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a eletricidade é uma forma básica de energia e pode produzir efeitos significativos sobre os tecidos bio-
lógicos. Este capítulo se propõe a rever brevemente conceitos básicos de eletricidade e de eletromag-
netismo, que formam uma base para a compreensão da estimulação elétrica terapêutica. as equações
que descrevem fenômenos elétricos são mantidas em um mínimo, e analogias frequentes são usadas para
permitir que o leitor visualize o que pode estar acontecendo nos tecidos humanos enquanto a estimulação
elétrica é aplicada. o foco do capítulo é a conceitualização de fenômenos elétricos importantes, em vez de
memorização. Uma outra proposta é apresentar a terminologia usada para descrever de forma qualitativa
e quantitativa as correntes elétricas empregadas nas aplicações clínicas. Esses termos serão usados em
todo o texto para assegurar a comunicação clara, sem ambiguidade, e a uniformidade dos detalhes técni-
cos dos procedimentos de estimulação. os leitores que recentemente completaram o estudo da física da
eletricidade podem pular a primeira seção, sobre conceitos fundamentais em eletricidade, e começar a
leitura na seção “linguagem de correntes Eletroterapêuticas”.
16 Andrew J. Robinson & Lynn Snyder-Mackler
grande carregada A é trazida para perto da eletromotriz, ou FEM. As voltagens são produ-
substância pequena B, carregada de forma seme- zidas quando substâncias carregadas de forma
lhante. Conforme as duas massas carregadas são oposta são separadas, quando substâncias com
aproximadas, a força de repulsão de coulomb de cargas iguais são aproximadas ou quando par-
A é transmitida através do campo elétrico de A e tículas carregadas dentro de um sistema não
é “sentida” por B – aumentando a energia poten- são distribuídas de modo uniforme. A unidade
cial elétrica de B (PE). Se livre para se mover, B ‑padrão para a voltagem é o volt (V). Um volt é
irá deslocar-se para uma nova posição a alguma igual à relação de 1 j (joule) de mudança por 1
distância (d) de sua posição original. Quando B coulomb de carga:
é movida, a substância A fez o trabalho (W) que
1V=1J/1C
equivale ao produto da força média de coulomb
aplicada a B e a distância movida por B; isto é, As voltagens usadas em aplicações
eletroterapêuticas podem ser tão pequenas
W=F×d quanto a amplitude do milivolt (mV, 10-3 V, mi-
Como a substância B se move, a energia lésimos de um volt) ou tão altas quanto várias
potencial obtida a princípio pela interação com centenas de volts (aplicados sobre um tempo
A é perdida fazendo o trabalho. Assim, extremamente curto).
W = ∆PE
Uma vez que o trabalho feito é direta- Condutores e isolantes
mente proporcional à carga sobre B, e uma vez
que a mudança na energia potencial também As partículas carregadas, como elétrons em me-
é diretamente proporcional à carga sobre B tais ou íons em solução, tenderão a se mover
(qA), a voltagem (V) é definida como ou mudar de posição em virtude de suas in-
terações com outras partículas carregadas. Em
V = ∆PE / qB outras palavras, as partículas carregadas ten-
A voltagem é a mudança na energia po- derão a mover-se na matéria quando existirem
tencial elétrica entre dois pontos em um campo diferenças de potencial elétrico. Essas partículas
elétrico por unidade de carga e é sinônimo do devem estar livres para se mover quando sub-
termo diferença de potencial elétrico. De um pon- metidas a uma voltagem. Aquelas substâncias
to de vista mais prático, a voltagem representa nas quais as partículas carregadas se movem
a força motriz que faz as partículas carregadas facilmente quando colocadas em um campo
se moverem e é muitas vezes chamada de força elétrico são chamadas de condutores. Metais
A B
Figura 1.1
Linhas do campo elétrico em volta de partículas carregadas opostamente (A) e duas cargas iguais (B).
A configuração das linhas do campo reflete a atração das partículas carregadas de maneira oposta e a
repulsão entre partículas carregadas de forma semelhante.
18 Andrew J. Robinson & Lynn Snyder-Mackler
F
qA qB qB
d
A B
Figura 1.2
O efeito de aproximar dois objetos semelhantemente carregados (tendo cargas qA e qB). (A) Posição fixa.
