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AVALIAÇÃO DE MÉTODOS SEMI-EMPÍRICOS PARA ESTIMATIVA DA


CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACA ESCAVADA COM POLÍMERO COM BASE
EM PROVAS DE CARGA ESTÁTICA INSTRUMENTADAS EVALUATION OF PILE
CA...

Conference Paper · June 2016

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Larissa De Brum Passini


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AVALIAÇÃO DE MÉTODOS SEMI-EMPÍRICOS PARA ESTIMATIVA DA
CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACA ESCAVADA COM POLÍMERO COM BASE EM
PROVAS DE CARGA ESTÁTICA INSTRUMENTADAS
EVALUATION OF PILE CAPACITY METHODS FOR NON-DISPLACEMENT PILE
BASED ON INSTRUMENTED STATIC LOAD TESTS

Pereira, Darlan Amorim; UFPR, Curitiba (PR), Brasil, damorimpereira@gmail.com


Passini, Larissa de Brum; UFPR, Curitiba (PR), Brasil, larissapassini@hotmail.com
Kormann, Alessander C. Morales; UFPR, Curitiba (PR), Brasil, alessander@ufpr.br

RESUMO

O presente trabalho compara os resultados de capacidade de carga, obtidos por métodos semi-empíricos,
consagrados na engenharia de fundações brasileira, baseados nos ensaios SPT e CPT, e os resultados de
provas de carga estática a compressão, instrumentadas, fazendo uma avaliação da carga de ruptura e das
parcelas resistentes de atrito lateral e ponta. As provas de cargas foram realizadas no município de
Araquari (SC), Brasil, em uma estaca do tipo escavada com polímero, de diâmetro 0,7 m e comprimento
15,7 m, instalada em solo predominantemente arenoso e instrumentada com Strain Gages em 5 níveis ao
longo do fuste. Foram executadas três provas de carga. Os resultados indicam que, de maneira geral, para
o caso estudado, os métodos semi-empíricos apresentaram resultados conservadores com relação a
capacidade de carga das estacas, principalmente com relação ao atrito lateral.

ABSTRACT

This study compares results of pile capacity obtained by semi-empirical methods, which are widely used in
Brazil and based on SPT and CPT field tests, with results achieved by instrumented static compression load
tests. From this, it was provided an evaluation of axial pile capacities, skin frictions and toe resistances.
The load tests were carried out in Araquari (SC), Brazil, in a non-displacement pile with polymer, which
presents a diameter of 0.7 m and length of 15.7 m. The pile is located in a predominantly sandy soil with
Strain Gages installed in 5 levels along its shaft. Three static load tests were performed. The results show
that, for this work, the semi-empirical methods demonstrated to be conservative in relation to pile
capacities, particularly for the skin friction.

1- INTRODUÇÃO

Uma fundação projetada adequadamente deve garantir segurança em relação ao colapso (estado limite
último) e apresentar deslocamentos dentro de limites aceitáveis (estado limite de serviço). Neste sentido,
métodos para o dimensionamento de fundações foram desenvolvidos, ao longo dos anos, com o intuito de
se estimar as cargas de ruptura e garantir seu correto funcionamento. Porém, como o comportamento de
uma fundação envolve diversos fatores como o tipo de solo (coesivo ou granular), estado em que este se
encontra (sobre adensado ou normalmente adensado), tipo de fundação, no caso de estacas se esta é de
substituição ou deslocamento, material e sua geometria, esta tarefa se tonar um desafio. Para tanto se faz
necessária a constante avaliação de tais métodos, no intuito de melhorar sua acurácia e atingir fundações
mais seguras e eficientes. Segundo Décourt (1995), provas de carga são o procedimento mais eficiente
para a avaliação do comportamento carga × recalque de estacas e consequentemente, para a avaliação de
métodos para a estimativa da capacidade de carga. No caso deste artigo serão avaliados métodos
semi-empíricos com base em provas de carga estática à compressão.

2- MÉTODOS SEMI-EMPÍRICOS

Dentre diferentes métodos para a estimativa da capacidade de carga em estacas, os semi-empíricos são
os que correlacionam a capacidade de carga com resultados de ensaios de campo, tais como SPT e CPT. O
uso de tais métodos é muito comum no Brasil, porém, segundo Schnaid (2000), apesar de ser uma
ferramenta muito útil e difundida, é importante reconhecer que, devido a sua natureza estatística, a
validade está limitada à pratica construtiva regional e às condições específicas dos casos históricos
utilizados em seu estabelecimento. Devido à importância de tais métodos e seu uso rotineiro, se faz
necessária uma constante avaliação destes para diferentes regiões, no intuito de garantir a segurança das
fundações e melhorar as estimativas de capacidade de carga. Para o presente artigo foram utilizados seis
métodos semi-empíricos, três utilizando dados do ensaio SPT e três com dados do ensaio CPT. Na sequência
estes métodos são apresentados individualmente.
2.1 - Método Meyerhof (1976)

Estimativa da capacidade de carga com base nos resultados do ensaio SPT, cujas equações são
apresentadas a seguir:

𝑅𝑢𝑙𝑡 = 𝑞𝑝,𝑢𝑙𝑡 ∙ 𝐴𝑝 + 𝑞𝑙,𝑢𝑙𝑡 ∙ 𝐴𝑙 [1]

0,4 ∙ 𝑁 ∙ 𝐷
𝑞𝑝,𝑢𝑙𝑡 = ≤4∙𝑁 [2]
𝐵

𝑁̅
𝑞𝑙,𝑢𝑙𝑡 = [3]
50
Nas equações acima 𝑅𝑢𝑙𝑡 representa a carga de ruptura estaca, 𝑞𝑝,𝑢𝑙𝑡 a resistência unitária de ponta, 𝐴𝑃 a
área da ponta, 𝑞𝑝,𝑢𝑙𝑡 o atrito lateral unitário, 𝐴𝑙 a área lateral, 𝑁 o incide de resistência a penetração (NSPT)
na ponta, 𝐷 a profundidade da ponta, 𝐵 o diâmetro da estaca e 𝑁 ̅ a média do índice do NSPT ao longo do
fuste.

