Você está na página 1de 59

Física II

2º Semestre de 2012

Instituto de Física - Universidade de São Paulo

Professor: Valdir Guimarães

E-mail: valdirg@if.usp.br
Fone: 3091-7104
Aula – 2

Calor e

Primeira Lei da termodinâmica


Pode-se resfriar uma limonada em um jarro colocando-se gelo.
Isso ocorre porque é transferido calor da limonada para o gelo
devido a diferença de temperatura.
Porque na praia de manha a areia está quente e a água fria e
a no final da tarde a água está quente e a areia fria ?
Calor

Calor é a energia que é transferida de um sistema


a outro devido a uma diferença de temperatura.

Galileu e Newton Movimento molecular

Outros como Lavoisier: Calórico = fluído invisível que fluía


de um corpo a outro, não podem ser criado e nem
destruído (conservação da energia térmica).

James Joule (1840) verificou que calor é


uma forma de energia (energia térmica) e o
que se conserva é a energia de forma geral.
Calor específico e
capacidade calorífica
Capacidade calorífica e calor específico

A quantidade de energia térmica Q necessária para elevar


a temperatura de um sistema é proporcional a variação da
temperatura e a massa.
Não vale para
Q  CT  mcT mudança de fase

Capacidade calorífica Calor específico


Historicamente a unidade para a energia térmica é a caloria.
Caloria = quantidade de energia necessária para elevar de um
grau Celsius a temperatura de um grama de água.

cagua  1cal /( g0 C )  1kcal /( kg0 C )

A “caloria” utilizada na medida do equivalente


energético dos alimentos é na verdade a kcal.
calor específico de alguns sólidos e líquidos
Porque na praia de manha a areia está quente e a água fria e
a no final da tarde a água está quente e a areia fria ?

Resposta: calor específico da areia é maior que


da água e se aquece e se esfria mais rápido.
Exemplo

Que quantidade de calor é necessária para elevar de 20


graus Celsius a temperatura de 3 kg de cobre ?

Q  mcT
Q  (3kg)(0.386kJ / kg  K )(20K )  23,2kJ
Onde foi usado que: T  200 C  20K
Calor específico do cobre ccobre  (0.386 J / g  K )
Como medir experimentalmente o calor específico de um corpo?

Calorimetria
Calorimetria
A calorimetria é a parte da física que estuda os fenômenos
decorrentes da transferência dessa forma de energia chamada calor.

Determinação do calor específico de um corpo:


1. Aquecer o corpo a uma temperatura conhecida.

2.Transfir o corpo quente para um banho de água, com massa e


temperatura iniciais conhecidas (calorímetro).

3. Deixar o sistema (calorímetro+corpo) entrar em equilíbrio térmico


e medir a temperatura final.

Ao entrarem em contato (corpo+água) dentro do calorímetro, o


calor que sai do corpo deve ser igual ao calor que a água recebe.
Qsai  mc(Tic  T f )
m: a massa do corpo
c: calor específico do corpo.
Tic: Temperatura inicial do corpo ao ser colocado no calorímetro.
Tf: Temperatura final depois do equilíbrio.

Qent  ma ca (T f  Tia )  CC (T f  Tia )

ma: massa da água


ca: calor específico da água.
Tia: Temperatura inicial da água (calorímetro).
Tf: Temperatura final depois do equilibrio.
CC=mccc: Capacidade calorífica do calorímetro

Qsai  Qent
Exemplo
Para medir o calor específico do chumbo, uma pessoa aqueceu 600g de
chumbo até a temperatura de 100 graus Celsius e depois colocou esse
chumbo em um calorímetro de alumínio com 200g de massa, contendo
500g de água, inicialmente a uma temperatura de 17,3 graus Celsius.
Temperatura final do conjunto foi 20 graus celsius.
Calor específico do recipiente de alumínio é 0,900 kJ/kg.K e da água é
4,18kJ/kg.K
Calor cedido pelo chumbo: Qpb  m pbc pb | (Tpb |
Calor absorvido pela água: Qa  ma ca Ta
Calor absorvido pelo recipiente: Qc  mc cc Tc

| Tpb || T f  Tpb || 20  100 | 800C


Ta  T f  Ta  20,0  17,3  2,70C
Tc  Ta  2,70C
Igualando-se os calores recebidos e absorvidos:

Qcedido  Qrecebido
Qpb  Qa  Qc

m pbc pb | (Tpb | ma ca Ta  mc cc Tc


(ma ca  mc cc )Ta
c pb 
m pb | Tpb |

[(0,5kg)(4,18kJ / kg.K )  (0,2kg)(0,900kJ / kg.K )](2,7 K )


c pb 
(0,6kg)(80 K )
 0,128kJ / kg.K
Mudança de fase e calor latente
Mudança de fase e calor latente
Quando fornecemos calor a um cubo de gelo a temperatura
não se altera. O gelo se derrete (fusão do gelo).
Fusão = sólido para o líquido
Solidificação = líquido para sólido
Vaporização = líquido para vapor
Condensação = vapor ou gás para líquido
Sublimação = sólido diretamente para vapor
Outras como sólido para cristal como o grafite-diameante

Q f  mL f

Qv  mLv

Não ocorre variação


da temperatura
Ponto de fusão, calor latente e ponto vaporização
de alguns elementos
Curva de mudança de fase da água
vapor
Líquido e vapor

Líquido e
gelo gelo
Experiência de Joule a primeira
lei da termodinâmica
Experiência de Joule – equivalente mecânico
Podemos aumentar a temperatura de um sistema
fornecendo calor ou realizando trabalho sobre o sistema.

Joule constatou que era necessários 4,184 J de energia


para elevar de 10C a temperatura de 1g de água.

1cal = 4,184 J equivalente mecânico


Primeira lei da termodinâmica
Podemos aumentar a temperatura de um sistema
fornecendo calor ou realizando trabalho sobre o sistema.

A variação da energia interna é igual calor recebido mais


trabalho realizado.

Calor Trabalho
entrando entrando

U  Qent  Wrecebido
Energia Interna de um gás ideal
A energia cinética de translação K das moléculas de um gás
ideal está relacionada com a temperatura através da equação:

K  N ( 12 mv2 ) med  N 32 kT  32 NkT  32 nRT

Se a energia interna de um gás for apenas a energia cinética


de translação ela depende apenas da temperatura.

U  K  32 nRT
Não depende da pressão e nem do volume.

Se tivermos rotação a energia interna vai ser maior (1/2kT por grau de
liberdade) mas ainda vai depender apenas da temperatura.

Temperatura de um gás real no entanto pode depender da pressão ou


volume (pequena atração entre as moléculas).
Experiência de Joule
O sistema é termicamente isolado.
Não há troca de calor e nem de trabalho.
Expansão livre: ao abrir a torneira o gás passa espontaneamente
para o outro compartimento sem realizar trabalho.
Se houver força atrativa entre as moléculas a energia potencial deve
aumentar e a energia cinética diminuir reduzindo a temperatura.

Joule verificou que para baixa massa específica (pouco gás)


a temperatura não variou e que portanto a energia interna
depende apenas da temperatura.
Trabalho e o diagrama PV
para um gás
Processo quase-estático
PV=nRT. Alterando-se o volume altera-se também a pressão e a
temperatura.
Se o pistão for empurrado de forma abrupta e repentina temos que
esperar um certo tempo para o equilíbrio

Porém se o pistão for movido lentamente, em pequenas


etapas, o equilíbrio é alcançado em cada movimento. Pode-
se então comprimir ou expandir o gás sem que ele fique
longe de um estado de equilíbrio (processo quase-estático).
Trabalho realizado pelo ou sobre o sistema
Um gás a alta pressão se expande num processo quase-estático.
O trabalho realizado pelo gás sobre o pistão é:

dWsis  Fx dx  PAdx  PdV


Durante a expansão quase-estática, o pistão exerce a força PA
sobre o gás no sentido oposto da força do gás sobre o pistão.

O trabalho feito pelo pistão sobre o gás é igual ao trabalho feito


pelo gás sobre o pistão mas com sinal negativo.

dWpistão  dWgás   PdV


O trabalho realizado sobre o gás durante a compressão
ou expansão de um volume Vi a um volume Vf é:
Vf

Wsobre    PdV
Vi
Trabalho realizado sobre o gás
Vf

Wsobre    PdV
Vi
Expansão: dV é positivo o gás realiza trabalho sobre o pistão e W
é negativo.
Compressão: dV é negativo o trabalho é realizado sobre o sistema
e W é positivo.
Calor Trabalho
entrando entrando

U  Qent  Wrecebido

Para calcular o trabalho é preciso saber como a pressão


varia com o volume. Para tanto usamos diagramas PV
Diagrama PV (compressão isobárica)
Estados de um gás podem ser representados por um diagrama PV.
Compressão a pressão constante = isobárica

Vf Vf

Wsobre    PdV   P  dV   P(V f  Vi )   PV


Vi Vi
Conversão L.atm para joules
Wsobre  (área)
1L  atm  (103 m3 )(101,3 103 N / m2  101,3J
Diagrama PV
Diferentes caminhos no diagrama PV para ir de um estado inicial
(Pi,Vi) para o estado final (Pf,Vf).
Esses estados foram escolhidos para que tenham a mesma
temperatura.
PiVi  Pf V f  nRT

Caminho A e Caminho B = compressão isobárica


Caminho C = compressão isotérmica
2

1) Linha vertical: Aquecido a volume constante.


