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Complementos de Métodos EspectroscópicosCapítulo I 2022/2023

CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO AOS MÉTODOS ESPECTROSCÓPICOS
1.1 Introdução à Espectroscopia de Absorção.
1.2 História da Espectroscopia (AUTODIDÁCTICA)
1.3 Radiação Electromagnética e Espectro Electromagnético.
1.3.1 Radiação Electromagnética.
1.3.2 Espectro Electromagnético.
1.4 Métodos Espectroscópicos Baseados na Radiação Electromagnética.
1.5 Caracterização Espectroscópica.
1.6 Representação de um Espectro de Absorção.
1.7 Parâmetros Espectrais.
1.8 Componentes dos Instrumentos Ópticos.
1.9 Tratamento de Dados e Transformadas de Fourier.
1.10 Como escolher o método de analise a utilizar.

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1.1 Introdução à espectroscopia de absorção

Espectroscopia é qualquer processo que utiliza a luz para medir as concentrações químicas. O
método espectroscópico baseia-se na análise da radiação electromagnética emitida ou absorvida
pelas substâncias.
De um modo geral, a Espectroscopia é um termo geral para todo o ramo da ciência que estuda a
interacção da radiação electromagnética com as moléculas. Actualmente, a espectroscopia foi
generalizada para toda a interacção da matéria e qualquer outra forma de energia.
Hoje, sabe-se que a natureza de mudanças que as moléculas sofrem nos processos de absorção,
emissão ou espalhamento de radiação permite-nos obter informações sobre a estrutura molecular a
partir de dados espectroscópicos. A espectroscopia é uma ferramenta muito poderosa para a
determinação estrutural e a validação de modelos sobre a referida estrutura.
As técnicas espectroscópicas podem ser classificadas de acordo com as características da interação
em:
Espectroscopia de Absorção M’ + h.ν → M”
Espectroscopia de Emissão M” → M’ + h.ν
Espectroscopia de Dispersão M’ + h.ν → M* → M” + h.ν’
ν = ν’ normal (Vis)
ν ≠ ν’ anormal (Raman)
Onde: M´, M” e M * representam as moléculas nos estados fundamentais de base e excitado e não
estacionário respectivamente e hν representa a energia de radiação de frequência ν (fóton).
Nos processos de absorção, a interação ocorre entre a radiação incidente e moléculas geralmente em
seu estado fundamental, enquanto em processos de emissão, as moléculas estão no estado excitado e
emitem energia ao voltarem para o estado inicial. A dispersão normal da luz é responsável por
fenómenos como a cor azul do céu (de dia) devido à maior dispersão da radiação solar na atmosfera
dos componentes no azul do que no vermelho. A dispersão anormal dá origem à técnica conhecida
como Espectroscopia Raman, que fornece informações complementares às oferecidas pela
Espectroscopia de Absorção infravermelha.

I.2. História da Espectroscopia (AUTODIDÁCTICA)

I.3. Radiação Electromagnética e Espectro Electromagnético


I.3.1. Radiação Electromagnética
Como um elemento da interação molécula - radiação, é conveniente descrever os modelos clássico e
quântico da radiação electromagnética.
 Modelo clássico da Radiação electromagnética
De acordo com a teoria de Maxwell, a radiação electromagnética se produz pela vibração ou
oscilação dos objectos carregados electricamente. Segundo Maxwell, a Radiação electromagnética
é concebida como um processo ondulatório (uma onda) de campos eléctrico (E) e magnético (B)
alternados (perpendiculares uns aos outros), que se propagam no vácuo a uma velocidade constante
c (2,997924.108 m/s). A componente eléctrica é responsável por grande parte dos fenómenos como
transmissão, reflexão, refracção e adsorção. A componente magnética é responsável pela absorção
de ondas rádio (RMN).
Todas as ondas electromagnéticas são iguais, excepto sua frequência (o número de ciclos completos
da ondulação por segundo) e, portanto, também o seu comprimento de onda (a distância entre picos
sucessivos).
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Figura 1. Radiação electromagnética

