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DESCRIÇÃO

Principais conceitos de Metrologia e unidades de medida, com base no Vocabulário


Internacional de Metrologia (VIM) e no Sistema Internacional de Unidades (SI).

PROPÓSITO
Conhecer a Metrologia a partir da interpretação de seus conceitos e da utilização das
unidades de medida do Sistema Internacional de Unidades (SI) nas atividades dos
laboratórios de calibrações e ensaios, nas avaliações de conformidade de produtos,
nas calibrações de equipamentos e instrumentos ou no dia a dia do controle de
processos de fabricação.

PREPARAÇÃO
É recomendável ter acesso ao Vocabulário Internacional de Metrologia (VIM), ao
Vocabulário Internacional de Metrologia Legal (VIML), ao Sistema Internacional de
Unidades (SI) e à norma ABNT NBR ISO/IEC 17025:2017.

OBJETIVOS

MÓDULO 1

Compreender conceitos básicos de Metrologia, com base no Vocabulário Internacional


de Metrologia

MÓDULO 2

Identificar os principais órgãos metrológicos que compõem o sistema metrológico


brasileiro

MÓDULO 3

Compreender alguns dos principais conceitos relacionados à metrologia industrial


UNIDADES DE MEDIDA E O SISTEMA
INTERNACIONAL DE UNIDADES

MÓDULO 1

 Compreender conceitos básicos de Metrologia, com base no Vocabulário


Internacional de Metrologia
INTRODUÇÃO À METROLOGIA

CONCEITOS BÁSICOS
O uso dos conceitos de Metrologia é fundamental nas medições realizadas em
laboratórios de ensaios, nas calibrações de equipamentos e instrumentos, nas
avaliações de conformidade de produtos e no controle da qualidade de peças
produzidas em processos de fabricação. Isso significa que a ciência das medições é
necessária para assegurar a confiabilidade metrológica em medições e calibrações.

SAIBA MAIS

O termo metrologia tem origem nas palavras gregas metron (medida) e logos (ciência).
Segundo o Vocabulário Internacional de Metrologia (VIM 2012) – conceitos
fundamentais e gerais e termos associados (aprovado pela Portaria n. 232, de 8 de
maio de 2012, da Presidência do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e
Tecnologia – Inmetro), tem a seguinte definição: metrologia é a “ciência da medição
e suas aplicações” (p. 16).

Ainda segundo o VIM 2012, medição, por sua vez, é o “processo de obtenção
experimental de um ou mais valores que podem ser, razoavelmente, atribuídos a
uma grandeza” (p. 16). A medição implica a comparação de grandezas ou a
contagem de entidades; portanto, não se aplica às propriedades qualitativas de forma
direta. Contudo, serve de referência para avaliação da qualidade.

Mas o que é qualidade e como se relaciona com as medições?

William Thomson, também conhecido por Lord Kelvin, trouxe grandes contribuições
para a Metrologia. Já no final do século XIX, ele acreditava que, quando se pode medir
aquilo de que se fala e expressando-se em números, é possível termos informações
relevantes. Mas quando não se pode realizar medições e expressá-las em números, o
conhecimento é limitado e insatisfatório. O conceito de qualidade tem várias
interpretações e é muito amplo.

Noriaki Kano difundiu, no ocidente, qualidade como produtos e serviços que atendem
ou excedem as expectativas do consumidor. Já Philip Crosby, um empresário e escritor
norte-americano, acreditava que a qualidade é a conformidade às especificações.
Juran, famoso estudioso desse processo, acreditava que a qualidade está associada à
adequação ao uso.

Observa-se que, dentre as muitas definições informais, qualidade significa ser


adequado ao uso, isto é, ter aparência, utilidade, performance, durabilidade,
conformidade e confiabilidade esperadas pelo cliente, seja o usuário final de um
produto ou a indústria.
Na prática, é mais fácil compreender a qualidade como atendimento às especificações.
Normalmente, tais especificações podem ser previamente definidas pelo cliente, pelo
fabricante, por uma norma (voluntária) ou por um regulamento (compulsório). Nesse
contexto de qualidade e competitividade, em que a questão técnica torna-se, também,
uma questão estratégica, surgem o conceito e as atividades de avaliação da
conformidade, definidas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia
(Inmetro) como:

PROCESSO SISTEMATIZADO, ACOMPANHADO E


AVALIADO, DE FORMA A PROPICIAR ADEQUADO
GRAU DE CONFIANÇA DE QUE UM PRODUTO,
PROCESSO OU SERVIÇO, OU AINDA UM
PROFISSIONAL, ATENDE A REQUISITOS
PREESTABELECIDOS EM NORMAS E
REGULAMENTOS TÉCNICOS COM O MENOR
CUSTO PARA A SOCIEDADE.

(INMETRO, 2015, p. 11)

A necessidade da avaliação da conformidade tem origem na aceleração da


globalização, que exige, para as relações nacionais e internacionais de comércio,
aspectos estratégicos que devem ser permanentemente levados em consideração
com o esgotamento de mercados tradicionais. Isso torna importante o aumento das
escalas de produção e o acesso a recursos humanos e matéria-prima, a menor custo,
para garantir a presença no mercado. (DANIEL, 2010)

Mas como avaliar a qualidade com o auxílio de medições?


No mundo globalizado, uma câmera produzida na China deve se encaixar
perfeitamente num celular projetado nos Estados Unidos e montado no Brasil,
conforme especificações de produção.

Imagem: Shutterstock.com.
 Figura 1 - Encaixe de câmera em celular.

Imagem: Shutterstock.com.
 Figura 2 - Produção de vacinas contra o Coronavírus.

Outro exemplo muito atual é a capacidade de produção conjunta de vacinas para o


combate à pandemia da Covid-19, como a Coronavac, desenvolvida pela parceria
entre a farmacêutica chinesa Sinovac e o Instituto Butantã, em São Paulo. O
ingrediente farmacêutico ativo (IFA) não é produzido no Brasil e há necessidade de ser
importado para se unir aos demais componentes para a produção das vacinas no país.

Durante todas as fases de produção, a Metrologia está presente, por exemplo, na


medição de componentes farmacêuticos, nos instrumentos para controle de
temperatura e umidade, e até no momento de uma aplicação, pois a seringa requer um
volume determinado a ser injetado.

VOCABULÁRIO INTERNACIONAL DE
METROLOGIA

 VOCÊ SABIA

O Vocabulário Internacional de Metrologia (VIM) surgiu no contexto da Metrologia


mundial da segunda metade do século XX, como uma resposta e uma fuga à síndrome
de Babel. Buscava a harmonização internacional das terminologias e definições
utilizadas nos campos da Metrologia e da Instrumentação.

Juntamente com outros dois documentos normativos, o Guia para a Expressão da


Incerteza de Medição (GUM), de 1993, e o Guia ISO 25, de 1978, contribuiu para
maior harmonização dos procedimentos e da expressão dos resultados de medições.
Tais documentos culminaram na publicação da norma ISO/IEC 17025:2000 –
Requisitos Gerais para a Competência de Laboratórios de Ensaio e Calibração (VIM,
2012).

A versão mais atual do VIM difundida no Brasil refere-se à 1ª edição luso-brasileira,


publicada em 2012, em língua portuguesa. Alguns conceitos básicos de Metrologia
extraídos do VIM 2012 serão apresentados aqui para melhor compreensão das
atividades metrológicas.
GUM
Guide to Expression of Uncertainty in Measurement

Segundo o item 1.1, grandeza é “propriedade de um fenômeno, de um corpo ou de


uma substância, que pode ser expressa quantitativamente sob a forma de um número
e de uma referência” (VIM, 2012, p. 2).

A grandeza pode ser mais genérica ou mais específica, por exemplo: comprimento,
comprimento de onda, comprimento de onda da radiação D do sódio. Quanto à
referência, pode ser uma unidade de medida, um procedimento de medição, um
material de referência ou uma combinação destes. Já o mensurando (item 2.3 do
VIM) é definido como “grandeza que se pretende medir” (VIM, 2012, p. 16).

 ATENÇÃO

O conceito de sistema de grandezas (item 1.3) é definido como “conjunto de


grandezas associado a um conjunto de relações não contraditórias entre estas
grandezas” (VIM, 2012, p. 3).

Importante acrescentar que todo sistema de grandezas possui dois subconjuntos de


grandezas, sendo um composto pelas grandezas de base e outro pelas grandezas
derivadas:

Grandeza de base (item 1.4)

É definida como “grandeza de um subconjunto escolhido, por convenção, de dado


sistema de grandezas, no qual nenhuma grandeza do subconjunto possa ser expressa
em função das outras” (VIM, 2012, p. 3).

Grandeza derivada (item 1.5)

É definida como “grandeza, num sistema de grandezas, definida em função das


grandezas de base desse sistema” (VIM, 2012, p. 4).

