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ENSAIO ESTÁTICO EM ESTACA MOLDADA COM REACÇÃO BLOCOS DE BETÃO

Autores: Fernandes,Géssica Stacey Menete1, Pinto, Claudio João1, Nicolas Kaidussis, Francisco Ricardo1,
Antique, Samuel João1
Email do Autor Principal: gessica.fernandes@rosond.co.mz
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Rodio Rosond Moçambique, Lda

Resumo
Os desafios de dimensionamento incidem na necessidade de uma correcta previsão do comportamento dos
elementos de fundação perante os carregamentos a que estes estarão sujeitos. O uso de ensaios de carga
verticais é uma das metodologias usadas para prever esse comportamento.
Neste sentido, a presente pesquisa teve como objectivo apresentar a relevância de ensaios de carga tendo
como caso de estudo o projecto realizado na baixa da cidade de Maputo, definindo se as estacas realizadas
possuem capacidade necessária (pela sua carga de ruptura) para suportar a estrutura proposta pelo
projectista.
Nos 3 ensaios de carga vertical realizados, de acordo com a norma ASTM D1143-81, a carga máxima de
teste foi igual a 2 vezes a carga de serviço, e deles foi concluído que as estacas teêm capacidade de carga
para suportar a superestrutura do projecto embora em 67% dos ensaios realizados não foi possível
determinar a carga de ruptura,

1. INTRODUÇÃO

Com a chegada dos grandes projectos em Moçambique, verifica-se uma necessidade em


rentabilizar os custos das fundações dos mesmos, de modo a tornar os projectos mais sustentáveis
a nível económico.
A mecânica dos solos é um ramo da ciência que lida com o estudo das propriedades físicas do solo
e do comportamento das massas de solos sujeitas a vários tipos de forças. Assim, os engenheiros
civis devem estudar as propriedades do solo, como por exemplo, capacidade de carga de modo a
suportar as estruturas propostas pelos projectistas. (Das,2006)
A execução de fundações por estacas tem sido uma opção mais frequente para os grandes projectos
de engenharia tal como pontes, edifícios tipo torres entre outros. A capacidade de carga de uma
estaca é definida como sendo a soma das cargas máximas suportadas pelo atrito lateral e pela ponta
e pode ser determinada através de métodos teóricos, métodos semi-empiricos e métodos práticos.
A incerteza sobre a capacidade de carga é um dos factores que mais tem implicado a realização de
ensaios de carga para verificar e validar as soluções de estacas propostas por projectistas do mundo
inteiro.

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A figura abaixo ilustra a leitura de alvos topográficos durante a realização de um ensaio de carga.

Figura 1 - Leitura em curso no Ensaio de Carga na estaca P73.

1.1 Objectivo
O objectivo do presente artigo é de dar a conhecer a importância da realização de ensaios de carga
em estaca e a utilidade dos resultados que são produzidos.
Os ensaios de carga, por sua vez, tem por objectivo:
 Verificar a deformação das estacas executadas.
 Verificar os parâmetros de dimensionamento assumidos.
 Estudar a interacção estaca/solo.
 Estabelecer as características da estaca a adoptar para a fase final do projecto.

2. DESCRIÇÃO E MÉTODOS

2.1 Caso de Estudo


O trabalho realizado consistiu em testar o comportamento de três estacas moldadas independentes
de 600 mm de diâmetro sob uma carga vertical imposta. O comprimento das estacas foi definido
para 18,0 m conforme as especificações do projeto.

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A área de estudo localiza-se na cidade de Maputo (vide figura 2), que é caracterizada de acordo
com o estudo da Direcçao Nacional de Geologia, pela formação de Ponta vermelha (TeVs) de
idade quartenária (Pleistoceno - Pliocene). Esta formação é constituida basicamente por areias
siltosas, arenitos vermelhos ferruginosos, margas e siltitos (rochas semi-consolidadas) .
As condições geológicas encontradas no local da obra são:
• 0-1m: aterro.
• 1-4,7m: areias finas vermelhas.
• 4,7-9,7m: argilas.
• 9,7 – 14,1m: arenito alterado (totalmente intemperizado).
• 14,1-17,8m: formação similar a cálcario (arenito de forte intemperismo).
• 17,8-25m: arenito médio (arenito resistido médio).

Figura 2 - Localização da obra e estacas de ensaio. Fonte: Google Earth.

As estacas, de serviço, foram executadas com recurso a tecnologia vara kelly com emprego de
lamas bentoníticas de modo a estabilizar as paredes do furo, durante a execução da estaca.
O ensaio estático de carga em escala real consistiu na aplicação de uma carga vertical máxima
correspondente a aproximadamente 2 vezes a carga de serviço prevista de 1500 kN.
Para a estrutura da reação, blocos de betão de contrapeso foram colocados acima de uma estrutura
de suporte composta por perfis de aço, soldados entre si, apoiados em blocos de betão (vide figura
3).
No topo das estacas foram construídos maciços com dimensões de (LxBxH) 1,0m x 1,0m x 0,8m
e com armadura mínima prevista no REBAP.

