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COMPARAÇÃO ENTRE OS MÉTODOS DE PREVISÃO DE CAPACIDADE DE

CARGA, ESTÁTICOS SEMI-EMPÍRICOS E DINÂMICOS, COM A PROVA DE


CARGA ESTÁTICA REALIZADA EM ESTACAS PRÉ-MOLDADAS

Ana Maria Stephan, MSc


Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Engenharia Civil, Departamento de
Transportes, Juiz de Fora, MG

RESUMO: Com o objetivo de estudar o comportamento de estacas pré-moldadas utilizou-se,


no presente trabalho, da relação entre os métodos usuais de capacidade de carga, neste caso,
abrangendo apenas os métodos estáticos semi-empíricos e os métodos dinâmicos, com ensaios
de prova de carga estática. O estudo foi servido das seguintes informações: realização de
ensaio de investigação de campo, SPT; acompanhamento das energias de cravação para a cota
de assentamento; projeto e confecção da instrumentação e montagem da prova de carga; e
execução de duas provas de carga através do monitoramento de cargas e deslocamentos. No
artigo é mostrado os perfis de sondagem do local onde foram executadas as estacas, os
resultados obtidos através dos métodos em estudo e a prova de carga. As estacas analisadas
apresentaram as seguintes características: pré-moldadas de concreto armado, quadradas, com
0,25 m de lado e cravadas à percussão em solo heterogêneo, com camadas conhecidas. Para
este trabalho, utilizou-se de duas estacas, sendo que uma delas foi preparada para receber
apenas a carga de projeto, sendo em seguida reaproveitada para a obra, e a outra que foi
levada até uma carga provável de ser a carga de ruptura.

1 INTRODUÇÃO

Dentre as mais diversificadas estruturas de fundações profundas, cravadas ou


escavadas, utilizadas para submeter-se a carregamentos elevados, estudou-se o comportamento
de um tipo de fundação cravada mecanicamente denominada estaca pré-moldada de concreto.
As estacas são elementos esbeltos (L>>d), capazes de transmitir as cargas da
superestrutura para as camadas resistentes profundas. Estas cargas são transferidas parte pelo
atrito lateral e parte pela resistência de ponta.
Afim de prever a capacidade de carga para este tipo fundação, o presente trabalho,
utilizou-se dos seguintes métodos: estáticos semi-empíricos; dinâmicos e a prova de carga.
A capacidade de carga de ruptura (Qr) é definida como a soma das cargas máximas
que podem ser suportadas pelo atrito lateral (Qs) e pela ponta (Qp), ou seja, Q r = Q s + Q p ,

onde Q s = f s ⋅ A s e Q p = q p ⋅ A p , daí: Q r = f s ⋅ A s + q p ⋅ A p , em que fs = tensão limite

de cisalhamento ao longo do fuste; qp = tensão limite de cisalhamento normal ao nível da base;


As = área da seção transversal da estaca; e Ap = área da ponta da estaca.

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Fundações, Obras de Terra e Pavimentos

Se a carga aplicada for de compressão, como representa a Figura 1, as resistências


oferecidas pelo terreno, na ponta e ao longo do fuste, têm os seguintes sentidos:
Qr

d
L Qs

Qp

Figura 1 - Esquema de uma estaca isolada sujeita à carga de compressão.

Caso a carga aplicada seja de tração ou de arrancamento, a única força resistente será
a de atrito lateral, com sentido inverso ao mostrado na Figura 1, além do peso próprio da
fundação. Se a base for alargada, tem-se também o esforço de arrancamento da base.

