Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
São Paulo
2007
2
São Paulo
2007
3
AGRADECIMENTOS
Antes e acima de tudo, àquele a quem minha gratidão, embora nem sempre explícita, é
constante, por todos os dias vividos e por tudo o que deles advém: a Deus!
De forma especial, à minha esposa, pelo incentivo e cumplicidade contínuos desde o início
do curso.
Ainda dentro da minha família, à minha irmã, Virgínia, e minha mãe, que estão entre os
grandes heróis anônimos dos bastidores sem os quais as batalhas não seriam vencidas. Este
tem sido um dos papéis desempenhados por ambas em nossas vidas e, por isso, minha mais
terna gratidão.
Ao Eduardo Pedrosa, diretor da empresa em que trabalho (Treetech Sistemas Digitais), por
adotar como meta principal da mesma o desenvolvimento das pessoas que a compõem. No
que diz respeito especificamente a mim, pela indicação do curso e pela confiança,
cumplicidade e incentivo durante a realização do mesmo.
Ao Marcos Alves, meu supervisor dentro da empresa e amigo, pelo apoio durante o curso e
suporte técnico essencial para este projeto.
Ao professor Roberto Katsuhiro Yamamoto, pela presteza e eficiência com que me orientou
na realização deste trabalho.
5
RESUMO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................10
1.1 Objeto de estudo..........................................................................10
1.2 Objetivos, metodologia e apresentação........................................11
2 ESTUDOS PRELIMINARES...............................................................13
2.1 Construção das buchas condensivas...........................................13
2.2 Processos de degradação do dielétrico........................................15
2.3 Proposta para monitoração online................................................24
2.4 Especificações técnicas do monitor de buchas............................30
3 PROJETO PROPRIAMENTE DITO....................................................34
3.1 Hardware......................................................................................34
3.2 Firmware.......................................................................................39
3.3 Documentação técnica.................................................................40
4 TESTES E RESULTADOS..................................................................41
4.1 Testes preliminares (protótipos)....................................................41
4.2 Testes finais (lote piloto)...............................................................42
5 CONCLUSÕES...................................................................................45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................46
ANEXO A – ENSAIOS DE TIPO.............................................................47
1 INTRODUÇÃO
equipamentos em instalações elétricas, uma falha em uma única bucha não diagnosticada em
sua fase incipiente pode causar enormes prejuízos – isso sem citar os riscos à vida e à
integridade física de pessoas que se encontrem nas proximidades.
Quanto à incidência desse tipo de problema no total de falhas que ocorrem em subestações
elétricas, uma pesquisa realizada pelo Conseil International Des Grands Réseaux Électriques
(CIGRE) indica que mais de 12 % dos desligamentos forçados e agendados de
transformadores estão relacionados com as buchas [4].
Conforme será visto adiante, a monitoração proposta utiliza a medida das correntes
conduzidas pelos cabos de aterramento das buchas para avaliar o estado do dielétrico. Tais
correntes são resultantes das altas tensões alternadas (transferidas pelas buchas aos cabos da
rede) aplicadas sobre as capacitâncias formadas pelo dielétrico e suas camadas condutoras.
A metodologia adotada tomou como etapa inicial o estudo dos processos de degradação
dos dielétricos das buchas com o objetivo de determinar sua influência sobre a corrente no
cabo de aterramento das mesmas, praticamente a única variável disponível para medição direta
e contínua que poderia ser relacionada com essa degradação. Uma vez conhecida essa
influência, foi feito o estudo de como a referida corrente pode ser afetada por outras variáveis
e, então, de como minimizar o efeito destas no caminho inverso, ou seja: a partir da medição
da corrente, saber se algum processo de degradação está ocorrendo. (Essa etapa inicial foi
executada pela empresa proprietária do projeto – Treetech Sistemas Digitais.) Neste ponto se
12
iniciou o trabalho focalizado por este documento, que consistiu no projeto propriamente dito
do equipamento a fazer a referida monitoração online, nomeado como “Monitor de Buchas”.