(B) A força de repulsão de coulomb (F) entre os dois objetos tenderá a separá-los por alguma distância (d).
como o cobre são bons condutores. Os átomos condução de carga elétrica através da matéria
dos metais tendem a liberar os elétrons de sua de um ponto para outro é a transferência de
camada orbital externa de maneira muito fácil energia, que causa mudanças fisiológicas duran-
quando colocados em um campo elétrico. Se te a aplicação clínica da estimulação elétrica.
uma substância negativamente carregada for Produzir corrente elétrica requer
trazida para perto de uma extremidade de um
fio de metal longo, os elétrons mais próximos a) a presença de partículas carregadas livre-
da substância serão deslocados ao longo do fio mente móveis em alguma substância e
longe da massa de carga similar. b) a aplicação de uma força motriz para
Os tecidos biológicos contêm partículas movê-las.
carregadas em solução na forma de íons, como
sódio (Na+), potássio (K+) ou cloreto (Cl–). Em circuitos metálicos, os elétrons são
Os tecidos humanos são condutores porque os as partículas carregadas móveis, enquanto nos
íons ali são livres para se mover quando ex- sistemas biológicos, os íons em líquidos corpo-
postos a forças eletromotrizes. A capacidade rais (soluções eletrolíticas) são as partículas
dos íons de moverem-se nos tecidos humanos carregadas. As forças que induzem corrente
varia de tecido para tecido. O músculo e o ner- e líquidos biológicos são as voltagens aplica-
vo são bons condutores, enquanto a pele e a das. A magnitude da corrente induzida em um
gordura são condutores fracos. meio condutor é diretamente proporcional à
Em contraste com as substâncias que magnitude da voltagem aplicada:
permitem movimento fácil de partículas carre-
gadas em um campo elétrico, os isolantes são Corrente a Voltagem (I a V )
substâncias que tendem a não permitir o mo- A corrente é definida como a quantidade
vimento livre de íons ou elétrons. A borracha e de carga (q) passando por um plano no condu-
muitos plásticos são bons isolantes. tor por unidade de tempo (t), ou
I = ∆q / ∆t
Corrente elétrica A unidade de medida-padrão para a
corrente é o ampère (A), que é igual ao mo-
As propriedades das cargas elétricas em mo- vimento de 1 C de carga através de um ponto
vimento são de maior importância para a em um segundo. As correntes usadas em apli-
compreensão da estimulação eletroterapêutica cações eletroterapêuticas são muito pequenas
do que as propriedades das cargas em repouso. e em geral são medidas em miliampères (mA,
O movimento de partículas carregadas atra- 10-3 ampères, milésimos de um ampère) ou
vés de um condutor em resposta a um campo em microampères (mA, 10-6 ampères, milioné-
elétrico aplicado é chamado de corrente (I). A simos de um ampère).
Eletrofisiologia clínica 19
válvula seja reaberta (Fig. 1.3E). Se a válvula bloqueia o fluxo de líquido (corrente) através
for reaberta, o recuo da membrana produzi- dele quando uma pressão de pistão constante
rá um movimento do fluido (corrente) que unidirecional é aplicada, exatamente como
continuará até que ela retorne para sua po- um capacitor bloqueia a corrente elétrica
sição original, de repouso. Dessa forma, a contínua quando uma voltagem constante é
membrana elástica no circuito hidráulico ar- aplicada. Embora tendam a bloquear corren-
mazena energia que induz uma corrente de tes contínuas, os sistemas capacitivos tendem
fluido exatamente como um capacitor arma- a permitir que as correntes alternadas pas-
zena energia elétrica que induz uma corrente sem. Para um sistema em uma determinada
elétrica. Observe que a membrana no tubo capacitância, quanto mais alta a frequência
Pilha Pilha
C Membrana D E
Figura 1.3
Gráfico de um capacitor em um circuito elétrico simples em estados descarregado (A) e carregado (B).
Um capacitor armazena energia elétrica pela deformação de moléculas dielétricas. Um analógico hidráuli-
co de um capacitor descarregado (C), capacitor de carga (D) e capacitor carregado com força de carrega-
mento removida (E). A energia é armazenada na deformação de uma membrana elástica impermeável.
