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Universidade de São Paulo

Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos


Departamento de Engenharia de Alimentos

ZEA0361 - FUNDAMENTOS DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS


1º semestre - 2023

INTRODUÇÃO AOS BALANÇOS DE ENERGIA

Aula 13

Profa Ivana M. G. de Andrade


Calor e outras formas de energia

Existem várias formas de energia:


- Térmica, mecânica, cinética, potencial, elétrica, magnética,
química e nuclear → ENERGIA TOTAL (E) de um sistema

ENERGIA INTERNA (U) → soma de todas as energias relacionadas


com a estrutura molecular de um sistema e com o grau de
atividade molecular

Sistema Unidade de energia


Sistema internacional (SI) Joule (J) ou quilojoule (1 kJ = 1000 J)
Sistema inglês British thermal (Btu) – energia necessária para elevar
temperatura em 1°F de 1 lbm de água a 60°F.
1 Btu = 1,055056 kJ
Caloria (1 cal = 4,1868 kJ) – energia necessária para
aumentar em 1°C de 1 g de água a 14,5°C 2
Energia interna
Pode ser entendida como a soma das energias cinética e
potencial das moléculas.

i) Energia sensível ou calor sensível (associada à energia cinética):


o grau de agitação das moléculas está relacionado ao
aumento/diminuição da temperatura.
ii) Energia latente ou calor latente (associada às ligações
intermoleculares): envolve mudança de fase, pois as ligações
intermoleculares podem ser rompidas, o que mudará a fase do
sistema. Ex.: líquido passando para gás.

iii) Energia química: envolve a ligações interatômicas

vi) Energia nuclear: envolve a ligações dentro do núcleo de um


átomo
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Calor específico

O calor específico é definido como a energia necessária para


aumentar a temperatura em um grau de uma unidade de massa
de dada substância.

Dois tipos de calor específico:

-cv: calor específico a volume constante


-cp: calor específico a pressão constante

Estão relacionados por: c p = cv + R

-R: constante universal dos gases


- Unidades de calor específico: kJ/kg°C = kJ/kgK

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Calor específico
Os calores específicos a volume constante (cv) e a pressão
constante (cp) são constantes do gás.

du = cvΔT dh = cpΔT

Integrando-se a expressão anterior e ao considerar cv =


constante:
u2 – u1 = cv(T2 – T1) ou ΔU = cvΔT

De modo semelhante para cp:

ΔH = cpΔT
Calor específico

Líquidos e gases são considerados substâncias incompressíveis


(volume específico não varia com T e p). Neste caso, cv e cp são
iguais: cv=cp=c.

• Variação da energia interna para substâncias


incompressíveis (em Joules):

U = mcmed T

- cmed: é o calor específico médio calculado no intervalo de


temperatura considerado

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Alimento Calor específico (kJ/kgK)

Hambúrguer 3,35
Peixe enlatado 3,35
Suco de laranja 3,882
Leite em pó desnatado 1,520
Leite integral 3,935
Clara de ovo 2,449

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Transferência de energia
A energia pode ser transferida de ou para uma massa:
- Transferência de calor Q → força motriz é a diferença de T
- Trabalho W → quando não for calor

O calor (Q), pode ser determinado se a capacidade térmica for


conhecida: T2

Q = m  cdT
- (J), em que c é o calor
T1
específico
t
Q =  Q dt
- A taxa de transferência de calor 0
é a quantidade de calor Q = cons tan te
transferido por unidade de tempo: (J/s - Watts)
Q = Q t
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Transferência de energia

A taxa de transferência de calor por unidade de área normal à


direção da transferência de calor é o fluxo de calor:

Q
q = (W/m2)
A

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Exemplo 1

Uma esfera de cobre de 10 cm de diâmetro deve ser aquecida de


100°C até a temperatura média de 150°C em 30 min. Admitindo
que os valores médios da densidade e do calor específico da esfera
são 8950 kg/m3 e 0,395 kJ/kg°C, respectivamente, determine:

(a) a quantidade total de calor transferido para a esfera de cobre;


(b) a taxa média do calor transferido para a esfera;
(c) o fluxo médio de calor.

