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CAPÍTULO 1
1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS

1.1. UM POUCO DE HISTÓRIA

A palavra termodinâmica teve origem na junção de dois vocábulos gregos therme ( calor) e
dynamis (força), que tem a ver com as primeiras tentativas de transformar calor em trabalho e que
constituíram o objetivo primordial dessa ciência.
Portanto, a ciência termodinâmica surgiu da necessidade de estudar e aperfeiçoar funcionamento
1
das primeiras máquinas a vapor .
Atualmente, a termodinâmica pode ser definida como a ciência que trata das transformações de
energia de quaisquer espécie umas nas outras.2
Todos os fenômenos da natureza envolvem alguma transformação ou troca de energia:
• Queda de uma pedra ( EPOT ECIN)
• Movimento de uma bola ( ECIN)
• Combustão da gasolina ( EINT)
3
• Crescimento dos seres vivos
Essas transformações seguem alguns princípios conhecidos como:
a
• 1 Lei da Termodinâmica: Conservação de Energia
a
• 2 Lei da Termodinâmica: Entropia reversibilidade
a
• 3 Lei da Termodinâmica: Equilíbrio

As duas primeiras leis desenvolvidas e testadas na última metade do século XIX, não podem ser
a
demonstradas matematicamente, mas estão totalmente fundamentadas em dados experimentais. A 3 Lei
4
desenvolveu-se no século XX baseada em dados experimentais e teóricos.
As leis da termodinâmica, através de deduções matemáticas levam a um conjunto de equações,
que encontram aplicação prática :
• engenharia mecânica
o máquinas térmicas, caldeiras, motores
• engenharia elétrica
o sistemas de ar condicionado, refrigeração
• engenharia química
o reatores, evaporadores, secadores, ....

EXEMPLO: evaporador

1
LISBOA, Termodinâmica I cap. 1.
2
SMITH, J.M; VAN NESS, H.C; ABBOTT, M.M. Introdução à Termodinâmica da Engenharia Química, 5.ed. p.1.
3
MARON, S.H; PRUTTON, C.F. Fundamentos de Fisicoquimica. Cap.3 p.109
2

FIGURA 1.1 Evaporador

Limitações termodinâmicas:
• as considerações termodinâmicas não estabelecem as taxas nos processos físicos e químicos
o a taxa é função da força motriz (variável termodinâmica) e da resistência.
• Não revelam os mecanismos microscópicos ( moleculares) dos processos.

Limitações práticas:
• Falta de dados experimentais: o engenheiro deve estimar os resultados através das equações
obtidas a partir de um conjunto limitado de dados.
Apesar das limitações, a termodinâmica é notável pelo número e diversidade de conclusões baseadas
a a
na 1 e 2 Leis. Todo o restante da teoria ou é constituído por deduções ou definições.
Portanto, para usar o método termodinâmico é necessário ser capaz de avançar, com lógica, de uma
5
dedução para outra utilizando termos precisamente definidos.

1.2. DIMENSÕES E UNIDADES

Existem diversos conceitos fundamentais que formam a base de todas as medições físicas, entre
esses estão o tempo, o comprimento, a massa e a força que são conhecidas como grandezas primárias.
Para cada uma delas deve-se estabelecer uma escala arbitrária de medida, dividida em unidades de
tamanho específicas.5
Dependendo da grandeza, é possível encontrar diferentes unidades para representá-la por
exemplo o comprimento que pode ser expresso em metro, pé, milha, polegada ....
O fato de haver muitas unidades para uma mesma grandeza leva a uma confusão generalizada
tornando difícil o entendimento entre as pessoas. Se a dificuldade já é grande dentro do país fica muito
maior quando se têm acesso à literatura americana ou inglesa, que usa unidades muito diferentes das
normalmente usadas no Brasil.

4
DODGE,B.F. CHEMICAL Engineering Thermodynamics. p.1
5
SMITH, J.M; VAN NESS, H.C Introdução a Termodinâmica da Engenharia Química. 3.ed. p.1.
3
Por isso devemos adotar um conjunto de unidades (conhecido como sistema de unidades) para
medir as grandezas. A tabela 1.1 apresenta os sistemas de unidades mais comuns usados pelos
engenheiros nas últimas décadas.
Um sistema de unidades se baseia em um certo número de grandezas primárias cujas unidades
são adotadas como base, as demais grandezas denominadas grandezas derivadas terão unidades
definidas por operações matemáticas entre as unidades de base.
Os sistemas absolutos possuem como unidade de base, as unidades de comprimento, tempo e
massa; a força é uma grandeza derivada para esses sistemas. Nos sistemas técnicos, as unidades de
base são comprimento, tempo e força, sendo a massa uma grandeza derivada. Nos sistemas mistos
ainda usuais em engenharia, a massa e a força são adotadas simultaneamente como unidades de base,
a fim de se obter o valor numérico da massa igual ao da força.
O Sistema Internacional de Unidades é o único que foi definido com sete unidades de base
conforme mostra a Tabela 1.2. È o único sistema de uso legal e oficial no Brasil desde 1962.
O sistema CGS está totalmente ultrapassado, em que apenas algumas poucas unidades ainda
permanecem por força do hábito entre os profissionais.
O sistema misto de engenharia ( MKKfS) ainda vem sendo usado em nosso país de forma
irregular. Na indústria ainda é usual a unidade de força desse sistema – quilograma-força (kgf) e a
2
equivalente unidade de pressão, kgf/cm .
O sistema Inglês, principalmente o misto ainda sobrevive, embora já esteja havendo um esforço
por parte dos EUA e da Inglaterra no sentido de substituí-lo pelo SI. O SI já vem sendo usado de uma
6
forma bastante acentuada em revistas técnicas e em recentes livros didáticos americanos e europeus.

