIA
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HARRIS, Daniel C. Análise química quantitativa. 7 ed. Tradução de Jairo


Bordinhão [et al.]. Rio de Janeiro: LTC, 2008.

SKOOG. et. al. Fundamentos de química analítica. Tradução da 8ª Edição norte-


americana. São Paulo: Thomson, 2006.

SENNA, André Martins. ARTHUR, Paulo. Apostila de Análise Instrumental. Tatuí:


ETEC Salles Gomes.

MENDES, Marcus Fabiano de Almeida. Espectrofotometria. Disponível em:


<http://www.ufrgs.br/leo/site_espec/index.html> Acesso em: 07 de abril de 2015.

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