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PRINCÍPIOS E DEFINIÇÕES
“Há duas formas para viver sua vida: uma é acreditar que não existe
milagre; a outra é acreditar que todas as coisas são um milagre”
Albert Einstein (1879 – 1955).
1
operação unitária é uma etapa básica de um processo industrial regida pelas mesmas leis da física e da química. Cada
operação unitária é sempre a mesma, independente da natureza química dos componentes envolvidos, e desta forma, os
processos podem ser estudados de forma simples e unificados.
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4 Parte Um: Introdução
GRANDEZAS FÍSICAS.
Uma quantidade ou grandeza física pode ser definida como o conceito que descreve qualitativa e
quantitativamente as relações entre as propriedades observadas no estudo de um fenômeno. A
descrição é qualitativa porque pode diferenciar conceitos distintos como grandezas distintas, e é
quantitativa porque pode exprimir o conceito matematicamente, a partir da medição1 desta grandeza,
através de valores numéricos e de uma unidade de medida.
As grandezas físicas podem ser classificadas em escalares, vetoriais ou tensoriais. Uma grandeza
escalar precisa somente de um valor numérico (intensidade) e uma unidade para ser definida; a massa,
a temperatura e a energia são exemplos de grandezas escalares. Uma grandeza vetorial necessita, para
ser completamente definida, além de uma unidade e de um valor numérico que quantifique sua
intensidade, de uma representação espacial que determine a orientação (direção e sentido) da grandeza.
São exemplos típicos de grandezas vetoriais: a velocidade, a aceleração e a força. As grandezas
tensoriais ou tensores, numa abordagem mais restrita2, são grandezas que têm uma magnitude e duas
direções associadas a ela, além da respectiva unidade de medida. O momento de inércia, o estado de
tensão e de deformação em torno de um ponto são exemplos de tensores.
As grandezas físicas também podem ser classificadas em primitivas, aquelas que não dependem
de outras para serem definidas, e em derivadas, as quais são definidas através de uma relação entre as
grandezas fundamentais. São exemplos de grandezas primitivas: a massa, o comprimento e o tempo;
enquanto que a velocidade, a potência e o fluxo magnético são exemplos de grandezas derivadas.
SISTEMAS DE UNIDADES.
A necessidade de medir é muito antiga e remonta à origem das civilizações. Para efetuar medidas
é necessário fazer uma padronização, escolhendo unidades para cada grandeza. Por longo tempo cada
país ou região, teve o seu próprio sistema de medidas, baseado em unidades arbitrárias e imprecisas.
Até o final do século XVIII, todos os sistemas de medidas existentes eram consuetudinários, ou seja,
baseados nos costumes e nas tradições. Os primeiros padrões utilizados para medir eram partes do
corpo humano – palma da mão (palmo), polegada, pé, braço (côvado3) – e utensílios de uso cotidiano,
como cuias e vasilhas. Com o tempo, cada civilização havia definido padrões e fixado suas próprias
unidades de medidas. Daí a multiplicidade de sistemas de medição existente desde a Antiguidade.
Em 1795, a França institui o Sistema Métrico Decimal, inicialmente com três unidades-base de
medidas: o metro (comprimento), o litro (volume) e o quilograma (massa), todas baseadas em
constantes naturais. Posteriormente, muitos outros países adotaram o sistema, inclusive o Brasil,
aderindo em 1921 à Convenção do Metro4. Entretanto, o desenvolvimento científico e tecnológico
passou a exigir medições cada vez mais precisas e diversificadas. Assim, após algumas revisões, o
Sistema Métrico Decimal deu origem, em 1960, ao Sistema Internacional de Unidades (SI), constituído
por sete unidades básicas. No Brasil, o SI foi adotado em 1962 e ratificado pela Resolução nº 12 de 12
de outubro de 1988 do CONMETRO5, tornando desde então seu uso obrigatório no país.
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A medição de uma grandeza física é a comparação desta grandeza com outra da mesma espécie, definida como padrão e denominada
unidade de medida. Assim, medir uma grandeza consiste em verificar quantas vezes a unidade de medida está contida na grandeza sob
medição, segundo uma escala pré-definida.