Eletrofisiologia clínica 21
da corrente alternada, melhor a corrente pas- tipos de correntes empregadas nos primeiros
sará pelo sistema. tempos da eletroterapia e suas designações
A capacitância de um capacitor ou de tradicionais. A Figura 1.5 ilustra vários perfis
qualquer sistema de condutores e isolantes de ondas de correntes (ou voltagem) designa-
construído de maneira semelhante é expressa das comercialmente.
em Faraday (F); 1 F é a magnitude de capacitân- A diferenciação entre esses tipos de cor-
cia, já que 1 C de carga é armazenado quando 1 rentes tradicionais e comerciais era muitas
V de diferença de potencial é aplicado. vezes baseada somente em uma única carac-
O termo impedância (Z) descreve a opo- terística de corrente, como a amplitude de
sição às correntes alternadas, assim como o voltagem ou a frequência de estimulação. Tais
termo resistência descreve a oposição às cor- distinções unidimencionais levaram a desig-
rentes contínuas. A impedância leva em conta nações dicotômicas – como estimuladores de
tanto a oposição capacitiva quanto a resistiva “baixa voltagem versus alta voltagem” ou “bai-
para o movimento de partículas carregadas. xa frequência versus média frequência” – que
Quando se trata de estimulação elétrica clí- subsistem até hoje. Uma apreciação por clíni-
nica, é mais apropriado expressar a oposição cos praticantes a respeito dessas designações
à corrente com relação à impedância, porque de correntes eletroterapêuticas é importante
os tecidos humanos são mais bem modelados porque a literatura publicada ao longo dos
como redes complexas de resistores e capaci- anos 1980 usou a terminologia tradicional ou
tores (R–C). Já que a impedância depende da comercial e os clínicos educados nessa época
natureza capacitiva dos tecidos biológicos, sua continuam a usá-la. Na metade dos anos 1980,
magnitude depende da frequência da estimu- a Seção sobre Eletrofisiologia Clínica (SCE) da
lação aplicada. Em geral, quanto mais alta a Associação Americana de Fisioterapia reconhe-
frequência de estimulação, mais baixa será a ceu que tais descrições arbitrárias de correntes
impedância dos tecidos. A unidade-padrão da eletroterapêuticas junto com a proliferação de
impedância é o ohm. designações comerciais de correntes favorece-
ram a confusão na comunicação relacionada
a eletroterapia. Em uma tentativa de aliviar o
Linguagem de correntes problema, a SCE desenvolveu uma monografia
eletroterapêuticas padronizando a terminologia. A monogra-
fia, que foi recentemente atualizada, fornece
Designações tradicional e diretrizes para descrições qualitativas e quan-
comercial das correntes titativas de correntes eletroterapêuticas (2).
para ser considerado corrente contínua. Essa uma área de alta concentração (cátodo) para
forma de corrente tem sido tradicionalmente uma de baixa concentração (ânodo). Esse flu-
referida como corrente “galvânica”; contudo, xo, que é impedido pela resistência do fio, irá
esse não é mais o termo preferido. A corrente continuar até que a diferença de carga entre
contínua em um circuito eletrônico simples é os terminais seja eliminada – quando as re-
produzida por uma voltagem de magnitude ações químicas dentro da pilha não podem
fixa aplicada a um condutor com uma re- mais fornecer elétrons livres para o terminal
sistência fixa (Fig. 1.6 A). A fonte da força negativo. Embora o movimento das partículas
eletromotriz fixa (FEM) é a pilha, na qual as carregadas nesse circuito seja dos terminais
reações químicas produzem um excesso de negativos para os positivos, a corrente (I) é,
elétrons em um polo (cátodo) e uma deficiên por convenção, especificada como se moven-
cia de elétrons no polo oposto (ânodo). A do dos terminais positivos para os negativos.
oposição à corrente no circuito é represen- A corrente que flui por esse circuito está re-
tada como um resistor. Quando o interruptor presentada na Figura 1.6C, um gráfico da
no circuito está fechado, os elétrons fluem de amplitude de corrente sobre o tempo.
Amplitude
0
de corrente Tempo
Galvânica
Galvânica interrompida Sinusoidal
Amplitude
0
de corrente Tempo
Amplitude
0
de corrente Tempo
Figura 1.4
Designações tradicionais de correntes elétricas selecionadas usadas historicamente na prática clínica. Cada
gráfico mostra mudanças na amplitude de corrente sobre o tempo.
Eletrofisiologia clínica 23
Corrente interferencial
I
0
100 ms
I Corrente russa
10 ms 10 ms 10 ms
I
Corrente diadinâmica
Figura 1.5
Designações comerciais de correntes elétricas selecionadas disponíveis a partir de determinados estimu-
ladores contemporâneos. Os gráficos mostram mudanças na amplitude de corrente sobre o tempo ou na
amplitude de voltagem sobre o tempo.
