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ELETROMAGNETISMO

Introdução

Esta prática visa permitir que os alunos comprovem experimentalmente a


relação entre eletricidade e magnetismo em duas situações simples. A primeira,
é mensuração do campo magnético gerado no interior de um solenoide longo
pela passagem de corrente, e os resultados experimentais serão comparados
com previsões teóricas derivadas da pela Lei de Ampère. A segunda situação é
a comprovação experimental da indução elétrica devido a variação de um campo
magnético, permitindo a compreensão do funcionamento dos transformadores.

LEI DE AMPÈRE

A lei de Ampère é análoga à lei de Gauss para o campo elétrico. Essa lei
foi proposta originalmente por André-Marie Ampère no século XVIII e diz que “a
circulação do campo magnético ao longo de um percurso fechado é igual à
permeabilidade magnética no vácuo vezes a corrente total que atravessa a área
envolvida”, dada pela seguinte integral de linha:

∮ 𝐵. 𝑑𝑙 = 𝜇0 𝐼 (1)

A lei de Ampère é útil quando envolve situações com simetria que


permitem o cálculo da integral, tais como o cálculo do campo de um fio condutor
longo e retilíneo, campo no interior de um cilindro condutor, campo de um
solenoide linear, campo de um solenoide toroidal, entre outros.
Um solenoide é constituído por um enrolamento como uma hélice
cilíndrica com as espiras muito próximas (
Figura 1). Todas as espiras conduzem a mesma corrente I, e o campo
magnético total B em cada ponto é a soma vetorial dos campos produzidos pelas
espiras individuais. No seu interior, os campos se somam e o campo total é
aproximadamente constante e uniforme. No seu exterior, os campos se
cancelam, e o campo é aproximadamente nulo.

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Figura 1: Campo magnético ao longo do eixo de um solenoide, cujo
comprimento é igual a quatro vezes o seu raio (Halliday; Sears & Zemansky).

De acordo com a lei de Ampère, o módulo do campo magnético para um


solenoide longo é dado por:

𝑁
𝐵 = 𝜇0 𝐼 (2)
𝐿

onde µ0 = permeabilidade magnética do vácuo = 4.10-7 (T.m/A), I é a corrente


elétrica que passa pelo solenoide e N é o número de espiras em um dado
comprimento L.
Entretanto, o campo só é uniforme e constante na porção central do
solenoide, pois os solenoides reais têm comprimento limitado e os campos
próximos os limites do solenoide sofrem um efeito de borda, região na qual o
campo cai do valor do campo magnético no interior do solenoide até o campo
magnético nulo no exterior do solenoide. O comportamento do campo magnético
ao longo de um solenoide, incluindo a região de bordas, é representado na
Figura 2 a seguir. Nesta figura, o valor do campo magnético em cada ponto foi
dividido pelo valor do campo máximo (B), no centro do solenoide (B0), e o
comprimento do solenoide pode ser estimado pela largura a meia altura,
conforme indicado no gráfico.

Figura 2: Gráfico da razão entre o campo magnético (B) e o campo magnético


máximo (B0) no interior de um solenoide.

TRANSFORMADORES

Por volta do século XIX, o físico britânico Michael Faraday estabeleceu o


fenômeno da indução magnética. Uma das experiências de Faraday consistiu
em induzir uma corrente numa bobina a partir da variação de corrente em outra
bobina. A variação de fluxo magnético da primeira bobina atua sobre a segunda
bobina, gerando corrente. Dessa forma, descobriu-se que um campo magnético
pode induzir uma corrente num fio, mas isso somente ocorre quando o campo
magnético é variável. Assim, as forças eletromotrizes (fems) e as correntes
provocadas por um campo magnético variável são chamadas de fems induzidas

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e correntes induzidas e o processo todo é conhecido como indução magnética.
Todas as correntes e fems induzidas possuem a mesma frequência da fonte de
tensão.
O transformador é um dispositivo que permite converter um valor de
tensão para outro. O seu funcionamento está baseado na indução magnética que
uma fem alternada num circuito provoca num circuito próximo, devido a
indutância mútua dos dois circuitos.
O transformador é constituído de dois enrolamentos: um enrolamento
primário que recebe a tensão de entrada; e um enrolamento secundário cuja
saída fornece a tensão transformada (Figura 3).
Fonte de corrente
alternada Núcleo de ferro
Ip

Vp

Np Ns

Vs
Enrolamento R
primário


Enrolamento secundário

Figura 3: Esquema de um transformador (Sears & Zemansky).

