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Instituto Tecnológico de Aeronáutica

Divisão de Engenharia Aeronáutica e Aeroespacial

LABORÁTORIO DE EST - 25
ESTRUTURAS AEROESPACIAIS II
2ª EXPERIÊNCIA

Alunos:
Isabel Alencar Tavares Colares Brasil
Maria Beatriz Fiorin Sousa Barros

Data do laboratório: 30/08/2023

2023
1 Introdução
A idealização estrutural de uma viga caixão é um impor-
tante conceito que simplifica a análise e o projeto de vigas com
geometria complexa. Uma viga caixão é caracterizada por sua
seção transversal fechada, que se assemelha a uma caixa, pro-
porcionando uma série de vantagens em termos de resistência
e estabilidade. Para facilitar a análise e o projeto de vigas
caixão, algumas hipóteses simplificadoras básicas são frequen-
temente adotadas.
As hipóteses simplificadoras básicas envolvem a consideração
de que o material da viga é homogêneo e isotrópico, ou seja,
suas propriedades mecânicas são uniformes e iguais em todas as
direções. Além disso, assume-se que as cargas aplicadas à viga
são distribuı́das de forma uniforme ao longo do comprimento da
mesma. Essas simplificações permitem que os engenheiros rea-
lizem análises estruturais mais simplificadas. A figura 1 mostra
um exemplo de simplificação.

Figura 1: Exemplo de simplificação adotada pela idealização estrutural.

Na prática realizada foram consideradas idealizações estru-


turais a fim de determinar os esforços de cisalhamento e os es-
forços normais de uma viga caixão utilizando-se as hipóteses
simplificadoras acima. Dentre elas, a tensão normal é aplicada
nos reforços e a de cisalhamento nas paredes, a tensão normal
das paredes é transferido para os reforços e a tensão de cisalha-
mento é paralelo às bordas das paredes e uniforme na espessura.

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2 Objetivos
O experimento tem como objetivo medir empiricamente os
valores dos esforços de cisalhamento e das forças normais em
uma viga de seção fina fechada que está sujeita a flexão e torção,
e então contrastar esses resultados com duas referências: os
cálculos teóricos feitos considerando uma simplificação estrutu-
ral que não leva em conta os efeitos da restrição axial e os valores
numéricos obtidos através do método dos elementos finitos.

3 Materiais e equipamentos
Os materiais utilizados durante o experimento estão lista-
dos abaixo.

1. Viga de seção fechada de alumı́nio 2024-T3 com compri-


mento L de 1, 12 m e demais dimensões dadas pela Figura
2 (E = 10, 5 · 106 psi e G = 4 · 106 psi);
2. Viga de apoio;
3. 10 reforçadores cujas especificações presentes na Figura ??;
4. Um sistema de carregamento variável;
5. 32 extensômetros elétricos da fabricante Baldwin, modelo
FAE-25-12-S-13 de resistência 120 e gage factor de 2, 09;
6. Software de aquisição de dados;
7. Software FEMAP;

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Figura 2: Seção transversal da viga fechada.

Figura 3: Montagem do experimento.

4 Metodologia
O arranjo dos extesômetros elétricos utilizados, localizados
nas seções K e L, está representado na Figura 4 com letras de
A a J identificando cada conjunto.

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Figura 4: Posicionamento dos extensômetros elétricos.

4.1 Metodologia Experimental


O experimento em questão consistiu na aplicação de uma
carga P, posicionada na extremidade da viga conforme a Figura
5, de forma a atingir um valor máximo de, aproximadamente,
420 libras. A partir da leitura dos extensômetros elétricos li-
gados ao sistema de aquisição de dados, foi possı́vel obter as
deformações de cisalhamento e normais para uma carga de 400
libras.

Figura 5: Configuração do carregamento na prática.

As deformações médias de cisalhamento (γm ) forma obti-


das por meio dos grupos de extensômetros de A a F utilizando
a Equação 1 para cada par interno e externo e, em seguida,
calculando a média simples entre os valores.

4
γxy = ϵ+45 − ϵ−45 (1)
Agora, para as deformações médias normais (ϵm ) forma ob-
tidas por meio da média simples dos dados de cada par de ex-
tensômetros de G a J. Com isso, utilizou-se a Equação 2 para o
cálculo das tensões normais.

σz = E · ϵm (2)
Em seguida, foi possı́vel calcular as tensões de cisalhamento
pela Equação 3.

