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A INFLUÊNCIA DOS YOUTUBERS PARA O MERCADO DE

QUADRINHOS NACIONAL

YOUTUBERS’ INFLUENCE TO THE COMIC BOOK MARKET IN BRAZIL

PINHEIRO, Rapha 1

RESUMO

Apesar de o mercado de quadrinhos no Brasil ser muito embrionário, já podemos


notar padrões de público e de compra. A presença dos Influenciadores Digitais,
especialmente no Youtube, apresentam uma forte característica das dinâmicas que
representam esse mercado, indicando títulos, fazendo parcerias com editoras e
frequentando eventos junto com os artistas.
O objetivo dessa pesquisa é estudar a relevância da influência dos Youtubers para
movimentar o mercado e , no processo, entender melhor quem é esse consumidor
de quadrinhos brasileiro. Com os dados coletados, será possivel traçar um perfil
padrão, assim como entender os desvios, parcelas da população que os quadrinhos
não acessam e, principalmente, se suas decisões de compra estão relacionadas
com os Youtubers.

Palavras-chave: Quadrinhos; Youtube; Perfil de Leitor; Demográfico.

ABSTRACT

Despite the comic book market in Brazil being still in a developing stage, there are already noticeable
patterns of purchase and reading profiles. The presence of digital influencers, especially from
YouTube, represents a significant chunk of these dynamics, suggesting titles, creating partnerships
with publishing houses and interacting with authors and artist during conventions.
The goal of this research is to understand the relevance of the so called Youtubers on this market and,
in the process, have a better understanding of the Brazilian comic book consumer in general. With the
collected data, it will be possible to portrait the default profile of the reading, along with its deviations.
The data will also shed light on what this reading profile wants, where they come from and, especially,
if their buying choices are somehow related to Youtubers after all.

Keywords: Comic book; YouTube; Reader Profile; Demographics.

_____________
1
Mestrando do curso de Tecnologias e Linguagens da Comunicação da PPGTLCOM, ECO-UFRJ.
raphaelcpinheiro@live.com
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INTRODUÇÃO

Esse trabalho é uma coleta e interpretação de dados coletados sobre a


importância dos Youtubers de quadrinhos no mercado nacional. Através de uma
pesquisa online, o artigo visa entender melhor as dinâmicas que regem a relação
entre os canais do YouTube sobre quadrinhos e o público consumidor que, além de
comprar livros em quadrinhos, também assiste vídeos sobre o tema.
Espera-se provar que os canais exercem uma influência nas compras dos
usuários, assim como entender melhor que tipo de influencia é essa. Trabalhando
com uma amostragem de leitores de quadrinhos, o trabalho também pretende traçar
um perfil médio do leitor que acompanha canais no YouTube para que esses
mesmos canais possam compreender seus inscrítos e para quem eles produzem
conteúdo digital.
O autor desse artigo também é Youtuber de quadrinhos, permitindo um
acesso mais fácil aos dados dos demais Youtubers, situação que facilita o
entendimento e fortalece as afirmações ao serem apresentadas seguidas de dados
sólidos e de diversas fontes.
O trabalho apresenta como os dados foram coletados, o resultado desses
dados e a interpretação de cada um deles. Devido ao grande número de respostas
apresentadas, não será possível se aprofundar em todas elas, levantando várias
perguntas que podem ser respondidas com outros artigos a serem produzidos na
sequência.

MÉTODOS

A coleta de dados para essa pesquisa foi feita inteiramente online. A primeira
fase foi o desenvolvimento de um questionário com perguntas pertinentes para os
propósitos da pesquisa e a segunda foi a difusão e divulgação do dito questionário
para que se conseguisse uma amotragem significativa que justificasse as
conclusões como válidas do ponto de vista estatístico.
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Elaboração do Formulário

