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Produção de raios X

Paulo Roberto Costa - IFUSP

O espectro contínuo de raios X


Da mesma forma que as aplicações dos raios X foram intensamente
investigadas no início do século passado, o entendimento teórico sobre a forma
com que a natureza responde aos estímulos elétricos que ocorrem em um tubo
de raios X foi alvo de intensos estudos desde os primórdios do século XX.
Naquela época ainda não havia um entendimento profundo sobre a natureza
eletrodinâmica do processo de interação de partículas carregadas com a
matéria, nem tampouco instrumentos de medição sofisticados o suficiente para
permitir a determinação de correlações entre os parâmetros de estímulo dos
elétrons no tubo e a produção de fótons. Apesar disso, duas características logo
foram percebidas: a limitação em um valor mínimo do comprimento de onda da
energia produzida e a existência de um máximo de intensidade na distribuição
das partículas produzidas em função deste comprimento de onda.
Os estudos experimentais iniciais sobre a natureza do espectro contínuo de
raios X podem ser divididos em duas categorias principais, relacionadas à
espessura do alvo a ser atingido pelo feixe de elétrons:
 Alvos espessos e massivos o suficiente para frear todos os elétrons
incidentes;
 Alvos compostos por folhas finas de material, onde uma fração
significativamente alta dos elétrons incidentes são transmitidos,
mas suficientemente espesso para que os elétrons interajam nele.
O primeiro caso, considerando alvos espessos, representa a situação na qual
aparece a maior parte das aplicações, em especial a utilização dos raios X em
Medicina, objeto de estudo do presente trabalho. A utilização de alvos finos é
dedicada à investigação de processos fundamentais relacionados ao estudo da
produção de raios X (Dyson, 1990).
Devido a sua importância menor para as aplicações a serem tratadas nos
capítulos seguintes desta tese, o fenômeno de geração de raios X pela interação
de elétrons com alvos finos será tratado de forma resumida neste texto. Um dos
primeiros estudos consistentes sobre a produção de raios X pela passagem de
elétrons por alvos de pequena espessura foi realizado por Nicholas, nos anos
vinte do século passado (Nicholas, 1929, Nicholas, 1927). O entendimento da
teoria conhecida até então foi descrita por Brunner (Brunner, 1938). Uma
abordagem completa e bem referenciada pode ser consultada nos itens 2.2 e
2.3 do livro de Dyson (Dyson, 1990)
Em um experimento clássico, usando instrumentos rudimentares, mas técnicas
experimentais muito aprimoradas para a época em que foram realizadas, William
Duane e Franklin L. Hunt (Duane and Hunt, 1915) determinaram o que
chamaram de comprimento de onda efetivo. Para isso fizeram com que um feixe
de raios X produzido por um tubo de Coolidge conectado a uma fonte de alta
tensão de 43 kV, aproximadamente constante, fossem detectados após
atravessarem uma espessura de 2 mm de alumínio (Behling, 2015). Os autores
correlacionaram este comprimento de onda específico com o coeficiente de
atenuação mássico do alumínio através da expressão
1
1 𝜇 3
𝜆𝑒 = [ ( )] (1)
14,9 𝜌

Os autores repetiram o experimento utilizando fontes de tensão contínua bem


calibradas e concluíram que a aplicação de tensões contínuas não produzia raios
X homogêneos em termos energéticos, como se poderia esperar. Além disso,
utilizando diferentes espessuras de alumínio e diferentes tensões aplicadas,
perceberam que tanto o coeficiente de absorção, quanto o comprimento de onda
efetivo, decresciam a medida que os raios X atravessavam a matéria.
Perceberam, por seus resultados, que deveria haver um comprimento de onda
mínimo relacionada à aplicação de uma dada diferença de potencial.
Dyson (Dyson, 1990) aponta, ainda, a proporcionalidade entre a
intensidade da parte contínua do espectro de raios X por unidade de energia,
𝐼ℎ𝜈 , de frequência, 𝐼𝜈 , ou de comprimento, 𝐼𝜆 , de ondas como:
𝑑𝜈 𝑑𝜆
𝐼ℎ𝜈 |𝑑(ℎ𝜈)| = 𝐼𝜈 |𝑑𝜈| = 𝐼𝜆 |𝑑𝜆| ⟹ 𝐼ℎ𝜈 = 𝐼𝜈 | | = 𝐼𝜆 | |
𝑑(ℎ𝜈) 𝑑(ℎ𝜈)

Logo,

2
1 𝜆2
𝐼ℎ𝜈 = 𝐼𝜈 = 𝐼𝜆
ℎ 𝑐ℎ (2)

Na equação acima, ℎ é a constante de Planck, 𝑐 é a velocidade da luz e e 𝜆 o


comprimento de onda do fóton.
Clayton Ulrey estudou o fenômeno de bremsstrahlung experimentalmente e,
em 1918 publicou um trabalho na Physical Review (Ulrey, 1918) apresentando
detalhes de seu experimento e seus resultados. O trabalho destaca o intrincado
aparato experimental desenvolvido em seu laboratório na Universidade de
Colúmbia, ao realizar adaptações em um tubo de Coolidge, introduzindo um
anodo com o formato de um prisma hexagonal em cujas faces foram acopladas
placas de níquel, molibdênio, cromo, paládio, tungstênio e platina. Utilizando um
criativo mecanismo, o sistema permitia que os elétrons acelerados atingissem as
diferentes faces do prisma e, consequentemente, gerasse raios X a partir da
interação com elementos de números atômicos diferentes.
Continuaram a investigação do fenômeno utilizando um espectrômetro de
raios X emprestado de David Locke Webster (Webster, 1915, Webster, 1934)
que estava pesquisando a emissão de raios X característicos na Universidade
de Stanford. O instrumento continha um conjunto de fendas e um cristal de
calcita, que possui planos refletores distando 3,03 × 10-8 cm, permitindo
identificar a intensidade do feixe em função do comprimento de onda. O feixe
refletido passava através de outra fenda, atingido uma câmara de ionização com
uma fina janela de mica (Ulrey, 1918). Com este instrumento, e aplicando a Lei
de Bragg, perceberam a correlação entre tensão aplicada e valor máximo do
comprimento de onda dos raios X produzidos. Na mesma série de experimentos
perceberam que este comprimento de onda máximo era invariante com a
corrente aplicada ao tubo. Com isso, correlacionaram tensão aplicada ao tubo,
𝑉0, e comprimento de onda mínimo dos fótons gerados, 𝜆0 , como:

𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡
𝑉0 𝑒 = ℎ𝜈0 = ⟹ 𝜆0 = (3)
𝜆0 𝑒𝑉0

A equação (3) é conhecida como lei de Duane-Hunt e sua forma


modificada, evidenciando a energia máxima dos fótons e não seu comprimento

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de onda mínimo, é a base para procedimento de calibrações de valores de
tensão aplicados em equipamentos de raios X modernos utilizando a técnica de
end-point (Silva et al., 2000a, Silva et al., 2000b, Terini et al., 2004, Silva, 2001).
Alvos espessos, de maior interesse no presente trabalho, foram tratados por
Dyson como efeitos em “alvos opacos aos elétrons” (Dyson, 1990). O autor
descreve que as observações iniciais realizadas por Ulrey (Ulrey, 1918) e por
Kulenkampff (Kulenkampff, 1922) usando alvos de platina, latão, cobre, prata e
alumínio, usando diferentes faixas de tensão de aceleração, permitiram a
identificação de uma relação entre a intensidade da radiação emitida, o número
atômico do material do alvo e a frequência dos fótons emitidos, que foi proposta
como:
𝐼(𝑉, 𝑍) = 𝐴𝑍(𝜈0 − 𝜈) + 𝐵𝑍 2 (4)
Nesta equação, 𝜈0 representa a frequência máxima dos fótons emitidos e 𝐴 e
𝐵 são constantes independentes da tensão aplicada ou no número atômico e foi
identificada uma relação aproximada 𝐵⁄𝐴 ≈ 0,0025 para a faixa de tensões
avaliadas, entre 7 e 12 kV, ou seja, o valor de B é pouco relevante comparado a
A e a relação entre intensidade e o número atômico do material foi identificada
como aproximadamente linear. Além disso, posteriormente, com medições em
outras faixas de tensão, foi identificada uma proporcionalidade da intensidade do
feixe com 𝑉 2 por Kulenkampff e Schmidt (Kulenkampff and Schmidt, 1943). Esta
proporcionalidade é utilizada, até hoje, como uma regra prática para relacionar
intensidade do feixe de raios X com a tensão aplicada. Por outro lado, a
proporcionalidade da intensidade de forma linear com o número atômico pode
ser explicada pela maior auto-atenuação dos fótons produzidos com o maior
número atômico do material, principalmente devido ao efeito fotoelétrico.
Resultados experimentais adicionais são descritos por Dyson (Dyson, 1990)
para outros alvos e tensões aplicadas aos tubos.
Investigações empíricas sobre o comportamento da distribuição de intensidade
de fótons, produzidos por tubos de raios X, em função de seus comprimentos de
onda ou de suas energias continuaram pelas décadas seguintes. Destacam-se,
além dos já citados, os experimentos de Stephenson e Mason (Stephenson and
Mason, 1949) e de Peterson e Tomboulian (Peterson and Tomboulian, 1962) que
permitiram a adequação das informações experimentais para outros materiais e