Vamos compreender melhor por meio de um exemplo?

 EXEMPLO

O comprimento, unidade metro (m), é uma grandeza de base. Ao utilizar uma régua
para determinar o volume de um bloco, você fará a medição dos três lados (a, b, c) do
bloco e multiplicará esses valores entre si (V   =  a  ×  b  ×  c) , determinando seu
volume por meio de cálculo (figura 3). Nesse caso, o volume, unidade metro cúbico
(m³), é uma grandeza derivada do comprimento.

Imagem: Raimundo Alves de Rezende.


 Figura 3 - Volume de um bloco.
O conjunto das unidades de base forma um sistema. O Sistema Internacional de
Grandezas (ISQ) (item 1.6) é entendido como “sistema de grandezas baseado nas
sete grandezas de base: comprimento, massa, tempo, corrente elétrica, temperatura
termodinâmica, quantidade de matéria e intensidade luminosa”

(VIM, 2012, p. 4).

O Sistema Internacional de Unidades (SI) (item 1.16) é baseado nas sete grandezas
de base do ISQ e definido como “sistema de unidades, baseado no Sistema
Internacional de Grandezas, com os nomes e os símbolos das unidades, incluindo
uma série de prefixos com seus nomes e símbolos, em conjunto com regras de
utilização, adotadas pela Conferência Geral de Pesos e Medidas (CGPM)” (VIM, 2012,
p. 8). Os nomes e os símbolos das unidades de base estão contidos no quadro 1.

Grandeza de base Unidade de base

Nome Nome Símbolo

comprimento metro m

massa kilograma kg

tempo segundo s

corrente elétrica ampere A

temperatura termodinâmica kelvin K

quantidade de matéria mole mol


intensidade luminosa candela cd

Quadro 1 - Nomes e símbolos das unidades de base.


Extraído de VIM (2012, p.9).


Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Observe que a grandeza massa, kilograma ou quilograma (kg) é, por convenção,
expressa com o uso de um prefixo (kilo – k). Como em todo sistema que objetiva a
harmonização, os prefixos do SI (múltiplos e submúltiplos das unidades) também
foram determinados e encontram-se na tabela 1.

 ATENÇÃO

Kilograma vem da palavra inglesa kilogram. No Brasil, escrevemos essa grandeza


como quilograma, mas continuamos adotando a forma internacional de
representação: kg.

Prefixo

Fator
Nome Símbolo

1024 yotta Y

1021 zetta z

1018 exa E

1015 peta P
1012 tera T

109 giga G

106 maga M

103 kilo k

102 hecto h

101 deca da

10-1 deci d

10-2 centi c

10-3 mili m

10-6 micro µ

10-9 nano n

pico p
10-12

10-15 femto f

10-18 atto a

10-21 zepto z

10-24 yocto y

Tabela 1 - Prefixos do SI.


Extraído de VIM (2012, p.9).


Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal

Há regras para a adequada expressão do valor de uma grandeza (item 1.19), que é o
“conjunto, formado por um número e por uma referência, que constitui a
expressão quantitativa de uma grandeza” (VIM, 2012, p. 11).

 EXEMPLO

O comprimento de uma corda 3,5m (metros) ou 350cm (centímetros); a massa de um


carro 1.800kg (quilogramas) ou 1,8Mg (megagramas); a corrente elétrica de um
gerador de 10A (amperes); a temperatura de um forno a gás 390K (kelvin) etc.
Observe que a forma adequada de expressar o valor de uma grandeza é acrescentar,
antes do símbolo da grandeza, o símbolo do múltiplo ou submúltiplo mais adequado ao
que se está medindo. Não se justifica, por exemplo, expressar no dia a dia o peso de
um veículo em gramas ou miligramas.
Outra questão importante quanto à adequada expressão de uma medição é a grafia
dos nomes das unidades, dos prefixos e o plural.

 EXEMPLO

1 microkelvin, 2 quilogramas, 3 mega-amperes, 5 mols, 12 milicandelas etc. Observe


que a formação do plural não segue as regras de grafia da língua portuguesa, pois
deve-se apenas acrescentar a letra “s” para a formação do plural.

É muito comum que seja feita a acentuação, porém, não há de se fazer acréscimo de
acentuação na grafia adequada das unidades. A grandeza temperatura
termodinâmica, unidade Kelvin (K), não deve ser expressa acrescentando o símbolo
grau “o ”. O símbolo deve estar em maiúsculo, o que o diferencia do prefixo quilo (k),
em minúsculo.

Outro conceito importante é o resultado de uma medição (item 2.9), que se refere ao
“conjunto de valores atribuídos a um mensurando, juntamente a toda outra informação
pertinente disponível” (VIM, 2012, p. 18).

Um resultado de medição é geralmente expresso por um único valor medido e uma


incerteza de medição. Um exemplo de resultado de medição de comprimento seria
(38,00 ± 0,11) mm, ou seja, o valor atribuído ao mensurando (38,00 mm) mais ou
menos a incerteza de medição (0,11 mm).

O Guia para Expressão de Incerteza de Medição (GUM) idealiza a expressão da


incerteza com até dois algarismos significativos, conforme ilustrado no exemplo acima.

O que torna um sistema de medição melhor em relação ao outro é a diminuição dos


erros e incertezas a níveis que sejam aceitáveis para a aplicação.


SAIBA MAIS

O valor medido (item 2.10) é definido como “valor de uma grandeza que representa um
resultado de medição” (VIM, 2012, p. 19), e a incerteza de medição (item 2.26), como
“parâmetro não negativo que caracteriza a dispersão dos valores atribuídos a um
mensurando, com base nas informações utilizadas” (VIM, 2012, p. 24).

A incerteza de medição engloba diversos componentes, sendo estimada por uma


avaliação de tipo A ou tipo B:

A avaliação de tipo A (item 2.28)

Da incerteza de medição tem a ver com uma análise estatística dos valores medidos,
obtidos sob condições definidas de medição (VIM, 2012).


A avaliação tipo B (item 2.29)

Pode ser baseada em informações de diversas fontes (VIM, 2012), por exemplo:
associada a valores publicados por autoridade competente, obtida a partir de um
certificado de calibração, relativa à deriva, obtida a partir da classe de exatidão de um
instrumento de medição verificado, obtida a partir de limites deduzidos da experiência
pessoal etc.

Um instrumento de medição (item 3.1) é definido como “dispositivo utilizado para


realizar medições, individualmente ou associado a um ou mais dispositivos
suplementares” (VIM, 2012, p. 34).

A QUALIDADE DE UMA MEDIÇÃO ESTÁ DIRETAMENTE


RELACIONADA COM AS LIMITAÇÕES INSTRUMENTAIS E
HUMANAS. NENHUMA MEDIÇÃO É ABSOLUTAMENTE
EXATA, PORQUE O VALOR VERDADEIRO DO
MENSURANDO, APESAR DE SE APROXIMAR MUITO
DELE, NÃO É VERDADEIRO.
O conceito de valor verdadeiro de uma grandeza, valor de uma grandeza compatível
com a definição da grandeza (item 2.11), é mantido para descrever o objetivo de uma
medição; porém, o adjetivo “verdadeiro” é considerado redundante e o desvio do valor
verdadeiro é composto de erros aleatórios e sistemáticos (VIM, 2012). Sempre há
erros e incertezas associados a uma medição.

A precisão de medição ou fidelidade (item 2.15) é definida como “grau de


concordância entre indicações ou valores medidos, obtidos por medições repetidas, no
mesmo objeto ou em objetos similares, sob condições especificadas” (VIM, 2012, p.
20). Geralmente, é expressa numericamente por características como a dispersão, o
desvio-padrão, a variância ou o coeficiente de variação, sob condições de medição
especificadas.

Trata-se de uma avaliação para definir os critérios de repetição de medição. Já a


exatidão de medição (item 2.13) é definida como “grau de concordância entre um valor
medido e um valor verdadeiro de um mensurando” (VIM, 2012, p. 20). Uma medição é
dita mais exata quando fornece um erro de medição menor. Quanto mais preciso e
mais exato for o instrumento de medição, menores serão os erros e incertezas,
melhorando a qualidade da medição executada.

Imagem: Revista Negócio Digital adaptado por Roseane Bahiense


 Figura 4 - Precisão e exatidão.

Mas o que é erro?

Erro de medição (item 2.16) é definido como “diferença entre o valor medido de uma
grandeza e um valor de referência” (VIM, 2012, p. 21). Ou seja, E = VM – VR.

 EXEMPLO
Ao calibrar um manômetro analógico por comparação a um manômetro de classe
superior (referência), ele indicou 50,0 kgf (valor medido), enquanto manômetro de
referência indicou 50,5 kgf (valor de referência). O erro de medição será -0,5 kgf (50,0
- 50,5 = -0,5 kgf).

