Você está na página 1de 24

UNIVERSISDADE ESTADUAL DA REGIÃO TOCANTINA DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS, NATURAIS E TECNOLÓGICA - CCENT


CURSO DE QUÍMICA LICENCIATURA

DISCIPLINA: QUÍMICA GERAL


PROF. Dr. Marco Antônio B. Azevedo
Material compilado do livro QUÍMICA um curso universitário. Mahan, Myers. 4ª ed.
Editora Edgard Blucher LTDA.

1. ESTRUTURA ATÔMICA
1.1. A natureza elétrica da matéria
Os primeiros indícios importantes relativos à natureza da eletricidade e à estrutura elétrica
dos átomos foram obtidos em 1833, como resultado dos experimentos de Faraday sobre a
eletrólise. Faraday foi capaz de mostrar que a quantidade de um produto formado em uma
eletrólise depende da quantidade de eletricidade (1ª Lei), e da identidade (Equivalente grama) do
produto.
Pode-se perceber que as leis da eletrólise são análogas às leis que regem as reações
químicas, que inicialmente sugeriram a existência dos átomos. Se um número definido de átomos
se combina com uma quantidade definida de eletricidade, parece razoável supor que a própria
eletricidade seja constituída por partículas.

1.2. Experimento de J. J. Thomson


Uma evidencia adicional de que os átomos são compostos de partículas menores veio das
experiências com tubos de raios catódicos, que são tubos de vidro (tubo de crookes), dos quais a
maior parte do ar foi retirada, e que contêm dois eletrodos metálicos. Quando uma voltagem
suficientemente elevada é aplicada aos eletrodos, um raio catódico flui do eletrodo negativo
(cátodo) ao eletrodo positivo (ânodo). Experimentalmente mostraram que os raios catódicos
viajam em linha reta, fazem com que os gases brilhem, são capazes de aquecer ao rubro objetos
metálicos, são defletidos por um campo magnético e são atraídos por placas carregadas
positivamente. Quando os raios catódicos atingem uma tela fluorescente, há emissão de luz em
uma série de pequenas centelhas. Podemos compreender todas essas observações se
considerarmos que um raio catódico é um feixe das partículas negativamente carregadas que hoje
conhecemos como elétrons.

Figura 1: Tubo de Crookes

As imagens formadas em televisões antigas São formadas usando-se eletricamente


carregadas para direcionar raios catódicos sobre a parte de trás de uma tela fosforescente na qual
enxergamos a imagem. O físico inglês J. J. Thomson usou esse princípio para provar
experimentalmente a existência do elétron e estudar suas propriedades. Ele aplicou campos
elétricos e magnéticos simultaneamente sobre um feixe de raios catódicos. Balanceando o efeito
do campo elétrico com o do campo magnético, e usando leis básicas da eletricidade e do
magnetismo, ele calculou a relação entre carga e massa para as partículas do feixe. Não foi
possível determinar a carga ou a massa de forma independente. Entretanto, encontrou a mesma
relação da carga-massa (e/m) em experiências com cátodos de 20 metais diferentes e com vários
gases. Esses resultados sugeriram que os elétrons estão presentes nos átomos de todos os
elementos.
Thomson determinou a relação e/m por dois métodos diferentes. No primeiro, Thomson
bombardeou um eletrodo com raios catódicos e mediu a corrente elétrica que passava pelo
eletrodo e o aumento de temperatura provocado pelo bombardeamento. Valendo-se do aumento
de temperatura e a capacidade calorífica do eletrodo ele calculou a energia W que as partículas
dos raios catódicos transportavam. Esta energia foi considerada como sendo igual à energia
cinética das partículas:

W  Nmv 2 / 2 Eq. 1

Onde N é o número de partículas de massa m e velocidade v que chegaram ao eletrodo


durante o experimento. Dando que mv2/2 é a energia cinética de uma partícula, Nmv2/2 é a
somatória da energia cinética de todas as partículas que se chocaram com o eletrodo. A carga
total, Q, coletada no eletrodo durante o experimento, pode ser diretamente relacionada com Ne e,
a carga de cada partícula:

Q  Ne Eq. 2

Combinando as duas equações acima, temos que

Q/W = 2/v2(e/m) Eq. 3

Visto que Thomson já havia medido Q e W, bastava medir a velocidade das partículas para
calcular a relação e/m. Isto foi conseguido medindo-se a deflexão provocada pela ação de um
campo magnético de intensidade conhecida, B, sobre um feixe de raios catódicos. Partículas de
carga e e massa m deslocando-se com uma velocidade v, descrevem um movimento circular de
raio r quando se encontram sob a ação de um campo magnético. A equação que relaciona estas
grandezas é

V= erB/m Eq. 4

Substituindo esta relação na Eq. 3, temos

e/m= 2W/r2B2Q Eq. 5

Todas as grandezas devem ser expressas em unidades consistentes. No sistema SI, W deve
estar em joules (J), r em metros (m), Q em coulombs (C) e B em tesla (T). O valor
experimentalmente encontrado de e/m por Thomson a partir de suas medidas simples foi
aproximadamente de 1,2x1011 C kg-1.
Uma maneira de verificarmos a validade do experimento é por meio da repetição da
determinação por um segundo método experimental, que seja o mais diferente possível do
primeiro utilizado.
No segundo método, um feixe de raios catódicos foi passado através de uma região na qual
ele estava sujeito à ação de um campo elétrico e um campo magnético. Independentemente, cada
um dos campos podia desviar o feixe de sua trajetória original, mas os campos elétricos e
magnéticos foram orientados de tal modo que o desvio provocado pelo campo elétrico fosse
exatamente o oposto ao daquele provocado pelo campo elétrico. Assim, se o campo elétrico
aplicado fosse mantido constante, a magnitude do campo magnético poderia ser ajustada de tal
modo que o feixe retornasse à sua trajetória original. Nesta condição, a força exercida pelo
campo magnético, Bev, sobre as partículas era exatamente igual à força exercida pelo campo
elétrico, eE. Logo,

Bev = eE

V=E/B

Portanto, a velocidade das partículas pode ser calculada a partir da medida de E e de B.


Na segunda etapa do experimento o campo magnético foi desligado e foi medida a
deflexão do feixe sob a ação apenas do campo elétrico. O campo elétrico eE provocou um desvio
δ na trajetória das partículas, o qual pode ser calculado pelo método da similaridade de
triângulos, a partir da medida do deslocamento do ponto de choque das partículas na extremidade
oposta do tubo.
A expressão final deduzida para o cálculo da relação e/m depende do desvio δ provocado
pelo campo elétrico e o comprimento, l, das placas defletoras, como ilustrado abaixo. Esta
equação foi deduzida por Thomson aplicando a segunda lei de Newton. A equação para o cálculo
da relação e/m é

e 2 E

m l 2 B2

Os valores de e/m obtidos por Thomson não eram muito precisos, e ele apenas pode
concluir que tal relação é aproximadamente igual a 1x1011 Ckg-1. O valor atual, obtido
utilizando-se aparelhos muito mais sofisticados, com cinco significativos é igual a 1,7588 x1011
Ckg-1.

