Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Dimensionamento de Tubulações
INTRODUÇÃO
Sabe-se que os fluidos, quando escoam ao longo de dispositivos (tubulações, válvulas, conexões,
órgãos de máquinas etc.), cedem energia para vencer as resistências que se oferecem ao seu
escoamento, devidas à atração molecular no próprio fluido, e as resistências próprias aos referidos
dispositivos. Esta energia despendida pelo fluido para que possa escoar entre duas seções
consideradas, chama-se Perda de Carga entre as duas seções e representamo-la pela letra J ou por
ΔH.
É imprescindível calcular-se a perda de carga, ou seja, a perda de energia, quando se tem qualquer
problema de instalação de bombeamento, como, aliás, praticamente em todas as questões de
escoamento de fluidos.
Não pretendemos nestas notas de aula realizar o estudo das perdas de carga nos moldes e nas
proporções normalmente estudadas nos compêndios de Mecânica dos Fluidos ou de Hidráulica.
Nosso objetivo é apenas recordar algumas noções básicas, a fim de que a utilização das fórmulas,
dos ábacos e diagramas aqui apresentados se faça com maior proveito.
1. REVISÃO
1.1. VISCOSIDADE
A coesão molecular é a causa do atrito interno, isto é, da resistência ao deslocamento de camadas
de moléculas líquidas umas sobre as outras e que se chama viscosidade.
Consideremos uma superfície plana P sobre a qual existe líquido numa espessura y=aa', cujas
moléculas admitamos dispostas em camadas e que, para simplicidade de desenho, representamos
por planos paralelos P', P" e P'".
Suponhamos uma placa plana com superfície de área S, situada no plano P"', a uma altura y =aa'
acima do plano P.
Chamemos de V a velocidade do movimento de translação do plano S em relação ao plano P, e de F
a força tangencial capaz de deslocar o plano S.
Isaac Newton, que estabeleceu a expressão acima, designou a grandeza , que é um coeficiente de
proporcionalidade, por coeficiente de viscosidade dinâmica ou absoluta. Podemos escrever
Finalmente
1.1.1. Unidades
Quando a força = 1 dina, aplicada à superfície de 1 cm2 e afastada 1 cm de uma outra por camadas
de moléculas líquidas, comunicar a esta superfície uma velocidade de 1 cm por segundo, teremos
um "poise".
Na prática usa-se o centipoise, que vale a centésima parte de 1 poise.
No sistema inglês, a unidade é o Reyn, em homenagem a Osborne Reynolds, expressa em
Ib∙s∙sq∙ft-1 (libra × segundo por pé quadrado). A unidade prática é o "Newton" (1 milésimo de Reyn),
e que não deve ser confundido com o "Newton", unidade de força no Sistema Internacional.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
1
MACINTYRE, A.J. Bombas e Instalações de Bombeamento, pp 639. 2 ed. LTC, rio de Janeiro, 1997.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Na prática usa-se = 1,01 x 10-6 m2∙s-1 para o caso da água dita fria.
Nos líquidos newtonianos, que são aqueles aos quais se pode aplicar a equação de Newton, a
viscosidade cinemática não é afetada pela agitação. É o caso da água e dos óleos minerais.
Se a viscosidade diminui quando a agitação aumenta, mantendo-se constante a temperatura, o
líquido é chamado tixotrófico. É o caso de gorduras, melaços, colas, asfaltes, compostos de celulose
etc.
Se a viscosidade aumentar com a agitação, mantida constante a temperatura, o líquido é chamado
dilatante. Exemplo: Certas argamassas de argila.
A caracterização da natureza do produto a bombear é fundamental para o equacionamento do
problema de bombeamento.
A viscosidade aumenta com a pressão para os óleos, enquanto que, para a água, diminui.
No caso dos óleos, e de muitos líquidos, a viscosidade diminui com o aumento da temperatura.
