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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIAS


DEPARTAMENTO DE FÍSICA – LABORATÓRIO DE ESTRUTURA DA
MATÉRIA 2 – 2023.1

DATA DO RELATÓRIO: 08/08/2023

TÍTULO DO EXPERIMENTO:
Efeito Termiônico

DATA DO(S) EXPERIMENTO(S): 28/07/2023


TURMA: 03

EQUIPE:
Alecx Jhonathas Da Conceição Santos
Isadora Caetano De Almeida

Jadson Ferreira Gois

Renato Willy Vieira De Oliveira

William Alves de Oliveira

PROFESSOR: José Joatan Rodrigues Júnior


1. Introdução

Quando a superfície de um metal e aquecida, a partir de uma certa


temperatura, ocorre a liberação de elétrons desta superfície. Esse fenômeno
físico é conhecido como efeito termiônico, foi descoberto por Frederick Guthrie
em 1873 e redescoberto por Thomas Edison em 1880, que o usou para criar o
diodo. O efeito termiônico pode ser facilmente explicado pelo modelo de
estrutura debandas eletrônicas e a estatística de Fermi.

A configuração eletrônica de um solido é determinada pela sua estrutura


de banda, a qual estabelece a faixa de níveis de energia que os elétrons ocupam
e a sua distribuição. Sólidos são formados por redes cristalinas de átomos que
se agrupam seguindo uma certa estrutura, por isso, quando muitos átomos se
juntam para formar um sólido, ocorre a sobreposição dos seus orbitais atômicos
com os orbitais dos átomos próximos. Desta sobreposição decorre a formação
de bandas eletrônicas, as quais contém os níveis de energia que podem ser
ocupados pelos elétrons dos átomos de uma rede cristalina. A forma como os
elétrons se distribui nas bandas eletrônicas de um material determina a sua
estrutura de banda, a qual se relaciona diretamente com a sua condutividade.

Em materiais isolantes, os níveis de energia são divididos entre a banda


de valência e a banda de condução, de forma que, apenas elétrons na banda de
condução são capazes de conduzir eletricidade. Entre essas duas bandas não
há nenhum nível de energia possível de ser ocupado por um elétron, como
̃ o proibida define a banda de gap do material,
mostrado na Figura 1. Essa regi a
e a energia necessária para que um elétron da banda de valência atravesse para
a banda de condução é chamada energia de gap do material.
Figura 1: Estrutura de banda de um material

(Créditos da imagem: https://www.researchgate.net/profile/Asad-


Fayyaz/publication/326392057/figure/fig1/AS:648201283579915@153155 4637839/Energy-
band-gap-diagram.png)

Em materiais condutores, a banda de valência acaba por se sobrepor à


banda de condução, fazendo com que a banda de gap desapareça. Dessa forma,
a condução de eletricidade é facilitada, pois não existe nenhuma região de gap.
Ao invés disso, existe apenas uma única banda, na qual os níveis de energia
mais baixos são ocupados primeiro. À temperatura de 0 K, o nível de energia
mais alto a ser ocupado é chamado nível de Fermi, e a sua energia
correspondente é definida como energia de Fermi. Elétrons que se encontram
abaixo do nível de Fermi não conduzem eletricidade. O efeito termiônico ocorre
quando, ao aumentar a temperatura do material, a energia térmica fornecida faz
com que alguns elétrons sejam promovidos para níveis de energia maiores do
que o nível de Fermi e, assim, se tornem condutores de eletricidade. A Figura 2
mostra a função densidade de probabilidade em função da energia para
diferentes temperaturas de um material condutor. É possível perceber que, para
altas temperaturas, existe uma maior probabilidade de serem encontrados
elétrons com energias acima da energia de Fermi.
Figura 2: Distribuição dos níveis de energia de um metal em diferentes
temperaturas

(Créditos da imagem: https://www.elprocus.com/fermi-dirac-distribution-energy-band-diagram-


and-boltzmann-approximation/)

Se pudermos coletar e medir a corrente termiônica emitida por um


filamento aquecido, será possível, portanto, fazer uma análise quantitativa dos
elétrons emitidos termionicamente em função da temperatura do metal.

A Equação 1 relaciona resistência de um metal com a sua temperatura.

R = R0[1 + α(T − T0)] (1)

Onde R0 corresponde à resistência medida à temperatura ambiente T0. A


quantidade α é o coeficiente de temperatura do material, e tem o valor de 4,5 x
10-3 K-1 para o filamento de tungstênio.

Seja J o valor de densidade de corrente emitida por um certo material, T


a temperatura do filamento em Kelvin. A Lei de Richardson-Dushman relaciona
J e T através da Equação Richardson.

