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LABORATÓRIO DE FÍSICA MODERNA 1

O Interferômetro de Michelson-Morley

Ivan Moreira Marinho – 21854986

Universidade Federal do Amazonas; Instituto de Ciências Exatas; Departamento de


Física

Introdução

O Interferômetro de Michelson-Morley, concebido no final do século XIX, é uma peça


fundamental na história da física experimental, responsável por desafiar preconceitos
estabelecidos e conduzir a uma revolução nas concepções sobre a natureza do
espaço e do tempo. Este dispositivo, que inicialmente buscava detectar variações na
velocidade da luz em relação a um éter hipotético, tornou-se um instrumento versátil
para uma variedade de experimentos ópticos.

Neste trabalho, exploramos o Interferômetro de Michelson-Morley no contexto


específico do Laboratório de Óptica, com o objetivo de determinar o comprimento da
luz proveniente do laser de Helio-Neônio (He-Ne) utilizado no laboratório. A precisão
dessa medida é crucial, não apenas pela sua importância intrínseca na caracterização
do laser, mas também pela oportunidade que oferece de calcular o índice de refração
do ar nas condições específicas do laboratório.

O comprimento de onda da luz, como gerado pelo laser de He-Ne, é um parâmetro


fundamental na óptica e em diversas aplicações práticas, desde interferometria até
comunicações ópticas. Além disso, a determinação do índice de refração do ar no
ambiente laboratorial é de grande importância em experimentos que demandam
precisão e acurácia nas medidas ópticas.

Fundamentação Teórica

O Interferômetro de Michelson-Morley, concebido no final do século XIX por Albert A.


Michelson e Edward W. Morley, é uma peça fundamental na história da física
experimental. Originalmente projetado para detectar o éter luminífero, um meio
hipotético no qual as ondas de luz deveriam se propagar, o experimento resultou em
uma das descobertas mais significativas da época, levando à teoria da relatividade de
Einstein.

O interferômetro de Michelson-Morley é composto por um feixe de luz que é dividido


em dois caminhos perpendiculares por um divisor de feixe (geralmente um espelho
semirrefletor).

Cada feixe percorre um caminho diferente e é refletido por espelhos antes de se


recombinarem, criando um padrão de interferência observado.

O experimento original foi concebido para medir a diferença de tempo de percurso


para dois feixes de luz viajando em direções ortogonais.

A ausência de mudança significativa nas franjas de interferência, independentemente


da orientação da Terra em relação ao éter luminífero, desafiou a expectativa e levou
à conclusão de que o éter não existia.

A observação das franjas de interferência no interferômetro de Michelson-Morley


permite a medição precisa do comprimento de onda da luz utilizada no experimento.

A relação entre as franjas e o comprimento de onda é estabelecida por meio da


interferometria.

O Interferômetro de Michelson-Morley produz padrões de interferência a partir dos


quais podemos determinar o comprimento de onda da luz. A relação fundamental é:

𝑚𝜆 = 2𝑑𝑐𝑜𝑠𝜃

𝑚𝜆 = 2𝑑

2𝑑
𝜆= (1)
𝑚

onde:

𝑑 é a distância percorrida pela luz no interferômetro.


𝑚 é o número de franjas observadas.

𝜆 é o comprimento de onda da luz.

A introdução de um meio, como o ar, no caminho óptico do interferômetro leva a


alterações nas franjas de interferência devido às variações no índice de refração. A
variação do caminho óptico, em conjunto com o comprimento de onda conhecido,
permite calcular o índice de refração do meio.

Para determinar o índice de refração do ar um recipiente de comprimento 𝑠 (cubeta)


é inserido no caminho do feixe, em frente ao espelho fixo. Uma bomba de vácuo
permite variar a pressão no recipiente.

O índice de refração de um gás é linearmente dependente da pressão 𝑝, tal que

∆𝑛
𝑛(𝑝) = 𝑛0 + ∆𝑝 𝑝 (2)

Sendo que 𝑛0 = 1 e

∆𝑛 𝑛(𝑝+ ∆𝑝)−𝑛(𝑝)
= (3)
∆𝑝 ∆𝑝

O caminho ótico para o feixe luminoso percorrendo o recipiente de comprimento 𝑠 é

𝑥 = 𝑛(𝑝). 𝑠 (4)

Se a pressão no recipiente for variada de ∆𝑝 , este caminho ótico sofrerá uma variação
de

∆𝑥 = 𝑛(𝑝 + ∆𝑝). 𝑠 − 𝑛(𝑝). 𝑠 (5)

Iniciando-se com a pressão ambiente (𝑝0 ) e diminuindo-se até um valor 𝑝,


observaremos que a configuração inicial do padrão de interferência (caracterizada por
exemplo por um mínimo no centro do padrão) se repetirá 𝑁 vezes. Cada mudança de
mínimo para mínimo corresponde a uma variação de 𝜆 no caminho ótico. Assim entre
as pressões 𝑝 e 𝑝 + ∆𝑝 o caminho ótico será alterado por
∆𝑥 = {𝑁(𝑝) − 𝑁(𝑝 + ∆𝑝)} 𝜆 (6)

Considerando-se agora que o feixe de luz atravessa duas vezes o recipiente, pelas
equações (5) e (6) temos

𝜆
𝑛(𝑝 + ∆𝑝) − 𝑛(𝑝) = {𝑁(𝑝) − 𝑁(𝑝 + ∆𝑝)} (7)
2𝑠

E em vista da equação (3) podemos escrever:

∆𝑛 ∆𝑁 𝜆
= . (8)
∆𝑝 ∆𝑝 2𝑠

O índice de refração 𝑛 é então determinado com o uso das equações (8) e (2).

