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Curso Profissional de Técnico de Produção em Metalomecânica

Tecnologia e Processos

Módulo 1 - Metrologia

Textos de Apoio

Professor: Paulo Oliveira


Textos de Apoio da Disciplina de Tecnologia e Processos – Módulo 1 - Metrologia

Índice de Conteúdos

Introdução …………..……………………………………………………………………………….. 2

1. Subsistema Nacional de Metrologia………………………………..……………………………. 3


1.1. Conceitos
1.2. Domínio de actividade
1.3. Estrutura nacional

2. Sistemas de unidades………………………………………………..…………………………….. 5
2.1. Generalidades
2.2. A metrologia em Portugal
2.3. O sistema internacional de unidades (S.I.)
2.4. Outros sistemas utilizados em Portugal
2.5. Vocabulário internacional de metrologia
2.6. Normas

3. Cadeias hierarquizadas de padrões……………………………………………………………… 10


3.1. Conceitos
3.2. Rastreabilidade e calibração
3.3. Cadeias hierarquizadas de padrões

4. Gestão dos instrumentos de medição……………………………………………………………. 13


4.1. Selecção dos instrumentos de medição
4.2. Recepção e entrada em serviço
4.3. Calibração e verificação
4.4. Exemplos de calibração

5. Factores de influência da medição……………………………….………………………………. 16


5.1. Generalidades
5.2. Métodos de medição
5.3. Erros de medição
5.3.1. Conceitos
5.3.2. Tipos de erros
5.4. Uso incorrecto dos instrumentos

6. Técnicas e instrumentos de medição…………………………………………………...………… 21


6.1. Generalidades
6.2. Metrologia dimensional
6.3. Metrologia da temperatura
6.4. Metrologia das massas
6.5. Metrologia eléctrica
6.6. Metrologia do tempo
6.7. Metrologia da intensidade luminosa
6.8. Metrologia das pressões

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Introdução

A origem da palavra Metrologia.

Metro logia

Metro – vem do Grego metron, “medida”, mais LOGON, “palavra, estudo, tratado”. Então podemos
dizer que metrologia é o estudo da medida ou ciência que estuda a medida.
Trata dos conceitos básicos, dos métodos, dos erros associados à medição e sua propagação, das
unidades e dos padrões envolvidos na quantificação de grandezas físicas, bem como da
caracterização do comportamento estático e dinâmico dos sistemas de medição.
O conceito de medir, em si, traz a ideia de comparação. Como só se pode comparar "coisas" de uma
mesma espécie, podemos definir medição como: a atividade de comparar uma grandeza com outra
de mesma espécie, tomada como unidade.
A metrologia é uma das funções básicas necessárias a todo Sistema de Garantia da Qualidade.
Efetivar a qualidade depende fundamentalmente da quantificação das características do produto e
do processo. Esta quantificação é conseguida por meio de: definição das unidades padronizadas
(conhecidas como unidades de medida, que permitem a conversão de abstrações como comprimento
e massa em grandezas quantificáveis como metro, quilograma, etc.), instrumentos que são
calibrados em termos destas unidades de medida padronizadas, uso destes instrumentos para
quantificar o medir os parâmetros do produto ou processo de análise.

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1. Subsistema Nacional da Metrologia

1.1. Conceitos
O Subsistema Nacional da Metrologia visa a garantia e a promoção do rigor das medições. O
Subsistema Nacional da Metrologia apoia-se em cadeias hierarquizadas de padrões de medida e
redes de laboratórios metrológicos de qualificação reconhecida. O controlo metrológico rege-se
pelos respetivos diplomas legais e regulamentares.
Sendo a Calibração o conjunto de operações que estabelece, em condições especificadas, a relação
entre os valores indicados por um instrumento de medição, ou os valores representados por um
material de referência, e os correspondentes valores conhecidos da grandeza a medir, é possível
definir Metrologia como a ciência que assegura os padrões fundamentais de medida e métodos de
calibração dos aparelhos utilizados na medição e ensaio das características dos produtos e do
controlo da produção.

1.2. Domínio da actividade


O domínio da metrologia enquanto Ciência da Medida é muito vasto pois em princípio há um
método de medida diferente para cada grandeza física. As boas técnicas de medida pressupõem,
portanto, a existência de padrões hierarquizados (primários, secundários, etc.) com esta finalidade.
O Laboratório Central de Metrologia (LCM) é responsável pela realização dos padrões primários
nacionais, através dos quais se estabelece em território nacional a rastreabilidade das medições a
padrões internacionais, assegurando, assim, o rigor dessas mesmas medições.

1.3. Estrutrura
O Subsistema Nacional de Metrologia tem como objetivo criar e garantir uma cadeia metrológica
devidamente hierarquizada por forma a promover a rastreabilidade de todas as medições efectuadas.
O campo de aplicação deste Subsistema estende-se por três níveis fundamentais, respectivamente:

• Metrologia Científica, fundamental ou de base


Este ramo da metrologia diz respeito à conservação, manutenção e desenvolvimento dos
padrões metrológicos nacionais e internacionais e apoia-se em laboratórios Nacionais;

• Metrologia Industrial ou Calibração


Este ramo da metrologia diz respeito às técnicas e processo de garantia de rastreabilidade
das medições feitas durante o processo de fabrico, inspecção e controlo de qualidade;

• Metrologia Legal
Este ramo da metrologia visa aspectos como as transacções comerciais, a saúde, a segurança,
a defesa do ambiente e das condições de trabalho, a economia de energia. As suas
implicações levam os Estados a legislar sobre estas matérias de modo a assegurar a defesa
do bem estar da sociedade (exº. bombas de gasolina, balanças nos supermercados).