Para o desenvolvimento desse estudo, foi produzido um questionário através


da ferramenta Google Forms. O questionário apresenta dezoito perguntas
elaboradas pelo autor desse artigo e tem por objetivo traçar o perfil do leitor, não
deixando de lado perguntas sobre como o YouTube está presente nesse perfil. As
principais referências para perguntas foram pesquisas demográficas encontradas na
internet. Entendendo que um formulário online e um formulário físico são recebidos
pelo público de formas diferentes, utilizar referências de trabalhos online facilitou a
elaboração de algo já pensado para o formato em questão.
As perguntas foram apresentadas como na sequência:

1. Quantos Anos você Tem?


2. Qual seu nível de escolaridade?
3. Qual seu estado de origem?
4. Com qual gênero você se identifica?
5. Qual o tamanho da cidade onde você mora?
6. Quantos canais de quadrinhos você costuma acompanhar no Youtube?
7. Você costuma concordar com esses youtubers?
8. Você segue algum youtuber de quem costuma discordar sempre?
9. Quanto você gasta em quadrinhos por mês?
10. Qual a renda média mensal da sua casa?
11. Você costuma comprar os quadrinhos indicados pelos youtubers?
12. Existem eventos de quadrinhos e/ou cultura pop na sua cidade?
13. Você costuma frequentar esses eventos?
14. Você costuma frequentar eventos de quadrinhos e/ou cultura pop em
outras cidades?
15. Você lê quadrinhos nacionais?
16. Você lê quadrinhos europeus? (BD)
17. Você lê quadrinhos americanos? (Comic)
18. Você lê quadrinhos japoneses? (Mangá)
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Todas as perguntas eram obrigatórias e de múltipla escolha, tornando o


questionário bem simples de responder.
Antes de continuar, é importante apontar alguns problemas com o
questionário que só foram identificados ao final ou no decorrer da pesquisa.
O primeiro problema foi a ausência de uma pergunta que diz respeito à
ocupação, no sentido de que muitas pessoas que lêem e consomem quadrinhos
também trabalham na área. Esse dado seria importante para validar ou contrapor
um pensamento recorrente entre os autores de que existe uma retroalimentação
constante de artistas, produzindo e consumindo obras entre si. Apesar de ser um
assunto debatido constantemente em encontros e convenções de quadrinhos,
minhas leituras anteriores não indicaram qualquer tipo de estudo sendo realizado a
esse respeito até então.
Outro problema que diversas pessoas que responderam o questionário
evidenciaram foi o foco excessivo no YouTube. Esse ponto é particularmente
delicado porque, ao passo que a pesquisa foi pensada para estudar o público
específico do YouTube, outros leitores que não acompanham a plataforma tentaram
responder e sentiram dificuldade. A obrigatoriedade de responder a perguntas
específicas sobre Youtubers levou diversas pessoas ao abandono a pesquisa ou a
responder tais perguntas de forma aleatória para continuar fazendo parte da
amostragem. Essas questões devem ser levadas em consideração na hora de
avaliar os resultados estatísticos.
Existem um debate relativo à esse problema o qual abordarei em mais
detalhes no desenvolvimento teórico.

A Coleta dos Dados

Depois de concluído o questionário, ele foi enviado para Youtubers de


quadrinhos que, por sua vez, comunicaram aos seus inscritos sobre o trabalho.
Alguns desses Youtubers possuem grupos de seguidores no Facebook onde
geralmente acontecem os debates que podem vir a se tornarem pauta de vídeos.
Esses grupos de Facebook apresentam a maior interação de público com público, já
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que os comentários do Youtube são majoritariamete uma troca entre Youtuber e