As equações [2] e [3] se referem a estacas cravadas em solo arenoso. Para estacas escavadas, a resistência
de ponta é da ordem de um terço dos valores dados pela equação [2], e a resistência lateral da ordem da
metade do valor da equação [3]. Para o cálculo da parcela de ponta, este método considera apenas a cota
de ponta como região de influência.

2.2 - Método Décourt & Quaresma (1978)

Desenvolvido no Brasil, inicialmente para estacas pré-moldadas de concreto e posteriormente (Décourt,


1996) apud Cintra e Aoki (2010) adaptado a outros tipos de estaca. Utiliza os resultados do ensaio SPT
como parâmetro base para o cálculo da capacidade de carga. Divide a resistência da estaca em uma
componente devido ao atrito lateral (𝑅𝐿𝑢𝑙𝑡 ) e uma componente devido a ponta (𝑅𝑃𝑢𝑙𝑡 ), sendo a capacidade
de carga expressa pela equação [4] a seguir:

𝑁𝐿
𝑅𝑢𝑙𝑡 = 𝑅𝑃𝑢𝑙𝑡 + 𝑅𝐿𝑢𝑙𝑡 = 𝛼 ∙ 𝐾 ∙ 𝑁𝑝 ∙ 𝐴𝑝 + 𝑈 ∙ 𝐿 ∙ 𝛽 ∙ 10 ∙ ( + 1) [4]
3

Na equação acima 𝑅𝑢𝑙𝑡 representa a carga de ruptura estaca, 𝛼 o fator de correção da resistência de ponta
em função do tipo de estaca e solo, 𝐾 o coeficiente característico do solo que relaciona a resistência de
ponta com o valor de 𝑁𝑃 , 𝑁𝑃 o valor médio do índice de resistência a penetração (NSPT) na ponta, obtido a
partir da média do NSPT ao nível da ponta e 1 m para cima e 1 m para baixo, 𝐴𝑃 a área da ponta, 𝑈 o
perímetro da estaca, 𝐿 o comprimento da estaca, 𝛽 o fator de correção da resistência de atrito lateral em
função do tipo de estaca e solo e 𝑁𝐿 o valor médio do NSPT ao longo do fuste.

Para o cálculo da parcela de ponta, este método considera um metro acima e abaixo da cota de ponta como
região de influência. O Quadro 1 a seguir apresenta os valores de 𝛼, 𝛽 e 𝐾 para estaca escavada com
bentonita, tipo que mais se aproxima da estaca analisada neste artigo.

Quadro 1 – Valores de 𝛼, 𝛽 e 𝐾

Escavada com lama bentonítica


Solo/Estaca
α β K (kPa)

Argilas 0,85 0,90 120


Siltes argilosos (solos residuais) 0,60 0,75 200
Siltes arenosos (solos residuais) 0,60 0,75 250
Areias 0,50 0,60 400
Fonte: adaptado de Décourt & Quaresma (1978) apud Cintra e Aoki (2010)

2.3 - Método Aoki & Velloso (1975)

Método desenvolvido no Brasil, foi concebido a partir da correlação de resultados de prova de carga estática
com resultados de ensaios de cone (CPT). É possível o seu uso com dados de ensaios de penetração
dinâmica (SPT), por meio do coeficiente de conversão “k”, porém está conversão não foi utilizada, sendo
usados somente os dados do ensaio CPT neste método. A expressão da capacidade de carga da estaca é
dada pelas equações [5], [6] e [7]:

𝑅𝑢𝑙𝑡 = 𝐴𝑝 ∙ 𝑞𝑝 + 𝑈 ∙ ∑(𝑞𝑙 ∙ ∆𝑙 ) [5]

𝑞𝑐
𝑞𝑝 = [6]
𝐹1

𝑓𝑠 𝛼 ∙ 𝑞𝑐
𝑞𝑙 = = [7]
𝐹2 𝐹2

Nas equações acima 𝑅𝑢𝑙𝑡 representa a carga de ruptura estaca, 𝐴𝑃 a área da ponta da estaca, 𝑞𝑃 a tensão
normal na ponta da estaca, 𝑈 o perímetro do fuste, 𝑞𝑙 tensão cisalhante no fuste, ∆𝑙 o segmento da estaca,
𝑞𝑐 a resistência de ponta do ensaio CPT, 𝐹1 o fator de correção da resistência de ponta, 𝑓𝑠 atrito lateral no
cone do ensaio CPT, 𝐹2 o fator de correção do atrito lateral e 𝛼 o coeficiente que depende do tipo de solo.

Para o cálculo da parcela de ponta, este método considera um metro acima e abaixo da cota de ponta como
região de influência. O Quadro 2 a seguir apresenta os valores de 𝛼, 𝐹1 e 𝐹2 para estaca escavada, tipo
que mais se aproxima da estaca analisada neste artigo.