Supondo que todas as linhas de campo magnético estejam confinadas no


núcleo de ferro e desprezando a resistência dos enrolamentos, tem-se que em
todos os instantes o fluxo magnético  é o mesmo em todas as espiras do
enrolamento primário e do secundário. Assim, sabendo-se que o fluxo magnético
varia, bem como as correntes nas duas bobinas, as fems são dadas por:

𝑑𝛷
𝜀𝑝 = −𝑁𝑝 (3)
𝑑𝑡

𝑑𝛷
𝜀𝑠 = −𝑁𝑠 (4)
𝑑𝑡

onde Np é o número de espiras do enrolamento primário e Ns é o número de


espiras do secundário. O fluxo magnético por espira é o mesmo no primário e no
secundário, de forma que a fem induzida por espira é a mesma nos dois
enrolamentos. Então, as equações acima são reduzidas a:

𝜀𝑠 𝑁𝑠
= (5)
𝜀𝑝 𝑁𝑝

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Sabendo-se que p e s oscilam com a mesma frequência da fonte
alternada, a Equação (5) também fornece a razão entre as amplitudes ou entre
os valores eficazes de cada fem induzida. Como foi desprezada a resistência dos
enrolamentos, cada fem deve ser igual à respectiva tensão do primário (Vp) e do
secundário (Vs). Assim:

𝑉𝑠 𝑁𝑠
= (6)
𝑉𝑝 𝑁𝑝

Quando Ns > Np, tem-se que Vs > Vp e o transformador irá elevar a tensão
de saída. Se Ns < Np, tem-se que Vs < Vp e o transformador irá diminuir a tensão
na saída do secundário.
Para o consumo doméstico de energia elétrica, são usados com
frequência o transformador que reduz a tensão.

Atividade experimental

1. Objetivos

O objetivo desta atividade prática é contribuir para a compreensão do


eletromagnetismo por meio da observação do campo magnético gerado pela
corrente que atravessa um solenoide e da mensuração da indução elétrica a
partir de um campo magnético variável em um transformador.

2. Materiais e Métodos

Os materiais necessários para realização deste experimento são:


➢ Fonte de tensão elétrica contínua;
➢ Cabos;
➢ Teslâmetro;
➢ Solenoide com 300 espiras;
➢ Trena;
➢ Suportes diversos;
➢ Fonte de tensão senoidal (em 60 Hz) de 0 a 25 V;
➢ Bobinas diversas;
➢ Núcleo de ferro, em forma de U com suporte e presilha;
➢ Barra de ferro;
➢ 2 voltímetros;

Roteiro Experimental:
1ª Parte: Campo magnético no interior de um solenoide longo
i. Meça o comprimento do solenoide e determine seu centro;
ii. Insira a haste do teslâmetro no interior do solenoide até que a extremidade
coincida com o centro do solenoide. Essa será a posição x = 0;

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iii. Meça o valor campo magnético no centro do solenoide para 10 valores de
corrente distintos, menores do que 1,5 A, para determinar o valor de
corrente. Use o display da fonte como indicador da corrente.
iv. Com o teslâmetro posicionado inicialmente na posição x = 0, ligue a fonte
de tensão e ajuste a corrente para 1 A;
v. Meça o valor do campo magnético na posição inicial e varie a posição da
extremidade da haste com relação ao centro do solenoide, medindo o
campo em cada posição, até que tenha sido possível obter os dados
necessários para construir um gráfico como o da Figura 2.

