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METROLOGIA

AULA 4

Prof. Prof. Carlos Eduardo Costa


Prof. Emerson da Silva Seixas
CONVERSA INICIAL

Cada vez mais, a interação globalizada da tecnologia torna evidente a


importância da metrologia, visto que é por meio desta que faz possível a
intercambiabilidade de bens, por meio de produtos e serviços.
O Vocabulário Internacional de Metrologia (VIM) há tempos tem sido a
ferramenta número um, proporcionando às empresas, independentemente de
seu porte, a possibilidade de assumir e cumprir compromissos relacionados a
sistemas metrológicos com precisão e, consequentemente, credibilidade.
O Sistema Internacional (SI) e o sistema inglês se destacam na
metrologia, por meio das unidades base metro e polegada, respectivamente. O
sistema internacional se sobressai e é o adotado pelo Brasil, sendo que a
indústria da manufatura utiliza seus submúltiplos para a fabricação e controle de
peças e produtos, por meio das unidades fundamentais, suplementares e
derivadas.
Por meio das hierarquias dos padrões e laboratórios, se faz possível a
acreditação de instrumentos e sistemas metrológicos, qualificando indústrias,
reduzindo desperdícios, otimizando custos e assegurando um ambiente
saudável entre fornecedor e consumidor.
A rastreabilidade cada vez mais se torna imprescindível, não à procura de
culpados em caso de falhas, mas de abertura para o conhecimento de pontos
passíveis de melhorias.
Após esta breve introdução, convidamos você à dedicação, ao estudo e
posteriormente à continuidade por meio de verificações às referências indicadas,
na certeza da importância da metrologia como ferramenta básica para a melhoria
contínua, de peças, produtos e serviços.

TEMA 1 – UNIDADES DE MEDIDAS

1.1 Grandeza

Ressaltamos que os termos utilizados neste estudo estão de acordo com


o VIM, constando ao final todas as referências utilizadas neste trabalho.
De acordo com o VIM, grandeza e unidade são a “propriedade de um
fenômeno de um corpo ou de uma substância, que pode ser expressa
quantitativamente sob a forma de um número e de uma referência”.

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O conceito de grandeza pode ser genericamente dividido em, por
exemplo, grandeza física, grandeza química e grandeza biológica, ou grandeza
de base e grandeza derivada.
Há um aspecto comum a grandezas mutuamente comparáveis. Como
exemplo, citam-se as grandezas diâmetro, circunferência e comprimento de
onda, que são geralmente consideradas grandezas da mesma natureza, isto é,
da natureza da grandeza denominada comprimento.
O Sistema Internacional de Quantidades (International System of
Quantities – ISQ) está publicado nas séries ISO 80000 e IEC 80000 Quantities
and units.
Na sequência, citam-se as sete grandezas de base de acordo com o ISQ:
comprimento, massa, tempo, corrente elétrica, temperatura termodinâmica,
quantidade de substância e intensidade luminosa.
O Quadro 1 ilustra as sete grandezas básicas, seguidas de sua
simbologia.

Quadro 1 – Grandeza e simbologia

Fonte: VIM, 2012.

1.2 Unidade

Segundo o VIM, a grandeza escalar real é definida e adotada por


convenção, com a qual qualquer outra grandeza da mesma natureza pode ser

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comparada para expressar, na forma de um número, a razão entre as duas
grandezas. As unidades de medida são designadas por nomes e símbolos
atribuídos por convenção.
Em cada sistema coerente de unidades, há apenas uma unidade de base
para cada grandeza de base.
São exemplos de unidades bases:

• no SI, o metro é a unidade de base de comprimento;


• no sistema CGS, o centímetro é a unidade de base de comprimento.

Saiba mais

Atenção: uma unidade de base pode também servir para uma grandeza
derivada de mesma dimensão.
São exemplos de unidades derivadas:

• o metro por segundo, de símbolo m/s; e


• o centímetro por segundo, de símbolo cm/s, é uma unidade derivada de
velocidade no SI.

