Você está na página 1de 10

7 Introdução aos Estudos

das Estacas – Parte 02


João Crisóstomo dos Santos Neto

Introdução

As estacas são elementos estruturais esbeltos que, colocados no solo por cravação ou
perfuração, têm a finalidade de transmitir cargas a ele, através da sua base (resistência de
ponta), por sua superfície lateral (resistência lateral), ou por uma combinação das duas.

As estacas recebem esforços axiais de compressão, que são resistidos pela reação exercida
pelo solo sobre a sua ponta e pelo atrito lateral entre a estaca e o terreno.

Objetivos
Após a leitura dos conteúdos apresentados nesse capítulo, espero que você seja capaz de:

 Determinar a capacidade de carga de uma estaca


 Calcular a resistência lateral de uma estaca;
 Calcular a resistência de ponta de uma estaca;
 Determinar a área lateral de uma estaca.
 Determinar a área de ponta de uma estaca.

Esquema

7.1 Capacidade de Carga das Estacas


7.2 Método de Decourt e Quarema
7.2.1 Cálculo da Capacidade de Carga
7.2.1.1 Resistência Lateral
7.2.1.2 Área Lateral da Estaca
7.2.1.3 Resistência de Ponta
7.2.1.4 Área de Ponta da Estaca
7.2.1.5 Capacidade de Carga
7.3 Conclusão

69
7.1 Capacidade de Carga das Estacas

Os resultados encontrados através do método de investigação SPT podem ser utilizados


para a determinação da capacidade de carga das estacas, quanto ao recalque ou ruptura. A
utilização desses resultados pode ser feita através da correlação entre a carga de ruptura e
índice de penetração do ensaio.

De acordo com a NBR 6122 - NBR 6122 – Projeto e Execução de Fundações (1996), os
métodos semi-empíricos utilizados para a determinação da capacidade de carga são aqueles
em que a propriedade dos materiais, obtidos através de correlações, é utilizada. Alguns
autores, com base em suas experiências, elaboraram alguns estudos estatísticos.

No Brasil, os métodos semi-empíricos são os mais utilizados para a determinação da


capacidade de carga. Um dos métodos mais conhecidos foi elaborado em por Decourt e
Quaresma.

Conforme já foi apresentado no capítulo anterior, a transferência da carga da estaca se dá


pelo atrito lateral entre o elemento de fundação e o solo, e também pela resistência de ponta
da estaca. Através dos cálculos para a verificação da capacidade de carga, veremos que ela
estará condicionada ao tipo, comprimento e diâmetro da estaca, bem como ao tipo do solo
onde ela será executada.

7.2 Método de Decourt e Quarema

Os engenheiros brasileiros Luciano Decourt e Arthur Quaresma, apresentaram um método


para a determinação da capacidade de carga de uma estaca, utilizando os valores obtidos
pelo ensaio de sondagem à percursão - SPT, no 6º Congresso Brasileiro de Mecânica dos
Solos e Engenharia de Fundações.

Ao longo dos anos, Decourt e Quaresma foram atualizando o método elaborado por eles e
em 1996 esse estudo foi estendido a outros tipos de estacas, que não foram indicadas nos
primeiros ensaios realizados.

Além disso, foram considerados também os coeficientes “β” e “α”, que serão apresentados
em tabelas a seguir, para a majoração ou minoração das resistências de ponta e também
para a resistência lateral.

Os autores destacam que o método elaborado por eles não propõe a determinação de
valores exatos. Esse estudo visa obter estimativas bastante próximas, de fácil interpretação,
e o mais importante, seguras.

70
7.2.1 Cálculo da Capacidade de Carga

Para encontrar a capacidade de carga da estaca, através do método de Decourt e


Quaresma, utilizamos a seguinte expressão:

Qu = β ∙ qs ∙ As + α ∙ qp ∙ Ap

Onde:

Qu = carga de ruptura da estaca;


qs = resistência lateral;
As = área lateral da estaca;
qp = resistência de ponta;
Ap = área da ponta da estaca;
Β e α = coeficientes relacionados ao tido de estaca e de solo.

7.2.1.1 Resistência Lateral

Para a determinação da resistência lateral de uma estaca, devemos utilizar a seguinte


expressão:

Nm
qs = ( +1) ∙ 10
3

Onde:

Nm = valor médio de N ao longo do fuste da estaca.

Se o valor encontrado para Nm for menor ou igual a 3 (Nm ≤ 3), deve-se


adotar Nm = 3, e se o valor encontrado for superior ou igual a 50 (Nm ≥ 50),
deverá ser adotado Nm = 50.

71
Exemplificando

Considerando o perfil de sondagem a seguir, determine a resistência lateral da estaca que


possui comprimento igual a 6 metros.

(2 + 3 + 6 + 8 + 12 + 15)
𝐍𝐦 = → 𝐍𝐦 = 7,67
6

Nm 7,67
𝐪𝐬 = ( +1) ∙ 10 → 𝐪𝐬 = ( +1) ∙ 10 → 𝐪𝐬 = 𝟑𝟓, 𝟓𝟕 𝐤𝐍/𝐦²
3 3

7.2.1.2 Área Lateral da Estaca

Para determinar a área lateral de uma estaca circular, devemos considerar a expressão a
seguir:

As = 2 ∙ π ∙ r ∙ h
72
Onde:

r = raio da estaca;
h = altura da estaca.