Figura 2: Experimento de Thomson

1.3. Experimento de Millikan

Coube ao físico americano Robert Andrews Millikan determinar a carga em um elétron


(1908), o que permitiu a outros cientistas calcular sua massa Fig. 3. Em seu experimento,
minúsculas gostas de óleo foram introduzidas em uma câmara; à medida que as gotas
sedimentavam lentamente através do ar, foram expostas a raios X, o que fez que adquirissem
carga elétrica. Millikan usou um pequeno telescópio para observar gotas individuais. Se a carga
elétrica nas placas acima e a baixo das gotas fosse ajustada, a força atrativa eletrostática que
puxava uma gota para cima poderia ser balanceada pela força da gravidade que puxava a gota
para baixo. A partir das equações que descrevem essas forças, Millikan calculou a carga em
várias gotas. Diferentes gotas possuíam cargas diferentes, mas Millikan notou que cada uma
correspondia a um múltiplo inteiro da mesma carga menor, 1,60x x1019 C. O físico supôs que
essa era a unidade fundamental de carga, a carga de um elétron. Como a relação carga-massa do
elétron era conhecida, a massa do elétron poderia ser calculada. O valor atualmente aceito para a
massa do elétron é 9,109383 x10-28 g, e a carga do elétron é 1,602176 x1019 C. Quando nos
referimos às propriedades das partículas fundamentais, sempre expressamos a carga em relação à
carga do elétron, à qual é atribuído o valor –1.

Figura 3: Experimento da gota de óleo

1.4. Experimento de Rutherford

J. J. Thomson havia suposto que um átomo era uma esfera uniforme de matéria
positivamente carregada, dento da qual havia milhares de elétrons incrustrados. Thomson e seus
alunos imaginavam que a única questão dizia respeito ao número de elétrons que circulavam na
esfera. Por volta de 1910, Ernest Rutherford decidiu testar o modelo de Thomson. Ele havia
descoberto anteriormente que os raios α (alfa) eram partículas positivas carregadas que possuíam
a mesma massa dos átomos de hélio. Ele raciocinou que, se o modelo atômico de Thomson
estivesse correto, um feixe dessas partículas tão pesadas seria muito pouco defletido ao
atravessar uma folha delgada de ouro. Rutherford, com seus colaboradores Hans Geiger e Ernst
Marsden, montaram a aparelhagem mostrada na Figura 4 e observaram o que ocorreu quando as
partículas α atravessaram a folha de ouro. A maior parte passou direto, mas algumas partículas
foram defletidas em grandes ângulos, e outras quase voltavam à fonte! Mais tarde, Rutherford
descreveria esse experimento da seguinte forma: “Era como se você atirasse um projétil de 15
polegadas contra uma folha de papel e ele voltasse e o atingisse”.
Figura 4: Experimento de Rutherford

A única maneira de Rutherford e seus colaboradores acomodarem suas observações era


propor um novo modelo para o átomo, no qual toda a carga positiva e a maior parte da massa se
concentrassem em um volume muito pequeno. Rutherford chamou esse minúsculo caroço de
núcleo Figura 5; os elétrons ocupam o resto do espaço do átomo. A partir de seus resultados,
Rutherford, Geiger e Mrasden calcularam que o núcleo de um átomo de ouro tinha uma carga
positiva na faixa de 100 +20 e um raio de aproximadamente 10-12 cm. Os valores atualmente
aceitos são +79 para a carga e aproximadamente 10-13 cm para o raio.

Figura 5: Núcleo atômico

1.5. Origem da teoria quântica


Teoria clássica da radiação

A idéia de que a luz é constituída por ondas eletromagnéticas deslocando-se no espaço foi
aceita sem contestação, até 1900. De acordo com a teoria eletromagnética clássica, a energia
contida ou transportada pela onda eletromagnética deveria ser proporcional ao quadrado das
amplitudes máximas das ondas devido aos campos elétrico e magnético. Segundo esta teoria, a
energia de uma onda depende somente de sua amplitude, e independe de sua frequência ou
comprimento de onda.
A teoria eletromagnética explicava com perfeição fenômenos ópticos tais como a difração
e o espalhamento. Entretanto, a pesar dos sucessos em explicar certos fenômenos, os quais
reforçavam a validade da teoria, esta não era adequada para explicar a natureza da radiação
emitida por um corpo sólido aquecido. As diferentes frequências das radiações (ν nu),
experimental observadas, emanadas pelo sólido distribuíam-se de acordo com a curva mostrada
na Fig. 6.

Figura 6: Intensidade relativa da radiação


Observou-se que à medida que a temperatura do sólido aumentava a frequência média da
luz emitida também aumentava. A curva teórica determinada utilizando a teoria ondulatória,
também é mostrada na Fig. 6 (linha tracejada). Pode-se perceber claramente que tais resultados
são inconsistentes com os resultados experimentais. A unidade SI de frequência é o Hertz (Hz),
em unidades de s-1. A relação entre frequência e comprimento de onda (λ lambda) para a luz
propagando-se no espaço é dada por

c = νλ =velocidade da luz = 3x108 ms-1. Eq. 6

Luz Visível

Como se sabe, a luz visível consiste em um espectro de cores, variando do vermelho na


extremidade correspondente ao maior comprimento de onda, ao violeta, na extremidade
correspondente ao comprimento mais curto Fig. 7. Porém a luz visível corresponde a somente
uma pequena parcela do espectro eletromagnético total. A luz visível possui comprimentos de
onda na faixa de 400 nm (azul) a 700 nm (vermelho).

Figura 7: Espectro eletromagnético

EQUAÇÃO DE PLANCK

Em 1900, Planck resolveu a discrepância mostrada na Fig. 6, utilizando conceitos que


contrariavam totalmente as leis clássicas da física. Planck teve de supor que um sistema
mecânico não poderia ter uma energia arbitrária, e que somente certos valores definidos de
energia seriam permitidos. Ou seja, uma onda eletromagnética de frequência n deve ser emitida
por um grupo de átomos que se encontra na superfície do sólido, oscilando com a mesma
frequência. Planck sugeriu que este grupo de átomos, o oscilador, não poderia ter e uma energia
qualquer. Ela deveria possuir uma energia expressa pela relação

E = nhv

Onde n é um número inteiro positivo, v é a frequência do oscilado e h é a constante de


Planck, a ser determinada. Quando estes osciladores emitem radiação, estes devem perder
energia. Portanto, para que um oscilador possa emitir; o número quântico n do oscilador deve ser
maior do que zero. Como isto poderia explicar por que as radiações de alta frequência são tão
escassas?
Planck supôs que os osciladores estão em equilíbrio entre si e, consequentemente, as suas
energias devem estar distribuídas de acordo com a lei de Boltzamn. Segundo esta lei a
probabilidade de se encontrar um oscilador com energia nhv é dado por e-nhv/kT. Podemos
perceber que a chance de encontrarmos um oscilador de alta frequência com energia suficiente
para emitir luz (n >0) é muito pequena, pois e-nhv/kT diminui à medida que v aumenta. Isto
explica, também, porque o sólido emite tão pouca radiação de alta frequência: no equilíbrio, os
osciladores de alta frequência raramente possuem a energia mínima, hv, necessária para irradiar.
Assim, a suposição de que a energia de um oscilador não pode ter valores contínuos explica
satisfatoriamente os dados experimentais.