Quadro 2 - Valores de 𝛼, 𝐹1 e 𝐹2

Escavada com lama bentonítica


Solo/Estaca
α (%) F1 F2
Argila 6,0 3 6

Argila siltosa 4,0 3 6


Argila silto-arenosa 3,0 3 6

Argila areno-siltosa 2,8 3 6

Argila arenosa 2,4 3 6


Silte 3,0 3 6
Silte argiloso 3,4 3 6
Silte argilo-arenoso 3,0 3 6
Silte areno-argiloso 2,8 3 6

Silte arenoso 2,2 3 6


Areia argilosa 3,0 3 6
Areia argilo-siltosa 2,8 3 6

Areia silto-argilosa 2,4 3 6


Areia siltosa 2,0 3 6

Areia 1,4 3 6
Fonte: adaptado de Aoki & Velloso (1975) apud Cintra e Aoki (2010)

2.4 - Método Teixeira (1996)

Este método, brasileiro, utiliza os dados do ensaio SPT e propõe uma equação unificada para a capacidade
de carga, na qual também divide a resistência da estaca 𝑅𝑢𝑙𝑡 em uma componente devido ao atrito lateral
(𝑅𝐿𝑢𝑙𝑡 ) e uma componente devido a ponta (𝑅𝑃𝑢𝑙𝑡 ), em função dos parâmetros 𝛼 e 𝛽:

𝑅𝑢𝑙𝑡 = 𝑅𝑃𝑢𝑙𝑡 + 𝑅𝐿𝑢𝑙𝑡 = 𝛼 ∙ 𝑁𝑃 ∙ 𝐴𝑃 + 𝛽 ∙ 𝑁𝐿 ∙ 𝑈 ∙ 𝐿 [8]

Na equação acima, 𝛼 é o parâmetro relativo a resistência de ponta, adotado em função do tipo de estaca
e solo, 𝑁𝑃 o valor médio do índice de resistência a penetração (NSPT), medido no intervalo de 4 diâmetros
acima da ponta da estaca e 1 diâmetro abaixo, 𝐴𝑃 a área da ponta, 𝛽 o parâmetro relativo a resistência de
atrito lateral, adotado em função apenas do tipo de estaca, 𝑁𝐿 o valor médio do NSPT ao longo do fuste,
𝑈 perímetro da estaca e 𝐿 o comprimento da estaca. O Quadro 3 a seguir apresenta os valores de 𝛼 e 𝛽
para estaca escavada a céu aberto, tipo que mais se aproxima da estaca analisada neste artigo.
Quadro 3 -Valores de 𝛼 e 𝛽

Escavada a céu aberto


Solo/Estaca
α (kPa) β (kPa)
Argila siltosa 100 4

Silte argiloso 110 4

Argila arenosa 130 4


Silte arenoso 160 4
Areia argilosa 200 4
Areia siltosa 240 4
Areia 270 4

Areia com pedregulhos 310 4


Fonte: adaptado de Teixeira (1996) apud Cintra e Aoki (2010)

2.5 - Método Bustamante & Gianeselli ou LCPC (1982)

Método francês, desenvolvido com base na comparação de resultados de prova de carga e ensaios CPT, em
diferentes tipos de estacas. A expressão geral do método para capacidade de carga é:

𝑞𝑐𝑖
𝑅𝑢𝑙𝑡 = 𝑘𝑐 ∙ 𝑞𝑐𝑎 ∙ 𝐴𝑃 + ∑ ∙ 𝐴𝐿𝑖 [9]
𝛼

Nas equações acima 𝑅𝑢𝑙𝑡 representa a carga de ruptura estaca, 𝑘𝑐 o fator de conversão de 𝑞𝑐𝑎 para
resistência de ponta da estaca, 𝑞𝑐𝑎 a resistência de ponta do cone média no nível da ponta da estaca, obtida
por média aritmética entre as resistências acima e abaixo da ponta da estaca em 1,5 vezes o diâmetro,
𝐴𝑃 a área de ponta da estaca, 𝑞𝑐𝑖 a resistência de ponta do cone média para a camada i, 𝛼 o coeficiente
que leva em conta a natureza do solo e o processo de execução da estaca, 𝐴𝐿𝑖 a área lateral da estaca para
a camada i.

Para o cálculo de 𝑞𝑐𝑎 primeiro se tira uma média inicial, os valores de resistência de ponta do cone (𝑞𝑐 )
superiores a 1,3 ∙ 𝑞𝑐𝑎 e inferiores a 0,7 ∙ 𝑞𝑐𝑎 são eliminados e então é calculada uma nova média. As estacas
são classificadas de acordo com categorias, sendo que estacas escavadas sem revestimento ou com uso
de fluido estabilizante estão na categoria IA. Para o cálculo da parcela de ponta, este método considera 1,5
vezes o diâmetro acima e abaixo da conta de ponta como região de influência. O Quadro 4 a seguir
apresenta os valores de 𝛼, 𝑘𝑐 e 𝑞𝑐𝑖 /𝛼 𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑜, para estacas da categoria IA, tipo que mais se aproxima da
estaca analisada neste artigo.

