Você está na página 1de 13

FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL II

Mauro Noriaki Takeda


,

5 ELETRICIDADE I
Nesta unidade, iremos estudar a natureza da carga elétrica e que a carga elétrica se
conserva. Também iremos ver como os objetos tornam-se eletricamente carregados e
discutiremos as propriedades básicas da força eletrostática e a aplicação da lei de
Coulomb para determinar a força elétrica entre as cargas.
Em seguida, será abordado o conceito de campo elétrico gerado por uma carga elétrica
e os efeitos deste campo sobre outras partículas carregadas.
Veremos que o eletromagnetismo, que é a combinação de fenômenos elétricos e
magnéticos, está presente nos computadores, televisores, celulares, rádios, lâmpadas,
ou seja, nos aparelhos eletroeletrônicos, e também em fenômenos naturais como o
relâmpago.
Serão abordados o conceito e a importância do potencial elétrico e a capacidade de
armazenamento de carga em um corpo medida através de sua capacitância.

5.1 Carga elétrica


Por volta de 600 a.C., os gregos descobriram que ao atritar o âmbar com pele de
animal, o âmbar adquiria a propriedade de atrair objetos leves como pedaços de palha
ou pena. Mais tarde, por volta de 1600, descobriu-se que essa propriedade não era
exclusiva do âmbar, e como o âmbar em grego é chamado de eléktron, o fenômeno
passou a ser chamado de fenômeno elétrico, ou seja, fenômeno semelhante ao que
ocorre com o âmbar. Benjamin Franklin observou que existiam dois tipos de
eletricidade, que chamou de positiva e negativa.
A explicação para esse fenômeno é possível atribuindo-se ao próton e ao elétron a
propriedade chamada de carga elétrica. Desse modo, foi atribuída ao próton carga
positiva e para o elétron carga negativa. Os corpos quando estão no estado neutro
apresentam a mesma quantidade de prótons e de elétrons tornando-os eletricamente
neutros. Quando fazemos o atrito do âmbar com pele de animal, ocorre uma
transferência de elétrons de um corpo para o outro. Nesse caso, a pele de animal
perde elétrons e o âmbar ganha elétrons, tornando-se um corpo carregado
eletricamente ou eletrizado. Como a pele de animal perdeu elétrons, ficou com

2
,

excesso de prótons e eletrizada positivamente, enquanto o âmbar ganhou elétrons


ficando com excesso de elétrons e eletrizado negativamente.
Podemos verificar experimentalmente que cargas elétricas de mesmo sinal se repelem
e de sinais diferentes se atraem.

5.1.1 Condutores e isolantes


A classificação de um material é feita de acordo com a facilidade que os elétrons
apresentam de se movimentarem no interior dele.

Condutores – são os materiais onde as cargas elétricas movem-se com


facilidade. Além dos metais, como o cobre, que são bons condutores de
eletricidade, podemos citar o corpo humano e a água da torneira.

Isolantes – são os materiais que não permitem o movimento das cargas


elétricas, como por exemplo, a borracha, o vidro e a madeira seca.

5.1.2 Processos de eletrização

Atrito – quando fazemos o atrito entre dois corpos constituídos de materiais


diferentes, um deles irá perder elétrons e o outro irá ganhar elétrons, ficando
ambos eletrizados. Quem ganha elétrons irá ficar eletrizado com carga negativa
e quem perde elétrons irá ficar eletrizado com carga positiva.

Contato – entre um corpo eletrizado e outro corpo eletricamente neutro irá


ocorrer a transferência de parte da carga do corpo eletrizado para o corpo
neutro. Afastando-se os dois corpos, eles ficarão carregados com cargas de
mesmo sinal. Essa transferência ocorre também entre dois corpos carregados
com quantidades diferentes de carga elétrica.

Indução – na aproximação de um bastão eletrizado com carga negativa de


outro corpo neutro isolado sem tocá-lo, irá ocorrer o fenômeno da indução
onde as cargas positivas do corpo neutro irão ser atraídas pelas cargas

3
,

negativas do outro corpo e as cargas negativas serão repelidas, ficando o corpo


neutro com concentração maior de cargas positivas de um lado e de cargas
negativas do outro lado, no entanto permanecendo neutro. Fazendo a ligação
do corpo neutro com a terra através de um fio condutor, alguns elétrons irão
escoar para a terra. Retirando-se a ligação com a terra e afastando o corpo
eletrizado, este, que estava neutro, passa a ser eletrizado com carga positiva.

