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FENÔMENOS DE
TRANSPORTE
AULA 1

 
 

Prof. Marcos Baroncini Proença

CONVERSA INICIAL

Antes de tratarmos dos assuntos referentes ao


tema desta disciplina, é importante situarmos os

seus conhecimentos no contexto


dos saberes que precisam ser adquiridos para o andamento de
seus estudos e
também para as competências e habilidades que serão exigidas pelo mercado de

trabalho.

Para esclarecer a importância desta disciplina


tanto para os saberes quanto para as
competências e habilidades supramencionadas,
basta ter a consciência de que todas as operações

unitárias presentes nas


indústrias de processos químicos advêm de aplicações dos conhecimentos
de fenômenos
de transportes. Assim, para que possa operacionalizar qualquer processo de
indústria

química, desde o setor de utilidades, passando para o setor de produção


e tratamento de efluentes, é
de fundamental importância que tenha domínio dos
conhecimentos de mecânica dos fluidos,
transferência de calor e transferência
de massa, os quais vêm a compor os fenômenos de

transportes.

Tendo em mente que cada componente citado é por


si só uma área complexa de estudos que

vem gerando livros e linhas de estudos e


desenvolvimentos próprios, não cabe a esta disciplina, e
nem temos essa
pretensão, tratar a fundo cada uma dessas importantes áreas de conhecimento.
Mas
cabe a esta disciplina fornecer as ferramentas de conhecimentos fundamentais e
aplicados que

permitam aos(as) discentes construírem não só os saberes


necessários para que possam aplicá-los
futuramente em outros momentos de seus
estudos, mas que também possam desenvolver

competências e habilidades para a


vida profissional.

Para atingir esse propósito, iremos apresentar nos


momentos iniciais os conceitos

fundamentais de mecânica dos fluidos, desde


conhecimentos básicos e equações fundamentais, até
suas aplicações na
hidrostática, hidrodinâmica e perda de carga, incluindo seleção de bombas. Em
seguida, iremos apresentar os conhecimentos fundamentais de transferência de calor
por condução,

convecção e radiação, bem como aplicações envolvendo balaços de


energia e trocadores de calor.
Serão, então, apresentadas as Leis de Fick de
transferência de massa e suas aplicações,

principalmente voltadas a extração e


absorção, bem como filtração.

Dessa forma, acreditamos que os(as) discentes,


ao concluírem esta disciplina, terão as
ferramentas necessárias para a
construção dos saberes e das competências e habilidades para que

tenham sucesso
em suas aplicações acadêmicas e profissionais.

Vamos, então, nesta aula, tratar de conceitos


fundamentais como definições de massa

específica, viscosidade dinâmica e


cinemática, dentre outros sistemas de medidas, conversões de
unidades e
equações fundamentais com suas aplicações, todos voltados ao uso em mecânica
dos
fluidos, para que tenha as ferramentas e conceitos necessários para uso no
decorrer desta disciplina

e futuramente aplicar na vida profissional.

TEMA 1 – MECÂNICA DOS FLUIDOS

Para o melhor uso dos conhecimentos desta


importante área de estudos que compõe os

fenômenos de transportes, é necessário


primeiro sedimentar conceitos que serão usados ao longo

da disciplina,
iniciando pela própria definição de mecânica dos fluidos, passando para o que
seja
massa específica, densidade, volume específico, viscosidade dinâmica,
viscosidade cinemática,

vazão mássica, vazão volumétrica, fluidos compressíveis


e incompressíveis, fluidos newtonianos e

fluidos não newtonianos, tensão de


cisalhamento e outros, mas de uma forma lógica e de fácil

compreensão.

Assim, trabalharemos essas definições de uma forma


por análise dimensional, focados na

compreensão exclusiva das propriedades


físicas e mecânicas envolvidas.
1.1 DEFINIÇÃO DE MECÂNICA DOS FLUIDOS E SUA EVOLUÇÃO

Não se trabalha nenhuma área do conhecimento


sem saber exatamente o que significa e

compreender quais são suas aplicações. Assim,


antes de iniciar a construção dos saberes de

mecânica dos fluidos, é importante


respondermos a esta primeira pergunta: o que é mecânica dos
fluidos?

De uma forma básica, a mecânica dos fluidos


pode ser definida como o estudo de fluidos em

movimento ou parados. Mas, além


disso, a mecânica dos fluidos estuda o resultado de forças
aplicadas em fluidos
e também o resultado de forças exercidas por fluidos no seu entorno, estejam

eles em movimento ou parados.

A primeira aplicação de mecânica dos fluidos de


que se tem registro na humanidade, mesmo
que intuitiva, remonta de 6000 a.C. no
Egito e na Mesopotâmia, onde águas de enchente do rio Nilo,

rio Tigre e Eufrates


foram desviadas para campos de cultivo por até dois meses e depois foram

drenadas de volta aos rios para a colheita.

Figura 1 – Trabalhadores egípcios

Créditos: Matrioshka/Shutterstock.

Mas, de fato, foi no século XV que se iniciaram


os estudos precursores da mecânica dos fluidos,

com Leonardo da Vinci. No


período de 1488 a 1514, Da Vinci, já dono de conceitos avançados de

mecânica e
entusiasmado leitor dos estudos matemáticos de Euclides, se dedicou ao estudo
da

mecânica dos fluidos. Nesse período, dedicou especial atenção ao princípio


da conservação da
massa, estudando um rio nos arredores de Florença. Observou
em regiões de estreitamento das

margens que a velocidade da corrente aumentava.


Aprofundou esse estudo com aplicações

euclidianas, chegando à conclusão de que


em regiões onde a área da seção transversal ao
escoamento diminuía em um fator
de quatro vezes, a velocidade aumentava no fator de quatro

vezes, estabelecendo
uma primeira relação quantitativa aplicada ao princípio da conservação da

massa. Grande observador da natureza, analisando o vento e como os pássaros


voam, contribuiu

também com a primeira tentativa de quantificar altas e baixas


pressões, concluindo que o ar que
atinge um corpo a altas velocidades sofre
compressão proporcional a sua velocidade. Elaborou o

primeiro princípio da
reciprocidade aerodinâmica, observando que mover um objeto contra o ar

parado é
o mesmo que mover o ar contra o objeto parado, ou seja, que a força exercida
pelo objeto

no ar é igual à força exercida pelo ar no objeto. Estabeleceu a


primeira admissão de um mecanismo
separado da propulsão com o princípio das
asas fixas, em que afirmou que o ar que se move contra

asas fixas suporta o


peso dos pássaros, além de fazer diversos esboços de aplicações práticas

destes
conceitos, introduzindo o conceito de formas aerodinâmicas.