Efeito fotoelétrico

Desde 1902 sabia-se que a incidência de luz sobre uma superfície metálica limpa e no
vácuo, provoca a emissão de elétrons da mesma. A existência deste efeito fotoelétrico não foi
visto com surpresa, pois podia-se inferir, a partir da teoria eletromagnética clássica, que a energia
transportada pela luz poderia ser utilizada para remover um elétron do metal. Entretanto, esta
mesma teoria era completamente incapaz de explicar os detalhes experimentais. Em primeiro
lugar, nenhum elétron era emitido a menos que a frequência da luz fosse maior do que um
determinado valor crítico v0, como mostrado na Fig. 7a. Em segundo lugar, a energia cinética dos
elétrons emitidos aumentava simultaneamente com o aumento da frequência da onda
eletromagnética, como mostrado na Fig. 7b. E finalmente, o aumento da intensidade da luz
incidente não alterava a energia dos elétrons ejetados, mas aumentava o número de elétrons
emitidos por unidade de tempo Fig. 8. De acordo com a teoria ondulatória, a energia da luz
deveria ser independentemente de sua frequência. Assim, esta teoria era absolutamente incapaz
de explicar o porquê da dependência da energia cinética com a frequência e a existência de uma
frequência limite, v0, para o efeito foto elétrico. Além disso, a teoria clássica previa que a energia
dos elétrons deveria aumentar com o aumento da intensidade da luz incidente. Esta previsão
estava em completo desacordo com os resultados experimentais.

Figura 7: Efeito foto elétrico

Em 1905, Einstein chegou à conclusão de que o efeito foto elétrico poderia ser explicado
se a luz fosse constituída por partículas discretas, ou fótons, de energia hv. Ele propôs que a
energia de um fóton de frequência v e energia hv seria transferida para um elétron quando ele
colidisse com a superfície do metal. Certa quantidade desta energia, E0, seria utilizada para
superar as forças atrativas entre o elétron e o metal. E o restante daquela energia deveria aparecer
na forma de energia cinética, 1/2mv2, do elétron ejetado. Aplicando a lei da conservação da
energia, temos que:

hv= E0 + ½ mv2

Então, torna-se óbvio que E0 é igual a energia mínima que o fóton deve transferir para o
elétron de modo que este possa ser ejetado do metal. Se expressarmos E0 em termos de
frequências, E0=hv0, e a equação pode ser reescrita como

hv= hv0 +1/2 mv2


1/2 mv2= hv – hv0

Logo, se plotarmos o gráfico da energia cinética do elétron ejetado em função da


frequência, deveríamos obter uma reta cujo coeficiente angular é igual à constante de Planck, h =
6,626x10-34 J s, e cujo coeficiente linear é igual a hv0. O fato adicional do número de elétrons
ejetados aumentar com o aumento da intensidade da luz indica que a intensidade deve estar
associada com o número de fóton, que colidem com a superfície metálica por unidade de tempo

Figura 8: Efeito fotoelétrico

Espectros de linhas atômicas

Se uma alta tensão é aplicada a átomos de um elemento na fase gasosa em baixa pressão,
eles absorvem energia e assumem um estado que chamamos de “excitado” da luz branca (Fig. 9).
Os átomos excitados emitem luz; porém essa luz é diferente do espectro contínuo de
comprimento de onda.

Figura 9: O espectro da luz branca produzido pela refração de um prisma.

Os átomos excitados na fase gasosa emitem somente determinados comprimentos de onda


de luz. Sabemos disso porque, quando essa luz passa através de um prisma, somente algumas
linhas coloridas são vistas. Chamamos isso de um espectro de linha de emissão. Os espectros de
linhas de emissão do hidrogênio, do mercúrio e do sódio são mostrados na Fig. 10. Cada
elemento tem um espectro de linha único. Na verdade, as linhas características do espectro de
emissão de um elemento podem ser usadas na análise química para identificar o elemento e
determinar quanto dele está presente.
Um objeto dos cientistas do final do século XIX era explicar por que os átomos gasosos
emitem luz de somente determinadas frequências e encontrar uma relação matemática entre as
frequências observadas. Os primeiros passos nesse sentido foram dados por J. Balmer e, mais
tarde, por J. Rydberg. Eles desenvolveram uma equação a partir da qual era possível calcular o
comprimento de onda das linhas vermelhas, verdes e azuis no espectro de emissão no visível de
átomos de hidrogênio Fig.10.

1/λ=R(1/4 – 1/n2) quando n > 2 Eq. 7

Nessa equação, n é um inteiro e R, agora chamada de constante de Rydberg, tem o valor


1,0974x107 m-1. Se n = 3, o comprimento de onda da linha vermelha no espectro do hidrogênio é
obtido (656,3nm). Se n = 4, o comprimento de onda para a linha verde é obtida, e n = 5 dá o
comprimento de onda da linha azul. Esse grupo de linhas visíveis no espectro dos átomos de
hidrogênio é chamado de série de Balmer.
Figura 10: Espectros de linhas de emissão do hidrogênio, do mercúrio e do sódio.

Modelo de Bohr do átomo de hidrogênio

O físico dinamarquês Niels Bohr forneceu a primeira conexão entre os espectros dos
átomos excitados e as idéias quânticas de Planck e Einsten. Do trabalho de Rutherford, sabia-se
que os elétrons são arranjados no espaço exterior ao núcleo do átomo. Para Bohr, o modelo mais
simples de um átomo de hidrogênio era aquele em que o elétron move-se em uma órbita circular
ao redor do núcleo da mesma forma que os planetas circulam ao redor do sol. Ao propor essa
hipótese, entretanto, ele teve de contradizer as leis da física clássica. De acordo com as teorias
daquele tempo, um elétron carregado que se move no campo elétrico positivo do núcleo deve
perder energia. Por fim, o elétron colidiria com o núcleo, da mesma maneira que um satélite em
órbita da Terra acaba na Terra à medida que o satélite perde energia por fricção contra a
atmosfera da terra. Mas os elétrons não se comportam dessa maneira; se fosse assim, a matéria
seria finalmente destruída.
Para resolver a contradição com as leis da física clássica, Bohr desenvolveu um modelo de
átomo baseado nos seguintes postulados:
1. No átomo, somente é permitido ao elétron estar em certos estados estacionários, sendo
que cada um deles possui uma energia fixa e definida.
2. Quando um átomo, estiver em um destes estados, ele não pode emitir luz. No entanto,
quando o átomo passar de um estado de alta energia para um estado de menor energia há emissão
de um quantum de radiação, cuja energia hv é igual à diferença de energia entre os dois estados.
3. Se o átomo estiver em qualquer um dos estados estacionários, o elétron se movimenta
descrevendo uma órbita circular em volta do núcleo.
4. Os estados eletrônicos permitidos são aqueles nos quais o momento angular do elétron
é quantizado em múltiplos de h/2π.

