Você está na página 1de 4

DIG-FIS654 - PA3 - FISICA EXPERIMENTAL AII

Efeito fotoelétrico

Instituto de Fı́sica, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

29 de novembro de 2022

I. Introdução equação do efeito fotoelétrico, então, é


h f = Φo + Kmax (1)
Heinrich Hertz descobriu a partir da experiência que
uma descarga elétrica entre dois eletrodos ocorre de ma- A partir de um dispositivo composto por uma ampola
neira mais fácil ao incidir sobre um deles luz ultravioleta. sob vácuo que contém uma placa emissora (catodo) e uma
Lenard, por sua vez, mostrou que a luz ultravioleta facilita placa coletora (anodo), conforme a figura 2, é possı́vel
a descarga a partir da emissão de elétrons da superfı́cie analisar de forma quantitativa o efeito fotoelétrico.
do catodo. A emissão de elétrons de uma superfı́cie, de-
vida à incidência de luz sobre essa superfı́cie, portanto, é
conhecida como efeito fotoelétrico.
Por meio da incidência da luz sobre placas metálicas
contidas dentro de ampolas sob vácuo, obteve-se resul-
tados quantitativos sobre o efeito fotoelétrico, o que não
puderam ser explicados a partir do modelo ondulatório
da luz. Com base na quantização da energia de um osci-
lador proposta por Planck, Einstein resolveu o problema
considerando que a energia de um fóton de frequência f
Figura 2: Ao incidir sobre o catodo de uma ampola sob vácuo, elétrons
é igual à h f , tal que h é a constante de Planck. Um fóton,
são ejetados da superfı́cie do material e acelerados em direção
quando é incidido sobre um material transfere energia
ao anodo, dando origem a uma corrente elétrica no circuito.
para um elétron. Parte do quantum da energia do fóton
remove o elétron da superfı́cie do material e o restante é
Quando iluminado, o catodo emite elétrons que atin-
convertido em energia cinética Kmax do elétron, conforme
gem o anodo e produzem corrente fotoelétrica no circuito.
a figura 1.
Entretanto, ao aplicar uma diferença de potencial reversa
entre as placas, a corrente pode ser anulada quando o
potencial reverso aplicado for igual à energia cinética
máxima dos elétrons. O potencial Vo necessário para frear
os elétrons mais energéticos emitidos, conhecido como
potencial de corte, é dado por

Kmax = eVo (2)


Logo, a partir da equação (1), tem-se
h Φo
Figura 1: Representação da interação de um fóton com um elétron da f−
Vo = (3)
e e
superfı́cie de um material.
O gráfico da tensão de corte em função da frequência
da luz que incide sobre o catodo é mostrada na figura 3,
A função de trabalho Φo do material corresponde à onde a inclinação corresponde à h/e e intercepta o eixo Vo
energia mı́nima para causar a emissão de um elétron. A em Φ/e.

1
DIG-FIS654 - PA3 - FISICA EXPERIMENTAL AII

Figura 4: Circuito utilizado na montagem da Pasco para medir a tensão


Figura 3: Gráfico da tensão de corte em função da frequência da luz de carga do capacitor formado pelo catodo e anodo da válvula
emitida 1P39. A chave S é utilizada para descarregar o capacitor e
zerar a tensão de saı́da.

II. Objetivos A montagem experimental é ilustrada pela figura 5,


em que a luz emitida pela lâmpada de vapor de mercúrio
• Verificar a validade da equação do efeito fotoelétrico passa por um fenda, depois por uma lente e, em seguinte,
e determinar a razão h/e e a função trabalho do por uma rede de difração, que separa as linhas espectrais
material do catodo. de emissão do mercúrio, onde os comprimentos de onda
das cores estão na tabela 1.

III. Material

• Lâmpada de mercúrio;

• Rede de difração;

• Folhas de papel A4;

• Válvula fotodiodo e capacitor;

• Voltı́metro digital. Figura 5: Montagem para investigação do efeito fotoelétrico.

IV. Procedimentos Cor λ(nm)


Amarelo 578.2
Baseou-se a medição do potencial de corte no princı́pio Verde 546.1
de que o catodo e o anodo formam um capacitor que, por Azul 435.8
sua vez, é carregado pela corrente fotoelétrica. É possı́vel Violeta 404.7
determinar o potencial de corte quando o seu valor for Ultravioleta 365.5
igual à diferença de potencial nesse capacitor, onde a cor-
rente fotoelétrica se anula e a tensão entre o catodo e o Tabela 1: Linhas do espectro de emissão da lâmpada de mercúrio.
anodo se estabiliza.
Assim, fez-se o uso de um circuito de acordo com fi-
gura 4, em que o anodo da válvula fotodiodo é conectado A prática consiste em verificar a relação intrı́nseca en-
a um amplificador com alta impedância de entrada. A tre o potencial de corte e a frequência da luz, com base
tensão de corte é obtida medindo a tensão da saı́da do nas medições, e determinar a razão h/e, e analisar a de-
amplificador Vsaida , uma vez que são iguais. A chave S é pendência entre o potencial de corte com a intensidade da
ligada momentaneamente para descarregar o capacitor. luz para um comprimento de onda fixo.