2 CAPACIDADE DE CARGA EM ESTACAS ATRAVÉS DOS MÉTODOS


ESTÁTICOS SEMI-EMPÍRICOS, MÉTODOS DINÂMICOS E A PROVA DE
CARGA “IN SITU”

2.1 Métodos estáticos semi-empíricos

2.1.1 Generalidades

Conforme ALONSO (1983), a avaliação da capacidade de carga de uma estaca, com


base em métodos semelhantes ao de Terzaghi, utilizados para as fundações rasas, não leva a
resultados satisfatórios devido aos seguintes fatores:
• Impossibilidade prática de se conhecer o estado de tensões do terreno em repouso
e estabelecer, com exatidão, as condições de drenagem que definem o comportamento de cada
uma das camadas que compõem o substrato atravessado pela estaca e aquela do solo onde se
apóia sua ponta;
• Dificuldade em se determinar com precisão a resistência ao cisalhamento dos solos
que interessam à fundação;

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Comparação entre os Métodos de Previsão de Capacidade de Carga, Estáticos Semi-Empíricos e Dinâmicos,
com a Prova de Carga Estática Realizada em Estacas Pré-Moldadas

• Influência do método executivo das estacas no estado de solicitação, nas


propriedades do solo e na sua resistência nas proximidades imediatas da estaca;
• Falta de simultaneidade no desenvolvimento proporcional da resistência de ponta e
do atrito lateral. Em geral, a resistência por atrito lateral se esgota bem antes da resistência de
ponta chegar ao valor máximo;
• Heterogeneidade do subsolo onde se cravam as estacas; e
• Presença de fatores externos e internos que modificam o movimento relativo entre
o solo e a estaca.
Por estes motivos, é que as fórmulas semi-empíricas são mais usuais no cálculo da
capacidade de carga.
Devido às restrições existentes no cálculo da capacidade de carga, através dos
métodos estáticos teóricos, uma vez que a maioria dos parâmetros do solo necessários é de
difícil acesso ou até mesmo impossível de se obter, novos métodos com boas probabilidades de
acerto e simples de serem estabelecidos, foram obtidos a partir de ensaios de campo e entre as
tensões correspondentes a estados limites de ruptura.
No Brasil, os dois métodos mais utilizados para o cálculo da capacidade de carga são
os de Aoki e Velloso e Décourt e Quaresma.
Porém, é importante destacar que, raramente, os autores têm uma definição clara do
que venha a ser ruptura, o que pode causar dificuldades ao compararem-se os resultados entre
os diversos métodos, principalmente no caso de estacas escavadas em que a ruptura física
jamais é claramente definida (DÉCOURT, 1996).

2.1.2 Cálculo da capacidade de carga através dos métodos estáticos semi-empíricos

2.1.2.1 Método de Aoki e Velloso (1975)

AOKI e VELLOSO (1975) apresentaram no V Congresso Panamericano de Mecânica


dos Solos e Engenharia de Fundações, realizado em Buenos Aires, um método para o cálculo
da carga de ruptura Qr. Os valores de qp e fs foram avaliados em função da tensão de ponta, qc,
do ensaio de penetração do cone (CPT), levando-se em conta as diferenças de comportamento
entre o ensaio CPT e a estaca. Para isto, estes valores foram reduzidos pelos coeficientes F1 e
F2, de acordo com a Tabela 1. Na ausência dos ensaios de CPT, os valores de qc são

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Fundações, Obras de Terra e Pavimentos

estimados, estatisticamente, a partir dos ensaios do SPT, determinando-se N, o número de


golpes do amostrador padrão. Portanto: q c = K .N , onde K = coeficiente em função do tipo de

solo, variando de 3,30 Kgf/cm2 para as argilas até 10,00 Kgf/cm2 para as areias; e N = valor do
q
SPT para o solo da ponta da estaca. Assim, a resistência de ponta é dada por: q p = c e a
F1

α .q c
resistência lateral é dada por: fs = , onde α é adotado também, em função do tipo de
F2

solo, variando de 1,40 % para as areias até 4,00 % para as argilas; e N = média dos valores do
SPT na camada de embutimento da estaca.

Tabela 1 - Valores de F1 e F2
Tipo de estacas F1 F2
Franki 2,50 5,00
Pré-moldadas ou metálicas 1,75 3,50
Escavadas 3,00 6,00

A maior dificuldade encontrada para o uso correto deste método está na classificação
correta dos tipos de solos envolvidos. Para isto, NIXON (1982) propôs valores típicos, entre a
relação qc e N30, dada em função do tipo de solo, variando de 0,2 MPa para siltes até 1,8 MPa
para pedregulho.
Outra proposta para esta relação é fornecida por ROBERTSON e CAMPANELLA
(1983). A relação entre a resistência de ponta, qc, do ensaio de penetração do cone (CPT) e o
número de golpes (N), do amostrador padrão, dos ensaios do SPT , pode ser expressa por:
q c = K . N30 . Em que K é um coeficiente que aumenta em função do tamanho da partícula.