É muito importante não confundir o erro de medição com a correção (item 2.53), que é
a “compensação de um efeito sistemático estimado” (VIM, 2012, p. 32), podendo ser
compreendida de forma mais popular como o valor do erro de medição com sinal
trocado. Assim, a correção do exemplo acima seria +0,5 kgf.

CARACTERÍSTICAS ESTÁTICAS E
DINÂMICAS DOS INSTRUMENTOS
O estudo das características de desempenho de um instrumento de medida e de
sistemas de medição em geral é feito em termos da análise de suas características
estáticas e características dinâmicas.

As características estáticas são indicadas para a medição de grandezas consideradas


constantes ou que variam lentamente com o tempo. Já as características dinâmicas
são indicadas para medições de grandezas que variam rapidamente com o tempo.

Mas por que há essa diferenciação?

Alguns sistemas de medição objetivam medir quantidades que permanecem


constantes ou que variam apenas muito lentamente (grandezas estáticas ou
semiestáticas; por exemplo, a pressão atmosférica e a temperatura ambiental).

Outros sistemas de medição objetivam medir quantidades que variam rapidamente,


tornando-se necessário examinar as relações dinâmicas entre a entrada e a saída do
sistema de medição (por exemplo, a flutuação de velocidade típica da turbulência de
um escoamento de fluido).

As características estáticas de um instrumento influenciam a qualidade das medições


realizadas em condições dinâmicas, porém a análise ou o tratamento simultâneo de
ambas é matematicamente inviável.

 ATENÇÃO

Todas as características de desempenho estático de um instrumento são obtidas por


meio de um procedimento denominado calibração estática. Esse termo refere-se a
uma situação em que todas as entradas (desejadas, interferentes e modificadoras) são
mantidas constantes durante dado intervalo de tempo, exceto uma.

Ou seja, a entrada sendo investigada é variada dentro de uma faixa de valores


constantes, fazendo com que a saída varie dentro de outra faixa de valores
constantes. A relação entrada-saída obtida, representa uma calibração estática do
instrumento, válida para as condições de valores constantes de todas as outras
entradas.

Normalmente, há muitas entradas interferentes e/ou modificadoras para dado


instrumento, cada qual causando apenas um efeito muito pequeno sobre a entrada
desejada. As entradas mantidas constantes requerem a sua medida,
independentemente do instrumento sendo calibrado.

Para entradas interferentes ou modificadoras (cujos efeitos sobre a saída devem ser
relativamente pequenos em um instrumento de boa qualidade), não é necessária uma
grande precisão nas medidas. Entretanto, ao se calibrar a resposta do instrumento às
entradas desejadas, estas devem ser medidas com uma precisão maior do que aquela
do instrumento sendo calibrado.

COMO REGRA GERAL, O PADRÃO DE CALIBRAÇÃO


(ENTRADA DESEJADA) DEVE SER, NO MÍNIMO, DEZ
VEZES MAIS PRECISO DO QUE O INSTRUMENTO SENDO
CALIBRADO.
Em geral, o procedimento de calibração estática pode ser realizado seguindo-se as
etapas:

I.
II.
III.
IV.
V.

I.

Identifique e relacione todas as possíveis entradas para o instrumento.

II.

Decida, com base no uso desejado, quais entradas são relevantes.

III.

Obtenha os equipamentos que possibilitarão a variação das entradas relevantes em


todas as faixas consideradas necessárias.

IV.

Obtenha as relações entrada-saída, variando alternadamente cada entrada


considerada relevante e mantendo todas as outras constantes.

V.
Realize uma superposição adequada das várias relações entrada-saída, de forma a
descrever o comportamento global estático do instrumento.

O que mais nos interessa para a análise são os modelos matemáticos que
representam a relação entre os sinais de saída e entrada em um instrumento. Uma
equação diferencial ordinária (EDO) estabelece essa relação e a ordem mais elevada
da derivada EDO fixa a ordem do instrumento.

Instrumentos são então de ordem zero, de primeira ou segunda ordem. Instrumentos


de mesma ordem (ou EDOs de mesma ordem) têm comportamento dinâmico similar.
Assim, o modelo matemático geral é a EDO de ordem n-ésima. Se o sinal de saída é
representado por y(t), o sinal de entrada é representado por F(t), e os coeficientes são
parâmetros físicos do instrumento, conforme a equação 1:

n n−1
d y d y dy
an n
+ an − 1 n−1
+ … + a1 + a0 y = F (t)
dt dt dt

(1)


Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

O instrumento é de ordem zero se não há derivada temporal de y, e a relação entre


saída e entrada torna-se somente algébrica, e não diferencial, conforme a equação 2:

a0 y(t) = F (t)

(2)


Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
Nesse instrumento estático, o sinal de saída depende somente da entrada corrente, e
não de entradas passadas. A saída responde instantaneamente ao sinal de entrada.
Um exemplo típico é um dinamômetro de mola (uma balança de mola), no qual o
deslocamento medido é diretamente proporcional à força aplicada:

F = kx,  ou x =
k

(3)


Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Uma forma alternativa de escrever a equação da mola, ou de nosso instrumento de


ordem zero, é:

y(t) = kF (t)

(4)


Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Em que k é a chamada sensibilidade estática (ou ganho permanente) do


1
=
a0

instrumento.

Um instrumento é de segunda ordem se apenas a derivada de ordem unitária existe na


relação funcional entre saída e entrada. Fisicamente, isso implica um atraso entre
entrada e saída; em outras palavras, decorre um certo tempo para que se tenha
efeitos totais do sinal de entrada no sinal de saída. Um exemplo típico de instrumento
de primeira ordem são os termômetros e os termopares. Assim:

dy dy 1 k
 a1 + a0 y = F (t)   ou     + y = F (t)
dt dt τ τ


Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Em que

a1
τ =
a0
1
k =
a0


Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
é a constante de tempo e, novamente, k  =  1/a0

A resposta de um instrumento de primeira ordem para um sinal de entrada do tipo


pulso (step function) de amplitude A é:

−t

y(t)= kA +  (y0 − kA) e

(6)


Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Novamente, kA é a resposta permanente. Como vimos nos instrumentos de ordem


zero, todo o segundo termo à direita do sinal de igualdade é a chamada resposta
transiente e y0 é a condição de entrada inicial. A figura 5 exemplifica a resposta de um
instrumento de primeira ordem à função impulso de amplitude A para uma resposta
permanente kA menor que a condição inicial, kA  <  y0 .

Imagem: Unicamp adaptado por Roseane Bahiense


 Figura 5 - Curva de resposta de um instrumento de ordem 1.
A influência da constante de tempo no desempenho do instrumento de primeira ordem
à entrada em pulso aparece na figura 6. No caso, fizemos a condição inicial nula,
y0   =  0 , e a solução se reduz a:

t

y(t)  =  kA (1 −  e τ
)

(7)


Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Imagem: Unicamp adaptado por Roseane Bahiense


 Figura 6 - Influência da constante de tempo na resposta de instrumento de ordem
1.

Para exemplificar a utilidade da formulação matemática de um instrumento de primeira


ordem, vamos definir a fração erro:

t
− t
τ −
e τ
y(t)= kA + (y − kA)e = y∞ +(y0 − y∞ )e
0
y ( t ) −y∞ t y ( t ) −y∞
Ґ(t)= y0 −y∞
= e

τ
Ґ
,    ln[ (t)]= ln[
y0 −y∞
]= −
t

(8)


Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
Note que o logaritmo da fração erro varia linearmente com a temperatura, e a
inclinação da reta é (−1/t). Uma expressão desse tipo (equação do primeiro grau
decrescente) torna prática a determinação experimental da constante de tempo de um
instrumento de primeira ordem a uma entrada do tipo pulso. Veja:

Imagem: Unicamp adaptado por Roseane Bahiense


 Figura 7 - Comportamento da fração erro.

 EXEMPLO

Um termopar tem tempo de resposta igual a 15 segundos e está a uma temperatura


inicial de 20 0 C, mas é subitamente exposto a uma temperatura de 100 0 C. Vamos
determinar o seu tempo de subida (rise time), isto é, o tempo que o termopar leva para
chegar a 90% da temperatura de regime permanente, e qual é a temperatura nesse
tempo. Se a temperatura desejada é 90% da temperatura de regime permanente,
G(t)  =  1  −  0, 9  =  0, 1 . Assim, ln(0, 1)  =   − 2, 302 . Consequentemente,
t  =  (−15)(−2, 302)  =  34, 5 s . Conhecido t  =  34, 4 s , é possível calcular y(t),
pois t  ,
=  15 s y00   =  100  C
0
e y0   0
=  20  C . Logo, y(t)  =  92  C
0
.

