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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA REGIÃO TOCANTINA DO MARANHÃO –

UEMASUL
CENTRO DE CIÊNCIAS EXTAS, NATURAIS E TECNOLÓGICAS – CCENT
CURSO DE QUÍMICA LICENCIATURA
DISCIPLINA: QUÍMICA DOS COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO
PROF. D. Sc. JORGE DINIZ DE OLIVEIRA

COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO OU COMPLEXOS

1- Definição e características gerais

Quando juntamos duas quantidades estequiométricas de dois ou mais


compostos estáveis, formam-se compostos de adição, como os seguintes exemplos:

KCl . MgCl2 (carnalita)

K2SO4 . Al2(SO4)3 . 24 H2O (alúmen de potássio)

CuSO4 . 4 NH3 . H2O (sulfato de tetramin-cobre II monohidratado)

Fe(CN)2 . 4 KCN (ferrocianeto de potássio)

Os compostos de adição pertencem a dois tipos: aqueles que perdem


sua identidade em solução (sais duplos) e aqueles que mantêm sua identidade
(complexos). Assim, quando se dissolve em água a carnalita, a solução mostra as
propriedades dos íons K+, Mg2+ e Cl-. De maneira semelhante, uma solução de
alúmen de potássio mostra as propriedades dos íons K+, Al3+ e SO42-. Os dois
casos são exemplos de sais duplos, que só existem sob essa forma no estado
cristalino.

Os dois outros exemplos de compostos de adição dados acima, quando


dissolvidos em água, não formam íons simples, e sim íons complexos, que
permanecem intactos em solução. Assim, o íon [Cu(NH3)4(H2O)2]2+ e o íon
[Fe(CN)6]4- existem como entidades distintas tanto no sólido como em solução.

Pode-se definir um composto de coordenação ou complexo como sendo


um composto formado por um átomo metálico (na quase totalidade dos casos,
um metal de tansição) envolvido por átomos, moléculas ou grupos de átomos,
em número igual ou superior ao estado de oxidação mais alto do metal (os
ligantes são aqueles representados dentro dos colchetes, junto com o metal). Um
complexo pode ser um cátion, um ânion ou um composto neutro. Veja alguns
exemplos:

[Cu(H2O)2(NH3)4]2+ - O cobre, cujo Nox mais alto é +2, tem 6 ligantes


coordenados
[Co(NO2)3(NH3)3] - O cobalto, cujo Nox mais alto é +3, tem 6 ligantes
coordenados
Para que um ligante possa participar de um complexo é fundamental
que esse ligante possua pares eletrônicos disponíveis para efetuar ligações
coordenadas. No exemplo abaixo, moléculas de amônia, que possuem um par de
elétrons não-ligantes capaz de formar uma ligação coordenada, estão ligadas ao
átomo do metal:

[Co(NH3)6]Cl3

Um conceito importante é o de número de coordenação - o


número de ligantes que envolvem o átomo do metal. No caso do exemplo acima,
o número de coordenação é 6, pois existem 6 moléculas de amônia ligadas ao
cobalto. Os ligantes representados fora dos colchetes não fazem parte do número
de coordenação.

2- Tipos de ligantes

Os ligantes podem apresentar mais de um átomo com


disponibilidade eletrônica para efetuar ligações coordenadas. Assim, eles são
classificados em

Monodentado - Possui apenas um átomo capaz de efetuar ligação coordenada

Bidentado - Possui dois átomos capazes de efetuar ligação coordenada

Tridentado - Possui três átomos capazes de efetuar ligação coordenada

Polidentado - Possui mais de três átomos capazes de efetuar ligação coordenada

Como exemplo de ligante bidentado, podemos citar o etilenodiamina


(veja abaixo). Perceba que a molécula pode fazer duas ligações coordenadas,
através de seus dois átomos de nitrogênio. No entanto, esse ligante só será dito
bidentado se os dois átomos de nitrogênio forem utilizados em ligações
coordenadas. Se apenas um deles for utilizado, será dito monodentado.