O sistema de unidades é o conjunto de unidades de base e de unidades


derivadas, juntamente com os seus múltiplos e submúltiplos, definidos de acordo
com regras dadas, para um dado sistema de grandezas.
Duas são as formas de se enquadrar os sistemas de unidades, conforme
apresentadas e exemplificadas no Quadro 2.

Quadro 2 – Sistemas de unidades coerente e fora do sistema

Sistema de Definição Exemplo


unidades
Coerente Baseado num dado sistema de Conjunto de unidades SI
coherent system grandezas, em que a unidade de medida coerentes e as relações entre
of units para cada grandeza derivada é uma elas.
unidade derivada coerente
Fora do sistema Sistema de medida que não pertence a O dia, a hora e o minuto são
off-system um dado sistema de unidades. unidades de medida de
measurement tempo fora do sistema com
unit respeito ao SI.
Fonte: VIM.

1.3 Sistemas de unidades

Dois são os sistemas de unidades metrológicas vigentes hoje no mundo:

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• o Sistema Internacional (SI), também chamado de sistema métrico; e
• o sistema inglês.

As unidades de medida para ambos são, respectivamente, o metro e a


polegada. Ambos são fundamentais, devido à já citada globalização e aos
benefícios oriundos da intercambiabilidade de peças.

Saiba mais

O Sistema de Unidades é baseado no Sistema Internacional de


Quantidades, com os nomes e os símbolos das unidades, incluindo uma série
de prefixos com seus nomes e símbolos, em conjunto com regras de utilização,
adotado pela Conferência Geral de Pesos e Medidas (CGPM).
Atenção: as unidades de base e as unidades derivadas coerentes do SI
formam um conjunto coerente, denominado conjunto de unidades SI coerentes.
O Brasil, de acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) e outras organizações responsáveis pela normatização industrial, utiliza
o Sistema Métrico. Porém, como tratado, o sistema inglês também é empregado
em determinados segmentos, principalmente pela origem, matriz de algumas
empresas e mesmo devido a muitos produtos, que apesar de nacionalizados
permaneceram com seu sistema de unidade.
No caso da indústria de fabricação, as medidas de comprimento são as
mais utilizadas. Para isso, são utilizados instrumentos adequados, de acordo
com a dimensão, geometria, precisão e exatidão desejadas.

TEMA 2 – PADRÕES DE MEDIDAS

2.1 Linha do tempo

Apresentamos uma breve linha do tempo sobre a evolução dos padrões


de medidas.
Em 1790, Charles M. Talleyrand propôs a décima milionésima parte de ¼
do meridiano terrestre como padrão internacional de medida. Logo, a este
padrão foi dado o nome de metro.
Em 1799, surge o Sistema Métrico Decimal, sendo que nesta data o
padrão foi corporificado em platina.

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Em 1862, D. Pedro II sanciona a Lei n. 1175, introduzindo o Sistema
Métrico Decimal no Brasil.
Em 1889, o padrão metro evolui de simples barra de platina para uma
barra com secção transversal em “X” (denominado protótipo a traços).
Em 1960, na França, foi estabelecido o Sistema Internacional de
Unidades (SI), também denominado como Sistema Métrico, durante a
Conferência Geral de Pesos e Medidas (CGPM).
Em 1983, a 17ª Conferência Geral dos Pesos e Medidas estabeleceu o
metro como sendo o comprimento do trajeto percorrido pela luz durante o
intervalo de tempo de 1/299.792.458 do segundo. A grande vantagem desta
definição é que se trata de um método natural e indestrutível.

2.2 Padrões de medida

De acordo com a área de atuação, o profissional responsável será


incumbido da escolha do padrão necessário e capaz de suprir as necessidades
técnicas, de acordo com o caso a ser verificado, situação ambiental e
instrumentos disponíveis. Também é interessante ressaltar que essas situações
estão diretamente relacionadas aos padrões de medidas a serem empregados,
sendo imprescindível o reconhecimento desses padrões.
Também é importante saber que o padrão de medição deve estar de
acordo com o preestabelecido já no projeto da peça ou produto a ser medido. De
acordo com o VIM 2012, o padrão de medição usa uma medida materializada,
por meio de um instrumento de medição, material de referência ou sistema de
medição destinado a definir, realizar, conservar ou reproduzir uma unidade, ou
um ou mais valores de uma grandeza, para servirem de referência.