A equação de um instrumento de segunda ordem é:

2
dt y dy
 a2 2
+ a1 + a0 y = F (t)
dt dt

(9)


Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
ou, na forma alternativa,

2
dt y dy 2 2
2
+ 2ξωn + ωn y = kωn   F (t)
dt dt

(10)


Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
1/2
Em que ωn   =  (a0 /a2 ) é a frequência natural do instrumento,
1

a0 2

ωn = (
a2
) é sua razão de amortecimento, e

k =
1

a0
é a sensibilidade estática.

A relação entre entrada e saída envolve uma derivada de ordem 2. Fisicamente,


implica que há um atraso entre entrada e saída, da mesma forma que em instrumentos
de ordem 1, mas de natureza diferente.

Exemplos de instrumentos de ordem 2 são os acelerômetros, os transdutores de força


e os transdutores de pressão.

A resposta de um instrumento de segunda ordem a uma entrada do tipo pulso (step


function) de amplitude A está indicada na figura 8, como função da razão de
amortecimento (x). Se a razão de amortecimento é unitária (x  =  1) , o instrumento é
criticamente amortecido. Se 0  <  x  <  1 , é subamortecido. Note na figura 8 que
instrumentos subamortecidos apresentam overshoot, isto é, a resposta supera o pulso
de entrada. Se x  >  1 , o instrumento é superamortecido.

Imagem: Unicamp adaptado por Roseane Bahiense.


 Figura 8 - Resposta de instrumento de segunda ordem a entrada do tipo pulso,
para diferentes razões de amortecimento.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. QUAIS SÃO AS GRANDEZAS QUE COMPÕEM O SISTEMA


INTERNACIONAL DE UNIDADES (SI)?

A) Candela, metro, segundo, grama, mol, ampere e kelvin

B) Massa, comprimento, tempo, tensão elétrica, temperatura, intensidade luminosa,


quantidade de matéria

C) Intensidade luminosa, quantidade de matéria, comprimento, tempo, corrente


elétrica, temperatura termodinâmica e massa
D) Volume, quantidade de matéria, massa, comprimento, tempo, temperatura,
intensidade luminosa

E) Quantidade de massa, intensidade luminosa, comprimento, tempo, corrente elétrica,


temperatura termodinâmica e massa

2. EM QUAL DAS OPÇÕES TODAS AS UNIDADES SE


APRESENTAM ADEQUADAMENTE ESCRITAS?

A) Kelvins, quilograma, mol, candela, ampers, segundo e metro

B) Kelvin, quilograma, mol, candela, ampere, segundo e metro

C) Kelvins, quilograma, mols, candela, ampers, segundos e metros

D) Kelvins, quilogramas, moles, candelas, amperes, segundos e metros

E) Kelvim, quilograma, mol, ampers, candelas, segundo e metro

GABARITO
1. Quais são as grandezas que compõem o Sistema Internacional de Unidades
(SI)?

A alternativa "C " está correta.

Por convenção, o Sistema Internacional de Unidades (SI) envolve sete grandezas de


base: intensidade luminosa, quantidade de matéria, comprimento, tempo, corrente
elétrica, temperatura termodinâmica e massa.

2. Em qual das opções todas as unidades se apresentam adequadamente


escritas?

A alternativa "B " está correta.

A forma adequada de escrita das unidades de base é kelvin, quilograma, mol, candela,
ampere, segundo e metro. Caso utilize o plural, deve apenas incluir a letra “s” ao final
da escrita da unidade.

MÓDULO 2

 Identificar os principais órgãos metrológicos que compõem o sistema


metrológico brasileiro

SISTEMA METROLÓGICO BRASILEIRO


SINMETRO
O Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro) é
um sistema brasileiro constituído por entidades públicas e privadas que exercem
atividades relacionadas com metrologia, normalização, qualidade industrial e
certificação da conformidade.

Objetivando integrar uma estrutura sistêmica articulada, o Sinmetro, o Comitê


Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro) e o Instituto
Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) foram criados pela Lei n.
5.966, de 11 de dezembro de 1973 (INMETRO, 2021a).


SAIBA MAIS

O Sinmetro foi instituído com uma infraestrutura de serviços tecnológicos capaz de


avaliar e certificar a qualidade de produtos, processos e serviços por meio de
organismos de certificação, rede de laboratórios de ensaio e de calibração,
organismos de treinamento, organismos de ensaios de proficiência e organismos de
inspeção, todos acreditados pelo Inmetro (INMETRO, 2021a).

Esse sistema está envolvido em muitas atividades relacionadas ao Programa


Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP), voltado para a melhoria da
qualidade de produtos, processos e serviços na indústria, comércio e administração
federal. Os organismos de normalização, os laboratórios de metrologia científica e
industrial e de metrologia legal dos estados apoiam esse sistema.

Diversas organizações desempenham papel-chave no Sinmetro, sendo as principais


(INMETRO, 2021a):

COMITÊ NACIONAL DE METROLOGIA,


NORMALIZAÇÃO E QUALIDADE INDUSTRIAL
(CONMETRO)

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA,


QUALIDADE E TECNOLOGIA (INMETRO)

ORGANISMOS DE AVALIAÇÃO DA
CONFORMIDADE (OAC)

INSTITUTOS ESTADUAIS DE PESOS E MEDIDAS


(IPEM)

LABORATÓRIOS ACREDITADOS – CALIBRAÇÕES


E ENSAIOS (RBC/RBLE)

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS (ABNT)

No âmbito do Sinmetro, as atividades de metrologia científica e legal, a avaliação da


conformidade, a acreditação de organismos e de laboratórios, e a normalização são
tratadas integradamente.

O Inmetro, órgão executivo central do Sinmetro, é o gestor dos programas de


avaliação da conformidade, bem como o órgão oficial brasileiro de acreditação no
âmbito do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade (SBAC), subsistema do
Sinmetro (FERNANDES, 2011).

No âmbito de sua ampla missão institucional, o Inmetro tem por objetivo fortalecer
as empresas nacionais, aumentando sua produtividade por meio da adoção de
mecanismos destinados à melhoria da qualidade e da segurança de produtos e
serviços com foco em saúde, segurança e meio ambiente.

Nesse contexto, cabe ao Inmetro expedir regulamentos técnicos nas áreas de


avaliação da conformidade de produtos, insumos e serviços – desde que não
constituam objeto da competência de outros órgãos ou entidades da administração
pública federal –, abrangendo os seguintes aspectos: segurança, proteção da vida e
da saúde humana, animal e vegetal, proteção do meio ambiente e prevenção de
práticas enganosas de comércio (INMETRO, 2015).

Para que os produtos regulamentados sejam colocados no mercado, há necessidade


de certificá-los. Os certificados são emitidos por Organismos de Avaliação da
Conformidade (OAC), sendo estes acreditados pela Coordenação Geral de
Acreditação (Cgcre) do Inmetro, único organismo de acreditação reconhecido no
Brasil.

A acreditação realizada pela Cgcre é de caráter voluntário e representa o


reconhecimento formal da competência de um OAC para desenvolver suas atividades
de acordo com requisitos preestabelecidos (INMETRO, 2019).

A robusta estrutura organizacional do Inmetro está apresentada na figura 9. Pode-se


observar que a Cgcre é uma coordenação ligada diretamente à Presidência do Inmetro
(Presi), não estando subordinada a qualquer diretoria.

Imagem: Inmetro adaptado por Roseane Bahiense


 Figura 9 - Estrutura organizacional do Inmetro.

As atividades do Inmetro não se restringem ao processo de regulamentação e


“selagem”. Contemplam também, entre outras, as ações de acompanhamento de
produtos no mercado. Tais ações, principalmente no que diz respeito à fiscalização,
permitem identificar oportunidades para a introdução de aperfeiçoamentos nas
atividades de avaliação da conformidade de produtos e identificação de possíveis
produtos irregulares – que não passaram pelo processo de avaliação da conformidade.

Em âmbito nacional, a atividade de acompanhamento de mercado é de


responsabilidade do Inmetro, que a executa por meio dos seus braços executivos nos
estados, os 26 órgãos integrantes da Rede Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade
do Inmetro (RBMLQ-I). Para tal, o Inmetro mantém convênios de delegação de
atividades com 23 órgãos estaduais (IPEM) e um órgão municipal (IPEM-Fort), além
de contar com duas superintendências regionais (Rio Grande do Sul e Goiás).

A partir dos resultados das fiscalizações de cada produto, pode-se utilizar métodos
estatísticos para avaliar, por exemplo, o percentual de irregularidades em cada estado
ou região do país. De posse dos percentuais de irregularidades, é possível analisar se
é necessário implantar ações de aperfeiçoamento nos Regulamentos Técnicos de
Avaliação da Conformidade (RTAC), nas atividades de fiscalização e em outros
processos que contemplam a avaliação da conformidade do produto.

