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Máquinas Hidráulicas Aplicadas à

Engenharia Mecânica
Claudio Monico Innocêncio
SUMÁRIO

1 HIDRÁULICA ............................................................................................ 3
2 MÁQUINAS HIDRÁULICAS ...................................................................... 22
3 INDICADORES OPERACIONAIS ............................................................... 36
4 COMPONENTES MECÂNICOS HIDRÁULICOS .......................................... 48
5 BOMBAS HIDRÁULICAS .......................................................................... 70
6 TURBINAS HIDRÁULICAS ........................................................................ 93

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1 HIDRÁULICA

Apresentação

Data de tempos remotos a preocupação das empresas em sanear as necessidades do


mercado por meio de soluções inteligentes, possibilitando, assim, amenizar desafios
trazidos pela história, envolvendo a minimização de esforços e a melhor maneira de
utilizar as leis da Física e do conhecimento. A hidráulica é um destes bálsamos de alívio
para muitas racionalizações de esforços e de processos, na qual atinge vários ramos de
atividade, como as Engenharias Ambiental, Química, de Produção e principalmente a
Engenharia Mecânica, que traduziu e mitigou estas melhorias em vantagens individuais
e coorporativas.

1.1 Origem e histórico

O manuseio da água pelo homem se deve à necessidade de irrigação na antiga sociedade


agraria. De que se tem conhecimento, o primeiro projeto de irrigação aconteceu cinco
mil anos atrás no Egito.

Logo, se viu a necessidade do transporte de água, realizado por meio de tubos. Por volta
de 200 a.c. os romanos já utilizavam tubos de bronze e de chumbo.

Foi por meio dos sistemas hidráulicos que os romanos mostraram sua capacidade como
engenheiros, sendo que, durante 2000 anos, seus famosos aquedutos ficaram em uso.

Os trabalhos científicos de Arquimedes contribuíram com a hidráulica, sendo que, em


250 a.C., ele publicou um trabalho escrito sobre hidrostática que apresentou os
princípios do empuxo (Princípio de Arquimedes) e da flutuação, o que lhe rendeu o título
de o pai da hidrostática.

Sabe-se que, entre 500 a.c. e a Idade Média, na China, no Império Romano e na América,
tanto os sistemas de abastecimentos quanto o de irrigação foram edificados.

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Os romanos tinham dúvidas com relação ao conceito de velocidade e, após 1500 d.C,
houve o entendimento entre escoamento e precipitação. Foi nesse período que a
hidráulica começou a se desenvolver como ciência.

Em 1760, da École des Ponts et Chaussées, em Paris, foi fundada com intuito de organizar
os conhecimentos da engenharia, a primeira escola de engenharia do mundo nos
padrões atuais.

Daniel Bernoulli publicou, por volta de 1738, uma valiosa equação, isto é, a equação de
Bernoulli, mostrando, por meio de formulação, a conservação de energia na hidráulica.

Newton, Descartes, Pascal, Boyle e Leibnitz contribuíram para o surgimento da


Hidrodinâmica no século XVII.

A engenharia hidráulica possui como principais destaques, Euler, Clairaut e D’Alembert


e o já mencionado Bernoulli e teve muitos avanços nos séculos XVIII e XIX, durante o
período clássico da hidráulica.

No quadro 1.1, resumimos algumas contribuições de personalidades da Hidráulica na


história.

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Quadro 1.1 - Hidráulicos notáveis e suas contribuições

Fonte: JACOB, 2015.

1.2 Conceitos básicos

Sabemos que Hidráulica significa “condução de água”. Vem do grego hydor (água) e
aulos (tubo, condução).

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Um significado mais atualizado para a Hidráulica é o estudo do comportamento da água
e de outros líquidos, estando em repouso ou em movimento.

Dividimos a Hidráulica em:

 Hidráulica Geral ou Teórica - Possui uma proximidade com a Mecânica dos


Fluidos.
 Hidrostática - Estuda o comportamento dos fluidos em repouso ou em equilíbrio.
 Hidrocinemática - Trata a velocidades e trajetórias, não considerando forças ou
energia.
 Hidrodinâmica - Faz referência às velocidades, às acelerações e às forças que
atuam em fluidos em movimento.
 Hidráulica Aplicada ou Hidrotécnica.

A Hidrodinâmica trabalha sobre a ótica do fluido perfeito, isto é, uma diminuição do


atrito interno.

A praticidade da Hidrodinâmica é uma grande realidade, visto a utilização dos recursos


tecnológicos computacionais, facilitando o manusear de sistemas de equações
extremamente complexos.

Quando você aplica os conhecimentos práticos e científicos da Mecânica dos Fluidos,


temos a Hidráulica Aplicada ou Hidrotécnica, em função dos fenômenos relacionados à
água, quer parada, quer em movimento.

Os campos de atuação da Hidráulica Aplicada ou Hidrotécnica são:

 Atuação na área Urbana - Considerando os sistemas de abastecimento de água,


de esgotamento sanitário, de drenagem pluvial e de Canais.

 Atuação na área Rural - Considerando os sistemas de drenagem, os de irrigação,


os de água potável e de esgotos.

 Atuação nas Instalações prediais - Considerando instalações Industriais,


Comerciais, Residenciais e Públicas.

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Engenharia Hidráulica ou Hidrotécnica possui acessórios, materiais e estruturas práticas.
Estes são:

 Aterros;
 Barragens;
 Bombas;
 Cais de portos;
 Canais, comportas;
 Diques;
 Dragas;
 Drenos;
 Eclusas;
 Enrocamentos;
 Flutuantes;
 Medidores;
 Orifícios;
 Poços;
 Reservatórios;
 Tubos e canos;
 Turbinas;
 Válvulas;
 Vertedores;
 Etc.

1.3 Propriedades dos fluidos

Estas propriedades fornecem sustentação conceitual para nosso estudo futuro.

1.3.1 Fluidos

Fluidos são substâncias ou corpos cujas moléculas ou partículas têm a propriedade de


se mover umas em relação às outras sob a ação de forças de mínima grandeza.

Os fluidos podem ser divididos em líquidos e aeriformes (gases, vapores).


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Os líquidos têm uma superfície livre, ou seja, uma determinada massa de um líquido, a
uma mesma temperatura, ocupa só um determinado volume de qualquer recipiente em
que caiba, sem sobras. Eles são pouco compressíveis e resistem pouco a trações e muito
pouco a esforços cortantes, por isso se movem facilmente.

Os gases, quando colocados em um recipiente, ocupam todo o volume,


independentemente de sua massa ou do tamanho do recipiente. Eles são altamente
compressíveis e de pequena densidade, em comparação aos líquidos.

1.3.2 Massa específica, densidade e peso específico

A massa de um fluido em uma unidade de volume é denominada densidade absoluta,


também conhecida como massa específica (kg/m3) (density).

O peso específico de um fluido é o peso da unidade de volume desse fluido (N/m3) (unit
weight).

1.3.3 Compressibilidade

Quando falamos de compressibilidade, estamos nos referindo a propriedade que os


corpos têm de reduzir seus volumes sob a ação de pressões externas.

Considerando-se a lei de conservação da massa, um aumento de pressão corresponde


a um aumento de massa específica, ou seja, uma diminuição de volume. Assim temos a
equação 1.1:

dV = -α x V x dp

Onde:

α é o coeficiente de compressibilidade;

V é o volume inicial;

dp é a variação de pressão.

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1.3.4 Elasticidade

Em 1850, Berthelot descobriu uma propriedade que os líquidos têm de aumentar seu
volume quando se lhes diminui a pressão.

Mais tarde provou-se que o aumento de volume devido a uma certa depressão tem o
mesmo valor absoluto que a diminuição do volume para uma compressão de igual valor
absoluto.

Os gases dissolvidos afetam essa propriedade quando se trata de grandes pressões.

1.3.5 Viscosidade/Atrito interno

Este é um dos termos mais conhecidos na hidráulica, pois o atrito interno ou viscosidade
é a propriedade dos fluidos responsável pela sua resistência à deformação.

Define-se a viscosidade como a capacidade do fluido em converter energia cinética em


calor, ou a capacidade do fluido em resistir ao cisalhamento (esforços cortantes).

Conforme a Figura 1.1 mostra, temos:

Fonte: NETTO et al, 2018.

Figura 1.1 - Representação para estudo da viscosidade

Ao se considerarem os esforços internos que se opõem à velocidade de deformação,


pode-se partir do caso mais simples, representado pela Figura 1.1.

No interior de um líquido, as partículas contidas em duas lâminas paralelas de área (A)


se movem à distância (Δn), com velocidades diferentes (v) e (v + Δv).

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A segunda lâmina tenderá a acelerar a primeira e a primeira a retardar a segunda. A
força tangencial (F) decorrente dessa diferença de velocidade será proporcional ao
gradiente de velocidade (igual à velocidade de deformação angular). Conforme
mostramos na equação 1.2, também conhecida por Equação da Viscosidade de Newton.

“μ” = Coeficiente de Viscosidade dinâmica ou viscosidade, isto é, coeficiente


característico do fluido, em determinada temperatura e pressão.

Exemplo: Para a água a 20 oC e 1 atm, tem-se “μ” = 10–3 N × s/m2 = 1 centipoise.

Outro dado muito importante, por meio da divisão do valor da viscosidade “μ” pela
massa específica do fluido “ρ”, encontramos a “viscosidade cinemática” “Vcn”,
conforme a equação 1.3 abaixo:

Vcn = μ / ρ .........................................Equação 3

1.3.6 Atrito Externo

Chamamos de atrito externo à resistência ao deslizamento de fluidos ao longo de


superfícies sólidas.

Em função dos atritos e, em exponencial da viscosidade, o escoamento de um líquido


em uma canalização só ocorre com certa perda de energia, também chamada de “perda
de carga”, conforme identificamos na Figura 1.2.

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Fonte: NETTO et al, 2018.

Figura 1.2 - (a) Sem escoamento, princípio dos vasos comunicantes; (b) com
escoamento, perda de carga.

1.3.7 Coesão, adesão e tensão superficial

A primeira propriedade (coesão) permite às partículas fluidas resistirem a pequenos


esforços de tensão (tração). A formação de uma gota d’água deve-se à coesão.

Quando um líquido está em contato com um sólido, a atração exercida pelas moléculas
do sólido pode ser maior que a atração existente entre as moléculas do próprio líquido.

Ocorre, então, a adesão, conforme mostra a Figura 1.3.

A tensão superficial (τ) tem dimensional [MT–2] no (SI), exprime-se em N/m e varia com
a temperatura.

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Fonte: NETTO et al, 2018.

Figura 1.3 - Adesão de uma gota de água a materiais.

Onde:

α é o ângulo de contato (adesão).

1.3.8 Solubilidade dos gases

Os líquidos dissolvem os gases. Em particular, a água dissolve o ar, em proporções


diferentes entre o oxigênio e nitrogênio, pois o oxigênio é mais solúvel.

1.3.9 Tensão de vapor

Todo líquido tem temperaturas de saturação de vapor (tv) (quando entra em ebulição),
que correspondem a pressões de saturação de vapor ou simplesmente tensões de vapor
(pv).

1.4 Hidroestática

Relembrando, sua lembrança a Hidrostática trata dos fluidos em repouso ou em


equilíbrio.

Quando se considera a pressão (p), consideramos uma força à unidade de área sobre a
qual ela atua.

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Então, no interior de certa massa líquida, temos uma porção de volume V, limitada pela
superfície A conforme mostra a Figura 1.4 e, se dA representar um elemento de área
nessa superfície e dF a força que nela atua (perpendicularmente), a pressão será, de
acordo com a equação 1.4:

p = dF / dA

Fonte: NETTO et al, 2018

Figura 1.4: Representação do conceito de pressão

O termo empuxo é muito importante na hidroestática.

Considerando-se toda a área, o efeito da pressão produzirá uma força resultante que se
chama empuxo ou pressão total.

Essa força é dada pela equação 1.5:

Se a pressão for a mesma em toda a área, o empuxo será E = p × A.

1.4.1 Teorema de Stevin

Para iniciar o teorema de Stevin, vamos analisar a seguinte situação:

Digamos que exista uma cuba de vidro com certo líquido, cuja densidade absoluta seja
dada por ρ, e que esse líquido esteja em equilíbrio.

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Agora, vamos supor a existência de dois pontos contidos no líquido que está na cuba.
Para melhorar o entendimento, veja a representação esquemática, por meio da Figura
1.5:

Fonte: elaborado pelo autor

Figura 1.5 – Representação do Teorema de Stevin

Estando os pontos A e B situados a uma distância hA e hB, respectivamente, da


superfície do líquido, observe que as pressões devidas à coluna de líquido nesses pontos
são representadas pelas equações 1.6 e 1.7:

Realizando a subtração das equações, temos a equação 1.8:

Portanto, podemos gerar as equações 1.9 e 1.10:

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1.4.2 Princípio de Pascal

Você sabia que o freio do seu carro se baseia no princípio de Pascal? Note que, ao pisar
no pedal do freio, você exerce uma pressão sobre um fluido que está contido no sistema.
Esse fluido, digamos ideal, multiplica a sua força, que atua no sistema de freio das rodas.

Vamos começar pelo princípio de Pascal.

Observe que, em um líquido ideal, a pressão é transmitida igualmente em todas as


direções, devido à fluidez do líquido. Para demonstrar o princípio de Pascal, vamos
verificar o esquema a seguir, por meio da Figura 1.6:

Fonte: Elaborado pelo autor

Figura 1.6 – Representação do Princípio de Pascal

Considere os pontos A e B no interior do líquido incompressível em equilíbrio, de


densidade absoluta ρ, em um local de aceleração da gravidade dada por g. A diferença
de pressão entre os pontos A e B é dada pela equação 1.11:

Aumentando a pressão nos pontos A e B por um processo qualquer, eles sofrem um


acréscimo de pressão A Δpa e B Δpb, tal que as pressões passam a ser as equações 1.12
e 1.13:

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Uma vez que o líquido é incompressível, a distância entre os pontos A e B continua a
mesma.