Figura 2 – Aplicações de estudos de aerodinâmica e retrato de Leonardo da Vinci

Créditos: Kwirry/Shutterstock; Jakub Krechowicz/Shutterstock.


Outro grande nome da ciência que contribuiu
para a mecânica dos fluidos foi Galileu Galilei, no

século XVII. Galileu


acreditava que o conhecimento deveria se basear na experiência, chegando a
estabelecer como procedimento para a construção do saber primeiro a observação,
seguida da

hipótese e posteriormente pela experiência, a qual verificaria a


hipótese e que, uma vez a hipótese

sendo confirmada pela experiência, se


transformaria em lei. Essa sua convicção, materializada em
1632 na publicação
intitulada Dialogo sopra i massimi sistemi del mondo, quase lhe custou a
vida,

pois nela afirmou que o nosso sistema solar era heliocêntrico, o que foi
considerado uma heresia,

tendo ele que negar essa teoria para não ser queimado
na fogueira. Além de suas grandes

contribuições para a mecânica, como o


conceito de inércia e da quantidade de movimento, fez

experimentos de mecânica
dos fluidos envolvendo a queda de corpos e o movimento do pêndulo,

constatando
que a resistência aerodinâmica é diretamente proporcional à massa específica do
fluido.

Figura 3 – Galileu Galilei

Crédito: Justus Sustermans-CC/PD.

Seguindo
a linha histórica, ainda no século XVII, temos sem dúvida um dos maiores nomes
da

ciência, Isaac Newton, cujas três leis fundamentais do movimento constituem


a base para toda a

mecânica, que contribuiria fortemente com a mecânica dos


fluidos por meio
da sua segunda lei, que
relaciona a força aplicada com a taxa da variação da
quantidade de movimento para um corpo em

movimento, pois seria usada no futuro


por Euler, Navier e Stokes na elaboração das equações

fundamentais do movimento
dos fluidos. Uma de suas maiores contribuições diretas para a

mecânica dos
fluidos foi publicada em 1687, no Livro II do compêndio Philosophiae
naturalis principia

mathematica. Neste livro, podemos destacar a


apresentação da primeira dedução teórica da

equação do arrasto, em que concluiu


que o arrasto varia com o quadrado da velocidade, com a área
da seção reta do
corpo e com a massa específica do fluido. Também destacamos o tratamento da

relação
da tensão de cisalhamento em um ponto de um fluido com o gradiente local da
velocidade.

Newton afirmou que a tensão resultante da ação do atrito em partes


de um fluido é, mantendo as

outras variáveis inalteradas, proporcional à taxa


de deformação do elemento do fluido em

movimento, expressa como:

Em
que:

τ
= tensão de cisalhamento

μ = viscosidade dinâmica

 = taxa de deformação do
fluido em qualquer direção

Essa é
a Lei de Newton para a relação tensão/deformação de um fluido, que abordaremos
mais

detalhadamente adiante.

Figura 4 – Isaac Newton


Crédito: Godfrey Kneller-CC/PD.

No
século XVIII, Daniel Bernoulli, proeminente professor da Academia de Ciências
de São

Petersburgo, publicou em 1738 um dos mais importantes livros da mecânica


dos fluidos, intitulado

Hydrodynamica, termo esse que ele mesmo criou.


Sua principal contribuição foi estabelecer relação

entre a variação da pressão


e a velocidade de escoamento.

Figura 5 – Daniel Benouilli

Créditos: Bumann/Adobe Stock.


Ainda no século XVIII, Leonard Euler, também
professor da Academia de Ciências de São

Petersburgo, por indicação de Daniel


Bernoulli, estabeleceu o conceito de que a pressão era uma
propriedade local,
podendo variar de ponto a ponto e que poderia ser obtida pela equação
diferencial

que relacionava a pressão com a velocidade de escoamento. A


integração dessa equação diferencial

permitiu a Euler deduzir a equação de


Bernoulli. Dali para frente Euler contribuiu com a mecânica dos

fluidos por
meio da formulação matemática do movimento de um fluido. Em suas três
publicações:

Principles of the motion of fluids (1752), General


principles of the state of equilibrium of fluids (1752) e

General
principles of the motion of fluids (1755), apresentou os equacionamentos
para fluidos

compressíveis e incompressíveis.

Figura 6 – Leonard Euler

Créditos: Phachaya Roekdeethaweesab/Shutterstock.

No século XIX, Claude Louis Marie Henri Navier,


catedrático da École des Pontset Chaussés e

posteriormente da École
Polytechnique, em Paris, apresentou em 1822, no livro intitulado Mémoire

sur
les lois du mouvement des fluids, as primeiras deduções das equações do
movimento dos fluidos.

Mesmo desconhecendo o conceito das tensões de


cisalhamento em um fluido e baseando-se nas

premissas equivocadas de
modificação das equações de Euler e sobre forças de interação entre
moléculas de
um fluido, deduziu as equações para um fluido viscoso.

Figura 7 – Claude Louis Marie Henri Navier


Crédito: CC/PD.

Ainda
no século XIX, Adhémar Jean Claude Barré de Saint Venant, professor da École
des Ponts

et Chaussés, em Paris, com destacado trabalho nas áreas de


hidrostática e hidrodinâmica,

retrabalhou as equações do movimento para fluidos


viscosos, porém introduzindo em sua dedução o

conceito de tensões internas


viscosas. No trabalho publicado em 1843 intitulado Note à joindre um

mémoire
sur la dynamique des fluids, corrigiu
a premissa de Navier, derrubando as premissas de

interação molecular e
identificando o papel do coeficiente de viscosidade no gradiente de
velocidades
do escoamento. Estabeleceu ainda que as tensões viscosas que atuam sobre um
fluido

são resultantes da força de atrito.

Figura 8 – Adhémar Jean Claude Barré de Saint Venant


Crédito: CC/PD.

Ainda
no século XIX, George Gabriel Stockes, que dedicou sua pesquisa a
hidrodinâmica, teve

sua principal contribuição para a mecânica dos fluidos


quando publicou em 1845 o seu principal
trabalho intitulado On the theory of
internal friction of fluids in motion, em que usou conceitos de

continuidade para justificar as mesmas equações de movimento para sólidos


elásticos e fluidos
viscosos.