SAIBA MAIS

Os ensaios e calibrações executados no Sinmetro são de responsabilidade dos


laboratórios públicos, privados ou mistos, nacionais ou estrangeiros, da Rede
Brasileira de Calibração (RBC) e da Rede Brasileira de Laboratórios de Ensaio
(RBLE). Tais serviços são utilizados, na maioria dos casos, para a certificação de
produtos (ensaios) e calibração de padrões de trabalho na indústria, além da
calibração dos próprios instrumentos industriais (INMETRO, 2021a).

A base para a acreditação e operação dos laboratórios constituintes da RBC e da


RBLE são as normas e guias da ABNT, da Comissão Panamericana de Normas
Técnicas (Copant), do Mercosul e do International Organization for Standardization
(ISO)/International Electrotechnical Commission (IEC), e suas interpretações pelo
International Laboratory Accreditation Cooperation (ILAC) e pelo Comitê Executivo
Inter-American Accreditation Cooperation (IAAC), principalmente. Laboratórios de
agrotóxicos e de análises clínicas podem ser também acreditados pelo Inmetro. Os
organismos de ensaios de proficiência são acreditados pelo Inmetro para dar maior
confiabilidade às redes laboratoriais (INMETRO, 2021a).

Imagem: Shutterstock.com.
 ATENÇÃO

Podemos compreender que sem metrologia não há comércio. Não se pode vender um
grama de ouro sem que se saiba exatamente o que é um grama. De posse desse
conhecimento, o comércio internacional estabelece suas relações, cotando desde o
micrograma do medicamento à tonelada da soja.

O Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM) tem grande importância nesse


tocante. Seu objetivo principal é assegurar a uniformidade das medições e a
rastreabilidade ao Sistema Internacional das Unidades (SI): metro, quilograma,
segundo, ampere, kelvin, mol e candela. O BIPM foi criado pela Convenção do Metro,
assinada em Paris em 20 de maio de 1875, por 17 nações, dentre as quais está o
Brasil. Essa convenção foi modificada em 1921 (INMETRO, 2021b).

O BIPM tem sua sede perto de Paris, nos domínios do Pavilhão Breteuil, parque de
Saint-Cloud, com cerca de 43 mil m². Esse local foi posto à sua disposição pelo
governo francês, e sua manutenção, no que se refere às despesas, é assegurada
pelos Estados Membros da Convenção do Metro, incluindo o Brasil. O BIPM é
encarregado de:

Estabelecer os padrões fundamentais e as escalas das principais grandezas físicas, e


conservar os protótipos internacionais.


Efetuar a comparação dos padrões nacionais e internacionais.


Assegurar a coordenação das técnicas de medidas correspondentes.


Efetuar e coordenar as determinações relativas às constantes físicas que intervêm
naquelas atividades.
ASPECTOS DA NORMA ABNT NBR
ISO/IEC 17025 – REQUISITOS GERAIS
PARA LABORATÓRIOS DE ENSAIO E
CALIBRAÇÃO
No âmbito do Sinmetro, a publicação de normas técnicas é de responsabilidade da
ABNT, que é o órgão responsável pela normalização técnica no Brasil, fornecendo
insumos ao desenvolvimento tecnológico brasileiro. Trata-se de uma entidade privada
e sem fins lucrativos, e de utilidade pública, reconhecida como único foro nacional de
normalização pela Resolução n. 7 do Conmetro, de 24 de agosto de 1992.

 VOCÊ SABIA

A ABNT é membro fundador da International Organization for Standardization (ISO),


da Comissão Panamericana de Normas Técnicas (Copant) e da Associação Mercosul
de Normalização (AMN). Dessa forma, suas normas são reconhecidas
internacionalmente (CONMETRO, 1992).

As normas publicadas pela ABNT, apesar de não serem de cunho compulsório, têm
grande relevância para a qualidade dos produtos, visto que buscam contemplar os
melhores aspectos técnicos e tecnológicos. Por força da lei, sua aplicação é
obrigatória, pois o Código de Defesa do Consumidor, na seção IV, que trata das
práticas abusivas, em seu art. 39, estabelece no inciso VII:
É VEDADO AO FORNECEDOR DE PRODUTOS E
SERVIÇOS COLOCAR, NO MERCADO DE
CONSUMO, QUALQUER PRODUTO OU SERVIÇO
EM DESACORDO COM AS NORMAS EXPEDIDAS
PELOS ÓRGÃOS OFICIAIS COMPETENTES OU,
SE NORMAS ESPECÍFICAS NÃO EXISTIREM,
PELA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS – ABNT, OU OUTRA ENTIDADE
CREDENCIADA PELO CONSELHO NACIONAL DE
METROLOGIA, NORMALIZAÇÃO E QUALIDADE
INDUSTRIAL – CONMETRO.

(BRASIL, 1990)

 ATENÇÃO

A importância da ABNT nas atividades direcionadas à gestão da qualidade é latente.


Algumas das diversas normas publicadas se destacam nas atividades do Inmetro:
entre outras, a norma ABNT NBR ISO/IEC 17025 – Requisitos Gerais para
Laboratórios de Ensaio e Calibração, e os Guias ABNT ISO/ IEC 39, 43, 58, 61, 62 e
65, que estabelecem os requisitos para a sua própria organização e para a acreditação
das diversas organizações do Sinmetro.

A primeira versão da ABNT NBR ISO/IEC 17025 (de 1999 e publicada no Brasil em
2001) foi elaborada utilizando, como base, o sistema de gestão da ISO 9001:1994. A
versão mais atual da norma, publicada em 19/12/2017, estabelece um sistema de
gestão da qualidade e requisitos técnicos para a competência de laboratórios de
calibração e ensaio. Os requisitos relacionados ao sistema de gestão da ABNT NBR
ISO/IEC 17025 foram baseados na ISO 9001:2015.
Vamos compreender melhor a aplicabilidade e importância de tal norma?

Iniciaremos compreendendo o que é Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ):

 EXEMPLO

Pense no seguinte: Uma banda marcial é composta por vários músicos com
instrumentos diferentes, e cada um deles tem o seu papel e sua importância para que
o conjunto fique harmônico. Certo? Agora vamos pensar em um desfile de 7 de
setembro dessa banda marcial? A banda pode desfilar com um som mecânico, mas,
quando isso acontece, não há alguém coordenando, dando ritmo e movimento ao
desfile. Como consequência, o resultado pode não ser harmônico nos quesitos
movimento e ritmo. O mesmo acontece quando uma empresa não possui um sistema
de gestão da qualidade. Os setores e departamentos funcionam, mas não existe um
ritmo único para todos seguirem. Cada um segue seu próprio. Pode ser que dê certo,
mas, e quando não funciona?

A busca pela melhoria contínua reflete diretamente na harmonia das organizações.


Detectar problemas e buscar resolvê-los pode ser o fator-chave para alcançar sucesso
e se manter vivo em um mercado tão competitivo como o que vivemos.

O SGQ é uma ferramenta essencial, pois dita o ritmo e favorece a harmonia das
atividades da empresa. Possibilita o controle e a padronização dos processos, e
permite avaliar a eficácia do trabalho realizado. Essa ferramenta funciona como uma
engrenagem que busca atender à política da qualidade e aos objetivos da empresa.

Seu foco é a satisfação do cliente e a busca da melhoria contínua dos processos.


Devido ao reconhecimento do mercado mundial e à credibilidade que proporciona a
produtos e serviços, a qualidade cada vez mais se torna um fator crucial para a
sobrevivência de qualquer organização. Em muitas áreas, inclusive, a certificação ou
acreditação é um fator compulsório, ou seja, só conseguem prestar serviços as
empresas que possuírem um sistema de gestão da qualidade já implantado. Na área
laboratorial acontece o mesmo.

Imagem: Shutterstock.com.

CERTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA
É uma atividade exercida pelo Estado, por meio de uma autoridade regulamentadora,
quando se entende que o produto, processo ou serviço pode oferecer riscos à
segurança e saúde do consumidor ou ao meio ambiente, ou ainda, em alguns casos,
quando o desempenho do produto, se inadequado, pode trazer prejuízos econômicos
à sociedade.

CERTIFICAÇÃO VOLUNTÁRIA
Acontece quando a decisão de realizá-la parte do fornecedor. Na avaliação voluntária,
é a própria empresa que define se deve ou não avaliar a conformidade de seus
produtos, de acordo com o disposto em uma norma técnica.

Nesse contexto, a acreditação na ABNT NBR ISO/IEC 17025 é concedida para


laboratórios que realizam ensaios ou calibrações. Os laboratórios de calibração
acreditados pela Cgcre, de acordo com essa norma, passam a pertencer à Rede
Brasileira de Calibração (RBC). Já os laboratórios de ensaio, na mesma condição,
passam a pertencer à Rede Brasileira de Laboratórios de Ensaio (RBLE).

