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Laboratorios I Ano Lectivo 2021/2022

Efeito Fotoeléctrico
Objectivo - Neste trabalho pretende-se verificar que o efeito fotoeléctrico é bem descrito por um
modelo corpuscular da luz e determinar a razão entre a constante de Planck e a carga do
electrão, h/e, e a função trabalho do material, .

1. Introdução
O efeito fotoeléctrico consiste na libertação de electrões
por um material quando nele incide um feixe de luz (Fig. 1);
foi descoberto e estudado no séc. XIX, tendo os resultados
experimentais permanecido sem uma explicação satisfatória
até 1905.
Num tubo de vazio com dois eléctrodos (Fig.2) a luz incide
no cátodo e são emitidos electrões com energia cinética
variável (dependente da sua ligação ao material). A energia
mínima necessária para provocar a emissão de um fotoelectrão Figura 1. No efeito fotoeléctrico a luz
designa-se de função trabalho, . Por conservação de energia que incide num material provoca a
𝐸𝑙𝑢𝑧 = 𝜙 + 𝑇𝑒 , (1) libertação de electrões.
com Eluz a energia da luz incidente e Te a energia cinética com
que os electrões são ejectados1. Os electrões emitidos são
captados no eléctrodo colector, criando uma corrente de
fotoelectrões. Se for aplicado um potencial retardador, a
velocidade dos electrões diminui à medida que estes se
aproximam do eléctrodo, e os electrões menos energéticos
podem não chegar a ser recolhidos. A energia cinética dos Figura 2. Sistema experimental para
electrões pode ser determinada medindo o valor do potencial medir a corrente de fotoelectrões e o
retardador necessário para anular a corrente de fotoelectrões, o potencial retardador no efeito
fotoelétrico.
chamado potencial de paragem Vp. Temos que eVp = Te (onde e
é a carga do electrão)2 e portanto
𝑒𝑉𝑝 = 𝐸𝑙𝑢𝑧 − 𝜙 (2)
De acordo com a teoria ondulatória da luz, a energia é proporcional à intensidade da luz e
independente da sua frequência. Seria, por isso, natural esperar que uma luz mais intensa
aumentasse a energia cinética dos fotoelectrões e, respectivamente, o potencial de paragem. No
entanto os resultados experimentais não são consistentes com esta previsão. Em 1905, Einstein
publica uma descrição teórica do efeito baseada na teoria da quantificação de radiação
electromagnética proposta por Planck, que permite explicar os resultados experimentais. Nessa
descrição, uma onda electromagnética é representada como um fluxo
de partículas (fotões) com energia 𝐸𝑓 = ℎ𝜈, onde ν é a frequência da
luz e h é uma constante, que ficou designada de constante de Planck.
Assim, o efeito fotoeléctrico consiste em absorção de um fotão por
um átomo e subsequente ejecção de um dos seus electrões. Neste
modelo a equação (1) toma a forma ℎ𝜈 = 𝜙 + 𝑇𝑒 (aqui 𝜙 é a

1
De facto, a energia cinética de electrões ejectados da placa pode variar uma vez que estes podem perder parte da sua
energia em colisões com os átomos do material. Assim, Te corresponde à energia máxima dos electrões ejectados (i.e., a
dos que conseguiram sair sem perdas da energia).
2
Lembra-se que por definição do potencial eléctrico, a energia cinética adquirida por uma carga q ao deslocar-se entre
dois pontos com a diferença de potencial Δ𝑉 é igual a Δ𝑇 = 𝑞Δ𝑉.

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energia de ligação do electrão no átomo) e a equação (2)

ℎ 𝜙
𝑉𝑝 = 𝜈−
𝑒 𝑒

Assim, representando graficamente o potencial de paragem Vp em função da frequência da luz


incidente espera-se obter o valor de h/e e a função trabalho em unidades de eV (1 eV =
1.60210-19 J; por definição 1 eV é igual à variação da energia cinética de um electrão ao atravessar
uma diferença de potencial de 1 V).

Note-se que de acordo com o modelo quântico a intensidade da luz incidente determina o número
de fotoelectrões emitidos por unidade de tempo (a intensidade da corrente) sem afectar a energia, i.
e. sem modificar o potencial de paragem.

