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Cap.

1 - Como tudo Começou Catástrofe do Ultravioleta e Efeito


Fotoelétrico
Introdução
A Física é um ramo da ciência que se preza pela sua consistência de
sua teoria. Uma Lei da física é algo que deve ser seguida
independentemente da situação em que esteja sendo analisada. No
início do século XIX a física parecia já ter mapeado grande parte dos
fenômenos naturais com suas leis. Até o momento grandes nomes já
haviam sido consagrados com suas teorias explicando fenômenos
como o movimento de corpos (mecânica newtoniana e gravitação),
movimento da luz (óptica), máquinas térmicas, eletromagnetismo...
Foi exatamente então que começaram surgir furos na teoria clássica;
furos esses que só seriam explicados com teorias completamente
inovadoras e bem diferentes das tendências estudadas até então.
Apresentaremos agora alguns fenômenos (esses furos) que foram
analisados, e que consequentemente deram início à Mecânica
Quântica.
A Catástrofe do Ultravioleta
A teoria clássica da física apresentava um dos seus primeiros furos
ao se estudar a emissão de um corpo negro. Corpo negro é qualquer
corpo que absorve totalmente a energia emitida sobre ele. Um corpo
negro ao ser incidido com certa energia emitirá energia na forma de
energia eletromagnética (produzindo luz e calor). Naturalmente,
deveria existir uma lei matemática que nos dá a dependência da
intensidade emitida com a temperatura e a frequência emitida. Os
conhecimentos da Física Clássica nos davam a seguinte expressão
(elaborada pelo trabalho de Rayleigh-Jeans e Boltzmann):
𝟖𝟖𝟖𝟖𝟖𝟖𝟖𝟖
𝑰𝑰 =
𝝀𝝀𝟒𝟒
O gráfico da intensidade em função do comprimento de onda é
decrescente com o aumento do comprimento de onda. Isso gera o
absurdo em questão. Para frequências no espectro do ultravioleta
teríamos uma intensidade tendendo a infinito, o que viola a lei da
conservação de energia.
Os gráficos experimentais mostravam que a função deveria ter um
máximo global, o que não acontecia até então com as teorias
conhecidas.
O Efeito Fotoelétrico
O efeito fotoelétrico foi primeiramente estudado por Hertz, e
posteriormente Einstein. O fenômeno consiste do seguinte. A partir
de uma placa metálica, incide-se uma frequência crescente de
energia. A partir de certo instante, elétrons são arrancados dessa
placa.
Isso pode ser
evidenciado com o
seguinte experimento de
Einstein. Um circuito é
montado com duas
placas metálicas. Ao
aumentarmos a
frequência de luz
incidida sobre a placa
metálica, o amperímetro
indica passagem de corrente.
Tal fenômeno ajudará nas teses (que veremos mais a frente) da
dualidade partícula onda. Por enquanto fique registrado o caráter não
usual de que apenas a partir de certa frequência houve emissão de
elétrons, não importando a intensidade de energia emitida.
Por quê?
Teoria de Max Planck
Diante de tais impasses Planck propôs
uma teoria que revolucionaria física. E se
tudo aquilo que até então acreditássemos
fosse apenas uma parte da verdade?
Obviamente a teoria clássica não pode
estar errada. Ela possui uma consistência
suficiente para acreditarmos nela. Planck
então propôs um modelo que, apesar de
alterar os conceitos físicos já imaginados
na época, funcionaria apenas como uma
extensão da realidade. Ou seja, a teoria de
Planck, de certa forma engloba a teoria clássica no mundo
macroscópico, mas também explica coisas novas no mundo
microscópico.
A teoria de Planck primeiro surgiu ao tentar atacar o impasse do
Corpo Negro. Planck descobriu uma expressão, que nem ele mesmo
conseguiu demonstrar teoricamente ao apresentar para seus colegas
da Berlin Physical Society. Em 1900, Planck apresentou a função que
se ajustava a todos experimentos da emissão do corpo negro, porém
que seguia uma teoria completamente inovadora. Eis a teoria de
Planck:
Segundo Planck, um átomo oscilando com frequência f só pode
absorver ou emitir energia em múltiplos inteiros de h.f onde h é uma
constante (conhecida como Constante de Planck). Essa quantidade
h.f foi denominada pelo cientista como quantum de energia ou fóton.
E = n.h.f nϵZ
A constante de Planck, determinada para que a equação matemática
se ajustasse aos dados experimentais (que a princípio Planck não
sabia se de fato tinha ou não um significado físico) é dada por:
h = 6,63.10-34 J.s
É comum encontrar o termo ħ em livros do assunto (usaremos essa

notação mais a frente). Por convenção: ħ =
2𝜋𝜋

Voltando ao problema: Corpo Negro


Com base na sua recém teoria era possível encontrar uma função
matemática que se ajustasse aos experimentos feitos (uma que não
violasse o princípio da conservação de energia). A expressão
apresentada por Planck foi a seguinte:
𝟖𝟖𝟖𝟖𝟖𝟖𝟖𝟖 𝟏𝟏
𝑰𝑰 = .
𝝀𝝀𝟒𝟒 𝒉𝒉𝒉𝒉
�𝒆𝒆𝝀𝝀𝝀𝝀𝝀𝝀 − 𝟏𝟏�

Fica como exercício para o leitor mostrar que essa função possui um
máximo global. A figura abaixo mostra o gráfico dessa função.
Encontrando o máximo da função teremos que:

Tal expressão é conhecida como lei do deslocamento de Wien, e a


constante de Wien é dada por 𝑏𝑏 ≈ 2,89. 10−3 𝑚𝑚. 𝐾𝐾
Exercício contextualizado
Sabemos que a temperatura média da superfície da estrela polar é
de 8300K. Qual das opções propostas pode melhor representar o
comprimento de onda relativo à radiação espectral máxima?
(a) 3500 Angstrons (b) 2100 Angstrons (c) 4500 Angstrons
(d) 1500 Angstrons (e) 5000 Angstrons
Solução:
A expressão que nos dá o comprimento de onda para o pico de
intensidade para uma dada temperatura é a Lei de Deslocamento de
Wien. Para obter a expressão, como foi visto anteriormente, bastaria
derivar a expressão de Planck para I em função de λ e T. O resultado
nos diz que:
Voltando ao problema: Efeito Fotoelétrico
O fato que causava problema na compreensão de a intensidade da
luz incidida não ser fator no arrancamento dos elétrons podia ser
agora explicada pela teoria de Planck. A energia emitida é
meramente função da frequência.
Discutimos que para que o elétron seja libertado é preciso que receba
uma frequência mínima, chamada de frequência de corte.
Recebendo uma energia correspondente a uma frequência maior ou
igual à de corte há liberação de elétrons (obrigatoriamente deverá ser
no mínimo o valor da de corte).
Incidindo uma energia h.f numa placa metálica (maior que a energia
de corte) parte da energia será usada para superar o corte e o
restante dará energia para os elétrons (a menos que haja uma força
dissipativa, essa energia será transformada em cinética). A
conservação de energia, ou equação de Einstein para o efeito
fotoelétrico é dada por:

OBS: A energia de corte (h.f o ) é também denominada de função


trabalho.
Sendo essa energia máxima transferida totalmente à energia
cinética, temos:

Sabendo que a energia de corte pode ser dada em função de um


potencial (pela definição física Energia = Potencial x Carga), temos:

Segue que:
Isto é, o potencial de corte é uma reta em função da frequência de
luz incidente. Um experimento de laboratório interessante é
determinar a constante de Planck utilizando dados experimentais (é
só lembrar que o coeficiente angular da reta resultante será h/e). É
importante então concluir que o potencial de corte depende do
material, porém seu coeficiente angular h/e é constante para todos
os materiais.
Podemos inclusive fazer uma análise de como é o comportamento
do gráfico da corrente de elétrons liberados em função da voltagem
estabelecida.
Para uma dada intensidade de
luz incidida temos um aumento
de corrente com o aumento da
voltagem. Notar que basta
aplicar uma ddp com a voltagem
de corte negativa para zerar a
corrente. Tal ddp que zera a
corrente é a mesma
independente da intensidade do
feixe incidido, porém a corrente de saturação não é (veja a figura
acima).
Exercício contextualizado resolvido
Sobre um circuito de efeito fotoelétrico são incididas radiações de
duas frequências diferentes, de comprimentos λ 1 e λ 2 (maiores que
a frequência de corte do material). Os elétrons liberados por cada
incidência têm velocidades v 1 e v 2 tais que a razão entre v 1 e v 2 é
dada por k. Determine o valor da função trabalho do material usado
em função de k, h, c (velocidade da luz), λ 1 e λ 2.
Solução:
Da conservação de energia (lembrando que a função trabalho é
constante para um dado material):
Dividindo as duas equações:

Lembrando que c = λ.f, segue:

Exercícios Propostos:
1. (ITA) Incide-se luz num material fotoelétrico e não se
observa a emissão de elétrons. Para que ocorra a emissão
de elétrons do mesmo material basta que aumente(m):

1. a intensidade de luz
2. a frequência da luz
3. o comprimento de onda da luz
4. a intensidade e a frequência da luz
5. a intensidade e o comprimento de onda da luz

2. Uma luz monocromática de comprimento de onda 450 nm


incide sobre uma placa de sódio cuja função trabalho é
3,7.10-19 J. Qual é a energia cinética máxima dos elétrons
emitidos? Qual é a frequência de corte para o sódio?
3. Qual é o valor da razão entre a função trabalho e a
frequência de corte do efeito fotoelétrico?

