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DIG-FIS654 - PA3 - FISICA EXPERIMENTAL AII

Espectroscopia

Instituto de Fı́sica, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

29 de novembro de 2022

I. Introdução oscilação de dipolos elétricos da substância, produzindo,


então, ondas eletromagnéticas de vários comprimentos
Cada substância possui um espectro de emissão único, de onda. Para átomos em um gás, é possı́vel fazê-los
que está associado aos átomos presentes no material e emitir luz ao submeter este a uma alta tensão, como nas
como eles interagem entre si. Uma consequência da re- lâmpadas de gás utilizadas neste trabalho, de modo que
levância dessas interações é, por exemplo, a distinção alguns de seus átomos serão ionizados e as partı́culas car-
entre os espectros de sólidos e de gases. Sabendo disso, é regadas resultantes desse processo se deslocam em direção
possı́vel estudar os espectros de vários materiais a fim de ao cátodo ou ânodo. Durante o processo de deslocamento,
compreender sua composição, isto é, identificar os elemen- os ı́ons podem se chocar com elétrons livres, tornando-se
tos quı́micos que os compõem, as concentrações desses novamente neutros, emitindo energia na forma de fótons
elementos, dentre outras informações sobre a amostra em diversas frequências caracterı́sticas deste átomo.
estudada.
Entretanto, estas não são as únicas maneiras de pro-
Os elétrons dos átomos possuem certos estados duzir luz. Muitas reações quı́micas podem produzir luz
quânticos que podem ocupar, de modo que, para atin- através da excitação de elétrons, ionização de átomos e
gir um outro estado, é preciso que o elétron absorva ou recombinação de ı́ons e elétrons. Dentre os processos de
libere energia. Essa troca de energia se dá por meio dos produção de luz visı́vel, há a produção de fótons através
fótons, estes que podem ser absorvidos ou emitidos pe- da recombinação de pares elétron-buraco em um semi-
los elétrons promovendo a sua mudança de configuração. condutor. Este evento acontece em um diodo semicondu-
Para que um elétron mude de um estado A para um tor quando há um fluxo de elétrons e de buracos neste
estado B, é preciso que aquele emita (ou absorva, depen- (quando há corrente pelo diodo), de forma que um elétron
dendo de qual estado é mais energético) um fóton com pode se combinar com um buraco (o que de fato acontece
energia exatamente igual à diferença de energia entre os é que um elétron é capturado por um ı́on da rede cristalina
dois estados. do material), de modo que, para atingir um estado ligado,
o elétron emite um fóton. Desse modo é possı́vel produzir
Em gases, as interações entre os átomos podem ser diodos semicondutores emissores de luz, os LEDs.
desprezadas, de modo que os nı́veis de energia que um
elétron pode ocupar são essencialmente os mesmos do Neste trabalho foram estudados os espectros produzi-
caso em que os átomos do gás estivessem isolados. O dos por diversas lâmpadas a fim de verificar as propri-
espectro de emissão dos gases é, portanto, caracterizado edades de seu espectro. De modo a compreender o seu
por finas linhas de emissão de comprimento de onda bem funcionamento e verificar como a luz irradiada por cada
definido. uma delas é produzida.

Para que os elétrons de um átomo possam emitir fótons, II. Objetivos


eles devem ser excitados de alguma maneira. Em sólidos,
esse processo pode se dar através do aquecimento do mate- • Investigar os espectros de emissão de fontes de luz:
rial, de modo que a agitação térmica dos átomos resulta na lâmpadas de descarga de gás (ex: H2, Hg, Ar, N2),

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lâmpada incandescente e diodos emissores (LED‘s).