2. Sistema experimental
O sistema experimental está ilustrado na figura 3. A fonte de luz é uma lâmpada de mercúrio que
emite 4 linhas no visível e uma no ultravioleta, com as frequências indicadas na tabela 1. A máscara
refletora do módulo h/e é feita de um material fluorescente e permite ver a luz ultravioleta como
azul, alterando também um pouco a cor das restantes linhas. A rede de difracção permite separar as
diferentes linhas de emissão de mercúrio de acordo com a equação:
𝜆
sin 𝜃 = 𝑛
𝑑
em que d é distância entre as riscas da rede de difracção, θ é o ângulo de desvio, λ é o
comprimento de onda da luz e n é a ordem de difracção. Para a difracção de primeira ordem (n=1)
teremos desvios diferentes para comprimentos de onda diferentes, o que permite separar as 5 linhas
e vê-las na máscara refletora rodando a base de suporte para um ângulo θ adequado. Se rodarmos a
base ainda mais vemos as mesmas 5 linhas correspondentes à difração de segunda ordem (n=2). Os
comprimentos de onda das cinco linhas são naturalmente os mesmos, mas sendo n=2 os desvios são
maiores. Note-se que a rede dá origem a conjuntos de linhas para valores de θ positivos e negativos,
isto é, de um lado e de outro da rede de difração. No entanto, devido às características da rede, a
intensidade das linhas é maior de um lado do que do outro e deverá escolher o lado de linhas mais
intensas.

Tabela 1- Frequência das linhas de emissão de mercúrio no visível e ultravioleta próximo


Cor Frequência (Hz) Comp. de onda (nm)
amarelo 5,18672 × 1014 578
verde 5,48996 × 1014 546,074
azul 6,87858 × 1014 435,835
violeta 7,40858 × 1014 406,656
14
ultravioleta 8,20264 × 10 365,483

O módulo h/e da Pasco contém um tubo de vazio com um cátodo e um ânodo que funcionam
como um condensador inicialmente descarregado. A luz monocromática incide no cátodo do tubo
de vazio que tem uma função de trabalho baixa. Os fotoelectrões ejectados do cátodo são recolhidos
pelo ânodo, carregando o condensador e criando uma diferença de potencial entre as suas placa
(Δ𝑉 = 𝑄 ⁄𝐶 ). A diferença de potencial gerada entre o ânodo e o cátodo opõe-se ao movimento dos
electrões. A energia cinética com que os electrões atingem o ânodo vai baixando à medida que o

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potencial do condensador aumenta. Quando os electrões atingem o ânodo com energia cinética nula,
a corrente anula-se e o potencial do condensador estabiliza. A diferença de potencial entre as placas
do condensador é, nesta situação, o potencial de paragem Vp.
O ânodo do tubo está ligado a um amplificador com ganho unitário e elevada impedância
(superior a 1013 Ω) para permitir medir o potencial de paragem à saída do circuito com um
voltímetro (de contrário o condensador descarregava através da resistência interna do multímetro
que é normalmente cerca de 10 M). Um interruptor permite descarregar o condensador e
recomeçar a medida.
É importante notar que apesar de a impedância ser muito elevada não é infinita e há sempre
alguma descarga. Assim, carregar o condensador é semelhante a encher um recipiente de água que
tem uma pequena fuga: quanto menor for o fluxo de água mais se nota o efeito da fuga. Por outras
palavras, o processo de medida de Vp usado nesta experiência introduz uma pequena dependência
na intensidade da luz.

Figura 3. Sistema experimental da Pasco para medir h/e.

3. Realização experimental
Material necessário: módulo h/e da Pasco, lâmpada de mercúrio com rede de difracção, multímetro,
cronómetro.
a) Ligar a lâmpada de mercúrio e esperar
que ela aqueça. Ligar o módulo de detecção da luz
h/e (botão on/off no painel).
b) Colocar o módulo h/e directamente em
frente da lâmpada de mercúrio. Rodar a protecção
de luz (Figura 4) de forma a ser visível a janela do
fotodíodo. Libertar o parafuso que permite rodar o
módulo em torno do seu eixo. Rodar o módulo de Figura 4. A Proteção de luz pode ser deslocada para
forma a que a luz fique alinhada simultaneamente alinhamento.
com a janela do fotodíodo e com a abertura da
máscara reflectora exterior. Apertar bem o parafuso e rodar a proteção de luz para a posição
original.
c) Rodar o braço móvel com o módulo em torno da base (Fig.3). Identificar as linhas
espectrais para a difracção de primeira ordem e de segunda ordem. Escolher o lado da rede em que
as linhas são mais intensas. Ligar o multímetro aos terminais de saída do módulo h/e. As medidas
devem ser realizadas com o mínimo possível de luz ambiente.