4. (ITA 2006) Aplica-se instantaneamente uma força a um


corpo de massa m = 3,3 kg preso a uma mola, e verifica-se
que esta passa a oscilar livremente com a frequência
angular de 10 rad/s. Agora, sobre esse mesmo corpo preso
à mola, mas em repouso, faz-se incidir um feixe de luz
monocromática de frequência f = 500.1012 Hz, de modo que
toda a energia seja absorvida pelo corpo, o que acarreta
uma distensão de 1 mm da sua posição de equilíbrio.
Determine o número de fótons contido no feixe de luz.
Considere a constante de Planck h = 6,6 .10-34 J.s

5. Uma luz de comprimento de 7000 A incide sobre uma placa


metálica cuja função trabalho vale 1,79 eV. O que é correto
dizer a respeito do que acontecerá?

a) não ocorrerá efeito fotoelétrico


b) apenas existe energia para romper o vínculo com a placa
c) depende da intensidade de luz incidente
d) elétrons são emitidos da placa com energia cinética de 1,768
eV
e) depende da área iluminada da placa.
Gabarito:
1. b 2. f = 0,56. 1015 Hz; E = 0,7.10-19 J 3. h
4. 5. a
Cap. 2 - Postulados de Bohr
Rydberg e Balmer
No final do século XIX, início do século XX a física mostrava ter
mudanças em sua teoria com a recente formada teoria de Planck a
respeito da quantização de emissão/absorção de energia. Enquanto
isso, cientistas como Rydberg e Balmer estudavam o fenômeno da
emissão de luz na passagem de um elétron de uma camada de seu
átomo para o outro. O estudo ainda era muito limitado, mas Rydberg
conseguiu encontrar uma expressão matemática que relacionasse o
comprimento de onda da frequência emitida com o número dos níveis
do qual o elétron estaria saltando. O trabalho de Balmer foi
semelhante, porém menos geral que o de Rydberg (incorporando
apenas alguns níveis). Vale ressaltar que o trabalho de Rydberg foi
encontrar uma função de dados encontrados experimentalmente, e
daí a complexidade de tal trabalho.

Onde R H é a constante de Rydberg, obtida experimentalmente.


Modelo de Niels Bohr
O cientista dinamarquês Niels Bohr, no início do
século XX se propôs a explicar a tese de Rydberg,
criando um modelo atomístico diferente do que já se
conhecia na época. Os experimentos até então,
realizados por Rutherford mostravam que o átomo
consistia de uma nuvem eletricamente carregada em
torno de um centro, denso, e positivamente
carregado chamado núcleo.
Tal proposta de Rutherford leva ao mundo da física propor o modelo
planetário para os elétrons, onde o núcleo estaria agindo como o Sol
e os elétrons em volta do núcleo como planetas em órbita.
Importante!
O modelo planetário tinha uma falha muito aparente, talvez uma das
questões mais interessantes a surgir na física moderna. Naquela
época, os trabalhos de eletromagnetismo desenvolvidos pelo modelo
de Maxwell explicavam toda e qualquer manifestação
eletromagnética conhecida. Uma das leis de Maxwell dizia que uma
carga acelerada, obrigatoriamente, emite radiação eletromagnética.
Ora, um elétron em volta de um núcleo está acelerado (aceleração
centrípeta)! Se esse elétron emitir onda eletromagnética, ele estará
perdendo energia, e com isso sua órbita deveria diminuir
gradativamente até chegar ao núcleo, gerando uma colisão
catastrófica. Sabemos que isso não é verdade, e não poderia ser,
uma vez que a estabilidade da matéria é algo concreto.
Uma esperança de explicação
Experimentos da época de descarga elétrica em tubos de gás a baixa
pressão mostravam que a emissão de luz ocorre (a emissão
eletromagnética), mas apenas em frequências discretas.
Baseado nisso e nas recém descobertas de Max Planck de
quantização, no início do século Bohr propôs um modelo que
explicaria tais impasses. O modelo de Bohr foi apresentado em 1913
por meio de postulados (regras não demonstradas
matematicamente, mas que explicariam o comportamento
observado). A seguir, estão os postulados de Bohr.
 O elétron se move numa órbita circular em torno de um núcleo
sob ação da força elétrica como força centrípeta.
 As órbitas do elétron são restritas, isto é, nem todas órbitas são
permitidas em qualquer situação. A restrição é que o momento
angular do elétron é necessariamente quantizado:

Os elétrons em órbita NÃO emitem energia eletromagnética


enquanto na órbita, e com isso não perdem energia. A emissão de
energia (ou absorção) só ocorre na passagem de níveis (quando um
elétron muda de um nível para outro).
Cada órbita tem uma energia associada, e a diferença de energia
entre dois níveis é igual à energia emitida/absorvida na mudança.

A Matemática do Modelo de Bohr


Sabemos dos postulados de Bohr que a interação eletrostática
núcleo/elétron atua como força centrípeta no movimento circular.
Sendo e a carga do elétron, a carga do núcleo será Z.e onde Z é o
número atômico do átomo:

A energia total do elétron no átomo de Bohr é dada pela soma de sua


energia cinética e energia potencial:
Esse resultado é muito importante, e nele concluímos que a energia
da órbita é uma função do seu Raio de órbita.

Exercício contextualizado
Mostre que o momento linear do elétron no átomo de hidrogênio é
dado por:

Vamos tentar expressar o raio da órbita em função do n. Do


postulado:

Lembrando que:
Ou seja, o raio da órbita é uma função do número n do nível:

Ou seja, conhecido o raio da primeira órbita R, teremos que o da 2ª


será igual a 4R (ou seja, 2².R), o da 3ª será 9R, o da 4ª será 16 R e
assim em diante.

Do postulado de Bohr que diz 𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚 = 𝑛𝑛. é possível expressarmos
2𝜋𝜋
a energia total do elétron como sendo uma função de n (ou seja, do
nível em que se encontra o elétron), tornando-se possível então
determinar a energia de cada nível.
Vimos que:

Como sabemos que a energia do nível é inversamente proporcional


a - r , podemos expressar a energia como função do número n do
nível, também.

Substituindo os valores das constantes para o caso do Hidrogênio


teremos:
Esse resultado se aproxima do resultado de Balmer e Rydberg, uma
vez que a energia emitida num salto será dada pela diferença das
energias dos níveis em questão:

ℎ𝑐𝑐
Lembrando do resultado de Planck que ∆𝐸𝐸 = ℎ. 𝑓𝑓 = , chegamos
𝜆𝜆
matematicamente (a partir do modelo de Bohr) à função proposta
por Balmer e Rydberg numa abrangência ainda maior.

Exercício contextualizado resolvido


Determine, no átomo de Hidrogênio de Bohr, o valor do menor
comprimento de onda possível emitida por um fóton num salto de um
elétron de um nível para seu adjacente.
Solução:
A partir da expressão da diferença de energia entre 2 níveis
adjacentes:

A expressão da diferença de energia em módulo em função de n é


estritamente decrescente pois:
Portanto a diferença de energia é máxima no salto do nível 2 pro nível
1. Queremos a diferença máxima para que a frequência seja máxima
e com isso, o comprimento de onda seja mínimo.

Segue que:

Exercícios Propostos:
1. (ITA 99) A tabela abaixo mostra os níveis de energia de um
átomo do elemento X que se encontra no estado gasoso.
Dentro as possibilidades abaixo, a energia que poderia restar a um
elétron com energia de 15eV, após colidir com um átomo de X seria
de:
a) 0 eV b) 4,4 eV c) 16,0 eV d) 2,0 eV e) 14,0 eV

2. (ITA 2006) O átomo de hidrogênio no modelo de Bohr é


constituído de um elétron de carga e e massa m, que se move
em órbitas circulares de raio r em torno do próton, sob a
influência da atração coulombiana. Sendo a o raio de Bohr,
determine o período orbital para o nível n, envolvendo a
permissividade do vácuo.

3. Suponha que o átomo de hidrogênio emita energia quando seu


elétron sofre uma transição entre os estados inicial n = 4, e final
n = 1. Qual é a energia do fóton emitido? Qual é a frequência
da radiação emitida (Constante de Planck = 6,63 .10-34 J.s)

4. (ITA 2002) Sabendo que um fóton de energia 10,19 eV excitou


o átomo de hidrogênio do estado fundamental (n=1) até o
estado p, qual deve ser o valor de p? Justifique.