O gráfico 2 abaixo possibilita a conversão das viscosidades expressas em centistokes, graus Engler,
Redwood e Saybolt entre si.
É um número adimensional.
2
Hero Hidroelétrica Ind. E Com. S.A.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Na fórmula,
d = dimensão linear, característica do dispositivo onde se processa o escoamento (diâmetro interno
de uma tubulação, comprimento de uma pá de bomba axial etc.). [metros]
V = velocidade média na seção onde se escolheu a dimensão d. [m∙s-1]
= coeficiente de viscosidade cinemática. [m2∙s-1]
A grande importância do número de Reynolds reside em que permite entre inúmeras outras
aplicações:
1o) Estabelecer a lei de analogia entre dois escoamentos;
2o) Caracterizar a natureza do escoamento;
3o) Calcular o coeficiente de perda de carga.
Quando os dispositivos de escoamento forem semelhantes, o regime do escoamento será o mesmo
sempre que o número de Reynolds for o mesmo. Isto é da maior importância para estudos e ensaios
de laboratório, quando se pode, por exemplo, usar ar ao invés de água, e água ao invés de outros
líquidos.
Suponhamos que tenhamos duas tubulações de igual diâmetro e com paredes de igual rugosidade,
um escoando água e outro, ar.
Para a água temos
e para o ar
Mas a viscosidade cinemática da água é 15 vezes maior que a do ar nas mesmas temperaturas, para
os valores usuais das temperaturas ambientes dos laboratórios. Quando a velocidade de
escoamento do ar for 15 vezes maior que a da água, o Re será o mesmo e, portanto, o coeficiente de
perdas de carga também o será. Em outras palavras, podemos realizar o escoamento usando ar,
desde que com velocidade 15 vezes maior do que se teria de empregar no caso da água.
3
MACINTYRE, A.J. Bombas e Instalações de Bombeamento, pp 642. 2 ed. LTC, rio de Janeiro, 1997.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Como na prática a rugosidade absoluta não é uniforme, utiliza-se um valor médio, que, para efeito de
cálculo da perda de carga, corresponderia a uma rugosidade uniforme. Esses valores médios
chamam-se rugosidades equivalentes ou efetivas.
Vemos alguns valores de rugosidades equivalentes no quadro 4 abaixo.
A superfície interna dos tubos se modifica com o uso pela ação da oxidação, corrosão, incrustação e
deposição de elementos em suspensão ou de sais dissolvidos.
A maior ou menor rugosidade com o tempo de uso depende da natureza do material do tubo e das
propriedades químicas do líquido e dos materiais que estejam em suspensão ou em dissolução.
Depende ainda da temperatura e da velocidade de escoamento.
Pode-se admitir que, geralmente, a rugosidade para tubos comerciais segue uma lei de variação
linear, como propuseram Colebrook e White, isto é,
4
FOX, R.W, McDONALD, A.T., PRITCHARD, P.J. Introdução à Mecânica dos Fluidos, pp 350. 6 ed. LTC,
Rio de Janeiro, 2006.
MACINTYRE, A.J. Bombas e Instalações de Bombeamento, pp 644. 2 ed. LTC, rio de Janeiro, 1997.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
onde
5
A. Price (Kempe's Engineers Year-Book. Morgan Brothers, Londres).
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
J é, portanto, a perda de carga unitária, expressa em coluna de líquido, por unidade de peso escoado
e por unidade de comprimento da tubulação. Depende do diâmetro da tubulação, da velocidade de
escoamento, de um fator de resistência ou coeficiente de atrito f, o qual, por sua vez, depende do
número de Reynolds (logo de V, d, ) e da rugosidade relativa є/d.
Darcy e Weisbach chegaram à expressão geral da perda de carga válida para qualquer líquido, que é
empregada no chamado Método moderno ou racional.
É a equação de Poiseuille.