Cada rede possui o seu “código e número” de acreditação: “CRL” se refere à


acreditação do laboratório de ensaio e “CAL” se refere à acreditação do laboratório de
calibração. Ambas as acreditações são concedidas para determinado escopo, definido
pelo laboratório.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. MARQUE A AFIRMAÇÃO CORRETA A RESPEITO DO SISTEMA


BRASILEIRO DE METROLOGIA:

A) O Inmetro é o órgão principal na hierarquia do Sistema Brasileiro de Metrologia,


pois dita regras no âmbito do Sistema Internacional de Metrologia, normalização e
acreditação.

B) O Sinmetro é um sistema brasileiro constituído por entidades públicas e privadas


que exercem atividades relacionadas com metrologia, normalização, qualidade
industrial e certificação da conformidade.

C) O Sinmetro é apoiado por diversos organismos brasileiros, incluindo: o Conmetro, o


Inmetro, os OAC, os IPEM, a RBC, a RBLE e a Isso.

D) O Sinmetro é o órgão executivo central de Metrologia no Brasil – gerindo os


programas de avaliação da conformidade – bem como o órgão oficial brasileiro de
acreditação no âmbito do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade (SBAC).

E) O Sinmetro pertence ao Sistema Brasileiro de Metrologia, tendo sido criado para


unir as atividades de metrologia científica, metrologia legal e metrologia aplicada
internacionalmente.

2. A ABNT NBR ISO/IEC 17025 ESPECIFICA OS REQUISITOS


GERAIS PARA A COMPETÊNCIA, IMPARCIALIDADE E OPERAÇÃO
DE:

A) Laboratórios de calibração e certificação


B) Laboratórios de análises clínicas e calibrações

C) Laboratórios em geral

D) Laboratórios de calibração e ensaio

E) Laboratórios de acreditação

GABARITO
1. Marque a afirmação correta a respeito do Sistema Brasileiro de Metrologia:

A alternativa "B " está correta.

O Sinmetro é órgão principal na hierarquia do Sistema Brasileiro de Metrologia, pois


dita regras no âmbito da Metrologia, normalização e acreditação. Já o Inmetro é o
órgão executivo central de Metrologia no Brasil, sendo o gestor dos programas de
avaliação da conformidade, bem como o órgão oficial brasileiro de acreditação no
âmbito do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade (SBAC).

2. A ABNT NBR ISO/IEC 17025 especifica os requisitos gerais para a


competência, imparcialidade e operação de:

A alternativa "D " está correta.

A competência e a imparcialidade são características fundamentais da Metrologia. A


ABNT NBR ISO/IEC 17025 determina os requisitos gerais para a competência de
laboratórios de ensaio e calibração.

MÓDULO 3

 Compreender alguns dos principais conceitos relacionados à metrologia


industrial
METROLOGIA INDUSTRIAL

ÁREAS DE ATUAÇÃO DA METROLOGIA


A Metrologia é uma ciência muito ampla e, objetivando facilitar sua melhor
compreensão, faz-se necessário subagrupar suas atividades. Assim sendo, podemos
dividi-la em três grandes áreas de atuação:

CIENTÍFICA


LEGAL


INDUSTRIAL

METROLOGIA CIENTÍFICA
Se utiliza de instrumentos laboratoriais, das pesquisas e metodologias científicas que
têm por base padrões de medição internacionais e nacionais, para o alcance de altos
níveis de qualidade metrológica das medições. Alguns exemplos de atividades
características da metrologia científica são: calibração de multímetro na faixa de
tensão de 1 V a 100 V, calibração de bloco padrão por método “diferencial”
interferométrico, calibração de balanças analíticas utilizando-se pesos-padrão E1 etc.

METROLOGIA LEGAL
Se relaciona às atividades resultantes de exigências regulamentares (compulsórias)
referentes às medições, unidades de medida, instrumentos e métodos de medição,
que são desenvolvidas por organismos regulamentadores competentes. Tem como
objetivo principal proteger o consumidor, tratando das unidades de medida, dos
métodos e instrumentos de medição, de acordo com as exigências técnicas e legais
obrigatórias relacionadas às áreas de saúde, segurança e meio ambiente.

No Brasil, as atividades da metrologia legal estão a cargo do Inmetro, que também


colabora para a uniformidade da sua aplicação no mundo, por meio da sua
participação na Organização Internacional de Metrologia Legal (OIML) e no Mercado
Comum do Sul – Mercosul (INMETRO, 2021c). Alguns exemplos de atividades
características da metrologia legal são a verificação de: balanças de supermercados,
radares e barreiras utilizados no controle de limite de velocidade veicular, etilômetro
(vulgo bafômetro) etc.

METROLOGIA INDUSTRIAL OU APLICADA


Está presente em sistemas de medição que controlam processos produtivos
industriais, tendo como objetivo apoiar as atividades de controle para a garantia da
qualidade metrológica e para a gestão dos meios adequados de medição utilizados
nos processos e produtos. Alguns exemplos de atividades características da
metrologia industrial são: medição e controle de uma linha de produção de produtos
eletrônicos, ensaios em produtos certificados, tais como disjuntores, extintores de
incêndio, brinquedos, materiais escolares etc.

OPERAÇÕES METROLÓGICAS
Há basicamente três operações metrológicas para garantia da qualidade das
medições: calibração, ajuste e verificação. A calibração (item 2.39 do VIM) é definida
como:

OPERAÇÃO QUE ESTABELECE, SOB CONDIÇÕES


ESPECIFICADAS, NUM PRIMEIRO PASSO, UMA
RELAÇÃO ENTRE OS VALORES E AS
INCERTEZAS DE MEDIÇÃO FORNECIDOS POR
PADRÕES E AS INDICAÇÕES
CORRESPONDENTES COM AS INCERTEZAS
ASSOCIADAS; NUM SEGUNDO PASSO, UTILIZA
ESTA INFORMAÇÃO PARA ESTABELECER UMA
RELAÇÃO VISANDO A OBTENÇÃO DE UM
RESULTADO DE MEDIÇÃO A PARTIR DE UMA
INDICAÇÃO.

(VIM, 2012, p. 27)

Frequentemente, apenas o primeiro passo dessa definição é entendido como


calibração. Convém não confundir a calibração com o ajuste de um sistema de
medição, frequentemente – denominado impropriamente de “autocalibração” –, nem
com a verificação da calibração.

O ajuste de um sistema de medição (item 3.11do VIM) é definido como “conjunto de


operações efetuadas num sistema de medição, de modo que ele forneça indicações
prescritas correspondentes a determinados valores de uma grandeza a ser medida”
(VIM, 2012, p. 36).
Há diversos tipos de ajuste de um sistema de medição, incluindo o ajuste de zero, o
ajuste de desvio (às vezes chamado de ajuste de offset) e o ajuste de amplitude (às
vezes chamado de ajuste de ganho). Ajustar não é calibrar, portanto, após o ajuste do
sistema de medição, tal sistema deve ser recalibrado.

Já a verificação (item 2.44 do VIM) é conceituada como “fornecimento de evidência


objetiva de que um dado item satisfaz requisitos especificados” (VIM, 2012, p. 29).
Nesse sentido, é importante contar com um documento que sirva de base para realizar
a verificação, como uma norma, um regulamento ou um documento técnico
disponibilizado pelo fabricante ou pelo próprio sistema da qualidade do executante.

 ATENÇÃO

A verificação, diferentemente do ajuste, não deve alterar as características


metrológicas do sistema de medição, sendo seu principal objetivo a confirmação da
manutenção de características metrológicas do sistema verificado. Quando aplicável,
recomenda-se que a incerteza de medição seja levada em consideração (VIM, 2012).

RASTREABILIDADE METROLÓGICA
A rastreabilidade metrológica (item 2.41 do VIM) é definida como “propriedade de um
resultado de medição pela qual tal resultado pode ser relacionado a uma referência
através de uma cadeia ininterrupta e documentada de calibrações, cada uma
contribuindo para a incerteza de medição” (VIM, 2012, p. 28).

PARA ESSA DEFINIÇÃO, A “REFERÊNCIA” PODE SER


UMA DEFINIÇÃO DE UMA UNIDADE DE MEDIDA POR
MEIO DA SUA REALIZAÇÃO PRÁTICA, OU UM
PROCEDIMENTO DE MEDIÇÃO QUE INCLUI A UNIDADE
DE MEDIDA PARA UMA GRANDEZA NÃO ORDINAL, OU
UM PADRÃO.
A rastreabilidade metrológica requer uma hierarquia de calibração estabelecida. O
conceito de hierarquia de calibração (item 2.40 do VIM) é entendido como “sequência
de calibrações desde uma referência até ao sistema de medição final, em que o
resultado de cada calibração depende do resultado da calibração precedente” (VIM,
2012, p. 28).

