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TERMODINÂMICA E FÍSICA ESTATÍSTICA

Trabalho N.º 1
Determinação do Equivalente Mecânico do Calor

1. INTRODUÇÃO

O objectivo do trabalho é determinar a relação entre a unidade calorimétrica


tradicional de energia, a caloria, (c.g.s), e a unidade S.I., o joule.
Consideram-se apenas transformações simples, isto é, aquelas em que a energia
transferida sob a forma de trabalho, se transforma em energia interna do sistema,
denunciada pela correspondente variação de temperatura  .
Seja W o trabalho realizado sobre um sistema que origina uma variação de
temperatura  , e Q a energia transferida sob a forma de calor capaz de produzir a
mesma variação de temperatura  . O equivalente mecânico do calor, J, define-se
como a razão entre o trabalho, W, e o calor, Q,:

W
J= (1)
Q
OBS: Não confunda J com o símbolo da unidade Joule: J. A grandeza J mede-se
em unidades de Joule por caloria.

Figura 1

1
A Figura 1 representa esquematicamente a montagem experimental utilizada para a
determinação de J.
Para levantar a massa conhecida e mantê-la suspensa acima do chão, usa-se o
princípio do cabrestante, ilustrado na figura 2. A condição de equilíbrio de um cabrestante
pode ser determinada sabendo que as condições de equilíbrio de um sistema
correspondem a:

∑ 𝐹⃗𝑖 = ⃗0⃗

𝜏𝑖 = ⃗⃗⃗⃗⃗
∑ ⃗⃗⃗ 𝜏𝑖 𝑟𝑒𝑝𝑟𝑒𝑠𝑒𝑛𝑡𝑎 𝑜 𝑚𝑜𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑎 𝑓𝑜𝑟ç𝑎 𝐹⃗𝑖
0 , 𝑜𝑛𝑑𝑒 ⃗⃗⃗ (2)

A condição de equilíbrio será dada por:


𝑃 𝑟
= , (3)
𝑅 𝒎

em que P representa a intensidade da força potente, R a intensidade da força resistente e


m o braço da força.

Calcula-se o trabalho realizado pela força de atrito, necessária para manter a massa
M suspensa e em equilíbrio. Devido ao atrito há dissipação de energia sob a forma de
calor o que provoca um aumento da temperatura do tambor. Medindo-se o aumento de
temperatura, pode calcular-se o equivalente mecânico, J, estabelecendo a razão entre o
trabalho realizado,
𝑊 = 2 𝜋 𝑟. 𝑛. (𝑀 𝑔) (4)

e a quantidade de energia transferida sob a forma de calor:

2
𝑄 = 𝑚𝑡 𝑐 ∆θ (5)

M é a massa do corpo suspenso, g a aceleração da gravidade e n o número de rotações


completas.

Os tambores dos dispositivos existentes no laboratório são de alumínio. Na tabela


seguinte estão indicados alguns parâmetros dos mesmos.

TAMBOR Alumínio

Massa mt 0.200 Kg

Capacidade térmica mássica c 0.220 cal g-1 K-1

Raio r 2.3815 cm

Lei de Newton do arrefecimento


Devido ao facto do sistema estar em contacto térmico com o meio, existem
transferências de energia sob a forma de calor, consequentemente a temperatura final
obtida é inferior à que se obteria se estas não ocorressem, pelo que é necessário corrigir
o seu valor. Com esta finalidade, traça-se um gráfico da temperatura em função do tempo,
correspondente ao processo de aquecimento e arrefecimento. Dever-se-á obter uma curva
do tipo ABC, representada na Figura 3, em que 1 represente a temperatura máxima
atingida pelo sistema.