TABELA 1.1 Sistemas de Unidades comuns


Sistemas Comprimento Tempo Massa Força
Absolutos ou Dinâmicos
SI metro segundo quilograma newton*
CGS centímetro segundo grama dina*
FPS pé segundo libra poundal*
Gravitacionais ou técnicos
MKfS metro segundo utm* quilograma-força
FPfS pé segundo slug* libra-força
Mistos ou de engenharias
MKKfS metro segundo quilograma quilograma-força
FPPfS pé segundo libra libra-força
* Unidade derivada das unidades básicas
Fonte: DO BRASIL, N. I. Introdução à Engenharia Química. Cap. 2.
4
TABELA 1.2 Unidades de base do SI
Grandeza Unidade Símbolo
Comprimento Metro m
Massa Quilograma kg
Tempo Segundo s
Corrente elétrica Ampère A
Temperatura termodinâmica Kelvin K
Quantidade de matéria Mol mol
Intensidade luminosa Candela cd
Fonte: DO BRASIL, N. I. Introdução à Engenharia Química. Cap. 2.

Na tabela 1.3. encontra-se a definição das unidades de base do SI.


TABELA 1.3 Definição das unidades de base do SI
Unidade Definição Observações
a
Metro Comprimento do trajeto percorrido pela luz no vácuo, durante Adotada pela 17 CGPM,
um intervalo de tempo de 1/299 792 456 de segundo de 1983
a
segundo Duração de 9 192 631 770 períodos de radiação Ratificada pela 13
correspondente à transição entre os dois níveis hiperfinos do CGPM, de 1967
estado fundamental do átomo de césio 133
a
quilograma Massa do protótipo internacional do quilograma Ratificada pela 3
CGPM*, de 1901
a
Mol Quantidade de matéria de um sistema que contém tantas Ratificada pela 14
entidades elementares quantos são os átomos contidos na CGPM, de 1971
massa de 0,012 kg de carbono 12
a
Ampère Corrente elétrica invariável eu, mantida em dois condutores Ratificada pela 9 CGPM,
retilíneos, paralelos, de comprimento infinito e de área de de 1948
seção transversal desprezível e situados no vácuo a 1 metro
de distância um do outro, produz entre esses condutores uma
-7
força igual a 2x10 newtons por metro de comprimento
a
Kelvin Fração 1/273,16 da temperatura termodinâmica do ponto Ratificada pela 13
tríplice da água CGPM, de 1967
a
Candela Intensidade luminosa de uma fonte, em uma determinada Ratificada pela 16
direção que emite uma radiação monocromática de freqüência CGPM, de 1979
12
540 x 10 Hz e cuja intensidade energética nessa direção é
1/683 watt por esterradiano.**
* CGPM – Conferência Geral de Pesos e Medidas
** esterradiano (sr) – unidade do ângulo sólido, enquanto radiano (rad) é unidade de ângulo plano.
Fonte: DO BRASIL, N. I. Introdução à Engenharia Química. Cap. 2.

6
DO BRASIL, N.I. Introdução à Engenharia Química. Cap.2, p.20-23
5

O SI, além das sete unidades de base, compreende duas unidade suplementares, o ângulo plano e
o ângulo sólido.
A partir das unidades de base e suplementares são deduzidas, direta ou indiretamente, as unidades
derivadas. A tabela 1.4 apresenta algumas unidades derivadas do sistema internacional.

TABELA 1.4 Unidades derivadas do SI


Grandeza Nome da unidade Símbolo
Unidades geométricas e mecânicas
2
Área metro quadrado m
3
Volume metro cúbico m
3
Vazão volumétrica metro cúbico por segundo m /s
3
Massa específica Quilograma por metro cúbico kg/m
2
Força Newton kg.m/s ou N
2
Pressão Pascal kg/(m.s ) ou Pa
Viscosidade dinâmica pascal-segundo kg/(m.s) ou Pa.s
2 2
Trabalho, energia, quantidade de Joule kg.m /s ou J
calor
2 3
Potência, taxa de energia Watt kg.m /s ou W
3 2
Fluxo de energia watt por metro quadrado kg/s ou W/m
2
Difusividade, viscosidade metro quadrado por segundo m /s
cinemática
2
Tensão superficial ou interfacial newton por metro kg/s ou N/m
Unidades Térmicas
o
Temperatura Celsius graus Celsius C
Gradiente de temperatura kelvin por metro K/m
Capacidade térmica ou calorífica joule por kelvin J/K
Capacidade Calorífica específica joule por quilograma e por kelvin K/(kg.K)
Condutividade térmica watt por metro e por kelvin W/(m.K)
2
Fluxo de transferência de calor watt por metro quadrado W/m

1.2.1.CONVERSÃO DE UNIDADES

Na resolução de problemas de engenharia é possível que as propriedades se encontrem em


diferentes sistemas de unidades. Não é permitido qualquer operação matemática envolvendo propriedades
em sistemas de unidades diferentes. Portanto, antes de iniciar qualquer cálculo deve-se uniformizar o
sistema de unidades, ou seja, é necessário converter as unidades que não estejam no sistema desejado.
6
As unidades são convertidas por meio de equivalências entre os sistemas. Cada unidade tem a
sua equivalência para quaisquer sistemas de unidades. Na Tabela 1.5 encontram-se algumas equivalências
6
de unidades.

TABELA 1.5 Tabela de Conversão de Unidades.


Grandeza Conversão
Comprimento 1m=100cm
=3,28084 ft=39,3701 in
3
Massa 1kg=10 g
= 2,20462 lbm
-2
Força 1N = 1kg m s
5
= 10 dina
= 0,224809 lbf
5 -1 -2 5 -2
Pressão 1bar= 10 kg m s = 10 N m
5 2
= 10 Pa = 10 kPa
6 -2
= 10 dina cm
= 0,986923 atm
= 14,5038 psia
= 750,061 torr
3 6 3
Volume 1m =10 cm
3
= 35,3147 ft
= 1000 l
-3 3 -3
Densidade 1 g cm = 10 kg m
-3
= 62,4278 lbm ft
2 -2
Energia 1 J = 1 kg m s = 1N m
3 -5 -3 3
= 1m Pa = 10 m bar = 10 cm bar
3
= 9,86923 cm atm
7 7
= 10 dina cm = 10 erg
= 0,239006 cal
-3 3
= 5,12197 x 10 ft psia = 0,737562 ft lbf
-4
= 9,47831 x 10 Btu
3 3 2 -3 3 -1
Potência 1kW = 10 W = 10 kg m s = 10 J s
-1
= 239,006 cal s
-1
= 737,562 ft lbf s
-1
= 0,947831 Btu s
= 1,34102 hp
Fonte: SMITH, J.M et al. Introdução à Termodinâmica da Engenharia Química. Apêndice A.1