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tensões aplicadas. Com isso, conjuntos de dados relacionando as intensidades
de emissão com o número atômico para diferentes faixas de aceleração dos
elétrons foram obtidas. Esses dados levaram os autores a elaborarem uma
relação aproximada entre a intensidade do feixe e o comprimento de onda dos
fótons na forma
1
I(λ) = λα , com 1,8 ≤ α ≤ 2,7 (5)
Os experimentos, porém, não permitiam levar em consideração a auto-
atenuação dos fótons pelo alvo utilizado e referem-se a medições realizadas em
ângulos de cerca de 90º em relação à direção de incidência dos elétrons.
Medições complementares, com outros materiais, outros valores de tensão
aplicada e avaliando os fótons de raios X produzidos na direção de incidência
dos elétrons, porém usando alvos espessos, foram realizadas por Dyson (Dyson,
1959). Neste caso, a radiação produzida foi analisada utilizando uma câmara de
ionização acoplada a um analisador de altura de pulsos monocanal. Dyson,
ainda, considerou a atenuação dos fótons no caminho que atravessam o alvo,
bem como a espessura de ar entre a saída do alvo e o contador. Por fim, de
forma cuidadosa, considerou, na correção se seus dados, a eficiência do
contador em relação a energia dos fótons incidentes. Com seus resultados,
semelhantes aos obtidos por Kulenkampff, pôde concluir que a anisotropia da
radiação era pequena e não deveria estar relacionada à difusão ou ao
espalhamento de elétrons dentro do alvo. Além disso, analisando os resultados
obtidos com energias maiores e comparando-os com os medidos em outros
ângulos e com alvos finos, percebeu que a anisotropia era semelhante à que ele
havia obtido no estudo de raios X produzidos por alvos espessos. Mais ou menos
na mesma época, estudos de Edelsak e colaboradores (Edelsack et al., 1960)
usando um acelerador Van der Graff operando em tensões de 1, 1,5 e 2 MeV e
um detector de iodeto de sódio de 4 polegadas de comprimento, permitiram o
levantamento de espectros apresentados em intervalos de vinte canais. Após
cuidadosas correções de seus resultados experimentais, comparou-os com
resultados semiempíricos, demonstrou comportamento do espectro com relação
à proporcionalidade de sua intensidade com o número atômico do alvo, bem
como o desvio desta proporcionalidade com o uso de alvos de número atômico
alto e baixas energias.

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Ainda no campo experimental, as distribuições angulares correspondentes à
emissão de fótons de raios X através da interação de elétrons com alvos
espessos foram exploradas desde meados da década de 1930. Diversos autores
trataram esta questão empiricamente, na tentativa de elucidar como os efeitos
de espalhamento e difusão dos elétrons dentro do meio afetavam a distribuição
angular dos fótons produzidos em diferentes energias de aceleração dos
elétrons. Dyson (Dyson, 1990) descreve, com razoável nível de detalhes, os
principais resultados empíricos obtidos entre os anos de 1933 e 1959. Entre eles,
o autor mostra resultados obtidos em seu próprio laboratório (Dyson, 1959),
trazendo evidências do comportamento angular dos fótons produzidos em alvos
de ouro e de alumínio após a interação de elétrons acelerados por uma diferença
de potencial de 12,05 kV, por berílio usando tensão de aceleração de 8,36 kV e
por polímeros com tensão de 10,05 kV.
Dyson (Dyson, 1990) descreve, ainda, resultados interessantes para o contexto
do presente trabalho obtidos por Thordarson (Thordarson, 1939), que utilizou
tensões entre 60 e 170 kV e alvos de alumínio e tungstênio, ou seja, englobando
material e faixa de energias utilizados em imagens radiológicas. Seus resultados
apresentaram boa concordância com a teoria de Sommerfeld (Sommerfeld,
1929), que será abordada adiante, até tensões de 110 kV. Por fim, Dyson
(Dyson, 1990) apresenta um interessante resultado comparativo, anteriormente
apresentado por Sesemann (Sesemann, 1941), entre os dados angulares para
diferentes tensões de aceleração com feixes utilizando distintas filtrações,
publicados previamente. Os dados experimentais são, também comparados com
a previsão teórica de Sommerfeld (Sommerfeld, 1929), mostrando uma
excelente concordância entre teoria e os experimentos. A descrição de outros
experimentos, realizados com energias maiores, não serão abordadas no
presente texto. Dyson (Dyson, 1990) apresenta uma excelente descrição destes
experimentos realizados no século passado.
Estas evidências experimentais relacionadas à interação de elétrons
acelerados por diferentes potenciais com materiais de diferentes números
atômicos estavam fortemente correlacionadas com o acentuado
desenvolvimento da eletrodinâmica e da mecânica quântica. Nos parágrafos que
seguem, será apresentado um resumo dos principais resultados teóricos que

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corroboraram com as cuidadosas medições realizadas por diversos cientistas e
que levaram ao atual estágio do conhecimento sobre a produção de raios X.
A discussão resumida que se segue usa a mesma sequência adotada por
Dyson (Dyson, 1990), apresentando inicialmente, de forma resumida e
simplificada, a determinação da distribuição angular dos fótons emitidos pela
interação, seguindo da apresentação teórica que deduz a distribuição energética
do espectro contínuo. Finalmente, são apresentados os efeitos que ocorrem em
alvos espessos, tais como os efeitos de espalhamento dos elétrons no alvo e a
perda de energia. Serão, também, abordados temas de interesse prático e que
possuem correlações com a teoria da produção dos raios X, tais como a
eficiência de emissão do espectro contínuo, que está relacionada ao rendimento
de tubos de raios X utilizados nas diversas aplicações que serão descritas nos
capítulos subsequentes.
A teoria do eletromagnetismo prevê que uma carga acelerada perde energia na
forma de radiação eletromagnética. Se a aceleração se dá devido à interação
com outra partícula carregada, ambas emitem radiação e irá ocorrer uma
superposição coerente entre os campos de radiação (Jackson, 1999) e a
amplitude dos campos depende do produto entre a carga elétrica e a aceleração
que a partícula é submetida. Assim, no caso da desaceleração de um elétron por
um núcleo atômico, sendo o primeiro muito mais leve e, portanto, podendo ser
acelerado mais intensamente, o campo de radiação dele será muito mais
significativo do que o produzido pelo núcleo. Neste caso, o problema é modelado
como a colisão entre uma partícula leve interagindo com um campo elétrico fixo
e a consequente emissão de radiação.
No caso da interação de elétrons acelerados com um alvo espesso, muitas das
interações que acarretam a desaceleração dos elétrons se dão, essencialmente,
com os elétrons orbitais do meio. Isto pode gerar ionizações cujas
consequências no processo de geração do espectro de energias resultante
serão discutidas posteriormente. Contudo, algumas interações se dão através
da interação coulombiana com núcleos atômicos, que também levam à
desaceleração e, como previsto na teoria eletromagnética clássica, à emissão
de radiação (Jackson, 1999).
Considerando um deslocamento de amplitude 𝑓 de uma carga elétrica a partir
de um ponto de origem no espaço, os vetores que representam os campos

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magnético, 𝐇 , e elétrico, 𝐄, associados a este deslocamento podem ser
representados por:
e e
𝐇 = 4πcr2 𝐟̈ × 𝐫 e 𝐄 = 4πε 2 r3
̈
(𝐫 × (𝐫 × 𝐟)) (6)
0c

Onde 𝐫 representa o vetor posição da carga com relação à origem e e é a carga


do elétron. Supondo, por simplicidade, que a desaceleração do elétron se dá de
forma retilínea, mas considerando que a grandeza 𝑓̈ não tem a mesma direção
do movimento dos elétrons, mas sim uma direção determinada pela força
coulombiana exercida pelo núcleo, pode-se demonstrar que sua magnitude é
dada por:
1 𝑍𝑒 2
𝑓̈ = (7)
4𝜋𝜀0 𝑚(𝑎(𝑡))2

Onde 𝑎(𝑡) é a variável relacionada à distância relativa entre o elétron e o núcleo


atômico com 𝑍 prótons com o qual está interagindo através do campo
coulombiano. Como o elétron encontra-se em movimento, esta variável é
dependente do tempo. Além disso, num modelamento realista, deve-se
considerar que o elétron não interage somente com o núcleo, mas com o átomo
como um todo, ou seja, existe uma contribuição relacionada à presença dos
elétrons orbitais. Jackson (Jackson, 1999) argumenta que as contribuições
diretas dos elétrons orbitais relacionadas à aceleração do elétron incidente são
pequenas e podem ser negligenciadas. Contudo, estes elétrons orbitais
oferecem um efeito secundário de blindagem com campo elétrico proveniente do
núcleo atômico (screening), que é tratada no caso de perdas de energias
radiativas relativísticas. Este efeito, contudo, será ignorado na abordagem
simplificada a ser apresentada nos parágrafos seguintes.
Sendo 𝜃 a direção na qual um campo elétrico ou magnético é medido em
relação à direção de um feixe incidente de elétrons acelerados ou desacelerados
e considerando a radiação emitida no plano x-y, as componentes z do campo
magnético e 𝜃 do campo elétrico ficam:
𝑓̈ 𝑒
Hz = 4𝜋𝑐𝑟 𝑠𝑒𝑛θ considerando H r = 0 e Hθ = 0 (8)
𝑓̈ 𝑒
Eθ = 4π𝜀 2r 𝑠𝑒𝑛θ considerando Er = 0 e Ez = 0 (9)
0c