5. (ITA 2003) Utilizando o modelo de Bohr para o átomo, calcule


o número aproximado de revoluções efetuadas por um elétron
no primeiro estado excitado do átomo de hidrogênio, se o
tempo de vida do elétron, nesse estado excitado, é de 10-8 s.
São dados: o raio da órbita do estado fundamental é de 5,3 .
10-11 m e a velocidade do elétron nessa órbita é de 2,2.106
m/s

6. Determine a expressão para a velocidade do elétron na órbita


em função do número n do nível.
Gabarito:

1) d 2)
3) E= 12,75 eV f = 3,07.1015 Hz
4) p=1. A energia não é suficiente para levar ao nível 2. A energia
necessária seria no mínimo 10,2 eV
5) Aproximadamente 8 milhões de revoluções

6)

Cap. 3 - A Dualidade Partícula Onda & Hipótese de De Broglie e


o Princípio de Incerteza
Introdução
A resposta à dúvida do caráter ora ondulatório e ora de partícula das
emissões eletromagnética pôde ser analisada com o experimento do
efeito fotoelétrico de Einstein. O choque de uma emissão
eletromagnética contra uma placa arrancava elétrons da mesma,
evidenciando sob certas condições (como vimos, a frequência para
o fenômeno é restrita) o caráter de partícula por parte de ondas.
Estudaremos a seguir um segundo fenômeno que corroborou a tese
de Einstein.
Efeito Compton
O fenômeno descoberto pelo físico Arthur Holly Compton em 1923,
chamado Efeito Compton, analisa a diminuição de energia de um
fóton quando esse colide com matéria. A diminuição de energia
ocorre com a mudança no comprimento de onda (aumenta). Tal
mudança nos evidencia que a luz, por exemplo, não tem caráter
puramente ondulatório (assim como Einstein já havia evidenciado em
seu experimento do efeito fotoelétrico). Usaremos um resultado do
Eletromagnetismo de que radiações eletromagnéticas carregam
momento linear (p):
A situação descrita no efeito
Compton está ilustrada ao lado.
Deduziremos agora uma
expressão para o aumento no
comprimento de onda do fóton
após o choque.
É importante deixar claro que
algumas passagens da dedução
parecerão complicadas à
primeira vista, pois utilizaremos resultados da Física relativística.
Pedimos que mesmo que o conceito ainda não esteja completamente
claro ainda (veremos mais isso mais a frente nesse curso de Física
Moderna), que o leitor acredite nos resultados que estaremos
usando.
Tais resultados são:
Energia associada à matéria (energia de repouso): E = mc²

Energia associada a matéria com velocidade: 𝐸𝐸 = �(𝑚𝑚𝑐𝑐 2 )2 + (𝑝𝑝𝑝𝑝)²


Voltando ao problema, considerando uma colisão entre o fóton e um
elétron em repouso (veja figura), temos da conservação de energia:

Na direção da colisão, não há forças externas, portanto, podemos


conservar também a quantidade de movimento naquela direção e na
direção perpendicular a mesma:
Lembrando que:
Temos então o sistema:

Resolvendo e eliminando o parâmetro ∅ (Fica como exercício para o


leitor), chegamos à seguinte expressão para p e :

Da conservação de energia já tínhamos obtido que:

Logo:

Arrumando a igualdade e lembrando que c= f (fica como exercício),


chegamos à expressão conhecida do efeito Compton:
Exercício Proposto
1. Calcule a modificação percentual do comprimento de onda no
espalhamento de Compton a 180°
a) de um raio X de 80 keV;
b) de um raio g oriundo da aniquilação de um par elétron-pósitron
em repouso.
Hipótese de DeBroglie
A esse ponto não restava dúvida de que de fato
ondas poderiam se comportar como partículas em
certas situações (Efeito Fotoelétrico, Efeito
Compton).
Até esse ponto na física sempre foi razoável testar
o efeito contrário de cada fenômeno. No
eletromagnetismo, Faraday e Lenz estudaram o
fenômeno de geração elétrica a partir de uma
variação no campo magnético local, e foi razoável aceitar a tese
provada por Ampére de que uma variação do campo elétrico também
gera campo
magnético. Esse é apenas um dos inúmeros exemplos de simetria
que ocorrem na física.
Bom, os resultados conhecidos diziam que para ondas vale:

De Broglie propôs então que a matéria teria um comprimento de onda


associado a ela, dado pela expressão:

De acordo com a expressão o caráter ondulatório da matéria só seria


perceptível para massas extremamente pequenas. Ou seja, seria um
absurdo propor que se atirássemos inúmeras bolas de tênis numa
fenda única, haveria difração...
A hipótese de De Broglie foi comprovada em 1927 (3 anos após a
data em que De Broglie fez sua proposta), por Davisson e Germer ao
estudarem a natureza da superfície de um cristal de Níquel. Eles
perceberam que ao incidirem um feixe de elétrons (partículas) contra
a superfície, ao invés de haver reflexão difusa, houve uma reflexão
similar à observada na incidência de raios X. A incidência de raios X
num cristal geram uma forte reflexão a certo ângulo de tal maneira
que haja interferência construtiva e um reforço seja perceptível.
Analisando os ângulos nos quais isso aconteciam para o Raio X e os
ângulos nos quais isso aconteciam para os elétrons, percebeu-se
que nessas situações os elétrons possuíam o exato comprimento de
onda proposto por De Broglie.
Ora, então De Broglie estava certo! A interferência construtiva
observada nos cristais NUNCA ocorreria de acordo com a teoria
corpuscular do elétron.
Consequências da hipótese de De Broglie pro átomo de Bohr
Uma das mais importantes consequências da teoria de De Broglie é
que a mesma justificava os antes indemonstráveis postulados de
Bohr (ver capítulo 2).
De Broglie explicou que cada elétron do átomo de Bohr é
acompanhado de uma onda estacionária associada guiando seu
movimento, dessa maneira a aceleração não estaria contribuindo
para a emissão de energia eletromagnética. Para que uma onda
estacionária se ajustasse à órbita circular do elétron, devemos ter
que o comprimento da órbita circular equivalha a um número inteiro
de comprimento de ondas do elétron. Ou seja:


Da hipótese de De Broglie: 𝜆𝜆 =
𝑚𝑚𝑚𝑚
A expressão acima já é conhecida! É mais de uns previamente
indemonstráveis postulados de Bohr. Concluímos que a teoria de De
Broglie foi bastante razoável e apresentava total consistência com a
teoria de Bohr!
Exercício Contextualizado Resolvido
1. Um elétron em movimento manifesta uma onda de matéria
com comprimento de onda de De Broglie igual a 10-10 m. Sendo
a massa do elétron igual a 9,1. 10-31 kg, sua carga é 1,6.10-19 C
e a constante de Planck igual a 6,63.10-34 J.s, qual a DDP
necessária para acelera-lo do repouso até a velocidade
necessária?
Solução:
Da Hipótese de De Broglie, segue:

Utilizando o Teorema do Trabalho e Energia Cinética,


desconsiderando o efeito relativístico do elétron:

A DDP necessária é de aproximadamente 150,7 V.


Princípio de Incerteza de Heisenberg
Conforme foi dito na introdução desse artigo, muitos
dos conceitos aqui apresentados carecem de
demonstrações rigorosas. Isso é compreensível se
formos pensar que a teoria que estamos estudando
levou a criação da Mecânica Quântica, um ramo da
física que envolve muita teoria e matemática pesada
(fugindo então dos propósitos desse curso). É
importante que entendamos os conceitos extraídos dos resultados
desses cientistas, e sabermos como aplica-los.
Werner Heisenberg é um cientista alemão que se propôs a mostrar,
ou exprimir matematicamente, sua tese de que a posição e
velocidade do elétron em torno do núcleo do átomo são impossíveis
de precisar simultaneamente.
Para medir experimentalmente a posição do elétron precisamos de
instrumentos de medidas (um dos métodos conhecidos na época
consistia de incidir um tipo de radiação sobre o mesmo). Os
instrumentos de medida, por sua vez possuem incertezas de
medição. Quanto menor a incerteza, mais precisa é a localização do
elétron.
Com base na base da teoria da mecânica quântica já desenvolvida,
Heisenberg enunciou que o produto da incerteza da posição pela
incerteza do momento linear de um elétron não pode ser inferior (em
ordem de grandeza) à metade da constante de Planck reduzida. Ou
seja:

A conclusão é que o elétron não está bem definido na sua órbita do


átomo. Quanto mais preciso soubermos sua posição, menos preciso
para nós será sua velocidade, tornando assim impossível descrever
o elétron em cada instante. Esse enunciado é conhecido como
Princípio da Incerteza de Heisenberg.
Exercícios Propostos de Revisão
1. Um arma dispara um projétil de 20 g a uma velocidade de 500
m/s. Determine o comprimento de onda de De Broglie
associado ao projétil e explique por que o caráter ondulatório
não é aparente nessa situação.

2. Um microscópio eletrônico pode resolver estruturas de pelo


menos 10 vezes o comprimento de onda de De Broglie do
elétron. Qual é a menor estrutura que pode ser resolvida num
microscópio eletrônico, usando elétrons com energia cinética
de 10000 eV?

3. (ITA 2003) Marque verdadeiro ou falso.

I. No efeito fotoelétrico, quando um metal é iluminado por um


feixe de luz monocromática a quantidade de elétrons emitidos
pelo metal é diretamente proporcional à intensidade do feixe
incidente, independente da frequência da luz.
II. As órbitas permitidas ao elétron em um átomo são aquelas em
que o momento angular é nh/2π para n=1,3,5...
III. Os aspectos corpuscular e ondulatório são necessários para a
descrição completa de um sistema quântico.
IV. A natureza complementar do mundo quântico é expressa, no
formalismo da Mecânica Quântica, pelo princípio de incerteza
de Heisenberg.