6
Moody, L. F., ―Friction Factors for Pipe Flow‖, Transactions of the ASME, 66, 8, November 1944, PP. 671-684.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Através de ajustes de dados experimentais, várias expressões matemáticas foram criadas para o
cálculo do fator de atrito visando se evitar o uso do método gráfico. É curioso notar que, desde a
fórmula proposta por Chézy para o cálculo da perda de carga até nossos dias, surgiram inúmeras
outras. José M. de Azevedo Netto, e seu livro Manual de Hidráulica, Cap. 14, enumera mais de cem
autores de fórmulas, o que revela a importância da questão.
Dentre essas, a mais usual é a de Colebrook 7, cuja resolução para f é promovida por iterações.
𝜖
1 𝑑 2,51
= −2 log +
𝑓 0,5 3,7 𝑅𝑒 × 𝑓 0,5
7
Colebrook, C. F., ―Turbulent Flow in Pipes, with Particular Reference to the Transition Region between the
Smooth and Rough Pipe Laws‖. Journal of the Institution of Civil Engineers, London, 11, 1938-39, PP. 133-156.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Para acelerar o processo de iteração, Miller 8 sugere que a estimativa inicial seja dada pela seguinte
expressão
𝜖 −2
𝑑 5,74
𝑓0 = 0,25 log + 0,9
3,7 𝑅𝑒
Observação:
O gráfico 9 abaixo nos permite obter, para tubos de materiais diversos, os valores de coeficiente de
perda de carga f, conforme os diâmetros e a rugosidade, para o caso da água.
8
Miller, R. W., Flow Measurement Engineering Handbook, 3 ed. New York:McGraw-Hill, 1996.
9
MACINTYRE, A.J. Bombas e Instalações de Bombeamento, pp 653. 2 ed. LTC, rio de Janeiro, 1997.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
𝑙 𝑉2 𝑉2
𝐽=𝑓 =𝐾
𝑑 2𝑔 2𝑔
obtemos
𝑙
𝐾=𝑓
𝑑
ou seja, K é um valor representativo de influência do coeficiente de atrito, do comprimento e do
diâmetro, embora em certos casos ele possa ser constante mesmo com um desses valores variando.
A seguir são dados valores médios de K para os principais acidentes.
b) Saída 10 – Na saída de um fluido de uma tubulação, não importa a forma ou tipo de sistema, isto é,
para qualquer saída K = 1.
10
Flow on fluids through valves, fittings and pipe, Technical Paper NQ 410M, Crane Co.
11
SIMPSON, L.L. Process piping: functional design, Chemical Engineering, 14 de abril de 1969.
12
SIMPSON, LL. e WEIRICK, M.R., Desining plant piping, Chemical Engineering, 3 de abril de 1978.
13
Flow on fluids through valves, fittings and pipe, Technical Paper NQ 410M, Crane Co.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Válvulas Globo
Válvulas Borboleta
Válvulas em Ângulo
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
e) Válvulas de Bloqueio – Mesmo caso que as válvulas globo. Os valores de K são mostrados na
figura abaixo para cada tipo de válvula de bloqueio.
OBSERVAÇÃO:
–––––– 14
............15
No caso da válvula macho, o fator K pode ser obtido das características geométricas de construção 15
ou em função do ângulo de bloqueio 16.
14
Pipe friction manual, Nova York, Hydraulic Institute, 3a edição, 1961.
15
Flow on fluids through valves, fittings and pipe, Technical Paper N 410M, Crane Co.
16
GIBSON, AH. Hydraulic and its applications, Londres, Constable, 5 edição, 1952.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
g) Válvulas de Pé
OBSERVAÇÃO:
............ 17
–––––– 18
– – – – 19
17
Flow on fluids through valves, fittings and pipe, Technical Paper NQ 410M, Crane Co.
18
Pipe friction manual, Nova York, Hydraulic Institute, 3a edição, 1961.