Um tratamento bastante completo do problema da produção de radiação por


partículas carregadas aceleradas utilizando os chamados potenciais de Liénard-

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Wiechert, que definem os vetores dos campos elétricos e magnéticos criados por
cargas em movimento arbitrário, tanto para os casos relativísticos quanto não-
relativísticos, é apresentado por Marion e Heald (Marion and Heald, 1980).
O Vetor de Poynting, 𝐍, associado à fluência de energia relacionada à esta
desaceleração é dado por:
𝐍=𝐄×𝐇 (10)
Sendo Eθ a magnitude do campo elétrico na direção 𝜃 e Hz a magnitude do
campo magnético na posição 𝑧, a fluência de energia na direção de observação
definida por (𝑧, 𝜃) é dada por (Marion and Heald, 1980)
2
1 c 𝑓̈ 𝑒
N = E θ Hz = ( ) 𝑠𝑒𝑛2 θ (11)
4πε0 4π rc 2

Sommerfeld (Sommerfeld, 1964) e Jackson (Jackson, 1999) demonstram


o comportamento dipolar desta distribuição espacial de energia, que se
manifesta analiticamente no termo 𝑠𝑒𝑛2 𝜃 que aparece na equação (11). A
potência irradiada pode ser obtida pela integração em todos os ângulos, ou seja
2 𝜋
𝜋
2
1 c 𝑓̈𝑒
𝐼 = ∫ 𝑁2𝜋𝑟 𝑠𝑒𝑛𝜃𝑑𝜃 = ( 2 ) ∫ 2π𝑟 2 𝑠𝑒𝑛3 𝜃𝑑𝜃
0 4πε0 4π rc 0
(12)
1 2𝑒 2 𝑓̈ 2
=
4πε0 3𝑐 3
A equação (12) é conhecida como fórmula de Larmor para a potência irradiada
por uma partícula carregada acelerada, com velocidade não-relativística (Marion
and Heald, 1980). Jackson (Jackson, 1999) apresenta, também, sua
generalização relativística. Combinando as equações (7) e (12), obtém-se a
potência irradiada como:
1 2 2𝑒 6 𝑍2
𝐼=( ) (13)
4πε0 3𝑐 3 𝑚2 (𝑎(𝑡))4

A equação (13) demonstra uma proporcionalidade bem conhecida entre a


intensidade da radiação emitida no processo de bremsstrahlung e o quadrado
do número atômico do material que compõe o alvo. Considerações mais
sofisticadas relacionadas aos efeitos relativísticos que ocorrem quando elétrons
são acelerados por diferenças de potenciais usuais em tubos de raios X de
aplicações médicas (acima de alguns kV) são tratadas em textos clássicos de
eletromagnetismo (Jackson, 1999) e em textos modernos de Física das

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Radiações (Podgorsak, 2010), levando ao seguinte resultado para a intensidade
instantânea do feixe irradiado:
2
1 𝑐 𝑓̈ 𝑒 𝑠𝑒𝑛2 𝜃
𝐼= ( ) (14)
4πε0 4𝜋 𝑟𝑐2 (1 − 𝛽𝑐𝑜𝑠𝜃)6
Nesta equação, que explicita uma dependência angular da intensidade de
fótons emitida com a aceleração do elétron em um dado instante, vale a
representação relativística 𝛽 = 𝑣⁄𝑐 . O valor de interesse prático, contudo, é seu
valor integrado no tempo (Dyson, 1990, Podgorsak, 2010), ou seja:
2
1 𝑐 2 𝑓̈𝑒 1 𝑠𝑒𝑛2 𝜃
∫ 𝐼𝑑𝑡 = ( ) [ − 1] (15)
4πε0 16𝜋 𝑟𝑐 2 (1 − 𝛽𝑐𝑜𝑠𝜃)4 𝑐𝑜𝑠𝜃
A equação (15) é válida para o limite de energias mais altas, onde a variação
de velocidade do elétron é desprezível durante seu processo de freamento. O
tratamento adotado por Sommerfeld (Sommerfeld, 1929, Sommerfeld, 1964)
para outras faixas de energia considera a velocidade média do elétron e leva a
previsões que estão de acordo com observações experimentais de Kulenkampff
(Kulenkampff, 1928, Kulenkampff, 1938).
Podgorsak (Podgorsak, 2010) trata, de forma complementar aos textos já
citados, da correlação entre a intensidade de radiação emitida por elétrons com
energias cinéticas diferentes. Este resultado está diretamente associado à
dedução da equação (15) e relaciona-se à arquitetura de construção dos
modernos tubos de raios X utilizados nas mais variadas aplicações.
Mais relevante que a distribuição angular dos fótons emitidos para as
aplicações da espectroscopia de raios X de interesse em Medicina é sua
distribuição energética e as intensidades totais emitidas. Estas intensidades
podem ser representadas pelo rendimento, em função das variáveis como a
tensão aplicada no tubo e o número atômico do material do alvo. Assim, pode-
se recorrer aos trabalhos de Kramers (Kramers, 1923) que adotou como modelo
cinético do elétron dentro do alvo considerando uma trajetória parabólica e
obteve equações para a intensidade da radiação emitida aplicando as leis da
eletrodinâmica clássica. Na mesma época, Kirkpatrick (Kirkpatrick, 1923) obteve
resultados experimentais que, apesar de rudimentares, corroboravam com as
equações obtidas por Kramers.
De forma simplificada, Kramers associou a trajetória do elétron no campo
coulombiano no alvo na forma de componentes de Fourier, impondo que o limite
10
de emissão de mais alta energia deveria ser equivalente à máxima energia que
os elétrons atingiam o alvo, ou seja, ℎ𝜈 = 𝑒𝑉, sendo 𝑉 a diferença de potencial
que fornece a energia cinética para os elétrons. Assim, considerando um único
elétron atravessando um alvo fino consistindo de 𝑛 átomos por unidade de
volume (𝑛 = 𝑁𝐴 𝜌⁄𝐴), a intensidade de raios X emitidos em um intervalo de
frequência 𝑑𝜈 será (Dyson, 1990)
16𝜋 2 𝑍 2 𝑒 5 𝑛
𝑑𝜈𝑑𝑥 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝜈 < 𝜈0
𝑖(𝜈)𝑑𝜈𝑑𝑥 = { 3√3 𝑐 3 𝑚𝑉 (16)
0 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝜈 ≥ 𝜈0
Nesta equação, novamente, aparece a dependência quadrática com Z, como
comentado anteriormente. Integrando a equação (16) sobre todas as
frequências, obtêm-se:
16𝜋 2 𝑍 2 𝑒 6 𝑛
𝑖𝑑𝑥 = 𝑑𝑥 (17)
3√3 𝑐 3 𝑚ℎ
Este resultado é válido para um alvo fino, no qual o elétron atravessa sem perda
considerável de energia. O tratamento completo do problema pode ser feito
considerando a função de onda do elétron antes e após a interação coulombiana.
Isto foi estudado por Sommerfeld (Sommerfeld, 1929, Sommerfeld, 1964)
usando o ferramental matricial da Mecânica Quântica e os momentos elétricos
resultantes da interação, distribuídos em todo espaço. O mesmo problema foi
detalhado por Kirkpatrick e Wiedmann (Kirkpatrick and Wiedmann, 1945). Este
estudo está resumido em Dyson (Dyson, 1990) e não será detalhado no presente
trabalho. Cabe somente ressaltar que a dedução da equação (17) por
Sommerfeld não é válida quando a velocidade do elétron se aproxima da
velocidade da luz.
Uma abordagem mais robusta para o problema tratando de velocidades
relativísticas do elétron e adotando as aproximações de Born foi apresentada por
Bethe e Heitler (Bethe and Heitler, 1934). Os resultados desses autores mantêm
a proporcionalidade com 𝑍 2 da intensidade de fótons emitidos pela interação dos
elétrons, mas considera a possibilidade do elétron emitir mais que um fóton antes
de atingir a situação de repouso. Os autores ainda demonstram uma expressão
para prever a quantidade média de fótons emitidos em função da energia do
elétron incidente.