Dentre os quatro postulados, as duas primeiras estão corretas e são mantidas pela teoria
quântica atual. O quarto postulado está parcialmente correto: o momento angular de um elétron é
definido, mas não da maneira proposta por Bohr. O terceiro postulado está completamente errado
e não foi incorporado pela teoria quântica moderna. Combinando os postulados com as leis de
movimento da física clássica, Bohr mostrou que a energia potencial apresentada pelo único
elétron no enésimo nível de energia ou órbita do átomo de H é dada pela equação
En= - Rhc/n2 Eq. 8

que dá a energia em unidades de J/átomo. A cada órbita permitida foi atribuída um valor de
n, um número inteiro adimensional. Esse número inteiro é hoje conhecido como número
quântico principal do elétron.
A Eq. 8 tem diversas características importantes. Primeiro, a energia potencial do elétron
tem valor negativo. Isso resulta da lei de Coulomb. A energia de atração entre corpos com cargas
opostas tem valor negativo, e esse valor torna-se mais negativo à medida que os corpos se
aproximam. A equação de Bohr mostra que, com o aumento do valor de n, o valor da energia se
torna menos negativo Fig. 11. Bohr também mostrou que, à medida que n aumenta, a distância
entre o elétron e o núcleo aumenta.
Em seguida, observe a relação entre a energia potencial e o valor n. Um elétron na orbita n
= 1 é o mais próximo do núcleo e tem, portanto, a energia mais baixa ou mais negativa. O
elétron do átomo de hidrogênio está normalmente nesse nível de energia. Diz-se que um átomo
com seus elétrons nos níveis de energia mais baixos possíveis encontra-se em seu estado
fundamental. Quando o elétron de um átomo de hidrogênio ocupa uma orbita com n maior do
que 1, o elétron está mais distante do núcleo, o valor de sua energia é menos negativo e então
dizemos que ele está em um estado excitado.

Figura 11: Níveis de Energia do átomo de hidrogênio.

Limitações da teoria de Bohr

Os níveis de energia de Bohr são consistentes para átomos monoeletrônicos e podem ser
corrigidos para ser utilizado em átomos multieletrônicos. Entretanto, aqueles níveis de energia
em si não explicam a tabela periódica. N caso do átomo de Li, mostrado na Fig. 12, apresentam
momento angular orbital igual a zero. Experimentos similares com o átomo de H indicaram que
o momento angular dos níveis S (n = 1) é igual a zero. A teoria periódica é coerente com a
existência dos octetos eletrônicos, mas a teoria de Bohr não. Obviamente, o modelo de Bohr
tinha de ser revisto.
Figura12: Níveis de energia observadas para o átomo de lítio.

1.6. Mecânica Quântica

A teoria de Bohr não era capaz de explicar os detalhes dos espectros de átomos
multieletrônicos, e nem era capaz de proporcionar uma explicação satisfatória relativa às
ligações químicas. Estas e outras falhas da teoria indicavam claramente que as idéias de Bohr
consistiam apenas em mais uma etapa para o desenvolvimento de uma teoria atômica geral.
Havia dois fatos mal explicados pela física teórica, no início da década de 1920. Uma era o
conflito entre o modelo ondulatório e corpuscular da luz. O outro era o fato do conceito de
quantização de energia ter sido introduzido na mecânica Newtoniana de uma forma pouco
aceitável, quase como um apêndice. O desenvolvimento de uma nova teoria mecânica parecia
inevitável, para eliminar o conflito entre o modelo corpuscular e ondulatório da luz e para fazer
com que o conceito de quantização surgisse como uma conseqüência de algum princípio mais
fundamental.
Dualidade onda-partícula

Em 1924, L. de Broglie tomou algumas das equações utilizadas anteriormente por Einsten
para descrever o fóton e rearranjou-os de modo a poder calcular o comprimento de onda de
partículas em movimento. Seu resultado foi

λ = h/mv=h/p Eq. 9

Esta equação fundamenta o conceito da dualidade onda-partícula. A equação de De Broglie


sugere que qualquer partícula em movimento possui um comprimento de onda associado. Para
que λ seja mensurável, entretanto, o produto de m e v deve ser muito pequeno, porque h é muito
pequeno. Por exemplo, uma bola de beisebol de 114 g viajando a 177 km/h tem um produto mv
grande (5,6 kg m/s) e, consequentemente, um comprimento de onda incrivelmente pequeno de
1,2x10-34 m. Esse minúsculo valor não pode ser medido com nenhum instrumento disponível
atualmente. Isso significa que nunca atribuiremos propriedades de onda a uma bola de beisebol
ou a qualquer outro objeto sólido. Só é possível observar propriedades ondulatórias em partículas
extremamente pequenas, como prótons, elétrons e nêutrons.
A proposta de De Broglie parece ter piorado a situação, ao invés de resolver o conflito da
dualidade onda-partícula. Contudo, a generalização das idéias de De Broglie geraram uma teoria
mecânico-quântica totalmente consistente. Atualmente, a interpretação universalmente aceita
com relação à dualidade onda-partícula é a de que não existe nenhuma inconsistência no
comportamento observado. Assim, o que quer que sejam fótons e elétrons, aceitamos o fato de
que eles possuem uma natureza dual: em alguns experimentos eles se comportam mais como
partículas e em outras mais como ondas.

Princípio da incerteza de Heisenberg

A dualidade onda-partícula não somente mudou nossa compreensão da radiação


eletromagnética e da matéria, como também abalou as fundações da física clássica. Na mecânica
clássica, uma partícula tem uma trajetória definida, isto é, segue um caminho em que a
localização e o momento linear são especificados a cada instante. Por outro lado, não é possível
especificar a localização precisa de uma partícula se ela se comporta como onda. Imagine uma
onda em uma corda de violão, que se espalha por toda a corda, sem se localizar em um ponto
determinado. Uma partícula com um momento linear determinado tem comprimento de onda
determinado, mas, como não faz sentido falar de localização de uma onda, não é possível
especificar a localização da partícula que tem um momento linear determinado.
Esta dificuldade não pode ser resolvida. A dualidade onda-partícula elimina a possibilidade
de descrever a localização se o momento linear é conhecido e não se pode especificar a trajetória
das partículas. Se soubermos que a partícula está aqui neste instante não podemos dizer nada
sobre onde ela estará um instante depois! A impossibilidade de conhecer a posição com precisão
arbitrariamente grande se o momento linear é precisamente conhecido é um aspecto da
complementaridade da posição e momento, isto é, se uma propriedade é conhecida, a outra não o
pode ser. O principio da incerteza de Heisenberg expressa quantitativamente essa
complementaridade ao estabelecer que se a localização de uma partícula é conhecida com
incerteza Δx, então, o momento linear paralelo ao eixo x somente pode ser conhecido com
incerteza Δp, em que

ΔpΔx > ½ h barrado Eq. 10

O símbolo h significa h/2π, uma combinação útil, encontrada freqüentemente na mecânica


quântica (h= 1,05457x10-34 J.s). A Eq. 10 diz que se a incerteza na posição é muito pequena (Δx
muito pequeno), então a incerteza no momento linear deve ser muito grande, e vice-versa. O
princípio da incerteza não tem conseqüências práticas importantes para objetos macroscópicos,
mas é crucial para os elétrons dos átomos e para o entendimento cientifico da natureza.