Figura 9 – George Gabriel Stockes

Crédito: CC/PD.
Já no
final do século XIX, quase no século XX, Osborne Reynolds, professor primeiro
no Owens
College e depois na Universidade de Manchester, que se dedicou aos
estudos em hidráulica e

hidrodinâmica, concentrando seus estudos nas mudanças


que um escoamento sofre quando passa
do regime laminar para o turbulento,
deixou uma de suas mais importantes contribuições para a

mecânica dos fluidos


primeiro no artigo publicado em 1883, intitulado An experimental
investigation
of the circumstances wich determine whether the motion of wather
in parallel channels shall be direct or
sinuous and the law of resistance in
parallel channels ,e posteriormente, em 1895, no artigo intitulado

On
the dynamical theory of incompressible viscous fluids and the determination of
the criterion, com o
qual introduziu o mais importante grupo por análise
dimensional da mecânica dos fluidos, chamado

em sua homenagem de Número de


Reynolds.

Figura 10 – Osborne Reynolds

Créditos: John Collier-CC/PD.

É de
Osborne Reynolds também a teoria moderna da lubrificação e o modelo teórico
para
análise de escoamentos turbulentos, apresentando a noção de campos médios
e flutuantes.

 Ao longo dos anos, todas essas contribuições


desses grandes pesquisadores, assim como os
que os sucederam, e os princípios
de mecânica dos fluidos que desenvolveram, foram sendo uados

em sistemas
hidráulicos, de saneamento, moinhos e, com a Revolução Industrial, em máquinas
térmicas, máquinas de fluxo, sistemas hidráulicos e pneumáticos, chegando hoje
a aplicações como
geração sustentável de energia eólica e por ação das marés.
TEMA 2 – DEFINIÇÕES E CONCEITOS IMPORTANTES PARA A
MECÂNICA DOS FLUIDOS

Uma vez definido o que seja a mecânica dos


fluidos, cabe agora estabelecermos algumas
definições e conceitos de
propriedades físicas e classificações de fluidos, que usaremos no

andamento da
disciplina. A compreensão dessas definições e conceitos facilitará o
entendimento
das equações e suas aplicações nas mais diversas situações
profissionais.

2.1 PROPRIEDADES FÍSICAS DOS FLUIDOS

Neste item, trataremos de propriedades dos


fluidos de forma por análise dimensional, ou seja,
sem nos preocuparmos com
sistemas de unidades, para que se criem conceitos lógicos e até

intuitivos,
facilitando sua compreensão.

Vamos iniciar definindo a massa específica, que


é a massa presente em determinado volume de

fluido. A massa específica, cujo


símbolo é ρ, é, por análise dimensional, representada da seguinte
forma:

Em que ρ é a massa específica, M representa a


massa do fluido e L3 representa o volume
ocupado pelo fluido.

Considerando a massa como uma propriedade


inerente do fluido, função de sua composição
química e forças de ligação, e
tendo em mente que o volume é uma propriedade que depende do

grau de agitação
das moléculas em função da temperatura, torna-se óbvio que a massa específica
varia com a temperatura do ambiente. Mas de que forma varia?

Analisando a equação dimensional, temos a massa


M no termo superior da divisão e o volume

L3 no seu termo inferior. Como


aumentando a temperatura aumentará a agitação das moléculas,

aumentando o
volume, para uma massa M de fluido, e aumentando a temperatura, teremos a
diminuição da massa específica. Usando o mesmo raciocínio, diminuindo a
temperatura, teremos

uma maior massa específica. Portanto, a massa específica


varia de forma inversamente
proporcional a temperatura.
Aproveitando que definimos a massa específica,
vamos agora definir a densidade, representada
por D, que é a relação, a uma
determinada temperatura, entre a massa específica de um fluido e a

massa
específica do fluido padrão, sendo que o fluido padrão para os líquidos é a
água e o fluido
padrão para os gases é o ar. Por análise dimensional temos que
a densidade é representada da

seguinte forma:

A densidade mantém a mesma variação com a


temperatura, da massa específica.

Importante aqui corrigirmos um jargão bastante


usado em indústrias, que usam
indiscriminadamente o termo densidade
tanto para a ela mesma quanto para a massa específica.

Agora vimos que há uma


diferença.

  Seguindo as definições, vamos ao volume


específico, que é o volume ocupado por uma

determinada massa de fluido, sendo


representado na equação por análise dimensional como:

Observe pela equação por análise dimensional


que o volume específico é o inverso da massa

Esta relação é importante, pois há vezes em que


não se tem tabelada a massa específica de um
fluido, mas sim seu volume
específico. Por essa relação é possível então calcular a massa

específica com o
volume específico obtido na tabela.

Dando continuidade, vamos agora para a


viscosidade dinâmica, ou absoluta, e para a

viscosidade cinemática. Porém,


antes, para melhor compreender suas definições, precisaremos falar
sobre a
tensão de cisalhamento e a deformação em fluidos.

Tensão de cisalhamento, ou tensão de corte, é a


tensão resultante de forças aplicadas em uma
área superficial, em direções
paralelas, podendo ser no mesmo sentido ou em sentidos opostos,

porém com
intensidades diferentes, conforme a Figura 11.

Figura 11 – Tensão de cisalhamento


Fonte: Proença, 2021.

Portanto, a tensão de cisalhamento fica


representada em equação por análise dimensional,

como segue:

Como exemplos, temos a tesoura e a guilhotina


cortando por tensão de cisalhamento.

Para definir a deformação, vamos usar o exemplo


de um fluido contido entre duas placas planas
paralelas, sendo esse fluido
submetido a uma tensão de cisalhamento em um intervalo de tempo,

conforme
figura abaixo.

Figura 12 – Deformação em função da tensão de cisalhamento aplicada a um fluido em um intervalo


de tempo

Fonte: Proença, 2021.

A aplicação da tensão de cisalhamento sobre um


fluido irá gerar um deslocamento angular (δα),
que pode ser rebatido no eixo x
(δl), cuja relação angular com o deslocamento em y (δy), para

deslocamentos
diferenciais, pode ser obtido por:
Assumindo
como δu a variação em x em função do tempo , podemos obter a taxa de
deformação em função do tempo como:

Saiba mais

É importante neste
ponto reforçar o conceito do que seja fluido, pois é definido como uma
substância que se deforma continuamente sob tensão de cisalhamento, mesmo sendo
esta

tensão de mínima intensidade.