4. (ITA 2004) Um elétron é acelerado a partir do repouso por meio


de uma diferença de potencial U, adquirindo uma quantidade
de movimento p. Sabe- se que, quando o elétron está em
movimento, sua energia relativística é dada por 𝐸𝐸 =
�(𝑚𝑚0 𝑐𝑐 2 )2 + (𝑝𝑝𝑝𝑝)² em que m o é a massa de repouso do elétron
e c é a velocidade da luz no vácuo. Obtenha o comprimento de
onda de De Broglie do elétron em função de U e das constantes
fundamentais pertinentes. OBS: Essa questão é muito
parecida com o exercício contextualizado resolvido.

5. (ITA 2005) Um átomo de hidrogênio inicialmente em repouso


emite um fóton numa transição do estado de energia n para o
estado fundamental. Em seguida, o átomo atinge um elétron
em repouso que com ele se liga, assim permanecendo após a
colisão. Determine literalmente a velocidade do sistema átomo
+ elétron após a colisão. Dados: a energia do átomo de
𝐸𝐸0
hidrogênio no estado n é 𝐸𝐸𝑛𝑛 = ; o momento linear do fóton é
𝑛𝑛²
hf/c, e a energia deste é hf, em que h é a constante de Planck,
f é a frequência do fóton e c é a velocidade da luz.

6. (ITA 2005) Num experimento, foi de 5,0.10³ m/s a velocidade


de um elétron, medida com precisão de 0,003 %. Calcule a
incerteza na determinação da posição do elétron, sendo
conhecidos: massa do elétron 9,1.10-31 kg e constante de
Planck reduzida é 1,1.10-34 J.s

Gabarito:
1) 6,63.10-35 m 2) 5.10-10 m 3) F-F-V-V

4) 5)
6) A incerteza mínima é de, aproximadamente, 0,04 %

Cap. 4: Relatividade de Einstein


Introdução Histórica
Com a publicação Sobre a Eletrodinâmica de
Corpos em Movimento, Albert Einstein em 1905
enunciou sua teoria restrita da Relatividade.
Nele é explicado que a teoria até então seguida
pelos físicos, proposta por Galileu, que
explicavam os conceitos de velocidade e
movimento de um corpo de acordo com um dado
sistema referencial não valeriam mais para o eletromagnetismo (que
havia sido fortemente enriquecido pelo modelo de Maxwell).
Estudaremos agora no que consiste essa teoria.
O porquê da proposta
De acordo com os recentes estudos do eletromagnetismo, observar
um fenômeno eletromagnético depende do referencial do
observador. Ou seja, dependendo da velocidade com que um
observador se aproxima da luz ele pode observar um campo
magnético ou um campo elétrico. Isso vai contraria as teorias da
relatividade de Galileu que dizia que um fenômeno mantinha sua
natureza independente do referencial. Tal teoria era válida para a
física Newtoniana, porém precisaria ser reavaliada para incluir os
conceitos do eletromagnetismo.
A nova ideia de Simultaneidade
Antes de enunciarmos os dois postulados que regem a teoria da
relatividade, vamos descrever um fenômeno que nos dará uma
noção da diferença do conceito de Galileu para o conceito novo
proposto por Einstein.
Imagine um trem passando por uma estação com velocidade
constante. No momento exato em que o trem está passando, duas
pessoas (uma em cada extremidade do trem) enviam um sinal
luminoso para uma pessoa localizada no centro do trem. Para
alguém fora do trem o sinal deve chegar ao centro simultaneamente,
é claro.
Agora imagine o ponto de vista dessa pessoa que está fora do trem.
Para ela o observador do centro do trem está se aproximando na
direção do ponto de partida de um dos raios luminosos, e se
afastando do ponto de partida de outro raio luminoso. Obviamente,
então, para o referencial inercial o sinal luminoso de um chegará ao
observador central antes do outro.
Isso é um absurdo de acordo com a teoria da relatividade de Galileu.
Para Galileu o tempo é único independente do referencial (o tempo
passa independentemente para todos, simultaneamente). Então,
como dois raios luminosos, emitidos ao mesmo tempo, percorrendo
a mesma distância, teriam tempos de chegadas diferentes?
A Transformação de Lorentz - Dilatação do Tempo
Em 1913, Einstein publicou um texto explicando como poderiam ser
aplicadas transformações conhecidas como transformações de
Lorentz, para descrever a diferença na simultaneidade de eventos de
acordo com o seu sistema referencial.
Imagine dois espelhos paralelos, separados de uma distância d, no
qual um deles manda um raio luminoso retilíneo para o outro. O
espelho receptor passa a se mover com velocidade v para um lado.
Vamos considerar essa situação em dois referenciais distintos.
1. Para um referencial fixo ao espelho receptor (Receptor
II).
Nesse caso o sinal continua sendo vertical. O
tempo de percurso nesse referencial é tal que: t 2 .c
=d

2. Para um referencial fixo ao espelho emissor


(Referencial I)
Nesse caso o sinal é oblíquo em relação a
vertical. Para o observador fixo ao espelho
em movimento, o sinal ainda será vertical.
De tal forma que podemos tirar a seguinte
relação de Pitágoras.
(t 1 .c)² = d² + (v.t 1 )²

Das duas observações, eliminando o parâmetro d:

Devido a esse resultado, comumente encontramos em materiais


didáticos a expressão fator de Lorentz, que é dado por:
Ou seja, para um referencial com velocidade v em relação ao outro
referencial, o tempo é dividido pelo fator de Lorentz.

Nesse caso t o = t 2 é o tempo de travessia do raio sem o movimento


de referencial.
Mostraremos com mais detalhes mais a frente que a velocidade de
um corpo não pode exceder a velocidade da luz, o que está coerente
com nossa expressão uma vez que o radicando deverá ser positivo.
Vale notar que para quanto maior for a relação v²/c² mais influente
fica o fator de Lorentz (que é sempre um número maior que 1). É
comum ouvir-se falar de um objeto como sendo relativístico ou não-
relativístico. O objeto será relativístico quanto mais próximo de 1 for
a razão v/c.
No caso da velocidade entre dois referenciais, temos que o tempo é
dilatado para o observador do referencial I. O observador I vê o tempo
dilatado em relação ao tempo medido no referencial II. A esse
fenômeno denominamos Dilatação do Tempo.
“O tempo passa mais lentamente para o referencial em movimento”
Contração do Espaço
Semelhantemente ao que fizemos para deduzir a expressão de
Lorentz para a dilatação do tempo, poderíamos ter percebido uma
alteração no espaço para os dois referenciais. Considere o seguinte
problema:
Uma pessoa A se encontra numa plataforma de trem de tamanho
natural Lo. Um trem com uma velocidade v muito alta passa pela
estação. A pessoa A mede o tempo de travessia do trem (tempo entre
o instante em que a frente do trem passou pelo começo da plataforma
e o instante em que a frente do trem L 0 passou pelo final da
𝐿𝐿
plataforma). Sua medida foi: 𝑡𝑡𝐴𝐴 = 0
𝑣𝑣

Uma pessoa B, dentro do trem faz o mesmo procedimento. O seu


𝐿𝐿
tempo de medida é dado por 𝑡𝑡𝐵𝐵 = 𝐵𝐵. Da dilatação do tempo temos
𝑣𝑣
que: t A = t B .γ
Logo:
Ou seja, para o referencial em movimento, o comprimento da
plataforma diminuiu. A esse fenômeno chamamos de Contração do
Espaço.
Experimento de Michelson e Morley
Antes de 1905, muitos acreditavam que o universo estava preenchido
com um meio com propriedades peculiares, conhecido com éter.
Acreditava-se que a luz era uma onda mecânica, que induzia
vibrações em tal meio elástico. Este meio teria que ser ao mesmo
tempo um sólido com elevada densidade para suportar a luz
propagando a altíssimas velocidades e um fluido extremamente leve
para que não exercesse qualquer interferência no movimento dos
planetas.
No meio científico, o experimento de Michelson e Morley não foi
capaz de detectar a presença do éter e, além disso, indicou a
invariância da velocidade da luz, ou seja, a velocidade da luz era
sempre a mesma, independentemente do movimento relativo entre
fonte e observador. É importante ressaltar que os experimentos de
Michelson-Morley nos anos de 1881 e 1887, mesmo não tendo
detectado o movimento da Terra em relação ao éter, foram
interpretados por diversos cientistas sem descartar a teoria do éter.
Portanto é inverídico do ponto de vista histórico que tenham sido
cruciais para a física clássica. O próprio Michelson aferrou-se à teoria
do éter até o final de sua vida. Tais experimentos também foram
secundários para a gênese da teoria da relatividade restrita de
Einstein.
Com esse experimento, Michelson e Morley concluíram que a
velocidade da luz não é influenciada pelo movimento da Terra. Tal
resultado é facilmente compreendido em termos dos postulados de
Einstein.
Postulados de Einstein
Mais a frente, discutiremos algumas consequências do que
acabamos de ver. Mas, primeiramente, vamos citar os postulados de
Einstein que definiram a teoria da relatividade:
 Todas as leis da física tornam a mesma forma em todos os
referenciais inerciais; É impossível realizar experiência, num
determinado referencial, para medir o seu próprio movimento
do sistema de referência. (Princípio da Relatividade)
 A luz se propaga através do espaço vazio com uma velocidade
constante c, independente do estado do movimento do corpo
emissor (independe do referencial). (Postulado da Luz)
Note que o segundo postulado justifica o primeiro, uma vez que um
experimento que medisse a luz num determinado referencial nos
possibilitaria detectar o movimento do mesmo.
O Múon
O múon é uma partícula de origem cósmica com um tempo de vida
muito pequeno (em torno de 2,2 microssegundos). Uma das
evidencias para o estudo de contração do espaço (dilatação do
tempo) foi a evidência de abundância de partículas múon no nível do
mar. O tempo de queda da sua origem (cerca de 2km acima do nível
do mar) até o nível do mar seria maior do que seu tempo de vida, e,
portanto, seria um absurdo ter abundância dessas partículas a nível
do mar.
Vamos ver que, com a teoria de Einstein, o fato evidenciado torna-
se possível. A velocidade em que viaja o múon é de
aproximadamente 0,9952c.
O tempo de vida do múon, considerando a dilatação do tempo (para
o referencial terra é):