O projeto partiu da definição das especificações técnicas, feita ainda em conjunto com a
empresa, e seguiu com a execução de todas as etapas envolvidas: definição e desenho dos
circuitos, dimensionamento dos componentes, elaboração do layout das placas de circuito
impresso e de outros documentos como lista de materiais e instruções de montagem, teste e
calibração, testes dos protótipos, acompanhamento dos ensaios de conformidade com normas
técnicas pertinentes e desenvolvimento da parte do firmware correspondente às medições e à
interação com o restante do hardware.
2 ESTUDOS PRELIMINARES
Neste tópico é feita uma breve descrição da estrutura interna das buchas condensivas
como subsídio para que se possam compreender os assuntos subseqüentes. A Figura 2-1 traz
um desenho esquemático da construção das mesmas.
CAPACITÂNCIA
C2
CAMADAS ISOLANTES DE
PAPEL IMPREGNADO COM ÓLEO
CAPACITÂNCIA
C1
CAMADAS CONDUTORAS
PARA HOMOGENEIZAÇÃO
DO CAMPO ELÉTRICO
TAP DE TESTE
VISTA
As buchas condensivas mais utilizadas em alta tensão e extra-alta tensão são as isoladas
com papel impregnado em óleo. Nestas, conforme sua denominação, as camadas isolantes são
bobinas de papel imersas em óleo.
O tap de teste
Existe um elemento nas buchas chamado “tap de teste”, que consiste em um conector que
é ligado à penúltima camada condutora (em alguns casos pode ser a antepenúltima ou outra
entre as mais externas) e, assim, divide as capacitâncias da bucha em dois grupos: C1 e C2,
conforme a Figura 2-1. É construído originalmente para permitir dois tipos de medidas,
descritos a seguir.
Inspeção offline do dielétrico e medidas das capacitâncias: são medições feitas em fábrica
ou na própria instalação com o sistema desenergizado; visam, inicialmente, obter os valores
das capacitâncias C1 e C2 e, ao longo da vida útil da bucha, inspecionar o estado do dielétrico.
Será visto adiante que é através do tap de teste que é feita a monitoração online proposta
neste trabalho.
Devido à importância das isolações elétricas na vida útil dos equipamentos de alta tensão e
à severidade das conseqüências de falha nas mesmas, diversos esforços foram feitos desde o
início do século passado para se conhecer os mecanismos de degradação das mesmas,
determinar os limites das condições de utilização e estimar a sua vida útil. Em [4] encontram-
se reunidas as principais informações levantadas por estudiosos do assunto ao longo desse
tempo, tanto no âmbito geral como em relação às isolações utilizadas especificamente em
buchas condensivas isoladas com papel impregnado em óleo. Aqui será feita apenas uma breve
referência a tais processos, uma vez que não é este o foco do trabalho, e, sim, o
desenvolvimento do Monitor de Buchas.
Cada um dos dois componentes principais do dielétrico, papel e óleo, tem funções
específicas no conjunto. O primeiro serve principalmente para dar sustentação mecânica ao
condutor central e o segundo garante a isolação e ajuda a dissipar o calor gerado pelas perdas.
Embora a rigidez dielétrica da celulose seja alta, a do papel seco não é muito maior que a do
16
ar, por este estar presente nos seus poros. O óleo ocupa esses poros e confere ao sistema alta
capacidade de isolação. A Tabela 2-1 mostra alguns valores médios de rigidez dielétrica dos
materiais normalmente utilizados para este fim, em condições normais de uso.
Rigidez dielétrica
Material
(kV/mm)
Conforme os estudos mencionados acima (em [4]), a degradação da isolação do papel está
relacionada ao grau de despolimerização da celulose. Assim, vale acrescentar que, como essa
despolimerização afeta diretamente a resistência do papel à tração (a reduz), e devido à
simplicidade de execução de ensaios mecânicos desse tipo, os mesmos constituem o método
mais antigo e amplamente utilizado até hoje para estimar a condição deste tipo de isolante.