público, com pouco espaço para debate entre os próprios inscritos.
Importante ressaltar que os Youtubers contactados foram solícitos em ajudar
com a pesquisa, visto que os resultados da mesma impactam diretamente com o
trabalho que eles fazem. Dentre os canais de YouTube que foram contactados e
responderam de forma positiva, buscando avisar aos seus inscritos sobre a
pesquisa, podemos citar: 2Quadrinhos; Comix Zone; Crás Conversa Oficial; Central
HQs; Papo Zine e Entretenimento Ácido. Dos canais citados, dois deles
(2Quadrinhos e Comix Zone) apresentaram o debate para seus respectivos grupos
no Facebook, fato que engajou um público significativo.
Além dos Youtubers, outros canais de mídia especializada também se
mobilizaram na divulgação da pesquisa para que a amostragem se tornasse
significativa. Podemos citar a página HQs Brasileiras e o blog O Quadro e o Risco
como exemplos.
O autor desse artigo também possui um canal sobre quadrinhos no YouTube,
onde publicou um vídeo explicando sobre a importância da pesquisa e da divulgação
dos resultados. Justamente para que a amostragem não fosse viciada, foi pedido
para que outros Youtubers e mídias especializadas também divulgassem a
pesquisa, permitindo que um público mais diversificado, maior e mais representativo
fosse contemplado na hora de analisar os dados.
Ao final de três semanas coletando dados, a amostragem foi de 1598
pessoas, valor significativo o suficiente para que os dados sejam considerados
estatísticos, mesmo que para uma parcela específica estudada: A de leitores
brasileiros de quadrinhos que acompanham canais de YouTube sobre o tema.

DESENVOLVIMENTO

Retornando ao debate citado anteriormente, existiram reclamações por parte


das pessoas que responderam as perguntas sobre a impossibilidade de responder
as perguntas caso não acompanhassem um canal no YouTube. O objetivo da
pesquisa é estudar e entender o público específico que utiliza a plataforma de vídeo,
por isso as perguntas foram elaboradas desta maneira.
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Entretanto, ouvindo as reclamações e refletindo sobre o objetivo da pesquisa


de forma geral, talvez fosse pertinente estudar os leitores de quadrinhos de maneira
geral e, através de perguntas não obrigatórias, descobrir qual parcela desses
leitores é consumidor de vídeos no YouTube. Segundo David Hand, autor do livro
The Improbability Principle, a chamada Lei da Seleção pode nos levar a dados
equivocados, uma vez que ignoramos aspectos de uma amostragem maior que
pode nos apresentar dados muitas vezes contraditórios com uma parcela menor e
mais específica.
Esse pensamento entra em conflito com a experiência percebida durante a
realização da pesquisa. A ferramenta Google Forms permite que o pesquisador
acompanhe a coleta de dados em tempo real, visualizando os gráficos conforme vão
se modificando pelas responstas as pessoas. Apesar de uma amostragem
específica e que, segundo a lei da seleção, deveria esconder dados potencialmente
relevantes, ao alcaçar a marca de aproximadamente trezentas repostas, os gráficos
começaram a se estabilizar. A partir desse ponto, o desvio de respostas foi, em
média, 3-5%, demonstrando que a estabilidade de respostas e, consequentemente a
apresentação de uma amostragem significativa, foram alcançadas com muito menos
pessoas do que a pesquisa conseguiu reunir.
A amostragem de aproximadamente mil e seicentas pessoas apenas
evidencia que as médias são significativas e apresentam valores estatisticamente
válidos para a proposta desse estudo. Apesar disso, seria importante no futuro fazer
um novo estudo, de caráter similar, contemplando leitores que não acompanham
canais de Youtube, assim como apresentando perguntas que determinem se os
leitores também são produtores de quadrinhos.
Entre os motivos para a realização dessa pesquisa, está a aparente
contradição entre a força dos influenciadores digitais que é percebida diariamente no
meio, e a negação de que tais atores sejam relevantes realmente apresentada pelo
autor Henry Jenkins no livro Cultura da Convergência. Devemos, evidentemente,
levar em consideração que esse livro foi escrito em 2009 e o cenário da internet
sofreu mudanças drásticas desde então. Essa pesquisa, portanto, procura validar,
ou não, esse aspecto da literatura de Jenkings, pelo menos dentro do cenário
específico dos Youtubers de quadrinhos.
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RESULTADOS

Aqui estão apresentados os resultados da pesquisa, acompanhados de uma


breve análise desses dados.

Quantos anos você tem?