Logo, geramos as equações 1.14 e 1.15:

Igualando as equações 1.11 e 1.15, temos a equação 1.16:

1.5 Hidrodinâmica

É importante lembrar que a Hidrodinâmica faz referência às velocidades, às acelerações


e às forças que atuam em fluidos e em movimento.

Falar de líquidos em movimento nos leva a distinguir dois tipos de movimento (Figura
1.7):

a) regime laminar (tranquilo ou lamelar);

b) regime turbulento (agitado ou hidráulico).

Com o regime laminar, as trajetórias das partículas em movimento são bem definidas e
não se cruzam.

O regime turbulento caracteriza-se pelo movimento desordenado das partículas.

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Fonte: NETTO, 2018.

Figura 1.7 – Regime de escoamento

Na Hidrodinâmica, temos que mencionar a Equação de Bernoulli.

Para se concentrar nos princípios de Stevin e Pascal, necessita-se, primeiramente, focar


na Equação de Bernoulli.

A equação de Bernoulli consegue, de uma maneira prática, lincar os fenômenos naturais


a situações simples para o fluido como, regime permanente, sem perdas por atrito no
escoamento do fluido ou fluido ideal, propriedades uniformes nas seções, fluido
incompressível e sem trocas de calor.

Vamos analisar o esquema a seguir de uma tubulação de água, que será elevada do
ponto P0 C0, a uma altura h0, até o ponto P1 C1, a uma altura h1. Nesse caso, não há
perda de carga, conforme a Figura 1.8:

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Fonte: BRUNETTI, 2008

Figura 1.8: tubulação de água

A equação de Bernoulli (equação 1.17) é dada por:

Para uma tubulação real com perda de carga, a equação de Bernoulli é dada
acrescentando o fator que há relativo à perda de carga pelo fluido conforme a Figura
1.9:

Fonte: BRUNETTI, 2008.

Figura 1.9 – Escoamento com perda de carga

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Neste caso, a equação de Bernoulli (Equação 1.18) fica:

Em que (equação 1.19):

Ha = J x L

Sendo que:

J = perda de carga em m/m;

L = comprimento da tubulação em m.

O método preciso de cálculo da perda de carga unitária é dado pela equação de Darcy-
-Weisbach, conforme a equação 1.20:

Em que as variáveis são:

 J: perda de carga unitária (m/m);


 f: coeficiente de atrito para o escoamento (adimensional);
 C: velocidade de escoamento (m/s);
 g: aceleração gravitacional (m/s2);
 D: diâmetro interno da tubulação (m).

A velocidade de escoamento pode ser obtida pela equação da continuidade, conforme


a equação 1.21:

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Em que:

Q = Vazão, em m3/s.

S = área da seção transversal interna do tubo, em m2.

C = velocidade de escoamento do fluido (m/s).

Hidrometria

A Hidrometria é um subconjunto da Hidráulica, porque lida com “grandezas”


interessantes para análise e observação.

Por meio das medições dos fenômenos de interesse da hidráulica é que experimentos
são analisados, observados e homologados.

A mitigação é interessante a hidráulica quando se trata de grandezas como:

• níveis/profundidades;

• pressões;

• velocidades (de escoamento);

• seções de escoamento (área transversal);

• tempos;

• volumes;

• vazões.

Conclusão

Este bloco mostrou conceitos importantes dentro do “universo” da Hidráulica,


detalhando suas composições e apontando Leis, princípios e teoremas que são as bases
desta parte introdutória. As propriedades dos fluidos foram expostas para melhor
entendimento nos próximos blocos destes elementos textuais.

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REFERÊNCIAS

BRUNETTI, F. Mecânica dos fluídos. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.

JACOB, A. C. P. Um panorama histórico da engenharia hidráulica. Aquafluxus, 2015.


Disponível: <https://bit.ly/3eQzvaL>. Acesso em: 9 jul. 2020.

NETTO, A. et al. Manual de hidráulica. 9. ed. São Paulo: Blucher, 2018.

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2 Máquinas Hidráulicas

Apresentação

Neste bloco, veremos como o contexto de máquina e fluido se fundiram para


estabelecer o centro de estudos de toda Mecânica Hidráulica, partindo dos princípios
de Mecânica e explorando o universo das grandezas de funcionamentos das máquinas
hidráulicas.

2.1 Mêcanica dos Fluidos

Primeiramente, precisamos entender progressivamente os termos que nos levam a


Mecânica Hidráulica.

Que tal começarmos definindo o termo Mecânica?

A Mecânica é a ciência física que trata de corpos, tanto estacionários como em


movimento sob a influência de forças.

Dentro do ramo da mecânica, existe a estática que estuda os corpos em repouso, e a


dinâmica que estuda os corpos em movimento.

Agora, quando falamos de mecânica dos fluidos, estamos nos referindo a uma ciência
que trata do comportamento dos fluidos em repouso (estática dos fluidos) ou em
movimento (dinâmica dos fluidos) e da interação entre fluidos e sólidos ou outros fluidos
nas fronteiras.

Você sabia que a mecânica dos fluidos também é chamada de dinâmica dos fluidos?

Isso acontece porque, consideramos os fluidos em repouso, isto é, com velocidade zero.

A análise do movimento dos fluidos que podem ser aproximados como incompressíveis
(tais como líquidos, especialmente a água, e gases em baixa velocidade) é geralmente
denominado hidrodinâmica.

Uma subcategoria da hidrodinâmica é a hidráulica, que trata do escoamento dos


líquidos em tubulações e canais abertos.
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O estudo sobre o escoamento dos fluidos, mais em particular, os gases, que, por motivo
de sua dinâmica, mudam de densidade, é exemplificado pelo escoamento de gases em
alta velocidade por meio de bocais.

A categoria aerodinâmica trata do escoamento de gases (especialmente ar) sobre


corpos, tais como aeronaves, foguetes e automóveis, em velocidades altas ou baixas.

A meteorologia, oceanografia e hidrologia analisam escoamentos que ocorrem na


natureza.

2.2 Máquina de luido

2.2.1 Introdução

Nosso contexto muda um pouco quando pensamos em máquina. Podemos definir uma
máquina como um transformador de energia. Além disso, podemos classificá-las como
ferramentas, elétricas e de Fluido.

Tornos mecânicos, plainas, fresadoras, etc. são exemplos de máquinas ferramentas. Já


motores e geradores elétricos são exemplos de máquinas elétricas. E as máquinas de
fluido?

Quando temos um equipamento que promove a troca de energia entre um sistema


mecânico e um fluido, transformando energia mecânica (trabalho) em energia de fluido
ou energia de fluido em energia mecânica, temos uma Máquina de Fluido, também
chamada de fluid machinery.

As máquinas de deslocamento positivo e as máquinas de fluxo (ou turbomáquinas) são


como se subdividem as Máquinas de Fluido.

Qual a diferença básica entre as máquinas de deslocamento positivo e as máquinas de


fluxo?

As máquinas de deslocamento positivo possuem uma estrutura em que fluido fica


confinado em alguma região do equipamento.

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Já nas máquinas de fluxo, a estrutura anterior não ocorre, havendo fluxo contínuo
através da máquina.

2.2.2 Máquinas de Fluido – como se classificam.

As máquinas de fluido se dividem da seguinte maneira:

a) De acordo com o sentido da transmissão de energia, elas podem ser:


 Máquina Geradora (geratriz): ocorre, na máquina, uma transformação de
energia mecânica em energia de fluido (ex. bombas e ventiladores).
 Máquina Motora (operatriz): ocorre na máquina uma transformação de energia
de fluido em energia mecânica (ex. turbina, gerador eólico, moinho de vento e
rodas d’água).

b) De acordo com o envolvimento do tipo de energia no processo:

 Máquinas de deslocamento positivo (positive displacement machines). Ocorre,


nestas máquinas, um confinamento de um volume fixo de fluido operacional
durante seu escoamento no interior da máquina, sendo submetido a trocas de
pressão em razão da variação no volume do recipiente em que se encontra
contido.

O estado de energia do fluido muda. Quando ocorrer a possibilidade da máquina


parar de operar, o fluido operacional ficará no seu interior indefinidamente.
Chamamos esta situação de máquina estática.

Nestas máquinas, a energia transferida é substancialmente de pressão, sendo


muito pequena a energia cinética transferida, podendo ser desprezada.

Podemos rotular como sendo máquinas rotativas (rotary machines) uma bomba
de engrenagens, e máquinas alternativas (reciprocating machines) como o
compressor de pistão.

 Máquinas de Fluxo ou Turbomáquinas (turbomachiner) - a definição será vista


no item 2.3 deste bloco.

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c) De acordo com à direção do escoamento do fluido (Figura 2.1):

 Axiais: acontece um escoamento na direção do eixo.


Operacionalmente falando:

- No rotor, ocorre uma entrada e saída de fluido na direção axial;

- Ocorre a geração de um recalque de grandes vazões em pequenas alturas;

- Ocorre uma força de sustentação.

 Radiais: acontece um escoamento na direção radial.


Operacionalmente falando:

- Ocorre a entrada de fluido no interior do rotor, na direção axial e sai na direção


radial;

- Ocorre a geração de um recalque de pequenas vazões a grandes alturas;

- Ocorre uma força centrífuga.

 Mista ou diagonal: acontece um escoamento na direção diagonal, parte axial e


parte radial.
 Tangencial: acontece um escoamento tangente ao rotor.

Fonte: HENN, 2006

Figura 2.1 - Tipos quanto à direção do escoamento

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d) De acordo com a forma dos canais entre as pás do rotor.

 Máquinas de Ação (ou de impulsão): Ocorre na máquina uma transformação de


toda energia do fluido em energia cinética, em um momento anterior antes da
transformação em trabalho mecânico processado pela máquina.

Ao atravessar o rotor, o fluido permanece com a pressão constante.

Se subdividem em:

- Turbomáquinas (motoras) de ação: turbinas Pelton (tangencial) e Michell (duplo


efeito radial)

- Turbomáquinas (geradoras) de ação: sem aplicação prática.

 Máquinas de Reação: ocorre na máquina uma transformação, tanto na energia


cinética quanto na de pressão em trabalho mecânico e vice‐versa.

Acontece uma transformação parcial da energia do fluido em energia cinética em


um momento anterior ao da entrada do rotor, durante sua passagem por perfis
ajustáveis (distribuidor), e o restante da transformação ocorre no próprio rotor.
Durante a travessia no rotor, a pressão do fluido varia.

Este tipo de máquina se subdivide em:

- Turbomáquinas (motoras) de reação: turbinas Francis (radial ou diagonal),


Kaplan e Hélice (axiais).

- Turbomáquinas (geradoras) de reação: bombas e ventiladores (radiais,


diagonais e axiais).

e) De acordo com o número de entradas para aspiração (sucção)

 Sucção Simples (entrada unilateral): apresenta uma única boca de sucção para
entrada do fluido.

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 Dupla Sucção: apresenta duas bocas de sucção paralelamente ao eixo de rotação
por onde entra o fluido.
São dois rotores simples montados em paralelo, tendo como vantagem o possível
equilíbrio dos empuxos axiais, que ocasiona uma melhoria no rendimento da
bomba, restringindo a necessidade de rolamento de grandes dimensões para
suporte axial sobre o eixo.

f) De acordo com o número de rotores

 Simples estágio: apresenta um único rotor dentro da carcaça da bomba.

Projeta-se uma bomba de simples estágio em variadas situações de altura


manométrica e de vazão.

 Múltiplo estágio: apresenta dois ou mais rotores associados em série dentro da


carcaça da bomba.

Possibilita a elevação do líquido à grandes alturas manométricas (>100 [mca]).

g) De acordo com o posicionamento do eixo

 Eixo horizontal: é comum no formato construtivo.


 Eixo vertical: utilizada para extração de água de poços.

h) De acordo com tipo de rotor (Figura 2.2)

 Aberto: utilizado para bombas de pequenas dimensões, baixa resistência


estrutural e baixo rendimento. O rotor aberto dificulta o entupimento, sendo
utilizado para bombear líquidos sujos.
 Semi‐aberto: possui um único disco, na qual as aletas são fixadas.
 Fechado: utilizado para bombear líquidos limpos.

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Fonte: HENN, 2006

Figura 2.2 - Tipos de rotores.

Possui palhetas fixas em seus dois discos e evita o retorno da água à boca de
sucção, isto é, a recirculação de água.

i) De acordo com a do eixo da bomba em relação ao nível da água

 Não afogada (sucção positiva): o posicionamento do eixo da bomba se encontra


acima do nível d’água do reservatório de sucção.
 Afogada (sucção negativa): o posicionamento do eixo da bomba se encontra
abaixo do nível d’água do reservatório de sucção.

A Figura 2.3 mostra a classificação das Máquinas de Fluido de uma maneira mais
ampla e visual.

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Fonte: adaptado de BRASIL, 2010.

Figura 2.3 - Classificação das máquinas de fluido

2.3 Máquinas de fluxo

Máquinas de Fluxo ou Turbomáquinas (turbomachinery) ou máquinas dinâmicas.

Quando você não encontra, em instante algum, a existência de um fluido no interior da


carcaça de uma máquina, mas o que ocorre é um fluxo contínuo, se caracteriza então
uma máquina de fluxo.

Por meios de lâminas ou aletas solidárias a um elemento rotativo (rotor), ocorre a


orientação do escoamento do fluido.

Por meio da variação da velocidade do fluido entre as pás, desde a entrada até a saída
do rotor, a baixa pressão ou baixos diferenciais de pressão, ocorre a uma transmissão
de energia cinética.

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As turbinas hidráulicas e ventiladores centrífugos são excelentes exemplos deste tipo de
máquinas.

2.4 Máquinas Hidráulicas

2.4.1 Sistemas hidráulicos

Existem um leque infinito de circuitos hidráulicos quando falamos de aplicabilidade,


podendo ser divididos nas seguintes partes:

a. Sistema de geração: podemos mencionar, como alguns exemplos de geração, os


motores, acumuladores, bombas de reservatórios etc.
b. Sistema de distribuição e controle: podemos citar como exemplos as válvulas de
diversas funções como as de pressão, de vazão etc.
c. Sistemas de aplicação de energia: podemos citar como exemplos os motores
hidráulicos, atuadores etc.