Quando os dois nitrogênios efetuam ligação coordenada para um mesmo


átomo metálico, o ligante é dito quelante e o complexo pode ser chamado de
quelato. Quando cada um dos nitrogênios efetua uma ligação coordenada para
um átomo metálico distinto (estes metais podem ser iguais ou diferentes), a
ligação é dita em ponte.
3- Representação e nomenclatura

Via de regra, um composto de coordenação apresenta um metal de


transição ao qual se coordenam ligantes, que podem iguais ou diferentes. O
complexo pode ser uma espécie neutra ou um íon (cátion ou ânion). A fórmula
química do complexo é colocado entre colchetes. Dentro dos colchetes escreve-
se o símbolo do metal (átomo central) e depois os seus ligantes, na seguinte
ordem: ligantes negativos (aniônicos) antes de ligantes neutros (moléculas).
Ligantes positivos (catiônicos) são muito raros, mas, caso exista, deverá ser
escrito por último, após os demais ligantes. Veja o seguinte exemplo:
[CoCl2(NH3)4]+. O ligante cloreto (negativo) foi escrito antes do ligante amônia
(neutro).

Para se dar nome a um complexo deve-se conhecer alguns nomes


de ligantes importantes. Quando espécies químicas se encontram como ligantes
de compostos de coordenação, estes ligantes geralmente recebem nomes
especiais. Veja:

Ligantes Neutros:

Espécie Nome da espécie Nome do ligante

água aquo
H2 O

amônio amin ou amino


NH3

monóxido de carbono carbonil


CO

monóxido de nitrogênio nitrosil


NO

oxigênio dioxigênio
O2

nitrogênio dinitrogênio
N2

hidrogênio hidro
H2
Quando estes íons funcionam como ligantes, a terminação "ETO" é
substituída por "O"

Ligantes Aniônicos:

Espécie Nome da espécie Nome do ligante

fluoreto fluoro
F-

cloreto cloro
Cl-

brometo bromo
Br-

iodeto iodo
I-

cianeto ciano
CN-

Oxiânions:

Espécie Nome da espécie Nome do ligante


SO4- sulfato sulfato

acetato acetato
CH3COO-

acetilacetonato
CH3COCHCOCH3- acetilacetonato
C2O42- oxalato oxalato ou oxalo

Ligantes Ambidentados:

Estes íons são assim chamados porque podem se ligar ao metal de duas
maneiras, através de átomos diferentes

Espécie Nome da espécie Nome do ligante


Ligante

tiocianato tiocianato
SCN- - SCN-

tiocianato - NCS- isotiocianato


SCN-

nitrito - ONO- nitrito


NO2-

nitrito - NO2- nitro


NO2-
Outros ligantes aniônicos:

Espécie Nome da espécie Nome do ligante

hidreto hidrido
H-

hidróxido hidroxo
OH-

óxido oxo
O2-

peróxido peroxo
O22-

amideto amido
NH2-

nitreto nitreto
N3-

azido azido
N3-

imido imido
NH2-

Ligantes catiônicos:

Espécie Nome da spécie Nome do ligante


NH4+ amônio amônio

H3NNH2+ hidrazínio hidrazínio

Outros ligantes:

Nome da Nome do
Espécie espécie ligante

trifenilfosfino (PPh3)*
P(C6H5)3 trifenilfosfina

NH2CH2CH2NH2 etilenodiamina
etilenodiamino (en)

piridino (Py)
C5H5N piridina

* O símbolo Ph representa o radical orgânico fenil

2.1) Nomenclatura de complexos catiônicos e neutros:


A nomenclatura dos complexos catiônicos e neutros inicia-se pelo
contra-íon (espécie representada fora dos colchetes), se houver, e depois
escreve-se os nomes dos ligantes, em ordem alfabética. O nome deve ser inteiro,
sem separação por espaços ou hífens. Por último coloca-se o nome do metal
(átomo central), seguido pelo seu estado de oxidação dentro do complexo. O
número é escrito em algarismos romanos e entre parênteses. Quando existirem
vários ligantes iguais, usa-se os prefixos di, tri, tetra, penta, hexa etc. No caso
dos complexos catiônicos, é frequente o uso da palavra ÍON no começo do
nome. Por exemplo: Íon tetraminodiclorocobalto (III). Porém, isso pode ser
omitido.