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Um tratamento bastante completo dos processos de bremsstrahlung nas
situações clássicas, ou seja, considerando elétrons incidentes no limite não-
relativístico ((𝑣⁄𝑐) ≪ 1), no limite não-relativístico, porém considerando a
aproximação de Born segundo a mecânica quântica e argumentos
semiclássicos, e no caso relativístico, aplicando-se ou não as transformações de
Lorentz, são apresentados, detalhadamente, por Jackson (Jackson, 1999). O
mesmo autor trata, ainda, da questão da blindagem do campo no núcleo pelos
elétrons orbitais e da perda de energia por transições radiativas relativísticas,
sempre comparando os resultados semiclássicos com os obtidos por Bethe e
Heitler (Bethe and Heitler, 1934) através da aplicação de ferramentas da
mecânica quântica.
Conforme apresentado anteriormente, os resultados de Bethe e Heitler, apesar
de fundamentais para o entendimento do processo de emissão de raios X
através da interação do elétron em movimento com os átomos do alvo, não
permitem a total compreensão dos fenômenos de maior interesse para as
aplicações que serão descritas nos capítulos que seguem. Na maioria das
aplicações práticas que serão descritas, o processo de emissão de
bremsstrahlung se dá com a utilização de alvos espessos, onde outros
fenômenos, tais como o espalhamento dos elétrons e a blindagem do campo
elétrico nuclear pelos elétrons orbitais, devem ser considerados.
Este problema foi tratado na década de 1930 por Hans Bethe e Felix Bloch, que
desenvolveram uma nova teoria para o poder de freamento colisional de elétrons
interagindo com meios, tomando por base a teoria quântica e conceitos
relativísticos. A teoria de Bethe-Bloch (Ziegler, 1999) aperfeiçoava a teoria
clássica da Bohr, obtendo excelentes resultados quando comparados a dados
experimentais (Podgorsak, 2010). Seus resultados, apresentados na forma de
funções que quantificam o poder de freamento dos elétrons, normalmente
divididos entre colisões soft e hard, em função de diversos parâmetros de
interesse, são bastante conhecidas por textos didáticos da área de Física das
Radiações (Okuno and Yoshimura, 2010, Podgorsak, 2010, Attix, 1986, Johns
and Cunningham, 1983).
O resultado das interações previstas por Bethe e Block, para fins práticos
relacionados ao alcance de elétrons, 𝑅, em meios espessos, pode ser expressa,
simplificadamente, como uma lei de potência na forma 𝑅 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 × 𝑉 𝛼 . Esta
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regra aproximativa entre alcance dos elétrons e tensão de aceleração, chamada
lei de Thomson-Whiddington, é frequentemente utilizada para a obtenção de
valores aproximados de intensidade do feixe de raios X produzidos quando se
conhece o valor de 𝑉 e é aplicada em diversos modelos de simulação
computacional de espectros de bremsstrahlung, como será abordado em
capítulos posteriores. O valor de 𝛼, contudo, varia de acordo com a tensão a ser
aplicada, sendo em torno de 1,7 para tensões de 20 kV e caindo
progressivamente até 1 para tensões de 1 MV. Whiddington (Whiddington,
1912), porém, encontrou 𝛼 = 2 para energias de elétrons entre 8 e 30 keV. O
apêndice 1 de Dyson (Dyson, 1990) apresenta outros resultados destas
aproximações, em outras faixas de energia e com comparações interessantes
com resultados experimentais.
Pode-se, ainda, correlacionar os resultados de Kramers com a lei de
Thompsom-Whiddington e derivar uma expressão simplificada para a
intensidade do espectro de raios X considerando um alvo fino e uma pequena
auto-atenuação dos fótons de raios X pelo material do alvo. Esta expressão é
representada por (Dyson, 1990)

𝐼(𝜈) = 𝐴𝑍(𝜈0 − 𝜈) (18)


Onde 𝐴 é uma constante, semelhante à que aparece nos resultados de
Kulenkampff (Kulenkampff, 1922, Kulenkampff, 1928).
O problema pode, ainda, ser tratado de forma mais complexa considerando
alvos semi-finos, ou seja, quando a espessura, 𝑑𝑥, não é suficiente para levar os
elétrons ao repouso. Neste caso, a intensidade total do feixe, semelhante ao
resultado apresentado na equação (17), é dada por
16𝜋2 𝑒5 2 𝑒
𝐼𝑑𝑥 = 𝑍 𝑛 𝑑𝑥 (19)
3√3 𝑐3 𝑚 ℎ
A integração desta equação para um valor finito de 𝑥 demonstra que a
intensidade total emitida em um alvo semi-fino é independente da energia do
elétron e que espessuras semelhantes irão produzir intensidades totais
semelhantes. A única hipótese necessária é que o elétron emerja do alvo com
uma velocidade finita. Isto leva a resultados conhecidos e, normalmente,
utilizados para representar, de forma didática, a emissão de raios X por alvos

13
espessos como se fossem superposições de alvos semi-finos (Johns and
Cunningham, 1983, Behling, 2015, Brosed, 2011).
Por fim, uma questão de alta relevância relacionada ao bremsstrahlung com
relação às aplicações que serão tratadas no presente texto é o rendimento
associado à produção de raios X em função do material do alvo e da tensão
aplicada para a aceleração dos elétrons. Kirkpatrick e Wieldmann (Kirkpatrick
and Wiedmann, 1945) compararam a intensidade total de um campo de radiação
gerado por uma partícula carregada acelerada usando uma aproximação não
relativística e considerando os momentos elétricos efetivos no plano x-y,
transversal à direção da trajetória da partícula, que resultam em “componentes”
de intensidade de radiação 𝐼𝑥 e 𝐼𝑦 , obtendo:
𝜋
8
𝐼 = ∫ [𝐼𝑥 𝑠𝑒𝑛2 𝜃 + 𝐼𝑦 (1 + 𝑐𝑜𝑠 2 𝜃)]2𝜋𝑠𝑒𝑛𝜃𝑑𝜃 = 𝜋(𝐼𝑥 + 2𝐼𝑦 ) (20)
0 3

Os autores compararam este resultado à perda de energia de elétrons


acelerados interagindo com alvos finos, o que permitiu a derivação da seguinte
expressão:
𝜂 = 2,8 × 10−6 𝑍𝑉 (21)

Na equação (21), 𝜂 representa a eficiência (ou rendimento) de produção de


fótons, 𝑍 é o número atômico do material do alvo e 𝑉 é a diferença de potencial
aplicada, expressa em quilovolts. Dyson (Dyson, 1990) descreve resultados de
diversos trabalhos experimentais realizados em meados do século passado para
demonstrar as relações entre a energia fornecida para os elétrons e o número
atômico de um alvo fino com a quantidade de radiação absoluta gerada no
processo. Muitos destes trabalhos buscavam confirmar os resultados teóricos de
Sommerfeld.
Contudo, os resultados de interesse real para as aplicações de espectros em
Medicina são aqueles gerados por alvos espessos. Neste caso, os resultados
obtidos por Krammers (Kramers, 1923) e por Compton e Allison (Compton and
Allison, 1940) podem ser representados na forma
𝑃 = 𝐾𝑍𝑉 2 (22)

Nesta equação, 𝑃 representa a potência irradiada por unidade de corrente e 𝐾


é uma constante adimensional que varia entre 0,92x10-6 e 1,1 x10-6. Resultados

14
semelhantes a estes são, atualmente, usados em textos didáticos relacionados
à tecnologia dos raios X (Behling, 2015) ou à Física do Diagnóstico por Imagem
(Bushberg et al., 2012, Dance et al., 2014). O valor da constante 𝐾, contudo, foi
revisado por diferentes autores, tais como Green e Cosslett (Green and Cosslett,
1968) e por Dyson (Dyson, 1959). Este último apresenta, em seu livro-texto
(Dyson, 1990), uma comparação entre seus resultados e o valor constante de
Compton e Allison e discute o comportamento do valor de 𝐾 em função do
numero atômico, que passa por um valor mínimo em 𝑍 ≈ 60, variando entre
1,5x10-6 para 𝑍 = 13 e 0,85 para 𝑍 = 79.
Observando a equação (4), considerando que a intensidade irradiada pode ser
interpretada como a potência irradiada por unidade de frequência por intervalo
unitário de corrente, e usando relação aproximada 𝐵⁄𝐴 ≈ 0, temos:
𝑃
𝐼(𝑉, 𝑍) = ≈ 𝐴𝑍(𝜈0 − 𝜈)
𝑣
Logo, integrando e utilizando a relação para os fótons de maior energia
criados nas interações, ℎ𝜈0 = 𝑉𝑒, obtemos a seguinte expressão para a potência
irradiada por unidade de corrente:
𝜈0
𝜈02 𝐴 𝑒 2
𝑃 ≈ ∫ 𝐴𝑍(𝜈0 − 𝜈)𝜈𝑑𝜈 = 𝐴𝑍 = ( ) 𝑍𝑉 2 (23)
0 2 2 ℎ
Como o rendimento pode ser definido como a potência irradiada dividida pela
potência elétrica aplicada (lembrando que a definição de 𝑃, acima, é de potência
irradiada por unidade de corrente e a potência elétrica é o produto da tensão
aplicada pela corrente), temos:
𝑃 𝐴 𝑒 2
𝜂= = ( ) 𝑍𝑉 = 𝐾𝑍𝑉 (24)
𝑉 2 ℎ
Ou seja, comparando este resultado com a equação (22) obtemos;
𝐴 𝑒 2
𝐾= ( )
2 ℎ
Pode-se, por fim, definir o rendimento como função da energia do elétron
incidente (Nicholas, 1930). Neste caso, temos:
𝐴 𝑒 𝐴 𝑒
𝜂= 𝑍(𝑉𝑒) = 𝑍𝐸 = 𝐾 ´ 𝑍𝐸 (25)
2 ℎ2 2 ℎ2
Onde
𝐴 𝑒
𝐾´ =
2 ℎ2

15
Recomenda-se o texto de Radiation Physics for Medical Physicists, de Ervin
Podgorsak (Podgorsak, 2010) para leitores que desejam aprofundamento no
tema da produção de radiação em tubos de raios X. Além de uma profunda e
completa abordagem da física da produção dos raios X, o capítulo 14 do livro
traz uma interessante abordagem sobre os diferentes tipos de aceleradores de
partículas que resultam em emissão de radiação e suas particularidades.