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Tensores de ordem igual a dois.
3
Um côvado era definido na antiguidade como a distância do cotovelo até a ponta do dedo médio, com o antebraço em ângulo reto com
o braço e com a mão aberta.
4
A Convenção do Metro é uma convenção internacional, inicialmente assinada por 17 nações, em 1875 na cidade de Paris, com o
propósito de estabelecer internacionalmente uma autoridade e um sistema de unidades.
5
CONMETRO é a sigla do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, que é um colegiado interministerial
que exerce a função de órgão normativo do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial brasileiro.
1
CGPM é a sigla da Conferência Geral sobre Pesos e Medidas que, instituída pela Convenção do Metro, é constituída por delegados dos
estados membros e observadores dos países associados. Uma de suas principais atribuições é discutir e analisar os mecanismos
necessários para assegurar a propagação e o aperfeiçoamento do SI.
2
A temperatura termodinâmica é tomada numa escala absoluta. Por este motivo, suas unidades não devem receber o anteposto grau,
como nas temperaturas de escala relativa (grau Celsius e grau Fahrenheit).
3
No Brasil, o plural da unidade "mol" é dicionarizado (Aurélio, Houaiss, Michaelis) como "mols" (grafia também adotada pelo
INMETRO), embora o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da ABL registre as grafias "móis" ou "moles".
BUARQUE, H.L.B.
6 Parte Um: Introdução
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O radiano é um nome especial para o número um e que pode ser usado para fornecer informações sobre a unidade
considerada. Na prática, o símbolo rad é usado quando apropriado, mas símbolos para a unidade derivada “um” é
geralmente omitido ao se especificar os valores de grandezas adimensionais.
2
O grau Celsius é o nome especial de kelvin utilizado para expressar temperaturas relativas. O grau Celsius e o kelvin são
iguais em tamanho, de modo que o valor numérico de uma diferença de temperatura ou intervalo de temperatura é a mesma
quando expresso em graus Celsius ou em kelvin.
O símbolo da unidade sempre seguirá o valor numérico da medida, com um espaçamento de até
um caractere, na representação do resultado da medida.
Os símbolos dos prefixos são impressos em caracteres romanos (verticais), sem espaçamento
entre o símbolo do prefixo e o símbolo da unidade. Todos os nomes dos prefixos são impressos em
letras minúsculas, exceto no início da frase. O conjunto formado pelo símbolo do prefixo ligado ao
símbolo da unidade constitui um novo símbolo inseparável, que pode ser elevado a uma potência
positiva ou negativa e que pode ser combinado a outros símbolos de unidades para formar os símbolos
de unidades derivadas. Similarmente, o nome deste agrupamento também é indissociável. Assim, o
milímetro (mm), o micropascal (µPa) e o meganewton (MN) são palavras únicas e compostas por
derivação prefixal. Os prefixos formados pela justaposição de vários prefixos SI não são admitidos.
Um prefixo não deve ser empregado sozinho.
Exercício Resolvido I.1 – Converta de “centímetro” para “metro” nas unidades as seguir:
a) 1 cm3 b) 1 cm-1 c) 1 W/cm
Resolução:
a) 1 cm3 = (10-2 m)3 = 10-6 m3
b) 10 cm-1 = 10·(10-2 m)-1 = 103 m-1
c) 1 W/cm = (1 W)/(10-2 m) = 102 W/m
Destaque-se, ainda, que todas as unidades existentes podem ser expressas em função das
unidades-base do SI. Contudo, consideram-se como unidades derivadas do SI aquelas que são produtos
de potências das unidades básicas e que não incluem fatores numéricos diferentes de um. Também, os
nomes e símbolos de algumas das unidades assim obtidas podem ser substituídos por nomes e
símbolos especiais que podem ser usados para se formar expressões e símbolos de outras unidades
derivadas, como já exemplificado na Tabela I.3.
Sistema CGS.
O Sistema CGS é um sistema de unidades, cujas unidades-base são o centímetro para o
comprimento, o grama para a massa e o segundo para o tempo. Foi introduzido em 1874 pela British
Association for the Advancement of Science usando prefixos variando de “micro” a “mega” para
expressar múltiplos e submúltiplos decimais. As unidades-base e algumas unidades derivadas do
sistema CGS são apresentadas na Tabela I.4.