Esse gráfico mostra que jovens adultos são os que mais lêem quadrinhos e
assistem videos sobre o tema no YouTube. 68% da amostragem tem entre 18 e 34
anos, contrariando a ideia de gerações passadas de que quadrinhos são uma mídia
para crianças. Crianças, na verdade, apresentam menos de 10% da amostragem
geral, apresentando adultos de 35 a 44 anos como uma parcela também
significativa, o dobro do número de crianças.
Podemos concluir que a geração que cresceu e foi alfabetizada com
quadrinhos cresceu e parte dela continuou a ler quadrinhos agora que são adultos.
Se isso for de fato o motivo (ou pelo menos um deles), podemos esperar uma
próxima geração com bem menos leitores adultos de quadrinhos já que temos uma
parcela significativamente menos de crianças lendo quadrinhos hoje.
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Qual seu nível de escolaridade?

O gráfico nos apresenta um dado que as hipóteses originais não


contemplavam: Os leitores de quadrinhos possuem, de maneira geral, formação
acadêmica. Somando as pessoas que estudam um curso superior até os níveis mais
avançados de estudo acadêmico, temos aproximadamente 90% de pessoas com
formação. Esse dado nos indica que quadrinhos, contrário ao senso comum, é uma
mídia consumida por uma elite intelectual. Esse dado pode ser explorado mais a
fundo eventualmente para entender as causas e desdobramentos desse fato.
Infelizmente, tais estudos não estão contemplados nessa pesquisa.
Importante ressaltar que, por uma falha do autor desse artigo, foi adicionada
uma opção extra de nome “Option 9”. O número de respostas dessa opção foi ínfimo
e pode ser desconsiderado sem atrapalhar os resultados.

Qual seu estado de origem?


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Aqui podemos perceber que existe uma clara distinção entre o triângulo do
sudeste que contempla Rio, São Paulo e Minas Gerais e os demais estados do
Brasil. Apenas esses três estados são responsáveis por pouco mais de 56% de
todos os leitores. É notável que a maioria dos eventos relevantes para o mercado
nacional acontecem exatamente nesses três estados, o que apresenta uma clara
correlação. Essa pesquisa não contempla um estudo mais aprofundado para
entender se a dita correlação é causal ou não.
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Com qual gênero você se identifica?

Aqui temos um dado importante mostrando o quão fechado para mulheres


ainda é o mercado de quadrinhos no Brasil. O número de mulheres que respondeu a
pesquisa é preocupante já que elas representam aproximadamente 50% da
população. Pessoas que se identificam como “outro”, apesar de um grupo de leitores
pequeno, também representa uma parcela da população brasileira bastante reduzida
e, por isso, tal dado era esperado.
Podemos ressaltar também que de todos os Youtubers que participaram da
divulgação, todos eles eram homens. Existem Youtubers de quadrinhos do sexo
feminino também, ainda que em número reduzido quando comparado aos homens.
A pesquisa foi feita sem a presença de nenhum canal com mulheres pois o autor
desse artigo não conseguiu entrar em contato com nenhuma delas, apesar de ter
tentado.

Qual o tamanho da cidade onde você mora?


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Esse gráfico apresenta um dado que não havia sido pensado: Existem mais
leitores em cidades pequenas do que em cidades grandes. Analisando de forma
estatística, é de se esperar que tenhamos mais pessoas em cidades com mais de
um milhão de habitantes, visto é mais pessoas moram em tais cidades. Ainda assim,
a resposta foi uma maior presença de corpo amostral em cidades médias e
pequenas.
O Brasil sofre de problemas com distribuição de livros e quadrinhos, um
estudo futuro pode ser feito para entender como esses leitores têm acesso ao
material e se lojas online como a Amazon possuem um papel decisivo na conquista
desses leitores.

Quantos canais de quadrinhos você costuma acompanhar no YouTube?

Essa pergunta se mostrou problemática ao longo da pesquisa. Foi entendido


que menos opções com alcances (de 3 a 5 canais, por exemplo) seria mais eficiente,
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fácil de analisar e menos confuso para as pessoas respondendo o questionário.