III. Material

• Espectrômetro (ex: Ocean-Optics, modelo USB-


4000);

Figura 1: Espectrômetro Ocean-Optics modelo USB-4000 utilizado no


• Lâmpadas de gás: hidrogênio, mercúrio, argônio, experimento - Esquema de funcionamento.
nitrogênio, e vapor d’água;

• Leds: vermelho, amarelo, verde e azul;

• lâmpada incandescente.
V. Resultados e discussão

Com o auxı́lio de um espectrômetro da Ocean Optics,


IV. Procedimentos modelo USB-4000, em que a entrada de luz é feita por meio
de uma fibra ótica, analisou-se os espectros de emissão de
várias fontes de luz.
Foi utilizado um espectrômetro Ocean-Optics modelo
USB-4000 para a medição do espectro de oito fontes de A primeira fonte de luz analisada foi uma lâmpada de
luz, sendo três lâmpadas de gás: hidrogênio, mercúrio, Hidrogênio, onde o espectro obtido é mostrado abaixo:
argônio, três LEDs das cores: azul, branco e verde e duas
lâmpadas convencionais, sendo uma incandescente e uma
fluorescente.

A figura 1 ilustra o modo de funcionamento do es-


pectrômetro utilizado. O feixe de luz a ser analisado é
direcionado ao orifı́cio de entrada (1) a partir de uma
fibra óptica e incide sobre o espelho esférico (4) cujo foco
coincide com a posição da entrada (1). O espelho (4)
reflete o feixe para a grade de difração (5) que o difrata
a luz e a reflete para o espelho (6). O espelho (6) projeta
o feixe difratado no sensor bidimensional de intensidade
CCD. Esse sensor consiste, na verdade, de vários sen-
sores de intensidade luminosa distribuı́dos de modo a
captar a intensidade de cada ponto do padrão de difração.
Graças ao fato de que o padrão de difração projetado na Figura 2: Espectro de uma lâmpada de Hidrogênio.
matriz de sensores esconde uma relação implı́cita entre
comprimento de onda e a localização do ponto de medida,
o aparelho consegue, dessa maneira, obter a relação de
intensidade luminosa em função do comprimento de onda. Com a análise desses dados, identificou-se as
Esses dados são transmitidos ao computador a partir da transições correspondentes a cada linha espectral e
entrada USB e tratados usando um programa apropriado comparou-se os valores de comprimento de onda de cada
que, no presente caso, foi o Spectra Suit. linha com os esperados para a série de Balmer. Sendo
assim, montou-se a seguinte tabela:

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transição λ [nm] previsto λ [nm] obtido


3→2 656.1 657.0
4→2 486.0 486.6
5→2 433.9 434.6
6→2 410.1 410.7
7→2 396.9 397.7

Tabela 1: Tabela das transições ni → n f com os valores teóricos e os


valores experimentais.

Na segunda parte do experimento obteve-se o espectro


de outras duas lâmpadas: mercúrio e argônio. Abaixo
tem-se os gráficos:
Figura 4: Espectro de uma lâmpada de Argônio.

De forma semelhante ao que foi feito anteriormente,


montou-se a tabela abaixo para a lâmpada de Argônio.

λ previsto [nm] λ obtido [nm]


772.4 773.0
750.4 752.0
763.5 764.1
801.5 801.0
811.5 812.0

Tabela 3: Tabela cos comprimentos de onda obtidos com as para a


Figura 3: Espectro de uma lâmpada de Mercúrio. lâmpada de argônio.

Com esses dados, montou-se a seguinte tabela, em Abaixo tem-se s transições eletrônicas correspondentes
que comparou-se os valores experimentais com os espe- às cinco linhas mais intensas de cada espectro:
rados teoricamente. Além disso, pesquisou-se sobre a
distribuição eletrônica desses elementos e identificou-se
as transições eletrônicas correspondentes às cinco linhas O )4p → 3s2 3p5 (2 PO )4s
Transição height3s2 3p5 (2 P1/2 1/2
mais intensas de cada espectro. O )4p → 3s2 3p5 (2 PO )4s
3s2 3p5 (2 P1/2 1/2
O )4p → 3s2 3p5 (2 PO )4s
3s2 3p5 (2 P3/2 3/2
2 5 2
3s 3p ( P3/2O )4p → 3s2 3p5 (2 PO )4s
Transição λ previsto [nm] λ obtido [nm] 3/2
O )4p → 3s2 3p5 (2 PO )4s
3s2 3p5 (2 P3/2
5d10 6s17d → 5d10 6s7p 811.3 812.0 3/2
5d10 6s13s → 5d10 6s7p 764.6 764.1
Tabela 4: Relação entre os comprimentos de onda obtidos com as
5d10 6s7s → 5d10 6s6p 546.1 546.6
transições eletrônicas correspondentes para a lâmpada de
5d10 6s7s → 5d10 6s6p 435.8 436.6 argônio
5d10 6s6d → 5d10 6s6p 365.0 365.7