𝜙

𝐽 = 𝐴𝑇 2 𝑒 𝐾𝐵 𝑇
(2)
Onde k = 1,371 x 10-23 J/K é a constante de Boltzmann, $\phi$ é a função
trabalho do material e A = 1,20173 x 106 é a constante de Richardson.

Para coletar os elétrons que saem do filamento aquecido, usamos uma


superfície de ao redor dele. Podemos aplicar uma voltagem entre o filamento e
a superfície, fazendo com que os elétrons sejam puxados para longe do
filamento. Existe uma lei que mostra como a corrente de elétrons depende da
voltagem de aceleração. Ela é chamada lei de Child e é expressa na Equação
Child.

3
𝐽 = 𝐵. 𝑉 2 (3)

Onde B é uma constante relacionada à geometria dos eletrodos.

2. Objetivo

Estudar o efeito termiônico verificando a validade das leis de Richardson-


Dushman e de Child, e determinar a função trabalho para o tungstênio.

3. Materiais utilizados

I. Lâmpada incandescente com dois filamentos


II. Fontes de tensão variáveis: de 0 a 12V e de 0 a 180V
III. Multímetros
IV. Placa para montagem do circuito
V. Cabos diversos

4. Metodologia

Para realização do experimento foi usado uma fonte de tensão,


multímetros e uma lâmpada incandescente com 2 filamentos. Primeiramente
montamos o circuito, como mostrado na imagem 1, com corrente contínua para
aquecer o filamento, em seguida medimos os valores da voltagem aplicada
variando a tensão no filamento, iniciamos com a voltagem de 2 volts e mantemos
a voltagem de aceleração fixa para os valores de 50, 80, 100, 150 e 180V, em
seguida repetimos o procedimento, porém agora variando a tensão do filamento
até chegar em 10 volts. Obtivemos diversos valores de densidade em função da
temperatura do filamento.

Após isso para verificação da lei de Shield colocamos 4 valores distintos


na tensão do filamento sendo elas respectivamente iguais a 4, 6, 8 e 10 para
obtenção das curvas termiônicas versus voltagem aceleradora para isso
utilizamos valores de voltagem aceleradora de 50 até 180 volts variando de 10
em 10 volts obtendo valores para cada voltagem.

Figura 3: circuito montado


Créditos da imagem: os altores

5. Resultados e Discussão

É sabido que a resistência de um material é alterada conforme a sua


temperatura através da seguinte equação:

𝑅 = 𝑅0 [1 + 𝛼(𝑇 − 𝑇0 )] (1)

Onde 𝑅0 = 1,7 Ω, 𝑇0 = 298 K e α = 4,5 10−3 𝐾 −1 . Podemos obter o valor da


resistência 𝑅 através dos resultados colhidos experimentalmente e fazendo uso
da Lei de Ohm:

𝑉
𝑅=
𝐼
Onde V é a tensão no filamento e I é a corrente no filamento.

Isolando T na equação 1 temos o valor da temperatura no filamento para


cada medida de corrente e tensão:

𝑅 −1
𝑇= 𝛼 + (𝑇0 − 𝛼 −1 )
𝑅0

Na tabela abaixo é apresentado todos os valores medidos da corrente e


tensão no filamento, além da respectiva resistência e temperatura.

Tensão (V) Corrente (A) Resistência (Ω) Temperatura (K)


2,03 0,19 10,68 1385,00
3,97 0,25 15,88 2155,37
6,04 0,29 20,82 2887,37
8,00 0,34 23,52 3287,22
9,99 0,37 27,00 3802,77
12,00 0,41 29,26 4137,59

Em posse das temperaturas e da corrente termiônica podemos fazer uso


da equação de Richardson-Dushman e construir os gráficos do ln(J/T^2) x 1/T:

𝜙

𝐽 = 𝐴𝑇 2 𝑒 𝐾𝐵 𝑇

Aplicando o logaritmo neperiano podemos linearizar o gráfico e ficarmos


com:

𝐽 𝜙
ln (𝑇 2) = − + ln (𝐴) (2)
𝐾𝐵 𝑇

Os gráficos para cada valor da tensão de aceleração são expostos logo


abaixo.
Gráficos 1: ln(I/T^2) x 1/T para cada valor de tensão de aceleração.
Créditos da imagem: os altores

Observe que, de acordo com a equação 2, é possível extrair do gráfico a


𝜙
informação da função trabalho 𝜙. Como 𝑎 = − podemos multiplicar a por
𝐾𝐵

−𝐾𝐵 e obtermos 𝜙. Então, a partir dos resultados obtidos os valores para a


função trabalho são indicados abaixo:

Tensão de aceleração Função trabalho 𝜙 (eV) Erro (%)


(V)
50 1,49 67
80 2,39 47
100 2,34 48
150 2,83 37
180 3,24 28

Note que os erros em relação ao valor teórico foram altos, porém dadas
as circunstâncias nas quais foram feitas o experimento, são aceitáveis.