24 Andrew J. Robinson & Lynn Snyder-Mackler
Movimento
do elétron
I Ânodo Cátodo
Bateria
A Resistor (R)
Bomba Corrente =
Fluxômetro Válvula pressão da bomba
resistência do tubo
Resistência
B
Amplitude de
corrente
Tempo
0
Interruptor fechado Interruptor aberto
C ou válvula aberta ou válvula fechada
Figura 1.6
Gráfico de um simples circuito elétrico mostrando o movimento unidirecional de elétrons em resposta
a uma força motriz constante. (A) Analógico hidráulico de um circuito elétrico simples mostrando movi-
mento unidirecional de líquido em resposta a pressão constante produzida por uma bomba. (B) Represen-
tação gráfica de corrente contínua sobre uma amplitude de corrente versus porção de tempo (C).
Eletrofisiologia clínica 25
quando a solução é exposta a um campo elé- de corrente, a voltagem aplicada por meio
trico de voltagem constante. Como pode ser de um circuito simples oscila em magnitude,
observado na figura, os ânions se movem na e a polaridade da voltagem aplicada é perio-
direção do ânodo, e os cátions migram na di- dicamente (pelo menos 1 vez por segundo)
reção do cátodo. O movimento de cada tipo de revertida. Os elétrons no circuito movem-se
íon na solução ocorre em um ritmo fixo, con- primeiro em uma direção. Quando o campo
tanto que a voltagem da pilha seja constante. elétrico é revertido, os elétrons se movem de
A migração de íons ou de moléculas carrega- volta a suas posições originais. Uma corrente
das eletricamente de acordo com suas cargas, alternada pode ser produzida rodando uma
quando expostas a uma FEM fixa, é chamada fonte de voltagem fixa no circuito, como ilus-
de eletroforese e é a base da iontoforese, uma trado na Figura 1.8A. A corrente alternada que
técnica terapêutica usada para conduzir me- flui por esse circuito é representada na Figura
dicações carregadas eletricamente através da 1.8C, um gráfico da amplitude de corrente
pele (ver Cap. 10). A Figura 1.7 também ilustra sobre o tempo. As correntes alternadas são ca-
a liberação de gases perto dos eletrodos, que racterizadas pela frequência (f ) de oscilações
muitas vezes acompanha os efeitos da CC sobre e pela amplitude do movimento do elétron ou
soluções eletrolíticas. Nesse caso, uma reação do movimento iônico. A frequência da CA é ex-
de redução ocorre no cátodo para produzir pressa em hertz (Hz) ou em ciclos por segundo
gás hidrogênio (H2) e uma reação de oxidação (cps). A recíproca de frequência (1/f ) define
ocorre no ânodo para produzir gás oxigênio um valor, conhecido como período, que é o
(O2). O uso de energia elétrica para produzir tempo entre o início de um ciclo de oscilação e
tais reações químicas é chamado de eletrólise. o início do ciclo seguinte.
Um melhor entendimento de correntes
alternadas pode ser obtido se levarmos em con-
Corrente alternada sideração as forças e os fluxos em um sistema
cheio de líquido. A corrente elétrica alternada
A corrente alternada (CA) é definida como o é análoga ao fluido em um sistema fechado que
fluxo bidirecional contínuo ou ininterrupto de se move primeiro em uma direção e depois de
partículas carregadas. Para produzir esse tipo volta, na direção oposta. Consequentemente,
Na+
–
SO24
Figura 1.7
Um exemplo de movimentos iônicos em uma solução com íons carregados negativamente (ânions) que
se movem na direção do ânodo e íons carregados positivamente (cátions) que se movem na direção do
cátodo quando expostos a um campo magnético fixo. Em soluções aquosas (água como solvente), o gás
hidrogênio é liberado do cátodo e o oxigênio é liberado do ânodo.