Exemplo 1.1 Sabendo-se que a altura de uma coluna de destilação é 10 m, qual é a sua altura em pé (ft)?
Da tabela 1.5 temos:
1 m = 3,28084 ft
10 m = x ft
7

 3,28084 ft 
x = 10 m  = 32,8084 ft *
 1m 
*Note que a unidade antiga se cancela, deixando a nova unidade desejada.
Se a grandeza tem unidades compostas e deseja-se converter o seu valor em seu equivalente em
outro sistema de unidades, repete-se o procedimento até que todas as unidades tenham sido convertidas.

Exemplo 1.2 A vazão de descarga de um compressor é 5 m3/h, qual é a vazão em litros por segundo?
3
Da tabela: 1 m = 1000 l

 m 3   1000 l   1 h  l
1 h = 3600 s x = 5 . .
3 
 = 1,389

 h   1 m   3600 s  s

6
1.2.2.FORÇA E MASSA

Como visto na Tabela 1.1 a diferença entre um sistema absoluto ( por exemplo, SI) e os
gravitacionais está na dimensão básica, se é massa ou força. No sistema absoluto a massa é a unidade de
base e a força é a unidade derivada, enquanto nos gravitacionais é o inverso.
a
Podemos usar a 2 lei de Newton para obter a relação entre as unidades; de acordo com essa lei a
aceleração a é diretamente proporcional à força F resultante exercida sobre o corpo, na mesma direção e
sentido, e inversamente proporcional à massa m do corpo:
F
a∝ ou F ∝ ma portanto, podemos escrever a seguinte igualdade:
m
F
F = kma k=
ma
onde k é uma constante de proporcionalidade cujo valor numérico e unidades dependem das unidades
escolhidas para F,m e a.
Para sistema absolutos e gravitacionais podemos escrever que:
• SISTEMAS ABSOLUTOS
2
o 1N é a força necessária para acelerar 1kg de 1m/s
2
o 1pdl é a força necessária para acelerar 1lb de 1ft/s
• SISTEMAS GRAVITACIONAIS
2
o 1kgf é a força necessária para acelerar 1utm de 1m/s
2
o 1lbf é a força necessária para acelerar 1slug de 1ft/s
Nesses casos k tem o seguinte valor e unidades:

1N.s 2 1pdl.s 2 1kgf .s 2 1lbf .s 2


k= = = =
kg.m lb.ft utm.m slug.ft
8
Assim, quando sistemas absolutos ou gravitacionais são usados, o k pode ser suprimido e a equação
de definição de força fica simplesmente: F=ma
Por outro lado, quando se usa os sistemas mistos, onde a massa e a força ( ou peso) são usados
como unidades de base, os valores numéricos dessas grandezas são os mesmos na superfície terrestre, em
o
um local onde o valor médio da aceleração da gravidade g ao nível do mar e em uma latitude de 45 é 9,806
2
65 m/s . Assim, por definição:
2
• 1 kgf é o peso (Fp) de 1 kg em um local onde g= 9,806 65 m/s
2 2
• 1 lbf é o peso (Fp) de 1 lb em um local onde g= 32,174 ft/s = 9,806 65 m/s
Nesses casos:
Fp
Fp = k m g k= e a constante k tem os seguintes valores:
mg

1kgf 1 kgf .s 2
k= = ou
( )
(1kg ) 9,80665m / s 2 9,80665 kg.m
1lbf 1 lbf .s 2
k= =
( )
(1lb) 32,174ft / s 2 32,174 lb.ft
É usual considerar o inverso de k e adotar o símbolo gc:
9,80665kg.m 9,80665N
gc = = ou
s 2 .kgf kgf
32,174 lb.ft 32,174 pdl
gc = =
s 2 .lbf lbf

Exemplo 1.3 Calcule o peso ( em Newton e em quilograma-força) de um corpo de massa 50 kg em um local


onde a aceleração da gravidade é 5 m/s2.

Fp = =
(
mg (50 kg ) 5 m.s −2 )
= 250 N ou
gc 1kg.m.s −2 .N −1

( )
Fp = mg = (50 kg ) 5 m.s −2 = 250kg.m.s −2 = 250 N

Fp =
mg
=
(
(50 kg ) 5 m.s −2 )
= 25,5kgf
g c 9,80665kg.m.s −2 .kgf −1

1.3. PRESSÃO

É definida como a força normal por unidade de área. Conseqüentemente as unidades de pressão são
as unidades de força divididas pelas unidades de área.
9
F
p= (1.1)
A
F ma kg.m.s −2
para o SI temos: [p] = = = 2
= N.m − 2 = kg.m −1 .s − 2 = Pa
A A m

para os sistemas de engenharia temos:


F kgf
• MKKfS: [p] = =
A m2
F lbf
• FPPfS: [p] = =
A ft 2
2
Usualmente nos sistemas mistos (de engenharia) a unidade de área é o cm ( e in no sistema inglês)
2 2 6
e as unidades de pressão são kgf/cm e lbf/in (psi) .
No Sistema Internacional, normalmente, trabalha-se com múltiplos do Pa: quilopascal, megapascal e
5
bar ( 1 bar = 10 Pa).
Outra unidade usada é a atmosfera padrão ( valor médio da pressão atmosférica ao nível do mar): 1
atm= 101 325 Pa= 101,325 kPa = 1,013 25 bar.
A pressão pode ser expressa tanto em escala absoluta como relativa. A pressão é medida por um
aparelho denominado manômetro. Na Figura 1.2 podemos visualizar dois tipos de manômetros: os de
pressão relativa e os de pressão absoluta.