Algo que é importante salientar é que, apesar dos gráficos mostrarem que
a lei de Richardson-Dushman é obedecida, existem valores de temperatura que
fazem com que o comportamento não seja o esperado. Isto acontece por conta
da relação direta entre temperatura e fluxo de elétrons, i.e., quando aumentamos
a temperatura, o fluxo de elétrons aumenta até determinado ponto “crítico”, onde
após este ponto há a estabilização do fluxo.

No tocante ao uso do Tungstênio no experimento de efeito fotoelétrico


podemos afirmar que não é interessante, uma vez que a função trabalho deste
material é de 4,2 eV, ou seja, para que ocorra a retirada de elétrons da superfície
deste material é necessário fornecer no mínimo 4,2 eV de energia. Todavia, a
energia do fóton de luz visível com maior valor pode chegar a cerca de 3,1 eV,
não sendo assim capaz de provocar o efeito fotoelétrico. Como resultado disto
observa-se que o uso da luz ambiente em nada interfere no resultado do
experimento e assim é desnecessário fazer o experimento com a luz apagada.

Através da abordagem exposta nos Gráficos 2 ln(I) em função de ln(V)


utilizando 6, 8 e 10 Volts e sabendo a equação que expressa B, a constante que
relaciona a geometria dos eletrodos, em termos de V e J, tal qual

3
𝐽 = 𝐵. 𝑉 2

Sendo J = I/A, temos, mais precisamente, um resultado para (A x B), pois


não foi possível a medição da área do fio. Os valores obtidos fazendo algumas
manipulações para os valores de (A x B) foram: 5,25 x 10-9 para 6V; 4,03 x 10-9
para 8V; 1,03 x 10-9 para 10V. Observamos que (A x B) apresenta pontos de
divergências em seus valores obtidos, o que não condiz com a afirmação teórica
de (A x B) como uma constante. Tal fato era esperado visto a imprecisão
experimental realizada.
Gráficos 2: ln(I) versus ln(V) para encontrar a contante B
Créditos da imagem: os altores

No Gráfico 3 temos a corrente versus a tensão aceleradora é notório que


a corrente no anodo permanece constante, isso é uma característica que
chamamos de corrente de saturação, ocorre para a tensão no filamento fixa em
6V. Porém para os valores de 8V e 10V não é notório essa corrente de saturação,
e para obtermos esses valores que mostrem que saturou é preciso aumentar
muito a tensão de aceleração, mas não é possível por conta do limite que a
lâmpada aguentaria.
Gráfico 3: corrente para cada valor de tensão de aceleração.
Créditos da imagem: os altores

6. Conclusão
Através da abordagem experimental do efeito termiônico, na qual,
primeiro foram obtidos valores de tensão e corrente para conseguir o valor da
resistência R, inicialmente averiguamos a expressão que relaciona R e, em
seguida, obtivemos a equação que relaciona o valor da temperatura no filamento
de cada medida. Assim, foi possível estudar o princípio da lei de Richardson-
Dushman, ao qual encontramos valores que, quando comparados aos valores
teóricos, apresentam erros altos, contudo, aceitáveis.

Como analisado, o tungstênio não possui aspectos interessantes para o


estudo do efeito fotoelétrico, uma vez que possui valores de função trabalho
maior que o maior valor de energia de fóton de luz visível, 3,1 eV.

Foi relatada a lei de Child através dos valores de densidade de corrente,


J=i/A e tensão V. Constatamos como resultado uma discordância da lei ao valor
de B como constante.

Por fim, no que se refere ao estudo do efeito termiônico geral, conclui-se


que os seus fenômenos foram observados e devidamente discutidos.

7. Referencias

[1] SILVA, Vanderlei Alves Santos. Diodos.


[2] SILVA, Ronaldo Santos. Guia de laboratório de estrutura da matéria 2. São
Cristóvão, SE.2022.
[3] WENDLING, Marcelo. Diodo Semicondutor. 2011.
[4] FERNANDES, Jos e ́ M. R. et al. Modelagem e simula ̧c a
̃ o de diodos
emissores de luz (LED’s). Goiânia, GO. 2006.
[5] Kittel, Charles, Introdução à Física do Estado Solido. LTC editora S/A. Rio
de Janeiro, 2006. 6ª. Ediçao.9

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