16
O espectro de raios X característicos
As técnicas experimentais utilizadas nos primeiros anos de estudo da produção
dos raios X buscavam respostas para a distribuição energética do feixe
produzido. Naquela época, a instrumentação para exploração dos fenômenos de
difração ainda não havia sido desenvolvida e os cientistas experimentais
utilizavam o comportamento da absorção dos raios X pela matéria como única
fonte de informação empírica para avançar em seus resultados.
Foi através do estudo da penetração da radiação-X em diferentes materiais que
se deduziu que os espectros gerados por tubos de raios X eram compostos por
um componente contínuo, descrito no item anterior, mas que também deveria
haver um componente discreto. Descobriu-se, mais tarde, com os trabalhos de
Bohr, Sommerfeld e muitos outros, que esta componente discreta tratava-se de
várias linhas. Depois, o desenvolvimento da Mecânica Quântica permitiu a
compreensão completa da estrutura fina deste tipo de espectro de radiação
eletromagnética.
O desenvolvimento do modelo de Bohr permitiu o entendimento e a
quantificação dos níveis energéticos das diversas camadas eletrônicas,
agrupadas em orbitais K, L, M, etc., e caracterizadas pelo Número Quântico
principal, 𝑛. Por esta teoria, considerando um átomo semelhante do hidrogênio,
porém com número atômico efetivo, 𝑍𝑒𝑓𝑓 , correspondendo ao número atômico
corrigido pelo efeito de blindagem dos elétrons orbitais (screening), os níveis de
energia dos diferentes elétrons distribuídos em um átomo são representados por
(Podgorsak, 2010, Dyson, 1990):
2 2
𝑚𝑟 𝑍𝑒𝑓𝑓 𝑒 2 1 𝑅ℎ𝑐𝑍𝑒𝑓𝑓
𝐸𝑛 = − 2 [ ] 2=− (26)
2ℏ 4𝜋𝜀0 𝑛 𝑛2
1 2 𝑚 𝑒4 𝑚𝑀
𝑟
Na equação (26), 𝑅 = (4𝜋𝜀 ) é a contante de Rydberg e 𝑚𝑟 = 𝑀+𝑚
0 4𝜋ℏ3 𝑐

é a massa reduzida do elétron orbital, sendo 𝑚 a massa do elétron e 𝑀 é a massa


atômica. O modelo de Bohr-Sommerfeld, contudo, leva em consideração
fenômenos adicionais, como o momento angular orbital e o acoplamento spin-
órbita. O detalhamento deste modelo foge ao escopo do presente texto e pode
ser encontrado na maioria dos livros didáticos de Física Moderna. A partir do
detalhamento deste modelo, que considera efeitos relativísticos, pode-se deduzir
uma equação geral para o nível energético de um átomo deste tipo levando-se

17
em consideração, além do número quântico principal, 𝑛, o número quântico
momento angular, 𝑙, e o número quântico de spin, 𝑠 (Dyson, 1990):
4
(𝑍 − 𝜎𝑠 )2 𝛼 2 (𝑍 − 𝜎𝑠´ ) 𝑛 3
𝐸𝑛,𝑙,𝑗 = −𝑅ℎ𝑐 [ + ( − )] (27)
𝑛2 𝑛4 1
𝑗+2 4
𝑒2
Na equação (27), 𝛼 = 4𝜋𝜀 é a constante de estrutura fina, 𝑗 = 𝑙 ± 𝑠 é o número
0 ℏ𝑐

quântico angular total e 𝜎𝑠 e 𝜎𝑠´ são constantes que corrigem o efeito da


blindagem parcial do campo elétrico do núcleo pelos elétrons orbitais.
Um fator não considerado na discussão acima e que completa o modelo
é o efeito de uma quantização magnética, associado ao número quântico
magnético 𝑚𝑗 , que assume valores tais que |𝑚𝑗 | ≤ 𝑗. Esta característica adicional
dos níveis energéticos de um átomo, associado ao Efeito Zeeman (Leroy and
Rancoita, 2009) bastante conhecido na espectroscopia ótica, não é observável
em espectros de raios X. Contudo, contribui para a definição das intensidades
das linhas características, uma vez que influencia as probabilidades de transição
entre estados.
Para a correta interpretação do espectro característico produzido em
tubos de raios X, o fenômeno de interesse está relacionado às transições
eletrônicas que ocorrem após o átomo entrar em estado de ionização ou
excitação por um estímulo externo. Isso ocorre, por exemplo, após a interação
com um elétron acelerado. O rearranjo das camadas eletrônicas pode ser
seguido de uma transição que produz fótons de raios X com energia equivalente
à diferença de energia entre as camadas onde houve a transição, ou através de
um processo competitivo, conhecido como efeito Auger. Uma das diferenças
entre esses processos reside na complexidade da cadeia de rearranjos
decorrentes de cada tipo de emissão. Quando um fóton de raios X característicos
é emitido pelo átomo, uma vacância em uma camada eletrônica aparece, e que
deve ser novamente preenchida. No caso da emissão de um elétron Auger, duas
vacâncias aparecem. Além disso, após uma ionização, diferentes combinações
destes fenômenos podem ocorrer.
Um conjunto de linhas espectrais características dos espectros de raios X
utilizados em aplicações médicas, em especial na mamografia, são os dubletos
𝐾∝1 e 𝐾∝2 , relacionados a transições que ocorrem após a ionização na camada-

18
K do átomo. Estas linhas respeitam as regras de seleção para radiação de dipolo
(Jackson, 1999, Eisberg and Resnick, 1994). A energia do dubleto 𝐾𝛼 pode ser
calculada pela fórmula aproximada (Dyson, 1990):
3
𝐸= 𝑅ℎ𝑐(𝑍 − 𝜎𝑚 )2 (28)
4
Com 𝜎𝑚 ≈ 1, que foi obtida por Moseley e a dependência em 𝑍 2 é conhecida
como Lei de Moseley. As linhas 𝐾𝛽 apresentam linhas correspondentes a
energias ligeiramente superiores às linhas 𝐾𝛼 , sendo 2,5% mais altas para o
sódio, que é o elemento químico mais leve no qual linhas 𝐾𝛽 podem aparecer, e
15% mais energéticas para o urânio.
O tratamento das linhas características L é importante para o correto
entendimento da fenomenologia associada ao processo de transições
eletrônicas em átomos ionizados. Contudo, as emissões de fótons referentes a
estas linhas têm poucas aplicações práticas na área de imagens médicas. Estas
linhas aparecerem em espectros muito fracamente filtrados e são de importância
marginal para os casos que serão explorados no presente documento. Assim,
uma abordagem detalhada pode ser obtida com a leitura de textos didáticos de
Física Moderna ou no capítulo 3 do livro de Dyson (Dyson, 1990).
Linus Pauling, em 1927, realizou cálculos teóricos para as constantes 𝜎𝑠 e 𝜎𝑠´
(Pauling, 1927), obtendo excelente concordância com resultados experimentais.
O tratamento matemático e conceitual para obtenção destas constantes é
bastante complexo, mas a ideia geral é relativamente simples.
O efeito da blindagem do campo do núcleo depende da quantidade de carga
parcial que existe no interior do átomo. Assim, depende daquelas cargas
distribuídas em raios menores que o raio da carga que está sentindo campo
(blindagem interna) e das cargas distribuídas em raios superiores (blindagem
externa). A blindagem interna depende, fundamentalmente, da carga total
contida dentro do raio de interesse e sua distribuição é pouco importante. Por
outro lado, a blindagem externa tem forte dependência na distribuição de cargas,
uma vez que cargas distribuídas muito distantes do raio de interesse vão produzir
um efeito de blindagem pequeno em comparação com aquelas cargas situadas
em raios ligeiramente superiores ao raio onde se situa a carga que está sujeita
aos efeitos do campo. Uma discussão detalhada e bem referenciada relacionada
aos valores de 𝜎𝑠 e 𝜎𝑠´ pode ser encontrada em (Bambynek et al., 1972) e na

19
dissertação de mestrado de Suelen Barros (Barros, 2014), que acompanha uma
excelente pesquisa bibliográfica sobre o assunto.
Para o interesse do presente trabalho é importante tratar dos temas
relacionados ao rendimento da produção de radiação fluorescente e do efeito
Auger, citado anteriormente. Após um elétron acelerado por uma dada diferença
de potencial atingir um átomo do alvo e ionizá-lo, removendo um elétron orbital
de uma das camadas internas, o rearranjo eletrônico pode gerar um fóton de
raios X ou, alternativamente, ocorrer uma transição não-radiativa. Neste caso, a
energia disponibilizada pelo processo de acomodação das camadas eletrônicas
é utilizada para liberar outro elétron orbital de uma das camadas mais externas.
Este processo é conhecido como efeito Auger e o elétron ejetado é chamado
elétron Auger (Johns and Cunningham, 1983, Podgorsak, 2010). Para um átomo
com muitas camadas eletrônicas que realiza processos Auger após uma
ionização, um grande conjunto de recombinações eletrônicas são possíveis, o
que torna o espectro de emissões Auger bastante complexo (Dyson, 1990).
Sem entrar em maiores detalhes destes processos, pode-se definir o
rendimento fluorescente após a ionização de um átomo com a remoção de um
elétron da camada K como:
𝑁𝐾
𝜔𝐾 = (29)
𝑁𝐾 + 𝐴𝐾
Onde 𝑁𝐾 é o número de fótons de raios X da série K emitidos e 𝐴𝐾 é o número
correspondente de elétrons Auger. Assim, a determinação de valores dos
rendimentos 𝜔𝐾 (ou 𝜔𝐿 , 𝜔𝑀 , etc.) para diferentes átomos depende,
fundamentalmente, das probabilidades relativas de ocorrência destes dois
processos competitivos. De forma simplificada, pode-se determinar que a
probabilidade de ocorrência de emissões de elétrons Auger varia pouco com o
número atômico, enquanto a probabilidade de emissão de raios X característicos
é proporcional à 𝑍 4 . Isso é demonstrado por Dyson (Dyson, 1990) considerando
a emissão radiativa pelo átomo como um oscilador clássico amortecido,
chegando no resultado:
𝑍4
𝜔𝐾 = 𝑎 4 , 𝑎𝐾 = 1,12 × 106 (30)
𝐾 +𝑍