19
MILLER, D.S. Internal Flow, Inglaterra, British Hydromechanics Research Association, Cranfield, 1971.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
ou
onde c é um coeficiente que depende de R, l e d. Para curvas inteiriças temos, para vários valores
de e R/d,os valores indicados abaixo para c.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Tratando-se de uma curva construída com trechos retos com ângulo a de 10 a 22°30',
deve-se fazer uma correção aumentando os valores encontrados na tabela anterior na medida
indicada na tabela mostrada a seguir.
𝑑2 2
Chamemos de n a relação
𝑑1
Para n compreendido entre 0,05 e 0,5 temos, para o coeficiente de perda de carga na redução
com estreitamento suave:
e a perda de carga é
Pode-se, com boa aproximação, calcular as perdas antes citadas pela fórmula
sendo K=0,30 no alargamento e K=0,15 no estreitamento. Deve-se usar para V o valor no trecho de
menor diâmetro.
Os valores de K variam conforme o sentido de entrada e saída da água na derivação e o ângulo de
inserção, conforme se observa na figura a seguir.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Este método consiste em fixar o valor do comprimento reto de tubulação que reproduziria, nas
mesmas condições, a mesma perda de carga que o acessório em questão. A Tabela 20 a seguir
apresenta os valores médios de comprimento equivalente para diversos tipos de acessórios.
20
KERN, R. Practical piping design, McGraw-Hill Book Companv (reprintda Chemical Engineering).
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Válvulas
Tendo obtido os comprimentos equivalentes dos n acessórios de uma tubulação, a perda de carga é
calculada como se a mesma fosse construída de um único trecho reto de comprimento le, tal que:
𝑛
𝑙𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑙𝑟𝑒𝑡𝑜 + 𝑙𝑒
1
A perda de carga total J, envolvendo acessórios e tubulação, será então:
𝑙𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑉 2
𝐽=𝑓
𝑑 2𝑔
A figura a seguir apresenta um ábaco que permite a correlação entre K e le para acessórios operando
em zona completamente turbulenta em tubos schedule 40.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Para a determinação rápida dos comprimentos equivalentes de tubulações para perdas de carga
localizadas, pode-se empregar o Diagrama da Crane Corporation (Flow of fluids through valves,
fittings and pipes), mostrado a seguir. Neste diagrama, ligando-se por uma reta o ponto da reta A,
correspondente à peça em questão, ao diâmetro indicado na reta B, obtém-se, na C, o comprimento
equivalente em metros. É bom notar que há uma apreciável discordância entre os valores das
perdas, apresentados nos catálogos dos fabricantes, para certas peças.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Um outro método que pode ser utilizado para cálculo de perdas de carga acidentais é baseado na
divisão do comprimento equivalente pelo diâmetro em questão, resultando no número de diâmetros
que somados dão o comprimento equivalente, isto é,
𝑙
= 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑑𝑖â𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜𝑠
𝑑
Existem tabelas, como a apresentada a seguir, que dão os valores l/d para várias peças.
Multiplicando-se o valor do número de diâmetros pelo valor do diâmetro, obtém-se o comprimento
equivalente. Este método é usado em programação para computadores.
Tabela 1 – Perda de carga para tubulações de aço schedule 40 bombeando água. (cont)
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Tabela 2 – Perda de carga para tubos de ferro revestidos de asfalto conduzindo água.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Tabela 3 – Perda de carga para fluidos viscosos em tubulação de aço schedule 40.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Tabela 3 – Perda de carga para fluidos viscosos em tubulação de aço schedule 40. (cont)
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Tabela 3 – Perda de carga para fluidos viscosos em tubulação de aço schedule 40. (cont)
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Tabela 3 – Perda de carga para fluidos viscosos em tubulação de aço schedule 40. (cont)
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
4.5. TUBULAÇÕES
Já vimos, na expressão do número de Reynolds, que é necessário saber o diâmetro da tubulação
para calculá-lo, assim como, que através da equação da continuidade podemos achar o diâmetro da
tubulação uma vez conhecidas a vazão e velocidade do fluido. Nos problemas de bombas ou de
escoamento de fluidos o diâmetro do tubo é muito importante.