2.3 Grupos de unidades

Por meio da padronização internacional de medição, sete unidades de


grandezas físicas foram tomadas como base, sendo: a massa, o comprimento,
o tempo, a corrente elétrica, a temperatura termodinâmica, a quantidade de
substância e a intensidade luminosa.
Com a finalidade de padronização e funcionalidades, os padrões de
unidades metrológicas são divididos em três grandes grupos, conforme abaixo:

• Grupo 1 – unidades fundamentais;

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• Grupo 2 – unidades suplementares;
• Grupo 3 – unidades derivadas.

Na sequência, há um breve relato sobre as sete unidades consideradas


básicas, pertencentes ao Grupo 1 (Unidades Fundamentais):

• Metro (m): é a unidade da grandeza comprimento e corresponde à


distância percorrida, no vácuo, pela luz em 1/299.792.458 de segundo;
• Quilograma (kg): é a unidade da grandeza massa e seu valor é derivado
da constante de Planck, cujo valor é 6,62607015 x 10-34J.s;
• Segundo (s): é a unidade da grandeza tempo e corresponde à duração
de 9.192.631.770 períodos da radiação na transição entre dois níveis
hiperfinos do átomo de césio-133 no estado fundamental;
• Ampere (A): é a unidade da grandeza corrente elétrica estabelecida em
termos de carga elementar, cujo valor é 1,602176634 x 10-19C;
• Kelvin (K): é a unidade da grandeza temperatura termodinâmica fixada
em termos da constante de Boltzmann, cujo valor é 1,380649 x 10-23J.K-1;
• Mol (mol): é a unidade da grandeza quantidade de matéria expressa em
termos da constante de Avogadro, cujo valor é 6,02214076 x 1023mol;
• Candela (cd): é a unidade da grandeza intensidade luminosa, definida
em termos de eficácia luminosa, cujo valor é 683 lm.W-1.

O Grupo 2, conhecido como Unidades Suplementares, apresenta o:

• Ângulo Plano (rad): sua unidade base é o Radiano;


• Ângulo Sólido (sr): sua unidade base é o Steradiano.

O Grupo 3 apresenta as Unidades Derivadas. Neste caso, as grandezas


podem ser expressas utilizando as unidades de base e símbolos das operações
de multiplicação e divisão:

• Área (m2): metro quadrado;


• Volume (m3):metro cúbico;
• Frequência (Hz): hertz;
• Densidade (Kg/m3): quilograma por metro cúbico;
• Velocidade (m/s): metro por segundo;
• Velocidade angular (HIERARQUIA rad/s): radiano por segundo;

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Sempre é bom ressaltar que todas as grandezas e unidades, assim como
de seus múltiplos, submúltiplos e derivações tem por objetivos, devem:

• manter a padronização;
• garantir a qualidade;
• permitir a reprodutibilidade e a repetibilidade;
• alimentar o mercado globalizado.

2.4 O metro

O metro é a unidade base do Sistema Internacional (SI), razão pela qual


este sistema também é conhecido como Sistema Métrico. Devido a
necessidades inerentes a cada aplicação, o metro pode ser desdobrado, ou seja,
utilizado através de seus múltiplos e submúltiplos.
A Resolução n. 3 (Conmetro, 1984), em concordância com o Inmetro e a
decisão da XVIII Conferência Geral de Pesos e Medidas, de 1883, assumiu a
definição do metro como sendo o comprimento do trajeto percorrido pela luz no
vácuo, durante o intervalo de tempo de 1/299.792.458 do segundo.
Anterior ao fato acima citado, e atualmente válido, o metro, até o ano de
1960, era definido como a distância entre duas linhas existentes em um protótipo
de platina iridiada, em laboratório especializado em Paris, sob a temperatura de
0°C e em condições de sustentabilidade perfeitamente definidas.
O múltiplo é utilizado para grandes distâncias, sendo assim denominado
porque é resultado de uma multiplicação que tem como referência o metro.
Por outro lado, os submúltiplos são orientados a pequenas dimensões,
sendo resultado de uma divisão que tem igualmente como referência o metro.
Seguem exemplos de aplicação para múltiplos e submúltiplos do metro:

• Múltiplos do metro: quilômetro (km), hectômetro (hm) e decâmetro (dam);


• Submúltiplos do metro: decímetro (dm), centímetro (cm) e milímetro (mm).

A tabela abaixo apresenta resumo do tratado anteriormente. Por meio


dela, verificam-se, a partir da unidade base, o metro, alguns de seus múltiplos,
na parte superior da tabela, estando abaixo dele seus submúltiplos.
Ainda observando a tabela, encontra-se na primeira coluna a definição do
termo, destacando o metro; na segunda coluna, sua simbologia, o “m”; na quarta
coluna, o seu expoente — no caso, igual a zero; e na sexta coluna, o valor

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numérico seguido da unidade. A mesma explicação vale para as demais
situações de múltiplos e submúltiplos.
Na sequência da Tabela 1, a Figura 1 ilustra o sistema considerado básico
e facilitador para a aplicação dos imprescindíveis, múltiplos e submúltiplos do
metro.

Tabela 1 – Múltiplos e submúltiplos do metro

Fonte: VIM, 2012.

Figura 1 – Sete unidades bases para a metrologia

Créditos: Ali DM/Shutterstock.

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2.5 Outras unidades

Além do metro, unidade base do SI, outras unidades são utilizadas com a
mesma finalidade de determinar valores dimensionais. Como exemplo, cita-se a
polegada, o pé, a jarda e a milha. Muitas vezes, essas unidades são citadas em
nossa literatura e eventualmente são utilizadas. No entanto, é de fundamental
importância seu conhecimento considerando a tecnologia globalizada.
O Quadro 3 abaixo apresenta algumas outras unidades, além das já
trabalhadas por meio do SI.

Quadro 3 – Unidades e valores

Definição Valor
Polegada 25,4 mm
Pé 0,3048 m
Jardas 0,9144 m
Milhas 1609,344 m

Fonte: Toledo, 2014.

TEMA 3 – HIERARQUIA DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO

3.1 Introdução

De acordo com o VIM, a determinação da hierarquia dos sistemas de


medição está vinculada à realização da definição de uma dada grandeza, com
um valor predeterminado e uma incerteza de medição associada, utilizada como
referência.
Considerando o fato, é interessante observar que a “realização da
definição de uma dada grandeza” pode ser fornecida por um sistema de
medição, uma medida materializada ou um material de referência. Também é
interessante ressaltar que um padrão de medição serve frequentemente de
referência na obtenção de valores medidos e incertezas de medição associadas
para outras grandezas da mesma natureza, estabelecendo assim uma
rastreabilidade metrológica através da calibração de outros padrões,
instrumentos de medição ou sistemas de medição.

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Saiba mais

Atenção: o valor da grandeza e a incerteza de medição devem ser


determinados no momento em que o padrão é utilizado, obedecendo também a
hierarquia.

3.2 Hierarquia dos padrões de medição

Todos os elementos e sistemas metrológicos, considerados como padrão,


devem ser rigorosamente preservados, obedecendo:

• armazenamento em ambiente adequado;


• cuidados específicos para sua utilização;
• verificação periódica de propriedades metrológicas; e
• calibração periódica.