Em termos mais funcionais, podemos também mostrar os sistemas hidráulicos como:

 Sistemas óleo-hidráulicos - Quando a potência ou os movimentos são


transmitidos usando o óleo como transmissor.
 Sistemas óleo-hidráulicos estáticos - Trata-se de um tipo de óleo hidráulico na
qual se utiliza uma energia potencial no fluido sob baixa velocidade e alta
pressão.
 Sistemas óleo-hidráulicos cinemáticos - Nesta situação utiliza-se uma energia
cinética, isto é, a velocidade do fluido pode variar entre 50 a 180 km/h.

2.4.2 Máquinas Hidráulicas

Máquinas hidráulicas são aquelas que funcionam com a ajuda de fluidos.

A força aplicada em um ponto é levada até outro e multiplicada neste processo, o que
torna estes equipamentos muito simples de operar, mas bastante potentes e capazes
de gerar bastante energia.

30
Tudo isso graças ao princípio de Pascal, que afirma que “o acréscimo de pressão em um
ponto de líquido em equilíbrio transmite-se integralmente a todos os pontos deste
líquido”.

As máquinas hidráulicas podem ter a seguinte classificação:

 Máquinas operatrizes - transforma-se uma energia mecânica em energia


hidráulica por meio da pressão e velocidade, isto é, uma energia externa é
exercida sobre o fluido em escoamento.
Exemplo: Um motor elétrico acionando uma bomba hidráulica.

 Máquinas motrizes: transformam-se uma energia hidráulica em outra forma de


energia, isto é, transforma-se a energia do fluido e é transferida pra o exterior.
Exemplo: motores hidráulicos, rodas d’água e turbinas.

 Máquinas mistas: o estado de energia do fluido é modificado pela máquina.

Exemplo: Ejetor.

2.4.3 Funcionalidades e vantagens das Máquinas hidráulicas

A utilização das máquinas hidráulicas está localizada em vários cenários como em


diversos tipos de indústrias e locais públicos, como shoppings, parques de diversão,
teatros etc.

Como as principais vantagens das máquinas hidráulicas, podemos salientar:

 Fácil instalação e grande flexibilidade frente aos sistemas mecânicos;

 Devido à baixa inércia, permitem uma rápida e suave inversão de movimentos,


não o correndo o mesmo nos sistemas mecânicos e elétricos;

 Possibilidade de variações micrométricas na velocidade;

 São sistemas autolubrificados;

 Possuem pequeno peso e tamanho com relação a potência consumida;

31
 São sistemas de fácil proteção;

 O óleo é um excelente condutor de calor.

2.4.4 Tipos de máquinas

Máquinas hidráulicas podem exercer diversos tipos de funções. Por isso, a variedade
destas ferramentas é bastante alta. Vejamos, a seguir, algumas máquinas hidráulicas e
suas funções. São elas a prensa hidráulica, guincho hidráulico, macaco hidráulico etc.

2.5 Grandeza de Funcionamento

2.5.1 O que vem a ser estas grandezas?

É de fundamental importância para o dimensionamento e estudo do comportamento


das máquinas hidráulicas o conhecimento das grandezas que influenciam no seu
funcionamento. Estas máquinas têm seu funcionamento definido por meio de três
grandezas básicas distintas, consideradas como características fundamentais das
máquinas hidráulicas:

a. Vazão (Q) - [m3/s] - Indica o fluxo de material líquido ou gasoso por meio da
máquina.

b. Variação de energia específica - Indica a variação de energia específica do fluido


por meio da máquina.

 H - Altura de queda (turbinas) - [mCA]

 H - Altura de elevação (bombas) - [mCA]

 Δh - Diferença de pressão (ventiladores) - [N/m2]

c. Rotação da máquina(n) - [RPM] - indica a característica cinemática da máquina.

d. Potência e Rendimento.

32
a) Vazão.

Podemos definir a vazão como sendo o volume de fluido que passa por meio de uma
seção qualquer na unidade de tempo, e vazão em massa como sendo a quantidade de
massa (kg) que passa na seção da unidade de tempo.

Esta é determinada com base no princípio da conservação da massa (equação 2.1)

Esta equação é simplificada se considerarmos uma velocidade média V uniforme e


perpendicular à seção de área A, e escoamento incompressível (massa específica
constante), gerando equação 2.2:

Calculamos com esta equação a velocidade normal à seção de escoamento quando


conhecemos a vazão (em volume) e a área, ou a vazão em função da velocidade média
e da área perpendicular a esta velocidade.

b) Variação de energia específica

Os detalhamentos da altura da queda, altura de elevação e pressão serão abordados


mais detalhadamente nos blocos cinco e seis. Neste momento, nós abordaremos as
demais grandezas de funcionamento das máquinas hidráulicas, isto é, a rotação e a
potência/rendimento.

c) Rotação

Para máquinas motoras (turbinas), estas são correntemente acopladas a alternadores


(geradores de CA) que devem trabalhar com rotações síncronas constantes. Essa rotação
síncrona depende do número de pares de polos do gerador e da frequência da rede
elétrica que está ligada a máquina.

33
Onde:

F = frequência da rede (Brasil - 60 Hz);

P = pares de pólos;

N = rotação síncrona.

Para pequenas máquinas motoras (turbinas instaladas em pequenas centrais


hidrelétricas), trabalha-se normalmente com 1800 ou 1200 [RPM], utilizando
alternadores de 2 ou 3 pares de polos, que são mais baratos.

Neste caso, para adequar a rotação da turbina ao gerador, utiliza-se sistemas de


transmissão com correia ou, com maior eficiência, por meio de engrenagens.

Para máquinas geradoras (bombas e ventiladores), a rotação é fornecida pelo motor de


acionamento, o qual se for elétrico de CA, opera com rotações praticamente constantes.

A rotação síncrona do motor dependerá do número de pares de polos (normalmente


3600 ou 1800 [RPM]), dada pela mesma equação anterior mostrada para geradores.

Com o objetivo de se ter uma rotação na máquina diferente da rotação do motor, utiliza-
se transmissão por correias (comuns em ventiladores), por engrenagens ou outro tipo
de redutor ou amplificador de rotação.

d) Potências e rendimento

A potência é efetivamente a grandeza mais importante em termos de custos envolvidos


em uma instalação.

Esta grandeza define a quantidade de energia por unidade de tempo gerada por
máquinas motoras (turbinas) ou consumida por máquinas geradoras (bombas e
ventiladores).

34
Conclusão

Neste bloco, estudamos conceitos importantes dentro do “universo” da mecânica dos


fluidos, detalhando suas composições, e estendendo-se pela mecânica dos fluidos, dos
fluxos e das máquinas, terminando com as grandezas de funcionamento mais
importantes das máquinas hidráulicas.

REFERÊNCIAS

BRASIL, A. N. Máquinas termo hidráulicas de fluxo. Itaúna: Universidade de Itaúna,


2010.

HENN, E.A. L. Máquinas de fluido. 2ª ed, Porto Alegre: UFSM, 2006.

35
3 INDICADORES OPERACIONAIS

Apresentação

Neste bloco, veremos o contexto dos indicadores operacionais das máquinas


hidráulicas, mostrando de uma maneira genérica, pois mais tarde entraremos em
detalhes com turbinas e bombas. Estes indicadores mostram performance, perdas, e
informações importantes para outras áreas de atuação na empresa como projetos e
manutenção.

3.1 Perdas

De um modo geral, todos têm noção de uma perda. Para entender as perdas nas
máquinas hidráulicas, precisamos considerar alguns conceitos importantes:

Quando falamos de turbinas hidráulicas, temos que Energia hidráulica é equivalente a


Trabalho + Perdas.

Quando falamos de bombas e ventiladores, temos que Trabalho é proporcional a


Energia hidráulica + Perdas.

Estas considerações serão melhor apuradas nos blocos respectivos que tratarão de
perdas nas bombas e nas turbinas.

Máquinas hidráulicas possuem perdas divididas nos seguintes modelos:

 Perdas hidráulicas;
 Perdas volumétricas;
 Perdas mecânicas.

a) Perdas hidráulicas
 Atrito viscoso: durante o escoamento no rotor, no distribuidor, na caixa espiral
e no tubo de sucção, o fluido apresenta um atrito viscoso.
Representadas por ℎℎ , proporcionam uma perda de pressão no escoamento.

36
Focando nas turbinas, a altura de queda Hpá, absorvida pela máquina e, em
parte, transformada em energia mecânica, é:

Hpá = H - 𝒉𝒉 ,

Focando nas bombas, a altura de elevação Hpá, fornecida pela máquina e em


parte transformada em potência hidráulica, é:

H = Hpá - 𝒉𝒉 ,

 Atrito lateral: devido ao atrito viscoso entre o rotor e a parcela de fluido que
escoa entre o rotor e a carcaça, ocorre uma perda de potência.
É simbolizado por Pa.

b) Perdas por refluxo


Ocorrem devido a variação de seção dos canais entre as pás, principalmente em
bombas em função ao escoamento desacelerado nos canais.

É representada por Pd.

c) Perdas volumétricas
Ocorrem por fuga, principalmente nos labirintos, perdas de fluido na gaxeta e,
em algumas construções, perdas de fluido para compensação do empuxo axial.

Considera-se que a vazão total de fuga é representada por Qf.

Quando temos, por exemplo, turbinas modelo Francis (Figura 3.1),


consideramos:

 q1 = perda por fuga no labirinto interno (normalmente parcela desta vazão de


fuga passa pela selagem do eixo e parte passa pelos furos de compensação de
empuxo axial, dependerá da construção).

 q2 = perda por fuga no labirinto externo.

37
Fonte: BRASIL, 2010

Figura 3.1 – Perdas volumétricas- Turbinas

Com isto, teremos que a vazão que flui por meio do rotor é:

Qr = Q – Qf, no caso de turbinas.

Qr = Q + Qf, no caso de bombas.

Conforme a Figura 3.2:

Fonte: HENN, 2006.

Figura 3.2 – Vazões nas bombas e turbinas

38
d) Perdas mecânicas

As perdas mecânicas são consideradas perdas internas em seu conjunto


(hidráulicas e volumétricas). Elas podem acontecer em função ao atrito nos
mancais e vedações.

3.2 Potência

Quando se fala em potência, a primeira ideia que vem à mente é questão de força e,
realmente, quando se fala de custos envolvidos em uma instalação, a potência é
efetivamente a grandeza mais importante.

Ela define a quantidade de energia por unidade de tempo gerada por máquinas motoras
(turbinas) ou consumida por máquinas geradoras (bombas e ventiladores).

Quando temos máquinas hidráulicas tomando, por exemplo, as bombas e as turbinas,


podemos classifica-las em:

a) Potência hidráulica

Em função da aplicação da lei da conservação da energia, podemos definir a potência


hidráulica quando multiplicamos o peso de fluido que passa por meio da máquina, por
unidade de tempo, pela altura de queda ou elevação.

Podemos concluir que a potência hidráulica é traduzida como sendo a potência (energia
hidráulica por unidade de tempo) entregue a turbina, ou a energia hidráulica por
unidade de tempo entregue ao fluxo pela bomba hidráulica.

b) Potência de eixo

Quando temos uma potência entregue pela turbina ao gerador ou a potência consumida
pela bomba ou ventilador entregue pelo motor, estamos falando de uma potência de
eixo.

A potência de eixo relaciona-se com a potência hidráulica por meio do rendimento total
da instalação (menor que 1).

39
3.3 Rendimento

Sabemos que as máquinas, de uma maneira geral, são transformadores de energia.

Um bom exemplo é uma locomotiva a vapor, que transforma o calor obtido na queima
do carvão (ou lenha) em energia cinética da locomotiva. Outro exemplo seria um
ventilador que transforma energia elétrica em energia cinética.

Vamos imaginar um ventilador elétrico, como citado acima. Sabemos que ele recebe
energia elétrica (Et), que percorre o fio ligado à tomada na parede. Sendo assim, o
ventilador nada mais é do que um transformador da energia elétrica recebida em
energia cinética das pás (Eu).

O ideal seria que toda energia recebida fosse transformada em energia cinética, porém
sabemos que isto não acontece, pois, pelo tato no corpo do ventilador, veremos seu
aquecimento. Isso significa que parte da energia que ele recebe é transformada em
calor.

A energia total (Et) é a energia recebida pelo ventilador e a energia útil (Eu) é a energia
elétrica transformada na energia cinética das pás.

A potência elétrica recebida é a potência total (Pt) e a potência utilizada é a potência


útil (Pu).

Consideremos uma máquina qualquer que recebe uma potência total (Pt). Parte dessa
potência é usada para a tarefa à qual a máquina foi destinada (Pu) e a outra parte é
perdida, chamada de potência dissipada (Pd).

Com isto, temos:

Pt= Pu+ Pd

O rendimento (η) dessa máquina é representado por:

40
3.4 Curvas características

3.4.1 Introdução

Temos, nas curvas características, um indicador muito importante, pois a parte gráfica
será montada e indicará uma performance.

A Curva do Sistema poderá definir a vazão e a pressão necessária de qualquer sistema.


Ela é adequada pelos fabricantes de bombas e dada pelo usuário que seleciona aquela
que melhor atende às suas necessidades.

Um sistema de bombeamento opera no ponto de interseção da curva da bomba, com


a curva de resistência do sistema.

Quando temos uma interseção das duas curvas, se concretiza o ponto operacional de
ambos, bomba e processo, conforme Figura 3.3.

Porém, muitas das vezes, é impossível que um ponto operacional atenda todas as
condições operacionais desejadas.

Fonte: OMEL, S.D.

Figura 3.3 – Comparação de curva sistema e máquina hidráulica

41
3.4.2 Curva do sistema

A curva do sistema foi citada durante a introdução, mas o que vem a ser ela?

