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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

Centro de Ciências Exatas


Departamento de Física
Laboratório de Física Moderna

Experimento de Franck-Hertz

Emilia Coutinho
Emilly Rigo
Myllena Querubim

Relatório Científico da disciplina Laboratório de Física Moderna

Vitória, 25 de outubro de 2023


Emilia Coutinho
Emilly Rigo
Myllena Querubim

Experimento de Franck-Hertz

Relatório Experimental sobre a Experiência B3:


Experimento de Franck-Hertz apresentado à
disciplina Laboratório de Física Moderna
realizado durante o semestre 2023/2 para o
curso de Física.

Orientador: Prof. Dr. Rogério Netto Suave

Vitória, 25 de outubro de 2023


Neste relatório é apresentada uma descrição do experimento realizado que visa
registrar a corrente eletrônica em um tubo de Franck-Hertz, preenchido com vapor
de Hg (quando aquecido), em função da tensão de aceleração, para diferentes
temperaturas e para diferentes valores da tensão de retardo, além de obter a
energia de excitação do gás de mercúrio atômico.

Palavras-Chaves: Comportamento corpuscular de uma partícula subatômica,


constante de Planck, níveis de energia excitados atômicos, quanta de energia,
colisões eletrônicas, transições eletrônicas, primeira energia de excitação
de um sistema atômico quântico, emissão de radiação por átomos excitados.

1. Introdução

1.1 Bohr e o átomo de hidrogênio

Em 1913, Niels Bohr propôs seus postulados para explicar o comportamento do


átomo de hidrogênio. Segundo ele:

O primeiro postulado afirma que um elétron em um átomo se move em uma órbita


circular em torno do núcleo sob influência da atração coulombiana entre o elétron e
o núcleo, obedecendo às leis da mecânica clássica.

O segundo postula que, ao invés da infinidade de órbitas que seriam possíveis


segundo a mecânica clássica, um elétron só pode se mover em um órbita na qual
seu momento angular orbital L é um múltiplo inteiro de ħ (a constante de Planck
dividida por 2ℼ).

𝐿 = 𝑛. ħ

onde n=1,2,3,... é chamado número quântico principal.

Segundo Bohr, apesar de estar constantemente acelerado, um elétron que se move


em uma dessas órbitas possíveis não emite radiação eletromagnética. Portanto,
sua energia total E permanece constante, este é o terceiro postulado.

O quarto postulado mostra que para mudar de órbita, o elétron precisa ganhar ou
perder energia através da absorção, ou emissão da energia de um fóton,
respectivamente. A energia absorvida ou emitida é igual à diferença de energia dos
estados envolvidos e é dada pela relação de Planck,

𝐸 = 𝐸2 − 𝐸1 = ℎ𝑓

onde h é a constante de Planck e f é a frequência da radiação emitida.

Figura 1 - Energia dos estados eletrônicos

O último postulado afirma que a energia de um estado atômico é dada por:

2 2
𝑚𝑍 𝑒 1
𝐸𝑛 =− 2 · 2
(4πε0) 2ħ 𝑛

onde m é a massa do elétron, ɛ0 é a permissividade elétrica do vácuo e Z é o


número atômico.

1.2 Experimento de Franck e Hertz

Em 1914,James Franck e Gustav Hertz apresentaram um experimento que


demonstrava a natureza quântica dos átomos. O experimento consistia de um tubo
em que os elétrons eram emitidos pelo catodo aquecido e atravessavam um meio
contendo Hg, sofrendo sucessivas colisões, sendo muitas delas elásticas. Esses
elétrons emitidos pelo catodo possuem um ensemble de energias cinéticas dadas
aproximadamente pela distribuição de Maxwell-Boltzmann, com energia média de
~kBTC.
Figura 2 - Experimento de Franck-Hertz

Figura 3 - Circuito de montagem do Experimento de Franck-Hertz.

Quando a tensão de aceleração atinge um certo valor VA, os elétrons têm


exatamente a energia necessária para excitar os átomos de mercúrio do estado
fundamental para o primeiro estado excitado. Nesse processo, vários átomos
perdem energia e não conseguem alcançar o coletor, ocorrendo uma queda na
corrente (IS) do coletor quando a tensão atinge o valor VA. Apenas os elétrons que
alcançam a grade com energia cinética suficiente para vencer o campo elétrico
oposto associado à tensão de retardo VS contribuem para a corrente eletrônica.

Abaixo temos a configuração eletrônica do mercúrio:


1s²
6
2s² 2𝑝
6 10
3s² 3𝑝 3𝑑
6 10 14
4s² 4𝑝 4𝑑 4𝑓
6 10
5s² 5𝑝 5𝑑

6s²

O estado excitado de Hg com menor energia e maior probabilidade de ser populado


por conta das colisões encontra-se a 4,98 eV acima do estado fundamental.
Usualmente designamos esse estado como ³P1 e corresponde à configuração 6s6p
para os elétrons de valência do Hg (no estado fundamental a configuração
eletrônica é 6s², ou ¹S0).