26 Andrew J. Robinson & Lynn Snyder-Mackler
para muitos tipos de corrente alternada não há Figura 1.8B, a bomba roda para trás e para a
movimento líquido de partículas carregadas frente mais ou menos como o agitador em uma
quando o campo elétrico alternado é retirado. máquina de lavar. A pressão oscilante produzi-
Para o líquido mover-se para trás e para a frente da pela bomba gera um movimento do líquido
em um sistema hidráulico, o gradiente de pres- para trás e para a frente.
são deve primeiro ser em uma direção, depois Voltagens alternadas aplicadas a solu-
cair por um instante para zero e por fim rever- ções eletrolíticas (em oposição a um condutor
ter a direção. No caso da bomba hidráulica na de metal) produzem movimentos cíclicos em
Movimento
do elétron
I
Pilha em
rotação
Amperímetro
Interruptor
Resistor (R)
A
Bomba
oscilante
Válvula
Fluxômetro
Resistência
B
Amplitude 0
de corrente Tempo
Figura 1.8
Circuito elétrico simples no qual uma pilha roda em velocidade constante e muda regularmente a direção
da força motriz (voltagem) que age sobre os elétrons no condutor. (A) Observe o movimento de vaivém
dos elétrons. Circuito analógico hidráulico do circuito elétrico em (A), ilustrando o movimento de vaivém
da bomba que produz o movimento alternado do líquido dentro do sistema. (B) A representação gráfica
da corrente alternada produzida em (A) sobre uma amplitude de corrente versus tempo (C).
Eletrofisiologia clínica 27
ânions e cátions na solução. Por algum tempo, e o circuito for interrompido no término de
esses íons “veem” e “sentem” um ânodo e um cada ciclo da voltagem alternada, os elétrons
cátodo orientados de uma maneira, e então a nos condutores mover-se-ão brevemente para
polaridade dos eletrodos muda. Assim, os íons trás e para a frente, pararão e depois tornarão
se movem para trás e para a frente na solução, a oscilar. A corrente produzida é intermitente
assim como os elétrons se movem para trás e e o movimento da partícula carregada é bidi-
para a frente nos metais quando expostos a recional. Esta é chamada de corrente pulsada
uma voltagem alternada. bifásica. As mudanças para cada pulso, na
As correntes alternadas são usadas em amplitude da corrente pulsada bifásica, são
várias aplicações eletroterapêuticas. O uso clí- determinadas pelas mudanças na amplitude
nico contemporâneo mais comum de CA é em da voltagem aplicada.
estimulação elétrica interferencial, na qual dois
circuitos, cada um produzindo CA sinusoidal, são
aplicados de modo simultâneo em um paciente Características descritivas das formas de
para o tratamento de problemas, como dor. onda da corrente pulsada ou alternada
As características qualitativas e quantitativas
Corrente pulsada dos pulsos de corrente (ou um único ciclo de
CA) são compreendidas com mais facilidade
A corrente pulsada (pulsátil ou interrompida) examinando-se graficamente as mudanças
é definida como o fluxo uni ou bidirecional de amplitude de corrente (ou voltagem) que
de partículas carregadas que periodicamente ocorrem ao longo do tempo. A forma de um
cessa por um período de tempo breve e fini- pulso único ou ciclo de CA em um gráfico de
to. Uma descrição desse tipo de corrente pode corrente versus tempo (ou voltagem vs. tempo)
não ser encontrada em livros de física básica, é chamada de forma de onda. Alguns exemplos
mas o termo é importante porque descreve a de formas de onda produzidas por estimula-
forma de corrente usada com mais frequência dores elétricos clínicos disponíveis no mercado
em aplicações clínicas de estimulação elétrica. são ilustrados nas Figuras 1.4 e 1.5. Um pulso
Os físicos e os engenheiros podem se referir único ou ciclo de CA pode ser evidenciado por
à corrente pulsada como CC interrompida ou suas características dependentes da amplitude
CA interrompida. A corrente pulsada é carac- e do tempo, assim como várias outras caracte-
terizada pela unidade elementar desse tipo de rísticas descritivas (Quadro 1.1).
corrente, chamada de pulso. Um pulso único é
definido como um evento elétrico isolado, se-
parado por um período de tempo muito breve Número de fases em uma forma de onda
e finito do evento seguinte, isto é, um único
pulso representa um movimento de partícula O termo fase refere-se ao fluxo de corrente uni-
carregada por um período muito breve. direcional em um gráfico corrente/tempo. Um
Se uma voltagem fixa for aplicada a um pulso que se afasta da linha de corrente zero
circuito elétrico de resistência simples, como (linha de base) em apenas uma direção, como
mostrado na Figura 1.6A, uma corrente uni- aquela mostrada na Figura 1.9A, é chamado
direcional será induzida no condutor. Se o de monofásico. Tal pulso pode ser produzido
circuito for periodicamente interrompido por pela interrupção intermitente de uma fonte de
um interruptor sendo aberto e fechado, o mo- voltagem constante aplicada a um condutor.