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O IPQ dispõe actualmente de um Serviço de Metrologia que se encontra a desenvolver a sua


atividade exclusivamente na área da Metrologia Legal (Serviço de Metrologia Legal). Em termos
regulamentares, este Serviço define as metodologias e critérios aplicáveis à verificação da qualidade
dos instrumentos de medição sujeitos a imperativos legislativos; prepara e coordena a aplicação
legislação e outros tipos de regulamentação metrológica assim como coordena e empreende acções
de formação de pessoas na área de controlo metrológico. Este Serviço é ainda responsável pela
aprovação de modelos de instrumentos de medição no âmbito da regulamentação metrológica
existente e pela qualificação e acompanhamento de entidades diversas tais como os Serviços
Municipais de Metrologia o que é muitas vezes feito em colaboração com as Delegações Regionais
da Indústria e Energia do Ministério da Economia.

A atividade da Metrologia Legal no nosso país é regulamentar e tem por suporte uma estrutura
bastante descentralizada que é constituída, para além do Serviço de Metrologia Legal do IPQ, pelas
estruturas metrológicas ligadas às Delegações Regionais da Indústria e Energia do Ministério da
Economia, pelos Serviços Municipais de Metrologia e pelos Organismos de Verificação
Metrológica, sendo estes últimos entidades públicas ou privadas, devidamente acreditadas em
domínios específicos, a quem o Instituto concedeu autorização para o exercício da actividade
metrológica.

A Metrologia apoia-se nas metodologias definidas pelo Subsistema da Qualificação. Portugal


dispõe presentemente de um conjunto de laboratórios de Metrologia acreditados,
entre eles estão os seguintes:

o IEP (metrologia eléctrica);


o CATIM (metrologia dimensional e metrologia das temperaturas);
o TAP (metrologia dimensional e metrologia eléctrica);
o SISTEL (metrologia eléctrica);
o Laboratórios centrais e regionais de Metrologia.

Os serviços de calibração prestados pelo IPQ cobrem diversos instrumentos de medição de algumas
grandezas físicas, nomeadamente dimensões, massa, força, temperatura, tempo, volume e
quantidade de matéria. No que respeita às demais grandezas físicas, o IPQ tem protocolos com
outras entidades que cobrem alguns dos outros domínios metrológicos e que assim complementam
os do LCM. São os casos da electricidade no INETI e das radiações ionizantes na DGA, da acústica
e da força no LNEC, da óptica no CETO (Universidade do Porto) e da alta tensão eléctrica na EDP.

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2. Sistemas de unidades

2.1./2. Generalidades/Metrologia em Portugal


A medição faz parte da actividade humana desde as primeiras civilizações. É necessário medir ou
pesar os produtos que se compra, vende ou troca, bem como aqueles que se entregam ao rei ou ao
templo a título de imposto ou tributo. É necessário medir as distâncias e as superfícies dos terrenos.
É necessário definir as medidas dos edifícios que se pretende construir. A história da metrologia
está, como é óbvio, intimamente ligada à própria história da matemática.
Os vários sistemas de medidas usados em Portugal até ao século XIX cruzam influências romanas,
europeias e árabes, como podemos constatar na tabela I.

Até à introdução do sistema métrico decimal, as sucessivas reformas metrológicas não suprimiam
os vestígios dos antigos sistemas europeus, árabes e romanos.

2.3. Sistema Internacional de Unidades (S.I.)


O sistema internacional de unidades (S.I) foi criado em 1960 pela 11ª Conferência Internacional de
Pesos e Medidas e adoptado em Portugal, como sistema legal de unidades de medida.
O S.I é formado por um conjunto de unidades, que são chamadas de: Unidades de Base, Unidades
Derivadas, Unidades Suplementares e uma série de prefixos. A tabela indica as unidades de
base, bem como a grandeza associada e o respectivo símbolo.

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Tabela II – Unidades base

Tabela III – Unidades derivadas

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Unidades de ângulo (derivadas)

As unidades de ângulo - radiano e esterradiano - foram consideradas até 1995 como sendo
unidades suplementares.
Mas a 20ª CGPM, de Outubro de 1995, na sua 8ª Resolução, decidiu eliminar a classe de unidades
suplementares, passando estas a ser consideradas unidades derivadas.
Dada a sua importância, faz-se novamente chamada destas unidades, fazendo transcrição das
respectivas definições (Unidade de ângulo plano (radiano) - símbolo rad e Unidade de ângulo
sólido: esterradiano - símbolo sr).

Tabela IV - Múltiplos e submúltiplos do metro

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2.4. Outros Sistemas utilizados em Portugal


O Sistema Inglês
Vários padrões sob o nome comum de "unidades inglesas" foram utilizados em diferentes épocas,
em lugares diferentes e para coisas diferentes. Antes da Batalha de Hastings em 1066, o sistema
anglo-saxão de medidas era baseado em unidades de barleycorn (grãos de cevada) e gyrd (vara).
Este sistema, presumivelmente, tinha origens germânicas. Antes da conquista normanda, unidades
romanas foram reintroduzidas. O sistema resultante de unidades inglesas era uma combinação dos
sistemas anglo-saxão e romano.
O uso de unidades inglesas disseminou-se através da Grã-Bretanha e das colônias britânicas. Estas
unidades formam a base do Sistema Imperial antigamente utilizado nos países da Commonwealth e
no sistema usual utilizado nos Estados Unidos. Apesar dos dois sistemas serem bastante parecidos,
existem diferenças notáveis entre ambos.
Uma polegada de medida internacional mede exatamente 25,4 mm (por definição), mas uma
polegada de agrimensor dos EUA se define assim: 39,37 polegadas são exatamente um metro. Para
a maioria das aplicações, a diferença é insignificante (aproximadamente 3 mm por cada milha).