Figura 4 - Níveis de energia do mercúrio.

Se apenas o estado localizado 4,89 eV acima do estado fundamental for excitado


por essas colisões, aparecerão na curva IS VA , picos equidistantes correspondentes
à excitação de 1, 2, 3, 4… átomos de Hg no percurso do feixe eletrônico. A
separação entre esses picos fornecerá assim uma medida da energia (por unidade
de carga) do estado excitado em questão.
Devido à diferença de potencial de contato entre o catodo e o anodo, a diferença de
potencial real entre os dois (que é, portanto a tensão de aceleração real) difere do
valor medido diretamente de acordo com a expressão
𝑟𝑒𝑎𝑙 𝑚𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜
𝑉𝐴 = 𝑉𝐴 + (ϕ𝐴 − ϕ𝐶)

sendo ∅A e ∅B as funções trabalho associadas ao anodo e ao catodo,


respectivamente. Dessa forma, a primeira queda da corrente na curva IS VA não
ocorre em torno de 4,9 V, mas cerca de 2,0 V acima. A separação entre os picos na
curva IS VA não tem influência da DDP de contato.

2. Procedimento Experimental

Para a realização do experimento foram utilizados os seguintes equipamentos:


● Tubo selado a vácuo com gás de mercúrio (Hg);
● Eletrodos;
● Placa coletora de elétrons;
● Placa aquecedora para emissão termiônica;
● Fonte de tensão;
● Forno para aquecimento;
● Transformador variável;
● Computador;
● Termopar;
● Amplificador de medição corrente-voltagem;
● Multímetros.

Para a realização do experimento, realizamos os seguintes procedimentos:

O arranjo experimental que nos serviu de base está descrito nas Figuras 5, 6 e 7,
onde detalhamos as conexões elétricas.
Fig. 5: Ilustração da montagem experimental

Fig. 6: Conexões elétricas para alimentação do tubo de Franck-Hertz.

Fig.7: Esquema de ligações da unidade de alimentação do tubo de


Franck-Hertz. São indicadas as conexões para medidas proporcionais à
corrente eletrônica 𝐼𝑠 (posição IN 1) e à tensão de aceleração 𝑉𝑎 (posição IN 2).
Ajustamos o amplificador na configuração I na escala de 0,1𝜇𝐴, acionamos o forno
e regulamos a temperatura de operação em 165°C, que produziu uma quantidade
suficiente de vapor de mercúrio após cerca de 20 à 30 minutos.
A tensão de aceleração 𝑉𝐴 (variável entre 0 e 50 V) é estabelecida entre o catodo C
e o anodo em forma de grade A, sendo a corrente eletrônica 𝐼𝑠 detectada no
eletrodo coletor S (Fig. 6).
Uma pequena tensão de retardo 𝑉𝑆 é aplicada com polaridade invertida entre A e
S, de modo a evitar que elétrons de baixa energia atinjam o coletor. Essa tensão
provém da saída 0 a –12 V da fonte de alimentação através de um divisor de tensão
(localizado na unidade de alimentação indicada na Fig.7) que a reduz por um fator 4.
Ajustamos a tensão 𝑉𝑆 inicialmente em torno de 0,5V, medindo-a com um voltímetro
digital.
A tensão 𝑉𝐴 pode ser lida diretamente com um voltímetro digital conectado na
posição correspondente na unidade de alimentação do tubo de Franck-Hertz,
através de um divisor de tensão integrado à unidade de alimentação, pode-se obter
uma tensão reduzida (por um fator próximo de 2). Essa é denominada 𝑉2, e serve
para ser conectada à entrada da interface Cobra indicada por IN 2. Dessa forma a
tensão registrada no computador pode ser medida na escala de 30 V disponível no
programa de controle. Entretanto a tensão real entre o catodo e a grade é igual a
𝑉𝐴, diferente do valor registrado no programa.
Para obter a relação exata entre 𝑉𝐴 e 𝑉2 foi preciso realizar um procedimento de
calibração: conectamos a tensão 𝑉𝐴 na interface Cobra na entrada IN 1, mantendo
𝑉2 na entrada IN 2. Abrimos a chave Ch, e obtemos a relação 𝑉𝐴 = 𝑚𝑉2, cuja
declividade determinará o fator 𝑚 que converte as leituras de 𝐼𝑠 × 𝑉2 para 𝐼𝑠 × 𝑉𝐴.
Observamos que o gráfico satura porque 𝑉𝐴 ultrapassa 30 V, mas isso não afeta a
declividade da reta que se obtém até esse limite. Repetimos o procedimento de
calibração acima para três outros valores de 𝑉𝑆, em torno de 1,0, 1,5 e 2,0 V.
Após a calibração fechamos a chave Ch, reduza a tensão 𝑉𝐴 para zero e reajuste
𝑉𝑠 igual ao primeiro valor utilizado na calibração (~0,5 𝑉). Mantenha um voltímetro
registrando o valor de 𝑉𝐴 durante o experimento.
Para obter a curva Corrente×tensão (𝐼𝑠 × 𝑉𝐴) no tubo de Franck-Hertz utilizamos o
programa Measure da PHYWE, iniciando o programa e selecionando a opção
Universal writer no item Gauge na barra de ferramentas; Para iniciar uma nova série
de medidas, escolhemos a opção File e depois New measurement.
Para iniciar as medidas clicamos em Continue, e as tensões 𝑉1 e 𝑉2 podem ser
observadas nas janelas Digital display 1 e Digital display 2, respectivamente;
Clicamos em Start Measurement para iniciar as medidas de 𝑉1 e 𝑉2;
Colocamos a tensão 𝑉𝐴~50𝑉. Abrimos a chave Ch e acompanhamos a evolução
das medidas. Para salvar as medidas basta ir na opção Meusurement, Export Data,
Save to file e Export as number.