A frequência da radiação ν e o comprimento de onda λ (distância entre dois picos ou vales) estão
relacionados de acordo com a equação: ν λ = c

 Modelo quântico da Radiação electromagnética (EM):


O modelo clássico interpreta a radiação eletromagnética como um fenómeno de onda.
O modelo quântico assume um comportamento dual, ou seja, considera a radiação electromagnética
como onda - partícula de microssistemas.
Em 1905, Einstein, tendo em conta as ideias de Planck para explicar um fenómeno conhecido como
efeito fotoeléctrico, no qual, a luz separa os electrões de seus átomos, percebeu que a energia da luz
é transportada em quantidades discretas - pacotes de energia, incluindo partículas, a que chamou de
"fóton".
Segundo Einstein, a radiação eletromagnética é considerada como um fluxo de pacotes ou quantum
de radiação que se movem à velocidade da luz com uma energia:
E = h.ν
Onde: h – constante de Planck (6,626176,10-34 J.s)
De acordo com a mecânica quântica, a interação entre a radiação e os sistemas atómico-moleculares
é de natureza discreta, ou seja, trocam energia na forma de pacotes, quantum de radiação ou fóton /
fóton, cuja energia E depende exclusivamente da frequência.
As principais propriedades do fóton são:
 Momento linear, p = h/λ (De Broglie);
 Velocidade, v = c/n, (n – índice de refracção);
 Massa em repouso, mo = 0;
 Momento angular intrínseco ou Spin, η = 1;
 Projeção de spin σ (helicidade); σ = ± 1 (direcção da luz polarizada). A helicidade é
positiva quando o vector de campo eléctrico gira no sentido horário. No caso contrário, a
helicidade é negativa.
 Intensidade da radiação = Números de fótons

Caracterização da Radiação Electromagnética (onda):


Frequência (v): corresponde ao número de oscilações de uma onda (cristas ou vales sucessivos)
que passam em um dado ponto por unidade de tempo. Unidade: hertz (Hz), s -1 (1 Hz = 1 ciclo por
segundo). [ν / s-1 = Hz]
Comprimento de onda (λ): é a distância entre dois máximos (a distância entre qualquer ponto de
uma onda, ao ponto correspondente na onda seguinte). Pode ser dado em metros (m), manómetros
(nm) ou em qualquer unidade de comprimento que seja conveniente. [λ / cm, μm, pm]

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Amplitude (A): corresponde a altura de uma crista (ou a profundidade de um vale).

a) Comprimento de onda (λ) longo e baixa frequência.


b) Comprimento de onda (λ) curto e alta freqüência.
c) Mesmo comprimento de onda e mesma frequência que em (b), mas baixa amplitude.

Número de onda (ῡ) é o número de comprimentos de onda por unidade de distância, isto é 1/λ.
Unidade: o inverso do centímetro. [ῡ / cm-1]

Unidades do Sistema Internacional utilizadas em medidas espectroscópicas


Tabela 1. Factores de conversão

Relações entre as grandezas de uma onda


Muitas vezes relaciona-se a frequência com o nº de onda como:
ῡ (cm-1) = 104/λ (μm), sabe-se que: 1 μm = 10-4 cm. Desta forma, pode-se relacionar a energia E,
frequência (ν), velocidade da luz (c), número de onda (ῡ) e comprimento de onda (λ).
E = h.ν
c = ν.λ; ν = c/λ; ῡ = 1/λ = ν/c; ν = c. ῡ
E = h.ν = h.c/λ = h.c.ῡ
A partir das equações acima, pode-se concluir que:
- Quanto maior a energia (E), maior é a frequência (ν) e menor é o comprimento de onda (λ).
- Quanto menor a energia (E), menor é a frequência (ν) e maior é o comprimento de onda (λ).