Unidades de comprimento do sistema Inglês e sua equivalência


1 Mil = 25,4 µm (micrometros)
1 Polegada (in) = 1.000 Mil = 0,00254 m = 2,54 cm = 25,4 mm
1 Pé (ft) = 12 in = 0,3048 m
1 Jarda (yd) = 3 ft = 36 in = 0,9144 m
1 Rod (rd) = 5,5 yd = 16,5 ft = 198 in = 5,0292 m
1 Corrente (ch) = 4 rd = 22 yd = 66 ft = 792 in = 20,1168 m
1 Furlong (fur) = 10 ch = 40 rd = 220 yd = 660 ft = 7.920 in = 201,168 m
1 Milha (mi) = 8 fur = 80 ch = 320 rd = 1.760 yd = 5.280 ft = 63.360 in = 1.609,344 m = 1,609347 km (agricultura)
1 Légua = 3 mi = 24 fur = 240 ch = 960 rd = 5.280 yd = 15.840 ft = 190.080 in = 4.828,032 m
Unidades de área do sistema Inglês e sua equivalência
1 polegada quadrada (sq in ou in²) = 6,4516 cm²
1 pé quadrado (sq ft ou ft²) = 144 in² = 929,0304 cm²
1 jarda quadrada (sq yd ou yd²) = 9 ft² = 1.296 in² = 0,83612736 m²
1 rod quadrado (sq rd ou rd²) = 30,25 yd² = 272,25 ft² = 39.204 in² = 25,29285264 m²
1 acre (ac) = 4 roods = 160 rd² = 4.840 yd² = 43.560 ft² = 6.272.640 in² = 4.046,8564224 m²
1 milha quadrada (sq mi ou mi²) = 4 homesteads = 640 ac = 2.560 roods = 102.400 rd² = 3.097.600 yd² = 27.878.400
ft² = 4.014.489.600 in² = 2,589988110336 km²
1 légua quadrada = 9 mi² = 36 homesteads = 5.760 ac = 23.040 roods = 921.600 rd² = 27.878.400 yd² = 250.905.600
ft² = 36.130.406.400 in² = 23,3 km²
Volume em sólidos do Sistema Inglês e sua equivalência
1 polegada cúbica (in³ ou cu in)= 16,387064 cm³
1 pé cúbico (ft³ ou cu ft) = 1.728 in³ = 28,316846592 dm³
1 jarda cúbica (yd³ ou cu yd) = 27 ft³ = 46.656 in³ = 764,554857984 dm³
Volume em líquidos do Sistema Inglês e sua equivalência
1 Onça líquida ou fluida (fl oz) = 8 fl dr = 480 minims = 29,5735295625 ml
1 Quarto (qt) = 2 pt = 8 gills = 32 fl oz = 256 fl dr = 15.360 minims = 946,352946 ml
1 Galão (gal) = 4 qt = 8 pt = 32 gills = 128 fl oz = 1.024 fl dr = 61.440 minims = 3,785411784 L
1 Barril = 42 gal = 168 qt = 336 pt = 1.344 gills = 5.376 fl oz = 43.008 fl dr = 2.580.480 minims = 158,987294928 L

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2.5. Vocabulário Internacional de Metrologia (VIM)


O Vocabulário Internacional de Metrologia fornece um conjunto de definições e termos associados
em português, e de termos associados em inglês, francês e espanhol, para um sistema de conceitos
fundamentais e gerais utilizados em metrologia, além de diagramas conceptuais para ilustrar as suas
relações. Para muitas definições, são fornecidas informações adicionais sob a forma de exemplos e
notas.
O VIM pretende ser uma referência comum para cientistas e engenheiros – incluindo físicos,
químicos, cientistas médicos – assim como professores e técnicos envolvidos no planear e realizar
medições, independentemente do nível de incerteza de medição e do campo de aplicação. Propõe-se
ser também uma referência para organismos governamentais e intergovernamentais, associações
comerciais, organismos de acreditação, agências reguladoras e associações profissionais.
Conceitos utilizados em diferentes abordagens para descrever as medições são apresentados
conjuntamente. As organizações-membro do JCGM podem selecionar os conceitos e definições de
acordo com as suas terminologias respetivas. Contudo, este Vocabulário pretende promover a
harmonização global da terminologia utilizada em metrologia. O VIM está dividido em 5 capítulos:

1 - Grandezas e unidades;

2 – Medição;

3 - Dispositivos de medição;

4 - Propriedades dos dispositivos de medição;

5 - Padrões de medição.

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3. Cadeias hierarquizadas de padrões

Um padrão é um instrumento de medição ou sistema de medição destinado a definir ou


materializar, conservar ou reproduzir, uma unidade ou um ou vários valores conhecidos de uma
grandeza para as transmitir por comparação a outros instrumentos de medição. Exemplos:

• Padrão de massa de 1 kg
• Bloco-padrão
• Resistência-padrão
• Pilha-padrão de weston
• Padrão atómico de césio de frequência
• Padrões de volume dos reis

Existem vários conceitos de padrões, dependendo do grau de incerteza do âmbito de aplicação e até
do local onde são utilizados.
O padrão que apresenta as mais elevadas qualidades metrológicas, num dado domínio, chama-se
"padrão primário".
Um padrão secundário é aquele cujo valor é fixado por comparação com um padrão primário.
A um padrão reconhecido por um acordo internacional para servir de base internacional à fixação
dos valores de todos os outros padrões da grandeza a que respeita chama-se padrão
internacional.
O padrão nacional corresponde a um padrão reconhecido por uma determinação legal, nacional,
para servir de base em um país à fixação dos valores de todos os outros padrões da grandeza a que
respeita.
Ao padrão da mais elevada qualidade metrológica disponível num dado local, do qual derivam as
medições efetuadas nesse local, chama-se padrão de referência.
Ao padrão que é utilizado correntemente para calibrar ou verificar os instrumentos de medição, e
que habitualmente é calibrado por comparação com o padrão de referência, chama-se padrão de
trabalho.
Um padrão, para o ser e, como tal, ser reconhecido, tem de possuir determinados atributos e
elementos, sob pena de não passar de um qualquer instrumento ou sistema.
Uma boa estabilidade é uma condição indispensável para um padrão e, ao mesmo tempo,
determinante para a sua reprodutibilidade. Devem, assim, existir processos que permitam conhecer
e avaliar a deriva dos padrões.
A periodicidade de calibração corresponde ao tempo decorrido entre duas calibrações consecutivas.
O estabelecimento de periodicidade adequada à calibração de um padrão, a qualquer nível, deve ser
determinado em função do seu historial, da sua estabilidade, utilização, conservação e nível de
incerteza.
Para além da sua identificação própria, da sua caracterização e da avaliação das qualidades
metrológicas, naturalmente efetuada com um ou mais padrões de nível superior, estão associadas
aos "padrões", em geral, outras exigências que têm a ver, nomeadamente, com:
• O domínio de medição em que é válido (alcance, gama, etc.);
• O processo de medição na sua realização (princípios, métodos, procedimentos, incerteza, etc.);
• As condições de utilização e de referência;

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• Os procedimentos de manutenção e conservação;


• Os registos das utilizações.
O estatuto de "padrão" só pode, pois, ser dado a um instrumento ou sistema de medição particular
se forem satisfeitas aquelas condições que o evidenciem.