Existem várias normas padronizando tubos para condução. A de maior interesse para o estudo de
bombas é a norma dimensional da ANSI (American National Standard Institute) fixando valores de
diâmetros comerciais e de espessuras de paredes para cada série (schedule) de tubos. As normas
que dão esta padronização são a ANSI.B.36.10 para tubos de aço carbono e aços de baixa liga e a
ANSI.B.36.19 para tubos de aço inoxidável, parcialmente reproduzidas na Tabela a seguir em
unidades métricas. É conveniente notar que até o diâmetro nominal de 12 in inclusive, esse diâmetro
não é nem o externo nem o interno. A partir de 14 in o diâmetro nominal corresponde ao diâmetro
externo. Para cada diâmetro nominal, o diâmetro externo é o mesmo, só alterando o diâmetro interno
em função da espessura ,de parede (série ou schedule). A série mais comum é a, 40, sendo também
usadas as séries 80 e 160 para tubos com até 2 in a fim de proporcionar certa resistência estrutural
própria.
As normas que tratam do projeto, flexibilidade, materiais, ligações, tensões, montagem, fabricação e
testes são as da ANSI.B.31. No caso de tubulações para refinarias de petróleo e indústrias químicas,
a norma específica é a ANSI.B.31.3 e para oleodutos ou gasodutos externos à refinaria, a
ANSI.B.31.4.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
5. ASSOCIAÇÃO DE TUBULAÇÕES
Sempre que encontramos um sistema com tubulações que apresentam variações no diâmetro no
decorrer de sua extensão, ou com ramificações, uma das maneiras de simplificar o problema é
encontrar uma tubulação que seja equivalente ao sistema em estudo. Podemos dizer que duas
tubulações são equivalentes quando são capazes de conduzir à mesma vazão sob a mesma perda
de carga.
Sabemos que
como
𝜋 𝑑2 4𝑄
𝑄 = 𝑆×𝑉 = ×𝑉 ⇒𝑉 =
4 𝜋 𝑑2
então
𝑙 4𝑄 𝜋𝑑 2 8 𝑄2
𝐽=𝑓 = 2 𝑓×𝑙 5
𝑑 2𝑔 𝜋 𝑔 𝑑
fazendo
8
𝐶=
𝜋2 𝑔
vamos obter
𝑄2
𝐽 =𝐶𝑓𝑙
𝑑5
𝐽 = 𝐽1 + 𝐽2
𝑄 = 𝑄1 = 𝑄2
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
então
𝑄2 𝑄12 𝑄22
𝐶𝑓𝑙 = 𝐶𝑓 𝑙
1 1 5 + 𝐶𝑓 𝑙
2 2 5
𝑑5 𝑑1 𝑑2
𝑓𝑙 𝑓1 𝑙1 𝑓2 𝑙2
= +
𝑑5 𝑑15 𝑑25
Para resolver esta equação é necessário, inicialmente, determinar os coeficientes de atrito (f).
Entretanto, uma solução aproximada, para fins estimativos, pode ser desenvolvida se os diâmetros
envolvidos d1, e d2 forem do mesmo material e de dimensões próximas. Neste caso, a variação do
valor de f é menos sensível, principalmente se o escoamento for do tipo completamente turbulento.