Apresentam, aproximadamente, valores de 0,2 MPa para siltes e 0,6 MPa para pedregulho.
A variação de qc/N30 parte do valor de d50, (diâmetro tal que 50 % do solo, em massa,
têm diâmetros menores que ele), obtidos das curvas granulométricas correspondentes ao solo
na ponta das estacas.

2.1.2.2 Método de Meyerhof (1976)

MEYERHOF (1976) sugere que este método seja aplicado apenas para estacas
apoiadas em substrato arenoso. O valor da resistência de ponta, qp, pode ser definido em
termos do ensaio de resistência, SPT, utilizando-se da seguinte expressão:

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0,4 . N . D b
qp = ≤ 4 N , onde: N = média dos valores do SPT correspondente à profundidade da
d
ponta da estaca e à imediatamente inferior; Db = profundidade de embutimento dentro da
camada resistente; e d = largura ou diâmetro da estaca.
Meyerhof sugere um valor limite, ql, superior a 3N para siltes não plásticos e que se
adote um valor médio de SPT, numa faixa de B abaixo da ponta da estaca e 4B acima, caso o
solo apresente heterogeneidade. O valor de N deve ser corrigido segundo TERZAGHI e
N
PECK (1967). Daí, para as estacas cravadas a resistência lateral é dada por: fs = em que
50
N = valor do SPT médio na região de embutimento da estaca.

2.1.2.3 Método de Décourt e Quaresma (1982)

DÉCOURT (1982) apresentou em um Simpósio Europeu de Ensaios de Penetração,


na Holanda, um método que leva em conta os valores do SPT e, para a resistência de ponta, o
tipo de solo.
A tensão de ruptura na ponta é dada por: q p = K . N , onde K = dado em função do

tipo de solo, Tabela 2; e N = média dos valores do SPT, correspondentes à profundidade da


ponta da estaca à imediatamente superior e à imediatamente inferior.

Tabela 2 - Valores do coeficiente K em função do tipo de solo


Tipo de solo K (tf/m2) Tipo de solo K (tf/m2)
Argila 12,00 Silte arenoso 25,00
Silte argiloso 20,00 Areia 40,00

N
O atrito lateral unitário é dado por: f s = + 1 em que N = SPT médio ao longo do
3
fuste.
Para valores de N ≤ 3, adotar N = 3, e para valores > 50, adotar N = 50.
O método utilizado consiste, também, em se adotar coeficientes de segurança, F1 e F2,
relativos, respectivamente, ao atrito lateral e à ponta da estaca.
Qs Q p
Daí, a equação final para o cálculo da carga admissível será: Qadm = + .
F1 F2

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2.2 Métodos dinâmicos

2.2.1 Generalidades

As formulações dinâmicas de cravação de estacas, estabelecidas teórica ou


empiricamente, buscam determinar uma relação entre a resistência dinâmica de uma estaca
durante a cravação e a capacidade estática da mesma.
As formulações dinâmicas empregam o seguinte princípio básico: ENERGIA
APLICADA = ENERGIA CONSUMIDA + ENERGIA DISSIPADA, durante a cravação
(compressão do terreno, deformação elástica da estaca, etc.), e partem da medida da “nega” e
do repique elástico.
De acordo com DAVIDIAN (1972), o método dinâmico oferece resultados bastante
exatos em terrenos, relativamente, compactos e permeáveis (areias) com a condição de que o
terreno subjacente seja incompressível. Apresenta, entretanto, resultados que se diferenciam
muito da realidade como é o caso dos solos plásticos pouco permeáveis (argila e silte), baixos
valores de “nega” (argila compacta) e altos valores de “nega” (argila pouco compacta).
A carga admissível, R, de uma estaca é uma fração da sua resistência dinâmica, Rd.
R
Portanto, para uma estaca vertical: R = d , onde F.S. é um coeficiente de segurança.
F.S
Há inúmeras formulações dinâmicas, estabelecidas a partir de diferentes hipóteses,
para avaliar as perdas de energia ocorridas durante a cravação das estacas. Entre elas foram
alinhadas para esta pesquisa a dos holandeses, Redtenbacher, e Brix.
Os ensaios de carregamento dinâmico estão prescritos pela Norma Brasileira NBR
13208/94 (Estacas - Ensaios de carregamento dinâmico).