Rastreabilidade
O resultado de uma medição deve poder relacionar-se a padrões adequados, geralmente
internacionais ou nacionais, por intermédio de uma cadeia ininterrupta de comparações. A esta
propriedade de um resultado de uma medição, chama--se "rastreabilidade".
Rastreabilidade é, pois, um atributo essencial a qualquer padrão, a qualquer nível, sob pena de se
desconhecer a qualidade das medições executadas com ele.
Numa empresa, laboratório ou organismo, consoante as suas necessidades ou meios próprios, deve
existir uma cadeia hierarquizada própria que organiza a rastreabilidade dos diferentes padrões
existentes, definindo-lhe, portanto, o seu nível e finalidade.
Estas cadeias hierarquizadas, em derivação à nacional, podem ter um ou mais pontos de
rastreabilidade a diferentes níveis na cadeia nacional, consoante as necessidades e interesses das
entidades delas detentoras.
São até, por vezes, desejáveis intercomparações entre laboratórios em certos domínios particulares,
como forma de melhor conhecimento e determinação da incerteza envolvida na medição.
Esta circunstância, porém, não invalida a necessidade absoluta de "rastreabilidade" a um padrão
nacional ou internacional.

Calibração
Conjunto de operações que estabelecem, em condições especificadas, a relação entre os valores
indicados por um instrumento de medição, ou os valores representados por um material de
referência e os correspondentes valores conhecidos da grandeza a medir.
Importa ter em atenção que:
• O resultado da calibração permite a estimativa dos erros de indicação do instrumento de medição,
ou do sistema de medição, ou a fixação de valores para as referências em escalas arbitrárias;
• A calibração pode também determinar outras propriedades metrológicas;
• O resultado da calibração deve ser registado em um documento, por vezes chamado "certificado
de calibração" ou "relatório de calibração";
• O resultado da calibração é, frequentemente, expresso como um factor de calibração ou como uma
série de factores de calibração, sob a forma de uma curva de calibração.

Cadeias hierarquizadas de padrões


Uma vez conhecidos os conceitos acerca dos diversos padrões e os seus objectivos, passaremos a
expor a forma como organizá-los e a definir a sua hierarquização.
As regras base da hierarquização dos padrões e os diversos níveis principais estabelecem as
denominadas cadeias hierarquizadas de padrões.
Uma cadeia hierarquizada de padrões deve transmitir informação sobre os padrões nela incluídos,
no que diz respeito a:

• Princípios de realização;

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• Incertezas;
• Domínios de medição que são válidos;
• Métodos e dispositivos de transferência;
• Estabilidade e reprodutibilidade;
• Periodicidade de calibração;
• Recomendações de conservação;
• Princípios de realização dos padrões;
• Domínio de validade dos padrões.

Numa mesma cadeia, a um mesmo nível, por vezes, é necessário definir padrões diversos, válidos
em domínios de utilização particular (gama, tipo de utilização, etc.).
Deve ser possível comparar resultados das medições efectuadas pelos diferentes padrões em zonas
da vizinhança ou para valores comuns.
Ligação entre os padrões
A ligação entre padrões de nível diferente deve estabelecer-se rastreando (calibrando ou
comparando) um padrão de nível "N" com um padrão de nível "N-1".
A passagem de um nível a outro, na mesma cadeia, acarreta, em regra, uma relação entre as duas
incertezas não inferior a 2:10.
Um Laboratório de Metrologia, para ser considerado como tal, a qualquer nível, tem de possuir, no
mínimo, em domínio determinado, padrões a dois níveis de incerteza diferenciados, por exemplo,
padrão de referência e padrão de trabalho.
Em regra, um laboratório possui padrões devidamente hierarquizados em mais do que dois níveis na
mesma cadeia.
A cadeia de um laboratório, qualquer que seja, deve articular-se com a cadeia hierarquizada
nacional, mediante a rastreabilidade do seu padrão de referência ao padrão do nível imediatamente
superior na cadeia nacional. Exemplos de Cadeias Hierarquizadas:

• Temperatura;
• Comprimento;
• Ângulo.

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4. Gestão dos instrumentos de medição

4.1. Seleção dos instrumentos de medição


A gestão dos instrumentos de medição abrange o conjunto das ações a desenvolver para constituir e
manter o parque de instrumentos de medição necessário à satisfação das necessidades da
empresa/indústria. Esta gestão deve ter em conta:

1- A análise da necessidade e a escolha dos instrumentos de medição;


2- A receção, a colocação em serviço e o acompanhamento dos instrumentos;
3- A calibração ou verificação dos instrumentos e as decisões que daí decorrem.

Diversos fatores devem ser considerados antes de escolher os instrumentos de medição a adquirir:

a) Necessidades técnicas;
b) Condições comerciais;
c) Experiência e avaliação anteriores desses instrumentos.