vimento de elétrons produzido irá começar Em um pulso monofásico, as partículas carre-
e parar em sincronia com o fechamento e a gadas no meio condutor movem-se por pouco
abertura do interruptor. A corrente produzida tempo em uma direção, de acordo com sua
é intermitente e em uma direção, e é referida carga, depois param.
como corrente pulsada monofásica. Um pulso que se afasta da linha de base
De maneira semelhante, se uma vol- primeiro em uma direção e depois na dire-
tagem alternada for aplicada a um circuito ção oposta é chamado bifásico (Fig. 1.9A).
elétrico simples, como mostrado na Figura 1.8, Esse tipo de pulso pode ser produzido pela
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Monofásica Bifásica
I
Número
de fases 0
Tempo
Simétrica Assimétrica
I
Simetria
de fases 0
Tempo
Equilibrada Desequilibrada
I
Equilíbrio
da carga 0
de fase Tempo
Forma de
onda ou 0
forma de Tempo
fase
Figura 1.9
Características de formas de onda de corrente pulsada ou alternada.
Eletrofisiologia clínica 29
interrupção intermitente de uma fonte de onda bifásica for igual à área sob a segunda
voltagem alternada aplicada a um circuito fase, a forma de onda é descrita como equili-
elétrico. Em um pulso bifásico, as partículas brada. Exemplos de formas de onda bifásicas
carregadas movem-se primeiro em uma dire- equilibradas e desequilibradas são mostrados
ção e depois voltam na direção oposta. na Figura 1.9C. A partir de uma perspectiva
Formas de onda com três fases são cha- clínica, o uso de formas de onda desequili-
madas trifásicas, e aquelas com mais de três, bradas pode resultar em diferenças notáveis
polifásicas. Algumas formas de onda produzi- na sensação de estimulação sob eletrodos de
das comercialmente, que foram referidas por superfície.
outros autores como polifásicas, podem de fato
ser uma série ininterrupta de formas de onda
bifásicas quando reduzidas ao evento elétrico Formas de onda
comum mais simples.
Uma abordagem descritiva muito comum para
a caracterização de formas de onda pulsada e de
Simetria nas formas de onda bifásicas CA é o uso de termos para indicar a forma geo-
métrica das fases do pulso ou do ciclo como elas
Para pulsos bifásicos ou ciclos de CA, a maneira aparecem no gráfico da corrente (ou voltagem)
como as cargas se movem para trás e para a versus tempo. Designações de formas encontra-
frente pode ou não ser a mesma. Se a maneira das com frequência na literatura profissional e
como a amplitude de corrente varia durante o comercial incluem retangular, quadrada, trian-
tempo para a primeira fase de uma forma de gular, dente-de-serra e pontiaguda. De modo
onda bifásica for idêntica em natureza mas alternativo, as formas podem ser atribuídas com
oposta na direção àquela da segunda fase, a base na função matemática que daria origem
forma de onda bifásica é descrita como simé- a um gráfico (ou porção do mesmo) de forma
trica (Fig. 1.9B). Isto é, uma forma de onda é similar. Dois exemplos de tais designações são
descrita como simétrica se a primeira fase for formas de onda baseadas em mudanças sinusoi-
a imagem de espelho da segunda fase de um dais ou exponenciais na corrente (ou voltagem)
pulso bifásico ou ciclo único de CA. Uma forma ao longo do tempo. A Figura 1.9D ilustra várias
de onda é denominada assimétrica se a maneira formas comuns de onda.
como a amplitude de corrente varia na primeira
fase de um pulso bifásico não for a imagem de
espelho da segunda fase (Fig. 1.9B). Combinando termos qualitativos
para descrever correntes pulsadas
ou alternadas
Equilíbrio de carga em formas de onda bifásicas
Os termos descritivos definidos anteriormente
Para formas de onda bifásicas simétricas, a são de valor limitado para o aperfeiçoamento
quantidade total de corrente para uma fase é da comunicação sobre correntes eletroterapêu-
igual ao valor absoluto da corrente total que ticas, a menos que um sistema seja desenvolvido
flui na segunda fase. Essa condição pode ou para ligar esses termos de maneira consistente.