É intuitivo
estimar que as taxas de deformação em função de uma tensão de cisalhamento
aplicada em fluidos diferentes, mesmo em repouso, serão diferentes. Há então
uma relação de
proporcionalidade entre esta tensão de cisalhamento e a taxa de
deformação, que é a viscosidade

dinâmica ou absoluta (μ).

Portanto, podemos definir a viscosidade


dinâmica como sendo a relação de proporcionalidade
entre a tensão de
cisalhamento e a taxa de deformação, a qual pode ser expressa por análise
dimensional como:

A viscosidade dinâmica também pode ser expressa


por análise dimensional em função da

massa. Mas para compreender como, é


necessário definir fluidos newtonianos e não newtonianos.

Fluidos newtonianos são aqueles para os quais a


tensão de cisalhamento é diretamente

proporcional à taxa de deformação. Já os


fluidos não newtonianos, por analogia, são aqueles para
os quais a tensão de
cisalhamento não é diretamente proporcional à taxa de deformação.

Considerando o fluido newtoniano, temos que a


viscosidade dinâmica seguirá a segunda lei do
movimento de Newton, pela qual a
força (F) é a resultante do produto da massa de um corpo (M)

pela aceleração
por ele adquirida. Tendo em mente que a aceleração é a variação da velocidade
pelo
tempo e que a velocidade é a variação da distância pelo tempo, teremos por
análise dimensional

que:

Lembrando que:

Então:

Além da viscosidade dinâmica, há também a


viscosidade cinemática, que é definida para fluidos

em movimento. Porém, para


definirmos a viscosidade cinemática, é importante primeiro entender o
que seja
vazão mássica e vazão volumétrica de um fluido.

Imagine um duto qualquer, que pode ser uma


tubulação de seção circular ou retangular, ou
mesmo uma canaleta. O volume de
fluido que passa pela seção transversal a este duto em um

intervalo de tempo é
a vazão volumétrica.

Figura 13 – Escoamento de um fluido pela seção transversal de um duto em um intervalo de tempo


tendendo a zero δt.

Fonte: Proença, 2021.


Podemos então representar por análise
dimensional a vazão volumétrica da seguinte forma:

Mas nem sempre o escoamento de um fluido é


medido em função do volume. Muitas vezes é
medido em unidade de massa. Assim
teremos, usando o mesmo raciocínio anterior, que a vazão em

massa, chamada vazão


mássica, é a massa de fluido que passa pela seção transversal do duto em
um
intervalo de tempo qualquer.

Sua representação por análise dimensional fica:

Uma vez definidas estas vazões, fica mais fácil


entender o conceito de viscosidade cinemática.

Imagine dois fluidos diferentes


percorrendo a mesma distância em dutos de mesmo material e
mesma seção
transversal nas mesmas condições de temperatura e pressão. É intuitivo concluir
que

o duto de maior viscosidade levará um tempo maior para percorrer esta


distância do que o de menor
viscosidade.

Essa viscosidade relacionada ao deslocamento


dos fluidos nos dutos é a viscosidade
cinemática. Podemos assim imaginar que a
viscosidade cinemática define a vazão de um fluido em

uma distância de
deslocamento definida, podendo por análise dimensional ser representada como:

Podemos também entender que a viscosidade


dinâmica, assim como a cinemática, pode ser

tratada em função da massa, ficando


sua expressão por análise dimensional da seguinte forma:

Essa viscosidade pode ser e é relacionada à


viscosidade dinâmica, por meio da massa
específica. Essa relação gera a
definição formal da viscosidade cinemática, como sendo a

viscosidade dinâmica
dividida pela massa específica:
Assim, podemos novamente representar a
viscosidade cinemática por análise dimensional,
porém agora em função da
viscosidade dinâmica e da massa específica, para fluidos newtonianos

como:

2.2 DEFINIÇÕES DOS ESCOAMENTOS E PROCESSOS

Agora temos as definições de viscosidade


cinemática, viscosidade dinâmicas e massa

específica, podemos definir fluido


ideal, escoamento compressível, escoamento incompressível e
analisar os
possíveis tipos de processos envolvidos nos equipamentos de operações unitárias
das

indústrias. Além disso, também poderemos definir escoamento laminar, de


transição e turbulento.

Começaremos definindo o fluido ideal, que é


aquele cuja viscosidade dinâmica e,

consequentemente, também a viscosidade


cinemática, é nula, ou seja, aquele que escoa em um duto
sem qualquer perda de
energia por atrito. Também é contínuo, ou seja, não apresenta espaços
vazios
dentro dele. E é homogêneo, ou seja, apresenta as mesmas propriedades,
destacadamente a

massa específica, além da mesma composição química, em toda


sua extensão. É intuitivo concluir
que não existem fluidos ideais. No entanto,
em muitos casos, principalmente quando a perda de

energia por atrito no


escoamento for desprezível, consideraremos o fluido de análise como ideal.

Com relação ao escoamento, é classificado como


não viscoso e podemos, em termos de

compressibilidade, classificá-lo como


escoamento incompressível e escoamento compressível.

O escoamento incompressível é aquele que se


caracteriza por ter variação da massa específica
desprezível ao longo dele.
Assim, para esse escoamento, o fluido deve ser incompressível, ou seja,
deve
ser um fluido cuja variação do volume com a variação da pressão no escoamento
seja

desprezível, mantendo assim praticamente inalterada a sua massa


específica. Os fluidos líquidos
normalmente apresentam caraterísticas muito
próximas dessa, sendo considerados

incompressíveis.

O escoamento ao longo do qual ocorre a variação


da massa específica, é o escoamento

compressível. Para esse escoamento, o


fluído deve ser compressível, ou seja, um fluido que
apresenta variação do
volume com a pressão no escoamento, tendo assim alteração na sua massa
específica. Os fluidos gasosos normalmente apresentam esta característica,
embora para algumas
condições de escoamento se comportem como fluidos
incompressíveis também.

Os gases são geralmente tratados como gases


prefeitos, devendo obedecer a seguinte equação
de estado:

p = ρ.R.T

Em que:

p = pressão absoluta, que também é a força


aplicada em uma área, podendo ser representada

por análise dimensional desta


forma:

  = massa específica, cuja já


vimos a definição e que é representada por análise dimensional

desta forma:

T = temperatura absoluta, que é representada


por análise dimensional por T.

R = constante cujo valor depende do gás de


análise, sendo função da relação entre a pressão
absoluta, a massa específica e
a temperatura absoluta, cuja representação por análise dimensional
fica:

Veja que as representações adimensionais levam


ao seguinte:

Que nada mais é do que isolar R na equação de


estado.