As necessidades técnicas da empresa vão condicionar as características técnicas dos instrumentos


de medição a adquirir.
Devemos ter em conta, por exemplo, que a qualidade da medição dos instrumentos de medição
depende da exigência requerida pela empresa em termos de exatidão das medições.
Quando da aquisição de vários instrumentos, devemos preservar a homogeneidade do parque de
instrumentos. Repare-se que, por exemplo, se todos os instrumentos de medição adquiridos para
uma dada função forem das mesmas marca e modelo, reduzem-se os custos, tanto de formação dos
utilizadores como de manutenção desse equipamento.
Hoje em dia, a modularidade da instrumentação é um fator fundamental que deve ser considerado.
A modularidade reflete-se na possibilidade de evolução dos instrumentos de medição, a fim de
limitar os riscos de estes se tornarem obsoletos, permitindo à empresa fazer evoluções quando se
achar necessário. Tomem-se como exemplo determinados instrumentos de medição digitais que
permitem acrescentar funcionalidades a partir da aquisição de módulos de software (alguns
osciloscópios digitais, por exemplo).
Para os instrumentos novos ou que fujam do quadro habitual da empresa, pode ser importante
prever, com o fornecedor, as condições e o conteúdo da assistência técnica a prestar-lhes, pelo
menos no início da sua utilização (caso da formação ao pessoal sobre um dado equipamento).
É necessário prever o envio (pelo fornecedor dos instrumentos de medição) da documentação
necessária à utilização, ao ajuste e à colocação em serviço dos instrumentos.
Qualquer instrumento de medição deverá vir acompanhado do respetivo manual técnico,
fundamental para uma utilização adequada.
Para instrumentos de medição específicos e/ou complexos, é recomendável estabelecer um caderno
de encargos técnico que defina as características requeridas, as condições de utilização, de ambiente
e de manutenção, as exigências particulares relativas à calibração ou à verificação e as condições de
receção.
As condições económicas devem ser objeto de um caderno de encargos comercial, a ser
estabelecido conjuntamente pelo departamento de compras e pelo departamento (ou responsável)

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metrológico da empresa, especificando fatores como a opção entre a compra e o aluguer do


instrumento de medição, preços, prazos de entrega, garantias, contrato de manutenção, e exigências
de disponibilidade (tempo de indisponibilidade admissível, tempo de reparação, etc.).
Avaliações Anteriores do Instrumento de Medição
A escolha de um instrumento de medição pode também ter em conta avaliações resultantes da
experiência adquirida na própria empresa ou noutras empresas, ou feitas por centros tecnológicos
especializados no domínio em causa.

4.2. Receção e entrada em serviço


Após a chegada de um instrumento de medição à empresa (antes da entrada em serviço), o
departamento (ou responsável) metrológico deve assegurar-se se este está em conformidade com as
características técnicas especificadas pelo fabricante, nomeadamente as características de exatidão.
Para isso é necessário proceder à sua calibração ou verificação, permitindo determinar ou confirmar
a classe do instrumento. Após esta operação, deve efetuar-se uma marcação relativa a esta
“primeira” calibração ou verificação, iniciando-se assim a contagem da periodicidade de
calibração.
Após efetuada a receção e a inventariação do equipamento, e verificadas as suas características
metrológicas, procede-se à sua instalação e à sua entrada em serviço, devendo respeitar-se
nomeadamente os requisitos de instalação e utilização definidos pelo fabricante (posição do
instrumento, tensão e frequência de alimentação, temperatura, humidade, etc.).
É ainda fundamental garantir a qualificação dos operadores destes instrumentos, devendo tomar-se
em conta, por exemplo, a língua em que estão escritos os seus manuais técnicos destes
equipamentos.

4.3. Calibração e Verificação


De tanto em tanto tempo, é necessário verificar se os instrumentos de medição mantêm as suas
características de qualidade. Existe então a necessidade de efetuar a calibração e/ou verificação dos
instrumentos, operações indispensáveis que validam (ou não) as indicações fornecidas pelos
instrumentos de medição.

As operações de calibração e de verificação são ambas baseadas na comparação do instrumento de


medição com um instrumento padrão de modo a determinar a sua exatidão e verificar se essa
exatidão continua de acordo com a especificação do fabricante.

A incerteza de calibração deve ser suficientemente pequena relativamente aos limites de erro
admissíveis do instrumento a calibrar. São habitualmente fixadas, entre estes dois valores, relações
compreendidas entre 1:10 e 1:4. Por exemplo, um instrumento com uma incerteza de 2% da leitura
pode ser calibrado com um instrumento padrão de 0,2% de incerteza (relação de 1:10).
Nota: O VIM ([IPQ, 1996]) define calibração como o “conjunto de operações que estabelecem, em
condições especificadas, a relação entre valores de grandezas indicados por um instrumento de
medição ou sistema de medição, ou valores representados por uma medida materializada ou um
material de referência e os correspondentes valores realizados por padrões”.

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O resultado de uma calibração é considerado como sendo o conjunto dos valores resultantes da
comparação dos resultados fornecidos pelo instrumento de medição com os valores materializados
pelo padrão. O resultado da calibração pode ser registado num documento, por vezes chamado de
certificado de calibração ou relatório de calibração, cuja exploração permite diminuir a incerteza
das medições obtidas com o instrumento.

O resultado de uma verificação permite afirmar se o instrumento de medição satisfaz ou não às


prescrições (especificações) regulamentares previamente fixadas (limites de erro admissíveis) que
autorizam a sua entrada ou continuação em serviço. Uma verificação poderá ser feita comparando
os resultados de uma calibração com os limites de erro admissíveis ou diretamente com um padrão
que materializa as indicações limites admissíveis do instrumento. Este último método não requer a
obtenção de resultados numéricos.

Uma constatação da conformidade com as especificações, significando que o instrumento pode


ser colocado em serviço. Uma constatação de não conformidade, conduzindo a uma decisão de
ajuste, reparação, reforma ou desclassificação do instrumento.
É importante notar que a calibração implica apenas resultados numéricos, ao passo que a
verificação implica um julgamento conducente a uma decisão.
Para fixar a periodicidade das calibrações, devem ter-se em conta fatores diversos, tais como a
frequência e o tipo de utilização dos instrumentos, o seu desgaste e as restrições económicas (da
empresa). No caso das verificações, a sua periodicidade é imposta pela regulamentação de controlo
metrológico.
Exemplos de períodos de calibração, dos quais se apresentam os seguintes, dependendo se se tratam
de padrões de referência (categoria A) ou padrões de trabalho e instrumentos de medição em geral
(categoria B):

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5. Factores de influência da medição

5.1. Generalidades
Quando se pretende fabricar uma determinada peça numa oficina, esta recebe um desenho no qual
estão representadas todas as indicações necessárias à sua execução, tais como:

- Forma da peça;
- Dimensão da peça;
- Grau de precisão a ser considerado;
- Tipo de acabamento;
- Tratamentos a conferir à peça.