Trata-se da variação no fluxo relacionada à carga do sistema e representa a curva de


resistência do sistema ou curva de carga do sistema.

Esta curva do sistema traduz uma relação entre a vazão e as perdas hidráulicas em um
sistema, de uma forma gráfica e, como as perdas por fricção variam com o quadrado da
taxa de fluxo, a curva do sistema tem a forma parabólica.

As perdas por fricção no tubo, válvulas, cotovelos e outros acessórios; as perdas de


entrada e saída; e as perdas por mudanças na dimensão do tubo compõem as perdas
hidráulicas em sistema de tubulação em consequência de amplificação ou redução do
diâmetro.

3.5 Triangulo de velocidade

Este indicador se faz necessário dentro da realidade de um rotor. Vamos considerar


premissas (hipóteses) para análise do triângulo de velocidades, na qual o rotor é
composto por um número infinito de pás infinitamente finas.

Neste caso, consideram-se as linhas de corrente congruentes com as pás e o


escoamento como sendo unidimensional. Quando temos todos os pontos localizados no
mesmo diâmetro, valida o triângulo de velocidades.

Dentre as seções de entrada e saída, o escoamento deverá produzir o mínimo de perdas


com a adoção de perfis ou formatos de pás mais adequados.

Quando temos um regime permanente (vazão mássica constante); os triângulos de


velocidades na entrada e saída do rotor são representativos do escoamento; e as
velocidades na entrada e saída são uniformes nas seções.

O entendimento dos conceitos de velocidade absoluta e velocidade relativa do fluido


servem para construção do triângulo de velocidades.

42
3.5.1 Movimento relativo

Quando um observador, movendo-se com o rotor, percebe o movimento da partícula,


estamos falando de um movimento relativo.

Nesta situação, a trajetória (relativa) da partícula observa o perfil da pá, como se o rotor
estivesse parado (em repouso) e o fluido escoando por meio dos canais formados pelas
pás.

A velocidade tangente a esta trajetória é conhecida por velocidade relativa e será


representada por “w” (Figura 3.4).

Fonte: CHAPALLAZ et al., 1992

Figura 3.4 - Movimentos relativo e absoluto

3.5.2 Movimento absoluto

Quando um observador posicionado fora do rotor percebe o movimento da partícula,


temos um movimento absoluto.

A trajetória da partícula resulta da quando ocorre uma composição de dois movimentos,


um dentro dos canais do rotor e outro de rotação do rotor, originados pela trajetória da
partícula.

43
A velocidade tangente a esta trajetória é denominada velocidade absoluta e será
representado por “c” (Figura 3.5).

3.5.3 Formação dos Triângulos de velocidade

A formação do triângulo de velocidades se dá em função das três velocidades vistas


anteriormente e podem ser representadas na forma vetorial por:

A representação gráfica do triângulo de velocidades e seus componentes são


demonstradas pela Figura 4.5.

Fonte: CHAPALLAZ et al., 1992

Figura 3.5 - Exemplo de triângulo de velocidades

c: velocidade absoluta [m/s] do escoamento no ponto em estudo;

u: velocidade tangencial [m/s] do escoamento no ponto em estudo;

w: velocidade relativa [m/s] do escoamento no ponto em estudo;

Cm: componente meridiana da velocidade absoluta (projeção da velocidade absoluta C


sobre o plano meridiano);

Cu: componente tangencial da velocidade absoluta (projeção da velocidade absoluta


sobre a direção tangencial);
44
α: ângulo formado pela velocidade absoluta e a velocidade tangencial, também
chamado ângulo do escoamento absoluto;

β: ângulo formado pela velocidade relativa e a tangencial, também chamado ângulo do


escoamento relativo ou ângulo construtivo da pá. Maiores detalhamentos sobre o
Triângulo de velocidade veremos no Bloco 5, quando falaremos sobre as bombas
hidráulicas.

Cavitação

Um indicador muito importante visto a indicação de possíveis anomalias na operação.

Uma análise na operação de turbinas mostrou que baixas pressões são criadas na saída
do rotor, o que também ocorre na seção de entrada das bombas hidráulicas.

O mecanismo da cavitação ocorre quando a pressão absoluta média no escoamento for


igual ou um pouco maior que a pressão de vapor de água na temperatura do
escoamento.

Após esta equalização envolvendo as pressões, irão aparecer bolhas de vapor de água
no escoamento turbulento, devido a pressão absoluta em diversos pontos poderá ser
igual ou menor que a pressão de vapor da água.

Nos pontos do escoamento em que a pressão absoluta aumenta novamente, as bolhas


implodirão violentamente e as partículas fluidas atingem as paredes fixas e/ou as pás,
causando solicitações mecânicas elevadas no material e consequente erosão por
cavitação.

A figura 3.6 ilustra os níveis de desenvolvimento do fenômeno de cavitação em perfis


de pás, em condições de baixa pressão com escoamento com altos ângulos de incidência
(entrada com choque).

45
Fonte: CHAPALLAZ et al., 1992)

Figura 3.6 - Cavitação em perfis de pás em vários níveis de desenvolvimento

a) Cavitação inicial - Formação e implosão de núcleos: os núcleos aparecem


isolados.

b) Cavitação zonal – ocorre o aparecimento e implosão dos núcleos junto com


vórtices pulsantes do fluxo.

c) Cavitação separada – ocorre a existência de uma cavidade separada do líquido.

d) Supercavitação - O espaço da cavidade é desenvolvido de um modo que fecha


os contornos de saída da pá.

Tem-se as seguintes consequências sobre a máquina hidráulica com o fenômeno da


cavitação, tanto para bombas quanto para turbinas:

 Queda do rendimento e da potência útil;


 Ruídos e vibrações excessivas;
 Erosão rápida e custos excessivos de manutenção;
 Fatiga do material das pás em outros pontos.

46
Conclusão

Este bloco mostrou os indicadores operacionais que mostram como as máquinas


hidráulicas podem ser monitoradas em seus resultados, apontando não somente para
resultados, tais como os rendimentos, mas também para as especificações como as
potências, e também as possíveis anomalias tais como a cavitação ou as perdas.

REFERÊNCIAS

BRASIL, A. N. Máquinas termo hidráulicas de fluxo. Itaúna: Universidade de Itaúna,


2010.

CHAPALLAZ, J.; EICHENBERGER, P.; FISCHER, G. Manual de motores de indução para


geradores. Braunschweig: Vieweg, 1992.

HENN, E. A. L. Máquinas de fluido. 2ª ed. Porto Alegre: UFSM, 2006.

OMEL. Curva de desempenho. Disponível em: <https://bit.ly/3hv6zH3>. Acesso em: 13


jul. 2020.

47
4 COMPONENTES MECÂNICOS HIDRÁULICOS

Apresentação

Neste bloco, veremos o contexto dos componentes e equipamentos hidráulicos. Neste


universo todos estes elementos possuem uma simbologia que serve para projetar
processos ou etapas. Cada elemento hidráulico será apresentado mostrando suas
aplicabilidades e tipos, com o objetivo de entender aonde deve ser usado no circuito
hidráulico.

4.1 Simbologia Hidráulica

Os símbolos servem para representar alguma coisa. Quando falamos de simbologia


estamos nos referindo ao estudo destes símbolos.

Assim como existe simbologia para muitas coisas, a hidráulica não foi isenta deste
estudo, pois, quando os engenheiros possuem a necessidade de expor seu projeto,
podem fazê-lo por meio de um circuito ou esquema hidráulico, compostos pela
simbologia de tubulação, equipamentos e componentes hidráulicos devidamente
estabelecida pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

Neste caso, a norma ABNT NBR 8896, 8897 e 8898 é quem expõe esta simbologia.

Para você ver a funcionalidade, segue abaixo um exemplo de circuito hidráulico (Figura
4.1), ou esquema hidráulico, aonde mostra a tubulação e componentes de um fluxo
físico de processos.

48
Fonte: LUCIDCHART, S. D.

Figura 4.1 – Circuito ou esquema hidráulico

Segue abaixo a simbologia hidráulica conforme a ABNT BR 8896, 8897 e 8898, divididas
por funcionalidades:

49
a) Linhas e funcionalidades

Fonte: MELCONIAN, 2014

Figura 4.2 – Simbologia de linhas e funções

50
Fonte: MELCONIAN, 2014

Figura 4.3 – Simbologia de bombas

51
Fonte: MELCONIAN, 2014

Figura 4.4 – Simbologia de motores e cilindros

52
Fonte: MELCONIAN, 2014

Figura 4.5 – Simbologia de outros equipamentos

53
Fonte: MELCONIAN, 2014
Figura 4.6 – Simbologia de válvulas

Fonte: MELCONIAN, 2014


Figura 4.7 –Simbologia de acionamentos hidráulicos
54
Nos itens a seguir, daremos exemplos figurativos de simbologia pertinentes aos
equipamentos e ou componentes a serem estudados.

4.2 Cilindros, filtros e Fluidos hidráulicos

Vamos verificar agora alguns componentes do mundo hidráulico.

4.2.1 Cilindros

Os cilindros hidráulicos possuem a propriedade de transformar trabalho hidráulico em


energia mecânica linear. A composição de um cilindro se resume a uma camisa de
cilindro, de um pistão móvel e de uma haste ligada ao pistão. Os cabeçotes são presos
ao cilindro por meio de roscas, prendedores, tirantes ou solda (a maioria dos cilindros
industriais usa tirantes). Seu mecanismo funciona conforme a haste se move para
dentro ou para fora, ela é guiada por embuchamentos removíveis chamados de
guarnições.

O lado para o qual a haste opera é chamado de lado dianteiro ou "cabeça do cilindro".
O lado oposto sem haste é o lado traseiro. Os orifícios de entrada e saída estão
localizados nos lados dianteiro e traseiro.

Você sabe quais os tipos de Cilindros existem?

Temos:

a) Cilindro de simples - Um cilindro no qual a pressão de fluido é aplicada em somente uma


direção para mover o pistão.

b) Cilindro de simples ação e retorno por mola - um cilindro no qual uma mola recua o
conjunto do pistão, conforme a figura 4.8.

Fonte: GOMES, 2008

Figura 4.8 – Cilindro simples

55
Cilindro de simples ação e retorno pela força da carga – neste tipo de cilindro uma
força externa recua o conjunto do pistão, conforme figura 4.9.

Fonte: GOMES, 2008

Figura 4.9 – Cilindro de simples ação e retorno

c) Cilindro de dupla ação - Neste tipo de cilindro a pressão do fluido é aplicada ao


elemento móvel em qualquer uma das direções, conforme figura 4.10.

Fonte: GOMES, 2008

Figura 4.10 – Cilindro de dupla ação

Como é o mecanismo de funcionamento de um cilindro: A figura 4.11 mostra os


componentes do cilindro e suas funcionalidades individuais.

56
Fonte: GOMES, 2008

Figura 4.11 - Componentes do cilindro e suas funcionalidades individual

57
Mecanismo de funcionamento:

a) Conforme o pistão do cilindro se aproxima do fim de seu curso, o batente


bloqueia a saída normal do líquido e obriga o fluido a passar pela válvula controle
de vazão.

b) Nesta altura, algum fluxo escapa pela válvula de alívio de acordo com a sua
regulagem.

c) O fluido restante adiante do pistão é expelido por meio da válvula controle de


vazão e retarda o movimento do pistão.

d) A abertura da válvula controle de vazão determina a taxa de desaceleração.

e) Na direção inversa, o fluxo passa pela linha de bypass da válvula de controle de


vazão onde está a válvula de retenção ligada ao cilindro.

f) Como regra geral, os amortecimentos são colocados em cilindros cuja velocidade


da haste exceda 600 cm/min.

4.2.2 Filtros Hidráulicos

Todos os fluidos hidráulicos contêm certa quantidade de contaminantes.

A necessidade do filtro (Figura 4.12), no entanto, não é reconhecida na maioria das


vezes, pois o acréscimo deste componente particular não aumenta, de forma aparente,
a ação da máquina.

Mas o pessoal experiente de manutenção concorda que a grande maioria dos casos de
mau funcionamento de componentes e sistemas é causada por contaminação.

As partículas de sujeira podem fazer com que máquinas caras e grandes falhem.

Fonte: GOMES, 2008

Figura 4.12 – Exemplos de filtros hidráulicos

58
A função de um filtro é remover impurezas do fluido hidráulico. Isto é feito forçando o
fluxo do fluido a passar por um elemento filtrante que retém a contaminação. Os
elementos filtrantes são divididos em tipos de profundidade e de superfície.

4.2.3 Fluidos hidráulicos

O fluido hidráulico é o elemento vital de um sistema hidráulico industrial. Ele é um meio


de transmissão de energia, um lubrificante, um vedador e um veículo de transferência
de calor. O fluido hidráulico à base de petróleo é o mais comum.

Tipos de Fluidos hidráulicos:

 Fluido à Base de Petróleo

O fluido à base de petróleo é mais do que um óleo comum. Os aditivos são ingredientes
importantes na sua composição. Os aditivos dão ao óleo características que o tornam
apropriado para uso em sistemas hidráulicos.

Fluidos Resistentes ao Fogo

Uma característica inconveniente do fluido proveniente do petróleo é que ele é


inflamável. Não é seguro usá-lo perto de superfícies quentes ou de chama. Por esta
razão, foram desenvolvidos vários tipos de fluidos resistentes ao fogo.

 Fluido de Água-Glicol

O fluido de água-glicol resistente ao fogo é uma solução de glicol (anticongelante) e


água. A mistura é geralmente de 60% de glicol e 40% de água.

 Emulsão de Óleo em Água

A emulsão de óleo em água resulta em um fluido resistente ao fogo que consiste de uma
mistura de óleo em uma quantidade de água. A mistura pode variar em torno de 1% de
óleo e 99% de água à 40% de óleo e 60% de água. A água é sempre o elemento
dominante.