2.2.1 Envelhecimento
A seguir é feita a descrição dos quatro principais fatores de envelhecimento citados e das
perdas dielétricas, assim como das formas com que esses processos podem interagir.
17
Hidrólise: um dos átomos de hidrogênio da água passa a se ligar ao de oxigênio que une
os monômeros de glucose, formando dois grupos OH- e quebrando a cadeia. Testes e estudos
citados em [4] indicam que a taxa de degradação da celulose aumenta de forma praticamente
linear com a concentração de água na mesma (ou no óleo).
Sf / Si = (1 + t / T ) -1/n (1)
onde: Sf = rigidez dielétrica final do isolante;
Si = rigidez dielétrica inicial de isolante;
t = tempo;
T = constante de tempo de envelhecimento elétrico;
n = ordem da reação.
Esses fenômenos, segundo estudos mais recentes [4], envolvem a cisão das cadeias de
celulose do papel isolante ou, ainda, a quebra de ligações moleculares do mesmo e do óleo
pela ação do campo elétrico. São três os principais mecanismos com que isso ocorre, conforme
segue.
19
c) Impacto de elétrons com altas velocidades que tenham sido injetados dentro do
isolante. Embora a diferença entre as funções trabalho do metal dos eletrodos e do
óleo seja muito grande para permitir tal injeção mesmo por intensos campos elétricos,
ela acaba ocorrendo devido a níveis intermediários que surgem nos defeitos e
substâncias de interface e à energia térmica dos elétrons com maiores níveis de
vibração.
No caso específico dos dielétricos de buchas, este não é um item que gera muitas
preocupações, pois as solicitações mecânicas sobre os mesmos são relativamente baixas
(diferentemente dos transformadores e reatores, em que os isolantes também exercem a função
de sustentação dos enrolamentos). O envelhecimento mecânico normalmente está associado à
fadiga dos componentes devida a esforços prolongados e/ou repetitivos, a efeitos
termomecânicos, ao desgaste devido à vibração e a deformações lentas causadas por esforços
prolongados de natureza elétrica, térmica ou mecânica.
Em condições ideais, tal aquecimento não ocorreria, pois a corrente resultante da tensão
da bucha teria somente a componente capacitiva. A componente real, causadora das perdas
por aquecimento, é atribuída principalmente a três fatores: correntes de condução, devidas a
portadores de carga presentes no óleo como elétrons, lacunas e íons provenientes de impurezas
e dos processos de envelhecimento estudados; descargas parciais, mencionadas acima, e perdas
por orientação polar das moléculas do dielétrico, que oscilam na freqüência da rede por
tenderem a se alinhar ao campo elétrico alternado – estas, portanto, somente ocorrem em
tensão AC. (As moléculas que sofrem este efeito são aquelas que naturalmente já são polares
ou as que acabam sendo polarizadas pelo próprio campo elétrico – é justamente esse
comportamento o que faz com que determinados materiais tenham altas permissividades
elétricas, característica importante na construção de capacitores [6].)
A descrição individual dos efeitos acima também permitiu ver as formas como os mesmos
podem interagir, intensificando-se reciprocamente. A degradação do dielétrico aumenta as
correntes de fuga do sistema e, com isso, o auto-aquecimento do isolante, que volta a elevar a
temperatura e as correntes de fuga, configurando um processo realimentado positivamente.
Um resultado extremo dessas interações, quando ocorrem com intensidade e duração
suficientes, é a chamada avalanche térmica, descrita a seguir.
A Figura 2-3 mostra o esboço de um gráfico das taxas de geração e de dissipação de calor
em função da temperatura para um determinado sistema de isolação sob três campos elétricos
diferentes, configurando três situações distintas no que se refere ao equilíbrio térmico. A linha
pontilhada representa a taxa de dissipação para o ambiente e as cheias, as taxas de geração de
calor nos três campos aplicados (note-se que a origem do eixo horizontal corresponde à
temperatura ambiente). Pode-se notar que, mediante o campo “1” (menor), o ponto de
equilíbrio é atingido em T1, de forma “estável”, ou seja: acima de T1, a taxa de geração é
menor que a de dissipação e, abaixo, maior – o que faz a tendência sempre convergir para T1.