Os instrumentos de medida são aparelhos através dos quais se procura conhecer com maior ou
menor grau de precisão as dimensões de uma peça.
A medição de uma dimensão ou ângulo é a determinação do seu valor, na unidade escolhida, tão
exactamente quanto possível.

5.2. Métodos de Medição


Para conhecermos o valor de uma dada grandeza, é obviamente necessário proceder a um
determinado conjunto de operações. À sequência lógica destas operações dá-se o nome de método
de medição.
Os métodos de medição podem classificar-se de diversas formas, mas as classificações mais
relevantes para a mecânica são os métodos de medição direta e os métodos de medição indireta.

Medições diretas e indiretas


As medições podem ser feitas de maneira directa, isto é, com um único ato obtém-se a medida da
grandeza. Por exemplo a medição de um comprimento de um objeto através de um instrumento
graduado (fita métrica).
As medições são indirectas quando realizadas através de um instrumento não graduado e por sua
vez transferidas para um instrumento graduado, onde se lê a medida. Por exemplo a medição do
comprimento de uma peça através de um compasso, que transfere a abertura do mesmo para uma
régua graduada onde se lê a medida.

5.3. Erros de Medição

5.3.1. Conceitos
Quando se faz a medição de uma grandeza, o valor encontrado não é o valor verdadeiro dessa
grandeza. Ao fazer a medição cometem-se erros de origem diversa, mas que afetam o valor obtido.
Esses erros podem depender da sensibilidade da pessoa que mede a grandeza, da qualidade do
aparelho, dos defeitos que o aparelho de medida possa ter e até de factores exteriores.

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5.3.2.Tipos de Erros

Sistemáticos
Os erros que ocorrem sempre em todas as medições efetuadas com um determinado aparelho, que
dependem do processo escolhido, dos defeitos do aparelho de medida, são chamados erros
sistemáticos. Estes erros afetam, sempre da mesma maneira, todas as medições obtidas com o
aparelho. Os defeitos que podem ocasionar erros sistemáticos são por exemplo, má construção do
aparelho e má aferição do aparelho. Se o aparelho está mal graduado e quando está na posição de
medição a que devia corresponder a marca 0 (zero), por exemplo, 0,2 mm, então tem as medidas
que efectuar vir acrescidas do valor 0,2 mm.

Aleatórios
Os erros que ocorrem apenas algumas vezes e são dependem de factores, tais como: o cuidado a ter
pelo operador na medida, efeitos da luz e variação da temperatura, são chamados erros fortuitos ou
acidentais. Estes erros afectam as medições algumas vezes, mas de uma forma que não é igual para
todas as medições. Umas vezes afectam as medidas para mais outras para menos. O próprio valor
do erro não é sempre igual.

Causas dos erros


Os erros podem ter várias causas, que se dividem nos seguintes grupos:

1. Deformações mecânicas dos aparelhos e das peças a medir;


1.1. Por excesso de pressão entra a peça e o aparelho de medida;
1.2. Por flexão ou torção dos aparelhos de medida.

2. Imperfeições mecânicas;
2.1. Defeitos e folgas nas articulações dos aparelhos de medida;
2.2. Defeitos de forma dos aparelhos de medida;
2.3. Atrito excessivo entre as partes dos aparelhos de medida;
2.4. Defeitos de centragem e alinhamento dos aparelhos de medida.

3. Dilatações térmicas.

Verdadeiro Valor de uma Grandeza


O verdadeiro valor de uma grandeza, é um valor ideal que não se pode conhecer exatamente. É o
valor, que carateriza a grandeza em condições bem definidas. Será o valor que tentamos conhecer
através da medição, mas que devido a erros, e insuficiências dos aparelhos de medida e outros
efeitos não conseguimos obter. Quando dizemos que um valor de um comprimento é de 23,35 mm,
assumimos que esse valer não é exato. Se fizermos a medição com um aparelho que nos permita
medir frações mais pequenas podemos obter o valor de 23,356 mm.

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Valor Convencionalmente Verdadeiro de uma Grandeza (VCVG)


Como não conseguimos conhecer o verdadeiro valor de uma grandeza, socorremo-nos do valor
convencionalmente verdadeiro da grandeza, que é um valor suficientemente próximo do verdadeiro
valor da grandeza e em relação ao qual difere de uma quantidade que pode ser desprezada para o
fim em vista. Suponhamos que o valor que mais se aproxima do verdadeiro valor de um
comprimento é 23,3567865 mm, mas para uma determinada finalidade o valor de 23,356 mm é
suficiente. Passa então a ser este valor o valor convencionalmente verdadeiro da grandeza.
Normalmente este valor e a média dos valores obtidos nas várias medições efetuadas.

Erro Absoluto (EA)


O erro absoluto é a diferença entre o valor de uma medição e o valor convencionalmente verdadeiro
da grandeza (VCVG).

Erro Relativo (ER)


O erro relativo cometido numa medição é o quociente entre o erro absoluto (EA) cometido na
medição e o valor convencionalmente verdadeiro da grandeza (VCVG).
Limite Superior do Erro
Dado que não se pode conhecer o verdadeiro valor de uma grandeza, na prática procura-se que o
erro cometido seja inferior a um valor que nos pareceu ser o mais adequado para a finalidade em
vista. A esse valor chamamos limite superior do erro. As medições que apresentem um erro superior
a esse valor não serão consideradas.

Exercício 1
O valor convencionalmente verdadeiro de uma grandeza é de 23,356 mm. Suponhamos que a Carla
Andreia efetuou três medições da grandeza em causa com os seguintes resultados: 23,359 mm;
23,340 mm e 23,356 mm.

a) Calcule os erros absolutos cometidos pela Carla Andreia.

