Gases ideais.
Daremos enfoque ao estudo dos gases ideais. Esses gases não são reais, mas devido à
complexidade das propriedades em um caso realístico optamos por começar com este
caso mais simples. Gases assumem papel importante no tratamento de processos
termodinâmicos. Aqui seguiremos as seguintes hipóteses:
- O número de moléculas é ‘grande’.
- O gás é diluído, isto é, tende ocupar os espaços.
- As moléculas são tratadas como objetos pontuais.
- As moléculas obedecem às leis de Newton.
- As moléculas se movem aleatoriamente.
- As moléculas não interagem, exceto quando colidem. Supomos as colisões elásticas.
Um mol é definido como 6,02x10^23 de partículas, que podem ser elétrons, átomos,
moléculas, etc. Nós dizemos que 12 g de carbono é um mol de carbono. O carbono tem 6
prótons e 6 nêutrons. A massa atômica do carbono é 12. Isto significa que 12 g de
carbono contêm 6,02 1023 átomos, chamado número de Avogadro. Moléculas são
agrupamentos de átomos, a massa molecular é a soma das massas atômicas da molécula.
Experimentalmente é encontrado que a pressão, volume e temperatura absoluta (K) de
um gás ideal obedecem aproximadamente a seguinte equação de estado, chamada lei dos
gases ideais:
1
pV nRT Lei dos gases ideais
Onde é p a pressão absoluta (não manométrica), n é o número de moles do gás confinado
e T é a temperatura em kelvins. R é a constante dos gases ideais.
R = 8,31J / mol.K
Calores específicos molares de um gás ideal
Se tivermos certa massa m de uma substância, podemos tentar relacionar qual a variação
de temperatura ΔT que sofrerá essa massa, quando ela absorver uma quantidade de calor
ΔQ. Existe uma relação, que tem a forma:
ΔQ = mCΔT
Onde chamamos a grandeza C de calor específico. Quando lidamos com gases, surge a
necessidade de definir uma relação mais específica que leve em contas as especificidades
deste fluido. Definimos o calor específico a volume constante para relacionar variação de
temperatura ΔT que sofrerá um gás, quando ele absorver uma quantidade de calor ΔQ; na
situação em que o recipiente que contém o gás é mantido a volume constante. De maneira
equivalente, definimos o calor específico à pressão constante para relacionar variação de
temperatura ΔT que sofrerá um gás, quando ele absorver uma quantidade de calor ΔQ; na
situação em que o recipiente que contém o gás é mantido a pressão constante.
Vamos, inicialmente, supor que o gás ideal é um gás monoatômico (formado por átomos
isolados e não por moléculas), como o hélio, o neônio e o argônio. Vamos supor também
que a energia interna U do gás é simplesmente a soma das energias cinéticas de translação
dos átomos. (De acordo com a teoria quântica, átomos isolados não possuem energia
cinética de rotação).
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U = nRT
2
“A energia interna U de um gás ideal é função apenas da temperatura do gás; não depende de outras
variáveis.”
A partir desta equação podemos calcular o calor específico molar de um gás ideal. Na verdade,
vamos deduzir duas expressões, uma para o caso em que o volume do gás permanece constante e
outra para o caso em que a pressão permanece constante. Os símbolos usados para esses dois calores
específicos molares são CV e CP, respectivamente. (Por tradição, a letra C maiúscula é usada em
ambos os casos, embora CV e CP sejam tipos de calor específico e não de capacidade térmica.)
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Calor Específico Molar a Volume Constante
(a) A temperatura de um gás ideal é aumentada de T para T + ΔT em um processo a volume constante. É
adicionado calor, mas nenhum trabalho é realizado. (b) O processo em um diagrama p-V.
A figura (a) mostra n mols de um gás ideal a uma pressão p e a uma temperatura T, confinados em
um cilindro de volume V fixo. Esse estado inicial i do gás está assinalado no diagrama p-V da Figura
(b). Suponha que adicionamos uma pequena quantidade de energia Q ao gás na forma de calor,
aumentando lentamente a temperatura do recipiente. A temperatura do gás aumenta para T + ΔT e a
pressão aumenta para p + Δp, levando o gás ao estado final f. Nesse tipo de experimento, observamos
que o calor Q está relacionado à variação de temperatura ΔT pela equação.
Q=nCvΔT
Em que Cv é uma constante chamada calor específico molar a volume constante. Substituindo essa
expressão de Q na primeira lei da termodinâmica, dada pela equação: (ΔU = Q – W), obtemos:
ΔU =nCvΔT −W
Como o volume do recipiente é constante, o gás3 não pode se expandir; portanto, não pode realizar
trabalho. Assim, W = 0 e a equação nos dá:
ΔU
Cv=
nΔT
3
ΔU = nRΔT
2
ΔU
Substituindo esse resultado na equação Cv= obtemos:
nΔT
3 1
Cv= R=12,5
2 mol∗k
Como se pode ver na tabela essa previsão da teoria cinética (para gases ideais) concorda muito bem
com os resultados experimentais para gases monoatômicos reais, o caso que estamos considerando.
Os valores (teóricos e experimentais) de CV para gases diatômicos (com moléculas de dois átomos)
e gases poliatômicos (com moléculas de mais de dois átomos) são maiores que para gases
monoatômicos.
3
Podemos agora generalizar a U = nRT para a energia interna de qualquer gás ideal substituindo
2
3R/2 por CV para obter: 4
U =nCvT
(para qualquer gás ideal)
Esta equação se aplica não só a um gás ideal monoatômico mas também a gases diatômicos e
poliatômicos, desde que seja usado o valor correto de Cv. A energia interna do gás depende da
temperatura, mas não da pressão ou da densidade.
ΔU =nCvΔT
(gás ideal, qualquer processo)
W =pΔV =nRΔT
Essa previsão da teoria cinética dos gases está de acordo com os resultados
experimentais, não só para gases monoatômicos, mas para gases em geral, desde que
estejam suficientemente rarefeitos para poderem ser tratados como ideais.
Valores relativos de Q para um gás monoatômico (lado esquerdo) e para um gás diatômico (lado direito)
submetidos a processos a pressão constante e a volume constante. A transferência de energia para trabalho
W e energia interna ΔU está indicada esquematicamente.
REFERÊNCIA