Além dos cuidados citados, em função da precisão requerida, de sua


sensibilidade e dos custos envolvidos, os parâmetros ambientais também devem
ser obrigatoriamente seguidos, tendo em vista a vida e a validação dos padrões
de medição.
É sabido que o Inmetro é o órgão maior responsável pela acreditação de
padrões relacionados à gestão e à operação das funções estratégicas inerentes
ao topo da cadeia de rastreabilidade.
Porém, a confiabilidade de padrões, instrumentos e sistemas de medição
também podem ser acreditados por meio de comparação ou da reprodutibilidade
dos resultados de medição, tendo como referência resultados obtidos em outros
laboratórios considerados idôneos. É óbvio que tais laboratórios devem dispor
de elementos técnicos e pessoas devidamente treinadas e credenciadas
hierarquicamente.
O Quadro 4 apresenta os mais relevantes parâmetros de condições
importantes para a manutenção de padrões de medição.

Quadro 4 – Parâmetros de condições ambientais para controle e calibração de


referências

Para controle e calibração de padrões de padrões de referência


Parâmetro Calibração dimensional
Temperatura 20 +/- 0,3°C
Velocidade máxima de alteração da temperatura 0,5°C/h
Umidade relativa 35 a 55% e constante dentro de 2%
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Para controle e calibração de padrões e instrumentos industriais
Parâmetro Calibração dimensional
Temperatura 20 +/- 0,5°C
Velocidade máxima de alteração da temperatura 1°C/h
Umidade relativa 35 a 55% e constante dentro de 5%
Fonte: Toledo, 2014.

Os instrumentos de referência com ou sem valores atribuídos podem ser


utilizados para controlar a precisão de medição, enquanto apenas os
instrumentos de referência com valores atribuídos podem ser utilizados para a
calibração ou para o controle da veracidade de medição. Como instrumentos
com valores atribuídos, consideram-se os que têm escala direta sobre eles.
O Quadro 5 abaixo apresenta a hierarquia dos sistemas de medição,
seguido de breves esclarecimentos sobre elas.

Quadro 5 – Hierarquia dos sistemas de medição

Padrão Definição
Padrão de medição Padrão de medição reconhecido pelos signatários de um acordo
internacional internacional, tendo como propósito a sua utilização mundial.
Padrão de medição Padrão de medição reconhecido por uma entidade nacional para
nacional padrão servir dentro de um Estado ou economia, como base para atribuir
nacional valores a outros padrões de medição de grandezas da mesma
natureza.
Padrão de medição Padrão de medição estabelecido com auxílio de um procedimento
primário de medição primário ou criado como um artefato, escolhido por
convenção.
Padrão de medição Padrão de medição estabelecido por intermédio de uma
secundário calibração com referência a um padrão de medição primário de
uma grandeza da mesma natureza.
Padrão de medição de Padrão de medição estabelecido para a calibração de outros
referência padrão de padrões de grandezas da mesma natureza numa dada
referência organização ou num dado local.
Padrão de medição de Padrão de medição que é utilizado rotineiramente para calibrar ou
trabalho padrão de controlar instrumentos de medição ou sistemas de medição.
trabalho
Fonte: VIM, 2012.

A hierarquia dos sistemas de medição está relacionada à precisão


requerida ao produto, empresa e processo de fabricação.
Salienta-se também que o custo do produto está relacionado à sua
precisão de fabricação, ou seja, tendo em vista a otimização, a precisão de uma
peça não deve ser maior do que a requerida para seu funcionamento com
segurança.

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Conforme diversas vezes tratado neste estudo, o paquímetro universal e
o micrômetro estão dentre os instrumentos mais utilizados na indústria, porém
outros também se fazem necessários, e de acordo com o citado anteriormente,
a escolha deve ser tomada em função da operação.
Para esta indústria, o milímetro é normalmente a unidade mais
empregada, sendo esta um dos submúltiplos do metro, que é a unidade base do
Sistema Métrico.
A Figura 2 ilustra a aplicação de uma trena. Neste caso, uma peça cortada
com maçarico é medida por uma trena, indicando o valor de 2′′ (duas polegadas).

Figura 2 – Peça cortada com maçarico e medida com trena

Créditos: February_Love/Shutterstock.