A especificação da referência deve incluir a data em que ela foi utilizada no


estabelecimento da hierarquia de calibração, juntamente com qualquer outra
informação metrológica relevante, tal como a data em que foi realizada a primeira
calibração da hierarquia.

O ILAC considera que os elementos necessários para confirmar a rastreabilidade


metrológica são uma cadeia de rastreabilidade ininterrupta a um padrão internacional:

Imagem: Roseane Bahiense


 Figura 10 - Hierarquia do sistema metrológico.

O conceito de cadeia de rastreabilidade metrológica (item 2.42 do VIM) é entendido


como “sequência de padrões e calibrações utilizada para relacionar um resultado de
medição a uma referência” (VIM, 2012, p. 29).

Uma cadeia de rastreabilidade metrológica é definida por meio de uma hierarquia de


calibração. Mas vamos compreender melhor a hierarquia do sistema metrológico,
incluindo alguns conceitos adicionais relativos à classificação dos padrões.

Ao observarmos a Figura 10, podemos notar que, no topo da pirâmide de


rastreabilidade, estão as unidades do SI e, logo abaixo, temos o BIPM com os padrões
internacionais (item 5.2 do VIM) conceituados como “padrão de medição reconhecido
pelos signatários de um acordo internacional, tendo como propósito a sua utilização
mundial” (VIM, 2012, p. 47).

 EXEMPLO

O protótipo internacional do quilograma sob guarda no BIPM, a água oceânica média


normalizada de Viena (VSMOW2) distribuída pela Agência Internacional de Energia
Atômica (AIEA) para medições das razões molares diferenciais de isótopos estáveis
etc.

Já o conceito de padrão de medição nacional (item 5.3 do VIM) é compreendido como


“padrão de medição reconhecido por uma entidade nacional para servir dentro de um
estado ou economia, como base para atribuir valores a outros padrões de medição de
grandezas da mesma natureza” (VIM, 2012, p. 47). No caso do Brasil, o Instituto
Nacional de Metrologia responsável pelos padrões nacionais é o Inmetro.

Imagem: Shutterstock.com.

Na sequência do processo de disseminação, temos os laboratórios da RBC e da


RBLE, que calibram seus padrões em comparação aos padrões de medição nacionais
e posteriormente prestam serviços de calibrações e ensaios para os laboratórios de
chão de fábrica. Essa sequência de calibrações é tida como padrão, mas pode haver,
por exemplo, a necessidade de um fabricante calibrar seus instrumentos diretamente
no Inmetro. A incerteza de medição necessariamente aumenta ao longo da sequência
de calibrações.

Há diversos outros conceitos relacionados a padrões definidos no VIM, mas alguns


desempenham papel de destaque para compreensão adequada de suas aplicações. A
seguir serão apresentados os conceitos mais usuais, incluindo padrão primário, padrão
secundário, padrão de referência, padrão de trabalho e padrão itinerante.

PADRÃO DE MEDIÇÃO PRIMÁRIO (ITEM 5.4)


É “padrão de medição estabelecido com auxílio de um procedimento de medição
primário ou criado como um artefato, escolhido por convenção” (VIM, 2012, p. 47).
Alguns exemplos são: padrão de medição primário de pressão baseado em medições
separadas de força e área; o protótipo internacional do quilograma como um artefato
escolhido por convenção; o padrão de medição primário de temperatura
termodinâmica constituído por uma célula de ponto triplo da água etc.

PADRÃO DE MEDIÇÃO SECUNDÁRIO (ITEM 5.5)


É entendido como “padrão de medição estabelecido por intermédio de uma calibração
com referência a um padrão de medição primário de uma grandeza da mesma
natureza” (VIM, 2012, p. 48). A calibração pode ser obtida diretamente entre o padrão
de medição primário e o padrão de medição secundário, ou envolver um sistema de
medição intermediário calibrado pelo padrão de medição primário, que atribui um
resultado ao padrão de medição secundário.

PADRÃO DE MEDIÇÃO DE REFERÊNCIA (ITEM


5.6)
É conceituado como “padrão de medição estabelecido para a calibração de outros
padrões de grandezas da mesma natureza numa dada organização ou num dado
local” (VIM, 2012, p. 48). A organização ou o local pode se estender a um país, estado,
laboratório, empresa etc.

PADRÃO DE MEDIÇÃO DE TRABALHO (ITEM 5.7)


É entendido como “padrão de medição que é utilizado rotineiramente para calibrar ou
controlar instrumentos de medição ou sistemas de medição” (VIM, 2012, p. 48).
Geralmente é calibrado em relação a um padrão de medição de referência. Um padrão
de medição de trabalho utilizado em verificação é também algumas vezes denominado
“padrão de verificação” ou “padrão de controle”.

PADRÃO DE MEDIÇÃO ITINERANTE (ITEM 5.8)


É o “padrão de medição, algumas vezes de construção especial, destinado para ser
transportado entre diferentes locais” (VIM, 2012, p. 48). Alguns exemplos são: padrão
de frequência de césio 133, portátil e funcionando a bateria; padrão de referência de
voltagem (pilha Zener), portátil e funcionando a bateria etc.

CONTROLE METROLÓGICO
A metrologia legal no Brasil precede a Lei n. 5.966, de 12 de dezembro de 1973, que
criou o Sinmetro, do qual o Inmetro é o órgão executivo central, como vimos.

 VOCÊ SABIA

Já nos anos 1930, fora promulgada a primeira legislação nos moldes de uma “lei de
metrologia”, mas a implantação de um controle metrológico, em nível nacional, só se
iniciou a partir dos anos 1960, com a criação do Instituto Nacional de Pesos e Medidas
(INPM), cujas atividades foram incorporadas pelo Inmetro e atribuídas à Diretoria de
Metrologia Legal (Dimel) (INMETRO, 2021c).

Cabe, assim, ao Inmetro, por intermédio da Diretoria de Metrologia Legal, observando


a competência que lhe é atribuída pelas leis n. 5.966/1973, n.9.933/1999,
n.10.829/2003 e pela Resolução n. 11, de 12 de outubro de 1988, do Conmetro,
organizar e executar as atividades de metrologia legal no Brasil (INMETRO, 2021c).

Segundo o Inmetro (2021c), no Brasil estão sujeitos à regulamentação e ao controle


metrológico – ação própria de um organismo de metrologia legal: os instrumentos de
medição e medidas materializadas utilizados nas atividades econômicas (comerciais) e
nas medições que interessem à incolumidade das pessoas nas áreas da saúde, da
segurança e do meio ambiente; e os produtos pré-medidos (produtos medidos e
embalados fora da presença do consumidor).

São exemplos de instrumentos e medidas materializadas regulamentados:

Bomba de abastecimento de combustíveis;

Termômetros clínicos;

Medida materializada de 20 litros para verificação de bombas de combustível


etc.

Assim como em todas as sociedades organizadas, no Brasil, o desenvolvimento


tecnológico, econômico e social tem determinado a efetiva implantação do controle
metrológico dos instrumentos de medição. Antes de serem colocados no mercado, os
novos instrumentos de medição devem ter seu modelo aprovado pelo Inmetro, que,
com base em um regulamento, examina, ensaia e verifica se está adequado ao uso.

Imagem: Shutterstock.com.

Após a fabricação, cada instrumento regulamentado que tenha aprovação de modelo


deve ser submetido à verificação inicial (após fabricação) para assegurar sua exatidão
antes do uso. Ao colocar o instrumento em uso, seu detentor é o responsável pela
manutenção de sua exatidão e emprego correto, sendo o instrumento controlado por
verificações subsequentes (periódicas ou após reparo) e inspeções/fiscalizações
periódicas, eventuais, por solicitação de entidades externas ou fruto de denúncias.

Os responsáveis pela execução de muitas das atividades de controle metrológico legal


são os órgãos integrantes da Rede Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade do
Inmetro (RBMLQ-I), que efetuam o controle de equipamentos e instrumentos para
assegurar que os consumidores estejam recebendo instrumentos em condições
adequadas de medição em cada um dos estados brasileiros.

Para exercer o controle metrológico, o governo expede leis e regulamentos,


possibilitando a execução de diversas atividades do controle, incluindo (INMETRO,
2021c):

O controle dos instrumentos de medição ou medidas materializadas, realizado por


meio de ações relativas à apreciação técnica de modelo, verificação ou inspeção;

A supervisão metrológica, constituída pelos procedimentos realizados na


fabricação, na utilização, na manutenção e no conserto de um instrumento de
medição ou medida materializada para assegurar que estão sendo atendidas as
exigências regulamentares; esses procedimentos se estendem, também, ao
controle da exatidão das indicações colocadas nas mercadorias pré-medidas;

A perícia metrológica, constituída por um conjunto de operações que tem por fim
examinar e certificar as condições em que se encontra um instrumento de
medição ou medida materializada e determinar suas qualidades metrológicas de
acordo com as exigências regulamentares específicas (por exemplo: emissão de
um laudo para fins judiciais).