A distância que o múon pode percorrer a essa velocidade antes de


desintegrar é:

Como a distância permitida é maior que a distância que o múon teria


que percorrer para chegar ao lugar onde foi observado (devido à
contração de espaço), a observação torna-se possível.
Paradoxo dos Gêmeos
Vamos analisar a seguinte situação. Dois gêmeos idênticos A e B são
tais que A passará por uma viajem numa nave espacial sob uma
velocidade muito próxima da velocidade da luz, enquanto que B
permanecerá parado na Terra. Sabemos que para o gêmeo B, que
está na Terra, a nave está se movendo, então, segundo a teoria que
vimos, ele afirma que o tempo para o seu irmão gêmeo dentro da
nave está passando mais lentamente. Enquanto isso, o irmão A vê a
Terra se afastar dele com velocidade perto de c, e afirma que o tempo
passa mais devagar para o seu irmão. Qual dos dois está correto?
Na verdade, com o problema proposto, ambas as afirmações estão
erradas. Segundo o postulado de Einstein, não é possível comparar
o passar do tempo entre duas pessoas com referenciais movendo-se
um em relação ao outro. O correto, sim, seria dizer que o tempo
passa mais devagar para B quando medido no referencial de A, e
vice-versa.
Porém, se analisarmos um problema segundo o referencial inercial
Terra, existe uma resposta para qual dos dois irmãos está mais
envelhecido? O gêmeo viajante A mudou de referencial inercial ao
sair da Terra, passando a um referencial com velocidade constante
próxima a da luz, e mais tarde, ao retornar voltou ao referencial da
Terra. Ou seja, como a comparação final é feita no referencial da
Terra, conclui-se que B está mais envelhecido que A, devido à
dilatação do seu tempo em relação ao referencial.
Massa de Repouso
Podemos definir massa pela segunda Lei de newton, como sendo:

Note que aumentando a força indefinidamente estaríamos


aumentando indefinidamente sua velocidade. Ora, mas sabemos que
a velocidade tem um limite (velocidade da luz no vácuo c). Portanto
é de se esperar que haja uma alteração no valor da massa para
velocidades próximas da luz.
A partir da 2ª lei de Newton e da Lei da conservação do Impulso é
possível demonstrar que:

Onde m o é a massa do objeto em repouso.


Não incluímos a prova nesse artigo, por ser de complexidade
matemática excessiva, fugindo ao interesse do artigo.
Energia Relativística
Junto com seu trabalho matemático sobre relatividade, Einstein
mostrou que a expressão relativística precisa para a energia de uma
massa de repouso mo e momento linear p é:

Devemos então notar a consistência, para os casos:


 Objeto de massa de repouso não-nula, com velocidade nula:
p = 0 ⇒ E = m 0 .c²
(Famosa Relação de Einstein para energia de repouso)
 Objeto de massa de repouso nula:
M 0 = 0 ⇒ E = p.c
(Consistência com o resultado do eletromagnetismo)
Método Mnemônico de lembrar a expressão da energia
O Triângulo ao lado resume as expressões de energia:
Onde, E é a energia relativística total e Eo é a
energia de repouso.
Do teorema de Pitágoras:

Exercícios Propostos
1. Uma régua move-se com a velocidade v=0,6c na direção do
observador e paralelamente ao seu comprimento.
a) Calcular o comprimento da régua, medida pelo observador, se
ela possui um metro no seu próprio referencial
b) Qual o intervalo de tempo necessário para a régua passar pelo
observador?

2. A vida média própria dos mésons é 2,6.10 8 s. Imagine um


feixe destas partículas, com velocidade 0,9c.
a) Qual seria a vida-média medida no laboratório?
b) Que distância percorreriam antes de desintegrar-se?
c) Qual seria a resposta do item anterior, se desprezássemos a
dilatação do tempo?

3. A energia liberada quando o sódio e o cloro se combinam para


formar NaCl é 4,2 eV.
a) Qual é o aumento de massa (em unidades de massa atômica)
quando uma molécula de NaCl se dissocia em um átomo de Na
e outro de Cl?
b) Qual o erro percentual que se comete ignorando essa diferença
de massa?
Dados: A massa atômica do Na é cerca de 23 u e a do Cl vale 35 u.
4. Um elétron, com energia de repouso 0,511 MeV, tem energia
total 5 MeV.
a) Calcular o seu momento em unidade MeV/c.
b) Calcular a razão da sua velocidade e da velocidade da luz.

5. A energia em repouso de um próton é 938 MeV. Sendo a sua


energia cinética também igual a 938 MeV, calcular o seu
momento linear em unidade MeV/c.

6. Um elétron desloca-se a uma velocidade tal que pode


circunavegar a Terra, no Equador, em 1,00 s no referencial da
Terra.
a) Qual é a sua velocidade, em termos da velocidade da luz?
b) Qual é a sua energia cinética K?
c) Qual é o erro percentual cometido se a energia cinética K for
calculada pela fórmula clássica?
Gabarito:
1) a) 0,8 m.
b) 4,44 ns.
2) a) 5,96.10-8 s.
b) 16,1 m.
c) 7,02 m.
3) a) 4,5.10-9 u.
b) 8.10-9 %.
4) a) 4,974 MeV/c.
b) 0,9948.
5) 938√3 MeV/c.
6) a) 0,134c.
b) 4,62 keV. c) 1,36 %.

A FÍSICA DE PARTÍCULAS
O mundo macroscópico,
até certo ponto, é
bastante presente no
nosso dia a dia, de um
grão de areia a estrelas
no céu, com o olho nu
conseguimos enxergar
esses objetos e até Figura 1: Telescópio Mauna Kea
mesmo estuda-los.
Acima disso, temos alguns instrumentos, como o telescópio, que nos
ajuda a enxergar esses objetos gigantescos que estão distantes de
nós e, abaixo disso, temos também diversos tipos de microscópios
que nos ajudam a ver esse “minimundo”. Entretanto, há um universo
gigantesco que exploramos a cada dia que passa, mas que não é tão
conhecido: O mundo das coisas ainda menores do que o que
enxergamos com um microscópio.

Desde a antiguidade o ser humano


tem tentado entender como as coisas
funcionam na escala micro, criando
várias teorias para tentar explica-lo,
porém foi apenas nos dois últimos

Figura 2: Microscópio
séculos que desenvolvemos
tecnologias e teorias capazes de
observar e explicar esse fantástico mundo invisível para os nossos
olhos.

No último século a área de física de partículas teve um grande


desenvolvimento, seria impossível escrever sobre todos os temas
desse assunto e abordá-los em sala de aula, por isso focaremos
nossos estudos no Modelo Padrão das Partículas Elementares.

Em 1963 o famoso físico e ganhador do prêmio Nobel Richard


Feynamn escreveu em uma de suas obras mais famosas, Feynman
Lectures on Physics, a seguinte frase:

“Se acontecesse um
cataclismo que destruísse
todo o conhecimento
científico, e apenas
pudesse ser transmitida
uma mensagem à
próxima geração, a
afirmação contendo mais
informação em menos
Figura 3: Richard Feynman palavras seria: “Todas as
coisas são constituídas de
átomos – pequenas partículas que se movem permanentemente, que
se atraem mutuamente quando estão pouco afastadas, mas que se
repelem quando são empurradas umas contra as outras.”
Como podemos ver, compreender a Estrutura da Matéria é uma das
coisas mais importantes para o contínuo avanço da ciência. Entender

Observe o quão grande ou quão pequeno determinadas coisas são para nós, acesse
o endereço http://htwins.net/scale2/ ou o QR code acabixo, e veja quais são as
maiores e as menores coisas que nós conhecemos. (Necessário Java atualizado para
pleno funcionamento).
como as coisas se comportam no mundo micro é a chave do sucesso
para entender o nosso mundo macro, e nesse sentido, o Modelo
Padrão de Física de Partículas é a mais atual e mais completa teoria
sobre o comportamento da matéria nessa escala.

No endereço https://youtu.be/yQP4UJhNn0I (QR code abaixo) assista ao vídeo Quão


pequeno é um átomo mesmo? (vídeo em inglês com legendas em português), uma
animação do TED Ed que, através de comparações, mostra quão pequeno um átomo
é.