FIGURA 1.2 (a) Manômetro de pressão relativa; (b) Manômetro de pressão absoluta,
Fonte: do BRASIL, N.I Introdução à Engenharia Química, p. 54

A pressão absoluta está baseada no vácuo completo, portanto o valor lido independe do local, da
temperatura e das condições atmosféricas. O ponto zero para uma escala de pressão absoluta corresponde
ao vácuo perfeito, enquanto que o ponto zero na escala relativa depende da pressão atmosférica local. A
pressão relativa lida pelo manômetro é conhecida como pressão manométrica e é inferior ao valor da
pressão absoluta; a diferença entre elas é a pressão barométrica. A Figura 1.3 mostra a relação entre as
pressões.
Pressão absoluta = pressão manométrica + pressão barométrica
10

FIGURA 1.3 Relação entre as pressões.


Fonte: do BRASIL, N.I Introdução à Engenharia Química, p. 54

A pressão atmosférica local depende da altura de medição, da temperatura ambiente e das condições
climáticas. Por isso, para um mesmo local, ela varia de acordo com a época do ano e ao longo do dia. O
instrumento utilizado para medir a pressão atmosférica local é o barômetro e a leitura dessa medição é
conhecida como pressão barométrica. Um barômetro pode ser semelhante ao dispositivo mostrado na
Figura 1.4.

FIGURA 1.4 Barômetro. Fonte: do BRASIL, N.I Introdução à Engenharia Química, p. 54

Exemplo 1.4 Um manômetro calibrado para unidades inglesas acusa a pressão de 34,2 psig. Calcule a
pressão absoluta em quilopascal em um local onde a pressão barométrica e 98,1 kPa.

• Converter a unidade inglesa para unidade do SI (kPa)


11

 101,325kPa 
p man = 34,2psi  = 235 kPa
 14,699psi 
• Calcular a pressão absoluta:
Pabs = pman + pbarom = 235 + 98,1 = 333 kPa

Exemplo 1.5 Um tanque possui um manômetro que acusa um vácuo de 608 mmHg em um local onde a
pressão barométrica é 100,24 kPa. Calcule a pressão absoluta que opera o tanque.
• Converter a unidade mmHg para kPa

 101,325kPa 
vácuo = 608 mmHg  = 81,1 kPa
 760 mmHg 
• Cálculo da pressão absoluta:
Pabs = pbar - vácuo = 100,24 - 81,1 = 19,1 kPa

1.4. TEMPERATURA

1.4.1.TEMPERATURA E O PRINCÍPIO ZERO DA TERMODINÂMICA

Apesar de nos ser familiar o termo temperatura, como uma medida do grau de aquecimento de um
corpo, não é fácil dar uma definição exata de temperatura. Esse grau de aquecimento é determinado
indiretamente pela medição de alguma propriedade física de uma substância, cujo valor depende da
temperatura de uma maneira conhecida. A forma mais conhecida usa o princípio da dilatação de volume de
uma massa fixa de um fluido, dito termométrico (normalmente mercúrio), encapsulado em um bulbo de vidro.
Entre outros tipos usado industrialmente cita-se o termômetro de resistência (baseado na alteração da
resistência elétrica de um condutor com a temperatura), o termopar (baseado na geração de uma diferença
de tensão criada pela junção de dois metais diferentes em função da temperatura) e o pirômetro ( baseado
6
da emissão de energia radiante de um dado material quando exposto a alta temperatura.
Sabe-se que quando dois corpos a temperaturas diferentes entram em contato, o corpo mais
quente esfria e aquece o corpo mais frio devido a uma transferência de calor do corpo quente para o corpo
frio. Observam-se variações em algumas propriedades dos corpos que cessam após algum tempo. Quando
isso ocorre diz-se que os dois corpos alcançaram o equilíbrio térmico e que estão à mesma temperatura. A
igualdade de temperatura é a única condição exigida para o equilíbrio térmico.
1
O princípio zero da termodinâmica afirma que:
“ Dois corpos, separadamente, em equilíbrio térmico com um terceiro, também estão em equilíbrio
térmico entre si”
Este fato, tão óbvio, é considerado uma das leis fundamentais da termodinâmica. A sua
importância se deve ao fato de servir de base para as medidas de temperatura. Se o terceiro corpo for um
12
termômetro pode-se dizer que dois corpos, mesmo que não estejam em contato, estão em equilíbrio térmico
1
se em ambos for medida a mesma temperatura.

1.4.2.ESCALAS DE TEMPERATURA

Como já foi dito, os termômetros possuem uma propriedade dependente da temperatura, a


propriedade termométrica, e que a sua calibração consiste em fazer corresponder a cada valor “x” da
propriedade termométrica um valor “T” que é a temperatura. Para isso é necessário escolher alguns estados
que facilmente se reproduzem tais como: pontos de fusão e ebulição da água à pressão de 1 atmosfera aos
quais se atribui um valor arbitrário. Tais estados constituem os pontos fixos da escala relativa de
temperatura.
As escalas Celsius e Fahrenheit são baseadas nos mesmos estados, mas a eles são dados valores
diferentes
• Na escala Celsius, o intervalo entre os valores dos pontos fixos 0 e 100 é dividido em 100 espaços
iguais.
• Na escala Fahrenheit, o intervalo entre os valores dos pontos fixos 32 e 212 é dividido em 180
espaços iguais.
As unidades de temperatura termodinâmica baseadas nas escalas anteriores são as unidade kelvin
(K) e rankine (R). Ambas são definidas em função do valor da temperatura no zero absoluto ( escala
absoluta). A temperatura kelvin é baseada na escala graus Celsius, ou seja, usa uma divisão centesimal,
enquanto a temperatura rankine é baseada na escala graus Fahrenheit, ou seja, baseia-se na divisão em
180 intervalos iguais. Assim a temperatura zero absoluto corresponde a:
o o
0K = 0R=-273,15 C = -459,67 F
A relação entre as diversas escalas de temperatura e dada pelas seguintes equações:
o o o
T( F) = 1,8T( C) + 32 T(R) = T( F) + 459,67
o
T( F) = 1,8T(K) – 459,67 T(R) = 1,8T(K)
o
T(K) = T( C) + 273,15 T(R) = 1,8T(oC) + 491,67
A Figura 1.5 mostra as relações entre as escalas de temperatura.

