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DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE
TRANSFERÊNCIA DE CALOR
CONVECTIVO PELO MÉTODO DA
CAPACITÂNCIA GLOBAL
A transferência de calor é, de forma resumida, a energia em trânsito entre dois corpos por
conta de diferenças de temperatura. Assim como outros fenômenos da natureza, os sistemas buscam
sempre entrar em equilíbrio. Quando dois corpos passam a sofrer influência deste fenômeno, a
tendência é que ele ocorra até que ambos os corpos estejam na mesma temperatura, isto é, em
equilíbrio térmico. Dos diversos mecanismos de transferência de calor existentes, podem ser
destacados os de condução, convecção e radiação. A transferência de calor por convecção se dá
quando uma superfície e um fluido em movimento interagem de forma a trocar energia por conta de
suas diferenças de temperatura (JÚNIOR & GONÇALVES, 2016).
A transferência de calor por convecção pode ser forçada ou natural, a depender de como o
processo está sendo influenciado (se há algum fator de agentes externos ou não). Para que se possa
estudar esse fenômeno quantitativamente, é necessário que se conheça o coeficiente de transferência
de calor convectivo, ou coeficiente de película, representado pela letra h na notação da Lei de
Resfriamento de Newton. Esse coeficiente é um parâmetro complexo que depende de vários fatores,
como o tipo de escoamento do fluido no sistema, viscosidade dinâmica do fluido, diferenças de
temperatura e a geometria da superfície (JÚNIOR & GONÇALVES, 2016).
O presente experimento busca determinar o coeficiente de transferência de calor convectivo
de dois cilindros metálicos por meio do método da capacitância global, entendendo a influência da
velocidade de escoamento do fluido utilizando caixas que permitam ou não a passagem do ar com
maior liberdade. Ademais, espera-se utilizar o número de Biot para verificar a validade do método,
além de comparar o seu valor obtido experimentalmente com o valor teórico por meio de correlações.
2. METODOLOGIA
2.1. Materiais e reagentes
Materiais:
Foram utilizados: um cilindro de cobre, um cilindro de alumínio, uma estufa, dois
termopares e duas caixas de papelão.
A estufa deve ser aquecida a 100 °C antes de o experimento iniciar. Os cilindros de alumínio
e cobre devem ser colocados dentro da estufa até que a sua temperatura atinja 100 °C (ou algo próximo
2
disso). Com os termopares livres, a temperatura da sala (ambiente) deve ser verificada e registrada.
Após a sua temperatura chegar a 100 °C, os cilindros podem ser retirados da estufa.
Com os termopares ligados aos cilindros, a cada 30 segundos a temperatura deve ser registrada
durante os 10 primeiros minutos de experimento. A partir disto, a temperatura deve ser medida de 5
em 5 minutos até que se atinja o equilíbrio.
Após isso, todo o experimento deve ser repetido. Mas desta vez, os cilindros com os
termopares ligados deverão ser mantidos dentro de caixas de papelão, com todo o esquema de
medição de tempos sendo repetido e registrado.
2.3. Métodos
Na introdução deste texto, foram citadas algumas formas de calcular o coeficiente de
transferência de calor convectivo, h, como a utilização do método de capacitância global ou a
utilização de correlações empíricas. Uma das formas de conferir o quanto a transferência de calor por
convecção tem influência no sistema é utilizando o número de Biot, que também serve para avaliar a
validade de aplicação do método de capacitância global. O número de Biot é um parâmetro
adimensional utilizado na transferência de calor e massa em sistemas que envolvem convecção. Ele
é definido como a razão entre o coeficiente de película e o coeficiente de condutividade térmica de
um objeto ou sistema (INCROPERA, 2008). O número de Biot pode ser calculado através da Equação
1.
ℎ∙𝐿𝑐
𝐵𝑖 ≡ (1)
𝑘
Em que:
- h: coeficiente de transferência de calor convectivo (J.m-2.K-1);
- Lc: comprimento característico da superfície (m), que para cilindros é dado por R/2;
- K: condutividade térmica do material (W.m-1.K-1).