2.2.2 Nega

Este parâmetro determinado, experimentalmente, consiste na penetração contínua de


uma estaca, causada pela aplicação de uma série de golpes provocados pelo pilão e caindo de
uma altura conhecida. Em geral é medida por uma seqüência de 10 golpes em unidades de
mm/golpes. As fórmulas de controle de qualidade do estaqueamento pela “nega” foram
determinadas, igualando-se a energia aplicada, pelo pilão no topo da estaca com a energia
gasta para causar a ruptura do solo, durante a sua cravação, somada às perdas, por impacto e

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com a Prova de Carga Estática Realizada em Estacas Pré-Moldadas

por atrito, necessárias para vencer a inércia da estaca, introduzida na massa do solo, conforme
a seguinte equação: M . H = R d .s + perdas .

Uma importante aplicação das fórmulas usuais das “negas” é no controle da


uniformidade do estaqueamento, quando se deseja manter, durante a cravação, negas
aproximadamente iguais para as estacas com carga e comprimento de mesma ordem de
grandeza.

2.2.3 Repique

Associado à “nega” está o repique, também determinado experimentalmente. O


repique é a parcela elástica do deslocamento máximo de uma seção da estaca, decorrente da
aplicação de um golpe do pilão. Este valor pode ser obtido através do registro gráfico, em
folha de papel fixada sobre a face da estaca, movendo-se um lápis, apoiado em um referencial
fixo, lenta e continuamente, durante o golpe do pilão. O repique, K, é composto por duas
parcelas, C2 e C3, referentes às deformações elásticas do fuste e do solo, conforme a Figura 2.
Geralmente, adota-se C3 igual à nega.

→ Folha de papel afixada à


lateral da estaca pré-moldada, de
concreto, de aço ou madeira

Figura 2 – Registro do repique.

2.2.4 Cálculo da carga admissível através dos métodos dinâmicos

A Tabela 3 apresenta de forma resumida as formulações adotadas para o cálculo da


resistência dinâmica, Rd e os seus respectivos coeficientes de segurança.

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Fundações, Obras de Terra e Pavimentos

Tabela 3 – Métodos Dinâmicos Simplificados utilizados para o cálculo da carga admissível, R

Método Resistência Dinâmica Fatores Adotados F.S.

1 - Fórmula holandesa M⋅H M s 6,00 – 12,00


Rd = ⋅
s M+P

E ⋅ Ω 
2 – Redtenbacher 2 Ees 3,00
2 2⋅ M ⋅ H l 
Rd = −s + s + ⋅
l  M+ P E ⋅ Ω
 

3 – Brix M⋅H M⋅P s 4,00 – 5,00


Rd = ⋅
s (M + P )2

Em que: M = peso do martelo; H = altura de queda do martelo; s = nega; P = peso da estaca;


E = módulo de elasticidade da estaca; Ω = área da seção transversal da estaca; l =
comprimento da estaca.
Caso M < P, a carga admissível deve ser reduzida por um coeficiente, n, expresso por:
  M 
3
n = 1− 4 .1 −   .
  P  

2.3 Prova de carga

2.3.1 Generalidades

É a forma mais indicada na obtenção de capacidade de carga. Segundo prescrições da


Norma Brasileira MB 03472/91 (Estacas - Prova de carga estática), a prova de carga consiste
num método que determina a capacidade de carga das fundações profundas. Consiste,
basicamente, em aplicarem-se esforços estáticos crescentes à estaca e registrar os
deslocamentos correspondentes. Os esforços aplicados podem ser axiais de tração, compressão
ou transversais. O tipo mais comum é com carregamento vertical à compressão.
De acordo com a norma, na execução da prova de carga, a estaca é carregada até a
ruptura ou, ao menos, até duas vezes o valor previsto para sua carga de trabalho. A critério do
projetista o ensaio pode ser realizado: com carregamento lento e com carregamento rápido.