Quadro 4 -Valores de 𝛼, 𝑘𝑐 e 𝑞𝑐𝑖 /𝛼 𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑜

IA IA IA
Solo/categoria qc (MPa)
α kc qci/α máximo

Argilas moles e turfas <1 30 0,40 0,015


Argilas moderadamente compactas 1a5 40 0,35 0,035 (0,08)
Silte e areias fofas ≤5 60 0,40 0,035

Argilas rijas compactas e silte compacto >5 60 0,45 0,035 (0,08)


Areias medianamente compactas e pedregulho 5 a 12 100 0,40 0,08 (0,12)

Areias compactas e pedregulhos > 12 150 0,30 0,12 (0,15)


Fonte: adaptado de Bustamente e Gianeselli (1982) apud Reinert (2011)

Os valores entre parênteses correspondem à execução cuidadosa e que altere o mínimo possível as
condições do solo.

2.6 - Método Eslami & Fellenius (1997)

O método usa os resultados do ensaio de piezocone (CPTU) e a expressão geral do método é apresentada
a seguir:
𝑅𝑢𝑙𝑡 = 𝑞𝑃𝑢𝑙𝑡 ∙ 𝐴𝑃 + 𝑞𝐿𝑢𝑙𝑡 ∙ 𝐴𝐿 [10]

𝑞𝑃𝑢𝑙𝑡 = 𝐶𝑡 ∙ 𝑞𝐸𝐺 [11]

𝑞𝐿𝑢𝑙𝑡 = 𝐶𝑆 ∙ 𝑞𝐸 [12]

1
𝐶𝑡 = [13]
3∙𝐵

𝑞𝐸 = 𝑞𝑐 − 𝑢2 [14]

Nas equações acima 𝑅𝑢𝑙𝑡 representa a carga de ruptura da estaca, 𝑞𝑃𝑢𝑙𝑡 a resistência unitária de ponta, 𝐴𝑃 a
área de ponta da estaca, 𝑞𝐿𝑢𝑙𝑡 a resistência unitária de atrito lateral ao longo do fuste, 𝐴𝐿 a área lateral da
estaca, 𝐶𝑡 o coeficiente de correlação de ponta, 𝑞𝐸𝐺 a média geométrica da resistência de cone (𝑞𝑐 ) na zona
de influência de ponta, após a correção da poropressão e ajuste da tensão efetiva aparente, 𝐶𝑆 o coeficiente
de correlação de atrito lateral, que é função do tipo de solo, 𝑞𝐸 a resistência do cone efetiva aparente após
correção da poropressão, 𝐵 o diâmetro da estaca, 𝑞𝑐 a resistência de ponta do cone durante o ensaio CPTU
e 𝑢2 a poropressão medida durante o ensaio CPTU.

A média geométrica (𝑞𝐸𝐺 ) é determinada com base em uma zona de influência que se estende de 4𝐵 abaixo
da ponta da estaca a 8𝐵 acima da ponta, quando a estaca atravessa de uma camada fraca de solo para
uma camada densa, sendo 𝐵 o diâmetro da estaca. Caso contrário a zona de influência se estende de 2𝐵
acima da ponta a 4𝐵 abaixo da ponta da estaca.

O Quadro 5 a seguir apresenta os valores de 𝐶𝑆, indicados em função do tipo de solo encontrado.

Quadro 5 – Valores de 𝐶𝑆
Tipo de solo Cs (%)

Solo mole alta sensibilidade 8,0

Argila 5,0
Argila siltosa, argila rija e silte 2,5

Silte arenoso e silte 1,5


Areia fina ou areia siltosa 1,0
Areia e areia pedregulhosa 0,4
Fonte: adaptado de Eslami e Fellenius (1997) apud Fellenius (2014)

3- PROVA DE CARGA ESTÁTICA EM ESTACAS

Provas de carga estática são realizadas com o intuito de verificar o comportamento da fundação previsto
em projeto (capacidade de carga e recalques) e podem ser usadas para definir a carga admissível, quando
não se consegue uma previsão de comportamento da fundação (Velloso e Lopes, 2010). Pode ser feito para
estacas com esforços de compressão, tração ou transversais, sendo divididas em três grandes categorias:1)
Carga controlada: carga incremental lenta, carga incremental rápida, carga incremental mista (lenta e
rápida) e carga cíclica; 2) Deformação controlada: deslocamento constante; 3) Método do equilíbrio. Neste
artigo serão apresentadas duas variantes da categoria carga controlada (carga incremental lenta e carga
incremental rápida), pois foram os tipos realizados na estaca analisada.

3.1 - Prova de carga estática de carga controlada lenta

O ensaio lento é o mais antigo das provas de carga estática e é o mais utilizado no Brasil. Consiste na
aplicação de carga constante até a estabilização dos recalques. Os incrementos de carga são sucessivos e
iguais. No Brasil, a norma NBR 12131/2006 descreve o método de ensaio e prescreve os critérios para os
incrementos de carga e os tempos mínimos para duração do ensaio.

Segundo Velloso e Lopes (2010), é o ensaio que mais se aproxima, para casos correntes (edifícios, silos,
tanques e pontes), do carregamento real que a estaca sofrerá durante sua vida útil, pois o carregamento
se dará de maneira lenta, atingindo recalques maiores e menores resistências. Todavia a estabilização dos
recalques torna o ensaio demorado e caro, fazendo do ensaio rápido uma opção mais prática e barata.

3.2 - Prova de carga estática de carga controlada rápida

Uma opção para minimizar o tempo da prova de carga estática. Consiste em incrementos de carga com
duração padronizada, sem a necessidade de aguardar a estabilização dos recalques. A norma
NBR 12131/2006 fixa a duração dos estágios em 10 min, sendo um total de vinte estágios de carregamento
e cinco ou mais de descarregamento.