Autor: Géssica Fernandes Página 3 de 10


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As cargas verticais nas estacas foram impostas por um macaco hidráulico. As deformações foram
avaliadas no topo do maciço, usando quatro deflectómetros apoiados por uma estrutura
independente, permitindo o controle de deslocamentos verticais e a eventual rotação do maciço
devido a eventual excentricidade inesperada através de levantamento topográfico feito na hora do
ensaio.

Figura 3 - Estrutura de Ensaio de Carga na estaca P112.

2.2 Descrição do Ensaio


O teste de carga vertical estático total foi executado de acordo com a norma ASTM D 1143-81 -
Método de Teste Padrão para Estacas sob Carga Compressiva Axial Estática, que compreende a
aplicação de vários níveis de carga de compressão, com dois (2) ciclos de carga e descarga. A
carga vertical imposta por ciclo é resumida da seguinte forma:
 1º ciclo: 0% -> 25% ---> 75% ---> 100% ---> 75% ---> 25% ---> 0%;
Leituras: foram feitas em cada ciclo de carregamento depois da aplicação da carga em 0 min, 5
min, 10 min, 15 min, 20 min, 25 min e 30 min e a 100% da carga, leituras de até 1 hora.
Ao descarregar depois da remoção da carga a 0 min, 5 min, 10 min, 20 min, 25 min e 30 min,
Nota: Intervalo de tempo acumulado.
 2º ciclo: 0% -> 50% -> 125% -> ---> 200% ---> 125% -> 50% ---> 0%;
Leituras: foram feitas em cada ciclo de carregamento depois da aplicação da carga em 0 min, 5
min, 10 min, 15 min, 20 min, 25 min e 30 min e a. na carga máxima, leituras a 0 min, 5 min, 10
min até 1 hora ou quando for observado um assentamento de 0,25 mm em uma hora.

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Ao descarregar depois da remoção da carga a 0 min, 5 min, 10 min, 20 min, 25 min e 30 min,
Nota: Intervalo de tempo acumulado.
De acordo com o programa de carregamento, uma carga máxima proposta de 3 000 kN (2 x 1500
kN) foi aplicada à cabeça da estaca, através do maciço durante o teste.

2.3 Interpretação de Resultados


Os dados de carga e de assentamento são representados de forma gráfica com carga ao longo da
abscissa e assentamento ao longo das ordenadas. No entanto, essas coordenadas podem ser
trocadas dependendo da preferência dos engenheiros geotécnicos. Esses dados são usados para
calcular a carga de ruptura, de modo que a capacidade de estaca possa ser estimada.
Segundo o Eurocódigo 7, a falha final de uma estaca é definida como a carga quando a estaca
assenta ou o assentamento que ocorre rapidamente sob carga imposta. Assentamento, no entanto,
pode exigir grandes movimentos que podem exceder a faixa de aceitação do sistema de solo-estaca.
Outras definições de falha consideram limites de assentamento arbitrários, como a estaca é
considerada como tendo falhado quando a sua cabeça moveu 10 por cento do diâmetro da estaca.
Os métodos de determinação da carga de ruptura de uma estaca podem ser subdividos em quatro
grupos: assentamento limite, deformabilidade limite, intersecção das fases elástica e plástica e de
forma matemática. No primeiro grupo, a carga de ruptura é determinada de acordo com o valor do
assentamento máximo observado. No segundo grupo, a carga de ruptura corresponde a um módulo
de deformabilidade limite da estaca. No terceiro grupo são definidas duas rectas tangentes ao
gráfico de carga por assentamento e a carga de ruptura corresponderá ao ponto de intersecção. O
quarto grupo considera o ajuste do gráfico resultante do ensaio, a uma curva de formulação
conhecida: hiperbólica no método de Chin(1970), exponencial no método de Van Der Veen (1953)
e parabólica no método de Mazukiewicz (1972)(Hachich et al.,1996).
Muitos engenheiros definem a carga de falha no ponto de intersecção da tangente inicial com a
curva carga-movimento e a tangente ou extensão da porção final da curva. (Fellenius, 1975)
A tangente inicial é encontrada na fase elástica e a tangente final é encontrada na fase plástica de
deformação da estaca, como ilustra a figura abaixo.

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Figura 4 - Definição da carga de ruptura pela curva de Carga vs. Assentamento. (Fonte: Fellenius, 1975)

No presente artigo será considerada como falha a descrição segundo EC7 e como valor de ruptura,
a intersecção da tangentes da fase elástica e plástica.