2
DIG-FIS654 - PA3 - FISICA EXPERIMENTAL AII

Parte 1 - Potencial de corte em função do com-


primento de onda da luz
Inicialmente, alinhou-se a fonte de luz e a fenda de
forma que o feixe incidisse no centro da lente. Foi esco-
lhido o alinhamento e fixou-se a montagem nessa posição.
Em seguida, ajustou-se novamente a rede de difração e
a lente sobre o trilho a fim de obter as linhas espectrais
focalizadas sobre a janela na frente do fotodiodo. Assim,
mediu-se o potencial de corte para cada comprimento
de onda emitido pela lâmpada de mercúrio, girando a
base de forma que apenas a luz de uma determinada
frequência passasse pelas aberturas do anteparo e pelo
centro da janela do suporte do fotodiodo. Pressionando a
chave S, soltou-a até que a tensão captada pelo voltı́metro Figura 6: Gráfico da tensão de corte em função da frequência.
estabilizasse. Assim, mediu-se o potencial de corte.
Com o ajuste linear dos dados e de acordo com a
equação (3), a razão h/e corresponde à inclinação do
Parte 2 - Potencial de corte em função da inten- gráfico e a função trabalho Φo ao coeficiente linear. Logo:
sidade da luz
h
= (3.41 ± 0.06)10−15 J · s/C
Utilizou-se filtros de transmissão com densidade e
variável a fim de variar a intensidade luminosa, onde
cada filtro possui 20%, 40%, 60%, 80% e 100% de luz trans- Φo = (−1.1 ± 0.04) J
mitida. Ao colocar cada filtro na frente da linha espectral,
mediu-se o potencial de corte e o tempo para a tensão No entanto o valor esperado para a razão h/e:
retornar ao valor registrado para Vo . h
= 4.14J · s/C
e

V. Resultados e discussão É possı́vel observar que o resultado experimental diverge


bastante do resultado esperado, pois esperava-se uma
Nessa primeira parte do experimento, a luz emitida inclinação maior, o que pode ser resultado da frequência
pela lâmpada de mercúrio passava por uma rede de calculada para o feixe de luz incidente. Em todo caso, a
difração. Desse modo, com as linhas espectrais sobre ordem de grandeza encontra-se dentro do esperado.
a janela na frente do fotodiodo, mediu-se a tensão de corte Na segunda parte do experimento, mediu-se o tempo
Vo em função do comprimento de onda de cada linha. Por- necessário para atingir o potencial de corte em função da
tanto, tem-se a tabela abaixo, onde para cada comprimento porcentagem da intensidade da luz. Assim, obteve-se a
de onda da tabela 1 obteve-se sua frequência f : seguinte tabela:

intensidade de luz tensão V0 (V) tempo (s)


f (Hz) (1014 ) V0
20% 1263 41.11
8.21 0.714
40% 1280 31.45
7.41 0.798
50% 1289 29.50
6.88 1.299
80% 1290 23.14
5.49 1.480
100% 1290 17.94
5.19 1.725
Tabela 3: Dados coletados para a tensão de corte.
Tabela 2: Dados coletados para a tensão de corte.

Vale ressaltar que os dados da tabela foram obtidos


Dessa forma, com os dados da frequência e da tensão com o feixe violeta mais intenso. Portanto, com dados
de corte, obteve-se o seguinte gráfico: obtidos na tabela, pode-se observar que o tempo que o

3
DIG-FIS654 - PA3 - FISICA EXPERIMENTAL AII

capacitor leva para carregar aumenta consideravelmente


conforme a intensidade luminosa do feixe de luz incidente h
= 4.14J · s/C
varia, o que indica que quanto maior a intensidade da e
luz sobre o catodo do fotodiodo mais rapidamente ele é No entanto, o valor encontrado difere com o resultado
carregado. conhecido. Mesmo assim, com o experimento, foi possı́vel
estudar de forma satisfatória os fenômenos envolvidos.
VI. Conclusão
Referências
Nesse experimento estudou-se o efeito fotoelétrico,
onde através da medição direta da tensão de corte [1] Departamento de Fı́sica UFMG. Guia de Labo-
em função da frequência das linhas espectrais de uma ratório Fı́sica Experimental AIII.
lâmpada de mercúrio, obteve-se indiretamente o valor da [2] Fı́sica Quântica - Átomos, moléculas sólidos,
razão de h/e, a saber: núcleos e partı́culas, Eisberg Resnick - Cap. 1.

Você também pode gostar