Você está na página 1de 7

Análise do espectro óptico da lâmpada de gás H2 excitada por descarga elétrica

Christian Eduard Göttle Schuarcz e Thiago Toassa Martinelli - Turma A


Rafael Macedo - Turma C

Orientador: Prof. Dr. José Roberto Ribeiro Bortoleto

Engenharia de Controle e Automação, UNESP/Sorocaba (2S2022)

1. INTRODUÇÃO AO ASSUNTO

O espectro de uma lâmpada incandescente, quando analisada através de um prisma, exibe


todas as cores de forma contínua. O arco-íris é um fenômeno natural equivalente, onde as gotas de água
nas nuvens desempenham o papel do prisma e o Sol a fonte de luz. No entanto, para a luz emitida por
uma lâmpada a gás ou vapor excitada por descarga elétrica, o espectro é formado por cores específicas
(conhecidas como linhas espectrais devido à forma alongada das fendas geralmente utilizadas nos
aparatos de medida).

Cada elemento possui características próprias, e com isso, suas próprias linhas espectrais. Dessa
forma é possível analisar, por exemplo, a composição de estrelas distantes sem necessidade de uma
análise concreta. Para tal, utiliza-se de um espectrômetro, sendo esta a ferramenta capaz de difratar o
espectro, como ilustra o prisma capa do álbum TIME de Pink Floyd, visto na figura 1 abaixo.

Figura 1: Capa do álbum TIME de Pink Floyd ilustrando a difração de luz a partir do uso de um prisma.

2. ABORDAGEM TEÓRICA DO FENÔMENO

Em 1913, Niels Bohr, após diversas pesquisas, experimentos e ensaios matemáticos, Bohr
elaborou três postulados sobre a estrutura atômica e seu comportamento. O primeiro rege que
enquanto o elétron encontra-se em uma determinada órbita, sua energia é constante. O segundo rege
que se o elétron receber uma energia suficiente, ele salta para camadas mais externas da eletrosfera.
Por fim, o terceiro rege que ao retornar de uma órbita mais afastada, para sua origem o elétron emite
fótons, ondas eletromagnéticas de energia equivalente ao absorvido.

Dessa forma, quando excitam-se elementos, os mesmos são capazes de emitir tal energia
absorvida na forma de ondas eletromagnéticas. Tais ondas se diferenciam pelos seus comprimentos de
onda. Assim, cada elemento, devido às suas diferentes distribuições eletrônicas, é capaz de emitir
determinados fótons. Esses fótons, por vezes, enquadram-se no espectro visível, com comprimentos de
400nm a 700nm e dessa forma são recebidos e interpretados pelo cérebro humano em forma de cores.
Na figura a seguir pode-se observar toda a faixa visível de cores e sua faixa de comprimentos de onda.
Figura 2: Espectro contínuo de cores visíveis acompanhado de uma escala de comprimento de onda em nanômetros
.

Apesar do espectro de cores ser contínuo, cada elemento emite apenas alguns feixes, ou seja,
cada elemento é capaz de liberar ondas eletromagnéticas muito específicas e dessa forma, durante o uso
de um espectrômetro é possível observar comprimentos a acentuação de alguns espectros, formando
linhas verticais, como parte de um código de barras. Na secção de resultados e discussões isto ficará
mais claro.

É importante ressaltar que os saltos quânticos, como são conhecidas essas emissões de fótons,
ocorrem não de maneira linear, mas sim por meio de degraus. Assim, todo salto quântico necessita
romper uma barreira mínima de energia primordial para que tal fenômeno ocorra. Essa energia base é
dada por 13.6 eV[1], dessa forma, são necessárias energias superiores a 13.6 eV para excitar um elétron
da camada K, a menos energética, e com isso gerar um pulso eletromagnético.

A figura a seguir demonstra os níveis de energia - K, L, M e N- e identifica o padrão energético,


mostrando que a primeira camada, n=1 ou K, é a menos energética. Além disso, ela também ilustra os
saltos quânticos e suas respectivas linhas espectrais para um determinado elemento[2].

Figura 3: À esquerda é demonstrado de maneira simplificada o modelo de Bohr e suas camadas, assim como a
nomenclatura de cada uma e a relação energética das camadas. À direita é possível ver o resultado dos saltos
quânticos, assim como as linhas espectrais e relação energética em alusão à figura da esquerda.
3. DESCRIÇÃO DO PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Na Figura 4(a) está apresentada a fotografia da lâmpada de hidrogênio excitada por descarga
elétrica. A pressão do gás e a tensão elétrica. Já na Figura 4(b) o esquema óptico para decomposição da
luz e medição dos comprimentos de onda das linhas espectrais observáveis. Em detalhe são mostradas
as 4 linhas espectrais que estão na região visível do espectro eletromagnético. Os comprimentos de
onda medidos são respectivamente 656 nm, 486 nm, 434 nm e 410 nm para as diferentes cores
identificadas, quando o feixe de luz é decomposto, é observado em um fundo preto.