DA GRÉCIA ANTIGA AO MODELO PADRÃO


Até o século XIX a noção de como seria a matéria na escala micro
ainda era muito abstrata e não se tinha um consenso sobre sua
divisibilidade. O termo “átomo”, nomenclatura formada da junção do
prefixo de negação “a” com a palavra grega “tomos” (divisão), surgiu
na Grécia no século V antes da era comum.

Os filósofos gregos Demócrito (460-370 AEC), Empédocles (490-430


AEC), Epicuro (341-270 a.C.) e o poeta romano Lucrécio (98-55
AEC) acreditavam que a matéria podia se dividir em pedaços cada
vez menores até atingir uma partícula fundamental, minúscula e
indivisível, que seria o átomo, entretanto esse pensamento não era
unânime, alguns pensadores como Anaxágoras (497-428 AEC),
Aristóteles (384-322 AEC) e René Descartes (1596-1650) não
acreditavam no atomismo, mas sim que a matéria podia ser dividida
infinitamente. Apesar de equivocado, o pensamento Aristotélico foi
aceito oficialmente por mais de 2000 anos!

O físico inglês John


Dalton (1766-1844)
publicou em 1807 o livro
intitulado “Novo Sistema
de Filosofia Química"
onde estabeleceu um
conceito de átomo e
molécula que contou
com a contribuição da
hipótese de Avogrado:
Figura 4: Representação do Átomo para os gregos
“Volumes iguais de
gases, medidos à mesma temperatura e pressão, contêm números
iguais de moléculas.”. A partir daí, Dalton estabeleceu três
postulados:

I. O átomo é a menor porção da matéria e são esferas maciças e


indivisíveis;
II. Os átomos de elementos diferentes possuem propriedades
diferentes entre si, e de um mesmo elemento possuem
propriedades iguais e de peso invariável;
III. O peso total de um composto é igual à soma dos pesos dos
átomos dos elementos que o constituem.
Esse modelo de átomo
proposto ganhou a
alcunha de “Modelo da
Bola de Bilhar” devido se
considerar o átomo uma
esfera maciça, indivisível e
Figura 5: Atomium em Bruxelas indestrutível. Dalton
elaborou seus postulados se embasando em duas leis, a primeira
delas a Lei de Lavoisier (1774), “Na natureza nada se perde e nada
se cria, tudo se transforma.”, que explicava o motivo do número de
átomos antes e depois de uma transformação serem iguais. A
segunda lei que ele se embasou foi a Lei de Proust (1797), “Se o
número de átomos dobra a massa dobra e a proporção se mantém.”
Ou seja, a massa é constante.

Com uma base de atomismo já estabelecida por Dalton, uma nova


interpretação acerca da estrutura da matéria surgiu em outubro de
1897 graças ao trabalhado sobre raios catódicos realizado por J. J.
Thomson, Plücker, Crookes e Stoney publicado na The London,
Edinburgh and Dublin Philosophical Magazine and Journal of Cience.
ATIVIDADE

Utilizando os seus conhecimentos, aliado ao que leu anteriormente, tente resolver a


atividade abaixo.

Também se encontra disponível endereço: https://www.educaplay.com/learning-


resources/8636243-relembrando_modelos_atomicos.html.

Thompson, utilizando um Tubo de Crookes, submeteu um fluxo de


raios catódicos a presença de um campo elétrico e observou que eles
eram desviados, sendo atraídos para o lado positivo. A sua
interpretação fez os elétrons fossem descobertos e lhe rendeu o
prêmio Nobel de física de 1906.
Figura 6: Representação do experimento de Thomson

TUBO DE CROOKES

Dispositivo composto de um tubo, selado com um vácuo parcial, com dois eletrodos,
um em cada extremidade, um positivo (ânodo) e o outro negativo (catodo),
submetidos a uma alta tensão que fazia com que elétrons saíssem do catodo, ao se
chocarem com moléculas de gás ali presentes ionizava-as, o que fazia com que
emitissem uma luz. Esse fluxo de elétrons foi denominado de Raios Catódicos.

Embasado em sua
descoberta do
elétron, em 1904 no
mesmo The London,
Edinburgh and
Dublin Philosophical
Figura 7: Modelo atômico de Thomson
Magazine and
Journal of Cience, Thomson publicou o artigo On the Structure of the
Atom em que detalhava o seu Modelo Atômico. Ele dizia que o átomo
é constituído por um fluido continuo com carga positiva, dentro do
qual flutuam cargas negativas (os elétrons), essa descrição rendeu
ao modelo o apelido de “Modelo Pudim de Passas” devido a sua
semelhança com o alimento em questão.

O Modelo do “pudim de passas” parecia explicar bem a natureza da


matéria, mas ele tinha um grave problema, ele era inconsistente do
ponto de vista físico pois, conforme anteriormente observado, cargas
de sinais contrários se neutralizam quando interagem, para a fixação
de uma identidade elétrica é necessário separá-las. Notemos
também que até o momento não existia a noção de núcleo, mas tudo
isso mudou em 1910 com o trabalho de Ernest Rutherford (1871-
1937) em cima do experimento de Geiger-Marsden.

Em 1909, dois físicos Hans Geiger e Ernest Marsden, sob a


supervisão de Ernest Rutherford realizaram um experimento com o
intuito de investigar o interior do átomo, para isso utilizaram Radônio
222 como fonte de partículas α (composta por dois prótons e dois
nêutrons,
resumidamente um
núcleo de Hélio), uma
folha finíssima de ouro e
uma chapa detectora de
partículas α. Naquela
época já se tinha o
conhecimento acerca
da radioatividade por
conta disso o Radônio
222 foi utilizado, uma
vez que o mesmo é Figura 8: Representação do Experimento de Rutherford

radioativo e no seu processo de decaimento emite partículas α e se


converte no Polônio. Já o ouro foi utilizado para isso devido a sua
ductilidade1 que permite se formar uma lâmina extremamente fina
composta deste material. O experimento consistia em bombardear os
átomos da fina folha de ouro com um feixe de partículas alfa e

1
Propriedades dos materiais em sofrer deformação sem apresentar fratura.
observar o que se formaria nos detectores atrás e ao redor da fina
folha de ouro. O observado foi surpreendente para eles, conforme
previsto, a grande maioria das partículas α atravessavam a fina folha
de ouro e se chocavam no fundo do detector, porém algumas dessas
eram desviadas e uma pequena parte (cerca de uma a cada vinte
mil) ricocheteava em grandes ângulos, como disse o próprio
Rutherford: “Era como se você atirasse com um rifle uma folha de
papel e a mesma o ricocheteasse de volta”. Esse experimento o levou
a deduzir que o átomo possui um núcleo bastante pequeno, com raio
entre 10-12 e 10-13 cm e que a maior parte do átomo é composto por
“espaço vazio”, o que permite que a maior parte das partículas
atravesse a folha de ouro sem quase nenhum desvio.

A partir desse
experimento Rutherford
deduziu que o átomo
possui um núcleo
infinitamente pequeno,
massivo e de carga
positiva (que seria o
responsável por rebater
as partículas alfa),
enquanto ao seu redor Figura 9: Representação do Modelo Atômico de Rutherford

ficavam os elétrons girando ocupando um grande espaço vazio (por


conta disso boa parte das partículas atravessavam sem sofrer
desvios).

Apesar de trazer uma boa explicação de como um átomo se


comporta, o modelo atômico de Rutherford tem um grave problema,
segundo a teoria de Maxwell-Lamor, cargas aceleradas emitem
energia na forma de ondas eletromagnéticas, ou seja, se o elétron
girasse ao redor do núcleo, o mesmo teria uma aceleração centrípeta
e consequentemente emitira radiação até “cair” no núcleo, o que
torna o átomo de Rutherford instável.

Posteriormente o físico Niels Henrik David Bohr (1885-1962) passou


a trabalhar com Rutherford em Manchester e lá ele incorporou a
teoria quântica ao modelo atômico de Rutherford para resolver o
problema da instabilidade, criando assim o modelo de Rutherford-
Bohr, o primeiro modelo atômico quântico. Para dar sua contribuição
ao modelo anteriormente proposto, Bohr recorreu ao trabalho de
Planck sobre quantização de energia e introduziu dois postulados:

I. O elétron, ocupa apenas algumas órbitas circulares e, em cada


uma delas, ele tem uma energia constante.
II. O elétron não pode ter qualquer valor de energia, e sim, valores
determinados que correspondem às órbitas permitidas, ou seja,
ele se apresenta em certos níveis de energia ou camadas
energéticas.

Um elétron, quando está em


uma dessas órbitas, não
ganha nem perde energia,
espontaneamente, mas ele
pode receber energia de uma
fonte externa somente em
pacotes discretos e, ao
Figura 10: Representação do Modelo Atômico de Rutherford-
receber um quantum de Bohr

energia, salta para uma órbita


de maior energia mais afastada do núcleo atômico realizando um
salto quântico e atingindo um estado “excitado” e ao retornar a sua
órbita original, perde, na forma de onda eletromagnética, uma
quantidade de energia que corresponde à diferença de energia
existente entre as duas órbitas.