EA1  Valor .da.medição  VCVG  23,359  23,356  0,003mm


EA2  Valor .da.medição  VCVG  23,340  23,356  0,016mm
EA3  Valor .da.medição  VCVG  23,356  23,356  0,000mm

b) Calcule os erros relativos efetuados pela Carla Andreia.

EA1 0,003
ER1  100%  100%  0,013%
VCVG 23,356
EA2  0,016
ER2  100%  100%  0,069%
VCVG 23,356
EA3 0,000
ER3  100%  100%  0,000%
VCVG 23,356

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Correção de Medidas Obtidas a Temperaturas Diferentes


Os materiais quando são aquecidos sofrem aumento da sua temperatura e como consequência desse
aquecimento dilatam, ou seja aumentam as suas dimensões. Quando os materiais são arrefecidos
diminuem a sua temperatura e contraem-se, ou seja, diminuem as suas dimensões. Estas dilatações e
contracções fazem variar as dimensões das peças e dos aparelhos de medição e verificação.
As dilatações e contrações não são iguais para todos os materiais. Cada material tem o seu
coeficiente de dilatação linear próprio. Este coeficiente indica qual a variação que a dimensão
linear, por exemplo, comprimento e largura sofre quando se verifica uma variação unitária de
temperatura. Em situações de medição ou verificação, as peças a medir ou verificar devem estar à
mesma temperatura dos aparelhos de medição ou verificação. Há ainda outras condicionantes como
a temperatura de referência, 20ºC. Se fizermos medições a temperaturas diferentes da de referência
há a necessidade de efetuar correcções às medidas obtidas. a formula seguinte explana a forma
como se efectuam as correcções de medidas lineares devida a dilatações:

L  L0    T ;

Em que:

L - Variação do comprimento devida à dilatação linear

T - Diferença entre a temperatura de medição e temperatura de referência (20ºC)

L0 – Comprimento da peça à temperatura indicada (neste caso 0ºC)

 - Coeficiente de dilatação linear

Tabela dos coeficientes de dilatação linear em °C-1

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Exercício 2

A Carla Andreia efetuou a medição do comprimento de um varão de aço à temperatura de 40ºC. O


paquímetro, que se encontrava à temperatura de referência (20ºC), registou a medida de 12,2 mm.

a) Qual a variação de comprimento da peça ( L = ?) sabendo que: ( L  L0    T ; )

L = ?

T = (40 °C -20 °C) = 20 °C

L40 = 12,2 mm

 aço – Retirou-se da tabela dos coeficientes de dilatação linear = 12  10-6 °C-1 = 0,000012 °C-1

Substituindo na fórmula anterior temos:

L  12,2  0,000012  20  0,002928mm

R: A peça dilatou 0,0029 mm

b) Qual o comprimento da peça a 20ºC ?

1º Sabemos que o comprimento da peça 40ºC (L40) = 12,2 mm (a peça estava dilatada);

2º Sabemos que a peça dilatou 0,0029mm ( L )

então:

L20 (comprimento da peça a 20ºC) = L40 (comprimento da peça 40ºC) – L (o que a peça dilatou)

L20 = 12,2 – 0.0029 = 12,197 mm

R: A peça tem um comprimento real de 12,197 mm

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6. Técnicas e instrumentos de medição

6.1. Definição de metro


O metro (m) é a unidade de comprimento do Sistema Internacional.
Um metro é o comprimento do trajecto percorrido pela luz no vazio, durante um intervalo de tempo
de 1/299 792 458 segundo.

6.2. Metrologia dimensional


Uma grande parte dos instrumentos de medida de comprimentos utiliza processos de divisão de
escalas em partes mais pequenas. O processo mais frequente é a utilização de nónios.

Fig. 1 - Exemplo de um instrumento de medida com nónio (paquímetro)

Os aparelhos de medida que usam nónio são constituídos por uma régua ou escala linear ou angular
principal, graduada, habitualmente, em milímetros ou graus (as angulares), tendo anexa outra régua
ou escala mais pequena, nónio, que pode deslizar junto da graduação da primeira (ver figuras 2 e 3).

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Fig. 2 - Nónio de resolução 0,1 mm

Chama-se natureza ou precisão do nónio ao menor comprimento que se pode medir com o nónio.
Pode exprimir-se pela fórmula:

Em que:
Dn é o número de divisões da régua do nónio que correspondem a Dr divisões da régua
principal.

Por exemplo: O nónio da figura 2 corresponde a tomar 9 divisões da régua principal (Dr) e dividi-
las, na régua do nónio, em 10 partes (Dn), ou seja, segundo a fórmula:

10  9 1
N   0,1 ;  Resolução do nónio de Natureza 10 = 0,1 (mm).
10 10

Nas escalas lineares existem os seguintes tipos de nónio: nónio de natureza 10; 20 e 50.

Exemplo de cálculo do nónio de natureza 50: corresponde a tomar 49 divisões da régua principal
e dividi-las, na régua do nónio, em 50 partes, ou seja, segundo a formula:

50  49 1
N   0,02 ;  Resolução do nónio de 50 = 0,02 (mm).
50 50

Fig. 3 - Nónio angular

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6.2.1 Aparelhos e instrumentos de medida

Escalas ou réguas graduadas


O meio mais elementar utilizado para a medição nas oficinas e controlo de qualidade é a escala, a
qual, para que seja completa e tenha carácter universal, deverá ser graduada em milímetros.

Fig. 4 – Régua ou escala graduada

São fabricadas em aço de boa qualidade, com um coeficiente de dilatação muito pequeno, com
graduação inicial em milímetros situada na extremidade esquerda, tendo, por vezes, na parte inicial,
uma graduação de 0,5 mm entre os traços.
As escalas ou réguas graduadas são fabricadas com diversos comprimentos; 150, 300, 500, 1 000,
1500 e 3 000 mm.

Fitas métricas
Como complemento das réguas graduadas temos as fitas métricas metálicas (Fig. 5).