I.3.2. Espectro electromagnético

A radiação electromagnética cobre uma grande área de comprimento de onda, desde as ondas de
rádio aos raios gama (raios γ e X, ultravioleta (UV), visível, infravermelho, micro-ondas e ondas de
rádio). Esta área e denominada de espectro electromagnético.
A radiação eletromagnética forma um conjunto com propriedades que variam continuamente. O
olho humano é sensível apenas a uma pequena área do todo, chamado de espectro eletromagnético.
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Em espectroscopia são usadas diferentes grandezas para caracterizar a radiação, todas elas
relacionadas entre si. A frequência ν (Hz), a energia associada ao fóton ou mol de fóton (J; J / mol)
o número de onda ῡ (número de ondas por unidade de comprimento) e comprimento de onda λ
(m, cm, nm) que é inversamente proporcional aos três anteriores. De acordo com essas grandezas
podemos classificar a radiação eletromagnética em diferentes regiões, de limites um tanto
imprecisos, onde os processos moleculares associados à absorção ou emissão são muito diferentes,
conforme mostra a Figura abaixo.

Figura 2 – O Espectro Electromagnético


O espectro electromagnético está dividido em regiões e cada região do espectro usa um tipo
diferente de radiação que nos oferece diferentes informações, tendo em conta a dualidade da luz
(onda/partícula).

Regiões do espectro electromagnético:

O espectro electromagnético é o intervalo completo de todos os tipos de radiação electromagnética,


que vai desde a radiação gama até as ondas de rádio. É importante destacar que todas as ondas que
compõem o espectro se propagam no vácuo com a mesma velocidade, de 3x10 8 m/s, e, podem ser
originadas a partir da aceleração de cargas eléctricas. A faixa de luz visível ao olho humano
também faz parte desse quadro de radiação electromagnética, no entanto, sua faixa é muito pequena
se comparada com a dos outros comprimentos de onda.
Em ordem crescente de energia associada ao fóton temos:
Radiofrequências: ν = 3.106 – 3.1010 Hz; λ = 10 m – 1 cm; E ≈ até 1 J/mol. Área de
espectroscopia de rádio, ressonância magnética nuclear (NMR) e ressonância paramagnética
electrónica (RPE). As variações de energia estão associadas à reversão da orientação dos spins
nucleares e electrónicos na presença de campos magnéticos externos.
Micro-ondas: ν = 3.1010 – 3.1012 Hz; λ = 1 cm – 100 μm; E ≈ dezenas de J/mol. Zona de
espectroscopia rotacional, a absorção de energia está associada a um aumento na energia rotacional
da molécula.
Infravermelho: ν = 3.1012 – 3.1014 Hz; λ = 100 μm – 1 μm; E ≈ milhares de J/mol. Zona de
espectroscopia vibracional, a absorção leva à excitação de vibrações na molécula. É a que sentimos
em forma de calor, uma exposição prolongada provoca queimaduras e cancro da pele.
Ultravioleta – visível: ν = 3.1014 – 3.1016 Hz; λ = 1000 nm – 10 nm; E ≈ dezenas de KJ/mol.
Zona de espectroscopia de electrões, a absorção leva à excitação electrónica com a possibilidade de
induzir reacções fotoquímicas. A radiação ultravioleta é a radiação responsável pelas queimaduras

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solares, exposições repetidas podem causar cancro de pele, porque lesionam as moléculas de DNA
nas células da pele. A radiação visível é a radiação electromagnética que conseguimos ver.
Raios X: ν > 1016 Hz; λ < 10 nm: E ≈ milhares de KJ/mol. Zona de espectroscopia
electrónica. As transições que ocorrem envolvem os níveis electrónicos internos de átomos e
moléculas. Possuem menor energia. A baixas doses são utilizadas para examinar a estrutura interna
de organismos vivos.
Raios γ: essas radiações estão associadas a variações nos níveis de energia nuclear. são
emitidos pelo núcleo de certos elementos radioactivos. Possuem alta energia e podem lesar
gravemente organismos biológicos.