3. RESULTADOS
Os resultados dos ensaios realizados são apresentados abaixo, em resumo:

Tabela 1 - Resumo dos ensaios de carga verticais.

Assentamento (mm)
Carga Carga de Carga Inicial Carga
Carga Final
1o e 2o Ciclo Inicial Serviço no 2o ciclo Máxima
(0 kN)
(0kN) (1500 kN) (0 kN) (3000 kN)
Pile No 112 0 -4,20 -1,78 -6,90 -1,71
Pile No 09 0 -3,30 -0,59 -5,33 -
Pile No 73 0 -4,30 -1,47 -13,33 -8,92

De acordo com os resultados obtidos nos dois ciclos de carga, pode-se observar o seguinte:
a) Para a estaca 112 (vide figura 5), a recuperação vertical é de cerca de 57.6% da deformação
inicial. Para o 2º ciclo o componente da deformação vertical restante é de cerca de 0% da
deformação final.

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Figura 5 - Resultado gráfico de assentamento vs carga da estaca 112.

b) Para a estaca 09 (vide figura 6), o recuperação vertical é de cerca de 82,1% da deformação
inicial. Para o segundo ciclo a componente da deformação vertical não pôde ser
determinada porque o teste foi interrompido por razões de segurança, portanto, o regime
de interação solo-estaca não pôde ser identificado.

Figura 6 - Resultado gráfico de assentamento vs carga da estaca 9.

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c) Para a estaca 73 (vide figura 7), a recuperação vertical é de cerca de 65,8% da deformação
inicial. Para o segundo ciclo a componente da deformação vertical recuperada é de cerca
de 37,1% da deformação final.

Figura 7 - Resultado gráfico de assentamento vs carga da estaca 73.

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4. DISCUSSÃO

De acordo com os resultados derivados dos ensaios verticais de escala real realizados no local, são
apresentadas as seguintes considerações principais:
 Não foi possível definir a carga de ruptura pelo modelo de definição escolhido para os
ensaios realizados nas estacas 112 e 9. A incapacidade em identificar duas tangentes (para
fase elástica e plástica), leva a concluir que estes dois ensaios não antingiram a carga de
ruptura.

 De acordo com os resultados de assentamento observados à carga máxima de ensaio


(3000kN) para os ensaios realizados nas estacas 112, 73 e 9 indicam que não houve falha
nas estacas, com base no descrito no EC7, já que nenhum dos assentamentos máximos
registados excedeu a 10% do diâmetro da estaca testada.

 Embora não se tenha definido a carga de ruptura para os estacas P112 e P9, nota-se que o
comportamento de todas as estacas ensaiadas (incluído a P73) à carga de 1500kN (carga
de serviço definida pelo projectista) permitirá a execução da superestrutura pretendida,
uma vez que os assentamentos assim o sugerem.

 De acordo com o modelo de determinação escolhido, a carga de ruptura definida para a


estaca P73 é 1400kN (vide figura 8), conforme figura abaixo, entretanto à carga máxima
de 3000kN o assentamento registado é de 13,33mm, indicando que esta ainda não falhou e
com base no EC7 a sua capacidade resistente poderá ser maior. Neste sentido a carga de
ruptura determinada sugere que esta corresponda a resistência por ponta da estaca, pelo que
acima desta, a carga passa a contar com a resistência por atrito lateral.

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RRup = 1400 kN

Figura 8 - Determinação da carga de ruptura para estaca P73.

5. BIBLIOGRAFIA

 ASTM International. Standard Test Method for Piles under Lateral Loads. Designation D3966-90,
West Conshohoken, PA, USA 1995.
 ASTM International. Standard Test Method for Piles under Static Axial Compressive Load.
Designation D1143-81, West Conshohoken, PA, USA 1995.
 Das, Braja M, Fundamentos de Engenharia Geotécnica, São Paulo 2006.
 Fellenius, B.T., The analysis of results from routine pile load tests,. 1975
 Hachich,W., Falconi, F.F.,Saes J.L,Frota, R.G.Q., Carvalho, C. S. & Niyama, S., Fundações
Teórica e Prática 1ª edição, Ed. PINI, São Paulo 1996.
 Krasiński, A., Numerical simulation of screw pile interaction with non-cohesive soil, 2013.
 Larisch, M. D., Behaviour of stiff, fine-grained soil during the installation of screw auger
displacement piles, Brisbane 2014.
 Lundberg, B., Dijkstra J. & A.F. van Tol, Displacement pile installation effects in sand, Installation
Effects in Geotechnical Engineering, London 2013.
 Magalhães, P. H. F., Avaliação dos Metódos de capacidade de carga e recalque de estacas hélice
contínua via provas de carga, Dissertação de Mestrado, Brasília 2005.
 NP EN 1997-1 Eurocódigo 7 Projecto geotécnico, 2010.

Autor: Géssica Fernandes Página 10 de 10

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