2) Linha Horizontal: Resfriado a pressão constante
(compressão isobárica).
Vf

W1    PdV   PV  0
Vi

W2 | área | Pf  | V f  Vi |  Pf  (V f  Vi )
Como Vf<Vi então W2>0 (trabalho positivo)
2

1) Linha horizontal: resfriado a pressão constante


(compressão isobárica).
2) Linha vertical: aquecido a volume constante.
Vf

W1    PdV   P(V f  Vi ) | área | W2  0


Vi

Note que W1 desse exemplo é menor que W2 do exemplo anterior.


Compressão isotérmica
Temperatura fica constante o tempo todo.

Vf
nRT
W    PdV com PV  nRT P(V ) 
Vi V
Vf Vf
nRT dV Vf V
W   dV  nRT   nRT ln( )  nRT ln( i )
Vi
V Vi
V Vi Vf
Aplicação da primeira lei da termodinâmica

U  Qent  Wrecebido

Como nos três exemplos a temperatura inicial é igual a


final e portanto não há variação da energia interna.

U  0

Portanto, se o trabalho foi diferente para os


diferentes processos o calor também o será.
Processo cíclico de um gás ideal

No estado inicial “A” o gás possui volume 1L e pressão de 2 atm.


A->B = expansão pressão constante.
B->C = resfriado a volume constante.
C->D = comprimido a pressão constante
D->A = aquecido a volume constante.

Vamos calcular o trabalho total, calor total recebido.


A->B = expansão isobárica.
Expansão a pressão constante o trabalho realizado sobre
o gás é negativo e igual a área sobre a curva.

VB VB

WAB    PdV   P  dV   P(VB  VA )  (2atm)(2,5L  1L)  3L  atm


VA VA
101,3J
Convertendo L.atm para joules WAB  3L  atm   304 J
1L  atm
C->D = compressão isobárica.
compressão a pressão constante o trabalho realizado
sobre o gás é positivo e igual a área sobre a curva.

VD VD

WCD    PdV   P  dV   P(VD  VC )  (1atm)(1L  2,5L)  1,5L  atm  152 J


VC VC
B->C = o gás é resfriado a volume constante.
O trabalho é portanto nulo.
D->A = o gás é aquecido a volume constante.
O trabalho também é nulo.

WBC  0

WDA  0

Wtotal  WAB  WBC  WCD  WDA


 (304 J )  0  152 J  0  152 J
Vale sempre para
processos cíclicos.

Como o gás retorna ao seu estado original


a temperatura inicial e final é a mesma e U  0
a variação da energia interna é nula

O calor trocado é dado pela primeira lei da termodinâmica


U  Qent  Wsobre

Qent  U  Wsobre  0  (152 J )  152 J


Capacidade calorífica dos gases
Capacidade calorífica e calor específico

A quantidade de energia térmica Q necessária para elevar


a temperatura de um sistema é proporcional a variação da
temperatura e a massa.

Q  CT  mcT

Capacidade calorífica Calor específico


Aquecimento a pressão constante.
O gás se expande e realiza Aquecimento a volume constante.
trabalho. O calor é usado parte O gás não se expande e o trabalho
para aumentar a energia interna e é nulo. O calor é usado apenas
parte para realizar trabalho. Mais para aumentar a energia interna.
calor para uma mesma variação de
temperatura
QV  CV T
Qp  CP T

Portanto para um mesmo


calor e mesma variação
de temperatura:

CP  CV
Vamos calcular CP  CV  ?
O calor para aquecer a volume constante é dado por:

QV  CV T
A volume constante o trabalho é zero.

U  QV  W U  QV  CV T

Para pequenas variações de temperatura.

dU
dU  CV dT CV 
dT
O calor para aquecer a pressão constante é dado por:

QP  CP T
A pressão constante o gás se expande e realiza trabalho.