A inexistência do éter, como indicada pelo experimento de Michelson-Morley, foi uma


das premissas cruciais para a formulação da teoria da relatividade especial por Albert
Einstein. A teoria da relatividade alterou radicalmente a compreensão da relação entre
espaço e tempo, consolidando-se como um marco na física moderna.

Objetivo do Estudo

Determinar o comprimento da luz do laser de He-Ne e Utilizar o comprimento


determinado para calcular o índice de refração do ar no Laboratório de Óptica.

Materiais

O aparato experimental necessário está mostrado na Fig.01. Ele consiste dos seguinte
itens:

1. Interferômetro de Michelson

2. Laser, He-Ne 1.0 mW

3. Lente f+20mm

4. Suporte para a lente

5. Banco ótico
6. Anteparo

7. Cubeta de vidro (comprimento s=10mm)

8. Bomba de vácuo manual com manômetro

Procedimento experimental

A fim de obter o maior número possível de círculos de interferência, os espelhos do


interferômetro precisam, antes de tudo, serem ajustados. Para fazer este ajuste
remova a lente (L) que está entre o laser e o interferômetro. O feixe de laser incide
sobre o espelho semi refletor sob um ângulo de 45°, dividindo-se em dois que são
refletidos pelos espelhos móvel (𝑀1 ) e fixo (𝑀2 ) e finalmente atingem o anteparo (A).
Ajuste os parafusos fixados à base do espelho fixo (𝑀2 ) até que os pontos de luz
proveniente dos dois espelhos coincidam. Coloque a seguir a lente (L) entre o laser e
o interferômetro (exatamente no meio) e ajuste cuidadosamente até obter uma
imagem de círculos concêntricos.

Medida do comprimento de onda da luz do laser

Para medir o comprimento de onda da luz do laser ajuste o parafuso micrométrico em


alguma posição inicial para a qual haja um mínimo de intensidade no centro do padrão
de interferência.
1. Anote a posição inicial do micrometro.
2. Gire o parafuso micrométrico e conte o número de mínimos que chegam ao
centro do padrão de interferência.
3. Repita a medida contando 50 períodos.
4. Lembre-se de avaliar os erros cometidos nas medidas

A distância que se deslocou o espelho móvel é obtida pela diferença entre as duas
posições do micrometro dividida por 10. A partir destas medidas determine o
comprimento de onda da luz do laser utilizado.

Medida do índice de refração do ar

Fixe a cubeta de vidro no suporte em frente ao espelho fixo (𝑀2 ) e ajuste o


interferômetro e a lente (L) para obter um padrão de círculos concêntricos.

Iniciando da pressão ambiente (𝑝𝑜 =1013 mbar) diminua a pressão usando a bomba
de vácuo anotando o número de mínimos que chegam ao centro do padrão de
interferência (número de períodos). Anote em uma tabela o número de períodos (𝑁)
em função da pressão (𝑝). Note que o valor (𝑝) que você está medindo é na verdade
o decréscimo sofrido pela pressão ambiente dentro da cubeta. Faça medidas para (𝑁)
variando de 1 até 5. Avalie os erros cometidos nas medidas.

Resultados

Comprimento da Luz do Laser de He-Ne:

Na tabela 1 mostra os dados de 𝑚 (número de franjas observadas) em função de 𝑑


(distancia percorrida pelo espelho 𝑀1 ).

m D (mm)

10 4,99
20 7,50

30 10,20

40 14,00

50 17,20

Depois da contagem de 𝑚 = 50 obtivemos o valor de 𝑑 = 17,20 𝑚𝑚 multiplicamos por


0,01 e posteriormente dividimos por 10, obtendo o valor de 𝑑 = 0,0172 𝑚𝑚
convertendo para nm temos 𝑑 = 17100 𝑛𝑚, aplicado na equação (1),

2𝑑
𝜆=
𝑚

2(17100𝑛𝑚)
𝜆=
50

34200
𝜆=
50

𝜆 = 684 𝑛𝑚

O valor do comprimento de onda encontrado foi 𝜆 = 684 𝑛𝑚.

Análise estatística dos resultados.

Em comparação com o valor esperado, fornecido no aparelho 𝜆 = 632,8 𝑛𝑚, podemos


calcular a variação no resultado utilizando a fórmula abaixo.

𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜 𝑒𝑛𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑜 − 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜


𝑉𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜 𝑃𝑒𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑢𝑎𝑙 = ( ) 𝑋 100
𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜
Substituindo os valores:

684 𝑛𝑚 − 632,8 𝑛𝑚
𝑉𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜 𝑃𝑒𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑢𝑎𝑙 = ( ) 𝑋 100
632,8 𝑛𝑚

51,2 𝑛𝑚
𝑉𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜 𝑃𝑒𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑢𝑎𝑙 = ( ) 𝑋 100
632,8 𝑛𝑚

51,2 𝑛𝑚
𝑉𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜 𝑃𝑒𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑢𝑎𝑙 = ( ) 𝑋 100
632,8 𝑛𝑚

𝑉𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜 𝑃𝑒𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑢𝑎𝑙 ≈ 8,1%

Portanto, a variação percentual entre o resultado encontrado (684 𝑛𝑚) e o valor


esperado (632,8 𝑛𝑚) é de aproximadamente 8,1%.

Cálculo do Índice de Refração do Ar:

Na tabela 2 mostra os dados de 𝑚 (número de franjas observadas) em função de ∆𝑝


(variação de pressão correspondente a cada mínimo).

m 𝑝(mbar)

1 130

2 250

3 340

4 460
5 600

Calculando a variação ∆𝑚 = 𝑚 − 𝑚0 :

∆𝑚 = 5 − 1

∆𝑚 = 4

Calculando a variação ∆𝑝 = 𝑝 − 𝑝0 :

∆𝑝 = 600 − 130

∆𝑝 = 470

∆𝑚 4
Assim obtemos o valor de = 470 = 0,00851.
∆𝑝

∆𝑛
Utilizando a equação (8) para encontramos o valor de ∆𝑝 utilizados os valores fornecido

da espessura da célula de gás (𝑠 = 1 𝑐𝑚) e para o comprimento de onda encotradao


no experimento anterior (𝜆 = 684 𝑛𝑚).

∆𝑛 684 nm
= 0,00851.
∆𝑝 2(10000000 𝑛𝑚)

∆𝑛 684 nm
= 0,00851.
∆𝑝 20000000 𝑛𝑚

∆𝑛 684 nm
= 0,00851.
∆𝑝 20000000 𝑛𝑚

∆𝑛
= 0,00851 . 0,0000342
∆𝑝

∆𝑛
= 0,000000291042
∆𝑝
Agora iremos utilizar a equação (2), considerando a pressão atmosférica 𝑝 =
1013 𝑚𝑏𝑎𝑟:

𝑛(𝑝) = 1 + 0,000000291042.1013

𝑛(𝑝) = 1,000294825546

Discussão

os resultados obtidos podemos observar que o valor do comprimento de onda foi o


que teve maior variação para o resultado esperado, podemos acreditar que é devido
ao número de franja ter sido uma quantidade pequena por isso não tivemos um
resultado mais preciso. Em relação ao índice de refração chegamos bem próximo ao
valor esperado para condições normais de temperatura e pressão.

Conclusão

Os resultados obtidos a partir do experimento com o Interferômetro de Michelson-


Morley proporcionaram valiosas informações sobre o comprimento de onda da luz do
laser de He-Ne e o índice de refração do ar no Laboratório de Óptica. A análise
estatística dos dados revelou aspectos cruciais e proporcionou insights importantes.

Em relação ao comprimento de onda da luz do laser, foi determinado


experimentalmente um valor de λ = 684 nm. Ao compararmos esse resultado com o
valor esperado fornecido pelo aparelho (λ = 632,8 nm), observamos uma variação
percentual de aproximadamente 8,1%. A discrepância pode ser atribuída, em parte, à
limitação no número de franjas observadas (máximo de 50), impactando a precisão
da medição.

No cálculo do índice de refração do ar, considerando a variação de pressão (∆p) e o


número de franjas observadas (m), obtivemos um resultado próximo ao valor
esperado para condições normais de temperatura e pressão. Resultando em um
índice de refração do ar (n(p)) de aproximadamente 1,000294825546, próximo ao
valor teórico esperado.
A análise crítica dos resultados revelou que a variação no comprimento de onda pode
ser atribuída à quantidade limitada de franjas observadas, indicando a importância de
aumentar a precisão experimental por meio da observação de um maior número de
franjas. Em contrapartida, o índice de refração do ar mostrou-se consistente com as
expectativas teóricas para as condições experimentais, reforçando a confiabilidade do
método utilizado.

Em conclusão, o experimento forneceu compreensões valiosas sobre as propriedades


ópticas do laser de He-Ne e do ar, destacando a importância de considerar
cuidadosamente as limitações experimentais na interpretação dos resultados. O
Interferômetro de Michelson-Morley continua a ser uma ferramenta robusta e
informativa na óptica experimental, abrindo portas para investigações mais
aprofundadas e refinamentos nas técnicas utilizadas.

Referência Bibliográfica

Roteiro: Prof. Dr. Jair Freitas – UFES – Vitória - Laboratório de Estrutura da Matéria II

Halliday, Resnick & Walker, Fundamentos de Física, Vol. 4.

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