59
 Emulsão de Água em Óleo

A emulsão de água em óleo resulta em um fluido resistente ao fogo que também é


conhecido como emulsão invertida. A mistura é geralmente de 40% de água e 60% de
óleo. O óleo é dominante. Este tipo de fluido tem características de lubrificação
melhores do que as emulsões de óleo em água.

 Sintético

Os fluidos sintéticos, resistentes ao fogo, consistem geralmente de ésteres de fosfato,


hidrocarbonos clorados, ou uma mistura dos dois com frações de petróleo. Este é o tipo
mais caro de fluido resistente ao fogo. Os componentes que operam com fluidos
sintéticos resistentes ao fogo necessitam de guarnições de material especial.

4.3 Reservatórios hidráulicos

4.3.1 Introdução

A função de um reservatório hidráulico é conter ou armazenar o fluido hidráulico de um


sistema.

Os reservatórios hidráulicos consistem de quatro paredes (geralmente de aço); uma


base abaulada; um topo plano com uma placa de apoio, quatro pés; linhas de sucção,
retorno e drenos; plugue do dreno; indicador de nível de óleo; tampa para respiradouro
e enchimento; tampa para limpeza e placa defletora (Chicana), conforme mostra a figura
4.13.

Fonte: GOMES, 2008

Figura 4.13 – Reservatórios hidráulicos

60
4.3.2 – Mecanismo de funcionamento dos reservatórios hidráulicos

À medida que o fluido volta ao reservatório, a placa defletora impede que este fluido
vá diretamente à linha de sucção.

Isto cria uma zona de repouso onde as impurezas maiores sedimentam, o ar sobe à
superfície do fluido e dá condições para que o calor, no fluido, seja dissipado para as
paredes do reservatório.

Todas as linhas de retorno devem estar localizadas abaixo do nível do fluido e no lado
defletor oposto à linha de sucção, conforme mostra a figura 4.14.

Fonte: GOMES, 2008.

Figura 4.14 – Mecanismo de um reservatório hidráulico

4.4 Prensas Hidráulicas

4.4.1 Introdução

Prensas são equipamentos utilizados na conformação e/ou corte de materiais diversos,


tendo como princípio de atuação básica o movimento do martelo (punção) que é
proveniente de um sistema hidráulico/pneumático ou de um sistema puramente
mecânico.

A prensa hidráulica é uma máquina na qual funcionam os Princípios da Lei de Pascal, isto
é, a pressão exercida em um ponto qualquer de um líquido estático é a mesma em todas
as direções e exerce forças iguais em áreas iguais ou analisando por outro foco dado um
fluido contido, quando ocorre um aumento de pressão em qualquer ponto deste fluido,
este incremento de pressão será exercido em todos os pontos os demais pontos de
recipiente que o contém, conforme a Figura 4.15.

61
“Segundo Santos A. (2013), a prensa é uma “máquina-ferramenta” que possui uma
capacidade de fornecimento de força e energia para prover uma conformação plástica
à uma chapa de modo a se obter uma peça com determinadas forma e dimensão”
(B0TTO, C., V., O. et al, 2016).

Fonte: GOMES, 2008

Figura 4.15 - Princípio da Prensa Hidráulica (multiplicação de força)

4.4.2 – Estrutura de uma prensa hidráulica

As prensas hidráulicas são uma das principais máquinas hidráulicas, usadas


principalmente nas indústrias automobilísticas ou pesadas. Na figura 4.16, temos um
exemplo de prensa hidráulica.

62
Fonte: Sorvino, 2017.

Figura 4.16 – Exemplo de prensa moderna

Tabela 4.1 – Principais elementos e funções de uma prensa industrial

Fonte: SORVINO, 2017

63
4.4.3 Classificação das prensas

Depende da natureza do agente motor:

a) Prensas Mecânicas: depende do movimento da corrediça e é obtido por biela e


manivela.

b) Prensas Hidráulicas: O responsável pelo acionamento é uma bomba hidráulica


que o faz por meio de um motor que aciona os cilindros que são responsáveis
pelo movimento de subida e descida.

As prensas hidráulicas se dividem em:

b1) Prensa hidráulica tipo “C”

Fonte: SORVINO, 2017

Figura 4.17 – Prensa Industrial tipo “C”

b2) Prensa Hidráulica tipo 2 colunas

Fonte: SORVINO, 2017

Figura 4.18 – Prensa hidráulica tipo 2 colunas

64
B3) Prensa hidráulica tipo “H”

Fonte: SORVINO,2017

Figura 4.19 – Prensa hidráulica tipo “H”

B4) Prensa Hidráulica tipo 4 colunas

Fonte: SORVINO, 2017

Figura 4.20 – Prensa hidráulica tipo 4 colunas

4.4.4 – Mecanismo das prensas hidráulicas

De maneira resumida, uma prensa hidráulica funciona por meio de três processos
principais:

Processo 1 – Movimenta aceleradamente em direção ao material a ser manufaturado.

Processo 2 – É efetuada a prensagem que faz a manufatura da formação do material.

65
Processo 3 – Ocorre o movimento de retorno para abrir o sistema e permitir a retirada
da peça pronta e a colocação de uma nova peça a ser trabalhada.

A figura 4.21 mostra o funcionamento do cilindro da prensa hidráulica.

Fonte: SORVINO, 2017

Figura 4.21 – Funcionamento do cilindro principal de prensa hidráulica

4.5 Motores Hidráulicos

Assim como os cilindros, os motores hidráulicos transformam a energia hidráulica em


energia mecânica, entretanto, são atuadores rotativos. Os motores hidráulicos, fazem o
inverso das bombas, ou seja, recebem o óleo a pressões superiores, absorvem sua
energia no eixo e o descarrega pressões inferiores. Portanto, algumas bombas podem
funcionar também como motores hidráulicos, são chamados de motor-bomba.

Os motores hidráulicos podem ser classificados como:

• Marcha rápida: São motores de alta velocidade com uma rotação variando de 500 a
1000RPM.

66
• Marcha lenta: São motores de baixa velocidade com uma rotação variando de 0 a
500RPM.

De uma maneira similar aos motores elétricos e motores de combustão interna, os


motores hidráulicos têm suas áreas de atuação. Deve-se lembrar que o uso de um não
exclui o uso do outro. Pelo contrário, a energia transformada por um motor hidráulico
poderá ter sido gerada por um motor elétrico ou de combustão interna que girou o eixo
de uma bomba hidráulica.

Enfim, os motores hidráulicos encontram aplicação em situações que exigem:

• elevado torque e potência com rotações relativamente baixas;

• reversões rápidas no sentido de rotação;

• controle apurado de velocidade;

• em situações em que o motor elétrico não é adequado, pois implicariam em grandes


dimensões ou peso; além do uso de redutores.

Os Motores Hidráulicos possuem rendimento entre 70 e 80%, enquanto os Motores


Elétricos entre 90 e 95%. Um motor elétrico de corrente contínua precisaria de um
reostato para controlar sua velocidade, elevando o custo do projeto; enquanto um de
corrente alternada precisaria de um redutor, cujas velocidades ficariam escalonadas, e
não variariam continuamente. Em um motor hidráulico, basta usar uma válvula
reguladora de vazão.

Assim como nas bombas hidráulicas, nos motores hidráulicos o deslocamento é uma
propriedade importante. Outras propriedades suas são rotação, pressão de operação,
torque e potência.

Acumuladores Hidráulicos

São elementos acumuladores de energia potencial, por meio da compressão do fluido


hidráulico, para restituí-la em momento oportuno e com a rapidez desejada. O fluido
entra no acumulador pressionando uma mola, levantando um peso, ou comprimindo
um gás.

67
Qualquer queda de pressão na abertura, fará com o fluido saia do acumulador pela
reação do elemento deslocado por ele.

A figura 4.22 mostra os três tipos básicos de acumulador. Os acumuladores que utilizam
gás podem ser divididos por terem ou não separação. Quanto aos que têm separação,
podem ser do tipo: pistão, diafragma e tipo bexiga.

Fonte: Ferreira, 2013.

Figura 4.22- Tipos de acumuladores

O Acumulador tipo bexiga é o mais utilizado, pois:

 Garante uma perfeita separação entre a câmara de líquido e a de fluido.

 O elemento separador (bexiga de borracha) não apresenta praticamente inércia


alguma.

 Como não existe nenhum deslizamento recíproco entre elementos mecânicos,


como nos tipos de mola, de peso e de pistão, não é necessário dado particular
quanto ao mecanismo interno.

 Alta eficiência volumétrica, chegando a 75% do volume da garrafa.

A aplicabilidade dos acumuladores se concentra em:

 Compensador de vazamentos;

 Fonte de potência auxiliar;


68
 Compensador de expansão térmica;

 Fonte de potência para emergência;

 Compensador de volume;

 Eliminador de pulsações e absorvedor de choques;

 Fonte de potência em circuito de duas pressões;

 Dispositivo de sustentação.

Conclusão

Este bloco mostrou vários componentes hidráulicos e suas funcionalidades e modelos.


Definições e classificações foram abordadas, considerando os cilindros, as prensas, os
acumuladores, os reservatórios, os motores, todos eles do contexto hidráulico.

REFERÊNCIAS

BOTTO, C. V. O. et al. Projeto de uma prensa hidráulica: dimensionamento e seleção de


componentes. Monografia. Universidade São Francisco, 2016. Disponível em:
<https://bit.ly/3f3PG4M>. Acesso em: 24 jul. 2020.

FERREIRA, D. M. B. Noções de Hidráulica. 2013. Disponível em:


<https://bit.ly/2OS859T>. Acesso em: 18 jul. 2020.

GOMES, M. R.; ANDRADE, M.; FERRAZ, F. Apostila de Hidráulica. Bahia: Centro Federal
e Educação Tecnológica da Bahia, 2008.

LUDIDCHAT. O que é um circuito hidráulico? Disponível em: <https://bit.ly/3jzI5hG>.


Acesso em: 18 jul. 2020

MELCONIAN, S. Sistemas fluidomecânicos: hidráulica e pneumática. Sarkis Melconian.


1. ed. São Paulo: Érica, 2014.

SORVINO, G. F. Metodologia para aplicação de automação em equipamentos industrial


hidráulicos de grande porte para melhoria da eficiência energética e ganhos de
sustentabilidade. 2017

69
5 BOMBAS HIDRÁULICAS

Apresentação

Neste bloco veremos o contexto das bombas hidráulicas, desde a sua importância para
o universo da hidráulica até o detalhamento de classificação e dos tipos por
funcionalidades. Os aspectos técnicos de dimensionamento e controle operacional
serão abordados para total dimensão de sua praticidade no meio industrial e na
Engenharia Mecânica.

5.1 Itrodução e classificação

5.1.1 Introdução

Tem-se como definição de bombas máquinas operatrizes hidráulicas que fornecem


energia ao líquido com a finalidade de transportá-lo de um ponto a outro.

Ocorre um recebimento de energia mecânica e a transformam em energia hidráulica.

Utilizam-se as bombas nos circuitos hidráulicos, para converter energia mecânica em


energia hidráulica. A ação mecânica cria um vácuo parcial na entrada da bomba, o que
permite que a pressão atmosférica force o fluido do tanque, por meio da linha de sucção,
a penetrar na bomba. A bomba passará o fluido para a abertura de descarga, forçando-
o por meio do sistema hidráulico.

Concluímos, portanto, que as bombas adicionam energia ao escoamento.

Na maioria das vezes, um sistema hidráulico industrial, a bomba está localizada sobre a
tampa do reservatório que contém o fluido hidráulico do sistema.

A Figura 5.1 mostra a linha ou duto de sucção que conecta a bomba com o líquido no
reservatório.

O líquido, fluindo do reservatório para a bomba, pode ser considerado um sistema


hidráulico separado. Entretanto, neste sistema, a pressão menor que a atmosférica é
provocada pela resistência do fluxo. A energia para deslocar o líquido é aplicada pela
atmosfera.

70
A atmosfera e o fluido no reservatório operam juntos, como no caso de um acumulador.

Fonte: FERREIRA, 2013

Figura 5.1 - Posicionamento de uma bomba no sistema hidráulico

Como a velocidade influi na descarga, muitas vezes, avaliam-se as bombas pelo


deslocamento que é um conceito muito importante que irá impactar na classificação das
bombas.

Podemos definir deslocamento como a quantidade de fluido que a bomba entrega por
ciclo.

A resistência à vazão geralmente é causada por uma restrição ou obstrução no percurso


do fluido, seja está um cilindro de trabalho, um motor hidráulico, válvula, conexão ou
linha.

Quanto menor for a resistência fornecida, menor será a pressão desenvolvida na saída
da bomba. No entanto, a pressão na linha de recalque da bomba tem efeito negativo
sobre sua vazão.

À medida que a pressão aumenta, observa-se uma redução na descarga.

Esta redução é causada por um aumento da quantidade de vazamento interno, ou seja,


da linha de recalque para a sucção da bomba.

71
5.1.2 Como se classificam as bombas

As bombas podem ser classificadas em duas categorias, são elas:

 Turbo-Bombas, Hidrodinâmicas, Rotodinâmicas ou Deslocamento não Positivo -


são máquinas nas quais a movimentação do líquido é desenvolvida por forças
que se desenvolvem na massa líquida em consequência da rotação de uma peça
interna (ou conjunto dessas peças) dotada de pás ou aletas chamada de roto.

 Volumétricas ou de Deslocamento Positivo - são aquelas em que a


movimentação do líquido é causada diretamente pela movimentação de um
dispositivo mecânico da bomba, que induz o líquido a um movimento na direção
do deslocamento do citado dispositivo, em quantidades intermitentes, de
acordo com a capacidade de armazenamento da bomba, promovendo
enchimentos e esvaziamentos sucessivos, provocando, assim, o deslocamento
do líquido no sentido previsto.

Nos exemplos de bombas rotodinâmicas, destacam–se as bombas centrífugas; as


bombas volumétricas; as de êmbolo ou alternativas; e as rotativas.