3. Análise e Discussão dos Resultados

3.1 Calibração
A curva obtida tem o comportamento dado segundo a figura abaixo.

Fig. 8: Comportamento da curva de calibração para o eixo y representando VA e o


eixo x representando V2.

Utilizando os dados obtidos pelo software da Phywe, marca que elaborou o setup
experimental usado para realizar o experimento de Franck-Hertz para realizar a
regressão linear através do programa SciDAVis, obtendo a seguinte comportamento
para cada arquivo de pontos experimentais dados na Tabela 1.
Tabela 1: Relação entre o coeficiente angular da reta Va x V2 para cada valor de Vs
usado.

𝑉𝐴 𝑥 𝑉2 Coeficiente angular(m)

Vs= 0500 mV 2,1903 ± 0,0004

Vs= 1000 mV 2,1880 ± 0,0005

Vs= 1500 mV 2,1897 ± 0,0005

Vs= 2000 mV 2,1886 ± 0,0004

Portanto, temos através da calibração que:

𝑉𝐴 = α𝑉2 = (𝑚)𝑉2

para cada valor respectivo de Vs.

Os valores medidos de 𝐼𝑆 (calculados de acordo com a escala empregada no amplificador

de corrente contínua) e os novos valores de 𝑉𝐴 (obtidos a partir da relação determinada

acima, para cada valor de Vs), foram utilizados para plotar os gráficos a seguir para cada
valor de temperatura, de acordo com o valor de Vs.
3.2 Curvas 𝐼𝑆 X 𝑉𝐴

3.2.1 Temperatura 169º

Gráfico 1: 𝐼 x 𝑉 T169ºC - Vr1000mV- Escala10nA


𝑆 𝐴

Gráfico 2: 𝐼 x 𝑉 - T169ºC - Vr1500mV- Escala10nA


𝑆 𝐴
Gráfico 3: 𝐼 x 𝑉 - T169ºC - Vr2000mV- Escala10nA
𝑆 𝐴

Utilizando o software da Phywe para cada tensão de retardo e temperatura foi adquirido um
conjunto de dados assim, importando-os para a ferramenta Origin e usando a função que
permite localizar um ponto específico dos dados foi selecionado o ponto aproximado que
máximo e mínimo para cada configuração dado pela Tabela 2 que se segue.

Tabela 2: Pontos de máximo e mínimo para o experimento de Franck-Hertz - 169ºC

Temperatura 169ºC

Tensão de retardo Picos Coordenadas x da Coordenadas y da


(mV) curva (mV) curva (mV)

19,40756 0,84

Máx. 24,89944 1,98

30,61012 4,26

1000 36,38644 8,56

21,13608 0,69

27,19684 1,43
Mín.
32,9294 2,82

38,70572 5,64
13,773213 0,56

19,291257 1,83
Máx.
24,896889 4,52

1500 30,809079 9,71

15,919119 0,48

21,480957 1,22
Mín.
27,349353 2,58

33,086367 5,15

13,700636 0,62

19,303452 1,84
Máx.
25,015698 4,47

2000 30,74983 9,52

16,08621 0,48

Mín. 21,66714 1,07

27,46693 2,13

33,26672 4,14

Subtraindo a coordenada x de cada pico em relação ao pico seguinte e tirando uma média
simples obtemos o seguinte quadro.