TEMA 4 – HIERARQUIA DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO E DOS


LABORATÓRIOS DE METROLOGIA

Sempre é bom relembrar que a metrologia é a base para a identificação


de dimensões, de pesos, de temperatura, de pressão, de dureza, dentre outras
necessidades. Tais verificações podem ser realizadas através de modo direto,
utilizado normalmente para a verificação em lotes unitários, de pequena e média
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quantidade de peças. Por outro lado, a medição indireta ou por comparação é
realizada em lotes de grande produção ou produção em massa, sendo que neste
caso a verificação é realizada comparando-se a peça que se quer medir com o
padrão devidamente especificado.
A Figura 3 ilustra alguns dos principais instrumentos utilizados para a
verificação quantitativa de valores. Salienta-se que todos os instrumentos
apresentados são de leitura direta, ou seja, o resultado do valor a ser verificado
é identificado diretamente sobre ele.

Figura 3 – Instrumentos aplicados em metrologia

Créditos: OlgaKlyushina/Shutterstock.

Considerando a metrologia, de acordo com o VIM, como a ciência das


medições e suas aplicações, abrangendo todos os seus aspectos teóricos e
práticos, é de fundamental importância a divisão desta em áreas, com o intuito
de facilitar seu entendimento, aceitabilidade e difusão. Independentemente da
área de atuação, cabe a todas as organizações o conhecimento e a aplicação
consciente da metrologia em seus produtos e serviços, estando sujeito a
penalidades caso assim não o faça.
Quando devidamente aplicada, a metrologia e os laboratórios vinculados
à produção contribuem para a redução do desperdício de matéria-prima, por
meio da manutenção de seus instrumentos de medição sob condições
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suficientes ao controle do processo, reduzindo a possibilidade de retrabalho e
refugo na linha de manufatura.
Tendo em vista o fato citado, a metrologia e seus laboratórios, cujo
objetivo principal é manter a equidade de direitos e deveres entre o fornecedor
e consumidor, estão divididos nas três grandes áreas, já tratadas, porém sempre
interessante ressaltar:

• a metrologia científica;
• a metrologia industrial; e
• a metrologia legal.

A metrologia científica está diretamente relacionada a instrumentos


laboratoriais, ao desenvolvimento de pesquisas e metodologias científicas,
tomando por base padrões de medição nacionais e internacionais, visando altos
níveis de qualidade metrológica.
A Figura 4 ilustra a medição de um corpo de prova rompido após ensaio
de tração em laboratório credenciado, cujo objetivo foi de identificar a carga de
carregamento sobre sensores estrategicamente instalados na máquina de
tração.

Figura 4 – Medição de corpo de prova de tração

Créditos: N_Sakarin/Shutterstock.

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A metrologia industrial é a responsável por controlar os processos de
fabricação e os instrumentos de medição utilizados para tais situações, sendo
responsável também pela garantia da qualidade dos produtos acabados.
A Figura 5 ilustra o paquímetro digital, durante a medição de um parafuso,
conforme normalmente aplicado em linha de produção.

Figura 5 – Medição de um parafuso em linha de produção

Créditos: PEDRO L MERCHAN/Shutterstock.

Ainda sobre a aplicação da metrologia industrial, a Figura 6 ilustra o


processo de pré-set de uma ferramenta (fresa e cabeçote fresador).

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Figura 6 – Medição óptica durante pré-set de cabeçote fresador

Créditos: Alexander Tolstykh/Shutterstock.

A metrologia legal é de uso especial do cliente final. Por este meio, órgãos
específicos fiscalizam e controlam equipamentos e instrumentos utilizados no
comércio de mercadorias.
A Figura 7 ilustra o processo de calibração de uma balança de alta
precisão, equipamento normalmente utilizado em laboratórios. No caso,
apresenta-se um peso acreditado, utilizado como padrão, para verificar a
credibilidade da balança.

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Figura 7 – Calibração de balança de precisão para laboratório

Créditos: Travel mania/Shutterstock.