I.4. Métodos espectroscópicos baseados na radiação electromagnética

A radiação electromagnética ao incidir sobre a matéria pode sofrer os seguintes processos:


Absorção; b) Transmissão; c) Reflexão; d) Refracção; e) Dispersão

Figura 3 - Processos que ocorrem por incidência da radiação electromagnética sobre a matéria.

Figura 4 - Espectro electromagnético mostrando os processos moleculares que ocorrem em cada região do espectro,
quando a luz é absorvida. (Tipo de energia de transição em cada região do espectro electromagnético).

Tabela 2 - Métodos Espectroscópicos Comuns baseados na Radiação Electromagnética


Tipos de Espectroscopia Intervalo Usual de λ Tipo de Transição Quântica
Emissão de raios gama 0,005 – 1,4 Å Nuclear
(Espectroscopia Mossbauer)
Absorção, emissão, fluorescência e 0,1 – 100 Å Electrões internos
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difracção de raios X
Absorção ultravioleta no vácuo 10 – 180 nm Electrões de ligação
Absorção, emissão e fluorescência no 180 – 780 nm Electrões de ligação
ultravioleta-visível
Absorção infravermelha e 0,78 – 300 μm Rotação / vibração de moléculas
espalhamento Raman
Absorção de micro-ondas 0,75 – 3,75 mm Rotação de moléculas
Ressonância de spin electrónico 3 cm Spin dos electrões num campo
magnético
Ressonância magnética nuclear 0,6 – 10 m Spin dos núcleos num campo
magnético

Os métodos espectroscópicos mais amplamente usados pelos químicos para analisar substâncias
tanto orgânicas como inorgânicas, recorrem à radiação electromagnética para identificar e
determinar os componentes de uma determinada amostra. Entre esses métodos destacam-se:
Espectroscopia Infravermelha (IV ou IR) - É usado para determinar os tipos de grupos funcionais
(tipos de ligações) presentes numa estrutura. (2,5 a 25 mm = 400 a 4000 cm-1)
Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) - Auxilia na identificação de
esqueleto carbono-hidrogénio na molécula. (também pode ser usada para identificar a presença de
outros átomos como N, P, bem como alguns átomos metálicos). (200 a 750 MHz)
Espectroscopia de Ultravioleta e Visível (UV-Vis) – Permite determinar estruturas com ligação
dupla conjugada. (UV: 180 – 400 nm (É limitada a sistemas conjugados); Visível: 400 – 800 nm)
Difracção de raios X (DRX ou XRD) – Determina o arranjo estrutural dos átomos, iões ou
moléculas que constituem um corpo sólido.

I.4.1. Detalhes dos dados espectroscópicos

Ultravioleta
O espectro de Ultravioleta fornece os seguintes dados:
A natureza do sistema conjugado e substituintes, a partir de regras empíricas para cálculos de λ max
de a) polienos, b) enonas e c) compostos carbonílicos aromáticos.
A presença de bandas aromáticas a partir de λmax 200 nm e λmax 260 nm (bandas benzenóides).
Comparando a forma do espectro de um composto desconhecido com espectros de compostos
conhecidos é possível identificar a natureza das unidades cromofóricas (compostos modelos).
Os cromóforos que absorvem fracamente (ex: cetonas, sulfitos, etc., ou transições n → σ * e n → π
*) são indicadas por bandas fracas na ausência de cromóforos fortes.
Infravermelho
O espectro de infravermelho é extremamente útil para a identificação de grupos funcionais num
composto desconhecido. Deve-se consultar a tabela de valores fornecida. Brevemente, o espectro de
infravermelho e útil na identificação dos seguintes grupos:
-OH; -COOH;
-NH2; -NH; -CONH2; -CONH;
C=C; HC=C; -C≡N; C=C=C;
Anéis aromáticos, natureza da substituição no anel.
Funções carbonílicas;