Sob o campo “2” também é atingido um equilíbrio, dessa vez em T2, mas “instável”: qualquer
aquecimento a partir desse ponto leva o sistema para uma condição em que a taxa de geração
de calor é maior que a de dissipação, resultando na avalanche térmica. Com o campo “3” a
situação é pior ainda, pois sequer atinge-se o equilíbrio: a declividade da curva de geração
torna-se maior que a de dissipação antes mesmo de ambas se tocarem.
Uma vez que a taxa de dissipação das buchas é inerente à construção das mesmas, a
garantia de que não entrem em avalanche térmica depende fundamentalmente do controle das
23
fontes de calor, tais como: o aquecimento do próprio transformador (contido pelo controle da
carga e por sistemas de refrigeração), a geração de calor no condutor central da bucha
(também relacionada com a carga) e as perdas do dielétrico, que dependem do estado do
mesmo, da própria temperatura e do campo elétrico.
CARGA SOL
↓ ↓
→
AQUECIMENTO
↵
←
PERDAS DIELÉT. P/ CORRENTE OU ORIENT. POLAR
↓
← CAMPO ELÉTRICO
↵
UV P/ ELETROLUM.
↵ ↵
BOLHAS INJ. ELÉTRONS
↵
← DESC. PARC.
PIRÓLISE
↵
HIDRÓLISE
↵
OXIDAÇÃO
CONTAMINAÇÃO
OXIGÊNIO ←
ÁGUA ↵ ↵ ←
CO, CO2 ↵ ↵ ←
← TRAPS ←
↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓
QUEBRA DE LIGAÇÕES
Figura 2-4. Diagrama dos processos de degradação do dielétrico estudados. As setas indicam a
influência de um processo em outro, como por exemplo: a hidrólise é promovida pela presença de
água e pelo aquecimento; por sua vez, produz íons (OH-) que aumentam as perdas dielétricas,
aumentando ainda mais o aquecimento e a tendência a provocar curto-circuito entre camadas
condutivas; isso aumenta o campo elétrico em outras camadas, que, por si só, intensifica novamente
as perdas e a referida tendência, até a falha total. Como se pode ver, muitos outros processos e
realimentações positivas ocorrem simultaneamente e interagem entre si.
O equipamento desenvolvido neste trabalho utiliza o tap de teste da bucha (ver a Figura
2-1) como ponto de medição da corrente. Um cabo coaxial conectado no mesmo a conduz até
o sensor e a traz de volta para que o circuito seja fechado pelo aterramento da bucha (a
escolha do cabo coaxial se deve à redução da interferência eletromagnética).
Rp1 C1
G1
Rp2 C2 Rs
Figura 2-5. Circuito equivalente do dielétrico da bucha baseado na Figura 2-1, incluindo o gerador
de alta tensão (transformador), a resistências que representam as perdas Rp1 e Rp2 e a que
representa o sensor de corrente Rs.
A resistência do sensor, Rs, é muitas vezes menor que Rp2 e que a reatância capacitiva de
C2 a 50 ou 60 Hz (freqüências dos sistemas de energia elétrica). Assim, o circuito pode ser
simplificado sem prejuízo algum conforme a Figura 2-6.
Rp1 C1
G1
Rs
Adicionalmente, temos que a resistência do sensor é, também, muitas vezes menor que as
outras impedâncias do circuito, servindo como um amperímetro ideal.
Em condições normais de operação e até mesmo em início de falha, a parte real (resistiva)
da corrente medida é muito menor que a imaginária (capacitiva). Assim, o módulo dessa
corrente é muito mais afetado pela parte capacitiva do que pela resistiva. Em contrapartida, o
ângulo é muito mais sensível a variações na parcela resistiva. Isso implica nas duas afirmações
dos dois parágrafos abaixo, dadas as formas como os diversos tipos de degradação se refletem
nestes parâmetros.