Mas devemos continuar a analisar a representação


por análise dimensional, buscando

simplificar. Assim:
Tomando como princípio que R é constante, então,
teremos que, para um mesmo gás, em dois

pontos diferentes do escoamento:

R1 = R2=cste.

Pela própria equação de estado, então, teremos


que:

Podemos agora analisar esta equação para os


diversos processos que ocorrem em

equipamentos de operações unitárias e dutos


de escoamento.

Primeiro vamos analisar para os processos


isotérmicos. Nestes processos, como o nome já faz

pressupor, do grego ísos


(igual) e thérme (temperatura), a temperatura não varia. Nesse caso, a
equação
terá o termo da temperatura simplificado, ficando:

O motivo pelo qual não há variação de temperatura,


antecipando conceito que usaremos em
transferência de calor, é que não há troca
térmica com o meio, ou seja, o processo é adiabático.

Nesse caso, a mudança da


massa específica ocorrerá em função da mudança da pressão.

Vamos agora analisar para processos isobáricos.


Novamente, do grego ísos (igual) e báros

(pressão), é um processo
no qual a pressão não varia. Assim, na equação de estado, o termo da
pressão
será simplificado, ficando:

Nesse caso, a variação da massa específica será


função da temperatura.

Por último, há os processos isocóricos.


Novamente, do grego ísos (igual) e khóra (volume), é um

processo no qual
o volume não varia. Se o volume não varia e sendo o mesmo gás, com a mesma
massa, a massa específica também não irá variar. Portanto, na equação de
estado, o termo da
massa específica será simplificado, ficando:
Nesse caso, a variação da pressão será função
da variação da temperatura.

Todos esses processos analisados, bem como


tipos de escoamento, se referem a escoamento
não viscoso.

Mas há escoamentos viscosos, ou seja, nos quais


a viscosidade dinâmica e, consequentemente,

a viscosidade cinemática, não é


nula.

Para melhor avaliar este escoamento e suas


classificações, primeiro precisaremos analisar o
perfil de escoamento em um
duto, as forças envolvidas e definir a camada limite.

Para analisar o perfil de escoamento precisamos


primeiro entender que ele é função da

velocidade do escoamento do fluido no


duto. A velocidade é uma grandeza vetorial e. assim, tem
módulo e direção nos
três eixos (x, y, z) que compõem o espaço. Portanto, o vetor velocidade  pode
ser escrito em função de
suas três componentes escalares nas direções x, y e z, como:

Sendo u, v e w função de x, y, z e t. Portanto,


são as componentes escalares da velocidade ao
longo dos eixos x, y e z,
conforme representado abaixo:

Figura 14 – Representação do vetor velocidade em função dos componentes escalares

Fonte: Proença, 2021.

Cabe aqui observar que, assim como a


velocidade, todas as propriedades vistas anteriormente,
como tensão de
cisalhamento, massa específica e viscosidade, também podem ser escritas em
função de suas componentes escalares ao longo das direções x, y, z.
Voltando para a velocidade, a resolução da
velocidade vetorial no escoamento tridimensional, ou
seja, envolvendo as três
direções (x, y, z) que compõem o espaço, se torna bastante complexa,

envolvendo
cálculos matriciais e coordenadas cilíndricas. Para aplicações de engenharia e
tecnologias é possível trabalhar com menos complexidade e com resultados mais
aproximados
tratando o escoamento como sendo bidimensional ou unidimensional,
ou seja, ao longo de duas ou
apenas uma direção, obtendo resultados bastante
satisfatórios.

Portanto, trataremos do perfil de escoamento,


camada limite e regimes de escoamento viscoso,
tomando como base o escoamento
unidimensional.

O segundo conceito que devemos entender é que há


dois tipos de forças que atuam em um
fluido. O primeiro tipo é o das forças de
superfície, as quais dependem da área de contato dos

fluidos principalmente com


sólidos, que são a pressão (P) e a força de atrito (FA). As outras
são as

forças de campo, as quais são interações do ambiente com o fluido, que


são a força da gravidade e
campos magnéticos.

Vamos neste momento nos ater às forças de


superfície que atuam em um fluido em

escoamento viscoso. Da região em contato


do fluido com o sólido até a região mais distante desse
contato, haverá uma ação
da pressão para o escoamento e uma reação ao escoamento pela força
de atrito.
Assim, da superfície de contato com o sólido para a região mais afastada do
contato, que é
a região do centro do duto, haverá a variação da resultante das
forças de ação superficial, do
prevalecimento da força de atrito para o
prevalecimento da pressão. Onde prevalece a força de atrito,

os componentes
escalares do vetor velocidade serão os menores, chegando para fluidos bastante
viscosos a atingir apenas uma fração do valor dos componentes escalares do
vetor velocidade do
escoamento normal, sendo na maioria das vezes considerados
nulos. Onde prevalece a pressão, os
componentes escalares do vetor velocidade
terão o valor 100% dos componentes escalares do vetor
velocidade do escoamento livre,
ou seja, os mesmos valores dos componentes escalares de antes

do fluido entrar
no duto. Como resultante dessa relação da pressão com a força de atrito,
teremos
tensões de cisalhamento no fluido, fazendo com que uma região de
componente escalar do vetor
velocidade maior escoe sobre uma região de valor
escalar do vetor velocidade menor. Essa variação,
analisando um escoamento
unidimensional, gera variações nos vetores velocidade das paredes para

o centro
do tubo, resultando no que chamamos de perfil de escoamento.
Em dutos sem qualquer rugosidade, mesmo para
fluidos viscosos, não haverá a força de atrito e
consequentemente todos os
valores escalares do vetor velocidade permanecerão os mesmos de

antes do fluido
entrar no duto, chamados vetores escalares de corrente livre, sem qualquer
alteração,
gerando um perfil de escoamento retangular. Nesse caso, teremos o
que se chama de escoamento
uniforme do fluido.

Figura 15 – Perfil de escoamento retangular

Fonte: Proença, 2021.

Em dutos com rugosidade, teremos as tensões de


cisalhamento entre as várias camadas, sendo
que a camada em contato com o
sólido irá retardar o escoamento da camada acima e assim,

subsequentemente, até
que se atinja uma camada com valor escalar do vetor velocidade igual ao do
escoamento de corrente livre, gerando valores escalares do vetor velocidade
diferentes sobrepostos,
resultando em um perfil de escoamento parabólico. Nesse
caso, teremos um escoamento chamado
de não uniforme.