τm = G · γm (3)
O fluxo de cisalhamento é dado por uma relação entre a
tensão de cisalhamento e a espessuta t, a qual é descrita pela
Equação 4.

q = τm · t = G · γm · t (4)

4.2 Metodologia Teórica


Para fins de comparação, foi realizado uma ideialização es-
trutural do experimento utilizando o conceito de boom, despre-
zando os efeitos da restrição axial. Para isso, foram consideradas
algumas hipóteses simplificadoras, como: a espessura da viga en-
tre os booms é de cisalhamento é paralela às bordas das paredes
e uniforme na espessura t, como mostra na Figura 6.

Figura 6: Representação da idealização estrutural do boom.

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Na prática, tem-se que cada boom representa um reforçador
e o revestimento adjacente, totalizando 10 booms. Dessa forma,
a área concentrada B1 , indicada na Figura 6, pode ser calculada
pela Equação 5, sendo Ar,1 , a área do reforçador 1. Vale ressal-
tar, que durante os cálculos foi considerado os prolongamento
dos booms das extremidades.
 
bt σ2
B1 = Ar,1 + 2+ (5)
6 σ1
Considerando a razão σσ12 conhecida e proporcional às distâncias
y à linha neutra, a Equação 5 pode ser reescrita pela Equação
6.
 
bt y2
B1 = Ar,1 + 2+ (6)
6 y1
Para calcular o momento de inércia (Ixx ) utiliza-se das áreas
concentradas dos n booms, como mostra a Equação 7.
n
X
Ixx = Br yr2 (7)
r=1
Assim, obtém-se a tensão normal por meio da Equação 8,
em que Mx é o momento fletor.

Mx y
σz = ± (8)
Ixx
Como a carga aplicada não age no centro de esforço cortante
(CEC), o fluxo de cisalhamento (q) pode ser dado pelo efeito da
força cortante. Assim, calculou-se o fluxo de cisalhamento em
cada espaço entre os booms pela Equação 9.
n
P X
qs + q0 = Br yr (9)
Ixx r=1

6
Por fim, para com a obtenção do fluxo de cisalhamento
pode-se obter a tensão de cisalhamento pela Equação 10.
qs
τ= (10)
t

4.3 Metodologia Numérica


Para fins de comparação entre os modelos acima, também
foi realizada uma análise numérica do experimento. Nesse sen-
tido, utilizou-se o software FEMAP para a confecção de um
modelo similar ao de estudo por meio do método dos elementos
finitos conforme as figuras 7 e 8. O tipo de elemento adotado
para o revestimento foi plate e para os reforçadores foi utili-
zado beam. Assim, o modelo foi analisado, o que possibilitou a
determinação das tensões de cisalhamento e tensões normais.

Figura 7: Modelo construı́do no FEMAP.

7
Figura 8: Modelo construı́do no FEMAP com nervuras e reforçadores à mos-
tra.

5 Resultados
5.1 Análise Experimental
Os gráficos de deformações normais e de deformações de
cisalhamento, com as curvas de carga por deformação média de
cada grupo de extensômetros, estão representadas nas Figuras
9 e 10, respectivamente.

8
Figura 9: Curva de deformação média de cisalhamento versus a carga apli-
cada.

Figura 10: Curva de deformação média normal versus a carga aplicada.

9
Para o cálculo experimental, utilizou-se as leituras realiza-
das pelo sistema de aquisição de dados relativas a uma carga
de 402, 35 lb. Desse modo, obteve os valores de tensão e fluxo
para cada grupo, utilizando a metodologia descrita, o qual está
representada nas Tabelas 1 e 2.

Tabela 1: Valores das deformações, tensões e fluxo de cisalhamento.


Grupo Deformação média(µm/m) Tensão de cisalhamento (M P a) Fluxo de cisalhamento (N/mm)
A 270 7,45 15,34
B 269,52 7,43 15,31
C 559,53 15,43 12,50
D 464,07 12,80 10,36
E 570,61 15,73 12,74
F 482,90 13,32 10,79

Tabela 2: Valores das tensões e deformações normais.


Grupo Deformação média(µm/m) Tensão normal (M P a)
G 107,91 7,81
H 70,70 5,12
I 101,85 7,37
J 73,47 5,32

5.2 Análise Teórica


Por meio da metodologia teórica já descrita, foi possı́vel
obter os dados exibidos nas Tabelas 3 e 4.

Tabela 3: Valores das tensões e fluxo de cisalhamento teórico.