Exemplificando

Considerando a estaca apresentada no exemplo anterior, com um diâmetro de 30 cm,


determine a sua área lateral.

As = 2 ∙ π ∙ r ∙ h → As = 2 ∙ π ∙ 0,15 ∙ 6 → As = 5,65 m²

7.2.1.3 Resistência de Ponta

Para a determinação da resistência de ponta de uma estaca, devemos utilizar a seguinte


expressão:

𝐪𝐩 = K ∙ N
Onde:

K = coeficiente relacionado ao tipo de solo;


N = valor médio de Nspt correspondente à ponta da estaca, o imediatamente anterior e o
imediatamente posterior ao longo do fuste.

O coeficiente K, que está relacionado ao tipo de solo onde a estaca será executada, pode ser
encontrado na tabela a seguir:

Tabela 10: Coeficiente K

400
Fonte: Decourt e Quaresma (1978)

73
Exemplificando

Considerando o perfil de sondagem a seguir, determine a resistência de ponta da estaca que


possui comprimento igual a 8 metros.

(18 + 21 + 27)
𝐍 = → 𝐍 = 22
3

𝐪𝐩 = K ∙ N → 𝐪𝐩 = 120 ∙ 22 → 𝐪𝐩 = 2640 kN/m²

7.2.1.4 Área de Ponta da Estaca

Para determinar a área de ponta de uma estaca circular, devemos considerar a expressão a
seguir:

π ∙ d²
𝐀𝐩 =
4

74
Onde:

d = diâmetro da estaca.

Exemplificando

Considerando a estaca apresentada no exemplo anterior, com um diâmetro de 35 cm,


determine a sua área de ponta.

π ∙ d² π ∙ 0,35²
𝐀𝐩 = → 𝐀𝐩 = → 𝐀𝐩 = 0,1 m²
4 4

7.2.1.5 Capacidade de Carga

Após a determinação das resistências de ponta e lateral, e das áreas da estaca,


é possível calcular a sua capacidade de carga. Para isso, devemos considerar
as tabelas a seguir para verificar os valores para os coeficientes β e α, que
estão relacionados ao tipo de estaca e de solo.

Tabela 11: Coeficiente α

Fonte: Decourt (1996)

75
Tabela 11: Coeficiente β

Fonte: Decourt (1996)

Exemplificando

Considerando a sondagem abaixo, determine a capacidade de uma estaca hélice contínua,


com diâmetro de 30 cm e comprimento igual a 6 metros.

→ Determinação da resistência lateral

(2 + 4 + 8 + 11 + 12 + 15)
𝐍𝐦 = → 𝐍𝐦 = 8,67
6

76
Nm 8,67
𝐪𝐬 = ( +1) ∙ 10 → 𝐪𝐬 = ( +1) ∙ 10 → 𝐪𝐬 = 𝟑𝟖, 𝟗𝟎 𝐤𝐍/𝐦²
3 3

→ Determinação da área lateral da estaca

As = 2 ∙ π ∙ r ∙ h → As = 2 ∙ π ∙ 0,15 ∙ 6 → As = 5,65 m²

→ Determinação da resistência de ponta

(12 + 15 + 21)
𝐍 = → 𝐍 = 16
3

𝐪𝐩 = K ∙ N → 𝐪𝐩 = 120 ∙ 16 → 𝐪𝐩 = 1920 kN/m²

→ Determinação da capacidade de carga da estaca

Qu = β ∙ qs ∙ As + α ∙ qp ∙ Ap

Qu = 1,0 ∙ 38,90 ∙ 5,65 + 0,30 ∙ 1920 ∙ 0,07

Qu = 260,10 kN

7.3 Conclusão

O método elaborado pelos engenheiros Decourt e Quaresma, estima à capacidade de carga


última de fundações isoladas pela soma das parcelas de resistência lateral e resistência de
ponta.

Assim, a partir dos métodos elabora por eles, podemos determinar qual será a capacidade de
carga das estacas, e com isso, verificar a quantidade necessária desses elementos de
fundação para o seu projeto.

77
Resumo
Neste sétimo capítulo, iniciamos o nosso estudo referente às estacas dando destaque:

 Ao método de cálculo de capacidade de carga, elaborado por Decourt e Quaresma;


 Ao cálculo da capacidade de carga das estacas;
 À determinação da resistência lateral e de ponta das estacas
 Ao cálculo das áreas laterais e de ponta das estacas.

Referências
ALONSO, Urbano. Exercícios de Fundação. 2. ed. São Paulo: Blucher, 2010. 206 p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122 – Projeto e Execução de


Fundações. Rio de Janeiro, 1996.

HACHICH, Waldemar et al. Fundações: Teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998. 751 p.

MILITITSKY, Jarbas; CONSOLI, Nilo; SCHNAID, Fernando. Patologia das Fundações. 1.


ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.244 p.

REBELLO, Yopanan. Fundações: guia prático de projeto, execução e dimensionamento.


São Paulo: Zigurate, 2008. 240 p.

VELLOSO, Dirceu; LOPES, Francisco. Fundações. 1. ed. São Paulo: Oficina de


Textos, 2010. 583 p.

78

Você também pode gostar