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Exemplo 1

Solução:
Consideração: os valores de densidade e cp constantes
(a) a quantidade total de calor transferido para a esfera de cobre;

Aplicando um balanço de energia:

Energia transferida para o sistema = aumento de energia do sistema

Q = U = mcmed T
m
m=? =
V
4 
m = V = (8950kg / m )  (0,05m) 3 
3

3 
m = 4,686kg 11
Exemplo 1

(a) a quantidade total de calor transferido para a esfera de cobre;

Logo: Q = (4,686kg )(0,395kJ / kg C )(150 − 100)C


Q = 92,6kJ

(b) a taxa média de do calor transferido para a esfera;

 Q 92,6kJ
Qmed = =
t 1800 s
Q med = 0,0514kJ / s = 51,4W

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Exemplo 1

Solução:
Consideração: os valores de densidade e cp constantes
(c) o fluxo médio de calor.
Q med Q med 51,4W
q med = = =
A D 2
 (0,1m 2 )
q med = 1636W / m 2

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Trabalho
O trabalho (W) está relacionado a todas as interações entre o
sistema e a sua vizinhança que não resulta da diferença de
temperatura.

Imagine que um objeto se desloca ds a partir de uma força F aplicada:

- O trabalho realizado pelo sistema será calculado por:

- Considerando que o deslocamento ocorre de


1 para 2:

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Trabalho associado ao caso cilindro-pistão
O sistema cilindro-pistão é submetido ao aquecimento e o gás
contido no cilindro se expande à P cte, deslocando o pistão.

Neste caso, o trabalho é realizado pela expansão do gás, isto é, pelo


sistema.

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Exemplo 2

Expansão de um gás ideal a 300 K e 200 kPa.

Estado 1 Estado 2

V1 =0,1
V2 =0,2 m3
m3
gás
gás

Caminho A: expansão ocorre a pressão cte (P=200 kPa)


2 2
𝑊 = − න 𝑃𝑑𝑉 = −𝑃 න 𝑑𝑉 = 𝑃(𝑉1 − 𝑉2 )
1 1
= 200𝑥10 (𝑃𝑎)𝑥(0,1 − 0,2)(𝑚3 )
3 = −20𝑘𝑃𝑎. 𝑚3 = −20 𝑘𝐽
1𝑁
1𝑃𝑎 =
𝑚3 1𝐽
1𝑃𝑎 =
1𝐽 𝑚3
1𝑁 = 16
𝑚
Exemplo 2
Expansão de um gás ideal a 300 K e 200 kPa.
Estado 1 Estado 2

V1 =0,1
V2 =0,2 m3
m3
gás
gás

Caminho B: expansão ocorre a Temperatura cte (300 K)


2
𝑛𝑅𝑇 𝑉1
𝑊 = −න 𝑑𝑉 = 𝑛. 𝑅. 𝑇. 𝑙𝑛 = 0,00892.8,314.300. ln 0,5
1 𝑉 𝑉2
= −15,42𝑘𝐽

𝑃. 𝑉 200𝑘𝑃𝑎. 0,1𝑚3
𝑛= =
𝑅. 𝑇 8,314 𝑘𝑃𝑎. 𝑚3 . 𝑘𝑔𝑚𝑜𝑙 −1 . 𝐾 −1 300𝐾
= 0,00802 𝑘𝑔𝑚𝑜𝑙 17
Exemplo 2

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Trabalho associado ao caso cilindro-pistão
O pistão se move à uma distância ds, então, a quantidade diferencial de
trabalho feito pelo sistema será:

Mas P = F/A

Se o deslocamento se dá de 1 para 2:

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Trabalho associado à mudança de velocidade
Se um objeto está movendo a uma velocidade u1 e se deseja determiner o
trabalho para uma mudança de velocidade u2, a força F é determinada por:

A aceleração é: E a velocidade para


ds no tempo dt:

Pela definição de trabalho:

Com as devidas substituições:

Integrando:

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Entalpia

É o total de energia liberada ou absorvida em uma transformação de


um dado sistema.

𝐻 = 𝑈 + 𝑃𝑉
representa a energia de fluxo do fluido,
que é a energia necessária para
empurrar um fluido e manter o fluxo.

Em que: H é a entalpia (kJ), U é a energia interna (kJ), P é a pressão


(kPa) é o volume (m3)

A variação de entalpia será:

∆ 𝐻 = ∆𝑈 + ∆(𝑃𝑉)
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Balanço de energia

A PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA estabelece que a energia


não pode ser criada nem destruída durante um processo, mas
apenas mudar de forma.