Conquanto haja tendência de unificação internacional por meio do SI, o Sistema CGS ainda é
bastante utilizado em várias áreas por diversas razões: elas parecem ser mais convenientes em alguns
contextos; muito da antiga literatura de física ainda usa tais unidades; elas ainda são largamente
empregadas em astronomia.
BUARQUE, H.L.B.
8 Parte Um: Introdução
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International Steam Table.
Conversão de Unidades.
A conversão de unidades de um sistema para outro é feita facilmente se as quantidades são
expressas como uma função das unidades-base. Fatores de conversão são usados para converter
diferentes unidades. O fator de conversão é o número de unidades de um dado sistema contido em uma
unidade correspondente em outro sistema. Os fatores mais comuns para as diferentes grandezas são
apresentados na Tabela I.6.
Tabela I.6 – Alguns típicos fatores de conversão de unidades.
Grandeza Sistema de Unidades
SI CGS FPS Outra unidade
2 4 2 2
Área 1m = 10 cm = 10,7639 ft = 1550 in2
Calor 1J = 107 erg = -4
9,478x10 Btu = 0,239 cal
Comprimento 1m = 100 cm = 39,3701 in. = 3,28084 ft
Energia, trabalho 1J = 107 erg = 0,73756 ft lbf = 3,725x10-7 HP h
Força 1N = 105 dyn = 0,22481 lbf = 0,10197162 kgf
Massa 1 kg = 1000 g = 2,20462 lb = 0,0685218 slug
Massa específica 1 kg/m3 = 10-3 g/cm3 = 3
0,062428 lb/ft = 10-3 g/cm3
Potência, fluxo de calor 1W = 107 erg/s = 1,341x10-3 HP = 3,4121 BTU/h
Pressão 1 Pa = 10-5 bar = 1,4503x10-4 psi = 9,8692x10-6 atm
Quantidade de matéria 1 mol = 1 g-mol = 0,0022 lb-mol = 10-3 kg-mol
Temperatura 1K = 1K = 1,8 ºR = -
Tempo 1s = 1s = 1s = 2,7778x10-4 h
2
Viscosidade cinemática 1 m2/s = 4
10 St = 10,7639104 ft /s= 1550,0031 in.2/s
Viscosidade dinâmica 1 kg m-1 s-1 = 10 P = 0,672 lb ft-1 s-1 = 0,102 kgf s m-2
Volume 1 m3 = 106 cm3 = 35,3147 ft3 = 1000 ℓ
BUARQUE, H.L.B.
10 Parte Um: Introdução
Resolução:
m m m m
[m] = [ ] ⋅ [s] + [ 2 ] ⋅ [s] 2 ⇒ [m] = [ ] ⋅ [s/ ] + [ 2 ] ⋅ [s/ 2 ] ⇒ [m] = [m] + [m] ⇒ [m] = [m]
s s s/ s/
Assim, pode-se verificar que as unidades em cada termo da equação reduzem-se àquela de
comprimento, indicando a homogeneidade dimensional da equação.
Exercício Resolvido I.3 – Avalie se a equação para determinação da energia consumida para
moer uma unidade de massa de sólido, expressando a Lei de Bond e dada a seguir, é
dimensionalmente homogênea,
1 1
− W = k ⋅ C ⋅ wi ⋅ − ,
D D
2 1
em que – W é a energia consumida em HPh; C é a capacidade do moinho, em toneladas por
hora; wi é conhecido como índice de trabalho, em kWh/t; D1 e D2 os diâmetros médios do sólido,
em cm, antes e depois da moagem, respectivamente; e k é uma constante empírica.
Resolução:
kg J 1 1 kg J kg
[J] = [ ]⋅[ ]⋅ − ⇒ [J ] = [ ] ⋅ [ ] ⋅ [cm −0,5 ] ⇒ [J ] = [ 2 0,5 ] ⋅ [J ]
s
s [cm]
[cm] s s s cm
Pode-se verificar que as unidades não são consistentes na equação, indicando a não
homogeneidade dimensional da mesma.