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Unidades alquílicas -CH(CH3)2; CH(CH3)3;
Nota: A ausência de bandas é também informativa porque se o grupo funcional está presente, deve
fornecer as suas bandas de infravermelho. A vibração nunca para.
Ressonância Magnética Nuclear
O espectro de ressonância magnética nuclear fornece dados valiosos sobre a cadeia de carbono.
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H (RMN do protão) pode fornecer os seguintes dados:
A integração do número de protões em cada grupo de protões equivalentes.
O número de grupos de protões equivalentes e a natureza dos átomos de carbono na cadeia (CH 3,
CH2, CH. etc.). A integração fornece o número de protões em cada grupo de protões equivalentes.
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C (RMN do carbono - 13) fornece as seguintes informações:
O número de grupos de átomos de carbono equivalentes.
O numero de átomos de H ligados a cada átomo de C.
O cálculo de sinais de átomos de carbono na estrutura proposta e comparação com os valores
observados, para confirmação.
Grupos funcionais carbonílicos.
O espectro de RMN é o espectro mais útil porque pode fornecer a estrutura quase completa de um
composto desconhecido, que pode necessitar apenas de uma pequena informação adicional, para
confirmação.

I.4.2. Aplicações da análise espectroscópica

- Identificação de uma amostra desconhecida;


- Para amostra conhecidas, permite:
a) A sua identificação;
b) A sua quantificação;
c) A atribuição de estrutura
- Permite identificar amostras conhecidas e desconhecidas em uma mistura;
- Permite a seguinte análise estrutural:
a) Distribuição electrónica;
b) Presença /ausência de elementos estruturais característicos
c) Formação de ligações químicas, ponte de hidrogénio.
d) Interacções electrónicas / atómicas através do espaço
e) Estereoquímica (Isomeria espacial)
f) Actividade óptica (estudo da luz e seus mecanismos de propagação, incluindo a Radiação
electromagnética)

I.4.3 Recolha de dados de medidas espectroscópicas

As recolhas de dados podem ser feitas das seguintes formas:


- Manuais
- Computarizadas: para cada tipo de aparelho existe um software específico que permite:
a) Rápido tratamento de dados;
b) Expansão de determinadas regiões do espectro, informações detalhadas;
c) Espectro de diferença: subtração de solvente, impurezas desconhecidas;
d) “Soma” de espectros: diminui a intensidade do ruído de fundo e aumenta a razão
sinal/ruído (n ½ aumento da intensidade; n = no de espectros “somados”).

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Nota: Para a absorção de energia em qualquer faixa de comprimento de onda do espectro


electromagnético é válido o seguinte princípio:
“Uma molécula só absorve energia em determinada frequência se existir uma transição de energia
associada com a radiação electromagnética naquela frequência”

I.5 Caracterização espectroscópica

Um espectro é a representação bidimensional da força da interacção vs. Energia. O espectro é


caracterizado pelos seguintes factores:
 Posição (frequência da transição): definição do máximo de absorção (ou emissão). Está
associada à separação de energia entre os níveis.
Numa molécula, os movimentos de rotação, vibração e electrões são quantizadas. Na
presença de campos magnéticos externos a orientação espacial dos spins e sua energia
associada mostram a quantização. Ao passar de um estado quântico estacionário para outro,
a molécula sofre uma mudança repentina associada a uma quantidade definida de energia
para aceitar ou se entregar ao ambiente em que se encontra. As transições entre esses dois
estados podem ocorrer por interação com a radiação eletromagnética.

Figura 5. Posição do sinal


Energia da transição
A diferença de energia entre os estados fundamental e excitados (ΔE) corresponde à energia hν do
fóton absorvida ou emitida: ΔE = h.ν (Condição de frequência de Bohr – equação fundamental da
espectroscopia).