 ATENÇÃO
Os regulamentos estabelecem as unidades de medida autorizadas, as exigências
técnicas e metrológicas, as exigências de marcação, as exigências de utilização e o
controle metrológico, a que devem satisfazer os fabricantes, importadores e detentores
dos instrumentos de medição a que se referem.

A elaboração da regulamentação se baseia geralmente nas recomendações da OIML,


à qual o Brasil está filiado como país-membro, e na colaboração dos fabricantes dos
instrumentos de medição envolvidos, representados por suas entidades de classe, por
entidades representativas dos consumidores, pela participação nos grupos de trabalho
de regulamentação metrológica.

Imagem: Shutterstock.com.

Com o objetivo de tornar esse processo de elaboração de regulamentos técnicos


metrológicos mais participativo, representativo e transparente, esses grupos são
compostos por representantes do Inmetro, dos órgãos metrológicos estaduais
(RBMLQ-I) de representantes de entidades de classe, de órgãos governamentais
envolvidos na área de atuação do grupo e outros que o próprio grupo julgar
necessário. Atuam também na avaliação dos projetos de recomendação internacional
da OIML, que são encaminhados ao Inmetro para obtenção do posicionamento do
Brasil, bem como na análise dos projetos de resolução Mercosul.

Além da regulamentação técnica abrangendo instrumentos de diversas grandezas


(massa, volume, comprimento, temperatura, energia etc.), a regulamentação técnica
de produtos pré-medidos também é de grande importância, pois visa a padronização
das quantidades em que são comercializados os produtos medidos sem a presença do
consumidor, as tolerâncias admitidas na sua comercialização, as regras para correta
indicação e posicionamento das indicações quantitativas nas embalagens em geral,
referindo-se também à inserção de vales-brindes ou anexação externa de brindes às
embalagens (INMETRO, 2021c).

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. A METROLOGIA INDUSTRIAL PODE SER DEFINIDA COMO:

A) Parte da metrologia que se utiliza de instrumentos laboratoriais, bem como das


pesquisas e metodologias científicas que têm por base padrões de medição
internacionais e nacionais, para o alcance de altos níveis de qualidade metrológica das
medições.

B) Ciência da medição e suas aplicações. Sua utilização é de grande importância, seja


nas medições empregadas em laboratórios, nas avaliações de conformidade do
produto, nas calibrações de equipamentos e instrumentos ou no dia a dia do controle
de um processo de fabricação.

C) Parte da metrologia relacionada às atividades resultantes de exigências


regulamentares (compulsórias) referentes às medições, unidades de medida,
instrumentos e métodos de medição, que são desenvolvidas por organismos
regulamentadores competentes.

D) Parte da metrologia presente em sistemas de medição que controlam processos


produtivos industriais, tendo como objetivo apoiar as atividades de controle para a
garantia da qualidade metrológica e a gestão dos meios adequados de medição
utilizados nos processos e produtos.
E) Parte da metrologia que atua na garantia da qualidade de produtos e serviços
presentes no mercado brasileiro, sendo responsável por inspecionar e manter as
unidades de medida rastreadas ao SI.

2. ASSINALE A AFIRMAÇÃO CORRETA A RESPEITO DE


OPERAÇÕES METROLÓGICAS:

A) A autocalibração é a operação que estabelece, sob condições especificadas, uma


relação entre os valores e as incertezas de medição fornecidos por padrões e as
indicações correspondentes com as incertezas associadas.

B) O ajuste de um sistema de medição é o conjunto de operações efetuadas em um


sistema de medição, de modo que ele forneça indicações prescritas correspondentes a
determinados valores de uma grandeza a ser medida, devendo incluir dados
associados à incerteza de medição.

C) A verificação é o fornecimento de evidência objetiva de que um dado item satisfaz


requisitos especificados e inclui o ajuste para eliminar erros de medição.

D) O principal objetivo da verificação é a confirmação da manutenção de


características metrológicas do sistema verificado. Diferentemente do ajuste, a
verificação não deve alterar as características metrológicas do sistema de medição.

E) A calibração é o fornecimento da garantia da qualidade dos resultados da


calibração rastreados ao SI. Diferentemente da verificação, altera as características
dos instrumentos para torná-los mais exatos.

GABARITO
1. A metrologia industrial pode ser definida como:

A alternativa "D " está correta.

Presente em sistemas de medição que controlam processos produtivos industriais, a


metrologia industrial reforça as atividades de controle com a finalidade de garantir, nos
processos e nos produtos, a qualidade metrológica e a gestão dos meios mais
adequados.

2. Assinale a afirmação correta a respeito de operações metrológicas:

A alternativa "D " está correta.

As três operações metrológicas contemplam: calibração, ajuste e verificação. No caso


da operação de verificação, seu principal objetivo é a confirmação da manutenção de
características metrológicas do sistema verificado, não devendo alterar as
características metrológicas do sistema de medição.

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conteúdo apresentou conceitos básicos de Metrologia, utilizando-se de referências
extraídas de literatura metrológica de grande aplicação, como o VIM e SI. Diversas
atividades exercidas no ramo da Metrologia foram conceituadas e exemplificadas para
melhor compreensão dos leitores. As áreas de atuação da Metrologia (metrologia
científica, metrologia legal e metrologia industrial) foram definidas objetivando o
entendimento da atuação de cada um dos componentes do sistema metrológico
brasileiro.

Também foram apresentados conceitos relacionados à rastreabilidade e à hierarquia,


tanto do sistema quanto das calibrações. Complementarmente, vimos as principais
organizações e redes envolvidas com as atividades de calibração, ensaio, verificação,
acreditação, certificação de produtos etc. Considerando a grande relevância da
metrologia para a atividade industrial, esclarecemos a sua relação com a qualidade e o
quanto auxilia nas atividades do mercado produtivo.
AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR ISO/IEC
17025:2017 – Requisitos gerais para competência de laboratórios de ensaios e
calibração. Rio de Janeiro, 2017. 32p.

BRASIL. Casa Civil. Código de Defesa do Consumidor. Consultado em meio


eletrônico em: 24 mar. 2020.

CONSELHO NACIONAL DE METROLOGIA, NORMALIZAÇÃO E QUALIDADE


INDUSTRIAL. CONMETRO. Resolução n. 7, de 24 de agosto de 1992. Consultado
em meio eletrônico em: 15 ev. 2020.

DANIEL, E. A segurança e eficiência energética nas instalações elétricas


prediais: um modelo de avaliação. USP. São Paulo, 2010. 114p.

FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA. FEM/UNICAMP. Conceitos básicos e


características gerais de instrumentos. Consultado em meio eletrônico em: 21 jan.
2021.

FERNANDES, W.A. O movimento da qualidade no Brasil. São Paulo: Essencial Idea


Publishing, 2011. 161p.
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INMETRO. A metrologia legal no Brasil. 2021c. Consultado em meio eletrônico em:
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INMETRO. Avaliação da conformidade. Folheto. 6 ed. Rio de Janeiro, 2015, 57p.

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INMETRO. Coordenação Geral de Acreditação. Publicado em: 10 mai. 2019.

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INMETRO. Organismos relacionados às barreiras técnicas. 2021b. Consultado em
meio eletrônico em: 15 jan. 2021.

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INMETRO. Sinmetro – Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial. 2021a. Consultado em meio eletrônico em: 14 jan. 2021.

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INMETRO. INSTITUTO PORTUGUÊS DA QUALIDADE. Vocabulário Internacional
de Metrologia (VIM 2012): conceitos fundamentais e gerais e termos associados. Rio
de Janeiro: Edição Luso-Brasileira, 2012. 93p.

SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTIRAL. SENAI. Metrologia


básica. Programa de Certificação Operacional/Companhia Siderúrgica de Tubarão.
Consultado me meio eletrônico em: 15 jan. 2021.

EXPLORE+
Para aprofundar seus conhecimentos sobre metrologia:

Acesse o conteúdo do Vocabulário de Internacional de Metrologia, disponível no


Portal do Inmetro;

Leia o livro Metrologia na indústria, de Francisco Adval de Lira;


Leia a cartilha O novo Sistema Internacional de Unidades, editada pela Sociedade
Brasileira de Metrologia em 2019;

Consulte Avaliação de dados de medição: guia para a expressão de incerteza de


medição – GUM 2008, disponibilizado no portal do Inmetro.

CONTEUDISTA
Raimundo Alves de Rezende

 CURRÍCULO LATTES

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