Tabela 2: Relação entre os comprimentos de onda obtidos com as


transições eletrônicas correspondentes para a lâmpada de Na terceira parte do experimento obteve-se o espectro
mercúrio [?], [?] . gerado por lâmpadas domesticas:

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Figura 5: Espectros de lâmpadas Fluorescentes e Incandescente. Figura 6: Espectro de LED’s.

A figura acima mostra o espectro obtido para três


LEDs de diferentes cores: azul, verde e branco. Nos três
Analisando o espectro da lâmpada incandescente, é casos, percebe-se que a luz emitida pelo LED não é mono-
possı́vel observar que ele se distribui em uma faixa que cromática, pois o espectro está distribuı́do em uma faixa
abrange quase todo intervalo de luz visı́vel com maior contı́nua de comprimentos de onda e a largura dos pi-
intensidade no intervalo correspondente à cor alaranjada, cos, no caso dos LEDs azul e verde, não é causada pela
o que explica a sua coloração. Além disso, é possı́vel resolução finita do espectrômetro, como ocorrido no caso
perceber que boa parte do espectro dessa lâmpada se en- das lâmpadas de gás, mas sim, pela própria luz emitida
contra na faixa do infravermelho, caracterı́stica esta que pelo LED.
não é desejada para uma lâmpada, uma vez que haverá Abaixo temos os valores da faixa proibida (gap) de
um consumo desnecessário de energia. O alto desperdı́cio energia do material semicondutor de que é feito o LED
de energia dessas lâmpadas é o principal motivo de sua utilizado.
substituição por lâmpadas mais modernas.
Cor do LED λmax [nm] Gap de energia [eV]
Já no caso da lâmpada fluorescente, podemos ver que, Azul 470 ± 10 2.64 ± 0.06
apesar de possuir diversos picos de descontinuidade, o Verde 526 ± 15 2.36 ± 0.07
espectro produzido é contı́nuo. Além disso, os picos
Tabela 5: Tabela de valores do gap de energia para os LEDs azul e
de descontinuidade coincidem exatamente com aqueles
verde.
observados na curva verde correspondente ao espectro
da lâmpada de mercúrio. A explicação para essa corres-
pondência é que essa lâmpada consiste basicamente em VI. Conclusão
um gás de mercúrio sendo ionizado da mesma forma que
no caso da lâmpada de mercúrio analisada anteriormente. Nesse experimento com o auxı́lio de um espectrômetro
No entanto, a superfı́cie que cobre a parte interna do vidro da Ocean Optics, modelo USB-4000, em que a entrada de
é composta por uma substância fluorescente que irá absor- luz é feita por meio de uma fibra ótica foi possı́vel analisar
ver parte do espectro emitido pelos átomos de mercúrio e os espectros de emissão de certas lâmpadas e de alguns
emitir um espectro contı́nuo em uma faixa de frequência LED’s.
que abrange quase todo o espectro visı́vel. Dessa forma,
o olho humano irá interpretar a luz recebida como tendo Referências
uma tonalidade branca azulada.
[1] Departamento de Fı́sica UFMG. Guia de Labo-
Ademais, gerou-se o espectro de LED’s: ratório Fı́sica Experimental AIII.

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