Níveis de energia – Absorção


Os espectros de absorção vibracional encontrados na região do infravermelho correspondem às
transições entre os níveis vibracionais com uma mudança simultânea na energia rotacional. Os
espectros na fase gasosa aparecem como bandas com uma estrutura fina rotacional. Na maioria dos
espectros de infravermelho de fase condensada, são obtidas apenas bandas de absorção sem uma
estrutura fina definida (largura na ordem de dezenas de cm-1).

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Os espectros de absorção electrónica das regiões Ultravioleta e Visível correspondem a transições
electrónicas com mudança simultânea nas energias vibracional e rotacional. Exceto em pequenas
moléculas na fase gasosa, onde sob condições favorável, uma certa estrutura fina é observável,
obtemos espectros compostos por bandas muito largas (largura de milhares de cm-1).
 Intensidade: força da interação. Está associada ao rearranjo de cargas durante a transição
(para interações eléctricas dipolares). A intensidade de uma banda de absorção pode ser
determinada experimentalmente, de acordo com as leis de absorção. Esta intensidade está
diretamente relacionada ao reordenamento das cargas que a molécula experimenta durante a
transição. Para avaliar teoricamente a intensidade de uma banda de absorção é usado o
modelo semi-clássico, onde o sistema molecular será considerado com níveis de energia
quantizados e radiação como um distúrbio eletromagnético clássico.

Figura 6. Intensidade do sinal


 Largura: Depende se se trata de bandas ou linhas. Para linhas, depende do efeito Doppler
(está associado à variação das características de absorção ou emissão de um corpo em
movimento em relação ao observador) e do tempo de vida do estado excitado (a relacao de
incerteza de Heizemberg permite vincular em espectroscopia, o tempo de vida do estado
excitado τ (incerteza) com a incerteza da energia do referido estado excitado e, portanto, da
energia de transição).

Figura 7. Largura do sinal

Em UV-Visível (transições electrónicas) e IV (transições vibracionais) aparecem bandas de


absorção correspondentes a conjuntos de linhas espectrais frequentemente não bem resolvidas, que
constituem a estrutura fina.

Figura 8. Bandas de absorção da água

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Esta faixa de absorção vibracional (duplicação da água) mostra as linhas componentes (estrutura
rotacional fina). Na fase condensada esta estrutura fina é borrada.

1.6 Representação de um espectro de absorção

Um espectro de absorção nos permite saber como uma dada substância absorve seletivamente a
radiação de diferentes frequências. Apresenta-se geralmente de forma gráfica bidimensional, com
uma variável independente que caracteriza a radiação: geralmente frequência (ν), número de onda
(ῡ) ou comprimento de onda (λ) e uma variável dependente que define a intensidade da absorção:
geralmente absorvância (A), transmitância (T) ou absortividade molar (ε).
Na região UV-Visível, o comprimento de ondas usado é (200 – 750 nm) ou o número de ondas
(50000 – 13000 cm-1) e absorvância ou absortividade molar.
Na região IR, o número de ondas usado é (10000 – 200 cm -1) e a % transmitância, menos
frequentemente a absorvância. Os espectros de absorção nas regiões de UV-Vis e IV são
representados nas Figuras abaixo.

Figura 9. Espectro de UV-Vis da astrafloxina em água. Variável independente log ε, variável dependente λ (nm).

Fi
gura 10. Espectro de infravermelho da 3-metilanilina. Variável independente, ῡ/cm-1, Variável dependente - %T.

1.7 Componentes dos instrumentos ópticos

(A luz proveniente de uma fonte contínua passa por um monocromador, que seleciona uma estreita
faixa de comprimentos de onda do feixe incidente. Essa luz “monocromática” passa pela amostra de
comprimento b, e a energia radiante da luz emergente é medida)
Os instrumentos espectroscópicos são constituídos por cinco componentes:
 Uma fonte estável de energia radiante (Fonte de luz);
 Um dispositivo que isole uma região restrita do espectro para a medida (monocromador);
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 Um recipiente transparente para conter a amostra (Célula);


 Um detector de radiação, que converta a energia radiante para um sinal útil (normalmente
elétrico);
 Um processador e um dispositivo de saída que apresenta o sinal transluzido em uma escala
de medida, em um medidor digital ou registrador gráfico (computador).