Figura 16 – Perfil de escoamento parabólico

Créditos: Scientific Stock/Shutterstock.


Cabe aqui fazer um parêntese referente aos
perfis analisados. Para escoamentos uniformes, o
perfil retangular irá apenas
se alterar se houver um aumento ou uma diminuição na seção transversal

do duto,
que veremos mais adiante quando analisarmos as equações e leis de escoamento e
perda
de carga, mantendo o perfil retangular, mas sofrendo alterações dos
componentes escalares da
velocidade de forma inversamente proporcional as
seções transversais, de forma a garantir a vazão
do fluido constante. Já para
escoamentos não uniformes, haverá um perfil retangular antes da

entrada no
duto, onde a corrente é livre e, ao longo da distância percorrida no duto,
sofrerá variações
neste perfil até atingir o perfil parabólico definitivo, que
se manterá durante o escoamento no duto, a
menos que ocorram variações na seção
transversal do duto ou apareçam os chamados acidentes de
linha de escoamento,
como curvas, válvulas e outros acessórios. Assim, o perfil de escoamento
variará de um perfil de entrada, para um de transição e finalmente o plenamente
desenvolvido. A

maioria das análises de escoamento são feitas para o perfil


plenamente desenvolvido.

Figura 17 – Perfil de escoamento de entrada (a), de transição (b) e plenamente desenvolvido (c)

Fonte: Proença, 2021.

O último conceito a ser definido antes da


análise de escoamentos viscosos laminares e

turbulentos é a camada limite. Tomando


como base agora o escoamento bidimensional, analisando
segundo os eixos x e y,
temos que a camada limite é a região superficial definida pela distância no
eixo
y a partir do contato com a superfície do tubo e pela distância em x a partir
da entrada do fluido
no duto, para a qual o valor do componente escalar da
velocidade atinge 99% do valor do

componente escalar do vetor velocidade da


corrente livre, ou seja:

Em que:

u∞ =
componente escalar da velocidade da camada limite;
u0 =
componente escalar da velocidade da corrente livre.

Essas distâncias em y e x definirão o valor da


espessura da camada limite (δ) do escoamento.
No limite dessa espessura, a
tensão de cisalhamento torna-se desprezível.

Figura 18 – Representação da camada limite

Fonte: Proença, 2021.

Finalmente, poderemos definir o escoamento


laminar e o escoamento turbulento.

O escoamento laminar é aquele no qual, para


escoamentos viscosos não uniformes, desde a
região de entrada no duto até ficar
plenamente desenvolvido, cada camada do fluido (chamada

lâmina) desliza sobre a


outra sem que haja qualquer agitação, de forma que não haverá mistura
entre as
camadas. Pode ser analisado como escoamento unidimensional, com o componente
escalar da velocidade u e com a tensão de cisalhamento sendo relacionada com o
gradiente de
velocidade através da viscosidade dinâmica, permitindo solução
analítica.

O escoamento turbulento é aquele no qual, para


escoamentos viscosos não uniformes, desde a

região de entrada no duto até ficar


plenamente desenvolvido, cada camada do fluido escoa
randomicamente em diversas
direções, devido à agitação provocada por diversos valores do
componente
escalar da velocidade nas diversas direções do espaço, de forma que haverá
mistura
entre as camadas. Deve ser analisado como escoamento tridimensional,
com o componente escalar

da velocidade ū sendo a média das componentes escalares


u, v, w ao longo das direções x, y e z do
espaço. Variações aleatórias dos
componentes escalares aumentam a tensão de cisalhamento, que

não pode mais ser


analisada analiticamente de forma simples, como para o escoamento laminar.
Assim, a análise de escoamentos turbulentos se faz usando teorias semiempíricas
ou em cima de
dados experimentais.

Figura 19 – Escoamento laminar e escoamento turbulento

Fonte: Scientific Stock/Shutterstock.

TEMA 3 – EXPERIMENTO DE REYNOLDS

Em 1883, Osborne Reynolds apresentou para a


comunidade científica um experimento que
mostrou a existência de dois tipos de
escoamento, sendo que no primeiro tipo as camadas do fluido

seguem ao longo de
linhas de movimento que se deslocam de forma direta ao longo do tubo e no
segundo as camadas do fluido se movem em trajetórias sinuosas da forma menos
direta possível.
Identificou assim o escoamento laminar e o escoamento turbulento.

Reynolds observou ainda que havia uma região de


transição do escoamento laminar para o

escoamento turbulento, sem um


entendimento sobre qual intensidade de perturbação geraria esta
região. Nesta
região ele identificou o aparecimento súbito de turbilhões, chegando a indicar
que o
intervalo desses turbilhões seria um dado importante para caracterizar a
transição. Postulou, como
resultado de suas observações, que no escoamento
laminar a perda de carga variava linearmente
com a velocidade, sendo que no escoamento
turbulento a perda de carga variava com o quadrado da

velocidade.

Para tanto, montou uma bancada com um tanque de


dimensões 6 ft x 18 ft x 18 ft, dentro do
qual havia um tubo de vidro, um
convergente cônico de madeira, um tubo metálico, válvula para
controle de vazão
e um sistema de injeção de tinta.
Figura 20 – Experimento de Reynolds

Créditos: Osborne Reynolds/CC/PD.

Ao aprofundar seus estudos sobre essa região de


transição, concluiu que havia um parâmetro

por análise dimensional que serviria


de critério para estabelecer se um regime de escoamento
viscoso seria laminar
ou turbulento, pela razão entre forças de inércia e viscosas. Esse parâmetro,
posteriormente, recebeu o nome de número de Reynolds em sua homenagem.

Para escoamento em tubos, o número de Reynolds


é obtido por:

Em
que:

Re = número de Reynolds.

Ρ = massa específica.

 velocidade escalar média.

D = diâmetro da seção
transversal do tubo.

μ = viscosidade
dinâmica.

ϑ = viscosidade
cinemática.
Hoje,
sabemos que esse parâmetro serve para diversos tipos de escoamento, tendo como
equação geral:

Sendo:

L
= comprimento característico descritivo da geometria do escoamento.

No
geral podemos assumir que escoamentos viscosos são laminares quando tem o   .

Quando tem , podemos assumir que os


escoamentos viscosos são turbulentos.

Assim, quando tiverem valores intermediários


aos citados, poderemos assumir que estão na

região de transição. (2300 < Re


< 4000).