FIGURA 1.5 Relações entre as escalas de temperatura.


13

o o
Exemplo 1.6 Em um determinado dia, a temperatura variou de 15 C a 27 C. De quanto foi a variação na
escala Fahrenheit?

o
• Cálculo das T em Fahrenheit: T( F) = 1,8x15 + 32 = 59
o
T( F) = 1,8x27 +32= 80,6
o o
• Calculo da variação: em : ∆( C) = 27-15 = 12 C
o o
∆( F) = 80,6- 59 = 21,6 F
outra forma de calcular:
o
• Na escala Celsius a variação é de 100 C
o
• Na escala Fahrenheit a variação é de 180 F

o o
Portanto: ∆( C)=1,8∆( F) que é um fator de conversão entre as escalas

 1,8∆( o F) 
∆( o F) = 12 o C o
 = 21,6 o F
 ∆ ( C) 

1.5. ENERGIA

O conceito de energia é fundamental na termodinâmica, assim como o conceito de massa e força,


apresenta dificuldade para ser definido com precisão. Energia tem sido definida como a capacidade de
produzir um efeito (trabalho). Felizmente, a palavra “energia” e o seu significado básico é familiar, devido a
7
seu uso corriqueiro, e sua definição precisa não é essencial neste momento.
O conceito de energia desenvolveu-se lentamente por centenas de anos e culminou no
aparecimento do princípio geral da conservação de energia aproximadamente em 1850. A origem desse
princípio, que será discutido no capítulo 2, estava implícita nos trabalhos de Galileo (1564-1642) e Issac
Newton (1642-1726). (Van Ness)
Pode-se dizer que a energia é uma abstração matemática que não têm existência além da sua
relação funcional com as variáveis que têm uma interpretação física e podem ser medidas. Por exemplo a
energia cinética de um determinada massa de material é função de sua velocidade e não têm outra
8
realidade.
É importante notar que a energia pode ser acumulada em um sistema e que também pode ser
transferida de um sistema para outro na forma de calor, por exemplo. Portanto, pode-se classificar a energia
em energia armazenada ou intrínsica ao sistema e energia em trânsito.
A energia armazenada pode ser:
• Cinética: devido ao movimento relativo das partes componentes do sistema.

7
VAN WYLEN, G.J et al. Fundamentos da Termodinâmica. Cap.2
8
ABBOTT, M.M; VAN NESS, H.C. Termodinâmica. Cap.1.
14
• Potencial: devido á atração da massa do sistema por um campo gravitacional.
• Energia Interna: devido a energia das moléculas
A energia em transição pode ser:
• Trabalho
• Calor

1.5.1.TRABALHO

O trabalho é usualmente definido como uma força F agindo através de um deslocamento l, sendo
este deslocamento na direção da força, ou seja:
2
W = ∫ Fdl
1

Essa relação é muito útil porque nos permite determinar o trabalho necessário para levantar um
peso, esticar um fio, mover uma partícula carregada em um campo eletromagnético, comprimir um gás,
deslocar um líquido.
Outra forma de trabalho muito utilizada na engenharia é o trabalho de eixo (W s). O trabalho de eixo
é o trabalho realizado pelas pás de um agitador movimentando um fluido. Em alguns equipamentos como as
turbinas é o fluido que movimenta as pás, neste caso é o fluído que realiza trabalho de eixo.
Devido à complexidade deste fenômeno não é possível estabelecer uma relação precisa para o
trabalho de eixo, o trabalho de eixo é obtido por medidas da potência do motor ou pela potência obtida, no
caso de turbinas.

1.5.2.CALOR

A definição termodinâmica de calor é um tanto diferente da interpretação comum da palavra.


Portanto, é importante compreender claramente a definição de calor, porque ela é aplicável a muitos
7
problemas de termodinâmica.
Sabe-se da prática que um objeto quente em contato com um objeto frio torna-se mais frio,
enquanto o objeto frio torna-se mais quente. Uma visão aceitável é que alguma coisa é transferida do objeto
quente para o frio, e chamamos a isto de calor, Q. Pode-se dizer que o calor sempre passa de uma
temperatura mais alta para uma mais baixa. Isso leva ao conceito de temperatura como força motriz para a
transferência de energia como calor. A taxa de transferência de calor de um corpo para outro é proporcional
à diferença de temperatura entre eles.
Do ponto de vista termodinâmico, calor nunca está armazenado no interior de um corpo, ele existe
somente como energia em trânsito de um corpo para outro. Quando energia na forma de calor é adicionada
a um corpo, ele é armazenada não como calor e sim como energia cinética, potencial dos átomos e
moléculas que formam o corpo.
Apesar da natureza transiente do calor, ele é freqüentemente percebido em função de seus efeitos
no corpo do qual ou para o qual é transferido. Até 1930, aproximadamente, as definições das unidades de
15
calor baseavam-se nas variações da temperatura de uma unidade de massa de água assim, a caloria foi
definida durante muito tempo como a quantidade de calor que quando transferida para um grama de água
eleva sua temperatura em um grau Celsius. Da mesma forma a unidade britânica Btu (British thermal unit),
foi definida como a quantidade de calor de calor que quando transferida para uma libra massa de água eleva
a sua temperatura em um grau Fahrenheit. A caloria e o Btu são atualmente reconhecidas como unidades
de energia e são definidos em relação ao joule, a unidade do SI de energia igual 1N m. Na tabela 1.5 podem
2
ser vistas outras unidades de energia sempre relacionadas com o joule.