Figura 4: (a) Foto de uma lâmpada de gás H2 por descarga elétrica e (b) esquema simplificado de medida da luz
emitida. A figura acima mostra as 4 linhas espectrais emitidas na região visível e seus respectivos comprimentos de
onda.

Para esse experimento, foram utilizados os seguintes materiais: uma proveta, uma fonte de tensão
para aplicar uma descarga elétrica, uma lâmpada contendo o gás a se analisar (𝐻2) e o celular para
capturar o fenômeno em vídeo. Além disso, é necessário um aparelho espectrômetro Ocean Optics e o
software SpectraSuite, responsável por gerenciar o feedback dos itens e no processamento das
informações para a análise de espectrometria.

O ensaio consiste em obter o gás H2 a partir de uma solução aquosa de água destilada, hidróxido
de sódio (𝑁𝑎𝑂𝐻) e alumínio (𝐴𝑙) em um recipiente largo. Para isolar o gás a ser analisado é necessário
utilizar uma proveta para o gás evaporar e garantir que não haja impurezas, como por exemplo o gás
oxigênio (𝑂2), visto que em caso de contaminação do meio por oxigênio acarretaria em uma possível
explosão. A expressão química que define a obtenção do 𝐻2 é dada pela Equação 1.

2 𝑁𝑎𝑂𝐻 + 2 𝐴𝑙 + 2 𝐻2𝑂 = 2 𝑁𝑎𝐴𝑙𝑂2 + 3 𝐻2 (Eq. 1)

Após isso, é necessário aplicar uma descarga elétrica no recipiente contendo o gás, a partir dessa
descarga haverá a emissão de uma luz característica do material, com isso, o aparelho Ocean Optics é
posicionado e calibrado e, a partir disso, é possível identificar e captar os espectros gerados por conta da
luz. Tais dados são armazenados e processados pelo software SpectraSuite.
4. RESULTADOS E CONCLUSÕES

Assim, utilizando o espectrômetro, através da inicial calibração utilizando o mercúrio (Hg),


obteve-se então o gráfico apresentado na Figura 5.

Figura 5 - Linhas espectrais do mercúrio

Segundo a literatura, as principais linhas espectrais do mercúrio são: Azul em 436 nm, Verde em
546 nm e um par de Amarelo-Laranja em 576 nm e 579,065nm [3], porém é possível encontrar outras
linhas, menos proeminentes, como Roxo, em 405nm, Azul esverdeado em 492 nm, Laranja em 623 nm e
Vermelho em 691 nm [4]. Com isso, é possível notar os picos de Azul e Verde em destaque, de forma
evidente. Entretanto, o maior dos picos, em 611 nm, é pouco comum.

Após certa pesquisa, foi possível encontrar certos experimentos citando uma linha espectral em
615 nm, de uma cor laranja-amarelado [5]. Possivelmente, devido a baixa incidência em artigos
científicos, seja uma linha espectral que não é comumente vista ou considerada, havendo pequena
discrepância quanto aos resultados apresentados, talvez por conta de a fonte de mercúrio utilizada ser
uma lâmpada fluorescente, que não contém apenas mercúrio isoladamente.

Após a calibragem, onde viu-se que o aparelho estava medindo corretamente os valores de
comprimento de onda, já seria possível medir então as linhas espectrais do Hidrogênio, emitido pela
lâmpada de H2, porém, com o objetivo de obter mais informações sobre a espectroscopia, mediu-se
também as linhas espectrais de uma lâmpada UV e do Ar, para conceitualmente comparar os resultados
e tratá-los, representado na Figura 6.
Figura 6 - Linhas espectrais de uma lâmpada UV

Com relação ao teste da lâmpada UV, é possível logo de início notar os picos em 436 nm e 547
nm, os mesmos picos de Azul e Verde presentes no espectro eletromagnético do mercúrio. Isso se deve
ao fato de que para compôr uma lâmpada UV, além de utilizar quartzo ao invés de vidro como material
de revestimento [6], os gases que a compõem são uma mistura de mercúrio e um ou mais gases inertes,
como Argônio e Neônio [7].