Uma opção com 0 canais não foi inserida pelos motivos que foram explicados na
sessão DESENVOLVIMENTO desse artigo.
Aqui novamente o autor cometeu um erro ao elaborar o questionário e
permitiu que fosse votada a opção de nome “Option 11”. Mesmo tendo mais
respostas indesejáveis dessa vez, ainda assim seu valor é desprezível perto das
respostas gerais e não interfere no andamento da pesquisa.
Esse gráfico nos apresenta que existe uma variedade grande de quantidade
de Youbers que são assistidos. O que podemos concluir é que fica mais difícil
gerenciar quando esse número passa de cinco, levanto o público a escolher até
cinco canais com os quais se identificam mais e se ater a eles.

Você costuma concordar com esses Youtubers?

Essa pergunta não apresentou nenhum dado relevante. É esperado que


eventualmente o público discorde das opiniões dos Youtubers, especialmente com
algo de gosto pessoal tão variado quanto histórias em quadrinhos. Mesmo que as
pessoas tendam a seguir aqueles que mais mais se identificam com elas, uma
margem de disscordância era esperada.

Você segue algum Youtuber de quem costuma discordar sempre?


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Diferente do resultado anterior, esse dado foi completamente inesperado.


Uma prática recomendável para usuários da internet é que eles busquem consumir
conteúdos de diversas fontes, inclusive daquelas discordantes. Apesar de ser
recomendável, poucas pessoas de fato acompanham esse tipo de notícia, gerando
bolhas de convívio e opinião dentro das redes sociais.
Ao ver que mais de ¼ dos leitores de quadrinhos acompanham um youtuber
do qual sempre discorda, percebemos um certo esclarecimento por parte desses
leitores. É atribuível, porém impossível de verificação, que tal esclarecimento venha
do alto nível de escolaridade constatado no início da pesquisa.

Quanto você gasta em quadrinhos por mês?

Nota-se aqui que conforme o valor gasto com quadrinhos por mês aumenta,
menor a parcela da amostragem que participa desse grupo. Ainda assim existe uma
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disparidade entre a quantidade de pessoas que gasta mais de R$500 reais por mês
com quadrinhos (3,1%) e a parcela da população com renda alta o suficiente para
que esse valor não tenha um impacto nos gastos mensais, indicando que não só
uma elite intelectual mas também uma elite econômica consome quadrinhos.

Qual a renda mensal média da sua casa?

Os dados apresentados aqui corroboram as suposições do gráfico anterior,


demonstrando que a classe baixa não consome quadrinhos em grande quantidade.
Esse resultado também se alinha com o nível de escolaridade, sendo possível traçar
um paralelo entre a renda mensal média dos participantes e o que espera-se de
como renda mensal média dos níveis de escolaridade citados anteriormente.

Você costuma comprar os quadrinhos indicados pelos youtubers?

Essa pergunta foi a mais importante do questionário, apresentando o real


potencial de mercado dos Youtubers de quadrinhos. É perceptível que existe uma
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influência por parte do YouTube para direcionar as compras, visto que mais de 65%
da amostragem diz comprar quadrinhos por indicação. Esse dado é essencial aos
Youtubers que pretendem conseguir parcerias com editoras, lojas ou eventos.

Existem eventos de quadrinhos e/ou cultura pop na sua cidade?

Esse gráfico pode ser comparado com o gráfico de tamanho de cidade


apresentado anteriormente. Sabendo que os eventos conhecidos e que movimentam
a maior quantidade de pessoas (segundo os próprios organizadores) como o FIQ,
CCXP, Bienal de Quadrinhos de Curitiba e GameXP, podemos inferir que as cidades
médias e pequenas carecem de eventos de quadrinhos e/ou cultura pop.

Você costuma frequentar esses eventos?

Existe uma correlação entre a quantidade de pessoas que frequanta eventos


e a quantidade de pessoas que possui eventos em suas cidades, ainda que não
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possa ser comprovada uma causalidade entre elas. O aparente erro entre os dois
dados pode ser corrigido pelo gráfico a seguir.

Você costuma frequentar eventos de quadrinhos e/ou cultura pop em outras


cidades?