Equação de Schrödinger e seu significado

As equações fundamentais da mecânica quântica foram apresentadas pela primeira vez


entre 1925 e 1926. No início haviam dois conjuntos de equações independentes. As equações
desenvolvidas por W. Heisenberg, em 1925, eram baseadas na álgebra de matrizes, enquanto que
as equações desenvolvidas por E. Schrödinger, em 1926, se valiam de equações diferenciais de
segunda ordem. Cedo ficou claro que ambos os conjuntos de equações eram soluções
matemáticas da mesma equação básica. A maior parte da mecânica quântica tem como objetivo
encontrar meios de resolver esta equação de forma simples.
A equação fundamental da mecânica quântica é

Hψi=Eiψi Eq.11

As energias permitidas E1, E2,E3, etc. são obtidas quando o operador Hamiltoniano H é
aplicado sobre as funções de onda ψ1, ψ2, ψ3, etc. O resultado numérico obtido é denominado um
auto-valor: somente quando H operar sobre uma função inicial ψi com seu auto-valor E1.
O operador Hamiltoniano pode ser escrito como a soma da energia cinética T e da energia
potencial V, ambos na forma de operadores. A energia cinética de uma partícula que se
movimenta somente na direção do eixo x é dada por
1 (mvx ) 2 px2
T  mvx2   ,
2 2m 2m

Onde px = mvx, o momento na direção x. A mecânica quântica deve incluir a constante de


Planck h na sua equação básica. Isto é efetuado neste operador utilizando a relação abaixo:
ih d
px  mvx  
2 dx

Se este operador diferencial for elevado ao quadrado e for aplicado sobre ψ, temos que
h 2 d 2
T   2
8 m dx 2

No caso de uma partícula livre, cuja energia potencial é igual a zero, H = T. substituindo na
Eq. 11, obtemos a expressão
h 2 d 2
H   2  E
8 m dx 2

Onde ψ e E representam todos os ψi e Ei.


A maioria das partículas possui energia potencial, devido à atração eletrostática ou a uma
força similar à produzida por uma mola. Na equação de Schrödinger, não precisamos especificar
o tipo de energia potencial V ao qual o sistema está sujeito. Considerando-se uma partícula numa
única dimensão x, H = T + V, e a forma geral da equação pode ser expressa pela equação
h 2 d 2
  V  E
8 2 m dx 2

Os termos conhecidos desta equação são a massa da partícula m e sua energia potencial
expressa como uma função de x. Resolvendo-se a equação determinam-se os valores de E, o
autovalor para a partícula, e a função de onda. Quando estas equações são aplicadas a sistemas
reais tal como o átomo de hidrogênio, elas não podem ser resolvidas a não ser para certos valores
de E, relacionados por meio de números inteiros. Assim, a quantização de energia e os números
quânticos aparecem naturalmente da teoria de Schrödinger, não sendo necessário acrescentá-los
de maneira forçada à mecânica Newtoniana, como no caso da teoria de Bohr.
O que é ψ? Isoladamente ele não tem nenhum significado físico. Entretanto, o quadrado do
valor absoluto de ψ, |ψ2|, possui um significado físico importante. Esta é a expressão matemática
que nos possibilita calcular como a probabilidade de se encontrar uma partícula varia de lugar
para lugar. Portanto, as trajetórias exatas dadas pela mecânica Newtoniana e pela teoria de Bohr
não aparecem como um dos resultados da mecânica quântica.
A equação de Schrödinger tridimensional é uma simples extensão da Eq. 12, na qual o
termo que representa a energia cinética inclui os momentos da partícula nas direções y e z.
Infelizmente, neste caso temos de utilizar derivadas parciais, como mostrado abaixo:

h 2   2  2  2 
 2  2  2  2   V  E
8 m  x y z 

1.7. O átomo de hidrogênio

Quando a equação de Schrödinger é aplicada ao átomo de hidrogênio, os números


quânticos aparecem, naturalmente, como os resultados das operações matemáticas. Três números
quânticos orbitais e um número quântico relacionado com o spin do elétron são necessários para
descrever completamente o átomo de hidrogênio.

Número quânticos principal n

O número quântico principal n pode ter qualquer valor inteiro 1 ao infinito. O valor de n é
o fator primário na determinação da energia de um elétron. Na verdade, para o átomo de
hidrogênio a energia varia somente em função do valor de n e é dada pela mesma equação
derivada por Bohr para o átomo de H: En = - Rhc/n2.
O valor de n define o tamanho de um orbital: quanto maior o valor de n, maior é a distância
média entre o elétron e o núcleo.
Cada elétron é rotulado de acordo com seu valor de n. Nos átomos que possuem mais de
um elétron, dois ou mais elétrons podem ter o mesmo valor de n. Dizemos que esses elétrons
ocupam a mesma camada eletrônica ou o mesmo nível eletrônico.

Número quântico de momento angular l

Os elétrons de uma determinada camada podem ser agrupados em subcamadas, em que


cada subcamada é caracterizada por um valor diferente do número quântico l e por um formato
característico. O número quântico l pode ter qualquer valor inteiro entre 0 e n-1.
Os valores de l são geralmente relacionados a letras de acordo com o seguinte esquema:

n s(l=0) p(l=1) d(l=2) f(l=3)


1 0
2 1 0
3 2 1 0
4 3 2 1 0

Número quântico magnético ml

O numero quântico magnético, ml, está relacionado à orientação espacial dos orbitais em
uma subcamada. Orbitais em uma determinada subcamada diferem apenas quanto à sua
orientação no espaço, não quanto à sua energia.
O valor de l limita os valores inteiros atribuídos a ml podem variar entre +l e –l, incluindo o
zero. O número de valores de ml para uma determinada subcamada (2l+1) especifica o número
de orientações que existem para os orbitais daquela subcamada, e, portanto, o número de orbitais
na subcamada.