O pequeno pico após 547 nm, no valor de comprimento de onda de 580 nm, é um indicativo de
que essa lâmpada em questão pode possuir Argônio, já que faz parte das linhas espectrais do mesmo
[8]. Contudo, valores nessa faixa também são comuns dentro do espectro do Neônio, portanto não
servindo de indicativo. Gases nobres, de forma geral, tem uma espectroscopia de valores de onda
geralmente maiores que 400, com o Hélio possuindo linhas espectrais nessa faixa limite [9], mas
nenhum deles apresenta emissões abaixo de 400 e ainda menos abaixo de 300, o que pode indicar que a
origem dessas linhas espectrais não é provinda desses gases.

Figura 7 - Linhas espectrais da atmosfera


A atmosfera terrestre é composta, de forma geral, por aproximadamente 20% de oxigênio e
80% de nitrogênio, com pequenas porcentagens de outros gases como gás carbônico e gases raros.
Quando analisando a espectrometria do nitrogênio, encontra-se que existem picos nas regiões de 589
nm, 574 nm e 520 nm [10], o que é condizente com os picos de 590 nm, 579 nm e 523nm vistos no
gráfico acima, com uma margem de erro de menos de 1%.

O pico em 778 nm possivelmente é um indicativo da composição de oxigênio da atmosfera, já


que o mesmo possui maior intensidade no comprimento de onda de 776 nm [11], o que também está
dentro de menos de 1% de margem de erro

Por fim, tem-se então a espectrometria do Hidrogênio, que é o objetivo inicial do experimento.

Figura 9 - Espectrometria do Hidrogênio

Quando analisando esse gráfico, é nítido que a maior intensidade se encontra no valor de 656
nm, que, quando comparado com a literatura, é completamente condizente, já que essa é a região de
maior intensidade do H2. Além disso, similarmente, o valor de 486 nm também está presente, de forma a
igualar a prática com a teoria. A maior diferença está nos valores por volta de 515 nm, que não tem
correlação com o hidrogênio, porém, já que o ambiente não era ideal e portanto o hidrogênio não estava
isolado do meio, é possível considerar que esses valores são relativos ao oxigênio, já que a faixa de 515
nm é uma das maiores intensidades de oxigênio.

Dessa forma, com o experimento realizado em laboratório, com o auxílio do espectrômetro, foi
possível realizar a etapa desejada, onde mede-se a espectrometria do hidrogênio sob uma descarga
elétrica e, quando comparando os valores teóricos com os experimentais, é possível concluir que o
experimento foi bem sucedido, com resultados concordantes.
5. REFERÊNCIAS

[1]https://brasilescola.uol.com.br/quimica/distribuicao-eletronica-de-eletrons.htm#:~:text=Em%20cada
%20camada%20ou%20n%C3%ADvel%20de%20energia%2C%20os%20el%C3%A9trons%20se,em%20ord
em%20crescente%20de%20energia.&text=O%20n%C3%BAmero%20de%20subn%C3%ADveis%20que,qu
e%20cabe%20em%20cada%20n%C3%ADvel.

[2]https://querobolsa.com.br/enem/quimica/modelo-atomico-de-bohr

[3] http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/quantum/atspect2.html

[4] https://web.cortland.edu/wheeler/phy150/Laboratory/Laboratory1.pdf

[5] https://www.sciencephoto.com/media/540572/view/h-he-hg-emission-spectra

[6]
https://www.light-sources.com/solutions/uv-air-treatment-systems/uvc-air-purification-systems/uv-c-lig
ht-bulb/

[7]
https://newageair.com/2016/02/15/how-does-a-uv-lamp-work/#:~:text=A%20UV%20lamp%20is%20diff
erent,the%20pressure%20inside%20the%20lamp.

[8]
https://www.researchgate.net/figure/Typical-Argon-spectra-showing-ArII-H-and-ArII-emission-lines_fig3
_327416052

[9] https://www.nagwa.com/en/worksheets/658148208480/

[10]
https://www.researchgate.net/figure/Typical-optical-emission-spectrum-from-nitrogen-plasma-in-Pilot-P
SI-The-spectrometer-was_fig5_258965388

[11]
https://www.researchgate.net/figure/Optical-emission-spectrum-of-helium-oxygen-He-O2-plasma-estab
lished-in-a-pure-gas-The_fig2_336651564

******

Assista aos vídeos:

https://www.youtube.com/watch?v=Kv-hRvEOjuA

https://www.youtube.com/watch?v=nM5Kg7RUoTE&t=113s

Você também pode gostar