Podemos concluir que, numa mesma temperatura, os valores no eixo X que representam 𝑉𝐴

apresentam um mesmo intervalo regular entre máximos e mínimos sucessivos, mesmo


sendo submetido uma tensão de retardo diferente. Os valores em Y que representam 𝐼𝑆

tiveram sua intensidade alterada, de forma em que o pico fosse mais ou menos largo,
porém com máximo ou mínimo na mesma posição com respeito ao eixo de 𝑉𝐴. As médias

se igualam e notamos que a tensão de aceleração não altera o valor de 𝑉𝐴.


3.2.2 Temperatura 183º

Gráfico 4: 𝐼 x 𝑉 - T183ºC - Vr500mV- Escala10nA


𝑆 𝐴

Gráfico 5: 𝐼 x 𝑉 - T183ºC - Vr1000mV- Escala10nA


𝑆 𝐴
Gráfico 6: 𝐼 x 𝑉 - T183ºC - Vr1500mV- Escala10nA
𝑆 𝐴

Gráfico 7: 𝐼 x 𝑉 - T183ºC - Vr2000mV- Escala10nA


𝑆 𝐴
Utilizando o software da Phywe para cada tensão de retardo e temperatura foi adquirido um
conjunto de dados assim, importando-os para a ferramenta Origin e usando a função que
permite localizar um ponto específico dos dados foi selecionado o ponto aproximado que
máximo e mínimo para cada configuração dado pela Tabela 3 que se segue.

Tabela 3: Pontos de máximo e mínimo para o experimento de Franck-Hertz - 183ºC

Temperatura 183ºC

Tensão de retardo Picos Coordenadas x da Coordenadas y da


(mV) curva (mV) curva (mV)

24,82 0,95

Máx. 30,42 1,97

36,00 3,83

500 41,60 6,61

27,34 0,53

33,11 0,86
Mín.
38,52 1,25

44,06 1,76

24,88 1,29

30,41 2,56
Máx.
35,86 4,64

1000 41,66 7,99

27,34 0,53

32,65 0,88
Mín.
38,71 1,27

43,99 1,77

25,03 1,15

30,50 2,40
1500 Máx.
35,98 4,62
41,58 7,74

27,42 0,53

1500 Mín. 32,93 0,88

38,19 1,25

44,06 1,78

24,95 0,96

30,73 1,94
Máx.
35,83 3,76

2000 41,80 6,67

27,47 0,53

Mín. 32,85 0,85

38,72 1,27

44,19 1,77

Vemos nesses gráficos que em alguns momentos a corrente decresce, pois, muitos elétrons
perdem energia devido a colisões inelásticas com os átomos de mercúrio no interior do
tubo, não podendo vencer o potencial retardador. Podemos também observar que os picos
da curva são espaçados por intervalos regulares, indicando que somente uma certa
quantidade de energia pode ser perdida pelos átomos de mercúrio. Vemos também que
ocorre um leve deslocamento dos picos e vales para diferentes temperaturas. Logo,
concluímos que a diminuição da tensão de desaceleração nos leva a um comportamento
mais próximo do clássico pois as oscilações na corrente se enfraquecem. Mas o mesmo
não se pode concluir caso aumentemos a temperatura, pois este apenas causa uma
diminuição na corrente medida.
CONCLUSÃO

Através desse experimento foi possível registrar a corrente eletrônica em um tubo


de Franck-Hertz, preenchido com vapor de Hg (quando aquecido), em função da
tensão de aceleração, para diferentes temperaturas e para diferentes valores da
tensão de retardo. Em vista do que já foi discutido neste relatório, os picos para
diferentes tensões de retardo, dentro do intervalo de incerteza, aconteceram em
uma mesma posição média tanto para os pontos de máximo quanto os de mínimo,
o que indica que a tensão de retardo não influencia na ocorrência dos picos devido
a excitação dos elétrons de Hg.
Para diferentes temperaturas, 169 º C e 183 °C, também não houve alteração no
intervalo de ocorrência dos picos, mas houve um alargamento dos picos e os
mínimos foram deslocados enquanto os máximos permaneceram na mesma
posição em relação ao eixo x que corresponde a tensão com a mudança de Vs para
os dados com a maior temperatura e a corrente Is (eixo y) diminui com o aumento
de Vs.

REFERÊNCIAS

[1]NUSSENZVEIG, H. Moysés. Curso de Física Básica: Ótica, Relatividade, Física


Quântica. vol. 4, 1ª ed. Editora Bluncher, São Paulo, 1998. p. 246-263.

[2]TIPLER, P. A. e LLEWELLYN, R. A. Física Moderna. 6ª ed. LTC, São Paulo, 2014. p.


123-137.

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