Neste caso, o diâmetro d é fixado como sendo igual a d1 ou d2 ou a média aritmética entre eles. Este
procedimento reforça a nossa consideração de que f = f1 = f2. Então, temos:
𝑙 𝑙1 𝑙2
5
= 5+ 5
𝑑 𝑑1 𝑑2
𝐽 = 𝐽1 = 𝐽2 = 𝐽3
𝑄 = 𝑄1 + 𝑄2 + 𝑄3
como
𝑄2
𝐽 =𝐶𝑓𝑙
𝑑5
então
𝐽 × 𝑑5
𝑄=
𝑓×𝐶×𝑙
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
e, analogamente,
𝐽1 × 𝑑15
𝑄1 =
𝑓1 × 𝐶 × 𝑙1
𝐽2 × 𝑑25
𝑄2 =
𝑓2 × 𝐶 × 𝑙2
𝐽3 × 𝑑35
𝑄3 =
𝑓3 × 𝐶 × 𝑙3
Neste caso, teríamos que supor uma distribuição inicial de vazões ou valores para os coeficientes de
atrito e posteriormente verificar a solução por um processo iterativo. Fazendo considerações
análogas àquelas desenvolvidas no estudo de tubulações em série, uma solução aproximada para
fins estimativos seria supor:
𝑓 = 𝑓1 = 𝑓2 = 𝑓3
então
𝑑5 𝑑15 𝑑25 𝑑35
= + +
𝑙 𝑙1 𝑙2 𝑙3
ou, generalizando,
𝑛
𝑑5 𝑑𝑖5
=
𝑙 𝑙𝑖
1
Em um sistema como este é praticamente impossível determinar, à primeira vista, o sentido do fluxo
nos diversos ramais. Entretanto, não importando a complexidade da rede, as seguintes equações
básicas devem ser obedecidas:
a) a soma dos fluxos que entram em cada junção é igual à soma dos fluxos que saem da junção,
isto é:
𝑚𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎 𝑛𝑑𝑜 = 𝑚𝑠𝑎𝑖𝑛𝑑𝑜
c) a soma algébrica das perdas de carga em volta de qualquer circuito fechado deve ser zero.
𝐽=0
Logicamente, alguma convenção deve ser adotada com relação aos sinais da perda de carga. Se o
sentido do fluxo na tubulação é na direção dos ponteiros do relógio, a perda de carga é considerada
positiva. É considerada negativa se o fluxo é em sentido oposto.
Assim sendo, o seguinte método pode ser usado na solução de redes:
a) Inspecionar o sistema e adotar uma distribuição de fluxo que atenda à condição (a);
b) Calcular a perda de carga em cada linha de tubulação;
c) Verificar se 𝐽 = 0 todos os circuitos fechados.
𝑄 = 𝑄0 + ∆𝑄
onde
Q – vazão real
Q0 – vazão assumida anteriormente
ΔQ – correção de vazão
𝐽 = 𝑐 × 𝑄 2 = 𝑐 𝑄0 + ∆𝑄 2
= 𝑐 𝑄02 + 2𝑄0 ∆𝑄 + ∆𝑄 2
𝐽 = 𝑐 𝑄02 + 2𝑄0 ∆𝑄
21
DAUGHERTY, R.L. e FRANZINI, J.B. Fluid mechanics and engineering applications, McGraw-Hill Book Company.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
− 𝑐 𝑄02 − 𝐽
𝑄= =
2𝑐 𝑄0 2 𝐽 𝑄0
É interessante notar que o numerador da equação acima corresponde a uma soma algébrica com a
convenção de sinais adotada no item (c) da presente discussão, enquanto que o denominador
corresponde a uma soma aritmética.
O sinal negativo indica que se houver um excesso de perda de carga na direção do ponteiro dos
relógios, ΔQ deve ser subtraído dos valores Q0 previamente assumidos nesta direção no circuito, e
somado aos Q0 na direção contrária dos ponteiros do relógio. Se ΔQ for positivo, o contrário deve ser
feito.
Após cada circuito ter sido corrigido para os novos valores de Q = Q0 ± ΔQ, provavelmente o 𝐽
ainda será diferente de zero devido à dupla correção que sofreram as linhas que pertencem a dois
circuitos fechados. Neste caso, um processo iterativo tem seguimento até o ponto onde as correções
ΔQ se tornam desprezíveis
𝑄
𝑑 = 1128
𝑉
Desta forma, se para determinada vazão de operação fixarmos o valor da velocidade adequada, a
equação acima dará uma estimativa do diâmetro de tubulação a ser utilizado. A Tabela 22 a seguir
serve a este propósito fornecendo valores de velocidade recomendada para tubulações de sucção
operando com água, óleos leves, líquidos saturados e líquidos viscosos.