Número quântico magnético de spin ms

O cálculo de Schrödinger das energias dos orbitais do hidrogênio foi um marco no


desenvolvimento da teoria atômica moderna. Entretanto, as linhas espectrais observadas não
tinham exatamente a freqüência predita por ele. Em 1925, dois físicos, S. Goudsmit e G.
Uhlenbeck propuseram uma explicação para essas pequenas diferenças. Eles sugeriram que um
elétron podia se comportar, de certo modo, como uma esfera que gira, algo parecido com um
planeta em torno de seu eixo. Esta propriedade é chamada de spin.
De acordo com a mecânica quântica, um elétron tem dois estados de spin, representados
pelas setas ↑ e ↓ou pelas letras gregas α e β. Pode-se imaginar o elétron girando no sentido anti-
horário a uma dada velocidade (o estado ↑) ou no sentido horário, exatamente na mesma
velocidade (o estado ↓). Esses dois estados de spin são distinguidos por um quarto número
quântico o número quântico magnético de spin, ms. Este número quântico só pode assumir dois
valores: +1/2 indica um elétron ↑ e -1/2 indica um eletro ↓ (Fig. 13)

Figura 13: os dois estados de spin de um elétron podem ser representados como rotações.

ORBITAIS s

Quando um elétron tem l = 0, geralmente dizemos que o elétron pertence a um orbital s.


Mas o que isso significa? O que é um orbital s? Qual é seu aspecto? Para responder a essas
perguntas, começamos com a função de onda para um elétron com =1 e l = 0, isto é, com um
orbital 1s. Se considerássemos o elétron como uma partícula minúscula e não uma onda, e se
pudéssemos fotografá-lo em intervalos de um segundo durante alguns milhares de segundos, a
figura composta seria semelhante ao desenho da Figura 14. Isso se assemelha a uma nuvem de
pontos, e assim os químicos se referem a essas representações dos orbitais de elétrons como
figuras de nuvem eletrônica.
Figura14: Nuvem eletrônica

O fato de que a densidade de pontos ser maior mais perto do núcleo indica que o elétron é
mais frequentemente encontrado perto do núcleo. Colocando esta afirmação na linguagem da
mecânica quântica, dizemos que a maior probabilidade de encontrar o elétron está em um
minúsculo volume de espaço ao redor do núcleo. O esmaecimento da nuvem eletrônica com o
aumento da distância, mostrado pela diminuição da densidade de pontos na Fig. 14, é ilustrado
de modo diferente na Fig. 15. Aqui, mostramos um gráfico do quadrado da função de onda para
um elétron em um orbital 1s, multiplicado por 4π e a distância ao quadrado em função da
distância do elétron até o núcleo. As unidades de 4πr2ψ2 são 1/distância, de forma que o eixo
vertical desse gráfico representa a probabilidade de se encontrar o elétron em cada nanômetro
cúbico, por exemplo, a uma determinada distância do núcleo. Por esse motivo, 4πr2ψ2 é às vezes
chamada de curva da superfície de densidade ou curva de distribuição radial. Para um orbital 1s,
4πr2ψ2 é zero no núcleo, mas a probabilidade é muito alta a uma distância curta do núcleo, e
decai rapidamente à medida que aumenta a distância para o núcleo.
Para o orbital 1s, a Fig. 14 mostra que o elétron encontra-se muito provavelmente dentro
de uma esfera com o núcleo no centro. Não importa em que sentido você se afaste do núcleo, a
probabilidade de encontrar um elétron é a mesma a uma mesma distancia do núcleo Fig. 15.

Figura 15: Uma curva da densidade de probabilidade em função da distancia do núcleo para um átomo com
um elétron, com uma onda eletrônica 1s.

Figura 16: orbitais 1s, 2s e 3s.

Uma característica importante dos orbitais (1s, 2s, 3s e assim por diante) é que todos têm
formato esférico. Porém existem algumas diferenças importantes entre orbitais s com n diferente;
o tamanho do orbital s e sua energia aumenta à medida que n aumenta Fig16. Assim, o orbital 1s
é mais compacto do que o orbital 2s, que por sua vez é mais compacto do que o orbital 3s.

ORBITAIS p
Os orbitais atômicos para os quais l = 1 são orbitais p e todos têm o mesmo formato básico.
Todos os orbitais p têm um plano imaginário que passa através do núcleo e que divide a região
de densidade eletrônica ao meio (Fig. 17). Esse plano imaginário é chamado de superfície nodal,
na qual a probabilidade de se encontrar o elétron é zero. O elétron nunca deve ser encontrado na
superfície nodal; as regiões de densidade eletrônica encontram-se de um lado do núcleo ou do
outro. Uma curva da probabilidade eletrônica versus distância começaria em zero no núcleo,
cresceria a uma máxima e, então, cairia em distâncias ainda maiores. Cada orbital é rotulado de
acordo com o eixo ao longo do qual ele se encontra (px, py ou pz)

Figura 17: Orbitais p

ORBITAIS d

Os cinco orbitais d, para os quais l = 2, têm duas superfícies nodais, o que resulta em
quatro regiões de densidade eletrônica. O orbital dxy, por exemplo, fica no plano xy, as duas
superfícies nodais são os planos xz e yz (Fig. 18). Outros dois orbitais, dxz e dyz, ficam nos planos
definidos pelos eixos xz e yz, respectivamente, e também possuem duas superfícies nodais
mutuamente perpendiculares.
Dos dois orbitais d restantes, é mais fácil visualizar o orbital dx2-y2. Assim como o orbital
dxz, o orbital dx2-y2 resulta de dois planos verticais que dividem a densidade eletrônica em quartos.
Porém, nesse caso, os planos seccionam os eixos x e y, de modo que as regiões de densidade
eletrônica localizam-se ao longo dos eixos x e y.
O último orbital d (dz2), tem duas regiões principais de densidade eletrônica ao longo do
eixo z, mas uma “rosca” de densidade eletrônica também ocorre no plano xy.

Figura 18: Orbitais d.

ORBITAIS f

Todos os sete orbitais f têm l = 3. As três superfícies nodais fazem com que a densidade
eletrônica encontre-se em oito regiões do espaço. Esses orbitais não são visualizados tão
facilmente, mas um orbital f é ilustrado na Fig. 19.

Figura 19: Orbitais f.