5.1.3 Quantidade de carga elétrica


Podemos determinar a quantidade de carga elétrica que um corpo eletrizado
apresenta multiplicando a quantidade de partículas (prótons ou elétrons) que o corpo
apresenta em excesso pelo valor da carga elementar, ou seja:

A carga elementar “e” corresponde ao valor absoluto da carga elétrica de um próton


ou de um elétron e vale 1,60 . 10‒19 C. Portanto, para o próton, esse valor é de
+1,60 . 10‒19 C, e para o elétron, é de ‒1,60 . 10‒19 C.
A unidade de carga elétrica no SI é o coulomb (C).

Os submúltiplos do coulomb são:


milicoulomb = mC = 10‒3 C
microcoulomb = µC = 10‒6 C
nanocoulomb = nC = 10‒9 C
picocoulomb = pC = 10‒12 C

5.2 Lei de Coulomb


Coulomb determinou experimentalmente quanto valia a força de interação entre duas
partículas carregadas. Ele chegou à conclusão de que a força era diretamente
proporcional ao valor das cargas e inversamente proporcional ao quadrado da
distância entre as partículas carregadas. Introduzindo uma constante de
proporcionalidade, podemos escrever a equação como:

4
,

Onde r é a distância entre as partículas e k é a constante eletrostática, e vale

. Para efeito de cálculos, iremos utilizar o valor de .

Cargas de mesmo sinal se repelem e cargas de sinais contrários se atraem. Desse


modo, podemos trabalhar com o valor absoluto das cargas.
Muitas vezes, a constante k é escrita na forma:

Ficando a equação da lei de Coulomb expressa pela equação:

E a permissividade do vácuo .

A força é uma grandeza vetorial e a força eletrostática exercida por q 1 sobre q2 é


representada na forma vetorial como:

Onde é um vetor unitário dirigido a partir de q1 para q2.


A representação gráfica é necessária para representar a direção de .
Considere que n partículas carregadas estão presentes e queremos determinar a força
total sobre uma determinada partícula que iremos chamar de partícula 1. Nesse caso,
a força total sobre a partícula 1 é a soma vetorial das forças que cada partícula exerce
sobre a partícula 1, ou seja:

Exemplo
Duas cargas puntiformes, q1 = +25 nC e q2 = ‒75 nC, estão separadas por uma distância
igual a 3,0 cm. Determine o módulo, a direção e o sentido (a) da força elétrica que q1
exerce sobre q2; e (b) da força elétrica que q2 exerce sobre q1.

Resolução:
a) A distância deve ser em metros:
r = 3,0 cm = 0,03 m

5
,

q1 = +25 nC = +25 . 10‒9 C


q2 = ‒75 nC = ‒75 . 10‒9 C

b) Como as forças são ações mútuas, a força elétrica que q2 exerce sobre q1 será:

A direção e o sentido das forças estão representados na figura a seguir:

q1 q2

3 cm

5.3 Campo Elétrico


Uma partícula carregada, chamada carga fonte, no espaço cria um campo elétrico em
sua volta, sendo esse campo elétrico uma grandeza vetorial. Se colocarmos outra
partícula, chamada carga de prova ou carga de teste, na região do espaço onde atua
esse campo elétrico, esta fica sujeita a uma força eletrostática que depende do
módulo e da direção do campo elétrico no ponto em que se encontra a partícula.
O vetor campo elétrico em qualquer ponto do espaço é definido como a força elétrica
F que atua sobre uma carga de prova q0 colocada em um ponto P dividida pela carga
de prova.

A unidade do vetor campo elétrico no SI é o newton por coulomb (N/C).


Para uma carga pontual positiva, as linhas de campo são dirigidas radialmente no
sentido saindo da carga.

6
,

+q

Para uma carga pontual negativa, as linhas de campo são dirigidas radialmente no
sentido chegando à carga.

‒q

Pela lei de Coulomb, a força exercida sobre a carga de prova q0 pela carga fonte q é:

E o vetor campo elétrico é:

Substituindo na equação do vetor campo elétrico, temos:

7
,

Quando temos várias cargas pontuais agrupadas, o campo elétrico total em um ponto
P do espaço é a soma vetorial dos campos elétricos individuais naquele ponto.

Exemplo
Calcule o módulo do campo elétrico de uma carga puntiforme q = 4,0 nC em um ponto
do campo situado a uma distância de 2,0 m da carga.