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com a Prova de Carga Estática Realizada em Estacas Pré-Moldadas

3 PERFIL GEOTÉCNICO DO TERRENO EM ESTUDO

Para a realização deste trabalho foram executados dois furos de sondagens (SPT)
distantes de 1,00 m das estacas a serem ensaiadas (Figura 3). As amostras deformadas obtidas
deste ensaio foram utilizadas para os ensaios de granulometria.

Figura 3 – Perfil geotécnico das sondagens.

4 ESTACAS ENSAIADAS
4 ESTACAS ENSAIADAS
4.1 Características da estaca ensaiada

Foram feitos ensaios sobre duas estacas, cujas características estão apresentadas na
Tabela 4, sendo uma estaca ensaiada para a carga de trabalho (400 kN) e a outra até à ruptura.

Tabela 4 – Características das estacas


Tipo Pré-moldada Comprimento cravado 10,70 m (ruptura)
Carga de projeto 400 kN 14,80 m (trabalho)
Lado 0,25 m Resistência característica 20 MPa
Área 0,0625 m2 Módulo de Elasticidade 28795 MPa

4.2 Execução e preparação das estacas para os ensaios de prova de carga

As estacas foram cravadas pelo processo de percussão, utilizando-se um pilão em


queda livre com um peso de 17 kN. A altura de queda média do pilão durante todo o processo
de cravação, foi de 1,00 m.

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Fundações, Obras de Terra e Pavimentos

Como as estacas ensaiadas tiveram comprimentos superiores a 8,00 m, adotou-se a


técnica de emendas do tipo soldável, através de anéis metálicos, fazendo-se com que as seções
emendadas resistissem a todas as solicitações que nelas ocorressem durante sua cravação.

5 PROVAS DE CARGA

5.1 Sistema de reação e montagem da prova de carga

Em STEPHAN (1998), estão descritas toda a metodologia da montagem da prova de


carga desde o projeto e execução dos tirantes utilizados como sistema de reação, a colocação
das vigas primárias, secundárias e auxiliares, chapas metálicas, luvas de aço, macaco
hidráulico, manômetro, extensômetros e etc, para as duas estacas ensaiadas.

5.2 Execução dos ensaios de prova de carga

A execução das provas de carga foram baseadas de acordo com a norma. As estacas
ensaiadas foram submetidas a carregamentos lentos.
Para se qualificar o comportamento elástico do solo, foram feitos, primeiramente, 5
estágios de carregamento com 80 kN em cada estágio, até 400 kN e 5 estágios de
descarregamento. Em seguida, iniciou-se um novo carregamento até a carga estimada de
ruptura, ou seja, 1040 kN (Figura 4).

6 RESULTADOS E ANÁLISES

A Tabela 5 e a Figura 4 apresentam, respectivamente, os resultados obtidos pelos


métodos estáticos semi-empíricos e dinâmicos, de forma resumida, e o gráfico carga (q) X
recalque (s), gerado pela prova de carga, apenas para a estaca submetida a carga provável de
ruptura. Para a estaca levada a carga de trabalho os cálculos são análogos.