Bambynek e col. (Bambynek et al., 1972) apresentam uma versão polinomial


semiempírica relacionando o rendimento fluorescente com o número atômico:

20
1 𝑝
𝜔𝐾 4
[ ] = 𝐵0 + ∑ 𝐵𝑖 𝑍 𝑖 (31)
1 − 𝜔𝐾
𝑖=1

Onde os valores das constantes do polinômio referentes às medições


realizadas por diferentes autores estão tabelados em (Bambynek et al., 1972).
Além disso, Dyson (Dyson, 1990) faz um resumo da quantificação do rendimento
fluorescente quando o elétron removido do átomo se situava na camada L.
Outro tema relevante para a correta interpretação dos espectros de raios X
obtidos em equipamentos de uso em Medicina diagnóstica ou para aplicações
associadas é a intensidade relativa das linhas características que aparecem
nestes espectros. Este tema foi, e vem sendo, tratado por diversos autores e
resultados obtidos pelo autor do presente texto, em colaboração com outros
colegas e estudantes, será discutida posteriormente (Lopez Gonzales et al.,
2015, Bontempi et al., 2016)
Dyson (Dyson, 1990) apresenta, ainda que de forma resumida dada a
complexidade do assunto, a influência das regras de transição e redistribuições
de Coster-Kronig e como elas influenciam, estatisticamente, as intensidades
relativas das linhas características que ocorrem após processos de ionização de
um átomo (Wu et al., 2012, Rahangdale et al., 2016, Barros et al., 2015,
Fernandez-Varea et al., 2014).
Podemos, enfim, apresentar os fundamentos básicos relacionados à emissão
de radiação característica por alvos finos e espessos. No caso de alvos finos, a
expressão para a seção de choque de ionização associada à (𝑛, 𝑙)-ésima
camada, 𝜎𝑛.𝑙 , pode ser expressa como:
1 2𝜋𝑒 4 𝑍𝑛𝑙 2𝑚0 𝑣 2
𝜎𝑛𝑙 = 𝑏 𝑙𝑛 [ ] (32)
(4𝜋𝜀0 )2 𝑚0 𝑣 2 |𝐸𝑛𝑙 | 𝑛𝑙 𝐵𝑛𝑙
Nesta equação, 𝑍𝑛𝑙 é o número de elétrons na camada, |𝐸𝑛𝑙 | é a energia
de ligação dos elétrons na camada considerada, 𝑏𝑛𝑙 é uma constante numérica,
𝐵𝑛𝑙 é uma função da energia de ligação dos elétrons e 𝑒, 𝑚0 e 𝑣 são,
respectivamente, a carga, a massa de repouso e a velocidade dos elétrons
incidentes. Após uma série de considerações práticas, Dyson apresenta a
seguinte expressão para esta seção de choque, considerando a interação de um
elétron com energia cinética superior a energia de ligação da camada K de um
átomo e ionizando-o pela remoção do elétron desta camada:

21
1 2𝜋𝑒 4
𝜎𝐾 = 𝑏 𝑙𝑛[𝑈𝐾 ] (33)
(4𝜋𝜀0 )2 𝐸𝐸𝐾 𝐾
Na equação (33), 𝐸 é a energia cinética do elétron incidente, 𝐸𝐾 é a
energia de excitação da camada K e 𝑈𝐾 = 𝐸 ⁄𝐸𝐾 é a razão de excitação. Esta
expressão é bem confirmada por resultados experimentais provenientes de
interação de elétrons com alvos finos de diferentes materiais. Mais uma vez,
Dyson (Dyson, 1990) apresenta uma detalhada comparação entre o resultado
apresentado na equação (33) e dados experimentais de diferentes autores.
A abordagem de maior importância para as aplicações relacionadas ao
presente trabalho é aquela que assume que o alvo é espesso. Neste caso, os
elétrons que atingem o alvo perdem, gradualmente, sua energia cinética através
de interações elásticas e inelásticas. Assim, a seção de choque para obtenção
do rendimento fluorescente relacionado à radiação característica deve ser
integrada considerando a distância que o elétron percorre dentro do alvo. Pra
isso, utiliza-se a expressão para perda de energia inicial, 𝐸0 , do elétron incidente
e considerando ionizações na camada K, o número de fótons de raios X emitidos
por elétron incidente é dado por:
𝐸𝐾
𝑑𝐸 −1
𝑁𝐾 = 𝜔𝐾 ∫ 𝜎𝐾 𝑛 ( ) 𝑑𝐸 (34)
𝐸0 𝑑𝑥
𝑑𝐸
Nesta equação, 𝑛 é o número de átomos por unidade de volume e éo
𝑑𝑥

poder de freamento do material para elétrons incidentes, dado pela fórmula de


Bethe-Block. Esta fórmula, que é apresentada na maioria dos textos didáticos da
área de Física das Radiações (Johns and Cunningham, 1983, Podgorsak, 2010)
pode ser representada como:
1
𝑑𝐸 1 4𝜋𝑒 4 𝑛𝑍 𝑒 2 𝑚0 𝑣 2
=− 𝑙𝑛 [( ) ]
𝑑𝑥 (4𝜋𝜀0 )2 𝑚0 𝑣 2 2 2𝐽 ̅
1 (35)
1 2𝜋𝑒 4 𝑛𝑍 𝑒 2𝐸 1 𝑘𝑛𝑍
=− 𝑙𝑛 [( ) ] ≈ −
(4𝜋𝜀0 ) 2 𝐸 2 𝐽̅ 2
(4𝜋𝜀0 ) 2𝐸

Nesta equação, 𝐽 ̅ é a média geométrica dos potencias de ionização e


excitação do átomo e 𝑘 é uma constante. A última aproximação considera a
pequena variação do termo logarítmico com 𝑍 e com 𝐸 e é válida como uma boa
aproximação para elétrons incidentes com energias inferiores a 40 keV.

22
Substituindo a equação (33) em (34) e utilizando o resultado obtido na
equação (35) temos:
𝜔𝐾 4𝜋𝑒 4 𝑏𝑘 𝐸0 𝐸 𝜔𝐾 4𝜋𝑒 4 𝑏𝑘
𝑁𝐾 = ∫ 𝑙𝑛 [ ] 𝑑𝐸 = [𝑈0 𝑙𝑛𝑈0 − (𝑈0 − 1)] (36)
𝑘𝑍𝐸𝐾 𝐸𝐾 𝐸𝐾 𝑘𝑍
𝐸0
Onde 𝑈0 = ⁄𝐸 . Introduzindo, explicitamente, a dependência do
𝐾

rendimento fluorescente usando a equação (30), temos:


𝑍 3 4𝜋𝑒 4 𝑏𝑘
𝑁𝐾 = [𝑈0 𝑙𝑛𝑈0 − (𝑈0 − 1)] (37)
𝑎𝐾 + 𝑍 4 𝑘
A Figura 1 apresenta o comportamento do número de fótons gerados por
fluorescência após a remoção direta de um elétron da camada K de um átomo.
O gráfico apresenta somente o comportamento da proporcionalidade
𝑍 3 ⁄(𝑎𝐾 + 𝑍 4 ), com os demais termos da equação (37) aparecendo como um
fator de normalização. Nota-se que, para elementos leves, o crescimento do
número de fótons emitidos é dominado pelo termo 𝑍 3 e cresce rapidamente.
Porém, para átomos com número atômico próximos a 40 esta tendência se
inverte e o termo em 𝑍 4 no denominador passa a dominar. Além disso, nota-se
que o rendimento de produção de radiação fluorescente é a mesma,
independente da energia do elétron incidente, desde que este tenha energia
suficiente para provocar o processo de ionização do átomo.