1.8. Átomos multieletrônicos

Todos os átomos neutros, exceto o hidrogênio, têm mais de um elétron. Um átomo neutro
de um elemento com número atômico Z > 1 têm Z elétrons. Esses átomos são conhecidos como
átomos multieletrônicos.
Os elétrons em átomos multieletrônicos ocupam orbitais semelhantes aos do átomo de
hidrogênio. Entretanto, as energias desses orbitais não são iguais às do átomo de hidrogênio. O
núcleo de um átomo multieletrônico tem um número maior de cargas do que o núcleo do
hidrogênio e atrais os elétrons mais fortemente, diminuindo sua energia. Entretanto, os elétrons
também se repelem uns aos outros, o que aumenta sua energia. No caso do átomo de hélio, por
exemplo, em que a carga do núcleo é +2, a energia potencial total é dada por três termos:

atração atração repulsão


         
2e 2 2e 2 e2
V   
4 0 r1 4 0 r2 4 0 r12

Em que r1 é a distância do elétron 1 ao núcleo, r2 é a distância do elétron 2 ao núcleo, e r12


é a distância entre os dois elétrons. Os dois termos com sinal negativo correspondem à atração
entre o núcleo e cada um dos dois elétrons. O termo com sinal positivo corresponde à repulsão
entre os dois elétrons.
O número de elétrons afeta as propriedades do átomo. No átomo de hidrogênio, com um
elétron, não ocorre repulsão elétron-elétron. Todos os orbitais de uma determinada camada têm a
mesma energia. Assim, por exemplo, o orbital 2s e os três orbitais 2p têm a mesma energia. Nos
átomos multieletrônicos, entretanto, o resultado de experimentos espetroscópicos e de cálculos
mostra que as repulsões elétron-elétron fazem com que a energia dos orbitais 2p seja mais alta do
que a de um orbital 2s. Como podemos explicar essas diferenças de energia?
Assim como é atraído pelo núcleo, cada elétron é repelido pelos demais elétrons. Como
resultado, ele está menos fortemente ligado ao núcleo do que estaria sem a influência dos outros
elétrons. Dizemos que cada elétron está blindado pelos demais para a atração total do núcleo. A
blindagem reduz, efetivamente a atração entre o núcleo e os elétrons.
Observe que os demais elétrons não “bloqueiam” a influência do núcleo. Eles
simplesmente providenciam uma interação repulsiva coulombiana adicional que corrige
parcialmente a atração do núcleo sobre os elétrons. A atração do núcleo sobre os elétrons no
átomo de hélio, por exemplo, é menor do que a carga +2 deveria exercer, mas é maior do que a
carga +1 que seria esperada se cada elétron balanceasse exatamente uma carga positiva.

Figura 20: Distribuição de probabilidade

Um elétron s de qualquer das camadas pode ser encontrado em uma região muito próxima
do núcleo, e podemos dizer que ele pode penetrar através das camadas internas. Um elétron p
penetra muito menos, porque o momento angular do orbital impede a aproximação entre o
elétron e o núcleo (Fig. 20). Vimos que sua função de onda tem um nodo que atravessa o núcleo;
logo, a densidade de probabilidade do elétron é zero no núcleo para o elétron p. Como o elétron p
penetra menos que um elétron s através das camadas internas do átomo, ele está mais
efetivamente blindado em relação ao núcleo e por isso experimenta uma carga efetiva menor do
que a que um elétron s experimenta. Em outras palavras, um elétron s está mais firmemente
ligado ao núcleo do que um elétron p e tem energia ligeiramente menor (mais negativa). Um
elétron d está menos firmemente ligado ao núcleo do que um elétron p da mesma camada,
porque é menos capaz ainda de se aproximar do núcleo. Isto é, os elétrons d têm energia mais
alta do que os elétrons p da mesma camada, que por sua vez, têm energia mais alta do que os
elétrons s daquela camada.

Configuração eletrônica

A prática de se utilizar níveis de energia monoeletrônicos para descrever átomos


multieletrônicos é denominada de princípio de aufbau ou da construção, aplicado pela primeira
vez por Bohr. Agora sabemos muito mais a respeito do efeito de blindagem e podemos explicar
os níveis de energia de todos os átomos da tabela periódica. A distribuição dos elétrons nos
orbitais monoeletrônicos é denominada configuração. A determinação da configuração eletrônica
de um átomo ou de um íon se constitui na primeira etapa para a determinação de suas funções de
onda.
O princípio da construção pode ser resumido em duas regras. Para predizer a configuração
do estado fundamental de um elemento com o número atômico Z:
1. Adicione elétrons, um após o outro, aos orbitais (Fig. 21), porém não coloque mais de
dois elétrons em cada orbital.
2. Se mais de um orbital em uma subcamada estiver disponível, adicione elétrons com
spins paralelos aos diferentes orbitais daquela subcamada até completá-la, antes de
emparelhar dois elétrons em um dos orbitais

A primeira regra leva em conta o princípio da exclusão de Pauli. A segunda regra é


conhecida como regra de Hund. Esse procedimento dá a configuração do átomo que corresponde
à energia total mais baixa, levando em conta a atração dos elétrons pelo núcleo e a repulsão dos
elétrons. Quando os elétrons de um átomo estão em estados de energia mais altos do que os
preditos pelo princípio da construção dizemos que ele está em um estado excitado. A
configuração eletrônica [He] 2s1 2p3, por exemplo, representa um estado excitado de um átomo
de carbono. Um estado excitado é instável e emite um fóton quando o elétron retorna ao orbital
que restabelece o estado de energia mínima do átomo.
Figura 21: Orbitais de energias

Na tabela 1 são mostradas as configurações eletrônicas observadas para o estado


fundamental de todos os átomos, no estado gasoso. Se formos preenchendo os orbitais, podemos
obter a configuração eletrônica incorreta do átomo de cromo, cujo número atômico é igual a 24.
Neste elemento observa-se uma pequena mudança na ordem dos orbitais, provocada pela maior
estabilidade dos orbitais semi-preenchidos. Por isso, a configuração eletrônica de menor energia
do átomo de Cr é [Ar] 3d5 4s1 ao invés de [Ar] 3d4 4s2.
Tabela 1: Configuração eletrônica.
Tabela Periódica

A Tabela Periódica foi construída empiricamente, através do relacionamento de dados


experimentais, muito antes que fossem conhecidas as estruturas dos átomos. Entretanto, para
entender a organização da Tabela Periódica, é necessário levar em conta as configurações
eletrônicas dos elementos. A Tabela é dividida em blocos s, p, d e f, nomes das últimas
subcamadas ocupadas, de acordo com o princípio da construção.

Figura 22: Tabela Periódica

Os blocos s e p formam os grupos principais da Tabela Periódica. As configurações


eletrônicas semelhantes dos elementos do mesmo grupo principal são a causa das propriedades
semelhantes desses elementos. O número do grupo nos diz quantos elétrons estão presentes na
camada de valência. No bloco s, o número do grupo é igual ao número de elétrons de valência.
Essa relação se mantém em todos os grupos principais quando se usa os números romanos para
indicar os grupos.
Cada novo período corresponde à ocupação da camada com o número quântico principal
mais alto do que o anterior. Esta correspondência explica as diferenças de tamanho dos períodos.
A Tabela Periódica pode ser usada na previsão de muitas propriedades, muitas das quais
são cruciais para a compreensão dos materiais e das ligações químicas, e para a organização dos
elementos de acordo com essas propriedades. A variação da carga nuclear efetiva na Tabela
Periódica tem papel importante na explicação das tendências da periodicidade.