Como existe um trânsito de pessoas para eventos em outras cidades,


podemos concluir que essas pessoas são responsáveis por existirem mais pessoas
visitando eventos do que esperaríamos visto a quantidade de pessoas que dizem ter
eventos em suas próprias cidades.

Você lê quadrinhos nacionais?

Contrariando as reclamações comuns entre quadrinistas nacionais,


aparentemente a amostragem consome quadrinhos brasileiros em sua grande
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maioria. Aqui é importante falar sobre como os Youtubers contactados para essa
pesquisa frequentemente abordam esse tema, trazendo para suas pautas alguns
lançamentos nacionais. Novamente, essa pesquisa não se aprofundou o suficiente
para propor uma relação de causa entre os dois aspectos, apenas apontar sua
correlação.

Você lê quadrinhos europeus (BD)?

Novamente contrariando o que se é assumido como senso comum pelor


artistas nacionais, uma porcentagem grande da amostragem consome quadrinhos
europeus. A maioria deles não chega até as bancas e não aparece em destaque em
livrarias (com excessão de lojas virtuais). Os Youtubers participantes costumam
abordar quadrinhos europeus em seus programas, mais uma correlação que pode
ou não ser causa para os números apresentados.

Você lê quadrinhos americanos (comics)?


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Esse gráfico mostra dados que corroboram com a opinião geral dos
profissionais da área de que a maioria dos leitores consome quadrinhos americanos.

Você lê quadrinhos japoneses (mangá)?

Com mangás, a situação é semelhante aos quadrinhos americanos, com


dados corroborando o que já se acreditava ser a situação segundo os quadrinistas e
Youtubers.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com esse estudo, podemos concluir que existe um caráter de influência por
parte dos Youtubers no público consumidor de quadrinhos no Brasil. Apesar de
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inclusivos, os dados também indicam uma possível correlação com o aumento das
vendas de quadrinhos europeus e quadrinhos nacionais devido aos programas feitos
pelos Youtubers em questão.
Também conclui-se que o consumidor médio de quadrinhos nacional é de
classe média/alta, com nível de escolaridade alto e que acompanha geralmente mais
de um Youtuber, mesmo se esse Youtuber discorda dele em algum aspecto.
Mais estudos precisam ser realizados para que os dados sejam conclusivos:
amostragens diferentes, femininas, que não assistem YouTube regularmente e que
produzem quadrinhos. Ainda assim, os dados apresentados aqui podem ser usados
como balizadores para que os canais de quadrinhos do YouTube adotem políticas
que visam aproveitar ao máximo seu público, assim como um alerta para que os
mesmos sejam criteriosos, visto que existe um poder de influência exercido.
Com isso, é possível concluir que, pelo menos em alguma instância,
influenciadores digitais existem. Essa afirmação diz respeito apenas ao nicho de
quadrinhos, afirmar tal coisa de outras categorias exigiria uma amostragem menos
selecionada. No âmbito da comunicação com novas tecnologias, a teoria debatida
precisa ser revista e atualizada de maneira muito rápida. Henry Jenkins ainda é
considerado uma bibliografia essencial para aqueles que estudam novas mídias e
comunicação com suas publicações tendo menos de 10 anos. Ainda assim, partes
de sua obra já não se aplicam como podemos perceber com a questão dos
influenciadores digitais. Essa necessidade de revisar e atualizar a bibliografia para
acompanhar os desenvolvimentos tecnológicos que moldam o comportamento das
novas mídias ainda é um tema que precisa ser debatido. Esse trabalho não tem por
objetivo responder esse tipo de questão, apenas indicar que ela existe.
A pesquisa, em última análise, não apresenta soluções para a situação atual
dos leitores de quadrinhos. Antes de propor soluções, precisamos entender o estado
da questão e esse sim é o objetivo dessa pesquisa. Ao longo do seu
desenvolvimento, diversas ideias surgiram ao compilar os dados e as possiblidades
de novos estudos que ela abre são muito amplas. O trabalho aqui apresentado é
apenas um passo para um melhor entendimento da situação dos quadrinhos e do
Youtube no Brasil.
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REFERÊNCIAS

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