Mesmo considerando a utilização de instrumentos adequados e mão de


obra qualificada (requisitos básicos à confiabilidade metrológica), é fundamental
seguir a hierarquia metrológica, especialmente para laboratórios, e as
consequentes medições industriais, sabido que não há nenhum resultado em
metrologia que não seja acompanhado da respectiva incerteza. A clareza sobre
o assunto considera verificar se determinada medida e/ou o instrumento utilizado
estão dentro ou fora do erro máximo admissível.
Conhecida a situação, deve-se emitir certificado de calibração para os
padrões e instrumentos, e relatório de medidas para as verificações efetuadas,
documentação esta que deverá estar à disposição junto ao laboratório
metrológico da empresa, para análises e encaminhamentos de acordo com as
necessidades de auditorias e solicitações do cliente.
Em contrapartida, organizações têm correspondido mediante a adoção de
sistemas de gestão da qualidade, passíveis de certificação por entidades
acreditadas, certificando-se das normas ISO 9000 e ISO 14000. Normas que
definem, respectiva e explicitamente, uma relação entre gestão da qualidade e
do ambiente e a metrologia, estabelecendo diretrizes para se manter um controle

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sobre os instrumentos de medição, situação que se tornaria impossível sem a
intermediação efetiva dos laboratórios metrológicos.

TEMA 5 – RASTREABILIDADE METROLÓGICA

5.1 Rastreabilidade

Conforme tratado no início deste estudo, é impossível imaginar o dia a dia


e especialmente o mundo da tecnologia sem a metrologia e suas múltiplas
aplicações.
A rastreabilidade consiste na possibilidade da identificação e localização
de produtos, tendo em vista propiciar o também já tratado recall, ou inutilização
de produtos e peças, de acordo com a legislação, assegurando direitos e
segurança ao cliente.
Por meio da rastreabilidade, é possível chegar à origem, no caso
industrial, ao horário, turno de trabalho e máquina ferramenta. A intenção não é
punir o trabalhador, mas localizar a causa e propiciar a correção.
A Figura 8 ilustra situações e possibilidades tecnológicas, facilitadas
graças à rastreabilidade.

Figuras 8 – Situações facilitadoras para a rastreabilidade

Créditos: TarikVision; urbans; AJCespedes/Shutterstock.

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Para a indústria da manufatura, a Figura 9 ilustra paquímetros (de relógio
e digital) e micrômetro externo. Estes instrumentos podem ter sua condição de
utilização, de acordo com a conformidade, observadas através de blocos
padrões (ilustrado no conjunto de bloco padrão, na mesma figura).

Figura 9 – Instrumentos a serem verificados por meio do bloco padrão

Créditos: Rito Succeed/Shutterstock.

De acordo com o VIM, a rastreabilidade metrológica (metrological


traceability) consiste na propriedade de um resultado de medição pela qual tal
resultado pode ser relacionado a uma referência através de uma cadeia
ininterrupta e documentada de calibrações, cada uma contribuindo para a
incerteza de medição.

Saiba mais

Atenção: o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia


(Inmetro) é referência em qualidade no país, sendo o responsável direto pela
metrologia legal no Brasil. Isso faz com que o instituto tenha soberania sobre os
padrões metrológicos nacionais e, consequentemente, é um acreditador de
laboratórios.

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Para a validação da rastreabilidade, é imprescindível observar estes
pontos.

• Para esta definição, a “referência” pode ser uma definição de uma unidade
de medida por meio de sua realização prática, ou um procedimento de
medição que inclui a unidade de medida para uma grandeza não ordinal,
ou um padrão.
• A rastreabilidade metrológica requer uma hierarquia de calibração
estabelecida.

Saiba mais

Atenção aos seguintes itens.


1. A especificação da referência deve incluir a data em que ela foi utilizada
no estabelecimento da hierarquia de calibração, juntamente com qualquer outra
informação metrológica relevante sobre a referência, tal como a data em que foi
realizada a primeira calibração da hierarquia de calibração.
2. A rastreabilidade metrológica de um resultado de medição não
assegura a adequação da incerteza de medição para um dado objetivo ou a
ausência de erros humanos.
3. Uma comparação entre dois padrões pode ser considerada como uma
calibração se ela for utilizada para verificar e, se necessário, corrigir o valor e a
incerteza de medição atribuídos a um dos padrões.
4. São considerados elementos necessários para confirmar a
rastreabilidade metrológica: uma cadeia de rastreabilidade ininterrupta a um
padrão internacional ou a um padrão nacional, uma incerteza de medição
documentada, um procedimento de medição documentado, uma competência
técnica reconhecida, a rastreabilidade metrológica ao SI e intervalos entre
calibrações.