Anos mais tarde, em 1932, o físico inglês James Chadwick


bombardeou o Berílio com partículas α e descobriu partículas de
massa semelhante ao próton, mas sem carga elétrica, o nêutron, lhe
rendendo o prêmio Nobel em física em 1935 pela sua descoberta.
Notemos que tudo que estudamos sobre os modelos atômicos
normalmente se encerra por aí, mas como vamos ver, há uma série
de outras partículas que podem compor a matéria que foram
descobertas desde então.
ATIVIDADE

Utilizando os seus conhecimentos, aliado ao que leu anteriormente, tente resolver a


atividade abaixo, disponível no endereço: https://www.educaplay.com/learning-
resources/8636608-relembrando_modelos_atomicos_2.html .

Nas décadas seguintes diversas descobertas ajudaram a descobrir


novas partículas relacionadas a estrutura da matéria, Fermi
estudando o decaimento beta de alguns átomos deduziu a existência
do neutrino, o físico japonês Yukawa postulou a existência do méson
em 1935, que foi observado em raios cósmicos no ano seguinte.
Além desse trabalho, Fermi também elabora a teoria da força fraca,
que explica o decaimento radioativo beta, e Yukawa a teoria da força
forte, que explica a coesão do núcleo. Ainda em 1936 o físico norte-
americano Carl Anderson descobre o pósitron, a primeira
antipartícula a ser descoberta. Em 1948 o físico brasileiro Cesar
Lattes descobriu os mésons artificiais µ e π. Em 1965 Tomonaga,
Schwinger e Feynman ganham o prêmio Nobel pela criação da
Eletrodinâmica Quântica (EDQ), teoria que explica as interações
entre partículas que possuem carga através dos fótons. Com uma
infinidade de novas partículas descobertas e de novas informações
acerca da estrutura da matéria surgiu a necessidade de uma teoria
que, além de abranger as novas partículas descobertas, estivesse de
acordo com a mecânica quântica e a relatividade, desta maneira
entre 1970 e 1973 foi desenvolvido a teoria quântica de campos 2
denominada Modelo Padrão das Partículas Elementares.

ANTIMATÉRIA
A ideia de antimatéria surgiu a partir da equação de Dirac (equação
que descreve como se comportam as partículas de spin ½ como o
elétron) que previa a existência do pósitron, a antipartícula do elétron,
ou seja, uma partícula com as propriedades do elétron, mas com
carga positiva e energia negativa. No ano seguinte a publicação da
sua equação, em 1932, Carl Anderson observou pósitrons em raios
cósmicos, o que confirmava a sua teoria. A partir daí surgiu a ideia
da antipartícula, cada partícula possui a sua antipartícula associada
(próton – antipróton, nêutron – antinêutron etc.) com propriedades
opostas às suas, e caso entrem em contato entre si, ocorre o
aniquilamento de ambas.

2
Conjunto de técnicas que descrevem sistemas físicos que tem infinitos graus de liberdade
MODELO PADRÃO
Apesar do nome, o Modelo Padrão é uma teoria científica, ou seja, é
composta por hipóteses testáveis e falseáveis, e atualmente é a que
melhor explica a natureza da matéria. Segundo o Modelo Padrão,
podemos classificar as partículas elementares que compõem a
matéria em férmions e bóson, que são elementares pois não
possuem estrutura interna.

Tabela 1: Todas as partículas que compõem o modelo padrão

Partículas Antipartículas Total


Léptons e-, νe , µ, νµ , τ, e+, ν�e , µ� , ν�µ , τ�, ν�τ 12
ντ (6) (6)
Quarks u, d, s, c, b, t u� , d� , s̅ , c�, b� , t̅ 36
(cada quark (cada anti-quark
pode ter uma pode ter uma das
das 3 cores) 3 cores) (6x3 =
(6x3 = 18) 18)
Bósons γ, W+, W-, Z0, As antipartículas 12
H, g 1 , g 2 , g 3 , são as mesmas
g4 , g5, g6 , g7, que as partículas
g 8 (12)
Total 61
Assista ao vídeo de Jonathan Butterworth What’s the smallest thing in the universe?
(Qual a menor coisa no universo, numa tradução livre) no endereço
https://youtu.be/ehHoOYqAT_U ou no QR code abaixo, vídeo em inglês legendado
em português, um resumo de todas as partículas que compõem o Modelo Padrão, de
uma forma resumida e animada.

FÉRMIONS E BÓSONS
O Modelo Padrão identifica as partículas básicas e especifica suas
interações, na física temos quatro tipos de interações, gravitacional,
eletromagnética, forte e fraca, cada uma delas relacionada a uma
propriedade da matéria, massa (gravitacional), carga
(eletromagnética), cor (forte) e carga fraca (fraca). Segundo a teoria,
essas interações na matéria ocorrem através de mediadores que
seriam os responsáveis em “transmitir a mensagem” durante a
interação.
Figura 11: Partículas do Modelo Padrão

As partículas que possuem spin semi-inteiro (1/2, 3/2, 5/2 e por aí


vai), como os quarks e os léptons são chamados de férmions pois
obedecem a estatística de Fermi-Dirac (que tem esse nome por ter
sido elaborada pelos físicos Enrico Fermi e Paul Dirac). Essas
partículas são indistinguíveis 3, seguem a distribuição de Fermi-Dirac
e seguem o Princípio de Exclusão de Pauli que diz: que dois férmions
idênticos não podem ocupar o mesmo espaço quântico.

Já as partículas responsáveis por mediar as interações possuem spin


inteiro (0, 1, 2 etc.), são indistinguíveis como os férmions, mas
obedecem à estatística de Bose-Einstein, por isso são chamadas de

3
o seu comprimento de onda é muito menor do que as distâncias entre si não permitindo assim que
consigamos distingui-las
Bósons. Os bósons funcionam como mensageiras entre as
partículas, elas não possuem massa, com exceção dos bósons W e
Z, mas tem energia, por isso são chamadas de “partículas virtuais”,
ou seja, a matéria (léptons, quarks e hádrons) são partículas reais
que interagem entre si trocando partículas virtuais (bósons).

A princípio, pode parecer difícil partir de compreender a matéria


contendo apenas 3 tipos de partículas (elétrons, prótons e nêutrons)
para o modelo padrão, em que há 61, mas analisando cada tipo de
partícula isoladamente é mais fácil de se compreender esta teoria.
Importante salientar que a partícula mediadora da força gravitacional é o gráviton.
A nível subatômico a força gravitacional é infinitamente menor que as outras forças
e por isso não exerce grande influência, sendo desconsiderada nas interações. Até o
momento nenhum gráviton foi detectado. Devido a isso o Modelo Padrão não
aborda as interações gravitacionais.

LÉPTONS
Os léptons (cujo nome vem do grego “fraco”), é a denominação dada
a partículas fermiônicas que não exercem interação forte, sendo a
mais famosa delas o elétron. São eles: elétron, pósitron, neutrino do
elétron, antineutrino do elétron, múon, antimúon, neutrino do múon,
antineutrino do múon, tau, antitau, neutrino do tau e antineutrino do
tau.

Os mais famosos dos léptons são o elétron, o pósitron e seus


respectivos neutrinos pois são constituintes do decaimento β. O
múon se comporta idêntico a um elétron, mas possui uma massa 200
vezes maior, ele é comumente encontrado em raios cósmicos e a sua
presença na superfície terrestre comprova a dilatação do tempo e
espaço da Teoria da Relatividade, uma vez que possui tempo de vida
pequeno, já sua respectiva antimatéria e neutrinos associados são
observados no decaimento do méson píon. O último dos léptons a
ser descoberto foi o tau, que tem mais massa que o múon, e
características bem semelhantes. Na tabela abaixo podemos
observas as principais características de cada léptons.

Tabela 2: Léptons
Léptons Massa (MeV) Carga
Elétron 0,51099907 ± 0,00000015 -1
Neutrino do elétron < 0,000046 0
Múon 105,658389 ± 0,000034 -1
Neutrino do múon < 0,17 0
Tau 1777,00 ± 0,28 -1
Neutrino do tau < 24 0

QUARKS
Ao contrário dos léptons, os quarks não são encontrados isolados na
natureza, eles estão sempre confinados formando hádrons, que em
grego significa forte, (como o próton que é composto por dois quarks
up e um down) ou bárions, que vem do grego “pesado”, (como o píon
π+ que é composto por um quark up e um antiquark down).

Durante certo tempo os quarks foram considerados apenas


ferramentas matemáticas que expressavam as propriedades dos
hádrons, porém ao se realizar experimentos que analisavam o
interior dos prótons, semelhante à experiência realizada por
Rutherford com o interior do átomo, descobriu-se que o mesmo era
composto por pequenas estruturas. Os quarks sofrem todos os tipos
de interações, mas a mais marcante neles são as interações fortes
que são mediadas pelos glúons, que serão abordados mais à frente.

A ideia de que os hádrons poderiam ser compostos por quarks foi


proposta na década de 60 como um esquema de organização dos
hádrons, sem evidências de existência física até 1968, quando os
primeiros quarks, up e down, foram detectados no experimento de
Espalhamento Inelástico Profundo em Stanford. A partir daí, em
outros experimentos os outros quarks previstos foram sendo
detectados, o último deles, quark down, sendo descoberto
experimentalmente apenas em 1996.