1.5.3.ENERGIA CINÉTICA

Ela resulta diretamente da segunda lei do movimento de Newton (força = massa x aceleração), uma
vez que trabalho (W) é definido como o produto da força(F) pelo deslocamento (dl) temos:
dW = Fdl = madl (1.2)

dv
Por definição a aceleração (a) é definida como: a= onde v é a velocidade do corpo. Portanto:
dt

dv dl dl
dW = m dl = m dv mas como v = temos dW = mvdv
dt dt dt
integrando de v1 até v2:

 v2 v2 
v
2
 mv 2 
W = m ∫ vdv = m 2 − 1  = ∆  (A)
v1  2 2   2 
mv 2
O termo recebeu diversos nomes, atualmente, se usa o termo Energia Cinética, introduzido
2
mv 2
por Lord Kelvin em 1856. Então por definição: E cin = (1.3)
2
A importância dessa grandeza foi reconhecida por Thomas Young (físico inglês) que a denominou
a
de energia (em 1807) sendo esta a 1 vez que se usou este termo em contexto científico.

UNIDADES:
2 -2
• SI: kg m s
• Sistema Inglês:

mv 2 -1 -2
o A energia cinética é expressa por onde gc tem o valor de 32,1740 (lbm)(ft)(lbf) .s .
2g c
o Portanto a unidade de energia cinética nesse sistema é:
16

mv 2 (lb m )(ft ) 2 (s) −2


E cin = = = ft lb f
2g c (lb m )(ft )(lb f ) −1 (s) − 2
Aqui a consistência dimensional requer a inclusão de gc.

1.5.4.ENERGIA POTENCIAL

Se um corpo de massa m é elevado de uma altura inicial z1 até uma altura final z2, uma força
direcionada para cima, pelo menos igual ao peso do corpo, deve ser exercida sobre ele. Essa força deve
movimentá-lo ao longo de uma distância (z2-z1). Como o peso do corpo é a força da gravidade sobre ele, a
força mínima necessária é a fornecida pela Lei de Newton:
F = ma = mg
onde g é a aceleração da gravidade local.
O trabalho mínimo exigido para elevar o corpo é igual ao produto entre a força e a variação da
altura:

W = F(z 2 − z1 ) = mg(z 2 − z1 ) = mgz 2 − mgz1 = ∆(mgz ) (B)

A equação B é similar a equação A e ambas mostram que o trabalho realizado é igual à variação
de uma grandeza que descreve a condição de um corpo em relação à sua vizinhança.
Em cada caso o trabalho realizado pode ser recuperado através da realização do processo inverso
com o retorno do corpo à sua condição inicial.
Essa observação conduz, naturalmente, ao pensamento de que, se o trabalho realizado sobre um
corpo ao acelerá-lo ou elevá-lo pode posteriormente ser recuperado, então o corpo, graças à velocidade
adquirida ou a elevação alcançada, contém a habilidade ou capacidade de realizar trabalho. Esse conceito
mostrou-se tão útil na mecânica dos corpos rígidos que se deu o nome de energia – uma palavra derivada
do grego que significa “em atividade” – à capacidade de um corpo em realizar trabalho.
Logo, diz-se que o trabalho de acelerar um corpo produz uma variação na sua energia cinética ou;

 mv 2 
W = ∆E cin = ∆ 
 2 
e diz-se que o trabalho realizá-lo sobre um corpo ao elevá-lo produz uma variação na sua energia
potencial ou,

W = ∆E p = ∆ (mgz )

SISTEMA DE UNIDADES:
2 -2
• SI: kg m s
• Sistema inglês
mzg -1 -2
o A energia potencial é expressa por onde gc tem o valor de 32,1740 (lbm)(ft)(lbf) s .
gc
17
o Portanto a unidade de energia potencial nesse sistema é:

mgz (lb m )(ft )(ft )(s) −2


EP = = = ft lb f
gc (lb m )(ft )(lb f ) −1 (s) − 2
Novamente, a consistência dimensional requer a inclusão de gc.

1.6. SISTEMAS TERMODINÂMICOS E VOLUME DE CONTROLE

Nosso interesse na termodinâmica está, principalmente nas mudanças que ocorrem em pequenas
partes do universo, por exemplo: o planeta, a refinaria, o reator, o trocador de calor, essa região de interesse
é denominada sistema9. Portanto, um sistema termodinâmico é definido como uma quantidade de matéria,
com massa e identidade fixas, sobre a qual a nossa atenção está dirigida. Tudo que é externo ao sistema é
denominado meio ou vizinhança. O sistema é separado da vizinhança pelas fronteiras do sistema e essas
7
fronteiras podem ser móveis ou fixas. Um sistema termodinâmico pode ser classificado em: fechado e
1
aberto.

Vizinhança

sistema

FIGURA 1.6 Sistema, fronteira e vizinhança.

1.6.1.SISTEMA FECHADO
Um sistema fechado é constituído por uma quantidade fixa de matéria e a sua fronteira não pode
ser atravessada por essa matéria, isto é, não pode sair nem entrar massa no sistema; mas a energia quer na
forma de trabalho ou calor pode atravessar a fronteira desse sistema e o seu volume pode variar. Se
eventualmente a energia também não puder atravessar a fronteira o sistema é dito ISOLADO, um sistema
isolado é aquele que não é influenciado pelo meio.

1.6.2.SISTEMA ABERTO
Um sistema aberto também designado de volume de controle, é uma região do espaço
convenientemente escolhida onde tanto a massa como a energia podem atravessar a fronteira. Quando a
energia, na forma de calor, não pode cruzar a fronteira o sistema é dito ADIABÁTICO.

9
SANDLER, I.S. Chemical and Engineering Thermodynamics 2.ed. p.1.
18
As relações termodinâmicas que se aplicam aos sistemas abertos são diferentes das relações que
se aplicam a sistemas fechados. Por isso é muito importante reconhecermos o tipo de sistema antes de
1
começarmos a analisar o seu comportamento.
Em todas as situações o sistema que estamos a estudar deve ser cuidadosamente definido. Muitas
vezes parece desnecessário fazê-lo, por ser óbvio qual sistema deve ser considerado, em outros casos,
bastante complicados, a escolha apropriada do sistema pode simplificar a análise do problema que
precisamos solucionar.