Fig. 5 – Fita métrica

Paquímetro
Consiste numa régua ou haste rígida graduada em milímetros na parte inferior, com um
comprimento de 135 a 2 000 mm, sobre a qual se desloca um conjunto móvel chamado "cursor", em
cuja superfície está gravado o nónio. Os paquímetros são instrumentos de medição que servem para
medir dimensões interiores ou exteriores de peças, dispõem de nónio que garante geralmente uma
precisão até 0,02mm.
Na figura seguinte (fig. 6), representa-se esquematicamente um paquímetro, com duas escalas,
sendo a superior em polegadas.

Fig. 6 - Paquímetro

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Existe uma grande variedade de paquímetros para casos específicos, diferindo fundamentalmente na
forma das esperas ou maxilas (testeiros). Assim, existem paquímetros para medir diâmetros
exteriores, diâmetros interiores, espessuras, ranhuras, etc. Temos ainda os paquímetros digitais.

Fig. 7 – Vários tipos de paquímetros

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6.3. Metrologia da temperatura

Breve de
Medidas história da medição de temperatura
Energia Medidas de Potência
Os registos históricos existentes situam a primeira tentativa de estabelecer uma “escala de
UnidadeTemperaturas”
Símbolo porEquivalência
volta de 170 d.c. O médico grego Claudius Galenus de Pergamum (129 –
Unidade Símbolo Equivalência
joule 201) terá sugerido
J 1 J = 1 N.m
que as sensações de quente e de frio fossem watt medidas comWbase numa escala
-7
1 W =com
1 J/s
erg (cgs)quatro divisões
erg numeradas
1 erg = 1 xacima
10 Je abaixo de um ponto neutro.
horse power hp 1 hp = 745,7 W
hartee (au)Cerca de E 1714,
h 1 Eh = 4,4
Daniel x 10-18
Gabriel J
Fahrenheit (1686 – 1736), um fabricante holandês de instrumentos
cavalo vapor cv 1 cv = 0,9863 hp = 735,5 W
rydberg de precisão, Ry fabricou
1 Ry =um x 10-18 J de líquido em vidro, com mercúrio (em vez de álcool), cuja
2,2termómetro
repetibilidade
eletron-volt eV era a principal
1 eV = 1,6 x 10 qualidade.
-19
J De considerar ainda que o mercúrio não adere ao vidro,
permanece
oria termoquímica callíquido
th 1 entre
calth =uma
4,184vasta
J gama de temperaturas e a sua aparência prateada torna fácil a
leitura. Fahrenheit
loria internacional calIT 1obteve o primeiro
cal = 4,1868 J ponto da sua escala a partir de uma mistura de água, gelo e sal
(era a temperatura mais baixa que ele conseguia produzir) e atribuiu-lhe o valor 0 ºF.
caloria a 15 oC calIT 1 calIT ~ 4,1855 J
Cerca de 1742, Anders Celsius (1701 – 1744) propôs que o ponto de fusão do gelo e o ponto de
atmosfera-litro atm-l 1 atm-l = 101,325 J
ebulição da água fossem adoptados para definir uma escala de temperaturas. Curiosamente, atribuiu
itish Thermal Unit Btu 1 Btu = 1055,06 J
zero graus ao ponto de ebulição da água e 100 graus ao ponto de solidificação. Mais tarde Carolus
Linnaeus (1707 – 1778) de Upsula, Suécia, definiu a sua escala utilizando, também, o ponto de
fusão do gelo e o ponto de ebulição da água, sendo 0 e 100 graus, respectivamente (oposta da de
Celsius).
No início do século XIX, William Thomson Medidas deKelvin)
(Lord Pressão (1824 – 1907) desenvolveu uma escala
Termodinâmica universal baseada no coeficiente de expansão
Unidade Símbolo de umEquivalência
gás ideal. Kelvin verificou que
a pressão de um gás diminuía depascal 1/273 do valor inicial quando
Pa arrefecido
1 Pa = a1 volume
N/m2 constante de 0 a
-1ºC. Concluiu que a pressão seria nula quando o gás estivesse a -273ºC e como consequência a
atmosfera atm 1 atm = 101325 Pa
Temperatura também o seria, visto não haver agitação das moléculas (à luz da5 Física Clássica). A
bar bar 1 bar = 1 x 10 Pa
escala criada por Kelvin tem origem (zero) no zero absoluto e adopta como unidade o kelvin (K). A
torricceli Torr 1 Torr = 133,323 Pa
sua escala veio a tornar-se a base da moderna termometria.
Em 1859, William milímetro de mercúrio
John Macquorn (convencional)
Rankine mmHg
(1820 – 1872) 1 mmHg
propôs = 1 torrde temperatura na
outra escala
qual especificava 0 para libra
o por
zeropolegada
absoluto,quadrada
mas usava comopsi 1 psi =graus
base a escala 6895Fahrenheit.
Pa Devido à
escala de Rankine ter o mesmo milímetro de água
tamanho mmH2O 1 ommH
da escala de Fahrenheit, ponto2O de
= 9,86 Pa
congelamento da água
(32 ºF) e o ponto de ebulição da água (212 ºF) correspondem respectivamente a 491,67 °Ra e
671,67 °Ra. Esta escala foi mais tarde renomeada Rankine e sua unidade designada graus Rankine
(símbolo °Ra).
Medidas
A tabela seguinte apresenta algumas deconversões
Temperatura Termodinâmica
entre escalas de temperatura.

Unidade Símbolo Equivalência


kelvin K FORMULAS
o o
grau Celsius C T( C) = T (K) - 273,15
o
grau Fahrenheit F T(oF)= (1,8 x T(oC)) + 32
o
grau Rankine R T(ºR) = (5/9) x K

Tabela de conversões de unidades de temperatura.

Outras medidas
Unidade Símbolo Equivalência
mole mol 1 mol = 6,022 × 10 23
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6.4. Metrologia das massas

6.5. Metrologia elétrica

6.6. Metrologia do tempo

6.7. Metrologia da intensidade luminosa

6.8. Metrologia das pressões

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