U  QP  W  QP  PV U  CP T  PV

CP T  U  PV
CP dT  dU  PdV Usando que
dU  CV dT
CP dT  CV dT  nRdT PV  nRT
PdV  VdP  nRdT
CP  CV  nR dP=0 para pressão constante
A energia cinética de translação K das moléculas de um gás
ideal está relacionada com a temperatura através da equação:

K  N ( 12 mv2 ) med  N 32 kT  32 NkT  32 nRT

Se a energia interna de um gás for apenas a energia cinética


de translação ela depende apenas da temperatura.

U  K  32 nRT

dU 3 CP  CV  nR CP  52 nR
CV   2 nR
dT
CV  32 nR CP  52 nR CV  32 R CP  52 R
Equipartição da energia
A energia cinética de translação K das moléculas de um gás
ideal está relacionada com a temperatura através da equação:

K  N ( 12 mv2 ) med  N 32 kT  32 NkT  32 nRT

Se a energia interna de um gás for apenas a energia cinética


de translação ela depende apenas da temperatura.

U  K  32 nRT

dU 3 CP  CV  nR CP  52 nR
CV   2 nR
dT
Teorema da equipartição da energia

A energia interna de n moles de um gás deve ser igual a


1/2nRT para cada grau de liberdade da molécula do gás.

K  N ( 12 mv2 ) med  N ( 12 mvx2  12 mvy2  12 mvz2 )  3  12 nRT  32 nRT

U  K  32 nRT
Capacidade calorífica para um gás monoatômico
(apenas translação)

dU 3
CV   2 nR
dT

Gás monoatômico não possui energia de rotação


Capacidade calorífica para um gás diatômico O2, H2 N2
(translação+rotação)

Para uma molécula diatômica temos energia cinética


de translação K nas direções x, y e z mas também
rotação nos eixos x e y (mas não no eixo z).

U  N ( 12 mvx2  12 mvy2  12 mvz2  12 I xx2  12 I y y2 )  5  12 nRT  52 nRT

dU 5
CV   2 nR
dT
Capacidade calorífica para um sólido
(translação + vibração)
Observou-se que para a maioria dos sólidos a capacidade
calorífica molar é igual a 3R. (Lei de Dulong-Petit).

U  N ( 12 mvx2  12 mvy2  12 mvz2  12 kx2  12 ky2  12 ky2 )


 6  12 nRT  3nRT

dU
CV   3nR
dT
Capacidade calorífica depende ainda da temperatura
Um sistema é constituído de 0.32 mol de um gás monoatômico.
A->B o gás é aquecido a pressão constante.
B->C o gás é resfriado a volume constante.
C->A o gás sobre compressão isotérmica.
a) Quais as temperaturas nos pontos A B e C?
b) Calcule W, Q e energia interna para cada processo e para o
ciclo.
Compressão adiabática quase-
estática de um gás.
Processo adiabático

Num processo adiabático não ocorre troca térmica entre o


sistema e o exterior. Sistema termicamente isolado, ou
quando o processo ocorre muito rapidamente.

Como não ocorre troca de calor


o trabalho realizado sobre o gás
é usado para aumentar a
temperatura.

U  Q  W

0
Qual a expressão para curva P(V) num processo
adiabático?

U  Qent  Wsobre

Para uma variação muito pequena:


dU  dQent  dWsobre
CV dT  0  ( PdV )
PV  nRT
Considerando a lei geral dos gases ideis. nRT
P
V
dV
CV dT  nRT
V
dT nR dV
Rearranjando:  0
T CV V
Integrando
dT nR dV nR
 0 ln T  ln V  const
T CV V CV
nR nR nR
ln T  ln V  ln T  ln V CV
 ln TV CV  const
CV

nR
TV CV
 const
CP  CV  nR nR CP  CV CP
Usando que :   1   1
CP  CV  nR CV CV CV
CP
com 
CV

 1 PV  1 1
TV  V  PV   const 
PV  const
nR nR
Numa expansão ou compressão adiabática
Trabalho num processo adiabático

dU  dQent  dWsobre
ou dWsobre  dU  dQent
dU  CV dT
Sabendo-se que:
dQent  0

dWsobre  CV dT

Wsobre   Wsobre   CV dT  CV T  CV (T f  Ti )

Pf V fPiVi CV
Wsobre  CV (  ) ( Pf V f  PiVi )
nR nR nR
( Pf V f  PiVi ) CP
Wsobre  com 
 1 CV

Você também pode gostar