O estado de oxidação do metal deve ser um valor tal que, somado


às demais cargas dos ligantes, resulte o valor da carga do complexo. Para
determinar esse Nox basta somar as cargas internas (ligantes dentro dos
colchetes), considerando que os ligantes neutros (moléculas), logicamente, têm
Nox igual a zero. Também é fácil ver que, quando um complexo tem fórmula
[XXX](SO4), por exemplo, a carga do complexo só pode ser +2, já que o sulfato
tem carga -2. Veja alguns exemplos:

• [CoCl2(NH3)4]+ = Tetraminodiclorocobalto (III)


Nox do cobalto: Co + 2 Cl- + 4 NH3 = +1 Co -2 + 0 = +1 Co = +3

• [Co(NO2)(NH3)5] (NO3)2 = Nitrato de pentaminonitrocobalto (III)


Nox do cobalto: Co + NO2- + 5 NH3 = +2 Co -1 + 0 = +2 Co = +3

• [Ni(CO)4] = Tetracarbonilníquel (0)


Nox do níquel: Ni + 4 CO = 0 Ni + 0 = 0 Ni = 0

2.2) Nomenclatura de complexos aniônicos:

A nomenclatura dos complexos aniônicos é feita da mesma forma,


porém, o metal é acrescido da terminação "ATO". Veja alguns exemplos:

• [Ni(CN)4]2- = Tetracianoniquelato (II)


Nox do níquel: Ni + 4 CN- = -2 Ni -4 = -2 Ni = +2
• [Fe(CN)6]3- = Hexacianoferrato (III)
Nox do ferro: Fe + 6 CN- = -3 Fe -6 = -3 Fe = +3

O complexo seguinte é neutro, porém, foi colocado aqui porque o


é formado por duas partes complexas, e uma delas é um ânion:

[Pt(Py)4] [PtCl4] = Tetracloroplatinato (II) de tetrapiridinoplatina (II)


Nox da platina: 2 Pt + 4 Py + 4 Cl- = 0 2 Pt + 0 - 4 = 0 Pt =
+2

2.3) Nomenclatura de complexos com ligantes em ponte:


Muitos complexos apresentam ligantes em ponte, e a nomenclatura
se torna um pouco mais complexa e também o cálculo do Nox dos metais
associados a esses ligantes pode ser mais trabalhoso. Normalmente usa-se a letra
grega m (mi) para indicar um ligante em ponte. Quando esse ligante (que
chamaremos aqui de L) está ligado a partes iguais (M - L - M), usa-se prefixos
como bis, tris, tetraquis etc para indicar o número de partes iguais existentes.
Veja alguns exemplos:

OBS: No primeiro exemplo há também um ligante quelante - o


dietilenodiamino

Veja a seguir outros exemplos:

• [Cd(SCN)4] 2+ = Tetratiocianatocádmio (II)


• [Zn(NCS)4] 2+ = Tetraisotiocianatozinco (II)
• [(NH3)5Cr - OH - Cr(NH3)5] Cl5 = Cloreto de m -hidroxo -
bis[pentaminocromo (III)
• H [Co(CO)4] = Tetracarbonilcobaltato (-I) de hidrogênio
• NH4 [Co(SO3)2(NH3)4] = Tetraaminodissulfitocobaltato (III) de
amônio
• Cis - [PtCl2(Et3P)2] = Cis - diclorodi(trietilfosfino)platina (II)
• [(NH3)5Cr - O2 - Cr(NH3)5] 4+ = m -peroxo - bis[pentaminocobalto
(III)

Bibliografia Consultada

Bibliografia Consultada
BARROS, H. L. C. Química Inorgânica: Uma Introdução. Belo Horizonte:
SEGRAC, 2001. p. 304 - 373.
FARIAS. R. F. Química de Coordenação Fundamentos e Atualidade. Capinas:
Editora Átomo. 2005. p.9 – 19
JONES, C. J. A Química dos Elementos dos Blocos d e f. Tradução Maria Domingues
Vargas. Porto Alegre: Bookman, 2002. 184p.
SHRIVER, D.F.; ATIKINS, P.W. OVERTON, T. L.; ROUKER, J. P.; WELLER, M.T.;
ARMSTRONG, F.A. Química Inorgânica. 4 ed. Tradução de Roberto Barros Farias.
Porto Alegre; Bookman, 2008. 848p.
ATKINS, P.W.; JONES, L.L. Principios de Química. Tradução por Ignez Caracelli.
Porto Alegre: Bookman. 2001, p. 135-172

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