Fellenius (1980) apud Cintra et al. (2013) afirma que o importante para o ensaio não é a duração dos
estágios de carga, qualquer que seja ela, desde que os incrementos e suas durações sejam iguais.

Devido a não estabilização dos recalques, a curva da prova de carga rápida apresenta recalques menores
que o ensaio lento, para um mesmo incremento de carga. Em consequência, a capacidade de carga atingida
no ensaio rápido é maior que a obtida no lento. Segundo Cintra et al. (2013) essa diferença gira em torno
de 10%, para ensaios com incrementos de carga com duração de 15 min.

4- CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL, EQUIPAMENTOS E PROCEDIMENTOS

O local da pesquisa se encontra no município de Araquari (SC), próximo à rodovia BR 101, km 66 Norte. O
perfil geotécnico da área, de acordo com sondagens SPT e CPTU realizadas, é predominantemente arenoso,
com areia limpa e fofa nos metros iniciais, resistência de ponta do cone (qc) variando de 0 a 5 Mpa e NSPT
de 3 a 8 golpes; de 4 a 10 m de profundidade, onde se encontra uma camada de areia fina compacta, pico
de resistência de ponta do cone (qc), variando de 5 a 25 Mpa e NSPT de 20 a 40 golpes; entre 11 e 20 m de
profundidade presença maior de material argiloso e siltoso, com resistência de ponta do cone (qc) inferior
a 5 Mpa e NSPT de 4 a 11 golpes; entre 20 e 30 m material arenoso, com resistência de ponta de cone (qc)
crescente com a profundidade, variando de 5 a 15 MPa e NSPT entre 4 a 20 golpes. O nível d’água se
encontra em torno de 2,5 m abaixo da superfície.

Para o cálculo das capacidades de carga foram utilizadas as sondagens mais próximas da estaca analisada.
No caso do ensaio CPTU, se utilizou a sondagem executada no eixo da estaca (CPTU2), antes da execução
desta, e para o ensaio SPT foi usada a média aritmética de duas sondagens mais próximas (SP2 e SP3).
Os perfis de solo admitidos se basearam na classificação que cada ensaio de campo proporciona. Para o
ensaio CPTU o solo foi classificado segundo Robertson et al. (1986) e para ensaio SPT foi feita classificação
de acordo com a norma brasileira NBR 7250/1982. A Figura 1 mostra os perfis das sondagens utilizadas
nos cálculos de capacidade de carga.

NSPT (N° de Golpes) qc (MPa)


0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 0 5 10 15 20 25 30
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
profundidade (m)
Profubdidade (m)

10
11 0 a 3 ,5 m - s ilte arenoso
12 3 ,5 a 5 ,0 m - areia s iltosa
13 0 a 3 m - areia fofa 5 ,0 a 6 ,5 m - areia
14
15 4 a 1 0 m - areia c ompac ta 6 ,5 a 7 ,0 m - areia s iltosa
17
1 1 a 2 1 m - areia argilos a 16 7 ,0 a 1 0 ,5 m - areia
2 2 a 2 7 m - areia fofa 1 0 ,5 a 1 2 ,0 m - s ilte arenoso
19 2 8 a 3 0 m - areia c om
18
1 2 a 1 3 ,5 m - argila s iltosa
21
pedregulho 20 1 3 ,5 a 2 1 ,5 m - s ilte arenoso
2 1 ,5 a 3 0 ,0 m - areia
23 22

25 24
27 26
29 28

Média SP2 e SP3 CPTU2


Figura 1 – Perfis das sondagens SPT (à esquerda) e CPTU (à direita)

As investigações de campo consistiram em: três sondagens SPT (Standard Penetration Test), com
profundidade de 30 m cada, cujos procedimentos e equipamentos seguiram o recomendado pela norma
brasileira NBR 6484/2001, NBR 7250/1982 e NBR 8036/1983, e sete sondagens CPTU
(Piezocone Penetration Test), também com profundidade de 30 m, cujos procedimentos seguiram a norma
brasileira NBR 12069/91 e norma americana ASTM D 5778/07.

A estaca analisada é do tipo escavada com uso de polímero como fluído estabilizante, suas dimensões são
de 0,7 m de diâmetro e 15,7 m de comprimento, concreto com fck 20 MPa, armadura longitudinal composta
de 4 barras de aço com 32 mm de diâmetro, 15,4 m de comprimento e armadura transversal, do tipo
estribo espiral, com 8 mm de diâmetro e espaçamento de 20 cm. Sua execução seguiu o procedimento
indicado na norma brasileira NBR 6122/2010.
A instrumentação utilizada foi composta de Strain Gages do tipo corda vibrante, Modelo 4911 “Sister Bar”,
fabricados pela Geokon. Estes foram fixados junto a armadura longitudinal da estaca, em cinco
profundidades (1,2; 4,7; 7,8; 11,3; 15,3 m), contendo cada nível, no mínimo, dois sensores
diametralmente opostos. A calibragem da instrumentação foi fornecida pelo fabricante, sendo admitida
como leitura “zero” o valor obtido imediatamente antes do início de cada prova de carga. Durante as provas
de carga os dados da instrumentação foram coletados em intervalos de 1 minuto, automaticamente, por
meio de datalogger.