22
Pumping Manual, Inglaterra, Trade and Technical Press Ltda.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
O diâmetro calculado através da equação deve ser aproximado para o diâmetro comercial
imediatamente superior.
Conforme dito anteriormente, o critério para tubulações de descarga é normalmente econômico visto
que, para uma dada vazão, um problema de análise de alternativas se configura desta forma:
a) Se o diâmetro (d) aumenta, a velocidade (V) diminui para uma determinada vazão (Q), a perda de
carga (J) diminui e, conseqüentemente, a potência consumida devido ao atrito (Pot) fricção diminui,
assim como os custos operacionais.
4𝑄 𝑙 𝑉2
𝑑 ↑⇒ 𝑉 = ↓⇒ 𝐽 = 𝑓 ↓⇒ 𝑃𝑜𝑡 𝑓𝑟𝑖𝑐 çã𝑜 =𝛾𝑄𝐽↓
𝜋 𝑑2 𝑑 2𝑔
b) Por outro lado, se o diâmetro (d) aumenta, o investimento inicial na linha aumenta.
Da discussão anterior fica claro que o diâmetro econômico será aquele que minimizar a soma dos
custos inicial e operacional. Entretanto vamos, inicialmente, analisar uma situação mais simples de
linha de descarga de pequeno porte. Neste caso, a pura adoção de velocidades recomendadas
através da prática como aparece na Tabela 23 abaixo oferece oportunidade para uma eficaz
determinação do diâmetro de descarga para uma determinada vazão (Q) através da Equação
anteriormente mostrada, aproximando ao diâmetro comercial mais próximo.
Esta solução simples pode não ser suficiente para a determinação do diâmetro em uma linha de
médio ou grande porte. Neste caso, tomaríamos esta solução como ponto de partida e
compararíamos o custo total desta alternativa com os custos totais dos diâmetros comerciais
imediatamente superior e inferior ao diâmetro comercial da solução simplificada. Nesta comparação
o leitor terá que fazer uso das equações e/ou tabelas de matemática financeira para calcular o valor
atual das quantias que serão desembolsadas a titulo de custo operacional, em épocas
predeterminadas, ao longo da vida útil da instalação. O custo total de cada alternativa seria então a
soma do custo inicial e do valor atual do custo operacional. Em instalações de grande porte, como
oleodutos, este estudo de alternativas pode ser feito de forma mais precisa através da inclusão de
outros custos, além do custo inicial da tubulação e do custo operacional, tais como: custo de
23
Pumping Manual, Inglaterra, Trade and Technical Press Ltda.
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
manutenção, custo de isolamento térmico (se houver), custo inicial de bomba e acionador, custo
inicial de acessórios etc.
Normalmente a análise das três alternativas acima citadas apontará o diâmetro econômico.
Entretanto, uma solução mais geral seria construir um gráfico tal qual ilustrado na figura abaixo e
verificar o diâmetro correspondente ao ponto de mínimo da curva do custo total.
Diagrama da Companhia Hansen Industrial para cálculo de perdas de carga em tubulações de PVC
rígido, para instalações prediais, série A
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Diagrama para o cálculo das tubulações pela fórmula de Williams-Hasen. (Cia. Ferro Brasileiro S.A.)
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Diagrama baseado na fórmula de Williams-Hasen para C = 100, de autoria do Prof. José Augusto
Martins, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Para C ≠100, multiplicar a perda de
carga pelo valor de K correspondente
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010
Diagrama para encanamentos de aço galvanizado para água fria. Fórmula de Fair-Whipple-Hsiao
(Autoria de Murillo S. de Pinho).
Máquinas Navais I – FENAV – ITEC – UFPA 2010