1.7. PROPRIEDADES DO SISTEMA

Chama-se propriedade a qualquer característica de um sistema. Algumas dessas propriedades


como a pressão P, temperatura T , o volume V e a massa m podem ser determinadas diretamente. No
entanto, outras propriedades como entropia S, energia interna U não são diretamente mensuráveis e são
definidas à partir dos princípios da termodinâmica. Outras são obtidas por simples operações matemáticas
das propriedades anteriormente determinadas, por exemplo a entalpia, H que é definida como sendo o
somatório da energia interna e o produto da pressão e volume (H=U+PV). Poderíamos obter um número
infindável de propriedades mas somente algumas têm interesse prático.
As propriedades podem ser classificadas em intensivas e extensivas. As propriedades intensivas
são aquelas que independem do tamanho do sistema como a temperatura, pressão e a densidade. Já as
propriedades extensivas dependem do tamanho do sistema como o volume, a massa e a energia total.
Pode-se obter uma propriedade intensiva à partir de uma propriedade extensiva dividindo o seu
valor pela massa ou número de moles do sistema. Ao valor da propriedade por unidade de massa dá-se o
1
nome de propriedade específica e por mol propriedade específica molar.

1.8. ESTADOS E EQUILÍBRIO

Considere um sistema no qual não se observam quaisquer modificações ao longo do tempo. Então,
as suas propriedades podem ser medidas ou calculadas através de todo o sistema obtendo-se um conjunto
de valores que descrevem completamente a condição ou estado do sistema, que se designa de estado de
equilíbrio. Num dado estado de equilíbrio todas as propriedades têm valores fixos. Basta que, apenas, o
valor de uma propriedade do sistema se altere para o sistema mudar de estado.
A termodinâmica clássica ocupa-se, fundamentalmente, do estudo de estados de equilíbrio. Há
vários tipos de equilíbrio:
• Equilíbrio mecânico
• Equilíbrio térmico
• Equilíbrio de fases
• Equilíbrio químico
O sistema só estará em equilíbrio se todas as condições dos diferentes tipos de equilíbrio forem
satisfeitas. Um sistema está em equilíbrio térmico se a temperatura for a mesma através de todo o sistema.
19
Um sistema está em equilíbrio mecânico se houver equilíbrio entre todas as forças aplicadas. Se estivermos
na presença de um fluido em equilíbrio não poderá haver alterações ao longo do tempo nos valores da
pressão em quaisquer pontos do sistema.
Quando duas ou mais fases estiverem presentes ocorre o equilíbrio de fases quando a massa de
cada uma das fases permanece constante ao longo do tempo. Por fim, um sistema está em equilíbrio
1
químico se a sua composição química não se alterar ao longo do tempo .

1.9. PROCESSOS E CICLOS

A quaisquer mudanças que ocorram num sistema enquanto passa de um estado de equilíbrio para
outro chama-se transformação ou processo. Ao conjunto de estados pelos quais o sistema vai passando
durante o processo dá-se o nome de caminho ou percurso do processo.
Para descrever completamente uma dada transformação é necessário conhecer os estados inicial e
final e também o percurso do processo.
Quando uma transformação ocorre de tal modo que o sistema permanece, em qualquer momento,
em estados de equilíbrio, ou infinitamente próximo destes, a transformação chama-se quase-estática.
Uma transformação quase-estática terá que ocorrer tão devagar que permita ao sistema ir se
ajustando internamente de modo a conseguir-se que as propriedades, em uma dada região do sistema, não
se alterem mais rapidamente que em outras regiões.
Devemos lembrar que um processo quase-estático é um processo ideal e não uma representação
verdadeira do processo real. No entanto alguns processos reais se aproximam bastante dos processos
quase-estáticos pelo que podem ser representados, sem grande erro, por estes.
Os engenheiros se interessam por esses processos por dois motivos:
• Porque são fáceis de analisar
• Porque o trabalho fornecido nestes processos é máximo nos equipamentos que produzem
1
trabalho e mínimo nos que recebem trabalho.
Por isso os processos quase-estáticos servem de modelos com os quais se comparam os processos
reais. O prefixo iso é usado para designar uma transformação em que uma dada propriedade permanece
constante. Por exemplo, uma transformação isotérmica é aquela em que a temperatura permanece
constante, uma transformação isobárica é aquela em que a pressão permanece constante e em uma
transformação isocórica ou isométrica o volume permanece constante.
Uma transformação é dita elementar quando as propriedades do sistema apenas passam por
variações infinitesimais no decurso dessa transformação. Se representarmos por x o valor de qualquer
propriedade do sistema em um dado estado a sua variação infinitesimal no decurso de uma transformação
elementar será representada por dx.
Diz-se que os sistema realizou um ciclo se regressou ao estado inicial no fim do processo. Ou seja,
para um ciclo o estado final e inicial do sistema são o mesmo, portanto:
“Os valores das propriedades do sistema não sofrem alterações ao completar um ciclo.”
20

∫ dx = 0
onde ∫ representa a integral calculada ao longo de uma curva fechada (ciclo) e dx as variações

infinitesimais de uma propriedade ao longo do processo. Na figura 1.7 temos dois exemplos de ciclos.

FIGURA 1.7 (a) Ciclo constituído por 2 transformações. (b) Ciclo constituído por 4 transformações.

1.10. TRABALHO NA ENGENHARIA QUÍMICA

Tal como acontece com o calor o trabalho é uma interação, entre o sistema e a vizinhança, que
envolve energia. A energia só pode atravessar a fronteira de um sistema na forma de calor e/ou trabalho.
Trabalho é a energia transferida que se relaciona com a ação de uma força aplicada sobre/ou pelo
sistema e cujo ponto de aplicação se desloca. Portanto, sempre que uma força atua ao longo de uma
distância, há um trabalho W realizado. A quantidade de trabalho realizado é definida pela equação 1.4.
r r
dW = F.d l (1.4)
& ) é o trabalho realizado na unidade de tempo, cuja unidade no sistema internacional é
Potência ( W
-1
watt = J.s

Convenção de Sinais:
• POSITIVO: deslocamento ocorre no mesmo sentido da força aplicada.
• NEGATIVO: deslocamento ocorre em sentido contrário ao da força aplicada.
Na indústria, um importante tipo de trabalho está associado à modificação do volume de um fluido, ou
seja, está associado à expansão ou compressão de um fluido no interior de um dispositivo cilindro-pistão,
como acontece nos motores ou compressores alternativos.
21
Considere um cilindro-pistão conforme mostra a figura 1.8. O pistão move-se sem atrito e a área (A) é
constante. O cilindro contém um gás a uma temperatura T e pressão P. Uma força externa FEXT atua sobre o
embolo comprimindo o gás.