Existem diversas classificações para as bombas na operação interna. São elas:

 Classificação quanto à direção do escoamento do líquido no interior da bomba


(Figura 5.2):

 Radial ou centrífuga pura, quando o movimento do líquido é na direção


normal ao eixo da bomba (empregadas para pequenas e médias descargas e
para qualquer altura manométrica, porém caem de rendimento para grandes
vazões e pequenas alturas além de serem de grandes dimensões nestas
condições).

 Diagonal ou de fluxo misto, quando o movimento do líquido é na direção


inclinada em relação ao eixo da bomba (empregadas em grandes vazões e
pequenas e médias alturas, estruturalmente caracterizam-se por serem
bombas de fabricação muito complexa).

72
 Axial ou helicoidais, quando o escoamento se desenvolve de forma paralela
ao eixo (especificadas para grandes vazões - dezenas de m3/s - e médias
alturas - até 40 m).

Fonte: FERREIRA, 2013

Figura 5.2 – Bombas de deslocamento não-positivos

 Classificação quanto à estrutura do rotor (Figura 5.3):

 Aberto (para bombeamentos de águas residuárias ou bruta de má qualidade).

 Semi-aberto ou semi-fechado (para recalques de água bruta sedimentada).

 Fechado (para água tratada ou potável).

73
MELCONIAN, 2014

Figura 5.3 – Tipos de rotores

 Classificação quanto ao número de rotores:

 Estágio único;

 Múltiplos estágios - este recurso reduz as dimensões e melhora o


rendimento, sendo empregadas para médias e grandes alturas manométricas
como, por exemplo, na alimentação de caldeiras e na captação em poços
profundos de águas e de petróleo, podendo trabalhar até com pressões
superiores a 200 kg/cm2, de acordo com a quantidade de estágios da bomba.

5.2 Tipos de bombas

As bombas mais comumente utilizadas são:

a) Bombas de engrenagens;
b) Bomba de Engrenagem Externa;
c) Bomba de Engrenagem Interna;

74
d) Bomba Tipo Gerotor;
e) Bombas de Palheta;
f) Bombas de Palheta de Volume Variável;
g) Bombas de pistão;
h) Bombas de Pistão Axial de Volume Variável;
i) Bombas de Pistões Radiais.

Descrição das bombas:

a) Bombas de engrenagens: a bomba de engrenagem consiste basicamente de uma


carcaça com orifícios de entrada e de saída, e de um mecanismo de bombeamento
composta de duas engrenagens (Figura 5.4).

Fonte: GOMES, 2008

Figura 5.4 – Bomba de engrenagens

b) Bomba de Engrenagem Externa: a bomba de engrenagem que foi descrita acima


é uma bomba de engrenagem externa, isto é, ambas as engrenagens têm dentes
em suas circunferências externas. Estas bombas são às vezes chamadas de
bombas de dentes-sobre-dentes (Figura 5.5).

75
Fonte: GOMES, 2008

Figura 5.5 - Bomba de Engrenagem Externa

c) Bomba de Engrenagem Interna: Uma bomba de engrenagem interna consiste


de uma engrenagem externa cujos dentes se engrenam na circunferência interna
de uma engrenagem maior. O tipo mais comum de bomba de engrenagem
interna nos sistemas industriais é a bomba tipo gerotor.

d) Bomba Tipo Gerotor: é uma bomba de engrenagem interna com uma


engrenagem motora interna e uma engrenagem movida externa (Figura 5.6).

Fonte: GOMES, 2008

Figura 5.6 – Bomba Tipo Gerotor

e) Bombas de Palheta: as bombas de palheta produzem uma ação de


bombeamento fazendo com que as palhetas acompanhem o contorno de um
anel ou carcaça (Figura 5.7).

76
Fonte: GOMES, 2008

Figura 5.7 - Bombas de Palheta

f) Bombas de Palheta de Volume Variável: uma bomba de palheta de


deslocamento positivo imprime o mesmo volume de fluído para cada revolução.
As bombas industriais são geralmente operadas a 1.200 ou 1.800 rpm. Isso indica
que a taxa de fluxo da bomba se mantém constante.

Fonte: GOMES, 2008

Figura 5.8 - Bombas de Palheta de Volume Variável

g) Bombas de pistão: as bombas de pistão geram uma ação de bombeamento,


fazendo com que os pistões se alterem dentro de um tambor cilíndrico (Figura
5.9).

77
Fonte: GOMES, 2008

Figura 5.9 – Bombas de pistão

h) Bombas de Pistão Axial de Volume Variável: o deslocamento da bomba de


pistão axial é determinado pela distância que os pistões são puxados para dentro
e empurrados para fora do tambor do cilindro (Figura 5.10).

Fonte: GOMES, 2008

Figura 5.10 - Bombas de Pistão Axial de Volume Variável

i) Bombas de Pistões Radiais: Neste tipo de bomba, o conjunto gira em um pivô


estacionário por dentro de um anel ou rotor. Conforme vai girando, a força
centrífuga faz com que os pistões sigam o controle do anel, que é excêntrico em
relação ao bloco de cilindros (Figura 5.11).

78
Fonte: GOMES, 2008

Figura 5.11 - Bombas de Pistões Radiais

5.3 Equações Fundamentais

Quando se trata de máquinas hidráulicas, dois métodos são utilizados para seus estudos
e projetos:

 O primeiro método tem como hipótese que o rotor tem um número infinito de
pás, que teriam de ser infinitamente finas.

 O segundo método é realizado a partir da análise de uma única pá, para daí então
aproximar para o caso real.

5.3.1 Equação de Euler

Utiliza aqui o primeiro método, que parte da hipótese de “escoamento congruente nas
pás”. A equação de Euler é a equação básica para o desenvolvimento/estudo de
bombas, ventiladores e turbinas.

Ela expressa o intercâmbio de energia entre o rotor e o fluido.

Para iniciar as análises, são feitas as seguintes hipóteses simplificadoras, considerando


uma máquina ideal:

 Número infinito de pás;


 Espessura infinitesimal das pás;
 Fluido incompressível;
 Sem atrito (fluido ideal);

79
 Isento de choque na entrada;
 Regime permanente.

Considere agora o princípio da conservação da quantidade de movimento angular


(QMA) aplicado ao volume de controle (Figura 5.12), tendo como base o eixo do rotor:

Desconsiderando os torques devido às forças de superfície e de corpo (do campo


gravitacional), e considerando o regime permanente, temos:

Fonte: Turton, 1995

Figura 5.12 - Volume de controle para rotor de máquina geradora

80
Assim, o torque teórico para máquinas geradoras é expresso por:

De forma similar, para máquinas motoras:

5.3.2 Potência

Esta é uma grandeza extremamente importante em termos de custos envolvidos em


uma instalação, tanto de máquinas geradoras como máquinas motoras.

A potência define a quantidade de energia por unidade de tempo (taxa de energia)


consumida por máquinas geradoras (bombas e ventiladores).

a) Potência eficaz (efetiva ou total)

Conforme já mencionado, é natural que ocorram perdas hidráulicas no interior das


máquinas hidráulicas e perdas mecânicas pelo atrito mecânico que ocorrem
externamente entre as suas partes fixas e girantes.

Em conclusão, nem toda energia cedida ou recebida pelo fluido pode ser transformada
em trabalho mecânico no eixo da máquina, tem se então que a potência eficaz ou efetiva
é expressa pela potência entregue/recebida do fluido somadas às potências perdidas no
processo.

Sendo que:

 “Pef“ é a potência eficaz no eixo da máquina.


 “Pi“ é a potência interna.
 “Ppm” é a potência mecânica perdida.

81
Para o caso de bombas, a potência efetiva ou eficaz (Pef) é definida como sendo a
potência entregue pelo motor no eixo da bomba. Também conhecida por potência
motriz e BHP (Break Horse Power).

Todas as perdas internas e externas produzem uma perda de potência que reduz a
entrega, ou aumenta a necessidade de potência eficaz das máquinas.

b) Potência interna (Pi)

Considerando somente as perdas internas (hidráulica e volumétrica), obtêm-se a


potência interna, que é a potência no eixo de entrada da bomba/ventilador, ou a
potência no eixo de saída da turbina. Ela tm a propriedade de transmitir calor ao fluido
de trabalho.

Caso sejam considerados o atrito nas paredes externas do rotor, que gera uma potência
de atrito no rotor (Pr), e a perda por troca de fluido, que gera uma potência Pa, então a
potência interna é dada por:

A perda por troca ocorre devido à troca de fluido entre a região atrás do rotor e os canais
das pás, que ocorre devido à desaceleração do escoamento, pois, nesse caso, a camada
limite na região de saída deve fluir contra a pressão crescente.

Ocorre, então, o perigo do retorno da camada limite ao rotor, ou seja, a necessidade de


ela ser novamente acelerada. Esta perda ocorre somente nas bombas e não nas
turbinas.

c) Potência hidráulica
Podemos definir a potência hidráulica como sendo o produto do peso de fluido que
passa através da máquina, na unidade de tempo, pela altura de queda ou elevação.
Portanto, este conceito é útil tanto para bombas como para turbinas hidráulicas.
82
Assim, pode-se escrever:

γ: Peso específico em [N/m3]

Q: Vazão em volume [m3/s]

H: Altura de queda ou elevação [m]

Ph: Potência hidráulica [W]

g: Gravidade (adota-se nesta apostila o valor de 9,81 m/s2)

ρ: Massa específica [kg/m3]

Concluindo, a potência hidráulica é a potência fornecida pela máquina geradora


(bomba) para o fluido.

Esta potência difere da potência efetiva devido a perdas que ocorrem nas
transformações de energia. Considerando que a potência perdida interna é a produzida
pelas perdas de pressão e por fuga de fluido:

“Ph“ é a potência hidráulica.

“Ppi” é a potência perdida interna.

5.4 Rendimento Hidráulico

a) Rendimento volumétrico

Considera as perdas por fuga de fluido e, para determinar isto, usa o rendimento
volumétrico (volumetric efficiency).

83
Sendo que:

 “Qt“ é a vazão teórica.


 “Q” é a vazão considerada no cálculo das alturas de queda e elevação.
 “qi” é a vazão perdida internamente.

b) Rendimento mecânico: Trata-se


do rendimento que considera as perdas externas e sua relação é dada por:

Seu valor varia de 0,92 a 0,95 nas bombas mais recentes, sendo maiores nas de maior
dimensão. Quando trabalham no ponto de projeto, as máquinas de fluxo têm
rendimento mecânico na ordem de 0,99.

c) Rendimento Total

A potência efetiva se relaciona com a potência hidráulica por meio do rendimento total
(total efficiency ou gross efficiency) da instalação.

O rendimento passa de 85% em grandes bombas centrífugas.

Menos de 40% se concentram nas pequenas bombas.

84
Um valor razoável para o caso de estimativas é 60% para bombas pequenas e 75% para
bombas médias.

Entre 80% e 90% é o rendimento das máquinas de fluxo no ponto de projetos.

5.5 Curvas Características


5.5.1 Curvas características do rotor da bomba.

São as curvas que representam as grandezas de funcionamento de um rotor. Estas


curvas variam conforme o tamanho, a rotação específica e outros parâmetros
construtivos do rotor, espiral ou outros elementos da bomba ou ventilador.

Na figura 5.13 são apresentado estas características em função da rotação específica,


ns, para bombas.

Para o traçado destas curvas, a rotação foi tomada fixa. Se o ensaio for repetido para
outros valores da rotação, obtém-se a família de curvas da bomba.

Fonte: Campos, 2019

Figura 5.13 - Curvas características do rotor de bomba (CCR)

85
A parte instável das curvas H = f(Q) e P = f(Q) em torno de 50% da vazão do ponto de
projeto é típica para bombas axiais, como resultado da separação da camada limite e
turbulência geradas pelo ângulo de incidência do fluido nesta faixa de vazão.

Ao examinar os gráficos, verifica-se que, nas bombas radiais, a potência é mínima em


shut-off (válvula de descarga fechada), ocorrendo o inverso com as bombas axiais. Isto
impõe que a partida das bombas radiais se dê com a válvula de descarga fechada e a das
bombas axiais com a válvula aberta.

No encerramento de uma operação, basta desligar o motor das bombas axiais, devendo-
se, entretanto, fechar a válvula de descarga previamente, em se tratando de bomba
radial.

Se a bomba radial for de alta pressão, deve-se fechar parcialmente a válvula de descarga,
desligar o motor e fechar rapidamente a válvula de descarga.

Este procedimento evita a inversão de fluxo e atenua possíveis problemas decorrentes


do golpe de aríete.

5.5.2 – Curvas de estrangulação

O problema que você deve resolver é alcançar uma certa altura ou distância que o
escoamento não teria energia para vencer naturalmente caso fosse movido apenas pela
força da gravidade. Para isso, o primeiro passo é encontrar uma bomba que forneça essa
carga, que é dada em metros e será chamada altura (H).

A altura que uma bomba fornece varia de acordo com:

 A vazão que passa pela bomba;

 O diâmetro do rotor;

 A frequência desse rotor.

As bombas são fabricadas para atuar em uma faixa de vazão específica. Quem indica
como a altura se relaciona com a vazão é o fabricante, por meio de um gráfico H x Q.

86
Nesse gráfico, os valores de H estão no eixo vertical e os valores de Q estão no eixo
horizontal. A curva de H = f(Q) é denominada curva de estrangulação devido ao processo
adotado para sua determinação experimental, conforme a Figura 5.14.

Fonte: ESPARTEL, 2017.

Figura 5.14 - Quadro com tipo de bombas por faixa de trabalho, rotando a 1750 rpm

Por exemplo, se for necessário adicionar 40 mca no escoamento a uma vazão de 28


m3/h, é necessário instalar uma bomba do tipo 40-315 (E).

Agora, se a necessidade for de apenas 10 mca, mas a uma vazão de 200 m3/h, então a
bomba mais indicada é a do tipo 100-160(E).

Depois que você identificou o tipo de bomba que satisfaz as condições de H x Q, você
deve procurar a curva de estrangulação específica do tipo de bomba escolhido, que
também é fornecida pelo fabricante.