As provas de carga estática realizadas foram, conforme exposto no item 3, do tipo compressão axial com
carga controlada lenta e carga controlada rápida, sendo primeiro realizado o ensaio lento e, algumas horas
depois, os ensaios rápidos. Foi realizado um ensaio lento e dois rápidos por questões práticas de campo,
pois não se dispunha de tempo suficiente para se executar mais de um ensaio lento. As cargas máximas
atingidas foram de 2968, 2712 e 2752 KN, respectivamente. Para o encerramento do ensaio foram
utilizados três critérios: 1) Deslocamento contínuo e progressivo com a carga; 2) Deslocamento vertical no
topo de 10 % o diâmetro da estaca; 3) Carga limite dos dispositivos de aplicação de carga e sistema de
reação. Os demais procedimentos realizados seguiram o indicado na norma brasileira NBR 12131/2006 e
nas normas internacionais Eurocode 7 Part 1/1997 e norte americana ASTM D1143/D1143M/2007.

A aplicação das cargas foi realizada por meio de macaco hidráulico, centralizado no topo da estaca, sendo
a medição e monitoramento das cargas feita por meio de célula de carga, posicionada entre a viga de
reação e o macaco hidráulico, garantindo o controle das cargas aplicadas. Os deslocamentos, no topo da
estaca carregada foram realizados com quatro extensômetros com faixa de medição de 0 a 100 mm e
resolução de 0,01 mm, e sobre cada estaca de reação foi colocado um extensômetro de mesma resolução.

O sistema de reação utilizado foi composto de quatro estacas de reação, tipo hélice contínua, com
profundidade de 20 m e diâmetro de 0,8 m, reforçadas com três barras Dywidag com diâmetro de 36 mm.
O espaçamento entre as estacas seguiu os requisitos da NBR 12131/2006, que recomenda espaçamento
mínimo, entre eixos de estaca, de 3,60 vezes o diâmetro da maior estaca do sistema, sendo utilizado
espaçamento entre eixos de 3,75 m, entre a estaca testada e as estacas de reação. O restante do sistema
conta com viga de reação em aço, ligada as estacas de reação por meio de outras 4 vigas menores. Na
Figura 2 observa-se o sistema de reação da prova de carga estática.

Figura 2 – (a) Visão geral do sistema de reação da prova de carga estática: (1) viga de reação principal; (2) vigas
auxiliares; (3) barras Dywidag das estacas de reação. (b): croqui com distância entre eixos do sistema de reação

5- RESULTADOS

Os resultados das estimativas de capacidade de carga de cada método semi-empírico, seguido dos
resultados das provas de carga estática, quanto à carga de ruptura, atrito lateral máximo e resistência de
ponta máxima são apresentados, acompanhado de um comparativo entre os valores estimados e obtidos
em campo.

5.1 - Métodos semi-empíricos

As regiões consideradas para o cálculo da parcela de atrito lateral foram as mesmas em todos os métodos,
sendo esta todo o comprimento do fuste, desconsiderando apenas o atrito no primeiro metro da estaca.
Quanto a região da ponta, cada método apresenta uma zona de influência descrita no item 2. Para os
métodos baseados no ensaio SPT o valor de energia médio assumido no ensaio foi de 72% (N 72), aceite
como valor médio obtido no sistema manual empregado no Brasil (Cintra et al. 2013), sendo este corrigido
para o valor internacional de referência de 60% (N60) por meio da seguinte equação:

𝑁72 ∙ 72 (15)
𝑁60 =
60

Foram calculadas a capacidade de carga total, atrito lateral e resistência de ponta com cada método, cujos
valores são apresentados na Figura 3.

Capacidade de carga estaca escavada com polímero


3000
Carga de Ruptura (kN)

2596
2500 2233
1938
2000 1822
1710 1704
1508
1500 1304

835 903
1000
558 615
400
500 277 288 363 228 314

0
Ponta Atrito Total
Meyerhof (1976) D & Q (1978) A & V (1975) Teixeira (1996) LCPC (1982) E & F (1997)

Figura 3 – Capacidade de carga total e parcelas de atrito lateral e ponta

De maneira geral, os valores de capacidade de carga obtidos apresentaram grande dispersão, como pode
ser visualizado acima. Esta grande diferença nos resultados se deve principalmente a parcela de atrito
lateral e total, onde foram observadas as maiores discrepâncias, em decorrência dos diferentes critérios
adotados pelos autores quanto a influência do tipo de estaca e solo no atrito unitário ao longo do fuste. O
maior atrito lateral, obtido pelo método Teixeira (1996), foi de 2233 kN, enquanto o menor, obtido pelo
método Meyerhof (1976), foi de 558 kN. Mostrando uma razão de 4 vezes entre o maior e menor atrito
lateral. A resistência de ponta apresentou, também, uma dispersão considerável, porém menor que o
apresentado para o atrito lateral. A carga máxima na ponta, obtida pelo método Décourt & Quaresma
(1978), foi de 400 kN, já a carga mínima, obtida pelo método LCPC (1982), foi de 228 kN, mostrando uma
razão de 1,75 vezes entre a maior e menor tensão na ponta. Para a carga total a dispersão dos resultados
seguiu o mesmo comportamento observado no atrito, sendo este responsável por maior parte da resistência
da estaca para todos os métodos.

5.2 - Provas de carga estática instrumentada

Conforme exposto no item 4, foram executadas três provas de carga estática (PCE), das quais a Figura 4
mostra as curvas carga × recalque, no topo da estaca.