Dada a forte relação que existe entre as perdas no dielétrico das buchas e o grau de
degradação do mesmo, a tangente delta é um parâmetro amplamente utilizado no meio para
expressá-lo numericamente.
27
No modelo apresentado aqui, o fator de dissipação poderia ser dado pela relação direta
entre a parcela resistiva e a capacitiva da corrente medida, já que essas parcelas são
inversamente proporcionais às impedâncias correspondentes (a constante de proporcionalidade
é a tensão, que é a mesma nos dois casos e pode ser cancelada). Como não é possível medir
cada uma dessas parcelas individualmente, a tangente delta é determinada pela relação entre o
seno e o cosseno da defasagem da corrente medida com relação à “ideal”, unicamente
capacitiva (adiantada 90º em relação à tensão):
2.3.2.1 Limitações
Uma das premissas básicas de qualquer projeto é que seja o mais simples possível, sem
deixar de atender plenamente aos seus objetivos. Assim, no que diz respeito às variáveis a
serem medidas, estas devem ser preferencialmente em pequeno número e facilmente
mensuráveis.
Assim, bastaria medir apenas o módulo da corrente caso tal medida fosse suficientemente
sensível a todos os tipos de problemas do dielétrico e, simultaneamente, insensível a outras
variáveis presentes, como a temperatura e as próprias flutuações das tensões sobre as buchas.
No entanto, já foi visto que o módulo é pouco afetado pelas degradações ligadas às perdas.
Com efeito, durante a definição das especificações técnicas para o projeto (detalhadas mais à
frente), foi visto que seria necessária a detecção de variações em torno de 0,01 % nesse
módulo para que mudanças importantes no fator de perda pudessem ser percebidas. Isso a
princípio exigiria um desempenho tal do sistema, que muito provavelmente tornaria seu projeto
28
A medida de alta tensão (normalmente de centenas de kilovolts) pode ser feita através de
uma amostra normalmente disponível nas instalações, proveniente de transformadores
“rebaixadores” chamados de TPs (transformadores de potencial). Tal medida também
permitiria diferenciar as variações no módulo da corrente relacionadas a problemas com o
dielétrico daquelas provenientes de flutuações na rede. Contudo existem alguns inconvenientes
em implementar essa medição e, se possível, é desejável evitá-la. (Os referidos inconvenientes
podem ser, por exemplo, o fato de a medida precisar ser feita através de outro transformador
por questões de interferência e segurança; além disso, muitas vezes o referido TP presente na
instalação é previsto para outras utilizações etc..)
% dos valores das individuais, situando-se normalmente em torno dos 5 %. Conforme pode ser
visto na Figura 2-7, o fasor correspondente à variação de uma dada corrente individual é igual
ao fasor correspondente à variação da somatória. Como esta é muito menor que as individuais,
a sua variação em termos relativos é muito maior e, assim, mais fácil de ser medida.
Figura 2-7. Diagrama fasorial de um sistema trifásico, onde Va, Vb e Vc representam as tensões do
sistema e, em outra escala, Ia, Ib e Ic representam as correntes individuais de fuga. A título de
exemplificação, à esquerda é mostrada uma condição inicial e à direita a mesma condição após certa
variação na corrente Ia.
Dessa forma, o equipamento foi concebido para monitorar as três buchas de um sistema
trifásico (em vez de um para cada bucha) e medir diretamente a corrente de fuga somatória.
Para isso, os caminhos de retorno de cada corrente, após as medidas individuais, são unidos
ainda dentro do equipamento e nesse caminho unificado é feita a medida da somatória. (A
sensibilidade deste canal de medição naturalmente á maior que a dos outros, dados os menores
valores presentes.)
Com isso, admitiu-se que a simples medida das correntes individuais e da somatória é
suficiente para detectar qualquer mudança significativa nos dielétricos das buchas. O
tratamento matemático adequado dessas medidas também evita que tal detecção seja afetada
pela temperatura e pela flutuação das tensões de cada fase. Abaixo, um resumo muito breve de
como os diferentes tipos de degradação se associam a essas medidas.