Balanço de energia: a energia pode ser transferida para ou do


sistema por meio de calor e trabalho

Eacu = Eent − E sai


Ou:

Eent Eacu Esai


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Balanço de energia

O energia total do sistema é composta pela energia interna,


energia cinética e energia potencial:

𝐸𝑖 + 𝐸𝑐 + 𝐸𝑝 = 𝑄 − 𝑊

- Para a expansão do gás num cilindro, a equação completa do


trabalho será:

𝑊 = න 𝑃𝑑𝑉 − 𝐸𝑐 − 𝐸𝑝 − 𝐸𝑓

Em que Ef é energia de fricção.

Rearranjando:
𝑊 + 𝐸𝑓 = න 𝑃𝑑𝑉 − 𝐸𝑐 − 𝐸𝑝
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Balanço de energia

Substituindo W na equação do balanço de energia e eliminando os


termos de W, ΔEc e ΔEp:

- Pela teorema elementar do cálculo:

Integrando:

Logo:

Substituindo no BE:
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Balanço de energia
Observando que Δ para energia interna significa final menos energia
inicial no tempo, e Δ para outros termos significa fora menos dentro:

Pela definição de entalpia (H):

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Balanço de energia

Para um processo de aquecimento à pressão constante (comum em


alimentos) a fricção é zero, assim como a integral. Então:

Ou:

Neste caso, a variação da entalpia é chamada de QUANTIDADE DE


CALOR.

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Balanço de energia para sistemas fechados

Em sistemas fechados, a massa não varia

Na prática, consiste apenas da energia interna (U), principalmente


para sistemas estacionários, já que a velocidade e a elevação não
variam.
𝐸𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎 − 𝐸𝑠𝑎𝑖 = ∆𝑈 = 𝑚𝑐𝑣 ∆𝑇 (𝐽)

Quando não há trabalho, mas apenas calor, a equação fica reduzida


à:

𝑄 = 𝑚𝑐𝑣 ∆𝑇 (𝐽)

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Balanço de energia para sistemas fechados

Procedimento de cálculo pode ser usado para determinar a


mudança na entalpia:

1) Processo envolvendo aquecimento/resfriamento sensível:

Aquecimento de uma temperatura T1 para T2

cp é a capacidade calorífica (J/[kg C]), m é a massa, T é a temperatura, e


1 e 2 são os valores incial e final, respectivamente.

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Balanço de energia para sistemas fechados

Procedimento de cálculo pode ser usado para determinar a


mudança na entalpia:

2) Processo onde aquecimento/resfriamento envolve uma


mudança de fase:

Processos de aquecimento/resfriamento envolvendo calor latente podem


ocorrer onde a temperatura permanece constante enquanto o calor latente
é adicionado ou removido (p. ex. quando o gelo derrete – calor latente de
fusão).

Calor latente de fusão da água em 0°C é 333,2 kJ/kg.

Calor latente de vaporização da água → varia com temperatura e pressão.

A 100°C, o calor latente de vaporização da


água é 2257,06 kJ/kg.
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Balanço de energia no estado estacionário
0

Eacu = Eent − E sai

𝐸𝑒𝑛𝑡 = 𝐸𝑠𝑎𝑖

Eent Eacu Esai

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Exercício 3
Calcule ΔU e ΔH para 1 kg de água, quando ele é vaporizado na
temperatura constante de 100°C e sob uma pressão constante de 101,33
kPa. Nessas condições, os volumes específicos da água líquida e do vapor
d’água são 0,00104 e 1,673 m3kg-1, respectivamente. Para essa mudança,
uma quantidade de 2.256,9 kJ de calor é adicionada à água.

Suponhamos que a massa de água de 1 kg está no interior de um cilindro


provido de um êmbolo sem atrito, que exerce uma pressão constante de
101,33 kPa.

A medida que o calor é adicionado, a água evapora, expandindo-se do seu


volume final para o inicial.

Logo: ∆H = Q = 2256,9 kJ
∆U = ∆𝐻 − ∆ 𝑃𝑉 = ∆𝐻 − 𝑃∆𝑉
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Exercício 3

Avaliando a última parcela:

𝑃∆𝑉 = 101,33 𝑘𝑃𝑎. 1,673 − 0,001 𝑚3

𝑃∆𝑉 = 169,4 𝑘𝑃𝑎. 𝑚3 = 169,4𝑘𝑁𝑚−2 𝑚3


= 169,4 𝑘𝐽
Então:
∆𝑈 = 2256,9 − 169,4 = 2087,5 𝑘𝐽

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