Carga (kN)
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500
0

20
Recalque (mm)

PCE1 - lenta com carga máxima de 2968 kN


40

60

80 PCE2 - rápida com carga máxima de 2712 kN

100 PCE3 - rápida com carga máxima de 2752 kN

120
Figura 4 – Curvas carga × recalque das provas de carga 1, 2 e 3
Conforme exposto no item 4, foram utilizados três critérios de paralização do ensaio, no caso da PCE1 o
ensaio foi encerrado quando se atingiu um deslocamento de 70 mm ou 10 % o diâmetro da estaca. Para a
PCE2 e PCE3, se encerrou o ensaio após se observar um grande deslocamento, 14,56 e 23,92 mm,
respectivamente, no último incremento de carga (2712 e 2752 kN), o que representa 72 e 83 %,
respectivamente, do deslocamento total atingido nos dois ensaios (20,03 e 28,69 mm).

Para determinar a carga de ruptura foram utilizados seis métodos de interpretação da curva
carga × recalque, sendo eles: NBR 6122/2010; Van der Veen (1953); Chin-Kondner (1963,1970,1971);
Rigidez (1996); Davisson (1972); Brinch-Hansen (1963). Mais detalhes a respeito de cada um podem ser
obtidos em Fellenius (2014).

A Figura 5 apresenta as cargas de ruptura, para todas as três provas de carga estática (PCE) realizadas,
obtidas pelos métodos de interpretação mencionados anteriormente. Percebe-se que a carga varia de
acordo com o método, isso se deve ao fato de alguns métodos fixarem a ruptura a uma deformação pré-
estabelecida, em função da deformação elástica e do diâmetro da estaca, como a NBR 6122/2010 e
Davisson (1972). Enquanto outros extrapolam a curva carga × recalque, admitindo um formato hiperbólico
para esta, como Chin-Kondner (1963,1970,1971) e Décourt (1996). No entanto, este não é o foco do
presente artigo, sendo assim será utilizado deste ponto em diante o valor médio de 2750 kN, praticamente
igual para as três provas de carga executadas na mesma estaca.

Capacidade de carga estaca escavada com polímero


3500
Carga de Ruptura (kN)

3000
2500
2000
1500
1000
500
0
PCE 1 PCE 2 PCE 3

NBR 6122/2010 Van der Veen (1953)


Chin-Kindner (1963; 1970; 1971) Décourt (1996)
Davisson (1972) Brinch-Hansen (1963)
Média

Figura 5 – Cargas de ruptura para as provas de carga estática 1, 2 e 3

Para a distribuição das cargas ao longo da estaca e determinação das parcelas de atrito lateral e ponta foi
utilizado o método do módulo tangente de Fellenius, que forneceu uma rigidez média, produto do módulo
de elasticidade (E) e área da seção (A) da estaca, de 20 GN ao longo do fuste. Valor este correspondente
à um módulo aproximado de 50 GPa, para um diâmetro de 0,7 m, pouco acima do encontrado por
França (2011) em análise semelhante de estacas escavadas, e compatível com a maior resistência a
compressão aos 28 dias (38 MPa) do concreto utilizado na presente pesquisa. Mais detalhes sobre a
aplicação deste método podem ser obtidos nos trabalhos de Fellenius (1989) e Fellenius et al (2000). A
Figura 6 a seguir apresenta a distribuição de cargas obtida para a primeira prova de carga (PCE1). Cada
linha representa a distribuição para uma carga aplicada no topo da estaca e os níveis de instrumentação
são representados pelos marcadores em círculo presentes em cada linha.

Analisando a Figura 6, percebe-se que o atrito lateral é responsável pela maior parte da resistência da
estaca, sendo a parcela de ponta, representada pelo último nível instrumentado, responsável por apenas
100 kN ou 4% da resistência total, para a carga de ruptura de 2750 kN. Resultado este coerente com as
sondagens (Figura 1), que mostram solo na região da ponta, 15,7 m, com NSPT inferior a 5 golpes e
resistência de ponta de cone (q c) inferior a 2 Mpa. Outro ponto são os valores das cargas encontrados ao
longo do fuste, com maior redução de cargas entre os níveis 7,8 e 11,3 m de profundidade, com valor da
ordem de 900 kN, para a carga de ruptura de 2750 kN, também em concordância com as sondagens, que
neste trecho apresentaram o pico de NSPT (40 golpes) e qc (20 MPa).

Quanto ao atrito unitário, se observou, para a carga de ruptura de 2750 kN, os valores de 47, 88, 122 e
76 KPa, respectivamente, para os trechos 1 a 4, sendo o trecho 1 mais próximo a superfície e o trecho 4 o
mais próximo a ponta da estaca, conforme indicado na Figura 6. Tais valores estão de acordo com a
sondagens (Figura 1), que mostram material mais fofo nos metros iniciais, seguido de solo mais resistente
até 10 m, com queda nos valores de NSPT e qc para profundidades superiores a 10 m.
Cargas (kN)
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500
0

4
Profundidade (m)

Trecho 1, entre 1,2 e 4,7 m.


8
Trecho 2, entre 4,7 e 7,8 m.

12 Trecho 3, entre 7,8 e 11,3 m.

Trecho 4, entre 11,3 e 15,3 m.


16
0 132 257 500 698 885 1116 1322
1526 1725 1937 2143 2376 2549 2731 2968
Figura 6 – Distribuição das cargas aplicadas no topo da estaca para a primeira prova de carga (PCE1)

O item a seguir mostra o comparativo entre os valores obtidos pelos métodos semi-empíricos e os obtidos
experimentalmente para carga de ruptura, atrito lateral e resistência de ponta, com posteriores
observações referentes a cada método semi-empírico estudado.