0.018

0.016
NK/[(4e4bK/k)(U0lnU0-(U0-1)]

0.014

0.012

0.010

0.008

0.006

0.004

0.002

0.000
0 20 40 60 80 100
Z

Figura 1 - Comportamento do número de fótons gerados por fluorescência após


a remoção direta de um elétron da camada K de um átomo

23
O modelamento para radiação fluorescente apresentado até aqui leva em
consideração somente a ionização de átomos resulta diretamente da interação
com elétrons incidentes. Contudo, quando se trata de alvos espessos, a radiação
contínua gerada no alvo contém fótons com energia suficiente para, também,
provocar ionizações nos átomos e provocar a emissão de radiação de
fluorescência. Este fenômeno, conhecido como produção indireta de radiação
fluorescente, aumenta a intensidade de raios X característicos no espectro. Este
aumento depende, entre outras coisas, da quantidade de fótons produzidos pelo
processo de bremsstrahlung no material do alvo.
A quantificação desta contribuição ao espectro discreto produzido por alvos
espessos pode ser realizada considerando a razão:
𝑌𝐾
𝑆= (38)
𝑁𝑐
Onde o numerador representa o número de ionizações da camada K
produzidas por impacto de elétrons e o denominador o número de fótons no
espectro contínuo com energia ℎ𝜈 > 𝐸𝐾 . Inicialmente pode-se considerar o
cálculo de 𝑌𝐾 como:
𝑥𝐾 𝑥𝐾
1 2𝜋𝑒 4 1 4𝐸
𝑌𝐾 = 𝑛 ∫ 𝜎𝐾 𝑑𝑥 = 2
𝑏𝐾 𝑛 ∫ 𝑙𝑛 [ ] 𝑑𝑥
0 (4𝜋𝜀0 ) 𝐸𝐾 0 𝐸 𝐵𝐾
𝐸𝑥 (39)
1 2𝜋𝑒 4 4𝐸 1 𝑑𝑥
= 2
𝑏𝐾 𝑛 ∫ 𝑙𝑛 [ ] 𝑑𝐸
(4𝜋𝜀0 ) 𝐸𝐾 𝐸0 𝐵𝐾 𝐸 𝑑𝐸
Nesta equação, 𝑛 representa o número de átomos por unidade de volume
do material do alvo, 𝜎𝐾 é a seção de choque de ionização definida na equação
(33) e 𝑥𝐾 é a distância que os elétrons atravessam até perderem energia e esta
se tornar inferior à energia necessária para ionização dos átomos do alvo. A
partir da equação (35), pode-se definir a Lei de Thomsom-Widdington (Dyson,
1990) como:
𝑑𝑥 2𝐸
=-(4𝜋𝜀0 )2 𝑘𝑛𝑍 (40)
𝑑𝐸
Substituindo (40) em (39) e definindo 𝐵𝐾 = 𝑎𝐸𝐾 e 𝑈0 = 𝐸𝑜 ⁄𝐸𝐾 , obtemos:
4𝜋𝑒3 𝑏𝐾 4𝑈0 4
𝑌𝐾 = [𝑈0 𝑙𝑛 ( ) − (𝑈0 − 1) − 𝑙𝑛 ( )] (41)
𝑍𝑘 𝑎 𝑎
Para o cálculo do denominador da equação (38), pode-se retomar a expressão
definida na equação Erro! Fonte de referência não encontrada., desprezando-

24
se o termo de baixa amplitude que varia com 𝑍 2 e representando-a como a
energia irradiada por unidade de frequência por elétron incidente como
𝐸𝜈 = 𝐶𝑍(𝜈0 − 𝜈) (42)
Na equação (42), 𝐶 = 𝐴𝑐 𝑒. Assim, o número de fótons com energia ℎ𝜈
produzidos pode ser expresso como
𝐶𝑍(𝜈0 − 𝜈)
𝑛𝜈 = (43)
ℎ𝜈
Deste modo, o número de fótons de raios X característicos criados de forma
indireta, pela interação fluorescente causada por fótons do espectro contínuo é
dada por:
𝜈0
𝐶𝑍 𝜈0 (𝜈0 − 𝜈)
𝑁𝑐 = ∫ 𝑛𝜈 𝑑𝜈 = ∫ 𝑑𝜈
𝜈𝐾 ℎ 𝜈𝐾 𝜈
(44)
𝐶𝑍 𝜈0 𝐶𝑍𝐸𝐾
= [𝜈0 𝑙𝑛 ( ) − (𝜈0 − 𝜈𝐾 )] = [𝑈0 𝑙𝑛(𝑈0 ) − (𝑈0 − 1)]
ℎ 𝜈𝐾 ℎ2
Por fim, combinando (44) e (43) obtemos
4𝑈0 4
4𝜋𝑒 4 ℎ2 𝑏𝐾 [𝑈0 𝑙𝑛 ( 𝑎 ) − (𝑈0 − 1) − 𝑙𝑛 (𝑎 )]
𝑆= (45)
𝐶𝐸𝐾 𝑘𝑍 2 [𝑈0 𝑙𝑛(𝑈0 ) − (𝑈0 − 1)]

Outro parâmetro importante para a análise das linhas características emitidas


em espetros provenientes de alvos espessos é dado pela razão entre o número
de ionizações da camada K produzidas por impacto de elétrons e o número de
ionizações produzidas por fluorescência:
𝑌𝐾
𝑃= (46)
𝐹𝐾
Esta razão representa a proporcionalidade entre os processos de ionizações
provocados pelos diferentes estímulos (impacto dos elétrons ou radiação
fluorescente). O fenômeno foi estudado por diversos autores para os elementos
químicos prata, paládio e cobre (Dyson, 1990), que encontraram valores
aproximadamente constantes para uma grande faixa de tensões de aceleração
dos elétrons. Usando esta grandeza, pode-se expressar o aumento da radiação
fluorescente produzida devido a produção indireta como (𝑃 + 1)⁄𝑃 .
Para obter uma representação mais exata do número de fótons produzidos por
radiação fluorescente relacionados à ionização da camada K, deve-se levar em
consideração o efeito de retroespalhamento dos elétrons, que reduz a eficiência

25
de produção desta radiação por um fator 𝑅, e o efeito da auto-absorção dos
fótons produzidos pelo próprio material do alvo, representada por 𝑓(ℎ𝜈, 𝜃), que
será definida adiante.
Assim, combinando esses fatores e a razão (𝑃 + 1)⁄𝑃 com e equação (34),
obtém-se
𝑃 + 1 𝐸𝐾 𝑑𝐸 −1
𝑁𝐾 = 𝜔𝐾 𝑛𝑓(ℎ𝜈, 𝜃) ( ) ∫ 𝜎𝐾 ( ) 𝑑𝐸 (47)
𝑃 𝐸0 𝑑𝑥
Dyson (Dyson, 1990) discute e apresenta resultados de diferentes abordagens
práticas, com resultados experimentais e cálculos numéricos realizados por
diferentes autores referentes aos possíveis valores de 𝑌𝐾 . Um desses resultados,
obtidos por Green e Cosslett (Green and Cosslett, 1961), representa uma
aproximação numérica da intensidade de raios X fluorescentes emitidos como:
𝑅𝜔𝐾
𝑌𝐾 = 9,54 × 104 [𝑈0 𝑙𝑛(𝑈0 ) − (𝑈0 − 1)] (48)
𝑐𝐴
Na equação acima, 𝜔𝐾 é o rendimento de produção de radiação fluorescente
1 𝑁𝐴 𝑘𝑍
da camada K e 𝑐 = (4𝜋𝜀 )2
, sendo 𝑁𝐴 o número de Avogadro e 𝐴 o número
0 𝐴

de massa dos átomos que compõe o alvo e 𝑅 varia pouco com a energia do
elétron.
A fração fluorescente produzida indiretamente é corresponde à parte do
espectro de fluorescência emitido pela excitação por fótons do espectro contínuo
com energias superiores a 𝐸𝐾 .
Dyson (Dyson, 1990) afirma que cerca da metade dos fótons incidentes em um
alvo com a forma convencional será absorvida pelo próprio alvo. Desta forma,
tem-se:
1
𝐹𝐾 = 𝑁(ℎ𝜈 > 𝐸𝐾 )𝑓𝐾 (49)
2
Ona equação (49), 𝑓𝐾 = (𝑟𝐾 − 1)⁄𝑟𝐾 é a proporção das interações dos raios X
dentro do alvo que ocorrem com elétrons da camada K, sendo 𝑟𝐾 a razão da
descontinuidade da absorção na borda K, relacionada à ocorrência do efeito
fotoelétrico.
O número de fótons produzidos por elétron incidente por intervalo de energia
(em keV) para o espectro contínuo pode ser obtido, usando a equação (43),
como:

26
𝐶𝑍 (ℎ𝜈0 − ℎ𝜈) (ℎ𝜈0 − ℎ𝜈)
𝑛(ℎ𝜈) = 2
= 2,76 × 10−6 𝑍 (50)
ℎ ℎ𝜈 ℎ𝜈
Assim,
ℎ𝜈𝑘 (ℎ𝜈
0− ℎ𝜈)
𝑁(ℎ𝜈 > 𝐸𝐾 ) = 2,76 × 10−6 𝑍 ∫ 𝑑(ℎ𝜈)
ℎ𝜈0 ℎ𝜈
(51)
−6
= 2,76 × 10 𝑍ℎ𝜈𝑘 [𝑈0 𝑙𝑛(𝑈0 ) − (𝑈0 − 1)]

Usando a fórmula empírica


ℎ𝜈𝐾 = 1,263 × 10−2 (𝑍 − 2)2 [𝑘𝑒𝑉] (52)
E considerando
𝑟𝐾 −1
≈ 0,85 𝑝𝑎𝑟𝑎 30 ≤ 𝑍 ≤ 80 (53)
𝑟𝐾

