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Disciplina: Óptica Integrada / Aluno: Christos A.

Harissis

Tarefa 1: estudo sobre a variação do índice de refração


com o comprimento de onda e com a temperatura.

ANÁLISE PRELIMINAR

Como o índice de refração de determinado meio é definido simplesmente pelo quanto a velocidade
de propagação da onda eletromagnética neste é menor que no vácuo, o problema se traduz em
verificar como essa velocidade é afetada pelo comprimento de onda e pela temperatura.

Velocidade de propagação.

Sabemos que ondas são definidas como perturbações móveis de uma ou mais grandezas associadas
a determinado meio. Também sabemos que, no caso das ondas eletromagnéticas, a grandeza que sofre
tais perturbações é o campo eletromagnético e que a velocidade com que elas se propagam é dada por
1/raiz(μmeio . εmeio), onde ε é a permissividade elétrica do meio e μ é a permeabilidade magnética.
Acontece que, não somente as ondas eletromagnéticas — mas de qualquer natureza — se deslocam
conforme esse tipo de equação, que combina uma componente “inercial” da perturbação que o meio
sofre com uma componente que chamamos de “força restauradora”. Fazendo analogia com as ondas
mecânicas e tomando como exemplo a corda de um violão, a sua densidade linear (componente
inercial) corresponderia à permeabilidade magnética e, como veremos, a tensão com que ela é esticada
(força restauradora) estaria relacionada com a permissividade elétrica.

Os materiais transparentes à luz são dielétricos e têm a permeabilidade magnética muito próxima à
do vácuo e praticamente constante. Com isso, o nosso problema se limitou a descobrir como a
permissividade elétrica de um meio atravessado pela luz é afetada pelo comprimento de onda desta e
pela temperatura. Antes, no entanto, cabe uma conceituação um pouco mais cuidadosa sobre a
permissividade elétrica.

Permissividade e polarização dos dipolos elétricos.

Sabemos que uma carga elétrica produz o que chamamos de campo elétrico ao seu redor, ou seja, um
campo de forças que atuam sobre outras cargas nas proximidades. Do ponto de vista do efeito sentido
por esse campo, sua intensidade é definida como a relação entre a força que determinada carga
“imersa” no mesmo sofre e o valor dessa carga (E = F/q).

A permissividade entra na definição de campo elétrico sob o ponto de vista da sua geração. A
intensidade do campo elétrico produzido por certa carga será sempre menor em qualquer meio
material do que no vácuo. Isso porque partículas polarizadas que constituem os materiais (chamadas
dipolos elétricos) são orientadas pelo campo inicial gerado e, com isso, produzem campos elétricos
em sentido oposto, diminuindo o valor resultante dentro de tais meios. Esses dipolos podem ser
naturais do material (moléculas polares) ou podem ser criados pela própria ação do campo, que tende
a mover para um lado as nuvens eletrônicas dos átomos ou moléculas e para o outro os seus núcleos
(polarização). Assim, a permissividade elétrica é a propriedade dos materiais que diz o quanto suas
partículas se deixam orientar pelo campo elétrico. Portanto, materiais mais permissivos apresentam
menor campo elétrico final gerado por uma mesma carga, conforme traduzido pela igualdade abaixo.

E = D/ε onde E é o campo elétrico, D é a densidade do fluxo elétrico* produzido pela carga
geradora e ε é a permissividade elétrica do meio.
* O fluxo elétrico de uma carga foi definido por Faraday como a sua capacidade de polarização e
equivale ao próprio valor dessa carga, em Coulombs. É descrito como o total de “linhas de fluxo”
que saem radialmente da carga geradora. A densidade do fluxo elétrico é dada pelo valor deste
dividido pela área esférica ao redor da carga — portanto, corresponde à "concentração" das linhas
de fluxo e tende a diminuir com o quadrado da distância da carga se esta for considerada pontual
(ver Lei de Gauss).

A relação proposta entre a permissividade elétrica e as referidas forças restauradoras ocorre da


seguinte forma: quanto mais permissivo for o material, o que significa que mais facilmente suas
partículas são orientadas, menores serão as forças de retorno à condição natural (sem polaridade ou
com os dipolos orientados aleatoriamente). Utilizando a analogia feita no início do texto, é como uma
corda de violão menos esticada, ou uma mola mais “fraca”. Em todos os casos, as forças restauradoras
são menores — e as velocidades de propagação, no que depender destas, também. Em óptica, isso
corresponde a maiores índices de refração.

No vácuo, como não há partículas que se “permitam” orientar pelo campo elétrico, a sua
permissividade elétrica é menor que a de qualquer material e, assim, a velocidade de propagação da
onda eletromagnética nele é máxima (o famoso c de Einstein, igual a 3,00 x 108 m/s).

FINALMENTE, AS RESPOSTAS

A variação do índice de refração com o comprimento de onda.

Ficou claro que os dipolos elétricos também podem ser representados por sistemas massa-mola (de
que os físicos tanto gostam!) e, como tais, é de se esperar que também apresentem frequências de
ressonância, às quais a permissividade elétrica será maior. Assim, a velocidade de propagação da
onda eletromagnética será mínima nessas frequências em relação às suas vizinhanças — e o índice
de refração, máximo. Isso significa que, considerando a curva do índice de refração x comprimento
de onda de certo material, devemos esperar um pico de máximo na ressonância. Se tal pico estiver
antes da faixa de luz visível, esta se situará na região da curva em que a declividade é negativa,
explicando a conhecida diminuição do índice de refração com o aumento do comprimento de
onda na maioria dos materiais!!!

A variação do índice de refração com a temperatura.

Há pelo menos dois mecanismos envolvidos — e concorrentes: a dilatação térmica tende a diminuir
um pouco o índice de refração, pois reduz a densidade de dipolos elétricos e, portanto, a
permissividade elétrica; por outro lado, o aquecimento reduz o “band gap” dos materiais (diferença
entre níveis energéticos da eletrosfera), facilitando a formação de dipolos e, conforme a discussão
acima, aumentando o índice de refração. Além disso, pode-se intuir que o aumento da vibração
térmica também facilite a orientação dos dipolos existentes. Os dois últimos mecanismos
normalmente são preponderantes; no entanto o estudo adequado do assunto requer muito mais
cuidado. Sabe-se que na maioria dos sólidos o índice de refração aumenta quase linearmente com a
temperatura na faixa visível.

Obs.: como no vácuo ou no ar podemos considerar que não existem partículas a serem orientadas
pelo campo elétrico, o índice de refração nesses meios não varia com os parâmetros em questão.

Escrito em 18/10/2008, revisado em 07/02/2023.

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