5.3 - Comparativo semi-empíricos e prova de carga estática

Um comparativo entre os valores obtidos pelos métodos semi-empíricos e os valores encontrados através
das provas de carga estática foi realizado, conforme resultados apresentados na Figura 7, onde o eixo
vertical representa a razão entre os métodos semi-empíricos (resultados estimados) e a prova de carga
PCE1 (resultado medido), admitindo, para a prova de carga estática o valor de 100 kN para resistência de
ponta, 2650 kN para atrito lateral e 2750 kN para carga de ruptura. Quanto mais a razão entre os resultados
estimados e medidos se aproxima de um, mais próximo do real foi a estimativa do método semi-empírico
empregado.

Análise comparativa semiempírico/prova de carga


Semiempírico/prova de carga

4,5
4,0
4,0 3,6
3,5 3,1 3,1
2,8 2,9
3,0
2,5 2,3

2,0
1,5
0,8 0,9
1,0 0,6 0,6 0,6 0,7 0,7 0,6
0,5 0,5
0,5 0,2 0,2 0,3 0,3

0,0
Ponta (kN) Atrito (kN) Total (kN)

Meyerhof (1976) D & Q (1978) A & V (1975) Teixeira (1996) LCPC (1982) E & F (1997) Média

Figura 7 – Análise comparativa entre os valores obtidos pelos métodos semi-empíricos e as provas de carga estática

Para a carga de ponta, percebe-se que todos os métodos superestimaram a capacidade da estaca, com
razão superior a 2 para todos e razão média de 3. Sendo o método Décourt & Quaresma (1978) o que mais
se afastou do valor real, admitindo uma resistência de ponta na ruptura 4 vezes superior a medida durante
as provas de carga. Isto se deve ao coeficiente K de 400 kN/m² (Quadro 1) usado para areias, que neste
caso levou a um valor de ponta muito alto e contra a segurança. Cabe lembrar que estes valores se referem
as cargas de ruptura e não as cargas admissíveis, as quais não estão sendo abordadas neste artigo.

O atrito lateral teve comportamento oposto ao observado na resistência de ponta, com todos os métodos
subestimando a capacidade da estaca, com razões inferiores a 1 e razão média de 0,5. Os métodos mais
conservadores foram Aoki & Velloso (1975) e Meyerhof (1976), admitindo resistências de atrito de apenas
20 % do valor real. A equação [3], que determina o atrito unitário ao longo do fuste, para o método de
Meyerhof (1976), se aplica a estacas cravadas em areia, sendo indicado pelo autor o uso de metade deste
valor para estaca escavadas, o que causou valor tão baixo para a resistência de atrito. O elevado valor do
fator de correção da resistência de atrito (F2), no método Aoki & Velloso (1975), se mostrou muito
conservador para estacas escavadas em areia, causando baixas estimativas para a parcela de atrito.

O método Teixeira (1996) apresentou a estimativa de atrito mais próxima do real, com resistência de atrito
de 80% do valor real. Mesmo sendo um método que utiliza o ensaio SPT como base e não apresentando
coeficientes específicos para estacas escavadas com polímero, mostrou-se bem assertivo para este caso de
estaca escavada em areia. Acredita-se que isso se deva a dois fatos: 1) método mais recente e, portanto,
maior banco de dados para seu desenvolvimento; e 2) desenvolvido no Brasil, portanto mais adaptado a
solos típicos brasileiros em relação aos métodos desenvolvidos no exterior, como LCPC (1982)
Eslami & Fellenius (1997) e Meyerhof (1976).

Quanto a carga total todos os métodos se apresentaram conservadores e a favor da segurança, com razões
abaixo de 1,0 e média de 0,6. Os métodos mais conservadores foram Aoki & Velloso (1975) e
Meyerhof (1976), apresentando ambas cargas totais na ruptura de 30 % da carga real e isso se deve a
baixa resistência de atrito lateral estimada por ambos os autores. Em contrapartida, o método de Teixeira
(1996), aponta carga total na ruptura de 90 % da carga real (medida), resultado este em virtude da boa
estimativa para a parcela de atrito lateral. Os demais métodos, LCPC (1982), Eslami & Fellenius (1997) e
Décourt & Quaresma (1975), apresentaram valores intermediários de 60 % a 70 % da resistência real
(medida), sendo estas boas estimativas, levando em consideração as diversas variáveis e incertezas
envolvidas no cálculo da carga de ruptura em estacas e, principalmente, por estarem a favor da segurança,
proporcionando confiança na sua utilização rotineira em projetos de fundação.

6- CONCLUSÕES

De maneira geral, os métodos semi-empíricos estudados se mostraram conservadores e a favor da


segurança, quanto a parcela de atrito lateral e a capacidade de carga total da estaca analisada. Em relação
a resistência de ponta, todos superestimaram a capacidade da estaca, apresentando valores contra a
segurança. A variação de resultados obtida entre os métodos é considerável, até mesmo para métodos que
utilizam o mesmo tipo de ensaio de campo. Assim, a importância no estudo constante para o
aperfeiçoamento de tais métodos e melhora de suas estimativas se mostra relevante.

AGRADECIMENTOS

Ao professor Fernando Schnaid pela liberação dos dados das provas de carga estática, a Fugro in Situ
Geotecnia pelos dados dos ensaios CPTU e a Geoforma Engenharia pelos dados dos ensaios SPT.

REFERÊNCIAS

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