Resolução:

5.3.1 Campo elétrico uniforme


Chamamos de campo elétrico uniforme aquele em que o vetor campo elétrico
apresenta em todos os pontos a mesma intensidade, a mesma direção e o mesmo
sentido, e consequentemente suas linhas de força são paralelas e igualmente
espaçadas umas das outras.
Podemos obter um campo elétrico uniforme utilizando duas placas condutoras planas
e iguais. Colocando as placas paralelamente e próximas, e carregando-as com cargas
de mesma intensidade, porém de sinais opostos, o campo elétrico gerado entre elas
será uniforme. Q
+Q


+

+  
E
+ 

+ 
8
+ 

+
,

5.4 Potencial elétrico


A força elétrica que age sobre uma carga de prova q0 em um campo elétrico uniforme
de intensidade E é constante e vale:

O trabalho realizado para transportar a carga de um ponto A até um ponto B sendo a


força constante e paralela ao deslocamento vale:

E o trabalho realizado no sistema carga-campo pelo campo elétrico sobre a carga vale:

O quociente que é uma grandeza escalar recebe o nome de diferença de potencial

elétrico entre os pontos A e B (ddp) ou tensão elétrica entre os pontos A e B e


representada por , portanto:

Sendo VA e VB os potenciais elétricos nos pontos A e B.


Chamando a diferença de potencial de U, temos:

A unidade de diferença de potencial elétrico no SI é o volt representado pelo


símbolo V.

O potencial elétrico do ponto A no campo de uma carga puntiforme em relação a um


ponto de referência infinitamente afastado é:

9
,

A energia potencial elétrica em relação a um ponto B de referência (V B = 0) é


determinada por:

Exemplo
Num campo elétrico, leva-se uma carga puntiforme q = 5 . 10‒6 C de um ponto A até
um ponto B. O trabalho da força elétrica é de ‒10 ‒4 J. Qual a ddp entre os pontos A e
B?

Resolução:

5.5 Capacitância
A função de um capacitor é a de armazenar cargas elétricas e energia potencial
elétrica, e é constituído por dois condutores chamados de armaduras do capacitor e
estão separadas por um isolante e podem receber cargas +q e ‒q.
Quando o capacitor está carregado, as armaduras contêm cargas +q e ‒q, e dizemos
que a carga do capacitor é q, que corresponde ao valor absoluto da carga de uma das
armaduras, pois a carga total do capacitor é sempre igual a zero.
As armaduras são superfícies equipotenciais e existe uma diferença de potencial V
entre elas. A razão entre a carga q e o potencial V é chamada de capacitância ou
capacidade eletrostática de um capacitor e é representada pela letra C, portanto:

10
,

No sistema Internacional (SI), a unidade de capacitância é o farad (F).


Como a capacitância de 1 F é muito grande, é comum a utilização dos submúltiplos.
1 microfarad = 1 µF = 10‒6 F
1 nanofarad = 1 nF = 10‒9 F
1 picofarad = 1 pF = 10‒12 F

Dependendo da natureza do isolante, os tipos de capacitores são de papel, de


cerâmica, eletrolítico etc.

O capacitor mais simples é o capacitor de placas paralelas que consiste em duas placas
paralelas, cada uma delas com área A, separadas por uma distância d que é pequena
em relação às dimensões do capacitor.
A capacitância de um capacitor de placas paralelas é proporcional à área de suas placas
e inversamente proporcional à distância entre as placas, portanto:

Para um condutor esférico de raio R isolado e no vácuo, a capacitância eletrostática


vale:

11
,

Exemplo
Um capacitor com placas paralelas possui capacitância igual a 1 F. Se a distância entre
as placas for igual a 1,00 mm, qual será a área de cada placa?

Resolução:

Conclusão do Bloco 5
Neste bloco, falamos sobre a eletrização dos corpos e os processos de eletrização bem
como da propriedade atribuída aos prótons e elétrons chamada de carga elétrica para
explicar a eletrização de um corpo. Também estudamos a carga de um próton ou de
um elétron que é chamada de carga elementar cujo módulo vale 1,6 . 10‒19 C.
Vimos que as cargas de mesmo sinal se repelem e de sinais contrários se atraem, e
essa força de atração ou repulsão pode ser determinada pela lei de Coulomb.
Estudamos o campo elétrico criado por uma carga puntiforme e a força que uma carga
de prova sofre quando está na presença de um campo elétrico. Falamos de como obter
um campo uniforme e suas características.
Estudamos o potencial elétrico e a diferença de potencial chamada de tensão.
Vimos também o capacitor e a sua capacitância e estudamos os tipos de capacitor.

REFERÊNCIAS
HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos de física:
eletromagnetismo. 10. ed. São Paulo: LTC, 2016. v. 3.
SERWAY, Raymond A.; JEWETT JR, John W. Princípios de física:
eletromagnestismo. 5. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014. v. 3.

12
,

YOUNG, Hugh D.; FREEDMAN, Roger A. Física III: eletromagnetismo. 12. ed. São Paulo:
Addison Wesley, 2008.

13

Você também pode gostar