5.2 Cadeia de rastreabilidade

Segundo o VIM, define-se cadeia de rastreabilidade metrológica


(traceability chain) a sequência de padrões e calibrações utilizada para
relacionar um resultado de medição a uma referência.
Desse modo, uma cadeia de rastreabilidade metrológica é definida
através de uma hierarquia de calibração.

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O objetivo básico de uma cadeia de rastreabilidade metrológica é
estabelecer a rastreabilidade metrológica de um resultado de medição
A Figura 10 ilustra etapas e elementos observados pelo auditor, tendo em
vista a localização assertiva de um produto, tendo em vista a rastreabilidade.

Figura 10 – Etapas visando a rastreabilidade

Créditos: Inspiring/Shutterstock.

A rastreabilidade metrológica está atrelada à unidade de medida por meio


da sua realização prática. Quanto ao SI, a expressão rastreabilidade ao SI
significa rastreabilidade metrológica a uma unidade de medida do Sistema
Internacional de Unidades.
O Quadro 6 cita alguns dos elementos fundamentais quando se trata de
rastreabilidade metrológica.

Quadro 6 – Elementos fundamentais quando tratado sobre a rastreabilidade


metrológica

Item Definição Exemplo


Verificação Fornecimento de evidência objetiva Confirmação de que as
(Verification) de que um dado item satisfaz propriedades relativas ao
requisitos especificados. desempenho ou aos
requisitos legais são
satisfeitas por um sistema de
medição.
Validação Verificação na qual os requisitos Um procedimento de
(validation) especificados são adequados para medição, habitualmente
um uso pretendido. utilizado para a medição da
concentração mássica de
nitrogênio em água.
Comparabilidade Comparabilidade de resultados de Atenção: a comparabilidade
metrológica medição que, para grandezas de metrológica não necessita
(metrological uma dada natureza, são rastreáveis que os valores medidos e as
comparability) incertezas de medição

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metrologicamente à mesma associadas sejam da mesma
referência. ordem de grandeza.
Resolução Menor variação da grandeza medida
(resolution) que causa uma variação perceptível
na indicação.
Condição de regime Condição de funcionamento de um Atenção: as condições
estável instrumento de medição ou de um estipuladas devem
sistema de medição na qual a permanecer constantes
relação estabelecida pela calibração durante os ensaios.
permanece válida, até mesmo
quando o mensurando varia com o
tempo.
Fonte: VIM, 2012.

5.2 Para pensar, refletir, pesquisar

A necessidade de medir é muito antiga, e nos remete à antiguidade.


Atualmente, dispomos de vários laboratórios, padrões e instrumentos
direcionados, que em muito facilitam a verificação dimensional. Porém, nem
sempre foi assim. Imagine, por exemplo, há 4.000 anos atrás, quando não
existiam essas facilidades. Como eram realizadas tais verificações?

FINALIZANDO

Verificamos a importância sobre as unidades de medição, sobre a


hierarquia dos padrões e acreditação de laboratórios considerados idôneos, para
os diferentes níveis (internacional, nacional, nacional, de referência e de
trabalho) para as três grandes áreas da metrologia (científica, industrial e legal)
reconhecendo que toda medida possui determinado grau de incerteza, devendo
esta ser conhecida e controlada de modo a assegurar credibilidade entre
fornecedor e cliente.
Bons estudos!

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REFERÊNCIAS

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JOINT COMMITTEE FOR GUIDES IN METROLOGY. International Vocabulary


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200:2012. Traduzido por: grupo de trabalho luso-brasileiro ISBN: 978-85-86920-
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LIRA, F. A. Metrologia dimensional: técnicas de medição e instrumentos para


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