2ª Parte: Transformadores
i. Monte um circuito como esquematizado na Figura 4, usando uma bobina
de 900 voltas no primário e uma de 300 no secundário;

Figura 4: Circuito para montagem de transformadores.

ii. Meça a tensão induzida no secundário (s), após a aplicação de tensão no


primário (p). Faça as medidas para dez valores de tensão, atentando para
não ultrapassar 10 V; (Dependência da tensão induzida no secundário
com a tensão no primário em um transformador)
iii. Mantendo o número de espiras constantes no primário (Np = 300 voltas ou
600 voltas – escolha o que tiver um par na sua bancada) e a tensão
aplicada de 5,0 V, faça medidas das tensões induzidas no secundário, em
bobinas com número de espiras entre 75 e 600 voltas; ( Dependência da
tensão induzida no secundário com o seu número de espiras)
iv. Mantendo agora o número de espiras constantes no secundário (Ns = 300
voltas ou 600 voltas – escolha o que tiver um par na sua bancada) e a
tensão aplicada no primário de 5,0 V, faça medidas das tensões induzidas
no secundário utilizando, no primário, bobinas com número de espiras
entre 75 e 600 voltas. (Dependência da tensão induzida no secundário
com o número de espiras do primário)

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3. Tabela de Dados

Na primeira parte, embora os dados sejam obtidos de forma automática,


os alunos devem montar tabelas semelhantes às apresentadas a seguir para
mostrar os dados no relatório.

Tabela 1: Valores de campos magnéticos no centro do solenoide para


diferentes correntes.
Campo magnético central (x=0)
Corrente sbcorrente B sbcampo
(A) (A) (mT) (mT)
i1
i2
i3
i4
i5
i6
i7
i8
i9
i 10

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Tabela 2: Valores de campos magnéticos ao longo do eixo central do solenoide.
Campo magnético ao longo do eixo x
Corrente =
Deslocamento direção positiva Deslocamento direção negativa
Posição B sb Posição B sb
(cm) (mT) (mT) (cm) (mT) (mT)
0,0 0,0
1,0 -1,0
2,0 -2,0
3,0 -3,0
4,0 -4,0
5,0 -5,0
6,0 -6,0
7,0 -7,0
7,5 -7,5
8,0 -8,0
8,5 -8,5
9,0 -9,0
9,5 -9,5
10,0 -10,0
10,5 -10,5
11,0 -11,0
11,5 -11,5
12,0 -12,0
12,5 -12,5
13,0 -13,0
13,5 -13,5
14,0 -14,0

Tabela 3: Medidas de tensão induzida no secundário (300 voltas), para


diferentes tensões aplicadas no primário (900 voltas).

Variação de  s
p p s
sb sb
Sugerida Medida Medida
(V) (V) (V) (V) (V)
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0

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Tabela 4: Medidas de tensão induzida em secundários com diferentes números de espiras,
utilizando um primário fixo e 5,0 V de tensão aplicada.
Variação do Número de Espiras do Secundário
 p= 5 V; np = _________
p s
ns sb sb
Medida Medida
(V) (V) (V) (V)
75
150
300
600
900
Tabela 5: Medidas de tensão
1200induzida no secundário fixo, utilizando primários com diferentes
1800 de espiras e 5 V de tensão aplicada.
números
Variação do Número de Espiras do Primário
 p= 5 V; ns = ____________
p s
np sb sb
Medida Medida
(V) (V) (V) (V)
75
150
300
600
900
1200
1800
4. Discussão

1ª Parte:
1. Construa o gráfico de B versus I e determine μ0 com incerteza (propagada)
a partir do coeficiente angular da reta, utilizando o valor de L determinado
com a régua e sabendo que o número de espiras do solenoide utilizado
era 300.
2. Compare o valor do item anterior com a permeabilidade magnética do
vácuo (4.10-7 T.m/A), mais uma vez determinando um erro relativo em
percentual.
3. Construa o gráfico de B/B0 versus a posição e verifique sua similaridade
com o gráfico da Figura 2. Note que B0 é o campo em x = 0 (valor máximo).
4. Determine o comprimento L do solenoide a partir do gráfico e compare
com o valor medido em sala.

2ª Parte:

1ª Parte: Dependência da tensão induzida no secundário com a tensão no


primário em um transformador
1. Construa três gráficos:

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a. Tabela 3: s versus p
b. Tabela 4: s versus Ns
c. Tabela 5: s versus Np
2. Analise o comportamento das curvas e trace, em cada gráfico, um ajuste
condizente com esperado teoricamente;
3. Determine os dados da equação ajustada e compare os valores obtidos
experimentalmente com os valores previstos pela teoria.

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