Para que seja possível calcular o valor de h, porém, é necessário que se faça um balanço de
energia utilizando o cilindro como um volume de controle. O balanço de massa tem o seguinte
formato:
𝐸𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎 − 𝐸𝑠𝑎𝑖 = 𝐸𝑎𝑐𝑢𝑚𝑢𝑙𝑎𝑑𝑎
Como o sistema está fora da estufa, não tem energia entrando, apenas sendo perdida para o
ambiente em forma de calor. Sendo assim:
𝐸𝑎𝑐𝑢𝑚𝑢𝑙𝑎𝑑𝑎 = −𝐸𝑠𝑎𝑖
3
Aplicando as definições, tem-se a Equação 2:
𝑑𝑇
𝜌 ∙ 𝑉 ∙ 𝐶𝑃 ∙ = −ℎ ∙ 𝐴 ∙ (𝑇 − 𝑇𝑎𝑚𝑏 ) (2)
𝑑𝑡
Em que:
- 𝜌: densidade do cilindro (kg/m³);
- 𝑉: volume do cilindro (m³);
- 𝐶𝑃 : capacidade calorífica do material (J/kg.K);
- t: tempo (s);
- A: área de superfície do cilindro (m²);
- T: temperatura do cilindro no instante t (K);
- Tamb: temperatura ambiente (K);
Pode-se definir as seguintes temperaturas adimensionais:
𝜃 = (𝑇 − 𝑇𝑎𝑚𝑏 ) 𝑒 𝜃𝑖 = (𝑇𝑖 − 𝑇𝑎𝑚𝑏 )
Então, utilizando as expressões acima na Equação 2, tem-se:
𝜃 (𝑇 − 𝑇𝑎𝑚𝑏 ) ℎ∙𝐴
= = 𝐸𝑋𝑃 [− ( ) ∙ 𝑡]
𝜃𝑖 (𝑇𝑖 − 𝑇𝑎𝑚𝑏 ) 𝜌 ∙ 𝑉 ∙ 𝐶𝑃
Com a linearização da equação, obtém-se a Equação 3:
𝜃 ℎ∙𝐴
− ln ( ) = ( )∙𝑡 (3)
𝜃 𝜌∙𝑉∙𝐶
𝑖 𝑃
A partir da Equação 3 e dos dados obtidos e tratados devidamente, é possível calcular o valor
de h. Para isso, é necessário fazer uma regressão linear, que possui o seguinte formato:
𝑌 =𝑓∙𝑡
Fazendo uma comparação direta entre os termos presentes na equação:
𝜃 ℎ∙𝐴
𝑌 = − ln ( ) 𝑒 𝑓 = ( )
𝜃𝑖 𝜌 ∙ 𝑉 ∙ 𝐶𝑃
Então, para encontrar h, basta isolá-lo, como na Equação 4.
𝑓∙𝜌∙𝑉∙𝐶𝑃
ℎ= (4)
𝐴
Por fim, a outra forma para calcular o coeficiente de película é através de correlações
empíricas. A correlação utilizada neste caso é a de convecção natural em escoamento externo sobre
cilindros longos (INCROPERA, 2008), demonstrada no conjunto de Equações 5, 6 e 7.
ℎ∙𝐷
𝑁𝑢𝐷 = = 𝐶 ∙ 𝑅𝑎𝐷𝑛 (5)
𝑘
4
2
1⁄6
0,387∙𝑅𝑎𝐷
𝑁𝑢𝐷 = {0,60 + 8⁄27 } (6)
9⁄16
[1+(0,559⁄𝑃𝑟 ) ]
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5
Figura 1 – Gráfico da linearização do experimento de alumínio sem isolamento
2,5
−ln(𝜃/𝜃𝑖 )
1,5
1
Y = 0,0009t + 0,3609
0,5 R² = 0,8889
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Tempo (s)
2,5
2
−ln(𝜃/𝜃𝑖 )
1,5
1
Y = 0,0007t + 0,2819
0,5
R² = 0,8989
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Tempo (s)
5
4,5
4
3,5
−ln(𝜃/𝜃𝑖 )
3
2,5
2
1,5 y = 0,0016x + 0,2874
1 R² = 0,9592
0,5
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Tempo (s)
6
Já a Figura 4 representa o experimento do cobre rodeado pela caixa.
4,5
4
3,5
3
−ln(𝜃/𝜃𝑖 )
2,5
2
1,5 y = 0,0014x + 0,2815
1 R² = 0,9615
0,5
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Tempo (s)
Para calcular os valores dos coeficientes nos diferentes experimentos, foram utilizados os
dados da Tabela 5. Esses dados, que são constantes, podem ser alocados na Equação 4 para determinar
o coeficiente.
Material
Propriedade
Cobre Alumínio
D (m) 0,0095 0,013
L (m) 0,059 0,0602
ρ (kg/m³) 8933 2702
Cp (J.kg-1.K-1) 385 903
k (W.m-1.K-1) 401 237
7
Tabela 6 – Inclinação da reta e valores dos coeficientes de transferência de massa por convecção
Material Caso Bi
Sem isolamento 8,83 x 10-5
Alumínio
Com isolamento 6,87 x 10-5
Sem isolamento 7,16 x 10-5
Cobre
Com isolamento 6,27 x 10-5
Tabela 8 – Propriedades físicas do ar, interpoladas com base em dados do Apêndice A.4
Com os dados da Tabela 8, foi possível calcular os números adimensionais que levam ao
cálculo do coeficiente de película. Os dados calculados estão disponíveis na Tabela 9.
Tabela 9 – Valores do número de Rayleigh, Nusselt e coeficiente de película obtidos por meio de correlações
Observando os dados da Tabela 9, a primeira conclusão que se pode ter é a de que a utilização
dos cálculos teóricos não representa grandes mudanças quando o isolamento é aplicado, fazendo com
que os valores dentro e fora da caixa de papelão sejam muito parecidos, o que não é observado
experimentalmente.