Também existe um número de Reynolds para a


camada limite, sendo que nesse caso a
velocidade será relativa ao componente
escalar da velocidade da corrente livre (u∞) e o

comprimento será a
distância em x percorrida da entrada até o escoamento atingir o perfil

plenamente desenvolvido, sendo obtido por:

  Analisando para um duto de comprimento L,


teremos que na entrada o número de Reynolds

será nulo, pois x=0. Ao longo do duto,


para Re < 5. 105, o escoamento na camada limite será laminar.

Para Re > 5.105 o escoamento na camada limite será turbulento. Em


geral, o escoamento na camada
limite é laminar. Mas, para comprimentos
suficientemente longos, haverá uma região de transição e

depois o escoamento da
camada limite será turbulento.

TEMA 4 – UNIDADES E SISTEMAS DE UNIDADES

Uma vez tendo sido apresentados os conceitos


fundamentais de propriedades físicas na forma

por análise dimensional, é


necessário agora conhecer as unidades e sistemas de unidades usuais
voltados a
mecânica dos fluidos para que se possa fazer as análises dos escoamentos.
Assim,
trataremos primeiro das unidades de cada componente das representações
adimensionais e depois
trataremos do Sistema de Unidade Internacional (SI) e do
Sistema de Unidades Britânico, pois são
sistemas com unidades que certamente se
encontram nas unidades industriais.

4.1 UNIDADES

Trabalhamos até agora por análise dimensional, mas


sabemos que temos de ter unidades para
as grandezas, a fim de que possamos
fazer as análises necessárias para o controle de processos

químicos
industriais. Nas indústrias, as unidades mais usuais são no SI (Sistema
Internacional de
Medidas) e no EE (Sistema Inglês de Engenharia).

Assim, apresentaremos as unidades de cada componente


por análise dimensional já usado.

Iniciaremos com L, que é o comprimento. Para L as


unidades são as seguintes:

Quadro 1 – Unidades de comprimento

Por análise
dimensional (SI) Sistema Internacional
de Medidas (SI) Sistema Inglês de
Engenharia (EE)

L m (metro) ft (pés)

Temos
M, que é a massa. Para M, as unidades são:

Quadro 2 – Unidades de massa

Por análise
dimensional Sistema Internacional
(SI) Sistema Inglês de
Engenharia (EE)

M kg (quilograma) lbm (libra massa)

Temos
F, que é a força. Para F, as unidades são:

Quadro 3 – Unidades de força

Por análise
dimensional Sistema Internacional
(SI) Sistema Inglês de
Engenharia (EE)
F N (Newton) lbf (libra força)

Temos
t, que é o tempo.

Quadro 4 – Unidades de tempo

Por análise
dimensional Sistema Internacional
(SI) Sistema Inglês de
Engenharia (EE)

t s (segundo) s (segundo)

Por
fim, temos T que é temperatura. Para T, as unidades são:

Quadro 5 – Unidades de temperatura

Por análise
dimensional Sistema Internacional
(SI) Sistema Inglês de
Engenharia (EE)

T K (Kelvin)) °R (graus Rankine)

4.2 SISTEMAS DE UNIDADES

Quando foram apresentadas as unidades das


grandezas adimensionais que usaremos no

decorrer da disciplina, elas foram


feitas em sistemas de unidades. Mas o que são esses sistemas de
unidades?

Sistemas de unidades representam as maneiras


que foram utilizadas para medir cada dimensão
primária por análise dimensional.

Os sistemas de unidades mais comuns são o Sistema


Métrico Absoluto, o Sistema Internacional
de Medidas (SI), o Sistema
Gravitacional Britânico e o Sistema Inglês de Engenharia (EE).

O Sistema Métrico Absoluto foi criado em 1790,


em plena revolução francesa, para padronizar

as medidas, que até então eram


definidos e controlados pela nobreza, de forma que não fossem
susceptíveis a
corrupção. Assim, esse sistema foi criado, tendo base decimal e tomando como
base
referenciais que não se alterariam, por exemplo, definir 1 grama como a unidade de
massa de 1 cm3

de água a 4oC.

Para o Sistema Métrico Absoluto, as unidades


são as seguintes:

Quadro 6 – Unidades do Sistema Métrico Absoluto

Dimensão L M F t T

g K
Unidade cm
(centímetro) dina = g.cm/s2 s (segundos)
(grama) (Kelvin)

O Sistema Internacional de Medidas (SI) é uma otimização do


Sistema Métrico Absoluto, tendo
sido desenvolvido em 1960 para corrigir algumas
distorções que o Sistema Métrico Absoluto

permitia que acontecesse. Uma das


mudanças propostas, visando a aplicação comercial das
unidades, foi passar da
base cm – g - s, para a base kg – m- s. Também adotou padrões com menos

variação para as medidas. Por exemplo, 1 quilograma deixou de ser a massa de 1


litro de água a 4oC
e passou a ser a massa de um padrão, que é um
cilindro de uma liga contendo 90% de Platina e 10%

de Irídio.

Para o Sistema Internacional de Medidas, as


unidades são as seguintes:

Quadro 7 – Sistema Internacional de Medidas

Dimensão L M F t T

m kg K
Unidade N (Newton) =
kg.m/s2 s (segundos)
(metro) (quilograma) (Kelvin)

O Sistema Gravitacional Britânico, também conhecido como Sistema


Imperial Britânico foi
definido em uma Carta Magna, em 1215, na qual
foram institucionalizados padrões de medidas a
partir de medidas estabelecidas
na capital da época, que era Winchester.

Para o Sistema Gravitacional Britânico, as


unidades são:
Quadro 8 – Unidades do Sistema Gravitacional Britânico

Dimensão L M F t T

ft lbf oR
Unidade slug = lbf.s2/ft s (segundos)
(pés) (libra força) (graus
Rankine)

O Sistema Inglês de Engenharia (EE), também


conhecido como Sistema Inglês Técnico, é um
sistema com padrões mais
consistentes que o Sistema Gravitacional Britânico, sendo mais usado
principalmente nos Estados Unidos da América.

Para o Sistema Inglês de Engenharia, as


unidades são:

Quadro 9 – Sistema Inglês de Engenharia

Dimensão L M F t T

ft lbm lbf oR
Unidade s (segundos)
(pés) (libra massa) (libra força) (graus
Rankine)

Saiba mais

Destes Sistemas de
Unidades, os mais utilizados em indústrias são o Sistema Internacional
de
Medidas (SI) e o Sistema Inglês de Engenharia (EE).