Grupo Tensão de cisalhamento (M P a) Fluxo de cisalhamento (N/mm)
A/B 7,10 14,62
C/E 14,78 11,97
D/F 12,80 10,37

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Tabela 4: Valores das tensões normais teórica.
Grupo Tensão normal (M P a)
G 6,77
H 4,74
I 6,77
J 4,74

5.3 Análise Numérica


A partir do modelo construı́do no Femap, pode-se construir
as tabelas 5 e 6 com os valores de tensão de cisalhamento e tensão
normal encontradas em cada grupo. A seguir, também é exposto
o contorno da tensão de cisalhamento e da tensão normal dos
reforçadores nas figuras 11 e 12.

Tabela 5: Valores das tensões de cisalhamento do modelo numérico.


Grupo Tensão de cisalhamento (M P a)
A 7,04
B 6,98
C 14,77
D 12,65
E 14,62
F 12,31

Tabela 6: Valores das tensões normais do modelo numérico.


Grupo Tensão normal (M P a)
G 5,78
H 4,14
I 6,52
J 4,74

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Figura 11: Tensão de cisalhamento na estrutura.

Figura 12: Tensão normal dos reforçadores.

5.4 Comparação entre metodologias


Nas Tabelas 7 e 8 apresenta os desvios relativos entre as
medidas experimentais e teóricas.

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Tabela 7: Desvios relativos entre a metodologia teórica e experimental para
as tensões de cisalhamento.
τA (M P a) τB (M P a) τC (M P a) τD (M P a) τE (M P a) τF (M P a)
4, 70% 4, 44% 4, 21% 0% 6, 04% 3, 90%

Tabela 8: Desvios relativos entre a metodologia teórica e experimental para


as tensões normais.
σG (M P a) σH (M P a) σI (M P a) σJ (M P a)
13, 32% 7, 42% 8, 14% 10, 9%

Então, tem-se que os desvios relativos entre os métodos


experimental e teórico são menores que 5% para os valores de
tensão de cisalhamento, o que mostra que a idealização estru-
tural realizada, apesar de algumas distorções é justificada pela
simplificação da análise. Com relação aos desvios das tensões
normais percebe-se que os valores são maiores que 5%, o que
mostra que a simplificação adotada não é tão satisfatória, mas
isso está associado a simplificação adotada que não considera o
engaste, como foi feito na prática experimental.
Para fins de comparação entre as metodologias experimen-
tal e numérica, foram produzidas as tabelas 9 e 10 com os desvios
relativos de cada medida.

Tabela 9: Desvios relativos entre a metodologia numérica e experimental


para as tensões de cisalhamento.
τA (M P a) τB (M P a) τC (M P a) τD (M P a) τE (M P a) τF (M P a)
5, 80% 6, 44% 4, 47% 1, 18% 7, 59% 8, 20%

Tabela 10: Desvios relativos entre a metodologia teórica e experimental para


as tensões normais.
σG (M P a) σH (M P a) σI (M P a) σJ (M P a)
35, 12% 23, 67% 13, 04% 12, 24%

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A partir das tabelas 9 e 10, percebe-se que houve gran-
des desvios da tensão normal principalmente nos pontos G e H.
Essa divergência pode ter sido provocada pela consideração de
engaste perfeito pelo Femap, o que não ocorre no experimento,
uma vez que amplia os efeitos de restrição axial e gera uma
região de compressão mais intensa devido à tendência da linha
de simetria superior empenar contra a parede, o que diminui o
módulo da tensão normal. Outro fator que explica o fenômeno é
que o Femap não considerou o posicionamento do extensômetro
sobre o reforçador. Já em relação às tensões de cisalhamento,
observa-se desvios relativos pequenos, o que garante um resul-
tado satisfatório para comparações.

6 Conclusões
Conforme apresentado na seção de resultados, foi possı́vel
atingir os objetivos descritos pelo experimento, uma vez que
determinou-se os valores das tensões normais e de cisalhamento
da viga caixão proposta na prática utilizando três metodologias
diferentes, o que possibilitou uma análise mais robusta desse
tipo de viga e a aplicação da teoria de idealização estrutural.
Os resultados da tensão de cisalhamento experimentais demonstraram-
se satisfatórios quando comparados com os teóricos, o que va-
lida o processo de idealização estrutural. Contudo, as tensões
normais apresentaram maiores divergências devido à não consi-
deração do engaste da viga. Já quando comparados com a meto-
dologia numérica, também observou-se concordância em relação
à tensão de cisalhamento, enquanto os valores da tensão normal
tiveram grandes desvios uma vez que o Femap não considerou o
posicionamento do extensômetro sobre o reforçador.

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7 Referências bibliográficas
1. Megson T. H. G. Aircraft Structures for Engineering Stu-
dents. Butterworth Scientific, 1999.

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