Pelo que se pôde ver, as soluções adotadas não só permitem detectar os processos de
degradação de forma geral como também fornecem alguma identificação dos mesmos.
A seguir, um resumo das principais premissas e condições necessárias para que essas
soluções funcionem adequadamente.
• As condições de operação das buchas, assim como elas próprias, precisam ser
suficientemente similares. A similaridade entre as condições de operação reduz o efeito
de variáveis externas, como a temperatura, e, entre as próprias buchas, mantém a
corrente somatória em níveis suficientemente pequenos (entre outras contribuições).
• Os processos de envelhecimento dos três dielétricos não devem ser exatamente iguais.
(Tal premissa é garantida pela diversidade e complexidade dos processos envolvidos.)
Observação: as informações, além das que foram expostas neste trabalho, sobre o grau de
relevância, a abrangência e os limites das premissas e condições acima, bem como as formas
como foram determinados, são de propriedade restrita da empresa para a qual o projeto foi
feito e, portanto, não puderam ser divulgadas.
As especificações técnicas foram definidas em função das informações levantadas nos itens
anteriores, das condições consideradas como ideais para a instalação e utilização do
31
Foi definido que o sistema seria composto por dois tipos de equipamentos: o “Módulo de
Medição” (BM-MM, ou MM) e a “Interface Homem-Máquina” (BM-IHM, ou IHM).
A IHM consiste em um hardware já existente para o qual foi criado firmware específico
que lhe atribui, entre outras, a função de comunicar-se com os módulos de medição
conectados ao mesmo, permitindo: a parametrização destes, a leitura das informações
resultantes do processamento das medições e a consulta dessas informações pelo visor frontal
ou por alguma das vias de comunicação digital disponíveis.
Observação: as informações sobre a forma com que os dados acima foram levantados e
utilizados para definir as especificações do equipamento também são de propriedade restrita da
empresa para a qual o projeto foi feito e não puderam ser divulgadas.
Parâmetros Especificações
Nº de canais 3 1
Fundo-de-escala (FSR) 100 mA 10 mA
Incerteza da medida do módulo +-0,5 % do FSR +-0,2 % do FSR
Incerteza da medida do ângulo Não especificada +- 0,1 º
Coeficiente de variação com a
< 10 ppm / ºC do FSR < 30 ppm / ºC do FSR
temperatura da medida do módulo
Coeficiente de variação com a
< 0,005 º / ºC < 0,005 º / ºC
temperatura da medida do ângulo
Tabela 2-2. Principais especificações requisitadas ao Módulo de Medição do Monitor de Buchas.
Requisitos adicionais
Esse item reporta alguns requisitos que foram considerados levando-se em conta que o
equipamento foi desenvolvido para a produção seriada e comercialização. Abaixo, estão
enumerados alguns dos mais importantes:
• Deveria ser dada preferência a componentes com disponibilidade na maior parte dos
fornecedores que atendem à fábrica;
3.1 Hardware
Alguns detalhes do projeto e os próprios diagramas elétricos não são apresentados por
serem considerados de propriedade restrita da empresa para a qual o trabalho foi desenvolvido.
As suas duas saídas também são isoladas entre si, sendo a principal utilizada para alimentar
o circuito de medição e o microcontrolador com seus periféricos e a secundária para alimentar
somente o circuito da comunicação serial. Tal isolação é importante por questões de segurança
(proteger a rede de comunicação das possíveis altas tensões que podem surgir nas entradas de
medição) e de compatibilidade eletromagnética (reduzir as interferências por redução do
acoplamento de ruídos conduzidos em modo comum).
A faixa de alimentação especificada, de 38 a 265 Vac ou Vdc, é mais extensa que a faixa
denominada “universal”, cujo valor mínimo é 85 V. Esse requisito habilita o equipamento a ser
35
alimentado pela tensão contínua de 48 V ± 20%, bastante utilizada nas subestações elétricas.