TEMA 5 – ORDEM DE GRANDEZAS E CONVERSÃO DE UNIDADES

Muitas vezes enfrentamos a situação de


converter medidas de um sistema de unidades para
outro sistema de unidades ou
de ter que trabalhar com grandezas diferentes daquelas padronizadas
para os
sistemas de unidades.

Assim, além de conhecer esses sistemas,


principalmente o SI e o EE, temos que conhecer as
diversas ordens de grandezas
relativas às dimensões e também como converter a conversão de
unidades.

Assim, trataremos primeiro de ordem de


grandezas e depois da conversão.

5.1 ORDEM DE GRANDEZAS

Dificilmente se trabalha com o controle de uma


produção industrial na ordem de quilogramas,

com tempos de segundos ou mesmo


com temperaturas medidas em Kelvin. Normalmente, trabalha-

se com toneladas por


hora, com temperaturas medidas em graus Celsius (oC). Da mesma
forma, não
se compra uma tubulação pelo diâmetro em metros, sendo usual a
polegada (in) e o milímetro (mm).

Portanto, é importante conhecer as ordens de


grandeza ao menos para as dimensões do SI e do

EE.

Vamos iniciar apresentando as ordens de


grandeza para as dimensões do SI.

Para o comprimento no SI, as ordens de grandeza


são:

Quadro 10 – Ordens de grandeza no SI para o comprimento

1 km
(quilometro) 1000 m 100000 cm 1000000 mm

10-3km 1m 100 cm 1000 mm

Por
exemplo, uma tubulação de diâmetro de 25,4 mm seria usada no Sistema
Internacional em
metros. Para isso, basta aplicar a ordem de grandeza:

1 m   -   1000


mm

L -    25,4mm

 Assim:
Para a
massa no SI, as ordens de grandeza são as seguintes:

Quadro 11 – Ordens de grandeza no SI para a massa

1 ton
(tonelada) 1000 kg 1000000 g 1000000000 mg

10-3ton 1 kg 1000 g 1000000 mg

Por
exemplo, 12 ton de matéria-prima seriam usadas no Sistema Internacional em quilogramas.

Para isso, basta aplicar a ordem de grandeza:

1 ton   -   1000 kg

12 ton   -    M

 Assim:

Para a força no SI, as ordens de grandeza são


as seguintes:

Quadro 12 – Ordens de grandeza no SI para força

1 GN 1000 MN
1000000 kN
(Quilo Newton) 1000000000 N
(Giga Newton) (Mega Newton)

10-9 GN 10-6
MN 10-3
kN 1N

Por
exemplo, uma força aplicada de 13 MN seria usada no Sistema Internacional em
Newton.
Para isso basta aplicar a ordem de grandeza:

1 N   -   10-6 MN


 F    -   13  MN

 Assim:

Para a
temperatura a conversão será pela relação entre a temperatura absoluta (K) para
a

temperatura usual (oC), que, antecipando o que veremos mais


adiante, quando falarmos em

transferência de calor, é feita pela seguinte


relação:

1 K = oC +273

Por exemplo, a temperatura de escoamento de um


fluido de 120 oC seria usada no Sistema
Internacional em Kelvin.
Para isso, basta aplicar a relação:

T = 120oC + 273

T = 393 K

As
ordens de grandeza para o Sistema Inglês de Engenharia mais usuais são aquelas
referentes

a L e a T.

Para o comprimento no EE, as ordens de grandeza


são as seguintes:

Quadro 13 – Ordens de grandeza no EE para comprimento

1 mi (milha) 1760 yd
(jarda) 5280 ft (pés) 63360 in
(polegadas)

18,94.10-4
mi 0,333 yd 1 ft 12 in

Por
exemplo, uma tubulação de diâmetro de 2,5 in, seria usada no Sistema Inglês em pés.
Para

isso basta aplicar a ordem de grandeza:

1 ft   -   12 in

L -   2,5
in
 Assim:

Para a
temperatura, a conversão será pela relação entre a temperatura em Rankine (R)
para a

temperatura usual (oC), que, antecipando o que veremos mais


adiante, quando falarmos em
transferência de calor, é feita pela seguinte
relação:

Por exemplo, a temperatura de escoamento de um


fluido de 120 oC seria usada no Sistema
Inglês em graus Rankine.
Para isso, basta aplicar a relação:

Portanto:  T = (120oC x 1,8) +


491,67 = 707,67 R

5.2 CONVERSÃO DE UNIDADES

Muitas vezes, na indústria há sistemas de


controle nos quais alguns equipamentos estão sendo
controlados com dimensões no
SI e alguns com dimensões no EE. Assim, é de fundamental

importância saber
converter as unidades para poder fazer as análises corretamente e tomar as
decisões acertadas. Lembre-se de que sempre deve trabalhar com um sistema único
de unidades,
jamais misturando sistemas. Para essas conversões são usadas
tabelas de conversão de unidades
esta que apresentamos a seguir.

Tabela 1 – Tabela de conversão de unidades


Fonte: Fox et al., 2018.

Assim, basta usar os fatores de conversão.

Por exemplo, uma tubulação de diâmetro de 2,5


in teria qual valor no SI?

1 in   -   25,4 mm

2,5 in  -   D

 Assim:

1 m   -   1000


mm

D  -   63,5 mm
 Assim:

FINALIZANDO

Nesta aula, tratamos de conceitos fundamentais


necessários para o bom andamento na

disciplina e para uso em suas vidas


profissionais.

Foram apresentados a definição e evolução da


mecânica dos fluidos, definições e conceitos de
propriedades importantes, o
Número de Reynolds, unidades e sistemas de unidades, sendo que, por
último,
foram analisadas as ordens de grandezas e as conversões de unidades.

Cabe a você apreender esse conteúdo para que


possa aplicar com desenvoltura não só na
resolução de problemas e análises
desta disciplina, mas principalmente para que possa usar na vida
profissional.

Lembre-se que a fundamentação teórica é igual à


fundação de uma construção. Quanto mais
reforçada essa fundamentação, maiores
desafios poderão ser enfrentados na sua vida profissional.

Bons estudos! 

REFERÊNCIAS

BRUNETTI, F. Mecânica
dos fluidos. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice-Hall, 2008.

FOX, R. W. et al. Introdução


à mecânica dos fluidos. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC-Livros Técnicos e
Científicos, 2018.

FREIRE, A. P. F. O voo
dos pássaros e a mecânica dos fluidos. In: VIII ENCONTRO DE ENSINO DE
ENGENHARIA. Anais... Petrópolis, RJ, 10 mar. 2012.

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