87
5.5.3 Curva do NPSH

NSPH é a sigla do termo em inglês Net Positive Suction Head. Sua tradução significa
Altura Positiva Líquida de Sucção, que é a altura ou pressão necessária na entrada da
bomba para evitar a cavitação da bomba.

A entrada da bomba é a região onde a pressão é mais baixa, pois ela precisa succionar o
fluido, por isso é onde a cavitação ocorrerá primeiro.

O último passo para escolher uma bomba é conferir se existe NPSH suficiente para que
a bomba não cavite.

Para isso, precisamos comparar o NPSH disponível (NPSHd) com o NPSH requerido
(NPSHr) do NPSH pelo fabricante.

Ya: diferença entra a cota do reservatório inferior e a cota do eixo da bomba, medido
em [m].

Hpa: perda de carga na canalização de aspiração, medido em [m].

Patm/γ: pressão atmosférica dividida pelo peso específico do fluido, medido em [m].

hv: pressão de vapor, medida da tendência de evaporação de um líquido, valor


geralmente tabelado, nesta equação entra em [m].

A bomba só poderá ser utilizada caso a condição de NPSHD seja satisfeita (> NPSHR).

Ponto de Funcionamento

É importante que você saiba quais são os elementos básicos de instalação de recalque.

Quando tratamos exclusivamente de bombas, existe uma série de aparatos e


denominações para sua correta instalação.

Veja na Figura 5.15 algumas dessas denominações.

88
Fonte: ESPARTEL, 2017.

Figura 5.15 - Desenho esquemático de uma instalação de bomba centrífuga.

A carga hidráulica (H) de uma instalação é a altura que o escoamento necessita atingir,
sendo:

89
Y é o desnível geométrico entre os reservatórios e hp é a soma de todas as perdas
(lineares e singulares) nas tubulações de recalque e sucção. Como a perda de carga varia
de acordo com a vazão, é possível criar uma curva característica da canalização
mostrando H em função de Q, sendo que se Q = 0, H = Y.

Fonte: ESPARTEL, 2017

Figura 5.16 - Exemplo de curva de Ponto de Funcionamento

Na Figura 5.16. (a), temos a curva de instalação de um sistema qualquer. No eixo vertical
está a carga hidráulica. Já a vazão está no eixo horizontal. Na figura 5.16 (b), temos a
Intersecção da curva de instalação com a curva de estrangulamento. Os pontos
marcados são os possíveis pontos de funcionamento para esse sistema.

90
O ponto de funcionamento do sistema é onde a curva de instalação e a curva de
estrangulação se interseccionam.

A curva de estrangulação aponta a variação da energia cedida ao sistema pela bomba.

A curva da canalização mostra a demanda de energia necessária para que a canalização


consiga conduzir uma certa vazão.

O ponto de funcionamento é quando a energia fornecida é igual à necessária para que


dada vazão seja bombeada.

Conclusão

Neste bloco, nós exploramos o universo das bombas hidráulicas, começando pela sua
classificação, seus tipos, suas equações fundamentais para cálculo do torque, potência
e rendimento, suas curvas características e seu ponto de funcionamento. Todos estes
aspectos proporcionam um projeto e uma operação de Hidráulica Industrial, com
bastante balanceamento e eficiência.

REFERÊNCIAS

CAMPOS, M. C. Apostila de Máquinas de Fluidos. 2019. Disponível em:


<https://www.docsity.com/pt/apostila-de-maquinas-de-fluido/4983983/>. Acesso em:
18 jul. 2020

ESPARTEL, L. Hidráulica aplicada: recurso eletrônico. Porto Alegre : SAGAH, 2017.

FERREIRA, D. M. B. Noções de Hidráulica. 2013. Disponível em:


<https://bit.ly/332NAQ3>. Acesso em: 18 jul. 2020.

GOMES, M. R., ANDRADE, M., FERRAZ, F., Apostila de Hidráulica. Bahia: Centro Federal
e Educação Tecnológica da Bahia, 2008.

MELCONIAN, S. Sistemas fluidomecânicos: hidráulica e pneumática. 1. ed. São Paulo:


Érica, 2014.

91
FERREIRA, D. M. B. Noções de Hidráulica. 2013. Disponível em:
<https://bit.ly/2DceqKA>. Acesso em: 18 jul. 2020.

TURTON, R. K. Principles of turbomachinery. 2th ed. London: Chapman & Hall, 1995.

92
6 TURBINAS HIDRÁULICAS

Apresentação

Neste bloco veremos o contexto das turbinas hidráulicas, desde a sua importância para
o universo da hidráulica até o detalhamento de classificação e dos tipos por
funcionalidades. Os aspectos técnicos de dimensionamento e controle operacional
serão abordados para total dimensão de sua praticidade no meio industrial e na
Engenharia Mecânica.

6.1 Introdução e classificação

6.1.1 Introdução

Diretamente falando, turbinas são equipamentos que tem por finalidade transformar a
energia de escoamento (hidráulica) em trabalho mecânico (máquinas motoras).

É uma máquina com a finalidade de transformar a maior parte da energia de


escoamento contínuo da água que a atravessa em trabalho mecânico.

Resumidamente, seria um sistema fixo hidráulico e um sistema rotativo hidromecânico


destinados, respectivamente, à orientação da água em escoamento e à transformação
em trabalho mecânico

A parte rotativa de uma bomba se chama impulsor e a parte rotativa de uma turbina se
chama rotor.

Quando o fluido de trabalho é a água, as turbomáquinas são chamadas de turbinas


hidráulicas.

Quando o fluido de trabalho é o ar e a energia é extraída do vento, a máquina é chamada


apropriadamente de turbina eólica.

Estes equipamentos são compostos por um distribuidor, um rotor, um tubo de sucção e


a carcaça (ou voluta).

93
Como parte da instalação de uma máquina destas, pode-se destacar ainda o
reservatório, a tubulação forçada e o canal de fuga.

O distribuidor é um elemento estático que tem a função de acelerar o fluxo de água


transformando a energia; dirigir a água para o rotor; e regular a vazão.

O rotor é o elemento fundamental de transformação de energia formado por uma série


de palhetas (ou álabes).

O tubo de sucção só existe nas turbinas de reação e tem forma de duto divergente e é
localizado após o rotor.

Sua função é recuperar a altura entre a saída do rotor e o nível de água na descarga;
recuperar parte da energia cinética da velocidade residual da água na saída do rotor, a
partir do desenho do tipo de difusor.

E finalmente a voluta (ou carcaça) é o elemento que contêm todos os componentes da


turbina. Nas turbinas Francis e Kaplan tem a forma de uma espiral.

Externamente à turbina, tem-se o reservatório que armazena o fluido que passará pela
turbina.

A tubulação forçada tem por função encaminhar o fluido do reservatório para a entrada
da turbina. E o canal de fuga, que recebe o fluido que entregou energia hidráulica para
a turbina.

6.1.2 Como se classificam as turbinas

Os principais tipos de turbina são aquelas de impulso e de reação.

O tipo predominante de máquina de impulso é a roda Pelton (inventada por Lester Allen
Pelton) que é apropriada para um range de alturas de 150-2000 m.

As turbinas de reação são de dois tipos principais:

1. Turbinas de escoamento radial ou misto.

2. Turbinas de escoamento axial.

94
Dos tipos de escoamentos radiais predominam a turbina Francis (patenteada por
Samuel Dowd e aperfeiçoada por James Bicheno Francis).

As turbinas Dériaz são similares às turbinas Francis, rápidas, mas com um mecanismo
que permite variar a inclinação das pás do rotor.

Os tipos principais de máquinas axiais são turbinas de hélice (Propeller) cujas pás do
rotor são fixas e as turbinas Kaplan com as pás do rotor ajustáveis.

Outros tipos de máquinas axiais são as turbinas Tubulares, Bulbo e Straflo.

Pode-se classificar as turbinas conforme a direção do fluxo através do rotor, podendo


ser de fluxo tangencial (ex. Pelton), fluxo radial semi-axial (ex. Francis) e fluxo axial (ex.
Kaplan).

Ou então, de modo geral, como sugere a Figura 6.1.

Fonte: MAGALHÃES, 2019

Figura 6.1 – Classificação das turbinas hidráulicas

95
As turbinas podem ser classificadas em turbinas de ação (ou impulso) e em turbinas de
reação. Esta forma de classificação leva em conta a variação de pressão estática.

No primeiro grupo, a pressão estática permanece constante entre a entrada e saída do


rotor.

Exemplos do primeiro grupo são as turbinas Pelton, Turgo e Michell- Blanki, conforme
mostra a Figura 6.2.

Fonte: Alé, 2001

Figura 6.2 - Turbinas Pelton (esquerda), Turgo (centro) e Michell-Blanki (direita)

Já no segundo grupo, ocorre redução da pressão estática ao atravessar o rotor.


Exemplos são as turbinas Francis, Kaplan e Hélice, conforme a Figura 6.3.

Fonte: Alé, 2001

Figura 6.3 – Turbinas Francis (esquerda), Kaplan (centro) e Hélice (direita)

96
6.2 Tipos de turbinas hidráulicas

Você vai perceber e comprovar que cada tipo de turbina recebeu o nome de seu
inventor.

Segue abaixo o detalhamento de perfis de alguns tipos de turbinas:

a. Turbinas Francis

Essa turbina recebe o nome do engenheiro inglês James Bicheno Francis (1815-1892)
que a concebeu em 1848. Foi resultado do aperfeiçoamento da turbina Dowd,
patenteada em 1838 por Samuel Dowd (1804-1879).

É uma turbina de reação, com eficiência na faixa de 90%. Utilizada para alturas de 20 a
700 m, essa ampla faixa de aplicação a faz o tipo de turbina mais usada no mundo.

Nas turbinas Francis, o rotor fica internamente ao distribuidor, de modo que a água, ao
atravessar o rotor, aproxima-se do eixo.

São vários os formatos possíveis para rotores desse tipo de turbina, e dependem da
velocidade específica da turbina, podendo ser classificadas em: lenta, normal, rápida ou
extrarrápida.

O distribuidor tem um conjunto de pás dispostas em volta do rotor, e que podem ser
orientadas durante a operação, assumindo ângulos adequados às descargas, de modo a
reduzir a perda hidráulica.

As pás do distribuidor têm um eixo de rotação paralelo ao eixo da turbina, podendo, ao


girar, maximizar a seção de escoamento ou fechá-la totalmente.

É o tipo de turbina mais utilizada, pois pode trabalhar de forma eficiente em uma ampla
faixa de condições de operação.

Isto porque a altura de queda e a vazão são os dois fatores mais importantes para o
desempenho de turbinas, e estão sujeitos a variações sazonais, sendo que a turbina
Francis consegue se adaptar bem a esta sazonalidade. Sua faixa de operação vai de 45 a
400 m de carga e de 10 a 700 m3/s.
97
b. Turbinas Kaplan

Essa turbina recebe o nome do engenheiro austríaco Victor Kaplan (1876-1934) que a
concebeu em 1912. Ela foi resultado do aperfeiçoamento da turbina Hélice.

Ao contrário das turbinas Hélice, cujas pás são fixas, no sistema de Kaplan elas podem
ser orientadas, variando a inclinação das pás, com base na descarga.

c. Turbinas Pelton

Também chamada de roda Pelton, recebeu o nome do engenheiro estadunidense


Lester Allen Pelton (1829- 1908) que a patenteou em 1880. Tem sua forma muito
similar às antigas rodas d’água utilizadas em moinhos.

Possui como distribuidor um bocal, que tem forma apropriada a guiar a água até as pás
do rotor. As turbinas podem ter um, dois, quatro e seis jatos. Internamente, o bocal
possui uma agulha para ajuste da vazão. O rotor tem uma série de pás em formato de
conchas dispostas na periferia, que fazem girar o rotor.

Tem ainda um defletor de jato, que intercepta o jato, desviando-o das pás quando
ocorre diminuição violenta da potência demandada pela rede de energia.

Nesses casos, a atuação do defletor deve ser considerada ao invés da redução da vazão
pelo uso da agulha, pois a ação rápida da agulha pode causar uma sobre pressão no
bocal, nas válvulas e ao longo da tubulação forçada.

Além do defletor, algumas turbinas Pelton de elevada potência têm um bocal


direcionado para o dorso das pás de forma a atuar na frenagem.

d. Turbinas Tubulares, Bulbo e Straflo

O aproveitamento de certos desníveis hidráulicos, muito reduzidos, pode não ser


possível nem com turbinas Kaplan (de eixo vertical), o que levou ao desenvolvimento de
turbinas de hélice com eixo horizontal, ou com pequena inclinação.

Esse tipo de turbina é aplicado em usinas a “fio d’água” e em usinas maré-motrizes.

98
 Turbina tubular: o rotor, de pás fixas ou orientáveis, é colocado em um tubo por
onde a água escoa. O eixo, horizontal ou inclinado, aciona um alternador externo
ao tubo.

 Turbina de bulbo: Trata-se de uma evolução da tubular, onde o rotor tem pás
orientáveis e existe um bulbo (câmara blindada) colocado no interior do tubo
adutor de água, que contêm um sistema de transmissão de engrenagens, que
transmite movimento do eixo da hélice ao alternador.

 Turbina Straflo: Trata-se de uma turbina de escoamento retilíneo (straight flow)


de volume reduzido.

Adequadas para quedas de até 40m e rotor de até 10m de diâmetro. Reduz bastante o
custo das obras de construção civil.

6.3 Velocidade Especifica das Turbinas

Quando vimos o conteúdo de bombas, definimos outro parâmetro adimensional útil, a


velocidade específica de bomba (NSp), com base em CQ e CH.

Poderíamos usar a mesma definição de velocidade especifica para turbinas, mas como
CP e não CQ é o parâmetro adimensional independente para as turbinas, nós definimos
a velocidade especifica de turbina (NSt) de modo diferente, ou seja, em termos de CP e
CH.

Então, calculamos a velocidade especifica de turbina como:

A velocidade especifica de turbina também é chamada de velocidade especifica de


potência.