Conclui-se que
𝐹𝐾 = 1,46 × 10−8 (𝑍 − 2)2 𝑍𝜔𝐾 [𝑈0 𝑙𝑛(𝑈0 ) − (𝑈0 − 1)] (54)
Assim, o número total de fótons de raios X fluorescentes provenientes de
interações com a camada K produzidos por elétron incidente no alvo pode ser
obtido adicionando as equações (47) e (55):
𝑁𝐾 = 𝑌𝐾 +𝐹𝐾
𝑅
= 𝜔𝐾 (9,54 × 104 + 1,46 × 10−8 (𝑍 − 2)2 𝑍) [𝑈0 𝑙𝑛(𝑈0 ) (55)
𝑐𝐴
− (𝑈0 − 1)]
Expressando a relação acima na forma de fótons por unidade de ângulo sólido
(esterradianos) obtém-se (Dyson, 1990):
𝑁𝐾 𝑅
= 𝜔𝐾 (2,80 × 103 + 4,27 × 10−10 (𝑍 − 2)2 𝑍) (𝑈0 − 1)1,67 (56)
4𝜋 𝑐𝐴
Onde foi utilizada a relação semiempírica, válida para 1,5 ≤ 𝑈0 ≤ 16 com erro
inferior a 10%:
[𝑈0 𝑙𝑛(𝑈0 ) − (𝑈0 − 1)] ≈0,365(𝑈0 − 1)1,67
As últimas considerações a serem feitas com respeito à produção de
raios X característicos referem-se às correções a serem adotadas devido à
variação da produção de radiação deste tipo com a profundidade no alvo e
devido a efeitos de auto-absorção. Assim, supondo que um elétron tem energia
inicial 𝐸0 e atinge um alvo espesso, após atravessar uma distância 𝑥 no alvo, o
número de ionizações pode ser representado por (Dyson, 1990):
𝑌𝐾 𝑑𝑥 = 𝜎𝐾 (𝐸)𝑛𝑑𝑥 (57)

27
Usando a equação (33), pode-se escrever:
1 2𝜋𝑒 4 1 2𝜋𝑒 4
𝜎𝐾 𝐸𝐾2 = 𝑏𝐾 𝑙𝑛[𝑈𝐾 ] = 𝑏 𝑙𝑛[𝑈𝐾 ]
(4𝜋𝜀0 )2 𝐸 (4𝜋𝜀0 )2 𝑈𝐾 𝐾
𝐸𝐾
Da equação (35), obtemos, por integração:
1/2
𝐸 = 𝐸0 (1 − 𝑥⁄𝑥0 )
A equação (57) pode ser utilizada para representar a quantidade de ionizações
por elétron incidente por unidade de comprimento do caminho percorrido em
função da penetração dentro do alvo como
1 2𝜋𝑒 4 𝑛𝑏𝐾 1/2
𝑌𝐾 𝑑𝑥 = 𝑙𝑛 [𝑈0 (1 − 𝑥⁄𝑥0 ) ] 𝑑𝑥 (58)
(4𝜋𝜀0 )2 𝑈 𝐸 2 (1 − 𝑥⁄ )1/2
0 𝐾 𝑥0
𝐸0
Onde 𝑈0 = ⁄𝐸
𝐾

O retroespalhamento dos elétrons incidentes no alvo é o fator preponderante


que afeta a produção de raios X característicos associados às camadas
eletrônicas mais internas dos átomos do alvo. A produção deste tipo de radiação
irá diminuir em profundidades maiores do alvo e irá aumentar sua produção em
camadas mais superficiais do alvo (Dyson, 1990, Behling, 2015). O
retroespalhamento, contudo, irá sempre ter um efeito redutor em relação à
quantidade total que poderia ser produzida, em especial devido à perda de
elétrons na superfície do alvo. O fator de redução, como apresentado
anteriormente, é denotado por 𝑅.
O tratamento adequado desta parte do problema da geração de
radiação X por alvos espessos passa pela análise da razão entre a radiação
emitida e a gerada dentro do alvo, ou seja:

∫0 𝐼(𝜌𝑧)𝑒 −[𝜒(ℎ𝜈,𝜃)∙𝜌𝑧] 𝑑(𝜌𝑧)
𝑓(ℎ𝜈, 𝜃) = ∞ (59)
∫0 𝐼(𝜌𝑧)𝑑(𝜌𝑧)
Na equação (59), 𝜃 representa o ângulo de saída ou de observação dos raios
𝜇 𝜇
X que emergem do alvo, 𝜒(ℎ𝜈, 𝜃) = (𝜌) (ℎ𝜈)𝑐𝑜𝑠𝑒𝑐(𝜃), sendo (𝜌) (ℎ𝜈) o

coeficiente de atenuação mássico do material do alvo em função da energia dos


fótons e 𝑧 representa a profundidade no alvo em que a radiação característica
foi gerada. Dyson (Dyson, 1990) ressalta que, à medida que 𝑧 aumenta, a
magnitude de 𝑥 progressivamente aumenta devido à maior obliquidade da
trajetória do elétron, resultante de sua perda de energia.
28
O fator 𝑧 × 𝑐𝑜𝑠𝑒𝑐(𝜃) corresponde ao caminho percorrido pelos fótons dentro do
alvo. Este mesmo tratamento foi adotado por Soole (Soole, 1972, Soole and
Jager, 1970, Soole, 1971, Soole, 1977), na década de 1970, tanto para espectros
contínuos quanto para a radiação característica. Esta mesma abordagem foi
adotada, posteriormente, em modelos mais sofisticados para previsão de
espectros de raios X e que serão tratados posteriormente neste texto (Tucker et
al., 1991, Costa et al., 2007).
Este tema foi amplamente estudado nas décadas de 1960 e 1970 por diferentes
métodos. Green (Green, 1963) e Bishop (Bishop, 1965) trataram a questão
através de simulação Monte Carlo, exemplificando os resultados através da
interação de elétrons com alvos de cobre. Green obteve ainda, resultados para
a distribuição angular e da anisotropia da radiação característica emergente
deste tipo de alvo, correlacionando estes efeitos com auto-absorção da radiação
(Green, 1964). Neste estudo, o autor demonstrou que a função definida em (59)
é, aproximadamente, independente do número atômico.
Green (Green, 1964) faz, ainda, um interessante tratamento para obtenção de
curvas genéricas para as produções direta e indireta de radiação característica
por diferentes materiais utilizados como alvo, considerando a auto-atenuação
pelo material. Para isso, considera que, após o elétron atingir a uma
profundidade na qual fenômenos de difusão dominam a trajetória do elétron
dentro do alvo, o mesmo se movimenta de forma aleatória até alcançar uma
energia cinética semelhante à energia térmica do meio. Assim, sendo 𝑙 o livre
caminho médio do elétron e 𝑀 o número de eventos de espalhamento que
ocorrem enquanto ele percorre este caminho, o alcance medido ao longo de sua
trajetória pode ser dado por:
𝑥 = 𝑀𝑙 = 𝑘𝐸 𝑛 (60)
Na relação (60) deve-se assumir que 1,7 ≤ 𝑛 ≤ 2 e 𝑘 é uma constante de
proporcionalidade (Green, 1964). A penetração dos elétrons pode, então, ser
definida como:
1
𝑧 = 𝑙√𝑀 = 𝑙(𝑘𝐸 𝑛 )2 (61)
Considerando a faixa de valores previstos para 𝑛, espera-se uma relação quase
linear entre a penetração dos elétrons e a energia dos elétrons após estes
alcançarem a condição de difusão. Dyson (Dyson, 1990) ressalta, ainda, que a

29
hipótese de aleatoriedade da trajetória dos elétrons é tanto melhor quanto maior
o número atômico do meio, devido ao aumento da probabilidade de
espalhamento devido ao potencial nuclear nestes casos.
Para concluir a discussão sobre esse tema, é de interesse prático associar os
resultados obtidos para a razão entre o espectro característico e o contínuo
produzidos com o bombardeio de elétrons em um alvo espesso. Este tema será
retomado posteriormente neste trabalho, em conexão com os trabalhos recentes
com colaboração do autor (Lopez Gonzales et al., 2015, Bontempi et al., 2016).
Aqui será apresentado, a título de introdução, a abordagem apresentada por
Dyson (Dyson, 1990), baseado nos dados experimentais de Green (Green,
1963) e Tothill (Tothill, 1968).
Tothill apresenta resultados da razão entre a intensidade das linhas
características 𝐾𝛼 = 𝐾𝛼1 + 𝐾𝛼2 e o espectro de radiação contínua para espectros
obtidos com alvo de tungstênio e tensões de aceleração dos elétrons de até 250
kV. Apresenta, também, uma interessante discussão teórica com base em
resultados anteriores de outros autores, que compara com seus valores obtidos
experimentalmente utilizando contadores proporcionais.
A razão 𝑆, definida na equação (38), pode agora ser revista considerando a
razão 𝐽𝑑 e ter as intensidades da radiação característica 𝐾𝛼 diretamente
produzidas e a radiação contínua. Esta grandeza pode ser representada por:
𝐽𝑑 = 2𝑆𝑓𝛼 𝜔𝐾 ℎ𝜈𝐾𝛼 ℎ𝜈𝐾 [𝑈0 𝑙𝑛𝑈0 − (𝑈0 − 1)]𝐸02
ℎ𝜈𝐾𝛼 (62)
= 2𝑆𝑓𝛼 𝜔𝐾 [𝑈 𝑙𝑛𝑈0 − (𝑈0 − 1)]𝑈02
ℎ𝜈𝐾 0
Para considerar a produção indireta de radiação característica, a equação (62)
𝑃+1
precisa ser multiplicada pelo fator ( ), como discutido na dedução da equação
𝑃

(47).

30
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