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com a Prova de Carga Estática Realizada em Estacas Pré-Moldadas

Tabela 5 – Resultados obtidos a partir dos métodos estáticos semi-empíricos e dinâmicos


Métodos estáticos Qp Ql Qr Métodos dinâmicos F.S. R
semi-empíricos (kN) (kN) (kN) (kN)
Aoki-Velloso 915 105 1020,0 Holandês 6 1100,0
Meyerhof 975 65 1040,0 Redtenbacher 3 498,0
Décourt-Quaresma 675 240 915,0 Brix 4 818,0

C a rg a (kN )
0 20 0 400 600 800 10 00 12 00
100 300 500 7 00 9 00 11 00

0 .0 0
A
C
2 .0 0
B
4 .0 0
D
6 .0 0

8 .0 0
R e c a lq u e (m m )

1 0 .0 0

1 2 .0 0 F

1 4 .0 0

1 6 .0 0

1 8 .0 0

2 0 .0 0

2 2 .0 0
E
2 4 .0 0

2 6 .0 0

Figura 4 – Curva carga (q) X recalque (s).

Segundo STEPHAN (1988), vários são os critérios para determinar a carga de


ruptura e o recalque à partir do gráfico da Figura 4, dentre eles utilizou-se o critério de
Companucci & Gomez (1988), com a limitação do recalque total relativo = 0,05 . D; Cudmani
(1994), baseado na tangente da curva; Jimenez (1981), onde a carga de ruptura corresponde a
um recalque ocorrido com 90% da mesma carga; Décourt (1996), com a limitação do recalque
total igual a 10% do diâmetro do topo da estaca; Van der Veen (1953), através de um
programa de computador específico; e Housel (1966) baseando-se no aumento significativo
dos deslocamentos medidos na 2a metade do estágio de carregamento., cujos resultados estão
descritos na Tabela 6.

Tabela 6 – Resultados obtidos a partir da curva carga (q) X recalque (s)


Critério s (mm) Prup(kN) Critério s (mm) Prup(kN)
Companucci & Gomez 12,50 900,00 Décourt 25,00 1050,00
Cudmani 23,80 1040,00 Van der Veen - 1085,00
Jimenez 11,00 864,00 Housel 23,80 1040,00

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Fundações, Obras de Terra e Pavimentos

De acordo com os resultados obtidos, pode-se concluir que:


• os critérios de ruptura adotados por Cudmani, Décourt e Housel conduziram a
resultados semelhantes, diferenciando-se do Companucci em 13%, do Jimenez em 17% e Van
der Veen em apenas 4%;
• entre os métodos estáticos semi-empíricos, Meyerhof e Aoki-Velloso apresentaram
resultados próximos e semelhantes à maioria dos resultados obtidos pelos critérios de ruptura,
diferenciando-se do Décourt-Quaresma em 12%, visto que este apresenta resultado próximo
ao de Companucci & Gomez e Jimenez; e
• para os métodos dinâmicos não houve resultados semelhantes entre eles, sendo que
o holandês é o que apresentou resultado mais próximo à maioria dos critérios de ruptura e aos
métodos estáticos semi-empíricos, e o de Brix próximo ao de Companucci e Jimenez. Estas
incoerências podem ser avaliadas em função dos fatores de segurança adotados.

7 CONCLUSÕES

A estrutura apresentou uma ruptura por recalque excessivo de ≅ 24 mm e uma carga


provável de ruptura de 1040 kN, ao final do ensaio. Em resumo, pode-se concluir que a carga
de ruptura ocorreu entre σr = 900 kN e σr = 1085,00 kN.
As análises propostas pelos métodos estáticos semi-empíricos e método dinâmico
holandês, de capacidade de carga, mostraram-se próximas da realidade obtida no ensaio de
prova de carga.
No entanto, para uma conclusão mais precisa destas relações seria necessário montar
um banco de dados envolvendo inúmeras provas de carga.
Constatou-se, após esta pesquisa, que o ensaio de prova de carga estática
compreende o método mais eficiente para previsão do comportamento da capacidade de carga
e recalques em fundações. Contudo, sua aplicação torna-se difícil por apresentar um grande
custo à sua execução.

AGRADECIMENTOS

à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) pela oportunidade em apresentar este


trabalho e à Universidade Federal de Viçosa (UFV) pelo apoio no decorrer das pesquisas.

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Comparação entre os Métodos de Previsão de Capacidade de Carga, Estáticos Semi-Empíricos e Dinâmicos,
com a Prova de Carga Estática Realizada em Estacas Pré-Moldadas

REFERÊNCIAS

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201 p.

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