Comparando as definições da velocidade especifica de bomba e da velocidade especifica


da turbina temos:
99
Em pratica, a turbina-bomba pode operar com vazões e rotações diferentes quando atua
como uma turbina, em comparação com a situação em que atua como uma bomba, uma
vez que o ponto de eficiência ótima da turbina não é, necessariamente, igual àquele da
bomba.

Porém, quando em caso simples em que a vazão e a rotação são iguais para as operações
de bomba e turbina, temos:

6.4 Perdas, Potência e Rendimento Hidráulico

6.4.1. Perda de carga

Vamos considerar o fluxo de energia transferido da queda da água para a turbina e


depois para o gerador.

Existem diversas formas de dissipação de energia, desde a energia inicial fornecida pela
queda de água até a energia final fornecida para o gerador pela turbina.

O desnível topográfico da água desde o reservatório superior até a localização da turbina


nos fornece a queda bruta da água H b).

Para chegar até a turbina, a água escoa por uma tubulação onde ocorrem perdas de
cargas na tubulação (H p).

Segundo Alé (2001), a energia disponível (Hd) antes de chegar na turbina é dada por:

Hd=Hb−Hp

Quando o fluido entra na turbina ocorrem perdas de energia devido as perdas por atrito
no interior da turbina. Essas são denominadas perdas hidráulicas (Jh).

100
A energia disponível após as perdas hidráulicas é denominada energia motriz (Hm) (ALÉ,
2001).

Hm=Hd−Jh

Onde a energia motriz é dada pela diminuição das perdas hidráulicas da energia
disponível.

Então, a energia na saída da turbina (no eixo) denominada de altura útil (Hu) é dada pela
diminuição da energia motriz nas perdas mecânicas (Jm) (ALÉ, 2001).

Hu=Hm−Jm

O rendimento global da turbina (ηt), quantifica a relação entre toda a energia útil (Hu)
do sistema e a energia disponível pela queda da água (Hd).

A Figura 6.4 mostra a relação da energia e perdas.

Fonte: ALÉ, 2001

Figura 6.4 - Relações entre rendimento e queda de água em turbinas hidráulicas

101
a. Altura ou Queda Bruta

Representada pela diferença de cotas entre o nível mais elevado da turbina e o nível
onde a turbina se encontra (ALÉ, 2001).

Hb=z1−z0

b. Altura da Perda de Carga

Conforme Alé (2001), a perda de carga do sistema pode ocorrer pelos acessórios e
tubulação. No caso de centrais hidrelétricas, a perda de carga por tubulação é obtida
utilizando a equação de Hazen-Williams definida como:

Onde:

Q - Vazão (m³/s)

λ- Coeficiente de Hazen-Williams (ver tabela 1)

D - Diâmetro interno da tubulação (m)

L - Comprimento da tubulação

Tabela 6.1: Coeficiente de Hazen-Williams ( ) λ

Fonte: ALÉ, 2001.

102
c. Altura ou Queda Disponível

Representa a altura disponível na entrada da turbina (ALÉ, 2001).

H=Hb−Hp

d. Altura ou Queda Motriz

Representa a energia hidráulica realmente fornecida para a turbina.

Hm=H−Jh

As perdas hidráulicas podem ser compostas por perdas de atrito, perdas por vazamento
entre o rotor e a carcaça da turbina, dentre outras (ALÉ, 2001).

e. Altura ou Queda Útil

Energia na saída da turbina.

É avaliada como a altura de queda motriz menos as perdas mecânicas (Jm) dissipada
pelos mancais e equipamentos auxiliares acoplados a árvore da turbina, por exemplo
(ALÉ, 2001).

6.4.2 Potência de uma turbina

a) Potência eficaz (total)

As perdas hidráulicas ocorrem no interior das máquinas hidráulicas e as perdas


mecânicas acontecem devido ao atrito mecânico que ocorre externamente entre as suas
partes fixas e girantes.

Assim, nem toda energia cedida ou recebida pelo fluido pode ser transformada em
trabalho mecânico no eixo da máquina, tem-se, então, a potência eficaz ou efetiva que
é expressa pela potência entregue/recebida do fluido somadas às potências perdidas no
processo.

103
• “Pef“ é a potência eficaz no eixo da máquina;

• “Pi” é a potência interna;

• “Ppm” é a potência perdida mecânica.

A potência efetiva ou eficaz (Pef) é definida como sendo a potência entregue pela
turbina.

Todas as perdas internas e externas produzem uma perda de potência que reduz a
entrega ou aumenta a necessidade de potência eficaz das máquinas.

Unidades:

 1 HP=1,0138 CV = 745,7 W

 1 CV = 0,9863 HP = 735,5 W

b) Potência interna (Pi)

Considerando somente as perdas internas obtêm-se a potência interna:

c) Potência hidráulica

Definindo a potência hidráulica, temos o produto do peso de fluido que passa através
da máquina, na unidade de tempo, pela altura de queda ou elevação; portanto este
conceito é útil tanto para bombas como para turbinas hidráulicas. Assim, pode-se
escrever:

104
 γ: peso específico em [N/m3]

 Q: vazão em volume [m3/s]

 H: altura de queda ou elevação [m]

 Ph: potência hidráulica [W]

 g: gravidade (adota-se nesta apostila o valor de 9,81 m/s2)

 ρ: massa específica [kg/m3]

Então, potência hidráulica é a potência entregue à máquina motora (turbina) pelo fluido.
Esta potência difere da potência efetiva devido à perdas que ocorrem nas
transformações de energia.

d) Potência bruta

Conceito utilizado para turbinas, é a potência contida no desnível topográfico da


instalação, sendo uma função da queda bruta.

e) Potência no gerador elétrico

O conceito utilizado para turbinas, é a potência elétrica nos terminais do gerador.

É a potência hidráulica multiplicada pelo rendimento da turbina (ηt), rendimento de


transmissão (ηTR) e rendimento do gerador (ηge).

O produto dos três rendimentos é o rendimento global (ηG).

105
6.4.3 – Rendimento de uma turbina

a) Rendimento total

A potência efetiva se relaciona com a potência hidráulica por meio do rendimento total
da instalação, que é sempre menor que 1.

Como é difícil a determinação das perdas, é usual adotar-se outra grandeza denominada
de rendimento total, a qual permite avaliar estas perdas.

A tabela 6.2 mostra os rendimentos orientativos para turbinas:

Tabela 6.2 - Rendimentos orientativos para turbinas

Fonte: Alé, 2001

b) Rendimento do gerador (ηge)

Tem a relação mostrada a seguir e fica na faixa de 90 a 97%.

106
c) Rendimento da transmissão (ηTR)

O rendimento da transmissão diz respeito às perdas provocadas pela potência entregue


pelo eixo da turbina e a potência recebida pelo gerador. Neste processo podem ocorrer
perdas caso a transmissão seja feita por polias e correias, ou outro elemento de
transmissão que possam ser usados.

d) Rendimento de geração (ηG)

O rendimento de geração está relacionado com as perdas no gerador, que fazem com
que a potência elétrica entregue pelo gerador seja diferente da potência recebida por
este, conforme a tabela 6.3.

Tabela 6.3 - Rendimento global (ηG) de geração de turbinas hidráulicas

Fonte: Alé, 2001.

6.5 Curvas Características

Assim como as bombas, as turbinas hidráulicas são constituídas de um rotor, formado


por pás e um sistema de guias. O distribuidor, que pode ser constituído de um sistema
de pás móveis em torno do rotor ou de um ou mais injetores. O distribuidor tem por
finalidade direcionar e conduzir a água até o rotor.

Ao contrário do que ocorre na bomba, a água, ao deslocar-se dentro da turbina com


uma certa velocidade e energia de pressão, transforma sua energia em trabalho motor
da turbina.

107
Parte da pressão provinda da água é responsável pelo seu aumento de velocidade
dentro do distribuidor, de modo que ela ainda possua energia de pressão quando em
contato com as pás do rotor.

Durante a passagem da água pelo rotor, a pressão da água é reduzida e,


consequentemente, sua velocidade aumenta ainda mais.

Esse acréscimo de velocidade, em contato com as pás, é responsável pela rotação do


eixo da turbina.

A Figura 6.5 apresenta as curvas características de uma bomba, mantendo-se uma


velocidade constante, sendo todos os seus parâmetros, H, P, η e Q, apresentados em
porcentagem, em relação ao seu ponto de operação ótimo. Ponto de ocorrência do
maior rendimento da máquina.

Fonte: Adaptado de Monterrey, 1974

Figura 6.5: Curvas características de uma bomba centrífuga em função da Vazão

108
O projeto de uma turbina deve ser levado em conta sua potência e ponto de operação
para que seja definida a curvatura das pás e seu dimensionamento, tornando seu
rendimento o maior possível.

Essas curvas são mostradas nas Figuras 6.6, 6.7, 6.8, 6.9 e 6.10. Como pode ser notado
na Figura 6.6, a turbina lenta é mais apropriada quando há maiores variações em sua
velocidade.

A Fig. 6.7 mostra que a potência é diretamente proporcional à vazão enquanto que o
rendimento, após o seu ponto ótimo à medida que a vazão aumenta, é reduzido. Por
meio desta figura, conclui-se que, a partir da potência ótima da máquina, à medida que
esta aumenta, o rendimento diminui.

A Figura 6.9 apresenta a variação da potência da turbina com a sua velocidade.

A Figura 6.10 apresenta a vazão em função da velocidade da turbina. Para o caso de


turbina Francis lenta, observa-se que, à medida que a velocidade da turbina aumenta, a
sua vazão diminui.

Com essas figuras pode-se concluir a importância de um bom projeto da turbina para
que ela sempre opere em seu estado ótimo, não ocorrendo queda no rendimento da
mesma.

109
Fonte: BARBOSA, 2006.

Figura 6.6 - Curva característica de uma turbina Francis - Rendimento (η) x


Velocidade angular (n).

Fonte: BARBOSA, 2006.

Figura 6.7 - Curva característica de uma turbina Francis - Rendimento e Potência x


Vazão.

110
Fonte: BARBOSA, 2006.

Figura 6.8 - Curva característica de uma turbina Francis - Rendimento x Potência

Fonte: BARBOSA, 2006.

Figura 6.9 - Curva característica de uma turbina Francis - Potência x Velocidade


angular

111
Fonte: BARBOSA, 2006

Figura 6.10 - Curva característica de uma turbina Francis - Vazão x Velocidade angular

Cavitação nas turbinas

Lembrando sobre cavitação

Como falamos no conteúdo sobre bombas, a cavitação é a formação de bolhas de vapor


no líquido que flui através de qualquer turbina hidráulica. Ela ocorre quando a pressão
estática do líquido cai abaixo da sua pressão de vapor. É mais provável que ocorra perto
das lâminas de movimentação rápida das turbinas e na região de saída das turbinas.

Quais as causas da cavitação

O líquido entra nas turbinas hidráulicas em alta pressão. Esta pressão é uma combinação
de componentes estáticos e dinâmicos.

A pressão dinâmica do líquido é dada pela virtude da velocidade do fluxo e do outro


componente, a pressão estática é a pressão real que o fluido aplica e que é atuada sobre
ele. A pressão estática governa o processo de formação de bolhas de vapor ou de
ebulição.

Assim, a cavitação pode ocorrer perto das lâminas de movimentação rápida da turbina
onde a cabeça dinâmica local aumenta devido à ação das lâminas que faz com que a
pressão estática caia.

112
A cavitação também ocorre na saída da turbina, pois o líquido perde a maior parte de
sua pressão e qualquer aumento na pressão dinâmica levará a queda na pressão estática
causando cavitaçã.

Como evitar a cavitação

Levantar o problema é importante, mas saber resolvê-lo é melhor ainda. Desta forma,
para evitar a cavitação durante o funcionamento, os parâmetros das turbinas hidráulicas
devem ser configurados de modo que, em qualquer ponto de fluxo, a pressão estática
não caia abaixo da pressão de vapor do líquido. Os parâmetros para controlar a
cavitação são a pressão, a vazão e a pressão de saída do líquido.

Os parâmetros de controle para operação livre de cavitação de turbinas hidráulicas


podem ser obtidos por meio da realização de testes nos protótipos da turbina a ser
usado.

Quando a cavitação começa a subir, a eficiência da turbina cai significativamente. Por


esta razão, ela deve ser evitada durante o funcionamento das turbinas hidráulicas.

A separação do fluxo na saída da turbina no tubo de descarga causa vibrações que


podem danificar o tubo de descarga. Para amortecer a vibração e estabilizar, o fluxo de
ar é injetado no tubo de descarga.

Para evitar totalmente a separação do fluxo e a cavitação no tubo de descarga, ele é


submerso abaixo do nível da água na tração de cauda.

Conclusão

Este bloco mostrou o universo das turbinas hidráulicas, começando pela sua
classificação, seus tipos, suas equações para cálculo da velocidade específica, perdas,
potência e rendimento, suas curvas características e sua cavitação. Todos estes aspectos
proporcionam um projeto e uma operação de Hidráulica Industrial, com bastante
balanceamento e eficiência.

113
REFERÊNCIAS

ALÉ, J. V. Turbinas Hidráulicas. In: ______. Sistemas Fluidomecâmicos. PUCRS, 2001.

BARBOSA, B. H. Instrumentação, Modelagem, Controle e Supervisão de um Sistema


de bombeamento de Água e Módulo Turbina–Gerador. 2006. Disponível em:
<https://bit.ly/2WYnsSH>. Acesso em: 18 jul.2020.

MAGALHÃES, H. Entendendo as turbinas. Zona da Elétrica, 2019. Disponível em:


<https://bit.ly/39yD4Bm>. Acesso em: 18 jul. 2020.

MECÂNICA INDUSTRIAL. Cavitação em turbinas hidráulicas: causas e efeitos.


Disponível em: <https://bit.ly/3g9mH0r>. Acesso em: 18 jul. 2020.

MONTERREY, N. L. Turbomáquinas Hidráulicas: princípios fundamentales. 1974.

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