não ser verdadeira para formas de onda bi- A Figura 1.10 mostra um gráfico organizacio-
fásicas assimétricas. Se para uma forma de nal que pode ser usado para nomear descrições
onda bifásica assimétrica o tempo integral qualitativas para formas de onda de corrente
para a corrente na primeira fase não for igual pulsada ou CA. A partir do exame das formas
em magnitude ao tempo integral na segunda de onda, primeiro determina-se que tipo de cor-
fase, então a forma de onda é chamada de de- rente é mostrada. Depois, o número de fases da
sequilibrada. Dito de modo mais simples, se a forma de onda é definido, seguido pela simetria
área sob a primeira fase de uma forma de onda e equilíbrio de carga para formas de onda bifá-
bifásica não for a mesma que a área sob a se- sicas. Por fim, uma designação de forma pode
gunda fase, a forma de onda é desequilibrada. ser nomeada para todo o pulso ou com frequên-
Se a área sob a primeira fase de uma forma de cia para a primeira fase de pulsos bifásicos.
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Monofásica Forma
Corrente
pulsada Simétrica Forma
Bifásica
Equilibrada Forma
Descrição Assimétrica
de corrente
Desequilibrada Forma
qualitativa
Simétrica Forma
Corrente
alternada Equilibrada Forma
Assimétrica
Desequilibrada Forma
Figura 1.10
Gráfico do sistema para combinar designações de corrente descritivas na nomeação de formas de onda
de corrente alternada ou pulsada.
Eletrofisiologia clínica 31
Corrente alternada
Amplitude de retangular,
corrente 0
desequilibrada,
assimétrica
Tempo
Corrente de pulso
bifásica retangular,
Amplitude de equilibrada,
corrente 0
assimétrica
Tempo
Corrente de
pulso monofásica
Amplitude de
0 de duas pontas
corrente
Tempo
Figura 1.11
Representação gráfica de várias formas comuns de corrente de pulso classificadas com designações “des-
critivas” apropriadas. As formas de onda representadas em (B) e (D) foram anteriormente chamadas
galvânicas de pulso de alta voltagem e farádica, respectivamente.
32 Andrew J. Robinson & Lynn Snyder-Mackler
Amplitude máxima
Amplitude Amplitude
de corrente 0
entre picos
Amplitude máxima
AE
Média
Amplitude
de corrente 0 Tempo
Figura 1.12
Formas de onda CA sinusoidais e suas características dependentes da amplitude. As amplitudes podem ser
expressas como amplitudes máximas para cada fase ou amplitude de pulso entre picos. (A) Alternativa-
mente, amplitudes eficazes (AEs) ou médias podem ser usadas para descrever a magnitude de correntes
ou voltagens (B).
Eletrofisiologia clínica 33
Características quantitativas de
QUADRO 1.2
correntes pulsadas e alternadas
I A
A = duração da fase
B = duração do pulso
C = intervalo de interpulso
D = tempo de transição 0
Tempo
E = tempo de extinção
B C D E
A
I
G H
F = intervalo de intrapulso
G = carga de pulso
0
H = carga de fase Tempo
F
B
J
I
J = período
Frequência = 1
período 0
Tempo
J
C
Figura 1.13
Características dependentes do tempo das formas de onda de corrente pulsada ou alternada.
34 Andrew J. Robinson & Lynn Snyder-Mackler
série de pulsos de correntes são referidas como partículas carregadas. O intervalo de tem-
modulações de tempo. Vários termos são hoje po durante o qual a série finita de pulsos
reconhecidos para descrever essas modula- ou ciclos de CA é fornecida é chamado de
ções. Eles incluem o seguinte: duração de burst. O período de tempo entre
os bursts é chamado de intervalo interburst.
• Burst: uma série de grupos de pulsos ou Nas aplicações clínicas contemporâneas de
grupos de ciclos de corrente alternada for- tais modulações burst, a duração de burst
necidos em uma frequência estabelecida e o intervalo interburst são geralmente da
sobre um determinado intervalo de tem- ordem de alguns milissegundos. O número
po (Fig. 1.15C e D) seguida de um breve de bursts fornecidos por unidade de tempo
intervalo de tempo sem movimento de é chamado de frequência de burst.