FIGURA 1.8 Dispositivo cilindro-pistão.

A força externa pode ser definida em função da pressão como: FEXT = PEXT .A . O deslocamento
sofrido pelo pistão (l) pode ser definido em função do volume e da área do cilindro como sendo: l=V/A .
Substituindo na equação (1.4) temos:

dV
dW = PEXT .A. = PEXT dV (1.5)
A

Utilizando a convenção de sinais:


r r
• Compressão: F.d l : + (positivo)
r s
• Expansão: F.d l : - (negativo)
Portanto, para que a equação (1.5) satisfaça a convenção de sinais precisamos inserir o sinal
negativo.
dW = − PEXT dV (1.6)

10
1.10.1. EXPANSÃO LIVRE

A expansão livre ocorre quando a pressão externa é nula e portanto não existe força oposta sendo
aplicada ao sistema, desta forma não existe realização de trabalho.

1.10.2. EXPANSÃO CONTRA UMA PRESSÃO EXTERNA CONSTANTE

10
ATKINS,P.W. Physical Chemistry. 4 ed.p.35.
22
Quando a pressão externa é constante durante todo o processo ( por exemplo: pressão atmosférica)
podemos integrar a equação (1.6) de um volume inicial V1 até um volume final V2:
2 V2

∫ dW = − ∫ P
1 V1
EXT dV W = − PEXT (V 2 − V1 ) = − PEXT ∆ V (1.7)

1.10.3. EXPANSÃO REVERSÍVEL

Um processo reversível pode ser definido como sendo o processo no qual a sua direção pode ser
revertida, em qualquer ponto, por uma variação infinitesimal das condições externas. È uma sucessão de
estados de equilíbrio ( térmico, mecânico, ...).
Para alcançarmos um expansão reversível a pressão externa deve ser igual a pressão interna do
sistema ( PEXT=P), substituindo na equação (1.6) e integrando temos:

dW = − PdV (1.8) W = − ∫ PdV (1.9)

A solução da integral pode ser analítica ou gráfica.

FIGURA 1.9 Integração Gráfica.

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

o
1. Um aquecedor elétrico de imersão é colocado num béquer contendo água aquecendo-a de 20 C a
o
80 C. Identifique os fluxos de energia e o acúmulo de energia detectados nesse processo.
2. Um elevador transporta 4 pessoas cuja massa total é igual a 300 kg, numa ascensão de 25 m.
Explique qual é a transferência e o acúmulo de energia no processo.
3. Um tornado arrancou o teto horizontal de um galpão. A área e o peso do teto são respectivamente
2
iguais a 100 m e 1000 kg. Qual é a pressão mínima necessária (vácuo) para que isso ocorra?
Admita que o teto estava simplesmente apoiado.
4. Um manômetro ligado a um reservatório indica uma pressão de 3,5 bar em um local onde a leitura
do barômetro é 75 cmHg. Determine a pressão absoluta no reservatório.
23
5. Um objeto de 1000g cai livremente, de uma altura de 10 m, sobre uma plataforma. Qual a
quantidade de calor desprendido quando o objeto atinge a plataforma?
6. Um gás é confinado em um cilindro com 1,5 ft de diâmetro por um pistão, sobre o qual repousa um
peso. Juntos, o pistão e o peso possuem massa de 300lbm. A aceleração da gravidade local é de
-2
32,158 ft s e a pressão atmosférica e de 29,84 inHg.
a. Qual é a força em lbf exercida sobre o gás pela atmosfera, pelo pistão e pelo peso,
admitindo que não há atrito entre o pistão e o cilindro.
b. Qual é a pressão do gás em psia?
c. Se o gás no cilindro for aquecido, ele se expande empurrando para cima o pistão e o peso.
Se o pistão e o peso foram erguidos 2ft, qual é o trabalho realizado pelo gás em ft lbf? Qual
é a variação de energia potencial do pistão e do peso? (Van Ness 5.ed)
-1
7. Um automóvel com massa de 1400 kg, está viajando a 30 m s . Qual a energia cinética em kJ?
Quanto trabalho deve ser realizado para fazê-lo parar?
8. As turbinas de uma usina hidroelétrica são acionadas por água que cai de uma altura de 40m.
Considerando eficiência de 93% na conversão de energia potencial para elétrica e 9% de perdas na
transmissão da potência resultante, qual é a vazão mássica de água necessária para manter acesa
um lâmpada de 150 watts?
3 3
9. Uma amostra de gás expande de 1m para 4 m enquanto sua pressão diminui de 40 Pa para 10 Pa.
Calcule o trabalho realizado pelo gás nas 3 trajetórias mostradas abaixo:

10. Um conjunto cilindro-pistão opera a uma pressão constante e inicialmente contém 0,2 kg de vapor
saturado a 110 kPa. O conjunto é resfriado até que o volume da água se torne igual a metade do
inicial. Determine o trabalho realizado no processo.
24
3
11. Considere o sistema abaixo. A pressão inicial é igual a 200kPa e o volume do gás é 0,04 m .
a. Calcule o trabalho realizado pelo sistema se este for aquecido até que o seu volume
3
aumente para 0,1 m mantendo-se a pressão constante.
b. Consideremos o mesmo sistema nas mesmas condições iniciais. Calcule o trabalho se este
for aquecido e ao mesmo tempo retirados os pesos do êmbolo de tal forma que a T
3
permaneça constante e o volume aumente para 0,1m . Considere gás ideal.

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