Raio Atômico

As nuvens de elétrons não têm fronteiras bem definidas; logo, não é possível medir o raio
exato d um átomo. Entretanto, quando os átomos se organizam como sólidos e moléculas, seus
centros encontram-se em distâncias definidas uns dos outros. O raio atômico e um o raio atômico
de um elemento é definido como sendo a metade da distância entre os núcleos de átomos
vizinhos. Se o elemento é um metal, o raio atômico é a metade da distancia entre os centros de
átomos vizinhos em uma amostra sólida. Por exemplo, como a distância entre os núcleos
vizinhos do cobre sólido é 256 pm, o raio atômico do cobre é 128 pm. Se o elemento é um não-
metal usamos a distância entre os núcleos de átomos unidos por uma ligação química. Esse raio
também é chamado de raio covalente do elemento. Como exemplo, a distância entre os núcleos
de uma molécula de Cl2 é 198 pm; logo, o raio covalente do cloro é 99 pm.
A Fig. 23 mostra a variação do raio atômico com o número atômico. O aumento em cada
grupo, como do Li para o Cs, por exemplo, faz sentido: cada novo período, os elétrons mais
externos ocupam uma camada mais distante do núcleo. O decréscimo em cada período, como do
Li para o Ne, por exemplo, é surpreendente a princípio, porque o número de elétrons cresce com
o número de prótons. A explicação é que os novos elétrons estão na mesma camada e estão tão
próximos do núcleo como os demais elétrons da mesma camada. Como eles estão espalhados, a
blindagem da carga nuclear sobre um elétron pelos demais não é muito eficiente e a carga
nuclear efetiva cresce ao longo do período. A carga nuclear efetiva crescente atrai o elétron para
o núcleo e, como resultado, o átomo é mais compacto.

Figura 23: Variação periódica dos raios atômicos dos elementos.

Energia de Ionização

A energia de ionização é a energia necessária para remover um elétron de um átomo na


fase gasosa.
Átomo no estado fundamental (g)  átomo+ (g) + e-
ΔE ≡ energia de ionização, IE
Para separar um elétron de um átomo, deve-se fornecer energia para superar a atração da
carga nuclear. Como a energia deve ser fornecida, o sinal da energia de ionização é sempre
positivo. Por exemplo, as três primeiras energias de ionização do magnésio são:
Mg(g)  Mg+(g) + e- IE1 ≡ 738 kJ/mol

Mg+(g)  Mg2+(g) + e- IE2 ≡ 1451 kJ/mol

Mg2+(g)  Mg3+(g) + e- IE3 ≡ 7733 kJ/mol

Observe que a remoção de cada elétron subsequente requer mais energia porque o elétron
está sendo removido de um íon cada vez mais positivo. As duas primeiras etapas de ionização
são para a remoção dos elétrons da camada mais externa, ou de valência, de elétrons. O terceiro
elétron, entretanto, deve vir da subcamada 2p. Essa subcamada tem energia significativamente
mais baixa do que a subcamada 3s, e uma energia consideravelmente maior é necessária para
remover o elétron com n = 2 do que para os elétrons com n = 3.
Para elementos do grupo principal (blocos s e p), as primeiras energias de ionização
geralmente aumentam ao longo de um período e diminuem grupo abaixo (Fig. 24). A tendência
ao longo de um período é racionalizada pelo aumento na carga nuclear efetiva, com o aumento
do número atômico. Isso não significa apenas que o raio atômico diminui, mas também que a
energia necessária para remover um elétron aumenta a diminuição geral na energia de ionização
grupo abaixo ocorre porque o elétron removido está cada vez mais distante do núcleo, reduzindo
assim a força atrativa núcleo-elétron.

Figura 24: Primeira energia de ionização.

Um exame mais detalhado das energias de ionização revela que a tendência ao longo de
determinado período não é suave, especialmente no segundo período. Variações são observadas
ao passarmos dos elementos do bloco s aos do bloco p; por exemplo, do berílio ao boro. Isso
ocorre porque os elétrons 2p têm energia ligeiramente mais alta do que os elétrons 2s, e,
portanto, a energia de ionização do boro é menor do que a do berílio.
Os menores valores de IE ocorrem na parte inferior à esquerda da Tabela Periódica e o
mais alto na parte superior à direita. Elementos com baixa energia de ionização devem formar
cátions facilmente e devem conduzir eletricidade no estado sólido. Elementos com energias de
ionização alta não devem formar cátions facilmente ou conduzir eletricidade.

Afinidade Eletrônica

A afinidade eletrônica de um átomo é definida como a energia de um processo em que um


elétron é adquirido pelo átomo na fase gasosa
A(g) + e-(g)  A-(g) EA ≡ afinidade eletrônica
Quando maior a afinidade eletrônica de um átomo, mais negativo o seu valor de EA. Por
exemplo, a afinidade eletrônica do flúor é –328 kJ/mol, valor alto que indica uma reação
exotérmica, para formar o ânion estável F-. O boro tem valor muito menos negativo de afinidade
eletrônica de –26,7 kJ/mol.
A afinidade eletrônica e a energia de ionização representam a energia envolvida no ganho
ou na perda de um elétron por um átomo, respectivamente. Em conseqüência, não é
surpreendente que as tendências periódicas na afinidade eletrônica estejam relacionadas às
tendências observadas para a energia de ionização. A carga nuclear efetiva dos átomos aumenta
ao longo de um período, não apenas tornando mais difícil de ionizar o átomo, mas também
aumentando a atração do átomo por um elétron adicional. Assim, um elemento com alta energia
de ionização tem geralmente afinidade elevada por um elétron. Conforme se observa na Fig. 25,
os valores de EA geralmente tornam-se mais negativos ao percorrermos um período, à medida
que a afinidade por elétrons aumenta.

Figura 25: Afinidade eletrônica

A tendência a valores mais negativos de afinidade eletrônica ao longo de um período não é


suave. Por exemplo, o berílio não tem nenhuma afinidade por um elétron. Um ânion de berílio,
Be-, não é estável porque o elétron adicionado deve ser atribuído a uma subcamada de energia
mais elevada (2p) do que a dos elétrons de valência (2s).
A afinidade eletrônica geralmente diminui grupo baixo na Tabela Periódica. Elétrons são
adicionados cada vez mais distantes do núcleo, portanto a força atrativa entre o núcleo e os
elétrons diminui. Porém essa tendência não se estende aos elementos do período 2. Entretanto, a
afinidade do átomo do flúor por um elétron é mais baixa do que a do cloro e o mesmo fenômeno
é também observado nos Grupos 13 e 16. Uma explicação é que significativas repulsões elétron-
elétron ocorrem no íon F-. Isto é, a adição de um elétron aos sete elétrons já presentes na camada
n = 2 dos pequenos átomos de F leva a uma repulsão considerável entre os elétrons. O cloro tem
um volume atômico maior do que o flúor, de forma que a adição de um elétron não resulta em
uma repulsão elétron-elétron tão significativa no ânion Cl-.

Você também pode gostar