Amplitude de
corrente 0
Tempo
Rampa de Rampa de
subida descida
A
Amplitude de
corrente 0
Rampa Tempo
Rampa de
de subida descida
Amplitude de
0
corrente Aumen- Tempo
Reduzindo
tando a
a frequência
frequência
C
Figura 1.14
Exemplos de modulações automáticas de características de estimulação: (A) Modulação de amplitude. (B)
Modulação de duração do pulso. (C) Modulação de frequência.
36 Andrew J. Robinson & Lynn Snyder-Mackler
Amplitude
0
de corrente Tempo
Amplitude
0
de corrente Tempo
Amplitude
0
de corrente Tempo
Amplitude
0
de corrente Tempo
Figura 1.15
Exemplos de “trens” de estimulação e modulações burst: (A) Trem contínuo de formas de onda de CA
bifásicas retangulares, simétricas. (B) Trem contínuo de formas de onda de corrente pulsada bifásica re-
tangular, simétrica. (C) Formas de onda de CA sinusoidal e moduladas por bursts. (D) Formas de onda de
corrente pulsada sinusoidal e moduladas por bursts.
Eletrofisiologia clínica 37
Ciclo de
trabalho = 33%
Amplitude
de corrente 0
Tempo
10 s 20 s
A
Amplitude
de corrente 0
Tempo
5s 20 s
B
Figura 1.16
Exemplos de estimulação on time e off time e o conceito de ciclo de trabalho, com correntes pulsadas
monofásicas de 2 pps em amplitude fixa: (A) 10 s on time e 20 s off time. (B) 5 s on time e 20 s off time.
(C) 5 s on time e 10 s off time.
38 Andrew J. Robinson & Lynn Snyder-Mackler
Resumo
Este capítulo apresentou conceitos fundamentais em eletricidade e padronizou a terminologia associa-
da à aplicação de correntes eletroterapêuticas. O exame dos conceitos elétricos básicos foi incluído
para relembrar o leitor sobre entidades e princípios físicos que formam uma base para a compreensão
de eventos químicos e elétricos associados a aplicações clínicas de eletricidade. A terminologia quanti-
tativa e qualitativa padronizada foi apresentada para facilitar a comunicação clara entre pesquisadores,
clínicos, estudantes e fabricantes envolvidos no uso e no desenvolvimento da eletroterapia clínica. Com
essa finalidade, a terminologia padronizada é usada durante os demais capítulos. As várias característi-
cas quantitativas definidas neste capítulo representam os aspectos da estimulação elétrica que devem
ser selecionados ou regulados por terapeutas ou outros profissionais a fim de empregar a eletroterapia
de maneira segura e eficaz para atingir resultados terapêuticos.
Questões de revisão
Para as respostas, veja o Apêndice B.
e. impedância
f. condutância
g. frequência de corrente pulsada
h. frequência de corrente alternada (CA)
i. amplitude máxima (corrente)
j. duração do pulso
k. carga de fase
l. on time/off time
14. Utilize o fluxograma da Figura 1.10 para determinar as descrições qualitativas para as correntes
esquematizadas a seguir.
Amplitude
0
de corrente Tempo
Amplitude
0
de corrente Tempo
Amplitude
0
de corrente Tempo
Amplitude
0
de corrente Tempo
D
40 Andrew J. Robinson & Lynn Snyder-Mackler
15. Desenhe os seguintes tipos de corrente em gráficos de corrente de amplitude versus tempo.
a. Corrente pulsada bifásica, triangular, simétrica
b. Corrente pulsada bifásica, retangular, equilibrada, assimétrica
c. Corrente alternada sinusoidal, desequilibrada, assimétrica
d. Corrente pulsada monofásica, quadrada
16. Para as formas de onda de corrente pulsada mostradas, forneça classificações para as características
dependentes da amplitude e do tempo marcadas com as letras.
f g
Amplitude
0
de corrente Tempo
a
b c d e
a.
b.
c.
d.
e.
f.
g.
17. Se a estimulação de corrente pulsada on time é de 20 segundos e off time de 60 segundos, o ciclo de
trabalho de estimulação é ________________________ .
18. Qual o significado dos termos (a) “rampa de subida” e (b) “rampa de descida”?
19. O que é burst?
20. O que é modulação de amplitude?
REFERÊNCIAS
1. Urone, P.P. Physics with Health Science Applications. New York: Harper and Row; 1986:264–343.
2. American Physical Therapy Association. Electrotherapeutic Terminology in Physical Therapy. Alexandria,
VA: Section on Clinical Electrophysiology And American Physical Therapy Association; 2001.