Com isso, o dimensionamento do transformador e de alguns outros componentes foge um
pouco dos procedimentos padronizados de projeto de fontes chaveadas.
Conforme já mencionado, esse circuito é isolado galvanicamente dos demais por questões
de segurança e compatibilidade eletromagnética. Assim, a comunicação entre ele e o
microcontrolador é feita através de fotoacopladores (neste caso, são fotoacopladores de
resposta mais rápida que os mais comuns devido às taxas de transmissão). O principal
componente do circuito é um circuito integrado com a função específica de fazer a interface
com o meio físico da comunicação RS-485, atendendo integralmente à norma que determina
os padrões desta (EIA-485).
37
O RS-485 é um padrão de comunicação serial diferencial que utiliza dois condutores para
sinal (pares trançados com impedância controlada) e um para retorno (muitas vezes o próprio
aterramento local é usado para este fim). Permite a comunicação multiponto e apresenta alta
imunidade a ruídos irradiados e conduzidos em modo comum; é utilizável em distâncias
relativamente grandes, que variam com a taxa de transmissão adotada e podem chegar a 2 km.
Comporta diversos protocolos de comunicação, entre eles o MODBUS, utilizado neste e em
outros equipamentos da empresa.
Como os ruídos típicos do ambiente onde essa linha de produtos é instalada são
naturalmente muito mais altos que os gerados por equipamentos eletrônicos, a maior
preocupação é com a imunidade desses produtos e não com a sua emissão de ruídos.
Os cuidados acima também são os mais importantes com relação à imunidade a ruídos
conduzidos. O principal conceito utilizado aqui é, para esses ruídos, aumentar a impedância
dos caminhos com maior potencial de interferência e, ao mesmo tempo, diminuir a impedância
dos caminhos mais seguros. Os principais recursos para isso são, além da conveniente
distribuição dos circuitos e ligações, as isolações e a instalação de supressores que desviem as
correntes de surto para os referidos “caminhos seguros”.
39
Supressores Fotoacopladores
Driver RS+
Ia M RS-485
Filtro e
C I
C proteções RS-
o
n R
v O
Ib
Filtro e Falha
r
s Sinalização
o de falha
Ic r
Filtro RAM
+
A
EEPROM
/
D
Filtro
Isoma
3.2 Firmware
Esses são os arquivos que compõem a documentação básica do projeto, que permanecem
devidamente guardados e são atualizados conforme surjam necessidades de mudanças.
41
4 TESTES E RESULTADOS
A sua aceitação no mercado tem sido considerada muito boa pela direção da empresa,
com cerca de cem aparelhos instalados até o momento em subestações dentro e fora do país.
No site da mesma encontram-se informações sobre algumas dessas instalações
(www.treetech.com.br).
44
583,00
582,00
581,00
580,00
0,600
TDA
0,500 TDB
Tangentes Delta (%)
0,400
TDC
0,300
0,200
0,100
0,000
5 CONCLUSÕES
Os resultados dos testes indicaram que o método proposto funciona e que sua
implementação no projeto do hardware e do firmware foi possível e bem sucedida. Também
mostraram que os equipamentos atendem aos requisitos exigidos pelas normas adotadas e por
ensaios adicionais, o que permite que sejam instalados nos ambientes onde sua aplicação é
prevista.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1
[5] KOWALSKI, Edemir Luiz. Estudo da borracha natural por meio de técnicas de
caracterização de dielétricos. 2006. 199 f. Tese (Doutorado, área de concentração:
Engenharia e Ciência dos Materiais) – Programa de Pós Graduação em Engenharia
(PIPE) do Setor de Tecnologia da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2006.
[7] OTT, Henry W. Noise reduction techniques in electronic systems; 2. ed. New York:
John Wiley & Sons, 1988. 426 p.
[9] ALVES, Marcos E. G., MELO, Marcos A. C. Experiência com Monitoração On-line
de Capacitância e Tangente Delta de Buchas Condensivas. 2007. 8f. XIX SNPTEE -
Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica, Rio de Janeiro,
2007.
Retirado de www.treetech.com.br