Comparando os valores de coeficientes obtidos por meio das correlações e os valores obtidos
por meio da prática, é notável uma discrepância entre os conjuntos de dados. O valor mais próximo
obtido foi o do cobre sem isolamento, mas que ainda detém um erro considerável. A Tabela 10
demonstra uma comparação entre os métodos.
9
Tabela 10 – Comparação entre os métodos e erros relativos
Como constatado, o menor erro está presente no experimento do cobre sem isolamento, com
aproximadamente 13,96%. Já o experimento de alumínio com isolamento apresenta um valor de erro
maior do que 100%. Algumas causas podem ser responsáveis por esses erros são, como o fato de o
termopar utilizado para os experimentos com o alumínio não possuir nenhuma casa decimal, o que
gera imprecisões na construção das equações que determinam os valores do coeficiente
experimentalmente. Outro fator é a aproximação de que a temperatura é constante em todo o cilindro
considerada pelas correlações empíricas, o que não é verdade naturalmente. Ainda há o fato de a
equação da correlação não levar em consideração o tempo decorrido, apenas as variações de
temperatura como uma função de estado. Ainda que de forma difícil por conta da simplicidade do
experimento, alguns erros experimentais podem ter sido cometidos, influenciado a precisão dos
resultados obtidos.
4. CONCLUSÃO
Portanto, a partir das atividades realizadas nessa prática foi possível determinar o coeficiente
de transferência de calor por convecção através do método de capacitância global, explicitando a
validade do método através do cálculo do número de Biot. A obtenção de um valor para o coeficiente
foi possível através de um balanço de energia no volume de controle dos dois cilindros utilizados no
experimento e da linearização da equação obtida. Foi possível, ainda, estudar como a presença de um
corpo que serve como “isolante” pode afetar a velocidade com que a energia é transferida entre a
superfície e o fluido (ar).
Entretanto, ao comparar os valores obtidos experimentalmente com os valores esperados na
teoria (através de correlações empíricas), os resultados não estiveram próximos. Além disso, não
houve grandes diferenciações entre os experimentos com e sem a caixa de papelão, o que explicita
que o método não é tão preciso quanto o esperado. Alguns dos erros que foram relatados podem ter
10
suas origens na idealidade presente nas correlações empíricas, que não são observadas na realidade
ou até mesmo em erros experimentais.
5. QUESTÕES
5.1. Explique o motivo pelo qual esse método falha quando o número de Biot é maior que
a unidade.
Especificamente, quando o número de Biot (Bi) é menor que 1, significa que a resistência à
condução térmica dentro do material (condução) é significativamente menor do que a resistência à
transferência de calor por convecção através da camada limite no fluido adjacente. Portanto, nesses
casos, é razoável assumir que a distribuição de temperaturas no interior do sólido é uniforme, desde
que o número de Biot seja baixo. Isso faz com que seja possível considerar a temperatura uniforme
em toda a superfície trabalhada.
Quando o número de Biot é maior do que 1, o contrário acontece e a resistência interna da
condução passa a ser maior do que a resistência à transferência por convecção, o que automaticamente
torna o método da capacitância inválido. Basicamente, quando esta razão é superior a 1, há uma maior
resistência interna, o que resulta em um perfil irregular de temperatura no interior do sólido
trabalhado, ou seja, um gradiente de temperatura.
5.3. Qual o significado físico do número de Biot, e o que você faria num sistema para reduzir o
número de Biot do mesmo?
Como demonstrado pela Equação 1, o número de Biot é uma razão entre o coeficiente de
película e a condutividade térmica do material em questão. Fisicamente, ele relaciona a resistência
térmica externa (convecção) com a resistência térmica interna (condução).
Algumas formas de reduzir o valor do número de Biot são:
11
Aumentar o valor da condutividade térmica (substituição do material presente no sistema por
um com uma maior condutividade térmica);
Aumentar o valor do coeficiente de película (aumentando a velocidade do fluido que está
interagindo com a superfície, a significância da transferência de calor por convecção será
ainda maior, o que fará com que o número de Biot seja reduzido);
Redução do comprimento característico (diminuir o comprimento característico do sistema
resultará em uma menor resistência à convecção e, portanto, em um número de Biot menor).
6. REFERÊNCIAS
12
ANEXO
13
APÊNDICE A
0 98 66,2 1 0
14
540 56 24,2 0,365558912 1,00632783
0 94 62,2 1 0
15
240 73 41,2 0,662379 0,411916743
16
Tabela 3 – Valores experimentais para o cobre sem isolamento
0 90 58,2 1 0
17
570 46,7 14,9 0,256013746 1,362524142
0 94 62,2 1 0
18
270 65,3 33,5 0,538585209 0,618809561
19