Os quarks podem ser classificados em 6 tipos ou flavors (sabor em


inglês - apesar do nome não há nenhuma relação com a culinária),
são eles u (up), d (down), s (strange), c (charm), b (bottom), t (top),
cada flavor possui uma das 3 “cores” possíveis (cor é uma
propriedade da cromodinânica quântica, sem nenhuma relação com
as cores que enxergamos) e suas respectivas antipartículas. Na
tabela abaixo podemos ver as características de cada uma.

Tabela 3: Massa e carga dos Quarks


Flavors dos Massa aproximada Carga
Quarks
Up (u) 1,5 a 3,3 MeV +2/3
Down (d) 3,5 a 6,0 MeV -1/3
Strange (s) 104+26
−34 MeV -1/3
Charm (c) 1,27+0,07
−0,11 GeV
+2/3

Bottom (b) 4,20+0,17


−0,07 GeV
-1/3

Top (t) 171,2±2,1 GeV +2/3


BÓSONS DE CALIBRE (GAUGE)

Figura 12: Partículas do modelo padrão com suas respectivas cargas, massas e spin.

Os bósons de Gauge tem esse nome pois a conservação da carga


elétrica é uma operação de simetria4 que é aplicada às equações do
eletromagnetismo, que devem ser invariantes perante a
transformação de calibre5 (em inglês gauge). São eles Fóton (γ),
Glúon (g), W+, W- e Z0

FÓTONS
O primeiro bóson de calibre que abordaremos serão os fótons, que
são as partículas mediadoras da interação eletromagnética, esta que
ocorre através da troca de fótons virtuais entre as partículas

4
As equações do eletromagnetismo não variam quando se muda o referencial e nem quando se troca a
partícula pela mesma de carga oposta.
5
A transformação de calibre vem de uma equação que relaciona o potencial elétrico ao potencial vetor.
O rotacional do potencial vetor A é B por definição, mas o divergente de A é arbitrário, dessa
arbitrariedade que vem a invariância de calibre.
carregadas através da eletrodinâmica quântica. Ela é responsável
por algumas propriedades da matéria como a estabilidade do átomo,
por não possuir massa, as interações eletromagnéticas tem alcance
infinito.

GLÚONS
Os glúons, conforme anteriormente citados, são os portadores das
interações fortes sendo os mediadores da Cromodinâmica quântica.
As interações fortes ocorrem através das interações entre as “cores”.
Enquanto no eletromagnetismo existem apenas cargas positiva ou
negativa, neste tipo de interação cada quark possui uma das três
“cores” (Vermelho, Verde e Azul), e cada antiquark o mesmo, já os
glúons possuem uma cor e uma anticor, por isso não há glúons ou
antiglúons. Através dos glúons os quarks interagem entre si
“mudando de cor”, são 9 modalidades de interação, e o ramo da física
que estuda essa dinâmica das cores é a Cromodinâmica Quântica.
Foram observados experimentalmente pela primeira vez em 1978 ao
se analisar aniquilações entre elétrons e pósitrons dentro do
acelerador de partículas DESY (Deutsches Elektronen-Synchrotron -
Sincrotron Alemão de Elétrons).

BÓSONS W+ E W-
Com massa cerca de cem vezes maior que a do próton, os bósons
W+ e W-, junto com o bóson Z0, são os responsáveis pelas interações
fracas. O seu nome, W, vem do inglês Weak que significa fraco e, por
possuírem massa, não conseguem atingir grandes distâncias (cerca
de 10-13 cm). Foram detectados pela primeira vez no SPS (Super
Proton Synchrotron) do CERN (Organização Europeia para a
Pesquisa Nuclear) através da colisão entre prótons e antiprótons em
que detectaram o bóson W decaindo em um lépton carregado e um
neutrino. A interação fraca atua nos léptons, no átomo seu alcance é
apenas no interior do núcleo, e pode transformar um quark em outro,
por exemplo no decaimento β pode transformar um nêutron num
próton.

BÓSON Z0
Teorizado em 1968 por
Steven Weinberg e
Abdus Salam com o
objetivo de unificar o
eletromagnetismo com a
interação fraca, o que
rendeu a eles o prêmio
Nobel em 1979. Figura 13: Formação de um bóson Z0 numa colisão entre próton e
antipróton
Glashow-Weinberg-
Salam, unificaram a força nuclear fraca com a força eletromagnética
graças a observação da formação de bósons W e Z em colisões entre
prótons e antiprótons. Segundo a Teoria de Calibre, o W e o Z não
deveriam ter massa, mas o que se observa nos experimentos
contradiz a teoria, pois há uma quebra de simetria entre as interações
fracas e eletromagnéticas que permite que eles tenham massa,
conhecido como Mecanismo de Higgs, que será melhor explicado no
próximo bóson.

O bóson Z foi descoberto em 1983 no CERN pelo Gargamelle, um


detector de partículas do tipo câmara de bolhas a fim de detectar
neutrinos. Costuma ser formado na colisão de prótons e antiprótons,
que é na realidade uma colisão entre seus quarks e glúons. Ele é
responsável pela interação (troca de momentum, spin e/ou energia)
entre neutrinos com outras partículas, já que os neutrinos não tem
Figura 14: Partículas formadas desde o Big Bang até os dias de hoje

interação forte, por não possuírem


“cor”, nem interação
eletromagnética, pois também não
possuem carga, e nem
gravitacional já que sua massa é
muito pequena. O Bóson Z0 possui
vida média muito pequena, cerca
de 3×10−25 s, por isso viaja a
curtas distâncias. Ele esteve
presente nas condições extremas
no início do universo logo após o
Big Bang e é formado em
supernovas.

Como citado acima, ele pode ser produzido em altas energias, mas
seu tempo de vida é muito curto para ser observado pelos detectores
do LHC, porém, sabemos que o mesmo decai em outras partículas
que podem ser detectadas, ele decai formando um par de léptons (ou
um elétron e um pósitron ou um Figura 15: Gargamelle aposentado
múon e um antimúon) e com isso podemos encontra-lo a partir da
análise dos produtos do seu decaimento.

BÓSON DE HIGGS
Previsto em 1964 por Peter
Higgs, o Higgs é o bóson
responsável pela massa das
outras partículas elementares
através do campo de Higgs.
Podemos associar cada
partícula elementar a um
campo, logo quando o campo
de Higgs, que está presente em
todo o universo, recebe energia Figura 16: Campo de Higgs
suficiente uma partícula Higgs.
Entretanto, quando ele interage com outra partícula, ele irá transferir
energia na forma de massa. Ou seja, através desse mecanismo as
partículas elementares adquirem massa graças ao bóson de Higgs,
que só possui massa e nenhuma outra característica (spin nulo, sem
cor e carga nula). O campo de Higgs tem uma condição interessante,
no seu menor estado energético (espaço vazio) o campo não é nulo
e todas as partículas ganham massa ao interagir com esse campo,
explicando assim a massa dos bósons W e Z.
Assista ao vídeo O essencial sobre o bosão de Higgs, de Dave Barney e Steve Goldfarb,
no endereço https://youtu.be/IElHgJG5Fe4 ou no QR code abaixo. Neste vídeo
vemos de forma resumida como funciona o Campo de Higgs e o seu respectivo bóson.

Apesar de previsto na década de 60, o bóson de Higgs só foi


descoberto em 4 de julho 2012 no CERN graças a tecnologia do seu
acelerador de partículas LHC (Large Hadrons Colider) em dois
experimentos, ATLAS e CMS, chamando a atenção do mundo para
tal feito, sendo o acontecimento científico com maior cobertura
midiática até então. Popularmente conhecido como “partícula de
deus”, ganhou esse nome graças ao livro The God Particle: If the
Universe Is the Answer, What Is the Question? graças a uma

Figura 17: Partículas do Modelo Padrão e o ano de sua descoberta


comparação infeliz entre a propriedade do Higgs e a história bíblica
da Torre de Babel. Essa descoberta rendeu o prêmio Nobel de Física
para o Peter Higgs e François Englert e chamou a atenção do mundo
para o universo da física de partículas.

Nas tabelas abaixo podemos ver as principais características dos


bósons.

Tabela 4: Características dos bósons


Nome Massa Carga elétrica Spin
(GeV/c²)
Fóton (γ) 0 0 1
W- 80,39 -1 1
W+ 80,39 +1 1
Z0 91,188 0 1
Glúon 0 0 1
Higgs 126 0 0
Tabela 5: Interações na natureza
Interação Interação Interação Interação
Propriedade
Gravítica Fraca Eletromagnética Forte
Massa e Sabor Carga de
Atua em: Carga elétrica
Energia (flavor) cor
Partículas Quarks e Eletricamente Quarks e
Todas
Afetadas Léptons carregadas Glúons
Grávitons
Partículas W+, W- e
(ainda não Fótons (γ) Glúons
Mediadoras Z0
detectados)
Intensidade
10−41 0,8 1 25
−𝟏𝟏𝟏𝟏
a � 𝟏𝟏𝟏𝟏 −𝟏𝟏𝟏𝟏𝐦𝐦 10−41 10−4 1 60
𝟑𝟑. 𝟏𝟏𝟏𝟏 𝐦𝐦
ATIVIDADE
Teste seus conhecimentos sobre as partículas que compõem o Modelo Padrão
respondendo a Palavras Cruzadas a seguir, também disponível no endereço:
https://www.educaplay.com/learning-resources/8635756-
palavra_cruzada_das_particulas.html

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