3
Figura 3

Admite-se que é válida a Lei de Newton do arrefecimento: a taxa à qual um


corpo arrefece é proporcional à diferença de temperatura entre a temperatura deste e
a do ambiente em que está colocado. Seja 0 a temperatura ambiente e  a temperatura
do corpo, assim tem-se,
𝑑𝑄
= −𝐾 (𝜃(𝑡) − 𝜃0 ) (6)
𝑑𝑡

A constante de proporcionalidade, 𝐾, depende da superfície exposta e da capacidade


térmica do corpo. Esta lei é válida para pequenas diferenças de temperatura
( – 0 < 20ºC).
Aplicando a lei de Newton do arrefecimento e estimando a quantidade de calor Qp
perdido durante a experiência, é possível obter uma expressão para a temperatura final
corrigida (consulte o anexo A):

𝜃2 − 𝜃1 𝜃2 + 𝜃1
𝜃𝑓 = 𝜃1 + = (7)
2 2

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

• Leia a resistência inicial do tambor de alumínio. No anexo B está indicado como


poderá obter o valor da temperatura através do valor da resistência, para o
dispositivo com tambor de alumínio.
• Verifique se a massa M, (8-10 kg), se mantém suspensa acima do chão quando se roda
a manivela do cabrestante, e se o fio de nylon se encontra perfeitamente enrolado (sem

4
voltas sobrepostas). (Não se esqueça de pesar a massa. Não desmonte o dispositivo.
Peça ajuda ao professor!)
• Comece a rodar a manivela e inicie a contagem do tempo. A manivela deve ser
rodada de um modo mais ou menos rápido, de maneira a que se realizem 100
voltas em cerca de um minuto. Registe o instante final, mas não pare a contagem do
tempo.
• Logo que se completem as 100 voltas, assente a massa suspensa no chão e registe
cuidadosamente o valor da temperatura em função do tempo até que esta atinja o valor
máximo (tente efetuar o maior número de medidas possível). No arrefecimento
posterior continue a registar a temperatura em função do tempo, mas em intervalos de
0,1ºC até que se verifique uma descida de 1ºC relativamente ao valor máximo da
temperatura registada. Pare a contagem do tempo.

3. TRATAMENTO DE DADOS

• Represente graficamente a temperatura em função do tempo durante o processo de


aquecimento e arrefecimento.
• Uma vez que o sistema não está isolado do exterior, corrija o valor máximo da
temperatura atingida. (Para efetuar a correção da temperatura utilize a lei de
Newton do arrefecimento)
• Determine o valor experimental do equivalente mecânico de calor, J, e compare-o
com o valor tabelado. Determine o erro associado.

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ANEXO A
Dedução da expressão para a correção da temperatura final.

Utilizando a lei de Newton, a quantidade de calor Qp


perdido durante a experiência pode ser estimada por
integração de (6). Obtém-se

𝑡𝑓
𝑄𝑝 = −𝐾 ∫ (𝜃(𝑡) − 𝜃0 ) 𝑑𝑡 (𝐴1)
𝑡𝑖

Assim, Qp é dada pela área S definida entre a isotérmica  =  0 e a curva 𝜃(𝑡), AB,

multiplicada pelo factor K. Considerando que S pode ser aproximada à área de um


triângulo:
1
𝑆 ≈ (𝜃 − 𝜃0 )(𝑡𝑓 − 𝑡𝑖 ),
2 1

Então,

𝐾
𝑄𝑝 ≈ − (𝜃 − 𝜃0 )(𝑡𝑓 − 𝑡𝑖 ), (𝐴2)
2 1

Se Qp não fosse cedido pelo sistema, a temperatura final 𝜃𝑓 poderia ser obtida a partir de:
−𝑄𝑝 = 𝑚𝑡 𝑐 (𝜃𝑓 − 𝜃1 ) (𝐴3)

Utilizando (A2) e (A3), obtém-se:

𝐾
𝜃𝑓 = 𝜃1 + (𝜃1 − 𝜃0 )(𝑡𝑓 − 𝑡𝑖 ), (𝐴4)
2𝑚𝑡 𝑐

6
A razão K mt c pode ser estimada — traçando /ou/ a partir de — a curva de

arrefecimento quando t > tf . Seguindo a lei de Newton, durante cada intervalo de tempo
dt, o sistema perde uma quantidade de calor dQ:

𝑑𝑄 = 𝑚𝑡 𝑐. 𝑑𝜃 = −𝐾 (𝜃(𝑡) − 𝜃0 ) . 𝑑𝑡 (𝐴5)

então,
𝑑𝑄 𝐾
= − (𝜃(𝑡) − 𝜃0 ) (𝐴6)
𝑑𝑡 𝑚𝑡 𝑐

Integrando (A6), pode obter-se a equação da curva  (t ) quando t  tf , que é uma


exponencial decrescente. A quantidade d dt representa o declive desta curva de
arrefecimento num dado ponto de coordenadas (t , ) . A tangente à curva no ponto
(tf ,1 ) coincide aproximadamente com o segmento BC quando o decréscimo de
temperatura é pequeno (seja 1ºC). Prolongando BC, o declive é dado pela razão
( 2 − 1 ) (ti − tf ) . Este valor do declive obtém-se a partir da expressão (A6)
quando  (t ) = 1 :
𝐾 𝜃2 − 𝜃1
− (𝜃1 − 𝜃0 ) =
𝑚𝑡 𝑐 𝑡𝑖 − 𝑡𝑓

ou seja,
𝐾 𝜃2 − 𝜃1
= (𝐴7)
𝑚𝑡 𝑐 (𝑡𝑖 − 𝑡𝑓 )(𝜃1 − 𝜃0 )

Substituindo na expressão (A4), a temperatura final corrigida será:

𝜃2 − 𝜃1 𝜃2 + 𝜃1
𝜃𝑓 = 𝜃1 + = (𝐴8)
2 2

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ANEXO B
Determinação da temperatura por recurso a um termístor
Com base na tabela
TERMÍSTOR apresentada no manual
400,000
Resistência (x 10^3 Ohm)

do dispositivo do
350,000
300,000
equivalente mecânico,
250,000 elaborou-se o gráfico
200,000 representado na
150,000
figura.
100,000
50,000
0,000
0 20 40 60 80 100

Temperatura (ºC)

Para se obter o valor da temperatura entre dois pontos consecutivos, pode fazer-se uma
interpolação linear de Lagrange. Porquê linear?

Por exemplo, considere que, em dado momento, se registou um valor para a resistência,
x, de 85 kΩ. A que temperatura corresponde?
Pela tabela, pode verificar-se que o valor da temperatura deve estar entre os 28ºC e os
29ºC. ( x0 =87.002 kΩ, T(x0) =28ºC, e x1 =83.124 kΩ, T(x1) =29ºC) . Então x0 > x > x1.
Pela interpolação de Lagrange pode obter-se um polinómio interpolador de grau n, desde
que se considerem n+1 pontos. No caso presente, consideram-se dois pontos, (x0, T(x0),
e (x1, T(x1), pelo que se obtém um polinómio de grau 1 (uma reta).
𝑇(𝑥1 )− 𝑇(𝑥0 )
Assim, 𝑇(𝑥) = 𝑇(𝑥0 ) + (𝑥 − 𝑥0 ). Substituindo os valores conhecidos, nesta
𝑥1 −𝑥0
29− 28
expressão encontra-se o polinómio interpolador, 𝑇(𝑥) = 28 + (𝑥 −
83.124−87.002

87.002), que permite obter o valor da temperatura, para um dado valor da resistência x,
tal que x0 > x > x1.
Para x = 85 kΩ, obtém-se:
29 − 28
𝑇(𝑥) = 28 + (85 − 87.002) ≃ 28.516 º𝐶
83.124 − 87.002
OBS: Neste caso não foi necessário converter kΩ em Ω. Porquê?
Também pode usar o interp1 do Matlab.

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