Figura 11. Componentes de um espectrofotométrico.

1.8 Tratamento de dados e transformadas de Fourier


Ondas eletromagnéticas de diferentes frequências quando se sobrepõem geram um interferograma.

Figura 12. Interferograma


O interferograma é a soma das diferentes ondas justapostas de difícil interpretação.
Existe uma relação entre o interferograma e os valores de seno e cosseno das ondas
electromagnéticas que dão origem ao interferograma. A conversão do interferograma para espectro
envolve o tratamento matemático de interferogramas por uma série de equações complexas,
denominadas Transformadas de Fourier (Jean-Baptiste Fourier, 1763 –1840). O computador separa
o interferograma em suas componentes, analisa cada uma, recompõe o interferograma e o
transforma em espectro.

Figura 13. Espectros de absorção do laser He – Ne.

I.8.1 Técnicas espectroscópicas que utilizam comummente a Transformada de Fourier:

As técnicas espectroscópicas que utilizam as transformadas de Fourier são:

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FT-IR (infravermelho por transformadas de Fourier);
FT-RMN (ressonância magnética nuclear por transformada de Fourier);
FT-EM (espectrometria de massa por transformada de Fourier).

1.9 Parâmetros Espectrais

Relação sinal-ruído: relação entre intensidades relativas de um sinal, geralmente um padrão, e o


nível médio de ruído de amplificação electrónico. Para que um sinal seja visto como tal e não seja
confundido com flutuações no ruído de fundo, ele deve ter uma intensidade sensivelmente maior do
que o nível médio de ruído.
Sensibilidade: capacidade de detectar um sinal correspondente a um padrão em uma concentração
mínima. A sensibilidade varia muito com a região espectral. Geralmente, as espectroscopias de alta
frequência (UV-visível) são muito mais sensíveis do que as de baixa frequência (NMR), que está
relacionado em parte à relação desfavorável da população ao diminuir a diferença de energia entre
os estados fundamental e excitado. A aplicação de novas técnicas espectroscópicas (interferometria,
espectroscopia de transformada de Fourier), o uso de fontes de radiação e detectores mais potentes e
a redução do nível de ruído electrónico trabalhando em baixas temperaturas têm contribuído para o
aumento sistemático da sensibilidade nas últimas décadas, observável em todas as técnicas
espectroscópicas.
Poder de resolução: expressa a capacidade de um dispositivo de diferenciar dois sinais muito fortes
no espectro. O poder de resolução depende, em espectrofotómetros tradicionais (dispersivos), da
monocromaticidade (a luz emitida possui um único comprimento de onda que oscila na mesma
frequência e consequentemente apresenta uma única cor) do feixe de radiação usada pelo
instrumento. Porém, o aumento da monocromaticidade está associado a um aumento no nível de
ruído, uma vez que à medida que o sinal enfraquece, maior amplificação é necessária. Assim, o
aumento do poder de resolução reduz a relação sinal-ruído e a sensibilidade.

Bibliografia Geral
1. Skoog, West, Holler e Crouch, 2007. Fundamentos de Química Analítica, tradução da 8ª edição,
Thomson, São Paulo.
2. Silverstein, R. M. e Webster, F. X., Identificação Espectroscópica de Compostos Orgânicos, 6ª
edição;
3. Skoog, D. A.; Holler, F. J.; Nieman, T. A., 1998, Princípios de Análise Instrumental, 5a Edição.
Tradução para Português, Editora Oficial da Sociedade Brasileira de Química.
4. R. Keller, Analytical Chemistry, Weley-VCH, France,
5. Skoog, D. A. and Leary, J. J., 1994, Análisis Instrumental, cuarta Edicion, McGraw-Hill, Madrid.
6. Bibliografia diversa de análise instrumental, Quimica Analítica e Química Física.

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