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3.1. Efeito da intensidade da luz no potencial de paragem e no tempo de carga


3.1.1. Ajustar a posição do sistema de forma a selecionar apenas uma linha espectral à entrada
da máscara reflectora. Verificar novamente o alinhamento com a janela do fotodíodo. Corrigir o
alinhamento se necessário. As linhas de frequência mais elevadas darão geralmente melhores
resultados. Se escolher uma linha verde ou amarela colocar o filtro correspondente (verde ou
amarelo, respectivamente) sobre a máscara reflectora para reduzir a contribuição das linhas de
difracção da 2ª ordem das riscas com maior frequência.
3.1.2. Colocar o filtro neutro que permite variar a intensidade de luz transmitida em frente da
máscara reflectora (e sobre o filtro colorido, se usar) de forma a que a luz passe pela secção
marcada com 100%. Anotar o valor indicado no voltímetro.
3.1.3. Carregar no botão de descarga com cuidado (evitando rodar o módulo e estragar o
alinhamento) e medir com o cronómetro o tempo necessário para atingir uma diferença de potencial
estável. Registar o valor do potencial de paragem e também do tempo na tabela 1 da folha de registo
de dados (em Anexo). Indicar as unidades de medida na tabela. As medições do tempo são muito
aproximados, o mais importante é notar a tendência com que varia o tempo de carga com a
intensidade da luz.
3.1.4. Completar a tabela 1 repetindo o procedimento 3.1.2 a 3.1.3 para as outras percentagens
de transmissão. Verificar o alinhamento com a máscara do fotodíodo antes de cada medida.
3.1.5. Repitir o procedimento anterior para outra cor do espectro e registar na tabela 1.

3.2. Dependência do potencial de paragem na frequência da luz


3.2.1. Na máscara reflectora podem ver-se 5 linhas do espectro de mercúrio correspondentes à
difracção de 1ª ordem. Ajustar a posição do módulo e verificar o alinhamento de forma a que a
linha amarela entre na abertura da máscara do fotodíodo. Colocar o filtro amarelo sobre a máscara
reflectora. Registar o valor do potencial de paragem na tabela 2. Indicar as unidades de medida
na tabela.
3.2.2. Repetir o procedimento para as restantes cores do espectro de difracção de 1ª ordem e
registar na tabela 2 (a luz verde vai requerer um filtro verde).
NOTA: Verifique a necessidade de utilizar filtros para as linhas amarela e verde.
3.2.3. Repetir o procedimento para as linhas do espectro de difracção de 2ª ordem e registar na
tabela.

3.3. Análise
3.3.1. Descrever o efeito da variação da intensidade da luz no potencial de paragem, na energia
cinética máxima dos fotoelectrões e no tempo de carga do condensador.
3.3.2. Descrever o efeito da mudança de cor da luz (variação de frequência) no potencial de
paragem.
3.3.3. Interpretar os resultados descritos nos pontos anteriores e discutir se estão de acordo com
um modelo quântico ou um modelo clássico ondulatório da luz.
3.3.4. Explicar porque há uma ligeira queda do potencial de paragem com a redução da
intensidade da luz.
3.3.5. Representar graficamente o potencial de paragem em função da frequência da luz e
determinar o valor de h/e (e respectiva incerteza) bem como da função trabalho  (e respectiva
incerteza). Usar o valor tabelado da carga do electrão (1,602176462 × 10-19 C) e determinar o valor
da constante de Planck h. Comparar o resultado obtido e respectiva incerteza com o valor tabelado
de h (6,62606876 × 10-34 J.s).

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Visto do Professor
REGISTO DE DADOS no trabalho h/e Visto do Professor

Nomes: ____________________________________________________
___________________________________________________________

Tabela 1. Efeito da intensidade da luz no potencial de paragem e no tempo de carga

% Transmissão Potencial de paragem Tempo aproximado de


carga
Cor: ______________ 100

80

60

40

20

% Transmissão Potencial de paragem Tempo aproximado de


carga
100
Cor: ______________
80

60

40

20

Tabela 2: dependência do potencial de paragem na frequência da luz

Cor da luz Frequência Potencial de paragem Potencial de paragem


(linha de difração de (linha de difração de
1ª ordem) 2ª ordem)
Amarela

Verde

Azul

Violeta

Ultravioleta

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